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Jaqueline Tittoni
Psicóloga, Doutora em Sociologia com estágio Pós-doutoral na Universitat
Autônoma de Barcelona, Professora no Programa de Pós Graduação PPGPSI
UFRGS
jatittoni@gmail.com
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RESUMO
ABSTRACT
This article seeks to point out elements for the construction of a theoretical-analytical
diagram to think about ways of working, digital technologies and mental health from
the perspective of Psychodynamics of Work. We are interested in thinking about the
power of the work clinic to produce analytical readings and interventions situated on
contemporary work, focusing, above all, on remote work. For this reason, it
emphasizes the operation of digital technologies in ways of living and working,
creating spaces for dialogue between the themes of remote work, technologies and
subjectivation with the Psychodynamics of Work. We bring the perception of a way-
body-worker always connected and the clinic of work as resistance and creation of
other ways of working. These dialogues reaffirm the importance of discussion in the
scope of the psychodynamic clinic of work and create opening lines for thinking about
new problematizations in the scope of mental health and work.
Introdução
são 14,1 milhões. Estes dados são resultados de reformas de matriz neoliberais que
não acabam por aqui. Está em processo também, a Reforma Administrativa,
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32/2020, que precariza a base dos
serviços públicos. Entre as mudanças propostas estão os critérios de definição das
carreiras típicas de Estado, o ingresso por meio de um vínculo de experiência, a
criação de cargos de liderança e assessoramento e a fragilização da estabilidade
dos atuais servidores.
De acordo com Orejuela et al (2020, p.113):
An analysis of the actual situation of work allows recognizing a set of
determinant conditions of the experience of subjective discomfort and suffering
as intensification, disregard, individualization, deregulation, and the regimens
of contradiction and indifference
Dardot e Laval (2016) afirmam que compreender o neoliberalismo é compreender o
projeto social e político que ele representa, com suas dimensões políticas,
econômicas, sociais e subjetivas. Os autores afirmam que o “neoliberalismo
transformou profundamente o capitalismo, transformando profundamente as
sociedades” (p.8). Caracteriza-se por um sistema normativo, que estende a lógica do
capital para todas as esferas da vida, e aponta que estamos entrando em uma era
pós-democrática, onde as ações coletivas se tornam mais difíceis. Depois de
olharmos os acontecimentos sociais, políticos e econômicos do Brasil e seus
impactos no trabalho, miramos para como se dá a relação destas experiências a
partir do encontro do trabalho com as tecnologias.
Agora, mais do que nunca, os aparelhos celulares e os computadores de mão,
tablets e outros similares estão na rotina de vida e de trabalho de todos, e não só
dos mais aficcionados pela virtualidade. As janelas se atualizaram, delas vemos a
vida passar, vemos o mundo lá fora, aplaudimos os profissionais de saúde nos
meses de março e abril de 2020; mas também começamos a habitar muito mais as
janelas do windows, que viraram nossa realidade a cada dia mais digitalizada. Não é
incomum encontrar reportagens expondo o quanto a Microsoft lucrou nos últimos
três anos, de acordo com a Revista Forbes Money (2022) a empresa superou as
expectativas e o resultado alcançado foi impulsionado por modelos de trabalhos
híbridos.
As vivências de trabalho que estamos experienciando denota a aproximação real da
conectividade do corpo. O resultado é a exposição à tecnologia como forma de
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Cada vez mais, todos conhecemos tanto o prazer como a asfixia de estarmos
sempre conectados e disponíveis, reportando-nos e nos mantendo
atualizados quanto a tudo o que ocorre na virtualidade das redes, respon-
dendo e alimentando os suaves mandatos da interação permanente com uma
infinidade de contatos, o tempo todo e em todo lugar. Desse modo, dia após
dia, sintonizamos nossos órgãos vitais com as alegrias e as aflições da
atualidade. (Sibilia, 2010, p.7)
O encontro do trabalho com as tecnologias digitais produzem experiências distintas
na história do trabalho. Fazendo o paralelo do advento das tecnologias com as
formas de trabalhar, Tanure, Carvalho Neto e Andrade (2007) identificam que dentre
os fatores de sofrimento, está a sobrecarga, o excesso de tempo e energia
dedicados ao trabalho. Segundo os autores, as novas tecnologias sequestram o
tempo de “não-trabalho” (além de dificultar o próprio tempo “no” trabalho). Ao
contrário do que se imaginava, as inovações não pouparam trabalho, mas se
expandiram para outras esferas da vida. Alguns executivos, revela a pesquisa,
consideram-se escravos da tecnologia, outros utilizam-na como facilitadora.
Gilberto Dupás (2006, p.7) afirma que é preciso estar sempre acessível e conectado,
lema da era da tecnologia da informação. “Sentimo-nos culpados e temos de
justificar quando não estamos ‘ligados’. Até nossas casas, última zona teórica de
intimidade, são invadidas [...]”. O movimento constante é meta do capitalismo e as
tecnologias são inseridas para auxiliar neste processo.
Os processos de subjetivação como se dando entre arranjos que produzem não só
modos de viver (e, neste caso, de trabalhar), mas expandem-se para a produção e
captura do próprio desejo. O home office vem colado a narrativas que convocam o
desejo, tais como "trabalhe onde quiser, na beira do mar, na casa de campo, do
outro lado do planeta", mas, esta narrativa esconde o caráter essencialmente
coletivo do trabalho e seus desdobramentos na saúde de quem trabalha, podendo
acentuar sentimentos de solidão e de não reconhecimento, como já referido.
O trabalho em home office e o trabalho remoto produzem, assim, estilos de vida que
engendram novas formas de controle. Ainda que a narrativa de um trabalho
autônomo seja um importante referente para sua ampliação e aceitação, o que se
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