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MANUAL DO FORMANDO

Curso: Técnico Higiene e Segurança no Trabalho

Módulo: 10338 Gestão Riscos Psicossociais

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
OBJETIVOS.................................................................................................................3
1. ENQUADRAMENTO RISCOS PSICOSSOCIAIS .................................................. 3
2. RISCOS PSICOSSOCIAIS.....................................................................................9
Manual elaborado por:
3. FATORES RISCOS PSICOSSOCIAIS..................................................................10
4. CONSEQUÊNCIAS DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS...........................................17
5. CUSTOS DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS............................................................21
6. GESTÃO DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS...........................................................22
7. PREVENÇÃO RISCOS PSICOSSOCIAIS.............................................................24
8. ENQUADRAMENTO LEGAL.................................................................................31
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 31

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INTRODUÇÃO

Com o passar do tempo e principalmente com as alterações socioeconómicas, as


mudanças significativas no mundo do trabalho aumentam cada vez mais, resultando
também um aumento dos riscos psicossociais. Os riscos psicossociais são
considerados riscos que afetam principalmente a saúde mental dos trabalhadores.
Esta temática tem sido alvo de grandes atenções pelos diversos profissionais, pelo
que está em causa a saúde mental. De acordo com a OMS – Organização Mundial
de Saúde, saúde mental é o “estado de bem-estar no qual um indivíduo realiza as
suas capacidades, pode fazer face ao stresse normal da sua vida, pode trabalhar de
forma produtiva e frutífera e pode contribuir para a comunidade em que se insere”.
No entanto, estudos realizados na Europa concluem que cada vez existem mais
riscos relacionados com o stresse no mundo do trabalho, aumentando assim
problemas de saúde mental aos trabalhadores. Segundo Ramos (2001:2), “se o
stresse se define na relação do homem com o seu mundo, ele pode manifestar-se
em todas as áreas de vida: na vida pessoal e íntima, na vida familiar, na vida cívica,
na vida do trabalho.”

Objectivo(s) Geral(ais)
1. Identificar os diferentes riscos psicossociais bem como caracterizar as
medidas de prevenção

Objectivo(s) Específico(s)
1. Reconhecer a importância da gestão dos riscos psicossociais em
contexto de trabalho para o bom funcionamento das organizações.
2. Participar na aplicação dos métodos e técnicas de avaliação dos riscos
psicossociais.
3. Participar na aplicação de medidas preventivas que permitam a gestão
dos riscos psicossociais e a promoção do bem-estar e da saúde

1. ENQUADRAMENTO DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS

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1.1. Definição

Girdano e Everly (1979), cit. por Rego e Barbosa (2012:18), afirmam que as “causas
psicossociais assumem-se da interação direta entre o comportamento social e a
interpretação deste comportamento, com base em experiências passadas e outros
processos de aprendizagem.”

De acordo com a EU-OSHA (2000), “os riscos psicossociais podem ser definidos
como aqueles aspetos do projeto de trabalho, a organização e gestão do trabalho, e
seus contextos sociais e ambientais, que têm o potencial para causar dano
psicológico, social ou físico. Como resultado de stresse, os riscos psicossociais
podem afetar a saúde psicológica e física direta ou indiretamente”.

Segundo a OIT - Organização Internacional do Trabalho (1984), cit. por Rego e


Barbosa (2012:18), “os riscos psicossociais no trabalho consistem, por um lado, na
interação entre o trabalho, o seu ambiente, a satisfação no trabalho e as condições
físicas da organização; e, por outro, nas capacidades do trabalhador, nas suas
necessidades, na sua cultura e na sua situação pessoal fora do trabalho; o que
afinal, através das perceções e experiências, pode influir na saúde, no rendimento e
na satisfação do trabalho.”

Segundo Freitas (2008:670), “as principais consequências sobre a saúde e bem-


estar do trabalhador, decorrentes de condições psicossociais desfavoráveis são a
carga mental (que é uma forma de stresse profissional), o stresse, a insatisfação
laboral, as dificuldades de relacionamento e a desmotivação, entre outras.”

Aliando-se a esses fatores, uma comunicação ineficaz ou falta de apoio no trabalho,


cargas elevadas de trabalho, assédio moral e/ou psicológico são também algumas
das condições de trabalho que podem conduzir aos riscos psicossociais.

Deste modo, pode-se concluir que existem vários tipos de riscos psicossociais de
acordo com o ambiente que o trabalhador se encontra e com as condições que lhe
são dispostas, são eles: burnout, violência no trabalho, assédio moral, assédio
sexual, trabalho emocional.

Os riscos psicossociais relacionados com o trabalho têm sido identificados como um


dos grandes desafios contemporâneos para a Saúde e Segurança no Trabalho e
encontram-se ligados a problemas nos locais de trabalho, tais como o stresse, a

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como um dos grandes desafios contemporâneos para a Saúde e Segurança
no Trabalho e encontram-se ligados a problemas nos locais de trabalho, tais
como o stresse, a violência, o assédio e a intimidação no trabalho.
violência, o assédio e a intimidação no trabalho.
As mudanças significativas que ocorreram no mundo do trabalho, nas últimas
As décadas,
mudançasresultaram
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em riscos ocorreram no campo
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trabalho, e
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e conduziram, além de riscos físicos, químicos e biológicos, ao surgimento
de riscos psicossociais.
Mas o que são os riscos psicossociais? Porque nos preocupamos com
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riscos da exposição
Porque para a saúde? Quais
nos preocupamos com as
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Quais prevenção a adotar?
riscos da exposição para a saúde? Quais as medidas de
prevenção a adotar?

2. O que são os Riscos Psicossociais?


As questões psicossociais do ambiente de trabalho têm assumido uma atenção
crescente na sociedade contemporânea. A exposição laboral a fatores
psicossociais foi identificada como uma das causas mais relevantes no absentismo
laboral, por razões de saúde e relaciona-se com problemas como sejam, doenças
cardiovasculares, transtornos de saúde mental e alterações músculo-esqueléticas.

Os riscos psicossociais relacionados com o trabalho são definidos como “todos os


aspetos relativos ao desempenho do trabalho, assim como à organização e gestão
e aos seus contextos sociais e ambientais, que têm o potencial de causar danos de
tipo físico, social ou psicológico” (EU-OSHA, 2007).

Segundo a OIT, “os riscos psicossociais no trabalho consistem, por um lado, na


interação entre o trabalho, o seu ambiente, a satisfação no trabalho e as
condições físicas da organização; e, por outro, nas capacidades do trabalhador,
nas suas necessidades, na sua cultura e na sua situação pessoal fora do trabalho; o
que afinal, através das perceções e experiências, pode influir na saúde, no
rendimento e na satisfação do trabalho.”
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1.2. Causas, Tipos e Consequências

Nesta temática, as transformações socioeconómicas, políticas e demográficas


influenciam altamente a existência de riscos psicossociais.

Num mundo em constante mudança, de acordo com os peritos que fizeram uma
previsão sobre os riscos psicossociais emergentes2 concluíram que existem cinco
áreas onde se podem agrupar estes riscos.

1- “Novas formas de contratos de trabalho e insegurança no emprego”

Neste ponto está englobado os contratos precários e a recorrência a empresas


externas. Nestas circunstâncias os trabalhadores tendem maioritariamente a sofrer
de insegurança e stresse no trabalho.

2- “A mão-de-obra em envelhecimento”

A população ativa está cada vez mais velha. Atendendo à idade os trabalhadores
mais idosos estão ainda mais expostos às más condições de trabalho. Portanto, é
importante assegurar condições de trabalho aos trabalhadores de todas as faixas
etárias e adaptá-los às necessidades de cada um.

3- “Intensificação do trabalho”

O aumento de tarefas e sobrecarga de trabalho está cada vez mais presente nas
empresas, sobretudo devido à competitividade e à diminuição de número de
trabalhadores nas empresas. Assim sendo, os trabalhadores vivem num ambiente
de stresse constante devido às exigências impostas, podendo afetar a sua
segurança e saúde.

4- “Exigências emocionais elevadas no trabalho”

O problema da violência e intimidação física ou psicológica no trabalho geram


stresse, contribuindo assim para a saúde mental e física dos trabalhadores.

5- “Difícil conciliação entre a vida profissional e a vida privada”

Contratos de trabalho precário, trabalho incerto e excesso de trabalho fazem com


estes problemas profissionais entrem na vida pessoal dos trabalhadores. Gera

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conflitos e grande dificuldade em conciliação entre ambas, fazendo com que o bem-
estar e saúde mental do trabalhador sejam afetados.

Para McNeely, 2005; Cox e Griffiths, 1996; Jettinghoff e Houtman, 2009, “existem
inúmeras causas para esta temática como, horas excessivas de trabalho, redução
de trabalhadores, trabalho por turnos, relações interpessoais insuficientes, falta de
apoio social.”

Segundo Freitas,

o aumento do trabalho independente, a diminuição de contratos sem termo, o


incremento do trabalho temporário e do trabalho parcial e a emergência de novas
relações de poder, suportadas pelas qualificações ajustadas às exigências dos
conteúdos, contribuem para a nova configuração do trabalho, à qual correspondem
riscos novos, de avaliação mais complexa, associados às novas formas de
organização do trabalho. (Freitas, 2008:669)

Portanto, além do stresse existem outros tipos de riscos psicossociais, como


burnout, violência no trabalho, assédio moral, assédio sexual, trabalho emocional.

Burnout ou esgotamento decorre para Freitas (2008:693) de uma “situação de total


exaustão física, mental e emocional, fortemente condicionadora das tarefas mais
elementares do quotidiano, originando um estado de depressão e de fadiga física
graves.”

O esgotamento ou cansaço emocional,refere-se à diminuição e/ou perda de


recursos emocionais (...), a despersonalização ou desumanização revela uma
mudança consistente face aos beneficiários dos serviços, assim como ao aumento
da irritabilidade face à motivação profissional e os sentimentos de baixa ou falta de
realização profissional, traduz-se na desvalorização do próprio trabalho, com
perceção de insuficiência profissional, baixa autoestima, evitamento de relações
interpessoais e profissionais, baixa produtividade e incapacidade para suportar a
pressão. (Coelho, 2009)

A violência no trabalho é definida por Freitas (2008:701), como uma “situação na


qual um indivíduo ou grupo de indivíduos é alvo, no local de trabalho, de atos de
agressão ou violência, sob forma de ataque, agressão física ou verbal e
comportamento desrespeitador.”

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Para Coelho (2009) “o conceito de violência no trabalho que se tem em vista é,
sobretudo, a violência física e, além dela, apenas a violência psicológica que não
seja enquadrável em nenhuma das formas de assédio.”

Relativamente ao assédio, existem dois tipos: moral e sexual. O assédio moral


designado também por bullying ou mobbing, pode ser definido como um
comportamento injustificado e continuado de perseguição e pressão psicológica para
um trabalhador ou grupo de trabalhadores, suscetível de constituir um risco para a
sua saúde e segurança. O mesmo autor distingue os principais fatores de assédio
moral como, alterações repentinas na estrutura da organização; insegurança no
emprego; exigências excessivas de trabalho; cultura organizacional inexistente ou
que não reconhece o assédio; conflito decorrente das tarefas desempenhadas e
insuficiência da política de recursos humanos. (Freitas, 2008:700)

Coelho (2009) menciona que as características do assédio moral são “a duração (o


que exclui da definição de conflitos passageiros), o caráter, normalmente,
assimétrico da relação e a repetição.”

De acordo com o CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego,


assédio sexual “é todo o comportamento indesejado de caráter sexual, sob forma
verbal, não verbal ou física, com o objetivo ou o efeito de perturbar ou constranger a
pessoa, afetar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil,
degradante, humilhante ou desestabilizador.”

Na legislação portuguesa, de acordo com o Código Penal tanto o assédio moral


como sexual é considerado como uma “contraordenação muito grave”.

O trabalho além de comportar necessidades físicas e intelectuais, também comporta


necessidades emocionais, ou seja trabalho emocional. Pelo que Freitas (2008:675)
distingue duas formas de carga emocional: “a carga emocional global, que
corresponde a realização de trabalhos em circunstâncias que não são ideias ou são
percebidas como desfavoráveis (stresse decorrente do trabalho) a carga emocional
específica, que emana o facto da natureza do trabalho integrar diretamente uma
componente emocional.”

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Estas situações apresentam consequências muitas das vezes reações negativas,
como o stresse levando a estados de depressão ou fadiga, pondo em causa a saúde
a nível físico e mental do trabalhador.

Podemos retirar destas definições que os riscos psicossociais englobam os fatores


associados com o trabalho, o ambiente fora do trabalho e as caraterísticas
individuais do trabalhador.

Esses fatores encontram-se relacionados normalmente com o conteúdo do trabalho,


a sobrecarga e ritmo de trabalho, o horário, o controlo, os equipamentos e o
ambiente de trabalho, a cultura organizacional, as relações interpessoais, o papel na
organização, o desenvolvimento da carreira e o equilíbrio trabalho-família.

2. RISCOS PSICOSSOCIAIS. QUAIS?

Stresse Ocupacional

Interação das condições de trabalho com as características do trabalhador em que


as exigências do trabalho excedem a capacidade do trabalhador para lidar com elas.

Assédio moral

É percebido como uma prática de perseguição, metodicamente organizada,


temporalmente prolongada, dirigida contra um trabalhador ou grupo de
trabalhadores, com o objetivo de atingir a sua personalidade, dignidade ou
integridade física ou psíquica, criando um ambiente hostil, degradante, humilhante
ou ofensivo.

Assédio sexual

Comportamento indesejado, de caráter sexual, sob a forma verbal ou física, com o


objetivo de perturbar, intimidar ou humilhar um trabalhador.

Violência no trabalho

Todo o incidente em que o trabalhador sofre abusos, ameaças ou ataques, em


circunstâncias relacionadas com o trabalho, que coloquem em perigo explícita ou
implicitamente a sua segurança, o seu bem-estar ou a sua saúde.

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Os riscos psicossociais decorrem de deficiências na conceção, na
organização e na gestão do trabalho, bem como de um contexto social de
trabalho problemático, podendo ter efeitos negativos a nível psicológico, físico
3. QUAIS SÃO OS FATORES DE RISCO PSICOSSOCIAL?
e social tais como stresse relacionado com o trabalho, esgotamento ou
Os riscos psicossociais decorrem de deficiências na conceção, na organização e na
depressão.
gestão do trabalho, bem como de um contexto social de trabalho problemático,
podendo ter efeitos negativos a nível psicológico, físico e social tais como stresse
relacionado com o trabalho, esgotamento ou depressão.

Um ambiente psicossocial positivo


promove o bom desempenho e o
desenvolvimento pessoal, bem
como o bem-estar mental e físico
dos trabalhadores e trabalhadoras.

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FATORES INDUTORES DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS

Assédio
Stresse Violência

Elevadas Ritmos de
exigências trabalho
Riscos
Psicossociais

Difícil conciliaçãp Novas formas de


familia/trabalho contratação

Aumento da Envelhecimento
carga de ativo
trabalho

A perda de saúde devido a uma situação psicossocial inadequada tem muitas vezes
uma casualidade multifatorial.
A perda de saúde devido a uma situação psicossocial
inadequada tem muitas vezes uma casualidade multifatorial.

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Fatoresindutores
Fatores indutores de
de riscos
riscos psicossociais
psicossociais

Caraterísticas do trabalho Fatores de risco


Falta de variedade, trabalho sem sentido, não qualificado, Trabalho repetitivo,
monótono, cadenciado e com ritmos curtos e acelerados, que exige elevada precisão e
Conteúdo do Trabalho provoca posturas desadequadas. Subutilização de competências e baixa valorização das
tarefas. Recursos insuficientes.
Sobrecarga e ritmo de Volume de trabalho excessivo ou reduzido, ritmo das máquinas. Elevados níveis de
trabalho pressão impostos pelos prazos definidos para as tarefas.
Horário de trabalho Trabalho por turnos, trabalho noturno, horários inflexíveis, imprevisíveis e/ou longos.
Trabalho isolado.
Autonomia/ Controlo Fraca participação na tomada de decisões e no controlo de ritmos. Falta de autonomia e
ausência de controlo sobre o trabalho.
Equipamentos de trabalho Equipamentos inadequados, sem manutenção ou falta de recursos. Introdução de novas
tecnologias e novos processos sem formação e/ou apoio/acompanhamento.
Cultura organizacional e Falta de definição de políticas, objetivos e recursos. Estrutura da organização com fraca
função liderança, deficiente comunicação. Falta de definição ou de consenso sobre objetivos.
Relações interpessoais no Isolamento físico ou social, fraco relacionamento com as chefias e os colegas, falta de
trabalho apoio social. Conflitos interpessoais e exposição à violência.
Papel na organização e Ambiguidade de papéis e funções, tipo de responsabilidades das pessoas, imprecisão na
responsabilidades definição de responsabilidades, sobrecarga/insuficiência de funções, orientações
contraditórias.
Desenvolvimento Estagnação ou incerteza na carreira, falta de progressão, insegurança, reduzido valor
profissional social do trabalho. Salários baixos, precariedade.
Conciliação trabalho - Conflito entre atividades profissionais e não profissionais, reduzido suporte família.
família Incompatibilidade das exigências trabalho/vida privada. Trabalho feminino com
reduzido apoio em casa. Desvalorização da componente familiar.
Novas formas de Caraterizam-se pelo surgimento de contratos muito precários, subcontratação e
contratação e insegurança insegurança no posto de trabalho.
Intensificação do trabalho Carga de trabalho cada vez maior e uma pressão crescente no âmbito laboral, altos
níveis de competitividade no trabalho. Compensação inadequada.
Ambiente físico Ambiente de trabalho com ruído, fumos, produtos químicos, temperaturas altas ou
baixas, deficiente iluminação. Posto de trabalho sem conforto.

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a) Conteúdo do trabalho
Refere-se à falta de ciclos de trabalho curtos, ao facto do trabalho ser fragmentado e
automático, as competências e capacidades do trabalhador não corresponderem à
profissão e às tarefas atribuídas. A falta de variedade e complexidade das tarefas e
consequente monotonia destas pode, igualmente, ser fonte de tensão no trabalho,
na medida em que, na realização de trabalhos que envolvem múltiplas tarefas, o
trabalhador tem maiores oportunidades de utilizar as suas habilidades e
competências.

b) Sobrecarga e ritmo de trabalho


Está relacionado com a incapacidade de lidar com as exigências da profissão, ou
seja, se um trabalhador sentir que as exigências do trabalho são excessivas e que
não consegue lidar com elas, tais exigências podem provocar stresse. A falta de
exigências suficientes também pode constituir-se como um problema de ordem
psicossocial.
Relaciona-se, ainda, com elevados níveis de pressão emocional e carga mental,
bem como a contínua existência de prazos difíceis de cumprir.

c) Horário de trabalho
As questões relacionadas com o horário de trabalho, tais como o trabalho por turnos,
o trabalho noturno, os horários de trabalho inflexíveis, as horas imprevisíveis e os
horários longos (não ter horas para sair do trabalho) não são compatíveis com a
preservação do bem-estar, influenciando o equilíbrio entre a esfera pessoal, familiar,
social e a profissional. Horários de trabalho longos e imprevisíveis conduzem a um
maior desgaste emocional e a um enfraquecimento do sentimento de realização
profissional.

d) Autonomia e Controlo
O nível de stresse de uma pessoa pode ser influenciado pelo nível de controlo que
essa pessoa possui sobre a carga e sobre o ritmo de trabalho.

Por exemplo, quando um trabalhador tem controlo e influência sobre o modo como
realiza o seu trabalho, isso ajuda-a a lidar com os desafios que se lhe são colocados
durante o desenvolvimento das suas tarefas.

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Mas, por outro lado, se são outras pessoas a determinar o ritmo ou a forma como
trabalha, pode levar o trabalhador a sofrer, levando-o a situações de exaustão,
depressão e stresse.

A falta de flexibilidade e as exigências do trabalho, assim como a não participação


na tomada de decisões sobre o seu trabalho, também podem contribuir para o
surgimento de problemas de ordem psicossocial.

e) Equipamentos de trabalho

Refere-se à inadequada disponibilidade, adequação ou manutenção de


equipamentos, que geram situações de não adaptação do trabalhador às funções.

f) Cultura e função organizacional

Relaciona-se com baixos níveis de apoio e de estímulo para a resolução de


problemas e desenvolvimento pessoal, como por exemplo, a resposta positiva, quer
por parte de colegas, quer por superiores que podem ajudar o trabalhador a superar
as dificuldades na realização do seu trabalho.

Encontra-se também relacionado com a má comunicação, a falta de definição ou


acordo dos objetivos organizacionais, estrutura hierárquica, estilo de liderança e a
falta de reconhecimento no trabalho.

g) Relações interpessoais no trabalho

Referem-se às situações em que os trabalhadores sofrem de discriminação, têm


más relações com os superiores ou colegas, em que existem conflitos interpessoais,
ou falta de apoio social.

Por outro lado, uma supervisão inadequada também pode ser fonte de risco
psicossocial no local de trabalho. Estas situações podem levar a situações de
violência e assédio com o objetivo de constranger, vitimizar e humilhar o trabalhador
visado.

h) Papel na organização e responsabilidades

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Refere-se à falta de clareza sobre os diferentes papéis e responsabilidades que os
trabalhadores têm, ou quando esses papéis e responsabilidades resultam em
conflito.

Por exemplo, pode ser solicitado a um trabalhador que realize tarefas que não
considera como fazendo parte da sua função ou que julga que, por vezes, entram
em conflito com colegas, superiores ou outras pessoas (como clientes).

i) Desenvolvimento profissional

A progressão da carreira pode ser uma fonte de risco psicossocial, principalmente


de stresse, quando existe estagnação da carreira, quando o trabalhador é promovido
sem as competências devidas ou inversamente, quando as têm e as mesmas não
são reconhecidas.

Refere-se ainda às situações em que a remuneração é baixa. Uma compensação


financeira justa e adequada, é uma das características fundamentais responsável
pela motivação e bem-estar no trabalho.

j) Conciliação trabalho - família

O trabalhador pode enfrentar exigências laborais e familiares conflituantes, podendo


ser um desafio conseguir conciliá-las, o que pode levar a conflitos de tempo,
compromisso e apoio, pelo que é fundamental conseguir um equilíbrio adequado
entre o trabalho e a vida familiar e pessoal.

k) Novas formas de contratação e insegurança laboral

Caraterizam-se pelo surgimento de contratos muito precários, acompanhado pela


tendência para a subcontratação e a insegurança no posto de trabalho.

Os trabalhadores com contratos precários executam normalmente tarefas mais


perigosas, em piores condições, e recebem menos formação. Esta falta de
estabilidade laboral e contratual pode aumentar os níveis de stresse e ansiedade do
trabalhador.

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l)Fortes exigências emocionais no trabalho

O stresse ocupacional também pode ser causado por fortes exigências emocionais
no trabalho, acompanhadas pelo aumento do assédio moral e violência,
principalmente nas profissões onde existe muito contacto com outras pessoas
exteriores à organização, como por exemplo no setor da saúde ou do apoio social.

m) Intensificação do trabalho

Relaciona-se com a necessidade de gerir uma quantidade de informação e de carga


de trabalho cada vez maiores, podendo levar ao surgimento de problemas de saúde,
tais como a ansiedade, depressão e stresse no trabalho, provocados pelo aumento
da carga de trabalho em conjunto com as maiores exigências sobre um menor
número de trabalhadores, o que vai desencadear consequências negativas na saúde
e segurança dos trabalhadores.

n) Ambiente de trabalho

Refere-se, ainda, as más condições ambientais, tais como falta de espaço, pouca
iluminação, ruido excessivo, ou temperaturas elevadas, que podem dificultar a
capacidade de concentração dos trabalhadores e gerarem mal- estar.

Os riscos psicossociais são consequências psicológicas, físicas e sociais,


maioritariamente resultantes de uma gestão desfavorável por parte das
organizações. Contudo, existem outras causas associadas, nomeadamente
alterações socioeconómicas (globalização, terciarização da economia, feminização
da população ativa, envelhecimento demográfico), acrescidas de um novo
paradigma tecnológico e do conteúdo de trabalho, onde se estabelecem novas
formas de organização de trabalho, seguidas de alterações nos espaços de trabalho
(ausência de local de trabalho, pequenos locais de trabalho, novas configurações
dos grandes espaços de trabalho) acrescidos de alterações no conceito de trabalho
e dos valores laborais (dimensão psicossocial do trabalho, dimensão simbólica do
trabalho) entre outros aspetos importantes associados ao contexto laboral (Coelho,
2010, pp. 25-51).

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É importante referir, que não devem ser confundidos os riscos psicossociais, com
um ambiente de trabalho saudável e exigente, que apoia os trabalhadores,
estimulando e incentivando ao máximo o seu desenvolvimento e desempenho, em
função das suas capacidades, porque as doenças do trabalho resultam em grande
parte da falta de sensibilização, prevenção e incumprimento da legislação existente
por parte das organizações. Contudo, esta forma de organização de trabalho,
remete-nos imediatamente para promover mecanismos de prevenção que sejam
implementados na cultura das organizações.

4. CONSEQUÊNCIAS DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS?

Os fatores de risco psicossociais no local de trabalho têm demonstrado causar um


impacto negativo na saúde física, mental e social dos trabalhadores. Além de
problemas de saúde mental, os trabalhadores afetados podem acabar por
desenvolver graves problemas de saúde física, como doenças cardiovasculares ou
lesões músculo-esqueléticas.

Para a organização, os efeitos negativos incluem um fraco desempenho geral da


empresa, aumento do absentismo, "presenteísmo" (trabalhadores que se
apresentam ao trabalho doentes e incapazes de funcionar eficazmente) e subida das
taxas de acidentes e lesões.

Os períodos de absentismo tendem a ser mais longos do que os decorrentes de


outras causas e o stresse relacionado com o trabalho pode contribuir para um
aumento da taxa de reforma antecipada, em particular entre trabalhadores
administrativos.

Os fatores de risco psicossocial traduzem um desequilíbrio individual e


organizacional, cuja permanência, associada à ausência de estratégias para os
controlar, prevenir e contrariar poderá colocar em risco a saúde dos trabalhadores e
trabalhadoras.

A fim de promover um trabalho saudável e seguro, há que oferecer boas condições


de trabalho e adaptá-las às necessidades de cada trabalhador, pois as exigências
do trabalho associadas às condições individuais do trabalhador poderão repercutir-
se negativamente sobre a sua saúde física.

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A exposição a riscos psicossociais pode trazer
consequências negativas para a sociedade,
organização e para
A exposição a riscos a saúdepode
psicossociais dostrazer
trabalhadores.
consequências negativas para a
sociedade, organização e para a saúde dos trabalhadores.
No entanto, as consequências principais têm a ver com
as consequências organizacionais e individuais.
No entanto, as consequências principais têm a ver com as consequências
organizacionais e individuais.

As
Asconsequências
consequênciasindividuais podem
individuais ocorrer:
podem ocorrer:

•Reações cardiovasculares;
• Incómodo a nível músculo-esquelético ou digestivo;
•Insónias e fatiga;
Fisiológicas •Dificuldades respiratórias;
• Dores de cabeça e dores musculares.

•Depressão, nervosismo, ansiedade e irritabilidade;


• Oscilação emocional, perdas de memória;
Psicológicas •Esgotamento;
•Angústia, insónias e extremo cansaço.

•Isolamento, agressividade;
•Consumo de substâncias psicoativas;
Comportamentais • Faltas ao trabalho, erros e falhas na execução de
tarefas ;
• Suicídio

Para a organização as consequências são principalmente a nível da desmotivação,


Para a organização as consequências são principalmente a nível da
aumento dos níveis de absentismo bem como a rotatividade, impacto negativo na
desmotivação, aumento dos níveis de absentismo bem como a rotatividade,
produtividade, aumento do número de acidentes e das queixas dos utentes,
impacto negativo na produtividade, aumento do número de acidentes e das
deterioração
queixas dos da imagem
utentes, institucional,da
deterioração aumento
imagemdosinstitucional,
custos diretos e indiretos,
aumento dos mau
ambiente
custos psicológico
diretos no local
e indiretos, maude ambiente
trabalho, aumento das situações
psicológico de conflito,
no local de trabalho,greves
e agressões.
aumento das situações de conflito, greves e agressões.

Para a empresa:

Desmotivação Aumento da absentismo Aumento da rotatividade

Deteriorização da imagem Diminuição da Aumento dos acidentes de


institucional produtividade trabalho

Deteriorização da imagem Aumento da rotatividade Aumento dos custos

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institucional diretos e indiretos

Mau ambiente ao nível Mau ambiente social na


das relações laborais empresa

Para o trabalhador:

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Comportamentais
Mau ambiente ao nível
das relações laborais empresa

Para o trabalhador:

Comportamentais

Riscos
Psicossociais

Psicológicos Fisiológicos

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Pag. 19
Os riscos psicossociais no trabalho tem consequências negativas para à sociedade,
para as empresas e para a saúde dos trabalhadores.

As principais consequências dos riscos psicossociais, para à sociedade, são:


Custos económicos com a saúde pública (mental).

As principais consequências dos riscos psicossociais, para as empresas, são:

Absentismo;

Acidentes de trabalho;

Baixas médicas;

Desmotivação;

Deterioração do rendimento;

Falta de produtividade;

Pouco rendimento;

Problemas legais;

Reclamação de clientes;

Rotação de pessoal, etc.

As principais consequências dos riscos psicossociais, para a saúde dos


trabalhadores, são:

Abuso de álcool e drogas;

Doenças cardiovasculares;

Dificuldades de concentração;

Esgotamento;

Problemas em casa;

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Propensão para cometer mais erros;

Problemas músculo-esqueléticos;

Problemas de saúde física;

Saúde mental frágil;

Stresse relacionado com o trabalho e etc.

5. CUSTOS DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS

Segundo o European Opinion Poll on Occupational Safety and Health, Portugal está
classificado como o terceiro pais europeu com maior proporção de trabalhadores
(59%) que diz que o stresse relacionado com o trabalho é muito comum. Ainda
segundo a mesma revista, em Portugal estima-se que dois em cada dez
trabalhadores sofrem de problemas de saúde psicológica, representando 1,3 dias de
falta por ano devido a estes problemas. Os problemas do foro psicológico alem de
gerarem absentismo que prejudica quer o indivíduo, quer a organização,
desenvolveram uma outra forma de retração que se designa por presentismo, ou
seja, a presença no local de trabalho com alguma patologia física ou mental que
provoca perda de produtividade. A realidade, em que Portugal não é exeção, refere
que 28% dos trabalhadores sofrem de stresse e 23% já se encontram em Burnout.

Estudos também realizados pela agência europeia sugerem que 50% - 60% de
todos os dias de trabalho perdido podem ser atribuídos ao stresse relacionado com
o trabalho e que tal da origem a importantes custos para as empresas, bem como
para as economias nacionais.

Segundo a mesma fonte, no relatório Riscos psicossociais na Europa – Prevalência


e estratégias para a prevenção, um quarto dos trabalhadores europeus afirma sentir
sempre, ou quase sempre, stresse no trabalho e uma proporção idêntica afirma que
o trabalho afeta negativamente a sua saúde.

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6. GESTÃO DE RISCOS PSICOSSOCIAIS?

No âmbito da prevenção de riscos ocupacionais, a gestão de riscos define-se como


o “processo sistemático mediante o qual se identificam os perigos, se analisam os
riscos, se gerem os riscos e se protegem os trabalhadores” (Cox, Griffiths & Cox,
1996, p.12 cit. in (Coelho, 2010, p. 100).

Embora muitos fatores contribuam para a saúde mental e o bem-estar dos


trabalhadores, está comprovado que o ambiente no local de trabalho dá um
contributo importante nesse sentido, dessa forma é importante a gestão dos riscos
psicossociais.

Num bom ambiente psicossocial, o trabalho pode ser muito benéfico para a saúde
mental dos trabalhadores, proporcionando-lhes melhor qualidade de vida e
conferindo- lhes um sentido mais alargado de inclusão social, identidade e estatuto,
oportunidades de desenvolvimento e maior confiança. Ao invés, um ambiente de
trabalho negativo em termos psicossociais pode ter consequências adversas
significativas para a saúde dos trabalhadores.

Apesar de existir literatura abundante e, inclusive, normas internacionais e nacionais


(e.g., OHSAS 18001:2007; NP 4397:2001) sobre como implementar um sistema
geral de gestão de riscos, poucos afloramentos se vislumbram na literatura científica
e técnica quanto à criação de um sistema de gestão preventiva de riscos
psicossociais. A ênfase na prevenção deste tipo de riscos, tem estado a ser
colocada, ainda, na criação, apenas, de métodos e técnicas de prevenção, e, dentro
destas, na criação, sobretudo, de questionários de avaliação de riscos psicossociais.
Mais recentemente, algumas autoridades nacionais responsáveis pela prevenção de
riscos têm tentado ir além da aplicação de simples métodos ou técnicas, procurando
inserir os métodos e as técnicas no contexto mais vasto de um processo ou
estratégia de prevenção. Raros são, contudo, os autores e os enfoques que se
concentram na prevenção de riscos psicossociais numa perspetiva sistemática, que
integre a prevenção no sistema geral de prevenção de riscos no processo global e
de gestão da empresa.

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A abordagem da gestão dos riscos profissionais foi inicialmente desenvolvida para
reduzir a exposição a riscos de natureza física, contudo cada vez assume mais
prioridade para enfrentar os riscos psicossociais.

Esta abordagem permite ao empregador tomar medidas preventivas e corretivas de


forma mais eficaz e possibilita a definição de prioridades de ação que efetivamente
assegurem e/ou melhorem a saúde dos trabalhadores e minimizem os riscos
psicossociais.

A prevenção dos riscos psicossociais no âmbito laboral obriga a um envolvimento


ativo e dinâmico por parte da entidade empregadora e por parte dos trabalhadores e
dos seus representantes.

Qualquer abordagem deve incorporar cinco elementos importantes:

(1) Um foco específico numa população de trabalho definida, num local de trabalho,
num conjunto de operações ou num tipo de equipamento em particular;

2) Uma avaliação dos riscos a fim de entender a natureza do problema e as suas


causas subjacentes;

(3) O desenho e implementação de ações destinadas a eliminar ou reduzir esses


riscos – soluções;

(4) Avaliação dessas ações;

(5) A gestão adequada e rigorosa do processo.

A gestão de riscos psicossociais não é uma atividade isolada, mas sim um processo
com várias fases, que exige mudanças no ambiente de trabalho, sendo que as
empresas obtêm um êxito maior se já dispuserem de um serviço eficaz de gestão de
Saúde e Segurança do Trabalho e se envolverem todos os trabalhadores e
trabalhadoras neste processo.

7- PREVENÇÃO DOS RISCOS PSICOSSOCIAIS

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A prevenção de riscos (e a proteção do trabalhador) constitui um dos objetivos
centrais da saúde ocupacional e da atual legislação de segurança e saúde no
trabalho comunitária.

A prevenção dos riscos psicossociais no trabalho é um dos pré-requisitos mais


importantes para uma boa saúde mental no trabalho.

“o grande desafio é pois o de transformar o corpo impressionante de conhecimentos


[...] já existente em prevenção efetiva” (Kompier & Kristensen, 2001).

O empregador, enquanto principal gestor da organização, e os gestores de linha


são, nestes termos, os primeiros e principais responsáveis, moral e legalmente pela
prevenção de riscos psicossociais. Moralmente, porque, são eles que detêm a
competência e os meios de promover a sua prevenção. Os gestores podem causar
(ou, inversamente, evitar) os riscos psicossociais pelo seu comportamento em
relação aos seus trabalhadores. O comportamento dos gestores é susceptível de
influir na presença ou na ausência de riscos psicossociais no ambiente de trabalho
dos seus trabalhadores. As relações entre os riscos psicossociais e bem-estar são
complexos e podem ser afetadas pelo modo como um gestor se comporta. Se um
individuo é afetado pelos riscos psicossociais, o seu gestor terá de estar envolvido
na conceção e na implementação de soluções. São os gestores que detêm o poder
de redesenhar iniciativas no trabalho (organização e desenvolvimento ou iniciativas
de mudança a um nível mais geral). Os gestores são os responsáveis por autorizar e
implantar avaliação de riscos psicossociais na sua equipa, unidade ou serviço e por
desenvolver as intervenções subsequentes (cf. Barling & Carson, 2008; HSE, 2007b,
p.1; Peiró & Rodriguez, 2008; Westlander, 2003 cit. in (Coelho, 2010, p. 69)).

Como sucede com os demais riscos ocupacionais, cabe ao empregador, para


prevenção de riscos psicossociais, a obrigação genérica de criar “um sistema
organizado e meios necessários” (artigo 6.o, n.o 1, da Diretiva-Quadro) de
prevenção, assim como, para desenvolver a aplicação desta medida, tomar como
base de atuação os princípios gerais de prevenção previstos no artigo 6.o n.o 2 da
Diretiva-Quadro, nomeadamente: evitar os riscos, avaliar os riscos que não possam
ser evitados, combater os riscos na origem e planificar a prevenção como um
sistema coerente que integre a técnica, a organização do trabalho, as condições de
trabalho, as relações sociais e a influência dos fatores ambientais no trabalho. Cabe,
em suma, nos termos deste articulado, ao empregador, desenvolver um sistema de

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gestão preventiva de riscos na sua empresa, o qual deve ser visto como um
processo assente na planificação de atividades de prevenção e na avaliação do seu
resultado em coerência com as políticas globais de gestão da empresa (Albarracín,
2001).

Colocar a eficácia da prevenção de riscos psicossociais também a nível da gestão


(da gestão da prevenção propriamente dita, e da gestão da prevenção enquanto
processo a integrar no processo global de gestão da empresa), implica chamar à
colação, não só os conhecimentos de gestão que passaram a ser necessários aos
técnicos de prevenção de riscos psicossociais (particularmente nos aspetos de
organização do trabalho e de empresas), como implica, fundamentalmente, também,
que os gestores tenham conhecimentos sobre os diversos aspetos da organização e
gestão da prevenção, mormente, sobre como deve ser criado um sistema de gestão
preventiva de riscos psicossociais.

Se é certo que uma grande parte dos gestores já vai estando consciente da
necessidade e do dever de criar um sistema de gestão de riscos, será bem menor,
contudo, o número de gestores que sabe que este sistema deve integrar o sistema
geral de prevenção e o sistema global de gestão da empresa (INSHT, 2008) e,
menor ainda, os que sabem como fazê-lo. O sistema geral de prevenção de riscos
deve integrar um sistema de gestão preventiva de riscos psicossociais (Cox & Cox,
1993; INSHT, 1996, 1997, 2005; INSL, 2005, 2008; Malchair et al., 2008) e ambos
devem integrar o sistema global de gestão da empresa: eis um principio básico da
prevenção que não pode ser ignorado pelos gestores socialmente responsáveis e
cumpridores da lei, se pretendem criar um sistema eficaz de prevenção de riscos
psicossociais. Tem sido, aliás, a falta de um tal sistema, a principal razão apontada
por alguns autores (Cox, 1993; Kompier & Cooper, 1999) para a ineficácia, até
agora, da prevenção de riscos psicossociais nas empresas.

6.1 - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS PARA A PREVENÇÃO DO RISCO PSICOSSOCIAL

O empregador deve impulsionar avaliações de riscos psicossociais, tendo em conta


o uso de metodologias específicas, técnicas, instrumentos e modelos de análise
(nomeadamente questionários, entrevistas individuais e de grupo, listas de
verificação, dados relativos ao absentismo e à saúde e outros), mais adequados a

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cada contexto, contando sempre com a participação dos trabalhadores e dos seus
representantes.

6.2 - IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA. COMO DEFINIR AS PRIORIDADES?

A definição de prioridades na gestão dos riscos psicossociais é sempre influenciada


por fatores como:

- As capacidades da organização (incluindo a consciência e compreensão dos


riscos);

- Os custos dos investimentos necessários e os seus benefícios esperados; a


viabilidade das medidas ou intervenções (incluindo se eles se encaixam na cultura
organizacional);

- A antecipação de futuras mudanças no trabalho e na organização do trabalho.

- Os fatores de risco psicossociais também podem ser priorizados em termos da


natureza do fator de risco ou do dano que causa, da força da relação entre o fator de
risco e o dano, ou do tamanho do grupo afetado.

O primeiro passo para a gestão dos riscos psicossociais é a identificação dos


problemas, identificando as suas causas e trabalhadores expostos, para se proceder
à avaliação do risco que estes representam. Esta avaliação de risco é o elemento
central do processo de gestão de riscos, pois fornece informações pertinentes sobre
a natureza e gravidade do problema dos riscos psicossociais e da forma como estes
podem afetar a saúde dos trabalhadores expostos.

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6.3 – ESTABELECER UM PLANO DE AÇÃO. COMO PROCEDER À AVALIAÇÃO DE RISCOS?

Estabelecer um plano de ação

Estando identificados os problemas e sendo conhecidas as suas causas, o


empregador deve implementar um plano de ação prático, com o objetivo de
solucionar os problemas identificados, ou seja, de proceder à redução do risco
psicossocial.

Este plano de ação deve contemplar, entre outros, os seguintes aspetos:


• Identificação do problema e contexto que conduziu ao seu surgimento;
• Identificação dos trabalhadores expostos;
• Avaliação do risco psicossocial;
• Calendarização das ações a implementar e meios necessários; ü Avaliação e
monitorização do plano de ação.

Avaliação de riscos

A avaliação de riscos é um exame sistemático do trabalho realizado a fim de


considerar o que pode causar prejuízos ou danos, se os riscos podem ser
eliminados e, em caso negativo, que medidas de prevenção ou proteção são, ou
deveriam ser, tomadas para controlar os riscos.

A avaliação de riscos psicossociais engloba quatro passos:


1) Identificação dos fatores de risco psicossociais

Descrição dos elementos, condições e processos de trabalho, bem como das


atividades desempenhadas pelo trabalhador, com ênfase nos possíveis riscos
psicossociais que daí resultam. Exige rigor no levantamento e na caracterização dos
fatores de risco psicossociais e requer, para além da observação, a descrição e a
interpretação do contexto do trabalho que poderá ocasionar efeitos negativos na
saúde do trabalhador.

2) Identificação dos trabalhadores expostos

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Nesta etapa dever-se-á identificar os trabalhadores expostos aos fatores de risco
psicossociais, de que forma a exposição ocorre (ex. frequência e intensidade da
exposição) e proceder-se à quantificação dos efeitos na saúde.

3) Estimativa do risco psicossocial profissional

Após a recolha da informação referida, dever-se-á estimar a “probabilidade de


exposição” (quantas vezes a exposição pode ocorrer) e a “gravidade do dano” (que
dano pode ocorrer).

5.4 - Quais as medidas que podem ser adotadas?

A gestão dos riscos psicossociais deve priorizar as intervenções que reduzam os


fatores de risco.

O foco das intervenções é colocado sobre as causas e as áreas dentro das


organizações em que é necessária a mudança.

As medidas de prevenção e controlo face aos riscos psicossociais podem assumir


•Desenvolver condutas que eliminem as
os seguintes níveis de intervenção:fontes de stresse ou neutralizem
consequências do mesmo;
as

•Formação em resolução de problemas;


Medidas de prevenção a •Estratégias de assertividade;
ü Nível individual
nível individual •Controlo eficaz dos tempos;
•"Desligar" do trabalho fora do horário
ü Nível de grupo laboral;
•Praticar técnicas de relaxamento;
ü Nível organizacional •Definir objetivos reais e atingíveis.

ü Nível das consequências

•Desenvolver condutas que eliminem as


fontes de stresse ou neutralizem as
consequências do mesmo;
Medidas de prevenção a •Fomentar
•Formaçãoas relações interpessoais;
em resolução de problemas;
•Fortalecer os vínculos sociais entre o grupo de trabalho;
Medidas degrupo
nível de prevenção a •Estratégias de assertividade;
•Promover
•Controloa formação
eficaz dos etempos;
a informação.
nível individual
•"Desligar" do trabalho fora do horário
laboral;
•Praticar técnicas de relaxamento;
•Definir objetivos reais e atingíveis.

•Desenvolver programas de prevenção de riscos


psicossociais;
•Potenciar a comunicação;
Medidas de prevenção a •Reestruturar e redesenhar os postos de trabalho;
•Definir de forma precisa as funções de cada um;
nível organizacional
Medidas de prevenção a •Fomentar as relações interpessoais;
•Instaurar um sistema de recompensas justo;
•Fortalecer os vínculos sociais entre o grupo de trabalho;
nível de grupo •Delimitar os estilos de direção e de liderança;
•Promover a formação e a informação.
•Formar as chefias intermédias e de topo.

•Desenvolver programas de prevenção de riscos


psicossociais;
•Acompanhamento psicológico - terapia individual ou
Medidas de proteção ou •Potenciar a comunicação;
de grupo;
Medidas de prevenção a •Reestruturar e redesenhar os postos de trabalho;
reabilitação/reduzir e tratar•Definir
•Aconselhamento
de forma precisa as funções de cada um;
nível organizacional
os danos •Reintegração
•Instaurar um sistema de recompensas justo;
•Delimitar os estilos de direção e de liderança; Pag. 28
•Formar as chefias intermédias e de topo.
6. DIRETRIZES DE ATUAÇÃO PARA A PREVENÇÃO DE RISCOS
PSICOSSOCIAIS

Atuação Individual

Independentemente da valorização individual de cada caso, seguem algumas


considerações válidas do ponto de vista da atuação individual:

- Comunicar a situação a que se encontra exposto ao delegado sindical da empresa


ou com o representante dos trabalhadores para a SST, caso existam na empresa.
Estes indicarão os passos necessários para a resolução do problema, colocando o
trabalhador em contato com os serviços especializados do sindicato ou serviços
externos com os quais o trabalhador pode contar;

- Comunicar a situação a alguém da confiança. É importante que o trabalhador não


se sinta sozinho, pois de contrário essa situação só aumenta o grau de sofrimento,
seja qual for o risco psicossocial a que se encontra exposto;

- Caso o trabalhador não consiga resolver o problema, deve pedir ajuda profissional,
nomeadamente ao serviço de medicina laboral ou assessoria jurídica.

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Ação Sindical

1 - Informar os trabalhadores e trabalhadoras e seus representantes sobre os riscos


para a saúde resultantes dos distintos riscos psicossociais e prevenção dos
mesmos;

2 – Formar os trabalhadores e trabalhadoras e seus representantes para aumentar a


sua capacidade de intervenção sindical frente aos riscos psicossociais;

3 – Apoiar os trabalhadores afetados pela exposição a agentes cancerígenos


garantindo a efetividade dos seus direitos na resolução dos problemas;

4 – Intervir nas empresas através dos Representantes dos Trabalhadores para a


SST para garantir o cumprimento da legislação;

5 - Promover a sensibilização e a consciencialização para a necessidade das


empresas realizarem avaliações de risco que tenham em conta os riscos
psicossociais de uma forma sistemática

6 - Pugnar pela integração dos riscos psicossociais na Lista Nacional de Doenças


Profissionais;

7 - Promover a formação dos delegados sindicais e representantes dos


trabalhadores para a SST em matéria dos distintos riscos psicossociais, de forma a
facilitar a sinalização de situações problema nos locais de trabalho;

8 - Difundir pelos trabalhadores informação sobre os recursos e serviços em matéria


de saúde laboral a que os trabalhadores podem recorrer aquando vivenciem
situações de risco psicossocial, do ponto de vista do apoio psicológico e jurídico;

9 - Estabelecer protocolos de atuação sobre a prevenção de riscos psicossociais.

10 - Fomentar a participação dos trabalhadores na tomada de decisões sobre as


condições de trabalho;

11 – Pugnar pela introdução de cláusulas sobre prevenção de riscos psicossociais


na Negociação Coletiva, incluindo que a avaliação de risco tenha em conta estas

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especificidades, insistindo pela proibição de determinados comportamentos que
configurem violência no trabalho, assédio moral e sexual;

8. ENQUADRAMENTO LEGAL

- Código do Trabalho, aprovado pela Lei no 7/2009, de 12 de fevereiro


- Lei no102/2009, de 10 de setembro, com a redação conferida pela Lei n.o 3/ 214,
de 28 de janeiro, que aprova o regime jurídico da promoção da Segurança e Saúde
no Trabalho - alíneas d) e e), do n.o 2 do artigo 15.o, onde menciona que o
empregador deve zelar que os riscos psicossociais no local de trabalho não originem
risco para a segurança e saúde do trabalhador, sendo enfatizada a importância da
redução de riscos psicossociais.

BIBLIOGRAFIA

Azevedo, C. A. M. & Azevedo, A. G. d., 2008. Metodologia cientifíca. 9 ed.


s.l.:Universidade Católica Editora.

Bettencourt, R., 2014. Políticas para a empregabilidade. Lisboa: Atual Editora.


Bhatia, A. K., 2016. Como sobreviver na selva empresarial - Guia prático. Lisboa:
Vida Economica.

Borja-Santos, R., 2014. Resposta na área da saúde mental não chega e preocupa.
Público.

Cabrita, E., 09-07-2014. Brisa dos Dias, A hora do trabalho?. Diário Correio da
Manhã.

Coelho, J. A., 2008. Uma Introdução à Psicologia da Saúde Ocupacional.


s.l.:Edições Univ. Fernando Pessoa

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