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TRANSPORTE E IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO

Mecanismos de Transporte na Tuba Uterina

Todo o período da clivagem inicial ocorre durante o transporte do embrião do local


da fertilização até o da implantação no útero (Fig. 2.2). Há evidências cada vez mais
fortes de que o embrião inicial e o trato reprodutor feminino se influenciam
mutuamente no período do transporte, mas este conhecimento ainda é fragmentário.
No início da clivagem, o zigoto ainda está contido pela zona pelúcida e pelas
células da corona radiata. Esta desaparece dentro de dois dias após o início da
clivagem. A zona pelúcida, entretanto, permanece intacta até o embrião alcançar o
útero.
Por razões ainda não bem compreendidas, o embrião permanece na ampola da
tuba uterina durante cerca de 3 dias. Depois cruza o istmo da tuba em 8 horas.
Algumas evidências indicam que, sob a influência da progesterona, a junção
uterotubária relaxa, permitindo que o embrião penetre na cavidade uterina. Alguns
dias mais tarde (7 a 8 dias após a fertilização), o embrião se implanta na porção
média da parede posterior do útero.
Zona Pelúcida
Durante todo o período desde a ovulação até sua entrada na cavidade uterina, o
ovo e depois o embrião ficam circundados pela zona pelúcida. A partir da ovulação, a
zona pelúcida exerce muitas funções. Logo após a ovulação, a zona e as células da
corona radiata facilitam o transporte do ovócito para a ampola da tuba uterina. Na
fertilização, a zona promove, primeiro, a reação acrossômica dos espermatozóides e,
a seguir, após a reação cortical, age como barreira impedindo a entrada de outros
espermatozóides no ovo. Após a fertilização, a zona ajuda a manter unidos os
blastômeros do embrião em clivagem. A zona pelúcida, que não possui antígenos
HLA (de histocompatibilidade), também serve como barreira imunológica entre a mãe
e o embrião, antigenicamente distinto. Uma função muito importante é a de impedir a
implantação prematura do embrião na parede da tuba uterina.
Depois de o embrião ter alcançado a cavidade uterina, ele se desfaz da zona
pelúcida preparando-se para a implantação. Em roedores, o blastocisto “eclode” da
zona digerindo um furo usando uma enzima semelhante à tripsina, secretada por
algumas células trofoblásticas. O blastocisto sai, então, por este furo. A zona
pelúcida em primatas arrebenta por movimento dos próprios blastômeros, o que,
provavelmente ocorre 1 a 2 dias antes da implantação (Fig. 3.2, D)

Implantação no Revestimento Uterino


Quando a mórula já atingiu o útero, por volta de quatro dias, começa a receber
fluidos uterinos e, no interior da massa compacta de células, começam a aparecer
pequenos espaços cheios de liquido. Os espaços começam a se reunir de maneira a
rechaçar as células para a periferia, e o interior forma uma ampla cavidade
preenchida por liquido. Um pequeno grupo de células permanece em um dos pólos,
formando um aglomerado em forma de botão. Essa é a fase do blastocisto (Figura
20.2); as células periféricas formam o trofoblasto (do grego throfe = nutrição), o botão
polar forma o embrioblasto, enquanto a cavidade interna cheia de liquido forma a
blastocele. O trofoblasto contribuirá para a formação de parte da placenta e o
embrioblasto (massa celular interna) originará o embrião.

Cerca de 6 a 7 dias após a fertilização, o embrião começa a aderir firmemente


ao revestimento epitelial do endométrio. Logo após, mergulha no estroma
endometrial e o local da penetração é recoberto pelo epitélio de modo semelhante à
cicatrização de uma ferida da pele.
Para que a implantação seja bem-sucedida (Quadro 3.1), há necessidade de um
alto grau de preparo do embrião e do endométrio, e uma coordenação entre ambos.
A complexa preparação hormonal do endométrio, que começou no fim do período
menstrual anterior, tem por objetivo criar um ambiente celular e nutricional adequado
ao embrião. A dissolução da zona pelúcida indica que o embrião está pronto para
começar o implante.
O primeiro estádio da implantação consiste na aposição do blastocisto expandido
ao epitélio endometrial. A progesterona e, especialmente, o estrógeno produzido
pelo blastocisto, causam edema do endométrio quase obliterando a cavidade uterina,
já achatada. Isto pressiona o blastocisto contra o epitélio. O epitélio uterino deve ser
condicionado, provavelmente por hormônios, para tomar-se receptivo à adesão do
trofoblasto.
A fase seguinte da implantação é a penetração no epitélio uterino. O blastocisto
permanece livre nas secreções uterinas por cerca de dois dias. Entre o quinto e o
sexto dia, o blastocisto estabelece contato com o epitélio endometrial. Imediatamente
a esse contato, o trofoblasto começa a mostrar modificações: apresenta uma parte
celular, delimitando todo o blastocisto, que constituiu o citotrofoblasto e uma
pequena parte inicialmente polar, acima do embrioblasto, mas externa ao

citotrofoblasto, constituída por uma massa citoplasmática, rica em núcleos, mas sem
limites celulares, correspondendo ao sinciciotrofoblasto. Uma série de
prolongamentos digitiformes começa a aparecer na área do sinciciotrofoblasto e
inicia a invasão e a penetração no endométrio uterino. No final da primeira semana,
já se nota uma implantação superficial no endométrio uterino (Figura 20.3A).
O sinciciotrofoblasto inicial é um tecido altamente invasivo, e logo se expande e
erode um caminho no estroma endometrial. A invasão do endométrio pelo
sinciciotrofoblasto é mediada por enzimas(não se conhece sua base bioquímica no
ser humano). De 10 a 12 dias após a fertilização, o embrião está totalmente imerso
no endométrio. O local inicial da penetração é primeiro assinalado por uma área
desnuda ou por um tampão acelular, e mais tarde fechada por células epiteliais
uterinas que migram para o local (Fig. 20.3).
Várias são as modificações observadas durante o período de implantação, tanto
no blastocisto (embrioblasto e trofoblasto) quanto no próprio endométrio uterino.
Logo no início da implantação, o endométrio sofre a chamada reação decidual,
que consiste em grande aumento das células do tecido conjuntivo do estroma
endometrial, que ficam preenchidas por glicogênio e lipídeos. Essa zona começa na
área onde o blastocisto está se implantando e logo atinge todo o endométrio. Uma
vez ocorrida a reação decidual, o endométrio passa a ser chamado de decídua ou
caduca, lembrando que essa zona será eliminada após o parto.
Durante a implantação, o endométrio, que se encontra no máximo de seu
desenvolvimento (fase secretora), começa a ser “escavado” por atividades
enzimáticas do sinciciotrofoblasto. A reação decidual funciona como que barrando a
tendência invasora do sinciciotrofoblasto. Se a reação decidual fosse inibida, a
invasão do trofoblasto avançaria, destruindo o endométrio.
O embrião é antigenicamente distinto da mãe e, em conseqüência, deveria ser
rejeitado por uma reação celular imune similar à que rejeita o transplante de um
coração ou um rim incompatível. Um dos maiores mistérios do desenvolvimento dos
mamíferos é o embrião não ser rejeitado como um corpo estranho.
As células da decídua, firmemente aderidas umas às outras, formam uma matriz
celular maciça que, primeiro, envolve o embrião em implante e, depois, ocupa a
maior parte do endométrio. Juntamente com a decidualização do estroma
endometrial, os leucócitos, que haviam infiltrado o estroma endometrial durante o
final da fase da progesterona do ciclo menstrual, secretam interleucina-2, que
impede que a mãe reconheça o embrião como um corpo estranho durante as fases
iniciais da implantação. Continuando a implantação inicial, projeções do
sinciciotrofoblasto invasor envolvem partes dos vasos sanguíneos endometriais Eles
erodem as paredes vasculares e o sangue materno começa encher as lacunas
isoladas que estavam se formando no trofoblastro (ver Fig. 3.16, C, D), os processos
trofoblásticos entram nos vasos sanguíneos e chegam a partilhar complexos unitivos
com as células endoteliais. Quando as lacunas ficam cheias de sangue, o trofoblasto
muda de característica, deixando de ser tão invasivo quanto durante os primeiros
dias do implante.
O blastocisto implanta-se completamente dentro do endométrio e o epitélio deste
se refaz, de maneira que o embrião não fica em contato com a luz uterina. Essa é
uma nidação tipo intersticial.
Ao contrário do que ocorre nos roedores e nos primatas, a implantação em
espécies de animais domésticos é superficial, não-invasiva e envolve fases de
justaposição e adesão de células epiteliais uterinas com o trofoblasto.
Conceptos de suíno começam a adesão na superfície uterina no dia 13, com uma
completa adesão através da superfície do trofoblasto entre os dias 18 e 24. A adesão
se dá através da interdigitação uterina com os microvilos trofoblásticos que recobrem
a completa interface entre as duas lâminas, exceto onde o trofoblasto reveste a
abertura das glândulas uterinas (Fig. 9-6A). Nessas áreas, a superfície trofoblástica
se modifica para formar estruturas de absorção especializadas, chamadas de
auréolas, que permitem a ingestão de nutrientes pelo concepto em desenvolvimento.
Figura 9.6A
Em espécies ruminantes uma adesão transitória ocorre inicialmente à medida que
os conceptos de bovinos e ovinos desenvolvem vilosidades semelhantes a dedos
(papilas), que se projetam para o lúmen das glândulas uterinas. Essas papilas
proporcionam, temporariamente, uma estrutura de proteção e absorção para o
concepto, enquanto uma adesão maior está em progresso. A perda ou a redução da
altura dos microvilos da superfície trofoblástica permite um íntimo contato de
superfície com os microvilos do epitélio uterino. Este pressiona-se para dentro da
superfície do trofoblasto, interagindo com as projeções citoplasmáticas sobre a
superfície do trofoblasto até que os microvilos do trofoblasto se desenvolvam
novamente, formando uma aderência mais complexa.
A aderência placentária em ruminantes é caracterizada pelo aparecimento de
células binucleadas, que crescem a partir das células mononucleadas dos
trofoblastos. As células binucleadas aparecem inicialmente no dia 17 e permanecem
durante toda a gestação (Fig. 9-6B). Essas células migram e se fusionam com o
epitélio da superfície uterina para formar células multinucleadas ou um sincício,
sendo que este pode estar envolvido na proteção imunológica do concepto e na
transferência de lactogênio placentário, sintetizado pelas células binucleadas, para a
circulação vascular materna.

Fig 9.6B

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