O julgamento geral

O julgamento geral, um livro de Grossi e ajuda

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 O julgamento geral

Com as ilustrações de Maria Vitória Nunes Ribeiro

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 O julgamento geral

Eu vi, disse a baratinha vinda da toca, a menina

sentada aqui na praia neste final de primavera,
ela segura uma concha e fala que competir,
comparar, se ajeitar de qualquer maneira ao
meio, humm, é mais que chatice, seria um
erro! Mas é o que tem né, quer dizer, se não
acordar a tempo. E os outros se espantaram!

Chega o pássaro e repousa no tronco que

serve de mirante, observa a cena e assume seu
papel na paisagem. A única coisa que vai dizer
é seu oi caloroso, assertivo, e assim os seres
retomam a atenção para a pequena e a
concha, cada qual seu plano. “Ela está
desabafando!” adverte a concha, e é a mesma
concha que pede a licença para falar com o
mar também, pedir seus conselhos.

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 O julgamento geral

“É que devo adquirir conhecimento, de toda

forma? Ou uma outra linguagem, um corpo
diferente?” Aqui a concha se empolga. “Que
não seja mais um do mesmo, desses que
pretendem saber ou passar através somente
de lampejos!

Entenda, essa praia fica um tanto cheia, tanto

que vaza e se nota pela dor, o sono, mas ela
segue, isso eu já percebi. Por isso ajudo com
minha presença para fazer a diferença.”

O vento interfere e adquire sua própria vez,

comentando que todos eles devem seguir o
molde do fogo, está sempre profetizando
enquanto ativo, inclusive para emitir claridade.
Desde a dor até a luz! Ele insiste, escolham os
teus e as tuas como um bloco, também. Para
cada parte, continua o vento, a atenção pelo
melhor efeito do bloco.

Todos então opinam sobre o presente turno,

suas tarefas neste planeta, a falação são as
ideias. Já a mocinha só acompanha, enquanto
solta punhados de arreia pelos ares, parece
distraída pelas vozes. Quem sabe se não
refletia sobre suas primeiras falas, ou o que
ainda ia dizer.

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“Um julgamento geral, arremata o vento, e

discriminamos esse momento do ambiente,
nunca é à toa. É sempre único.”

E “ahhhhhhh”

O pássaro emite seu canto, ele tanto desperta

a menina como incita a sua reação. “Eii, eu ouvi
isso!” Levanta ela, para o interesse de todos ali,
e segue o caminho de volta à fala.

“Olhem nos meus olhos, recomeça a menina,

de novo, mais, sim. Foi o canto meu marco,
então eu digo porque tem que ser. Dá pra ver
que está ensopada? Vocês sabem o que é? É
minha vista. Na hora em que fomos
surpreendidos, cada um de nós, nunca
choraram não, no susto? Claro que já, quando
nasceram, foi assim, é. Ninguém nem sabia o
que era, se tinham nome ou não, se já chegou
sabendo chorar e depois sorrir.

Depois o peso cessa, a gente revê e analisa. O

que é tudo isso, o mundo, aqui, agora.

Mas quem tem aí guardado o melhor riso,

todo o alívio de desabafar, compreender, que
se deixa fluir tão bem, já limpinho? A cara
lavada, podemos respirar melhor.”

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Ela aponta os mortais, fala a baratinha, muitos

deles são vistos ao longe após a linha da água.
“Meu coração, tum, tum, agradece a todos. Se
ainda estamos vivos nessa pequena praia, que
bom, sinal de que, vocês sabem, hunnf,
queremos. Eu estou aqui, não esqueci,
queremos a melhor existência!” arremata a
menina, e se recosta nos animais, é terna e
amorosa.

Chora mais, amiga, diz a concha, mister de

alegria e pesar que por fim quer crescer.

O que muda depois dessa conversa? continua

a baratinha, se aproximando devagar. “Eu
mudo! responde a menina, a gente poder
sempre mudar. Bom que seja para algo, é sim.
No caso dos humanos, com mais coração.”

“Fuuuuuull”

Olhos espelhados, lucidez, cabelos longos

como leonina, fala o vento novamente. A
mesma cisma pelo horizonte, a matéria se
ajeitando e continuamente moldando vidas.
Damos boas-vindas aos seres da evolução,
tem isso e muito mais nas infinitas opções.

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Ouçam a grande melodia, sistemática, as

partes de um todo, aurora no momento ideal.
Pois foi o ambiente a nos reunir por tantos
propósitos! Isso em um piscar de olhos(...)

Então não é um julgamento, coisa restrita, é

geral só porque todos estamos pensando a
respeito da existência, interrompe a concha,
eufórica.

Mas aí caiu sem tchau, brinca a menina,

segurando um dos pássaros no punho direito.
Muitos seres, as intenções juntas, falando. A
portaria diz que o documento é oficial: chega
de besteiras, vida é pra viver; vai então!

E a sentença é que deve se integralizar! ela

respira profundamente. O máximo, demais.

“”Eu que vi, eu que já era, devia me superar;

que sem amor, esse tal, dessa e desses; sem
amar, tudo seca, perde forma e gosto. Sem
afago, tão longe o que você fita... que nem um
pingo de luz vê, fica difícil sair de onde está. E
também a falta de compaixão esvazia, te deixa
fraco, ou acabada. Não é legal não, é todos
sentimos!

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Se ter paz e estar em Deus é pela união,

integração total com o ambiente, fazemos
com que a solidão perca seu patamar. Porque
só unidos os seres são belos e completos, até
para estar na calma divina, íntegra, integral.

Deus e amor seriam uma coisa só, o sinônimo

da vida, mas teimam em separar... talvez para
dignificar cada qual, dividir e conquistar nossa
atenção para que o olho não enxergue a
própria direção. Não seriam bobos? Ah é.

Ser é gostar, ser é total, isso de ódio era

quando não se sabia o que eram os
sentimentos, tudo era novo e abrupto; mas
não culpem os antigos por sua ignorância, é
preciso consertar os atuais e mostrar para os
do amanhã que todos somos entes, no e pelo
processo de harmonia, elo, graça.”” E ela
estica a mão, está tão feliz. O pássaro voa, o
som das asas ecoando na memória

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Sobre o autor

Grossi é escritor e músico, publicou entre

outros títulos a novela “Obarro”, além do
argumento de “Desculpe, seu tempo acabou”.
Pela Poesia, lançou “Cura”, “Servidão”, “A
Conferência”. “Cabezada”, “Esencias”,
“Maneja” e “En las eras” são suas obras em
espanhol. Participou como guitarrista e
vocalista das bandas Alice, íO, Instrumental
Vox, Ummantra, SAEM e A ras del suelo

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Sobre a ilustradora

Maria Vitória Nunes Ribeiro é formada em

licenciatura em Artes Visuais pela
Universidade Federal do Rio de janeiro (2016),
professora de artes e ilustradora.

E-mail: mv7art@gmail.com

Instagram: mariavitoria7art

Facebook: mv7art

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