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ISLAMISMO

Antes do islamismo, os beduínos do deserto prestavam adoração a vários deuses.

A Arábia ou Península Arábica é uma região desértica do Oriente Médio


banhada pelo mar Vermelho e pelas águas do oceano Índico. Do ponto de vista
histórico, esta região ficou bastante conhecida como berço de uma das mais
importantes religiões do mundo, o islamismo. Surgida no século VII, esta
religião estabeleceu mudanças significativas nas configurações políticas,
econômicas e culturais de todo o mundo árabe.

Antes do Islã, a Península Arábica esteve basicamente dividida entre as


regiões litorânea e desértica. Os desertos da Arábia eram ocupados por uma
série de tribos vagantes, que tinham seus integrantes conhecidos como
beduínos. Os beduínos não apresentavam unidade política, eram politeístas e
sobreviviam das atividades de pastoreio organizadas nos oásis que
encontravam no interior da Arábia.

Sob o aspecto religioso, prestavam adoração a objetos sagrados, forças da


natureza e acreditavam na intervenção de espíritos maus. Para que pudessem
promover as suas crenças e rituais, os beduínos se dirigiam até as cidades
litorâneas que abrigavam vários de seus símbolos e objetos sagrados. Com o
passar do tempo, esse deslocamento regular firmou uma significativa atividade
comercial.
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Ao se dirigirem até o litoral, os beduínos aproveitavam da oportunidade para


realizarem negócios com os comerciantes das cidades sagradas. Dessa forma,
a economia da Península Arábica era fortemente influenciada pelo calendário
que determinava as festividades dedicadas aos vários deuses árabes. Já nessa
época, as cidades de Meca e Yatreb se destacavam como grandes centros
comerciais e religiosos.

Pregando uma crença de natureza monoteísta, Maomé, o maior profeta do


islamismo, possibilitava mudanças profundas no mundo árabe. Com a
expansão do culto a uma única divindade, as constantes peregrinações
religiosas e os negócios poderiam perder o seu sentido. Não por acaso, vários
comerciantes da cidade de Meca se opuseram à expansão da crença
muçulmana em seus primórdios.

Graças à organização militar dos primeiros convertidos, Maomé conseguira


vencer a resistência dos comerciantes de Meca contra o islamismo. Além
disso, podemos salientar que a nova religião não abandonou todas as crenças
anteriores ao islamismo e preservou a importância religiosa das cidades
comerciais. Dessa forma, o islamismo pôde conquistar a Península Arábica a
partir do século VII.

Fonte: Por Rainer Sousa


Graduado em História - SOUSA, Rainer Gonçalves. "A Arábia antes do Islã"; Brasil
Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-arabia-antes-isla.htm. 
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A peregrinação à Meca é um dos principais pilares do islamismo.

O islamismo é uma religião surgida na Península Arábica, no começo do


século VII, por meio de Muhammad (conhecido em português como Maomé).
Essa crença religiosa atualmente é a segunda maior do mundo, possuindo
cerca de 1,8 bilhão de fiéis, a maioria deles localizada no continente asiático e
africano.
Islã é o aportuguesamento da palavra em árabe islam. Essa palavra, nesse
idioma, significa submissão e é derivada de salam, que significa paz. O
sentido de paz mencionado não se refere ao conceito de guerra, mas sim a
uma condição de paz entre corpo e espírito.
O fiel adepto ao islamismo é conhecido como muçulmano ou muçulmana, e
esses termos também têm origem no idioma árabe. Essas palavras são
oriundas de muslim, que significa submisso, portanto, dentro da fé islâmica,
muçulmano é aquele que é submisso a Deus, chamado de Allah.
O islamismo, assim como o judaísmo e o cristianismo, é
uma religião monoteísta, ou seja, os muçulmanos acreditam na existência de
apenas um Deus que, como mencionamos, é chamado por eles de Allah.
Essas três crenças são as três grandes religiões monoteístas do mundo.
Como foi o surgimento do islamismo
O islamismo surgiu no começo do século VIII por meio da obra
de Muhammad, o grande profeta dessa religião. Muhammad nasceu em 570
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d.C., em Meca, e perdeu seus pais ainda na infância, tendo sido criado pelo
seu tio, Abu Taleb. Tornou-se comerciante, realizou inúmeras viagens ao longo
de sua vida e, aos 25 anos, casou-se com uma viúva rica chamada Khadija.
O pouco que sabemos sobre Muhammad conta que ele era um homem que se
isolava com certa frequência para orar e meditar. Em 610 d.C., durante um
desses retiros, Muhammad foi para uma caverna, localizada no monte Hira,
quando o anjo Gabriel revelou-se chamando-o de rasul Allah (enviado de
Deus).
Durante esse acontecimento, o anjo pediu para que o profeta recitasse um
texto, e então Muhammad recitou:

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

Lê, em nome do teu Senhor que criou;

Criou o homem de algo que se agarra.

Lê, que o teu Senhor é Generosíssimo,

Que ensinou através do cálamo,

Ensinou ao homem o que este não sabia.


Esse acontecimento ficou conhecido como Noite do Destino e deu início às
revelações de Allah para Muhammad. O profeta ficou os dois anos seguintes
sem receber novas revelações, até que elas retornaram por volta de 612 d.C.
Essas foram, depois, sendo transcritas pelos convertidos ao islamismo no que
se chamou Alcorão ou Corão, o livro sagrado do islã.
A partir disso, Muhammad começou a pregar a mensagem de Allah por Meca,
e os primeiros convertidos foram sua mulher, seu primo, chamado Ali Talib, e
Abu Bakr. No entanto, as pregações de Muhammad sobre uma religião
monoteísta nas ruas de Meca começaram a incomodar as autoridades da
cidade, porque atacavam os altos lucros que a cidade obtinha
pela peregrinação de fiéis.
Essa peregrinação está relacionada com a antiga religião praticada na
Península Arábica na época: o paganismo politeísta. Com isso, Muhammad e
seus seguidores começaram a ser perseguidos pelas autoridades locais, e isso
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fez com que alguns fiéis do islã fugissem para a região da Etiópia. O próprio
Muhammad obteve refúgio em Medina, cidade que mostrou certa
receptividade à mensagem de Allah.
Em 622 d.C., Muhammad então se mudou para Medina, e esse acontecimento
ficou conhecido como Hégira, evento que inaugurou o calendário islâmico.
O estudioso especialista em islã Jacques Jomier fala que na época da Hégira
existiam cerca de 200 adeptos ao islamismo na cidade de Meca.
Em Medina, o islamismo cresceu, tornou-se uma religião influente e
estabeleceu nela um Estado. Muhammad tornou-se chefe de Medina, e os
novos convertidos naquela cidade começaram a organizar-se e atacar
caravanas de Meca. Um dos grandes feitos dos muçulmanos de Medina foi a
vitória na Batalha de Badr, em 624 d.C.
Os muçulmanos também tiveram pequenos conflitos com
a comunidade judaica presente em Medina, a qual perdeu forças depois que
os muçulmanos desse lugar conseguiram derrotar seguidos ataques realizados
por Meca (parte desses judeus tinha criado aliança com essa cidade). Em 628
d.C., Medina e Meca assinaram uma trégua, no entanto, em 630 d.C., Meca foi
conquistada pelos muçulmanos depois de um desacordo que levou ao fim da
paz entre as duas cidades.
Depois que Meca foi conquistada, o culto aos ídolos do paganismo
foi proibido e o islamismo espalhou-se por toda a Península Arábica. Sua
difusão por essa região foi realizada com sucesso até 632 d.C., ano em que
Muhammad faleceu. Os seguidores do islamismo, posteriormente, foram
responsáveis por levar sua religião para outras partes da Ásia, além de
expandirem-na pela África e Europa.
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A lua crescente e estrela é um dos símbolos do islamismo.

O islamismo é uma religião monoteísta que advoga a crença unicamente em


Allah. Os muçulmanos acreditam na onipotência e onisciência desse Deus,
além de crerem que ele é o criador do Universo. Esses fiéis referem-se
constantemente a Allah como “o Clemente, o Misericordioso”. Essa menção é
encontrada em quase todo Alcorão e consta no trecho do livro sagrado dos
muçulmanos que foi transcrito anteriormente neste texto.
Os muçulmanos acreditam nos profetas enviados por Allah para trazerem sua
mensagem, sendo Muhammad o último e mais importante deles. Alguns
dos profetas em que esses acreditam
são: Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus e o próprio Muhammad.
Os muçulmanos acreditam no conceito de danação eterna e professam que
aqueles que não se converteram à mensagem de Allah serão condenados
ao fogo eterno. O julgamento de todos será conduzido pelo próprio Deus
durante o juízo final. Lá, as ações em vida definirão o destino de cada um.
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Esses fiéis acreditam que livros como a Torá, os Salmos e a Suna (acatada


somente pelos muçulmanos sunitas) são sagrados e acreditam na existência
de anjos — a revelação para Muhammad foi realizada pelo próprio anjo
Gabriel. Entre os livros sagrados, o Alcorão é o mais importante deles, tendo
sido escrito entre 610 d.C. e 632 d.C.
Os muçulmanos acreditam que três cidades são
sagradas: Medina, Meca e Jerusalém. Meca possui a Caaba, uma construção
sagrada — a mais importante do islamismo. Medina é o local onde há uma
mesquita que guarda o túmulo de Muhammad, e Jerusalém é o local onde o
profeta foi transportado por um ser mítico, que, depois, levou-o ao sétimo céu
para encontrar o próprio Allah.

A mesquita localizada em Medina é um dos locais mais sagrados da fé islâmica.

O islamismo é uma religião que possui cinco pilares que todo muçulmano
deve seguir no exercício de sua fé. Estes são os pilares:

1. Recitar o credo “não existe nenhum deus além de Allah, e Muhammad é


seu profeta”.

2. Orar cinco vezes ao dia na direção de Meca.


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3. Observar o jejum durante o mês sagrado chamado Ramadã.


4. Realizar o zakat, a doação de 2,5% de seus lucros para os mais pobres.
5. Visitar Meca uma vez na vida, desde que se tenha condições para isso.

Ela tem seis crenças básicas que devem ser seguidas por todos
aqueles que se denominam muçulmanos, cerca de 1,6 bilhões de
pessoas em todo o mundo.

Conheça abaixo quais são os seis pilares do islamismo, as crenças que


os muçulmanos seguem:

1 - A crença em Deus 
Acreditar em Deus é a principal crença que os islâmicos devem seguir.
Não em um Deus qualquer, mas o Deus descrito de acordo com o
Alcorão. É como se fosse o sol, aquele que aquece e rege todos os seus
súditos.

2 - A crença nos anjos 


Acreditar nos anjos, os mensageiros de Deus, como são representados
pela cultura islâmica é primordial. Afinal, eles foram criados com o intuito
de adorar a Deus a partir da semelhança dos humanos. São verdadeiros
trabalhadores e servos de Deus, dos quais enviam mensagens e fazem
tarefas para os seus súditos.

3 - A crença nos mensageiros 


São ao todo vinte e cinco profetas citados no Alcorão: Adam (Adão),
Idris (Enoque), Nuh (Noé), Hud (Éber), Saleh (Selá), Ibrahim (Abraão),
Lut (Ló), Ismail (Ismael), Ishaq (Isaque), Yaqub (Jacó), Yusuf (José),
Ayub (Jó), Shoaib (Jetro), Musa (Moisés), Harun (Arão), Zulkifl
(Ezequiel), Daud (Davi), Sulayman (Salomão), Ilyas (Elias), Al-Yasa
(Eliseu), Yunus (Jonas), Zakariya (Zacarias), Yahya (João Batista), Isa
(Jesus) e Muhammad. Quando qualquer um desses nomes são citados,
os muçulmanos devem enviar louvores.
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4 - A crença nos livros sagrados 


Para os muçulmanos, os livros de Deus são extremamente sagrados e
trazem a mensagem divina enviada diretamente pelo ser supremo. O
Alcorão é o mais importante deles e o único que ainda encontramos em
sua totalidade. No entanto o Torá, os Salmos e o Evangelho são
também livros importantes para essa religião, desde que levando em
conta que eles foram alterados durante os anos e perderam um pouco
de sua parte sagrada.

5 - A crença no Dia do Juízo Final 


Todos os muçulmanos são orientados a viver como se o dia finito
pudesse acontecer a qualquer momento. Isso porque eles acreditam
piamente no dia do juízo final, uma data que apenas Deus sabe qual é e
que todos serão punidos e cobrados por suas atitudes na Terra.

6 - A crença em Al-Qadar ou a Predestinação 


Os muçulmanos acreditam que toda a sua história já está escrita por
Deus e que ele sabe de tudo o que vai nos acontecer. É como se toda a
vida já estivesse predestinada a acontecer. No entanto também são
instigados a buscar o melhor sempre, pois Ele tem o poder de
reescrever o destino de cada um de seus fiéis. 
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Grupos do islamismo
O islamismo, como muitas religiões, possui diferentes vertentes, as quais
interpretam os textos sagrados e os preceitos da religião de formas diferentes.
Entre os diferentes grupos, os mais conhecidos são os sunitas e os xiitas, que
correspondem quase à totalidade dos muçulmanos atualmente. A origem
desses grupos remonta ao período de surgimento do islamismo, o século VII.
A divisão veio a acontecer após o falecimento de Muhammad, em 632 d.C.
Os sunitas ajudaram a eleger Abu Bakr, amigo do profeta e um dos primeiros
seguidores do islamismo. Abu Bakr tornou-se um califa e ajudou a expandir
essa religião para fora da Península Arábica. Os xiitas foram contrários à
eleição de Abu Bakr, preferindo que o sucessor fosse Ali Bin-Abu Talib, primo
do profeta.
Atualmente, os sunitas correspondem por cerca de 90% dos muçulmanos e
são conhecidos por possuir uma interpretação mais flexível do Alcorão e de
outros textos sagrados. Os xiitas, por sua vez, correspondem a cerca de 10%
dos muçulmanos e defendem uma interpretação literal dos textos sagrados e
uma aplicação mais rígida da Sharia (lei islâmica).

Islamismo no Brasil
O islamismo é uma das religiões de pouca difusão na América Latina, e isso
inclui o Brasil. Segundo o censo realizado pelo IBGE, em 2010, existem
atualmente cerca de 35 mil muçulmanos no país, um número bastante
pequeno em relação à população brasileira, que supera 200 milhões de
habitantes. Uma das cidades brasileiras com maior presença de muçulmanos é
São Paulo.
Os números do islamismo, a religião que mais cresce no mundo
(Fonte: Exame Por Gabriela Ruic Publicado em: 06/03/2017)1
São Paulo – O islamismo é a religião que mais cresce no planeta. Até o final
deste século, se o ritmo de crescimento se mantiver, os muçulmanos irão
superar os cristãos como o maior grupo religioso.
É o que mostra uma pesquisa conduzida pelo Pew Research Center, centro de
pesquisas baseado nos Estados Unidos e dedicado ao estudo de diversos
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temas de impacto regional e global. O estudo é parte de uma análise maior


sobre o assunto, publicada em 2015, mas que foi atualizada na última semana.
Segundo a pesquisa, o islamismo cresce em um ritmo mais rápido que outras
religiões por conta da combinação de dois fatores: taxa de fertilidade, que é a
estimativa da quantidade de filhos que uma mulher tem até o fim do seu
período fértil, e o fato de esse grupo religioso ser é “mais novo” que outros.

Globalmente, mulheres muçulmanas tem cerca de 3,1 filhos ante 2,3 das


mulheres de outras religiões. Além disso, os seguidores do islamismo são até
sete anos mais jovens que outros grupos. Em 2010, a média de idade de uma
pessoa muçulmana era de 23 anos.
Muçulmanos no mundo

A análise conduzida pelo centro de pesquisa trouxe dados interessantes. Há


hoje no mundo 1,6 bilhão de pessoas que se designam muçulmanas. Embora o
senso comum considere que a maioria dos seguidores dessa religião estejam
no norte da África ou no Oriente Médio, apenas 20% deles encontram-se
nesses lugares. A maioria dos muçulmanos (62%) está na região Ásia-Pacífico.
O maior país muçulmano é a Indonésia. Pelo menos nos dias atuais: em 2050,
calcula o estudo, o país com a maior comunidade islâmica do mundo será
a Índia, que hoje tem como maior grupo religioso o hindu.

Nota: Na América Latina, contudo, o aumento do número de seguidores do


Corão não acompanha o ritmo registrado em outras partes do mundo.
Estudo feito pelo Centro de Pesquisas Pew, dos Estados Unidos, aponta a
América Latina como a única região onde a taxa de crescimento da população
estimada para 2050 supera com folga o aumento de muçulmanos.
O levantamento prevê que, entre 2010 e 2050, a região tenha uma população
27% maior e um incremento de 13% no número de seguidores do islã. Nesse
mesmo período, o número de muçulmanos deve crescer 73% em todo o
mundo, enquanto o crescimento populacional deve ser de 35%.

Aumento da população muçulmana para 2050

 Estados Unidos e Canadá  179%


 África subsaariana 170%
 Oriente Médio e Norte da África 74%
 Europa 63%
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 48%
Ásia-Pacífico 
 América Latina 13% - (Fonte: Centro de Pesquisas Pew – BBC News)
Muçulmanos nos EUA (e na Europa)

Hoje, em solo americano, esse grupo corresponde a 1% dos americanos e 63%


dessas pessoas eram imigrantes. Em 2050, no entanto a expectativa é a de
que o islamismo se torne a segunda maior religião dos EUA, representando
2,1% da população do país. Já na Europa, a projeção da análise para esse
mesmo ano estima que 10% da população da Europa se identificará como
muçulmana. “Fonte 1”
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Os seguidores do Islamismo são chamados muçulmanos. Atualmente o islamismo é a religião


que mais se expande no mundo.

O Alcorão, coletânea das revelações de Maomé, é o livro sagrado do islamismo.

Fonte: SILVA, Daniel Neves. "Islamismo"; Brasil Escola. Disponível


em: https://brasilescola.uol.com.br/religiao/islamismo.htm.
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Cristãos e muçulmanos: uma longa história de conflitos

 Os dois últimos séculos


Um período especialmente humilhante para os muçulmanos diante do Ocidente
cristão foi o colonialismo dos séculos XIX e XX, em que virtualmente todas as
regiões islâmicas do Oriente Médio e do norte da África ficaram sob o domínio
de países europeus como a França, a Inglaterra, a Itália e a Espanha. Até o
início do século XIX, aquelas regiões tinham sido parte do vasto Império
Otomano, com sua capital em Istambul. Com o colonialismo chegaram os
missionários, tanto católicos como protestantes, com suas igrejas, escolas e
hospitais. Após a Primeira Guerra Mundial, à medida que as novas nações
árabes foram alcançando a sua independência, houve o crescimento do
sentimento nacionalista e a reafirmação dos valores islâmicos. Ao mesmo
tempo, o islamismo há muito havia ultrapassado os limites do mundo árabe,
tendo alcançado, além dos persas e dos turcos, muitos outros povos na África
e na Ásia, chegando até a Indonésia, hoje a maior de todas as nações
muçulmanas, com mais de 100 milhões de habitantes. Em muitas dessas
nações, árabes ou não, a presença de populações cristãs tem produzido
graves conflitos entre os dois grupos, como tem ocorrido muitas vezes na
Indonésia. Um acontecimento pouco divulgado foi o pavoroso genocídio
promovido pelos turcos contra os armênios cristãos no início do século XX.
 
Outro evento que acabou por gerar nova animosidade entre os países
muçulmanos e o Ocidente cristão foi a criação do Estado de Israel, em 1948, e
a percepção de que o Ocidente, principalmente os Estados Unidos, apóia
incondicionalmente o Estado Judeu em sua luta contra os palestinos e outros
povos árabes. Dois novos ingredientes nessa luta foram o súbito
enriquecimento de algumas nações árabes com a exploração do petróleo e o
surgimento do fundamentalismo militante entre os xiitas, uma antiga facção
islâmica minoritária ao lado da maioria sunita. A militância islâmica tem gerado
várias revoluções e o surgimento de regimes islâmicos, como aconteceu há
alguns anos no Irã. Além do apoio dos Estados Unidos a Israel, os
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fundamentalistas se ressentem da presença de tropas americanas na Arábia


Saudita, o berço do islã, e da influência cultural do Ocidente nos seus
respectivos países, vista como danosa para a sua fé e seus valores
tradicionais.

 Neste início do século 21, o islamismo representa o maior desafio para o


cristianismo, em diversos sentidos. A invasão do Iraque e a enorme violência
fratricida dela resultante têm sido muito negativas para a imagem do
cristianismo junto aos muçulmanos. Ao contrário do que foi propalado no início
da ocupação, as ações do presidente George W. Bush com o respaldo de
muitos cristãos americanos não têm sido benéficas para a causa do evangelho
no mundo islâmico. A situação dos cristãos que vivem em países muçulmanos
também se agravou muito nos últimos anos. Como um dos “povos do livro”
(expressão aplicada aos judeus e cristãos, visto serem mencionados no
Corão).

Ranking

A organização internacional Open Doors, que atua em mais de 60 países para


apoiar cristãos perseguidos, elabora um ranking anual dos países mais hostis
para o grupo religioso, que serve como um indicador global das nações onde
direitos humanos e religiosos são violados.

A organização afirma que os cristãos são um dos grupos religiosos mais


perseguidos do mundo, e define essa perseguição como qualquer hostilidade
experimentada como resultado da identificação com Jesus Cristo. Entre as
formas de hostilidade estão o risco de prisão, perda de casas e bens, tortura
física, decapitações, estupro e até a morte.

De acordo com o Open Doors, todos os meses, em média, 345 cristãos são
mortos por motivos relacionados à sua fé; 105 igrejas ou locais cristãos são
queimados ou atacados; 219 cristãos são detidos sem julgamento,
sentenciados ou presos. Estima-se que 245 milhões de cristãos vivam
atualmente nos 50 países que sofrem as restrições mais rígidas.

Pela primeira vez desde que a organização monitora a questão, com início na
década de 1970, a Índia entrou para o top 10 dos países mais opressores aos
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cristãos. Ao mesmo tempo, a China subiu 16 posições, passando do 43º para o


27º lugar. Como cada um dos dois países tem população de mais de um bilhão
de pessoas, os coordenadores do ranking veem essa tendência com
preocupação.

O país com as piores condições para os cristãos é a Coreia do Norte, por 18


anos seguidos. Nessa ditadura comunista, é ilegal ser cristão e muitos são
mandados para campos de trabalhos forçados quando são descobertos,
segundo a Open Doors.

Alguns países com grande população cristã aparecem no ranking. A


organização explica que há várias razões para esses casos. Na Colômbia, por
exemplo, cristãos são perseguidos por rebeldes em algumas regiões do país,
assim como outros grupos que sofrem com essa violência. Líderes cristãos são
vistos como ameaça porque muitas pessoas deixam os grupos rebeldes após
se juntar à religião.

Em sete dos dez países mais hostis, a principal motivação para a perseguição
é a opressão islâmica. Mas as causas para as condições de risco para cristãos
são variadas. Em países comunistas, como a Coreia do Norte, que ocupa o
topo da lista, governos autoritários tentam controlar todas as expressões
religiosas. Esses governos veem grupos religiosos como possíveis inimigos do
Estado, porque as suas crenças poderiam desafiar a lealdade da população
aos governantes.

É comum também a hostilidade contra minorias ou grupos não tradicionais. Por


exemplo, na República do Níger, 98% da população é islâmica, e a
perseguição contra cristãos vem mais da sociedade do que do governo.

Outra situação é a falta generalizada de atenção aos direitos humanos básicos.


Por exemplo, na Eritreia, ocorrem violações das liberdades de expressão,
reunião e de crença religiosa, além de assassinatos extrajudiciais,
desaparecimentos, prisões e torturas, que causam a fuga de muitos cidadãos
do país.

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