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A Atenção Plena e a Psicanálise

Chapter · January 2016

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Kathy Boggs Havens [Monja Isshin]

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INSTITUTO DE PSICANÁLISE HUMANISTA
FACEI
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICANÁLISE

Kathy Boggs Havens


(Monja Isshin)

A ATENÇÃO PLENA E A PSICANÁLISE

Santa Maria
2016
Kathy Boggs Havens

A ATENÇÃO PLENA E A PSICANÁLISE

Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao


Programa de Pós-Graduação em Psicanálise
Clínica, do Instituto de Formação em Psicanálise em
convênio com a Faculdade Einstein (FACEI) como
requisito parcial para obtenção do grau de
Especialista em Psicanálise Clínica, sob orientação
da professora Dra. Carla Cristine Mello Froner.

Santa Maria
2016
CIP – Catalogação na Publicação

H386a Havens, Kathy Boggs


A atenção plena e a Psicanálise / Kathy Boggs
Havens. -- Santa Maria, 2016.
40 f.

Orientadora: Dra. Carla Froner.

Trabalho de conclusão de curso (Especialização) --


Faculdade Einstein, Instituto de Formação em Psicanálise, Pós-
Graduação em Psicanálise Clínica, Santa Maria, BR-RS, 2016.

1. Atenção Plena. 2. Mindfulness. 3. Meditação. 4.


Psicanálise Humanista. 5. Psicologia. I. Froner, Carla, orient. II.
Título.

CDU 24‑285.544
Elaborada pela bibliotecária Ananda Feix Ribeiro (CRB10-1814).
RESUMO

O presente estudo é uma reflexão acerca da aplicação da Atenção Plena


(Mindfulness) no setting psicanalítico. Inicialmente fazemos a apresentação de um
tipo de meditação conhecida como Atenção Plena (Mindfulness), com um pequeno
resgate histórico envolvendo de forma sucinta questões filosóficas, psicológicas e
religiosas até a atualidade. Em seguida, seguem reflexões sobre sua aplicação na
medicina e psicoterapia. Concluímos com um levantamento do pensamento atual
sobre a Atenção Plena e a psicanálise e uma breve consideração dos seus
benefícios e limitações.

Palavras-chave: Atenção plena. Mindfulness. Meditação. Psicanálise Humanista.


Psicologia.
ABSTRACT

This study is a reflection on the application of Mindfulness in the psychoanalytic


setting. We begin with a presentation of a type of meditation known as Mindfulness
with a short historical overview briefly looking at some of the philosophical,
psychological and religious issues up to the present time. Then, we reflect on its
application in medicine and psychotherapy. We conclude by looking into present-day
thinking on Mindfulness and psychoanalysis, including a brief consideration
concerning its benefits and limitations.

Keywords: Humanistic Psychoanalysis. Meditation. Mindfulness. Psychology.


SUMÁRIO

1 CONTEXTO HISTÓRICO E DEFINIÇÃO DOS TERMOS “MEDITAÇÃO” E


“ATENÇÃO PLENA” .................................................................................... 7
2 COMO FAZER A PRÁTICA DE MINDFULNESS ..................................... 12
3 A ATENÇÃO PLENA ENTRA NA ÁREA DA SAÚDE .............................. 13
3.1 A Atenção Plena na Neurociência ...................................................... 15
3.2 Críticas às Pesquisas Científicas da Meditação ................................. 19
3.3 A Atenção Plena na Psicoterapia ....................................................... 20
4 A ATENÇÃO PLENA NA PSICANÁLISE ................................................ 24
5 LIMITAÇÕES DA APLICAÇÃO DA ATENÇÃO PLENA NA TERAPIA ... 28
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 29
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 32
1 CONTEXTO HISTÓRICO E DEFINIÇÃO DOS TERMOS
“MEDITAÇÃO” E “ATENÇÃO PLENA”

O Oriente e o Ocidente precisam se unir para fornecer um ao outro


aquilo que está faltando.1 (PARIS2…, 1995 apud KAO; SINHA, 1997,
p. 39, tradução nossa).

O autor, acadêmico e ex-monge do Budismo Tibetano B. Alan Wallace


descreve a meditação como “um dos segredos mais bem guardados da humanidade”
(WALLACE, 2011, p. 13).
Ele afirma que o motivo pelo qual as verdadeiras origens da meditação ainda
são pouco conhecidas pelo público em geral se deriva “do modo tosco como
definimos ‘religião’”. Continua explicando que, geralmente, imaginamos a religião
como uma atitude baseada na fé em uma autoridade (WALLACE, 2011, p. 14). Desta
forma, nos lembra do conceito de “religião autoritária” de Erich Fromm (1962), mas,
como afirmou Fromm, nem todas as religiões são “autoritárias”.
A palavra “meditar” vem do latim medatio e, de acordo com o Dicionário
Aulete Digital, significa “1. Ação ou resultado de meditar, de refletir em profundidade
sobre um assunto; reflexão” e “2. Rel. Processo e circunstância de (alguém) se
concentrar espiritualmente para desligar-se gradualmente das preocupações do
mundo material”. O Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa nos informa:
“1 Ato ou efeito de meditar; reflexão. 2 Oração mental. 3 Contemplação religiosa. sf
pl Pensamentos, estudos, reflexões.”
De acordo com achados de história e literatura, a meditação já existia há
uns 5.500 anos, quando a escrita foi inventada. Foram descobertos moldes de argila
na Vale dos Ganges de 3.000 a 2.500 A.C. mostrando figuras em posturas de ioga
e de meditação (WALLACE, 2011, p. 24).
Encontramos a meditação, ou estados de foco intencionalmente cultivados,
em praticamente todas as religiões do mundo. Até recentemente, porém, era tratado
como pertencendo exclusivamente à esfera das religiões, não fazendo parte da vida
“normal” e certamente não cabendo nos laboratórios do mundo científico. Existe a
Meditação Cristã (que data da época dos Padres do Deserto, recollectio e hesychia);

1
"The East and the West must unite to provide one another with what is lacking".
2
PARIS TALKS: Addresses Given by Abdul Baha in 1911. Wilmette, IL: Baha'i Distribution Service,
1995.
Judaica (kavana ou devekut, Kabbalah, Chabad, hitbodedut), Islâmica (dhikr, ou zikr,
e a contemplação tafakkur), Taoista (shŏuyí), Confucionismo (jìngzuò), Hindu
(samādhi e dhyāna) e Budista (samādhi e dhyāna), além da meditação praticada em
outras religiões e em culturas indígenas.
De acordo com Wallace (2011, p. 20), encontramos a prática ocidental da
meditação pelo menos desde Pitágoras (c.582-507 A.C.). Ele sugere a possibilidade
de Pitágoras, nas suas extensas viagens, ter tido contato com fontes indianas de
conhecimento de meditação e do teorema de geometria que hoje é associada ao seu
nome. Ensinamentos dos pitagóricos foram transmitidos, por meio de Sócrates
(c.470-399 A.C.) e Platão (c. 427-347 A.C.) e assimilados pela escola de
neoplatonismo, fundada por Plotino (c.205-270). Wallace explica:
Plotino acreditava que era possível atingir a perfeição e a felicidade
humanas neste mundo, o que poderia ser alcançado através da
prática da contemplação. O objetivo era alcançar a união em êxtase
com o Todo, que ele ensinava ser a realidade última, transcendendo
todas as palavras e conceitos. (WALLACE, 2011 p. 23)

Durante séculos, os escritos de Plotino influenciaram o pensamento dos


cristãos, judeus, muçulmanos, filósofos e contemplativos gnósticos. Um dos
pensadores mais influentes foi Orígenes (c.185-254), que foi considerado o maior
teólogo cristão de seu tempo. De acordo com Wallace:
Ele também acreditava que a alma evolui espiritualmente de uma
existência para outra, até que finalmente avança para o
conhecimento (gnosis) de Deus por meio da contemplação (teoria).
(WALLACE, 2011, p. 23).

A partir do século III, os contemplativos cristãos passaram a seguir uma vida


solitária e meditativa, na parte egípcia do deserto do Saara. Conhecidos como Pais
do Deserto3, os seus ensinamentos orais foram registrados por Evagrius do Ponto
(345-399), que defendeu o pensamento de Orígenes e “adotou os pontos de vista
sobre a reencarnação das almas humanas e sua perfeição final em união com Deus.”
(WALLACE, 2011, p. 24).
Um dos discípulos de Evagrius do Ponto, João Cassiano (c. 360-433) fundou
a abadia de São Vitor no sul da França. Este complexo de dois monastérios, um

3
Frequentemente encontramos estes contemplativos chamados de Padres do Deserto.
masculino e outro feminino, foi uma das primeiras instituições deste tipo no Ocidente
e modelo para o desenvolvimento da vida monástica cristã.
No cristianismo primitivo, a meditação permitia a vivência do conhecimento
direto, contemplativo da natureza da realidade. Mas, na escolástica medieval, foi
reduzida a considerações racionais, numa busca de compreender o universo externo
da matéria. Os grandes pioneiros da ciência no século XVII, a origem da ciência
moderna, eram cristãos devotos, que tentaram fundir a compreensão do mundo
natural com a compreensão de Deus. Desta forma, o mundo ocidental abandonou a
investigação contemplativa de “olhar voltado para dentro”, passou a desenvolver
métodos de investigação de “olhar voltado para fora” (WALLACE, 2011, p. 28) e
Galileu tornou-se o pai da ciência moderna devido ao seu papel na criação do
método científico de investigação. O pai da filosofia moderna, René Descartes (1596-
1650) apresentou a moldura conceitual dentro da qual a pesquisa científica seria
conduzida, traçando uma fronteira nítida, separando o mundo objetivo do universo
físico dos mundos subjetivos da experiência pessoal dos indivíduos. Assim, o mundo
material passou para cientistas e o mundo subjetivo ficou para filósofos e teólogos
(WALLACE, 2011, p. 31-32).
William James (1842-1910) foi o grande pioneiro americano da psicologia,
concentrando-se na observação introspectiva da experiência mental consciente, e
Sigmund Freud (1856-1939), desenvolveu as teorias sobre a mente inconsciente,
criando a escola psicanalítica de psicologia. Mas, devido às dificuldades em aplicar
o método científico à introspecção como meio de investigar a mente, a prática
“subjetiva” de “olhar para dentro” foi sendo abandonada. Consequentemente, na
opinião de Wallace, a introspecção ocidental “nunca se desenvolveu além do nível
de uma ‘psicologia folclórica’” (WALLACE, 2011, p. 34). Como resultado, a psicologia
acadêmica no mundo de língua inglesa norte-americana tornou-se fortemente
influenciada pelo behaviorismo, uma vez que o comportamento é facilmente
observado, com a eliminação das referências a estados e processos subjetivamente
experimentados.
Chegado à década de 60, as limitações desta abordagem não podiam mais
ser ignoradas, e a psicologia cognitiva surgiu no mundo acadêmico, encarando a
experiência subjetiva com maior seriedade.
No mundo oriental, porém, a história tem sido diferente. Acredita-se que a
meditação já era conhecida na Índia por volta de 5.000 A.C. Descrições de meditação
são encontradas na literatura indiana de 3.000 A.C.
É no Budismo, religião-filosofia fundada por Sidarta Gautama, o Buda (o Ser
Desperto, c.563-483 A.C.), que encontramos uma legada riquíssima de
aproximadamente 40 tipos de meditação e contemplação, com o uso de
visualizações, focalização em imagens, recitação de mantras e reflexão sobre
variados temas. Uma das escolas budistas mais divulgadas no ocidente é o Budismo
Zen, que se desenvolveu na China e se expandiu para a Coreia, Japão, Vietnã, entre
outros países.
Mas a técnica principal do Budismo é a prática da atenção na respiração,
que leva a um aquietamento da mente e, com o desenvolvimento da prática, pode
levar a vários estados de absorção meditativa chamados jhanas. Uma outra prática,
bastante importante no Budismo, é a prática da Atenção Plena, o sati, que pode ser
traduzido como “lembrança”, a prática de lembrar-se dos ensinamentos básicos do
Budismo: a insatisfatoriedade da vida, a transitoriedade e a ausência de um eu
separado e permanente, além de lembrar-se daquilo que se tenha feito, as
consequências de suas ações e a moralidade. Lembramos que, para Fromm, o
Budismo é uma religião humanista e não-autoritária (FROMM, 1962).
O Budismo desenvolveu o seu próprio estudo da mente, a começar com o
Abhidharma do Budismo clássico, passando pelo Abhidharma-Kosa e chegando ao
Yogacara (estudado no Zen) e Madhyamika (estudado no Budismo tibetano).
Enquanto que os Sutras do Budismo clássico transmitem os ensinamentos em
linguagem coloquial, os textos do Abhidharma usam linguagem técnica e são
altamente abstratos, teóricos, versando sobre a epistemologia, filosofia da
linguagem, a composição do mundo material, cosmologia e uma análise complexa
sobre a estrutura e funcionamento da mente, emoções, sensações e pensamento.
As teorias nestes textos são baseadas nas experiências subjetivas dos próprios
monásticos, compartilhadas, comparadas e debatidas – às vezes calorosamente –
no decorrer dos 2.600 anos da existência do Budismo.
Um texto clássico do Zen Budismo, da época medieval chinesa, classifica o
zen4 (a meditação) em cinco variedades:
1) Bompu (meditação comum, sem qualquer vínculo filosófico ou
religioso, praticada para beneficiar a saúde e o bem-estar
psicológico);
2) Gaidō (práticas meditativas não-budistas, como taoísta, hindu, cristã,
etc);
3) Shōjō (meditação budista para o benefício próprio);
4) Daijō (meditação zen budista da escola do Zen Rinzai, baseado no
koan, um tipo de quebra-cabeça sem resposta racional); e
5) Saijōjō (meditação zen budista da escola Soto Zen, baseado no
shikantaza, a meditação de “simplesmente-exclusivamente-
justamente sentar-se”) (KAPLEAU; ABADIA..., 1978, p. 56).

No Budismo, o termo que temos traduzido como “meditação” vem de uma


palavra sânscrito, bhāvanā, que significa literalmente “cultivar, desenvolver, treinar”.
Desta forma, no Budismo, uma das funções da meditação tem a finalidade de treinar
e disciplinar a mente, que, sem treinamento, pode ser comparada a um bando de
macacos bêbados, que ficam pulando de galho em galho, nos levando loucamente
para lá e para cá. Para o Budismo, os pensamentos são considerados “funções
mentais” da consciência, que é considerada um sentido semelhante aos cinco
sentidos conhecidos no Ocidente. Mas nós nos identificamos com os nossos
pensamentos – fusão cognitiva – e os tratamos como coisas concretas, a serem
levados “a sério”. Assim, eles controlam as nossas vidas, nos causando ansiedade
e aflições.
O cultivo da mente através da bhāvanā facilita a desidentificação (desfusão
cognitiva) com os pensamentos e a manutenção da atenção no Aqui e Agora. Mas,
é muito importante lembrar que a meditação budista, especialmente a Atenção Plena
budista (sati) também inclui a recolecção, a lembrança constante dos ensinamentos
básicos do budismo e a moralidade.

4
A palavra zen é a pronúncia japonesa do ideograma chinês 禅 (chan) de 禪那 (chánnà), que foi a
transliteração chinesa das palavras indianas dhyāna (Sânscrito) ou jhāna (Pali) e significa “estado
de absorção meditativa”.
2 COMO FAZER A PRÁTICA DE MINDFULNESS

A capacidade de voluntariamente trazer de volta a atenção andarilha


repetidas vezes é a própria raiz de juízo, caráter e vontade. Uma
educação que desenvolveria esta capacidade seria A educação par
excellence 5. (JAMES, 1890, não paginado, tradução nossa).

Geralmente, três tipos de meditação, derivados das meditações budistas,


são ensinados como técnica de meditação de Atenção Plena no Ocidente. São: 1.
Atenção focada (concentração); 2. Monitoramento aberto (um tipo de atenção plena
propriamente dito, porém sem a recolecção ou foco na moralidade); e 3. Bondade-
amorosa e compaixão, com os primeiros dois tipos recebendo mais atenção na teoria
e prática de Atenção Plena na psicoterapia.
Seguem instruções básicas para uma prática simples da técnica de Atenção
Focada ou Meditação Focada na Respiração, adaptadas da página 17 do livro
Mindfulness and Psychotherapy (GERMER; SIEGEL; FULTON, 2013):
a) encontre um lugar quieto e sente-se numa postura ereta, mas relaxada.
Faça algumas respirações conscientes para relaxar. Então, feche os olhos
suavemente, parcialmente ou completamente;
b) procure descobrir onde você consegue sentir a sua respiração no seu
corpo com mais facilidade (no lábio superior, abaixo das narinas, no peito,
no abdômen);
c) simplesmente sinta as sensações de inspirar e expirar;
d) ao perceber que se distraiu-se, simplesmente traga a atenção de volta à
respiração;
e) não há necessidade de controlar a respiração. Deixe o corpo respirar
naturalmente;
f) não se preocupe se você se distrair muitas vezes. Cada vez que perceber
que a sua atenção “viajou”, simplesmente volte para a respiração
tranquilamente;
g) quando desejar terminar, abra os olhos suavemente.

5
“The faculty of voluntarily bring back a wandering attention over and over again is the very root of
judgement, character and will. An education which would improve this faculty would be THE
education par excellence.”
Estas instruções são as mais básicas possíveis. Numa prática da meditação
como parte de um caminho espiritual, é possível que o professor recomende que o
aluno comece com uma prática inicial para fortalecer a concentração através do uso
de um sistema de contagem das respirações (數息觀), shusokukan em japonês) e/ou
pode dar importância à manutenção de uma postura física e posição das mãos como
uma parte integral da prática. Mais ainda, num caminho espiritual, a meditação faria
parte de um conjunto de atividades que podem incluir estudo dos textos sagrados,
moralidade e ética, cerimonial e liturgia, oração, caridade e outras atividades de uma
comunidade religiosa. Como técnica terapêutica de Mindfulness, ou Atenção Plena,
a meditação é desvinculada das questões filosóficas, religiosas e éticas.

3 A ATENÇÃO PLENA ENTRA NA ÁREA DA SAÚDE

Entre o estímulo e a resposta há um espaço. Neste espaço está


nosso poder de escolher nossa resposta. Na nossa resposta está
nosso crescimento e nossa liberdade. (FRANKL 6 , 1985 apud
PATTAKOS, 2004, p. 8).

No campo da medicina, foi na década de 1920 que o fisiologista, professor


na Universidade de Harvard, Walter Canon mostrou a relação entre estresse e a
resposta dos sistemas nervoso e endócrino, dando o primeiro passo para uma
revisão da separação entre corpo e mente na medicina ocidental. Suas pesquisas
foram seguidas na década de 1930 pelas pesquisas do endocrinologista Hans Selye,
considerado o pai do estudo sobre estresse, demonstrando seus efeitos deletérios,
e o trabalho de Becher sobre o efeito placebo (informação verbal 7).
A partir dos anos 1960, houve um boom de interesse pela meditação,
especialmente por parte dos beatniks e dos hippies norte-americanos. Ao mesmo
tempo, em parte influenciado por este boom, a comunidade científica começou a se
interessar pelo estudo dos efeitos da meditação.
Um dos pioneiros ocidentais dos estudos científicos da meditação mais
conhecidos é o Dr. Herbert Benson, que escreveu um livro, “A Resposta de

6
FRANKL, V. E. Em busca de sentido. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985.
7
Palestra proferida pela pesquisadora Dra. Elisa Kozasa no Jisui Zendo. Porto Alegre, 12 dezembro
de 2012.
Relaxamento” (The Relaxation Response), publicado em 1975, baseado nas suas
pesquisas e apresentando uma versão simplificada de um sistema de meditação
indiana chamado Meditação Transcendental.
Mais tarde, o médico e pesquisado Robert Keith Wallace realizou mais
pesquisas sobre os efeitos da meditação transcendental e foi talvez o primeiro
pesquisador ocidental a publicar resultados de pesquisas sobre a neurofisiologia da
meditação com o seu livro The Neurophysiology of Enlightenment (A Neurofisiologia
da Iluminação) publicado em 1986.
O médico norte-americano Jon Kabat-Zinn aprendeu a meditação budista, e
a partir desta experiência, em 1979, desenvolveu um sistema de prática de
meditação sem qualquer vínculo religioso ou filosófico com a finalidade de levar a
redução de estresse para o mundo médico. O seu sistema, chamado de Redução de
Estresse Baseado na Atenção Plena (Mindfulness-Based Stress Reduction, ou
MBSR), colocou a meditação em hospitais, clínicas médicas, consultórios de
psicoterapia e nos laboratórios científicos. Deu início ao “Mindfulness Movement”.
Mas, apesar de ter adotado o termo “Mindfulness” (Atenção Plena), em lugar
de usar a prática do sati do Budismo Clássico (“Mindfulness” no Budismo – a
lembrança dos ensinamentos básicos budistas), ele adotou o zen bompu – a
meditação na sua forma mais básica e superficial, sem vínculo religioso ou filosófico
– como a prática central de seu sistema. É uma meditação que toma a atenção na
respiração como meio de convidar a mente a se aquietar naturalmente. O sistema
MBSR adiciona uma meditação de escaneamento do corpo (outra técnica baseada
numa prática budista), algumas meditações orientadas e certos exercícios de Ioga
que são ensinados num curso de oito semanas, no qual o aluno frequenta uma aula
semanal de prática em grupo e tem suas tarefas diárias para fazer em casa.
No livro “Onde quer que eu vá, lá estou”, Kabat-Zinn (2009) definiu a Atenção
Plena como “A consciência que surge ao prestar atenção intencionalmente no
momento presente, sem julgamento”.
Ao desvincular a Atenção Plena, ou Mindfulness, das suas raízes filosóficas
e espirituais, possibilitou a entrada da forma básica da meditação nos laboratórios
científicos bem como nos consultórios médicos e salas de atendimento de
psicoterapia – trazendo muitos benefícios, mas também apresentando certos riscos
e limitações.
3.1 A Atenção Plena na Neurociência

Lá fora, além de ideias de bem ou mal, há um lugar. Nos vemos lá.


(RUMI, documento eletrônico).

Os primeiros estudos na área da neurociência da meditação foram


realizados na década de 1950 na Índia, com praticantes bastante experientes de
Yoga e no Japão, com praticantes avançados do Zen (LUTZ; DUNNE; DAVIDSON,
2005).
De acordo com o Michel A. West (1980), o primeiro estudo bem controlado
do eletroencefalograma (EEG) e a Meditação foi realizado por Fenwick, em 1960
(Computer analysis of the EEG during mantra meditation).
Um outro pioneiro das pesquisas é um médico-psiquiatra japonês pouco
conhecido no ocidente, o Dr. Tomio Hirai do Departamento de Neuropsiquiatria da
Universidade de Tokyo e autor de vários livros, entre eles “Zen and Psychotherapy”.
Em 1966, depois de aproximadamente dez anos de pesquisa de EEGs de monges
zen budistas vs. controles, publicou, junto com o Dr. Akira Kasamatsu um artigo na
revista Psychiatry and Clinical Neurosciences, relatando os resultados destas
pesquisas e finaliza apresentando a sua conclusão:
Estes resultados eletroencefalográficos levam às seguintes
conclusões: de um lado, na meditação Zen, o padrão de redução da
velocidade do EEG é confirmado; e, do outro lado, a desabituação
do bloqueio de alfa também é confirmado. Sendo estes indicativos
de uma mudança específica de consciência 8. (HIRAI; KASAMATSU,
1966, p. 335, tradução nossa).

Um artigo publicado no site da Enabling Support Foundation: Maximize the


potential of everyone com o título “Buddhist Meditation and Science” descreve o
significado deste achado:
Para compreender este fenômeno, vamos imaginar que uma pessoa
que está tranquilamente lendo foi repentinamente incomodado por
um barulho forte. Se o mesmo som for repetido alguns segundos
mais tarde, a sua atenção será novamente desviada, mas não tão
fortemente nem durante a mesma duração de tempo. Se o mesmo
som for repetido então em intervalos regulares, a pessoa continuará
lendo e se tornará indiferente ao som. Um sujeito normal com os

8
“These electroencephalographic findings lead to the following conclusions; In Zen meditation, the
slowing of EEG pattern is confirmed on the one hand, and the dehabituation of the alpha blocking
on the other. These indicate the specific change of consciousness.”
olhos fechados produz ondas alfa num traçado de EEG. Um estímulo
auditório, como um barulho forte, normalmente apaga as ondas alfa
durante 7 segundos ou mais; isto se chama bloqueio de alfa. Num
mestre Zen, o bloqueio alfa produzido pelo primeiro barulho dura
somente 2 segundos. Se o barulho for repetido em intervalos de 15
segundos, descobrimos que no sujeito normal não sobra
virtualmente nenhum bloqueio de alfa até o quinto barulho sucessivo.
Esta diminuição do bloqueio de alfa se chama habituação e persiste
nos sujeitos normais enquanto que o barulho continue com intervalos
regulares e frequentes. No mestre Zen, porém, nenhuma habituação
é visto. Seu bloqueio de alfa dura dois segundos com o primeiro som,
dois segundos com o quinto som e dois segundos com o vigésimo
som. Isto implica que o mestre Zen tem uma consciência de seu meio
ambiente maior como o resultado paradoxal da sua concentração
meditativa 9 . (NANAYAKKARA, documento eletrônico, tradução
nossa).

Em 1970, um estudo de R. K. Wallace (1970) sobre os efeitos fisiológicos da


meditação em 15 pessoas recebeu bastante publicidade. Neste estudo e em outros
que o seguiram, foram encontrados padrões de atividade rápida generalizada com
um ritmo dominante de beta por volta de 20 cps durante a “transcendência” (o estágio
profundo da Meditação Transcendental, presumivelmente o mesmo que o estágio de
samadhi ou êxtase). Isto “[...] replicava informações de Das e Gastaus (1955) e
Fenwick (1960) e sugere que esta atividade rápida é característica dos estágios
profundos da meditação” (WALLACE, 1970, p. 1753).
A partir da década de 90, com o desenvolvimento e disponibilidade maior
dos aparelhos de IRM (Imagem por Ressonância Magnética) e de Imagem por
Ressonância Magnética Funcional a partir da década 90, houve uma explosão de
interesse nas pesquisas sobre a meditação e seus efeitos no cérebro e na fisiologia.
Estudos documentaram melhoras nas várias habilidades, como atenção
sustentada, capacidade para automonitoramento (perceber a distração mental, ou

9
“To understand these phenomena let us imagine that a person who is reading quietly is suddenly
disturbed by a loud noise. If the same sound is then repeated with a few seconds later his attention
will again be diverted, only not as strongly nor for as long a time. If the sound is then repeated at
regular intervals, the person will continue reading and become oblivious to the sound. A normal
subject with closed eyes produces alpha waves on an EEG tracing. An auditory stimulation, such
as a loud noise normally obliterates alpha waves for seven seconds or more; this is termed alpha
blocking. In a Zen master the alpha blocking produced by the first noise lasts only two seconds. If
the noise is repeated at 15 second intervals, we find that in the normal subject there is virtually no
alpha blocking remaining by the fifth successive noise. This diminution of alpha blocking is termed
habituation and persists in normal subjects for as long as the noise continues at regular and
frequent intervals. In the Zen master, however, no habituation is seen. His alpha blocking lasts two
seconds with the first sound, two seconds with the fifth sound, and two seconds with the twentieth
sound. This implies that the Zen master has a greater awareness of his environment as the
paradoxical result of meditative concentration.”
“mind wandering”), capacidade de se desligar de um objeto que causaria distração,
atenção seletiva, diminuição das “lacunas da atenção” (attentional blink) e diminuição
na perda cognitiva relacionada à idade (BOCCIA; PICCARDI; GUARIGLIA, 2015).
Mudanças na estrutura do cérebro foram descobertas. Um artigo publicado
no jornal The Washington Post em 26 de maio de 2015 reporta uma entrevista com
a neurocientista da Escola de Medicina de Harvard, Sara Lazar, no qual ela fala dos
resultados de uma pesquisa que foi publicada no Psychiatry Research10, relatando
diferenças no volume em cinco regiões do cérebro depois de oito semanas de prática
de redução de estresse baseada em atenção plena:
Encontramos aumento em quatro regiões:
1. A diferença principal foi encontrada no córtex cingulado posterior,
que é relacionado com o fenômeno chamado de mente divagante
(“mind wandering”) e auto-relevância. (“self-relevance”)
2. O hipocampo esquerdo, que ajuda no aprendizagem, cognição,
memória e regulação emocional.
3. A junção tempo parietal, ou TPJ, que é associada com alteridade,
empatia e compaixão.
4. Uma área do “tronco encefálico, chamada ponte, onde muitos
dos neurotransmissores regulatórios são produzidos.
A amigdala, a parte do cérebro da “luta ou fuga”, é importante no
controle da ansiedade, medo e estresse em geral. Essa área
apresenta redução espacial no grupo que passou pelo programa de
redução de estresse baseada em atenção plena (mindfulness-based
stress reduction).
A mudança na amigdala também ficou correlacionada a uma
diminuição nos níveis de estresse
A mudança na amigdala também ficou correlacionada a uma redução
nos níveis de estresse11. (SCHULTE, 2015, não paginado, tradução
nossa).

Na imagem a seguir, reproduzida com permissão do pesquisador Dr. Zindel


V. Segal, co-autor do estudo Minding One’s Emotions: Mindfulness Training Alters
the Neural Expression of Sadness, mostra os resultados de um estudo sobre a
sensibilidade à provocação do estado de tristeza antes e depois de treinamento em

10
V. 191, n. 1, 30 jan. 2011, p.36-43.
11
We found differences in brain volume after eight weeks in five different regions in the brains of the
two groups. In the group that learned meditation, we found thickening in four regions: 1. The primary
Difference, we found in the posterior cingulate, which is involved in mind wandering, and self
relevance. 2. The left hippocampus, which assists in learning, cognition, memory and emotional
regulation. 3. The temporal parietal junction, or TPJ, which is associated with perspective taking,
empathy and compassion. 4. An area of the brain stem called the Pons, where a lot of regulatory
neurotransmitters are produced. The amygdala, the fight or flight part of the brain which is important
for anxiety, fear and stress in general. That area got smaller in the group that went through the
mindfulness-based stress reduction program. The change in the amygdala was also correlated to
a reduction in stress levels.
Mindfulness. Demonstra que a atividade do sistema de controle executivo
(responsável pela reflexão sobre si mesmo e sobre o problema) diminui enquanto
que a função do insula e sistema do “momento presente” aumenta depois deste
treinamento.

Figura 1 – Estado de tristeza antes e depois de treinamento em Mindfulness

Fonte: FARB et al., 2010.

Na página do Centro Nacional para Saúde Complementar e Integrativa


(NCCIH) do site do Instituto Nacional de Saúde Norte-americana (NIH), encontramos
informações resumidas a respeito de estudo que sugere um aumento da capacidade
do cérebro de processar informação em meditadores experientes devido ao maior
número de dobras na camada exterior do cérebro, o processo de formação de sulcos
e giros (“gyrification”). Outro estudo sugere que a meditação pode diminuir,
suspender ou até reverter mudanças no cérebro devido ao envelhecimento. Um outro
estudo sugere que a meditação pode afetar a atividade da amigdala, até mesmo
quando a pessoa não está meditando. Alguns estudos sugerem que a meditação
ativa áreas do cérebro reduzindo a sensibilidade à dor. (NATIONAL…, 2015).
O interesse dos neurocientistas no estudo dos efeitos da meditação cresce
diariamente e uma rápida busca no Google Acadêmico pelos termos “neuroscience
+meditation” trouxe, no dia 29 de setembro de 2015, mais de 27 mil documentos
acadêmicos. Já existem, inclusive, especializações como “neuroteologia”
(neurotheology) e “neurociência contemplativa” (contemplative neuroscience).
No Brasil também há interesse crescente nas pesquisas. Uma das
pesquisadoras mais importantes, de renome internacional, é a Dra. Elisa Kozasa,
atualmente no Hospital Einstein em São Paulo.

3.2 Críticas às Pesquisas Científicas da Meditação

Se você pode observar uma coisa ou não, depende da teoria que


você usa. É a teoria que decide o que pode ser observado.
(EINSTEIN12, 1926 apud HOLTON, 2000, não paginado, tradução
nossa).

Os autores do artigo Meditation and the Neuroscience of Consciousness


(publicado no The Cambridge Handbook of Consciousness, mas também disponível
na Internet) levantam críticas em relação à situação atual da pesquisa científica da
meditação. Baseiam-se no fato que ainda não existe um consenso sobre como definir
“meditação”, uma vez que existem inúmeras técnicas e métodos de meditação,
desde as danças rituais de algumas tribos africanas, os exercícios espirituais dos
padres do deserto, o zazen do Zen Budismo, até as práticas tântricas no Budismo
Tibetano, para citar alguns exemplos. Consequentemente, o uso genérico do termo
“meditação”, sem esclarecimento em relação à técnica efetivamente sendo
estudada, cria situações onde tentativas de reproduzir os resultados de uma
pesquisa encontram dificuldades, erros de interpretação e confusão sobre os
verdadeiros efeitos de uma determinada técnica de meditação. Um exemplo seria a
tendência de muitos pesquisadores, ao ler estudos que afirmam que a meditação
gera um estado de hipoexcitação no praticante, generalizarem esta ideia
erroneamente às mais variadas técnicas, incluindo, por exemplo, o zazen, que, na
realidade, ativa o córtex frontal junto com outras áreas do cérebro e fortalece a
atenção.
Técnicas de meditação que têm como alvo processos subjacentes
específicos provavelmente irão ativar circuitos neurais diferentes. Se,
porém, as particularidades das afirmações e práticas de uma tradição
não foram examinadas, a possibilidade de que uma prática

12
Fragmento de uma conversa de Albert Einstein com Werner Heisenberg, 1926.
direcionar-se para um processo específico não será percebido 13 .
(LUTZ; DUNNE; DAVIDSON, 2005, p. 6, tradução nossa).

Um outro exemplo pode ser visto no artigo The Influence of Buddhist


Meditation Traditions on the Autonomic System and Attention (AMIHAI;
KOZHEVNIKOV, 2015), que cita estudos que demonstram que as meditações do
tipo Shamatha ou Vipassana (Teravada, Zen ou Shamatha Tibetano) levam a um
estado hipometabólico de dominância parassimpático, que significa um estado de
relaxamento e descanso profundo semelhante à hibernação, mas onde o praticante
mantém a mente plenamente desperta e consciente, enquanto que as meditações
Tântricas (incluindo certas práticas do Budismo Tibetano) ou Hindu levam a um
estado de ativação fisiológica e mental (ativação do sistema simpático). Finalmente,
a prática de meditação Ananda Marga, baseada na repetição de um mantra de duas
sílabas, levou a um estado de ativação do sistema simpático, enquanto que a
Meditação Transcendental (TM), que também é baseada na repetição de um mantra,
leva a um estado de relaxamento com a mente desperta. Estes resultados destacam
a necessidade da clareza sobre o tipo de meditação que estaria sendo estudado
numa dada pesquisa.
No seu artigo Meditation Nation, Linda Heuman fala que a pesquisadora,
professora assistente da Escola de Medicina da Universidade Brown e praticante
budista, Dra. Willoughby Britton, explica que o rigor científico insuficiente e a falta de
considerações para os possíveis efeitos negativos da meditação para algumas
pessoas também são problemas que comprometem os resultados de muitas das
pesquisas (HEUMAN, 2014).

3.3 A Atenção Plena na Psicoterapia

“É uma mudança, de ter a nossa saúde mental definida pelo


conteúdo dos nossos pensamentos” disse o Dr. Hayes, “a tê-la
definida pelo nosso relacionamento com aquele conteúdo – e
transformando este relacionamento ao sentar com, notar e ficar

13
Meditation techniques that target specific underlying processes are thus likely to engage different
neural circuitry. If, however, the particularity of a tradition’s claims and practices are not examined,
the possibility that a practice targets a specific process will not be noted.
desemaranhados da nossa definição de nós mesmos 14 . (HAYES
apud CAREY, 2008, não paginado, tradução nossa).

O psicanalista didata e monge zen budista norte-americano Paul C. Cooper


dedica um capítulo de seu livro The Zen Impulse and the Psychoanalytic Encounter
às consequências negativas dos primeiros encontros de ocidentais com o Zen
Budismo a partir do século 16 assim:
Este capítulo começa com uma revisão dos encontros dos
missionários Jesuítas com o Zen Budismo a partir do século 16 e
examina os mal-entendidos promovidos pelos Jesuítas que criaram
a base da resposta Europeia ao Zen, o que, por sua vez, influenciou
a resposta inicial patologizante entre os psicanalistas. As raízes
deste mal-entendido derivam dos conceitos diferentes de ser e não-
ser cultivados pelos missionários Jesuítas e pelos monges Zen
Budistas, o que contribuiu para uma atitude negativa em relação à
prática religiosa e vida monástica do Zen15. (COOPER, 2010, p. 55,
tradução nossa).

Ele continua:
A resposta negativa inicial à prática e crenças do Zen consistiu
principalmente de um ataque contra aquilo que, ao primeiro olhar,
parecia ser uma filosofia de aniquilacionismo junto com práticas
quietistas que este grupo de jesuítas enxergou como fomentando a
aniquilação total do self e um embotamento dos processos mentais 16.
(COOPER, 2010, p. 56, tradução nossa).

As narrativas dos jesuítas, alimentadas pelo zelo missionário,


consistiam, na sua maior parte, de críticas duras às crenças e
práticas do Zen. A natureza altamente subjetiva e obviamente
preconceituosa destes relatos serviam aos esforços coloniais e fins
sectários tanto na Ásia quanto na Europa17. (COOPER, 2010, p. 59,
tradução nossa).

14
“It’s a shift from having our mental health defined by the content of our thoughts,” Dr. Hayes said,
“to having it defined by our relationship to that content — and changing that relationship by sitting
with, noticing and becoming disentangled from our definition of ourselves.”
15
“This chapter begins with a review of the Jesuit missionary encounters with Zen Buddhism beginning
in the 16th century and examines basic misunderstandings promoted by the Jesuits that set the
tone for the European response to Zen, which in turn influenced the early pathologizing response
among psychoanalysts. The roots of this misunderstanding derive from differing conceptions of
being and nonbeing held by the Jesuit missionaries and by the Zenists, which contributed to a
negative attitude toward Zen religious practice and monastic life.”
16
“The initial negative response to Zen practice and beliefs consisted primarily of an attack on what
at first glance seemed to be an annihilationist philosophy coupled with quietist practices that this
group of Jesuits viewed as fostering a total annihilation of the self and a deadening of mental
processes.”
17
“The Jesuit narratives, fueled by missionary zeal, for the most part, consisted of scathing critiques
of Zen beliefs and practices. The highly subjective, obviously biased nature of these reports served
colonial expansionist efforts and sectarian ends in both Asia and Europe.”
Estes relatos, que foram repetidos em segunda e terceira voz pelos
intelectuais europeus, levaram o fundador da psicanálise, Sigmund Freud, a um
entendimento errônea das práticas meditativas orientais, apesar de seu interesse
sincero no assunto.
De acordo com o monge zen budista e psicanalista Paul C. Cooper, ao falar
do livro de W. Parsons “The Enigma of the Oceanic Feeling”:
Freud também dependeu exclusivamente das informações de
segunda mão, derivadas de sua correspondência com o poeta e
místico francês Romaine Rolland, que era um discípulo do guru
Indiano Sri Ramakrishna, para formar sua resposta negativa a
respeito da meditação Indiana18. (PARSONS19, 1999 apud COOPER,
2010, p. 59, tradução nossa).

Os missionários jesuítas Frances Xavier, Alessandro Valignano e Matteo


Ricci forneceram os primeiros relatos sobre o Zen na Europa através de seus diários
de viagem extensivos e detalhados.
A confusão de Ricci entre o Vazio Budista e o nilismo influenciou todo
o pensamento posterior e deixou uma marca permanente nos
estudos Budistas no Ocidente20. (COOPER, 2010, p. 60, tradução
nossa).

Ele continua:
Esta tendência crítica persiste, apesar de estar numa forma
disfarçada atualmente. Por exemplo, muitos psicoterapeutas e
praticantes inter-religiosos enxergam o Zen como uma prática ou
uma técnica em lugar de uma religião 21 . (COOPER, 2010, p. 63,
tradução nossa).

Apesar desta influência negativa, outros estudiosos desenvolveram uma


compreensão melhor. No início do século 20, William James comentou para seus
alunos em Harvard: “Esta psicologia [psicologia Budista] é a psicologia que todos
estarão estudando daqui 25 anos” (EPSTEIN, 2001 p. 1).

18
“Freud also relied exclusively on secondhand information derived from his correspondence with the
French poet and mystic Romaine Rolland, who was a disciple of the Indian guru Sri Ramakrishna,
to inform his negative response to Indian meditation.”
19
PARSONS, W. The enigma of the oceanic feeling: Revisioning the psychoanalytic theory of
mysticism. Oxford: Oxford University Press, 1999.
20
“Ricci’s confusion between Buddhist emptiness and nihilism influenced all subsequent thought and
has left an indelible mark on Buddhist studies in the West.”
21
“This critical tendency persists, albeit in disguised form in the present. For example, many
contemporary psychotherapists and interfaith practitioners view Zen as a practice or a technique
rather than as a religion.”
Finalmente, alimentada pelo rompimento de Jung com Freud e a
popularização do Zen nas décadas de 60 e 70, o pensamento oriental começou a
entrar na consciência psicológica do Ocidente. De acordo com o professor de
meditação budista e psiquiatra norte-americano Mark Epstein, a influência deste
pensamento pode ser vista no trabalho do psicólogo Abraham Maslow e no
desenvolvimento da vertente humanística da psicologia moderna.
O psiquiatra japonês Shoma Morita desenvolveu a Terapia Morita, um
tratamento residencial baseado no Zen para a ansiedade e, ao publicar a tradução
de seu livro publicado originalmente no Japão em 1928, a introduziu nos Estados
Unidos em 1978 (REYNOLDS, 1984, p. 12).
O autor D.T. Suzuki, controvertido divulgador japonês do Zen no Ocidente,
dialogou com Erich Fromm e Karen Horney e influenciou numerosos visionários e
artistas, além de muitos terapeutas jovens, como o Fritz Perls, entre outros, que
foram atraídos pela filosofia e meditação orientais durante este período.
Na década de 90, com a popularização do programa de Redução de
Estresse Baseada na Atenção Plena (Mindfulness-Based Stress Reduction), criado
pelo médico Jon Kabat-Zinn, e o número crescente de estudos científicos
comprovando a eficácia da meditação para a redução de estresse e ansiedade, o
uso da prática de Mindfulness (Atenção Plena) passou a ser cada vez mais aceita
como uma técnica complementar na psicoterapia, e vários métodos foram
desenvolvidos.
Algumas das principais psicoterapias baseadas em Mindfulness são: Terapia
Cognitivo-Comportamental Baseada em Mindfulness (MBCT/MiCBT); Prevenção de
Recaída de Depressão Baseada em Mindfulness; Terapia de Aceitação e
Compromisso (ACT), Terapia Comportamental Dialética ou Terapia de Aceitação
Radical, Terapia Focada na Compaixão. Assim, a prática de Mindfulness vem sendo
incorporada nos tratamentos de vários tipos de transtorno, incluindo transtorno
bipolar, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo,
entre outros.
O conceito de Mindfulness traz uma abordagem positiva, como explicada
nas palavras de Janina Fisher no seu artigo Putting the Pieces Together: 25 Years
of Learning Trauma Treatment:
Mindfulness também tem apresentado à comunidade de psicoterapia
a ideia que, em lugar de olhar para os estados emocionais escuros e
dolorosos, podemos olhar para os estados positivos de mente e
corpo como a fonte e essência da cura. Na prática de Mindfulness,
os estados positivos são cultivados, em lugar de serem interpretados
como uma defesa contra tristeza, raiva, resistência ao
processamento de trauma ou negação 22 . (FISHER, 2014, não
paginado, tradução nossa).

Há basicamente duas abordagens do uso de Atenção Plena na psicoterapia:


a) o terapeuta pratica a Atenção Plena para melhor atender seus
pacientes (Terapia Informada pela Atenção Plena) e;
b) o terapeuta, além de cultivar a sua própria prática da Atenção Plena,
ensina o paciente a desenvolver a prática e, eventualmente, dedica
uma parte da própria sessão à meditação focando a respiração
(Terapia Baseada na Atenção Plena).

4 A ATENÇÃO PLENA NA PSICANÁLISE

O fato de que ninguém na literatura de psicoterapia tenha formulado


como é que se cultiva efetivamente a “atenção flutuante” deixa uma
lacuna no treinamento e na técnica terapêutica 23. (RUBIN, 2008, p.
374, tradução nossa).

Apesar do início confuso, com o tempo, a meditação conquistou espaço


dentro da comunidade psicanalítica, através de psicanalistas-autores-praticantes
budistas, como Dr. Jeffrey B. Rubin, o monge Zen Budista Dr. Paul Cooper, o
professor de meditação Dr. Mark Epstein, a monja budista holandesa Enko Else
Heynekamp, o inglês Dale Mathers, a holandesa Adeline van Waning e o monge Zen
Budista Genjo Marinello, entre numerosos outros.
Na linha da Psicanálise Humanista, vemos que o próprio Erich Fromm deu
instruções, à sua maneira, sobre a meditação no livro A Arte de Amar e escreveu
frases que poderiam ter saído da boca de um mestre zen.
Aqui, ele dá instruções básicas, simplificadas sobre como fazer a meditação:

22
“Mindfulness has also introduced the psychotherapy community to the idea that, instead of looking
to painful, dark emotional states, we can look to positive states of mind and body as the source and
essence of healing. In mindfulness practice, positive states are cultivated, rather than interpreted
as a defense against grief, anger, resistance to trauma processing, or denial.”
23
“The fact that no one in the psychotherapeutic literature has formulated how one actually cultivates
‘evenly hovering attention’ leaves and important gap in therapy training and technique.”
Seria útil praticar uns poucos e muito simples exercícios como, por
exemplo, sentar-se em posição repousada (nem espreguiçada, nem
rígida), fechar os olhos e tentar ver em frente deles uma tela branca,
tentar remover todos os pensamentos e imagens que interferem,
tentar acompanhar a própria respiração; não pensar a respeito dela,
nem forçá-la, mas simplesmente acompanhá-la – e, ao fazê-lo, senti-
la; tentar, além do mais, ter o senso do seu “Eu”; eu = mim mesmo,
como o centro de minhas forças, como o criador de meu mundo.
Dever-seia [sic], pelo menos, fazer esse exercício de concentração
todas as manhãs durante vinte minutos (se possível, mais) e todas
as noites antes de deitar-se. (FROMM, 1960, p.147).

E segue, ensinando que a prática da meditação deve ser levada a todos os


aspectos da vida diária:
Além de tais exercícios, deve-se aprender a ficar concentrado em
tudo o que se faz, em ouvir música, em ler um livro, em falar com
uma pessoa, em ver uma paisagem. A atividade do momento
presente deve ser a única coisa que importa, a que merece plena
entrega. Se se está concentrado, pouco importa aquilo que se esteja
fazendo; as coisas importantes, assim como as sem importância,
assumem nova dimensão de realidade, porque detêm a integral
atenção da pessoa. (FROMM, 1960, p.148).

Em seguida, oferece uma definição do “ficar concentrado” bem semelhante


à definição da Atenção Plena desenvolvida pelo Dr. Jon Kabat-Zinn alguns anos mais
tarde ao levar a prática para a área da medicina:
Ficar concentrado significa viver plenamente no presente, agora,
aqui, e não pensar na coisa seguinte a ser feita enquanto estou
fazendo outra coisa neste instante. (FROMM, 1960, p. 149).

Avisa sobre a dificuldade que o iniciante enfrentará:


O começo da prática da concentração será difícil; parecerá que
nunca se alcançará o alvo. Nem é mister dizer que isso implica a
necessidade de ter paciência. (FROMM, 1960, p.150)

Ainda na página 150, alerta sobre a impossibilidade de aprender a


concentrar-se sem se tornar sensível a si mesmo e finaliza com uma explicação
sobre como desenvolver esta sensibilidade:
Do mesmo modo, pode-se ser sensível para consigo mesmo. Tem-
se consciência, por exemplo, de uma sensação de cansaço e
depressão e, em vez de ceder a ela e sustentá-la por sentimentos
deprimentes, que sempre estão à mão, indaga-se de si mesmo: “que
aconteceu? Por que estou deprimido?” O mesmo se faz notando-se
quando se está irritado ou encolerizado, ou com tendência a sonhar
acordado, ou a outras atividades de evasão. Em cada uma dessas
situações, o importante é estar cônscio delas, e não racionalizá-las
pelos mil e um modos por que isso pode ser feito; além do mais, estar
aberto à nossa própria voz interior, que nos dirá – muitas vezes
quase de imediato – porque estamos ansiosos, deprimidos, irritados.
(FROMM, 1960, p.151).

No livro “Zen Budismo e Psicanálise”, Fromm ainda fala como o Zen poderá
aprofundar e ampliar os horizontes do psicanalista, enriquecendo a teroria e técnica
da Psicanálise, apesar das diferenças entre os dois métodos:
[...] o conhecimento Zen e o interesse por ele terão talvez fecunda e
clarificadora influência sobre a teoria e a técnica da Psicanálise.
Embora difira da Psicanálise pelo seu método, Zen poderá
intensificar o foco, projetar nova luz sobre a natureza da
compreensão e realçar o sentido do que é ver, do que é ser criativo,
do que é superar as contaminações afetivas e as falsas
intelectualizações, resultados necessários da experiência baseada
na cisão entre o sujeito e o objeto. Em seu próprio radicalismo acerca
da intelectualização, da autoridade, e da ilusão do ego, na ênfase
que dá à meta do bem-estar, o pensamento de Zen aprofundará e
ampliará os horizontes do psicanalista e o ajudará a chegar a um
conceito mais radical da apreensão da realidade como supremo
objetivo da percepção plena e consciente. (SUZUKI; FROMM;
MARTINO, 1976, p. 161-162).

Em relação à escuta terapêutica, temos primeiramente a instrução de Freud


sobre a Atenção Uniformemente Suspensa (Gleichschwebende Aufmerksamkeit),
frequentemente traduzida como Atenção Flutuante.
A técnica, contudo, é muito simples. Como se verá, ela rejeita o
emprego de qualquer expediente especial (mesmo de tomar notas).
Consiste simplesmente em não dirigir o reparo para algo específico
e em manter a mesma ‘atenção uniformemente suspensa’ (como a
denominei) em face de tudo o que se escuta. (FREUD, 1969, p. 149-
150).

Vemos instruções semelhantes no fascículo Fukanzazengi, escrito em 1227


pelo Mestre Dōgen, fundador da escola Soto Zen no Japão (DOGEN, 2007). Mais
ainda, esta instrução de Freud lembra as instruções no livro “A Mente Liberta” do
Mestre Zen do Japão Takuan Sōhō (1573 – 1645) na sua carta a um Samurai
explicando que, no combate o guerreiro deveria evitar de fixar a sua atenção num
único ponto, mas sempre manter a atenção aberta para permitir perceber o ataque
que pudesse vir de qualquer lado (SŌHŌ, 1986).
Horney, que pesquisou o Zen no Japão, e Bion também deram instruções
sobre a escuta terapêutica que lembram a atenção que é desenvolvida com a prática
de Mindfulness.
O psicanalista, autor e praticante do budismo, Jeffery B. Rubin levanta os
seguintes pontos importantes, ao apontar o que ele considera uma falta no
treinamento do psicanalista:
Falta na psicanálise uma apreciação do cultivo de duas qualidades
que a meditação fomenta, sendo a concentração e a equanimidade.
Estas são estados intensificados de foco e aceitação que nem são
mapeados nas psicologias ocidentais.

Compara a falta do treinamento da concentração e equanimidade ao ato de


tirar uma foto com a mão instável, dizendo:
Tentar escutar alguém sem desenvolver a atenção intensificada é
como tirar uma foto com uma lente maravilhosa segurada numa mão
instável – a imagem ficará borrada. Psicanalistas caem nesta
armadilha porque falta um método para desenvolver a profunda
concentração e equanimidade treinada pela meditação Budista 24
(RUBIN, 2008, p. 376-377, tradução nossa).

Mas também alerta sobre uma limitação da meditação, que não cultiva a
capacidade da interpretação daquilo que é ouvido no nível latente e metafórico,
escrevendo:
Aquilo que o Budismo chama de meditação – atenção, sem
julgamento, a aquilo que está acontecendo momento a momento –
cultiva exatamente o estado de mente extraordinário, mas acessível,
que Freud estava descrevendo. Mas a escuta analítica genuína exige
mais uma qualidade: a capacidade de decodificar ou traduzir aquilo
que ouvimos no nível latente e metafórico – o que a meditação não
faz. Este é um ponto fraco crucial da meditação25. (RUBIN, 2008, p.
375, tradução nossa).

O psiquiatra budista e professor de meditação Mark Epstein escreve sobre


a importância do terapeuta estar com o seu paciente sem ideias preconcebidas:
Quando um terapeuta consegue sentar com seu paciente sem um
programa a ser seguido, sem tentar forçar uma experiência, sem
pensar que sabe o que vai acontecer ou que sabe quem é esta
pessoa que tem diante de si, está fundindo a terapia aos

24
“Psychoanalysis lacks an appreciation for cultivating two qualities that meditation fosters, namely
concentration and equanimity. These are heightened states of focus and acceptance that are not
even mapped in Western psychologies. […] Attempting to listen to someone without developing
heightened attentiveness is like taking a photograph with a wonderful lens held by an unsteady
hand — the picture will be blurred. Psychoanalysis falls into this trap because it lacks a method for
cultivating the deep concentration and equanimity trained by Buddhist meditation.”
25
What Buddhism terms meditation—non-judgmental attention to what is happening moment-to-
moment—cultivates exactly the extraordinary, yet accessible, state of mind Freud was depicting.
But genuine analytic listening requires one other quality: the capacity to decode or translate what
we hear on the latent and metaphoric level—which meditation does not do. This is a crucial
weakness of meditation.
ensinamentos da meditação. O paciente é capaz de perceber tal
atitude. (EPSTEIN, 2001, p. 179).

5 LIMITAÇÕES DA APLICAÇÃO DA ATENÇÃO PLENA NA


TERAPIA

Apesar do fato de que há pouca informação disponível sobre os efeitos


colaterais, limitações e contraindicações para a aplicação da técnica de Atenção
Plena na terapia, já existe material suficiente para chamar a atenção para a
importância de evitar um excesso de otimismo e a necessidade de certos cuidados.
Peter Levine diz o seguinte, numa entrevista disponível na Internet:
Com alguns tipos de trauma, a meditação ajuda. Mas o problema
aparece quando as pessoas entram no seu terreno interior e não
estão preparadas e não são orientadas, cedo ou tarde eles
encontram o trauma, e aí, o que eles fazem? Eles podem ser
esmagados, ou podem encontrar um meio de se afastar do trauma.
E às vezes, elas entram em algo que parece um estado de êxtase.
Mas é um estado extático sem chão. Chamo isto de atalho extático.
É uma maneira de evitar o trauma26. (YALOM; YALOM, 2010, não
paginado, tradução nossa).

Ele ainda fala do “Problema da Medusa”, no qual um retiro de meditação


intensivo pode retraumatizar uma pessoa traumatizada devido ao medo associado à
imobilidade durante a situação traumática e a imobilidade e percepção da tensão
corporal durante a meditação, reativando a memória do trauma.
David Treleaven, na palestra Meditation and Trauma: A Hermeneutic Study
of Somatic Experiencing and the Western Vipassana Movement (2012), avisa que a
meditação Vipassana pode, sem se perceber, provocar estados dissociativos em
pessoas com um histórico de trauma.
Rick Hanson, PhD, na apresentação com o título de Mindfulness in Clinical
Practice (2015) alerta que o Center for Mindfulness geralmente exclui pessoas com
adicção ou menos de um ano em recuperação da adicção, tendência a suicídio,
psicose, Estresse Pós-traumático ou qualquer tipo de transtorno que dificulte

26
With some kinds of trauma, meditation is helpful. But the problem is when people go into their inner
landscape and they're not prepared and they're not guided, sooner or later they encounter the
trauma, and then what do they do? They could be overwhelmed with it, or they find a way to go
away from the trauma. And they go sometimes into something that resembles a bliss state. But it's
really an ungrounded bliss state. I call that the bliss bypass. It's a way of avoiding the trauma.
atividade de grupo. Também alerta sobre a necessidade de cuidados em relação a
pessoas que podem ser vulneráveis à perda do ego numa prática de atenção aberta,
autocrítica relacionada a performance, desejo de agradar o terapeuta ou que
necessitam de mais recursos para lidar com a sua experiência.
De acordo com Simon Young (2011), a prática da Atenção Plena pode ajudar
a diminuir o risco da recaída depressiva e até possivelmente prevenir um primeiro
episódio numa pessoa suscetível. Mas, de acordo com os autores Kabat-Zinn,
Williams, Teasdale e Segal (2007) na Introdução do livro “The Mindful Way through
Depression”, a prática de Mindfulness pode não ser recomendável durante uma crise
de depressão aguda. Passada a fase aguda, que seria tratada pelos métodos
convencionais da psicoterapia e medicamentos, a prática de Atenção Plena pode ser
de grande ajuda na prevenção de recaída.
O psiquiatra Antonio Pinto (2009), no capítulo “Mindfulness and Psychosis”
do livro Clinical Handbook of Mindfulness fala sobre cuidados especiais em relação
aos pacientes psicóticos, alertando que nem todos os pacientes psicóticos seriam
indicados para os protocolos de mindfulness, apesar do fato que, com adaptações,
alguns pacientes possam ser beneficiados.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Em toda a nossa vasta literatura [terapêutica]”, observa Coltart


(1992), “muito pouca atenção tem sido dada à atenção”. 27
(COLTART 28 , 1992, p. 180 apud RUBIN, 2008, p. 374, tradução
nossa).

A técnica da Atenção Plena, ou Mindfulness, pode ser uma grande aliada no


atendimento psicanalítico. Mas certos cuidados são necessários.
Para o psicanalista, a prática da Atenção Plena pode aumentar a sua
capacidade de escuta terapêutica, empatia e intuição ao mesmo tempo em que
diminua a fadiga compassiva, ou o estresse de lidar com o sofrimento das pessoas
diariamente.

27
“In all our vast [therapeutic] literature,” notes Coltart (1992), “very little attention has been paid to
attention.”
28
COLTART, N. The practice of psychoanalysis and Buddhism. Slouching toward Bethlehem.
New York: The Guilford Press, 1992. p. 164 – 175.
Para o analisando, quando não existe nenhuma contraindicação, a técnica
de Mindfulness, ou a Atenção Plena, corretamente supervisionada, pode facilitar o
andamento de sua terapia, reduzindo a ansiedade, facilitando a sua comunicação
com o seu inconsciente e permitindo um acesso melhor ao conteúdo reprimido. Mais
ainda, a meditação ajuda o praticante a desenvolver um “centramento” e melhor
sensopercepção. Com o tempo, ele desenvolve uma habilidade de perceber, no seu
dia-a-dia, quando está “fora do centro” e fortalece a sua capacidade de “voltar ao
centro”, chegando a um equilíbrio emocional.
Da mesma forma que é imprescindível que um psicanalista passe pela sua
própria análise como parte de seu treinamento, é extremamente importante que o
terapeuta que deseja incorporar a técnica da Atenção Plena no seu atendimento
clínico cultive a sua própria prática de Atenção Plena. Um monge plenamente
formado numa tradição budista terá passado por milhares de horas de prática de
meditação, realizadas durante anos de treinamento, dando a ele uma compreensão
desta prática que nenhum cursinho de final de semana pode dar. Alguns monges e
freiras franciscanos, beneditinos e trapistas também têm grande experiência com a
meditação. Consequentemente, para orientar uma prática de Atenção Plena no
contexto clínico, além de cultivar sua própria prática, é importante não somente
buscar o melhor treinamento possível, mas também ter consciência de suas próprias
limitações como profissional.
Alguns pacientes podem se aprofundar espontaneamente na experiência
meditativa, possivelmente passando a ter “experiências místicas”, mesmo com esta
prática básica de Atenção Plena. Por isso, será importante saber quando consultar-
se com os especialistas (geralmente os Professores de Darma Budista) e quando
encaminhar o seu paciente para uma prática religiosa, de acordo com a religião dele,
mesmo continuando o atendimento terapêutico. As tradições religiosas-místicas
conhecem bem os diferentes estágios e dificuldades da caminhada espiritual e tem
suas próprias técnicas para facilitar a integração dos vários tipos de experiências.
Nos casos envolvendo um analisando com um histórico de trauma grave, a
prática de Atenção Plena deve ser limitada a períodos curtos, por volta de 10 minutos
de 3 a 5 vezes por semana, para minimizar o risco de um rompimento do material
reprimido além da capacidade do analisando suportar. Desta forma, a Atenção Plena
servirá para reduzir a ansiedade e ajuda na desidentificação com os pensamentos
sem permitir uma abertura grande demais para a mente inconsciente, como pode
acontecer com os períodos mais longos de meditação ou nos retiros de meditação
intensivo, quando, sem a devida preparação e orientação, pode haver risco de um
surto psicótico devido ao excesso de material reprimido surgindo à consciência de
uma vez.
Para o paciente “normalmente neurótico”, uma prática envolvendo períodos
mais longos de até 40 minutos duas vezes por dia pode ser cultivada, como nos
programas de Redução de Estresse Baseado em Mindfulness. Mas, apesar de não
existirem ainda muitos estudos científicos a respeito, existem relatos de pessoas
sofrendo efeitos negativos graves e incapacitantes das práticas de Mindfulness. Por
este motivo, o acompanhamento da prática é muito importante e o terapeuta deve
saber reconhecer os vários tipos de sinais de dificuldade, pois os sintomas iniciais
de um surto psicótico e os sinais de uma “emergência espiritual” podem parecer
bastante semelhantes, mas requerem tratamentos totalmente diferentes.
Como todo remédio, deve-se fornecer uma “bula”, ajudando o paciente a
saber o que esperar, quais os desconfortos normais da prática e quando ele deve
pedir ajuda e/ou suspender as práticas até consultar com o seu terapeuta.
No caso do analista estar atendendo um analisando que já vem mantendo
algum tipo de prática de meditação, é importante saber QUAL tipo de meditação
estaria sendo cultivado, uma vez que os tipos de meditação baseados nos
ensinamentos da Teravada e do Zen (no Budismo) servem muito bem como técnicas
de redução de estresse devido ao fato que levam ao relaxamento profundo com a
mente alerta (ativação do sistema parassimpático), enquanto que outros tipos de
meditação, como os da Tantra Vajrayana e Hindu geram uma maior ativação do
sistema simpático, o que pode representar problemas para uma pessoa que sofre
altos níveis de estresse ou ansiedade. Neste segundo caso, a própria prática de
meditação pode estar exacerbando o estresse ou ansiedade deste paciente. Mais
estudos são necessários para avaliar outros tipos de meditação (Cristã, Taoísta, Sufi,
etc.).
Também é muito importante acompanhar e verificar constantemente a
regularidade da prática de Atenção Plena do analisando, pois, não é incomum
descobrir, talvez tarde demais, que ele ou ela relaxou-se e deixou de praticar a
meditação corretamente sem comunicar este fato ao terapeuta. Se for questionado
superficialmente e não diretamente, pode até induzir o terapeuta a acreditar que
ainda mantem a prática normalmente, conforme tenha sido orientado. Infelizmente,
é muito comum que os praticantes de meditação relaxem e deixem de manter a
regularidade da prática na medida em que vão se sentindo melhores. Mas, o
abandono da prática facilmente leva à recaída – ou até uma piora – da ansiedade ou
outros sintomas iniciais. Assim sendo, se, num dado momento, o analisando reporta
uma piora no seu estado, com um aumento de sua ansiedade ou insônia, talvez a
primeira pergunta deva ser um questionamento direto para saber se ele vem
mantendo a regularidade na sua prática de meditação.
Outros tópicos que o terapeuta que deseja adotar a técnica de Atenção Plena
no seu atendimento deve investigar incluem a Emergência Espiritual e Atalho
Espiritual (Spiritual By-pass, também traduzida como Desvio Espiritual).
É extremamente gratificante acompanhar a mudanças – e até autocura –
que a prática de meditação pode trazer para uma pessoa.

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