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Rita Luz – 2004/2005

Fertilização e Placenta
Fertilização

Antes de ocorrer a fertilização têm que ocorrer 2 eventos:


1. maturação do espermatozoide (no epídídimo) – adquirem movimento total da cauda,
necessária à fertilização
2. capacitação do espermatozóide (na via genital feminina)

A cabeça do espermatozóide é constituido por:


1. Núcleo ocupa a maior parte da cabeça e é composto por cromatina muito
condensada recoberta por protaminas.
2. Membrana plasmática, contendo:
 receptores de espermatozoide, com afinidade de ligação para a zona pelúcida
 fertilina, um heterodímero membro da família das desintegrinas, consistindo em 3
domínios específicos (domínio metaloprotease, domínio fusão peptídica e um
domínio desintegrina)
1. Vesícula acrossómica, contendo
 Membrana acrossómica interna
 Membrana acrossómica externa
 Enzimas hidrolíticas (hialuronidase, acrosina fosfatase ácida,
proteases, neuroaminidases)

No processo de fertilização ocorrem os seguintes eventos:

1. Reacção acrossómica, na qual ocorre saída do conteúdo da vesícula


acrossómica e hidrólise do material intercelular das células da coroa radiata pela
hialuronidase.
2. Ligação do espermatozóide à ZP3 (glicoproteína da zona pelúcida) causando
libertação da acrosina pela membrana acrossómica interna. A acrosina facilita a
penetração da cabeça do espermatozóide na zona pelúcida.
3. Fusão da cabeça do espermatozóide, que penetrou na zona pelúcida, com a
membrana do oócito, mediada pela desintegrina.
4. Exocitose, dependente de cálcio, dos grânulos corticais (localizados logo
abaixo da membrana plasmática)
5. Fusão do núcleo do espermatozóide e do oócito (?)

Placenta

É formada por:

Baseado em:
Histologia e Biologia Celular de A. Kierszenbaum (capitulo 23)
Wheater Histologia Funcional de B. Young e J.W. Heath (capitulo 19)
Histologia&Embriologia Fertilização e Placenta

 elementos das membranas que circundam o feto em


desenvolvimento.
 endométrio uterino

Funções (a placenta tem funções até que os orgãos fetais se tornem funcionais):
1. Trocas gasosas
2. Excreção
3. Manutenção da homeostasia
4. Secreção de hormonas
5. Hematopoiese
6. Funções metabólicas hepáticas

Implatação
1. 24h após a fertilização o zigoto sofre a sua 1ª divisão celular mitótica.
2. O processo de divisão continua-se pelos 4 a 5 dias seguintes até que haja cerca
de 20 a 50 células chamadas blastómeros, cada qual com uma pequena porção do
citoplasma original.
3. A massa de células, agora chamada de mórula, permanece encerrada dentro da
zona pelúcida (adelgaçada), que a nutre por difusão de oxigénio e metabolitos de baixo
peso molecular das secreções da trompa de Falópio.
4. Nesta ocasião, a mórula já chegou ao útero, e começa a absorver líquido
uterino, formando uma cavidade central (blastocélio).

5. O blastocisto é constituído por:


 Trofoblasto (camada periférica de blastómeros)  dará origem à placenta com
a contribuição materna. Os componentes trofoblásticos exibem variação
considerável de uma região para outra e dos estágios iniciais aos estágios tardios da
função placentária (sinciciotrofoblasto e citotrofoblasto).
 Massa celular interna (massa de células numa região – trofoblasto polar –
que faz relevo para dentro do lúmen central)  desenvolve-se no futuro embrião.

6. Por essa época, o blastocisto cresceu até cerca do dobro do tamanho do oócito
original, e a zona pelúcida tornou-se extremamente delgada.
7. Depois de o blastocisto permanecer na cavidade uterina por 2 a 3 dias, ocorre a
implantação que ocorre em 2 fases:
 Aposição: adesão instável do blastocisto à superfície do endométrio
 Decidualização do estroma endometrial: adesão estável

8. A dissolução da zona pelúcida traz o endométrio ao contacto directo com o


trofoblasto, que apresenta rápido crescimento e diferenciação.

9. O trofoblasto dá origem a duas camadas:

Citotrofoblasto (Camada interna)


 Apresenta células mononucleadas mitoticamente activas.
 Tem características ultra-estruturais de células-tronco relativamente
indiferenciadas
 As células apresentam RER, 1 aparelho de Golgi bem definido, relativamente
poucas mitocôndrias e numerosos polirribossomas.
 O núcleo é tipicamente grande com cromatina dispersa e nucléolos.

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 É tipicamente unido firmemente ao sinciciotrofoblasto suprajacente por


desmossomas, mas em algumas áreas podem ser vistos espaços entre as camadas
celulares.
 Há uma membrana basal relativamente espessa a separar o citotrofoblasto do
estroma colagénico subjacente.

Sinciciotrofoblasto(camada externa)
 Deriva da fusão das células do citotrofoblasto para formar 1 sincício
multinucleado contínuo, no qual não há demarcação citoplasmática interna por
membranas plasmáticas.
 Apresenta tipicamente 1 grande nº de microvilosidades irregulares em
direcção aos espaços sanguíneos maternos, aumentando enormemente a área de
superfície para as trocas fisiológicas.
 As membranas plasmáticas das microvilosidades incorporam uma ampla
variedade de enzimas e receptores implicados nos processos de transferência da
membrana, bem como receptores para as muitas hormonas e factores de
crescimento.
 Microfilamentos estendem-se para dentro das microvilosidades a partir de
uma rede citoesquelética concentrada imediatamente abaixo da superfície livre.
 Algumas áreas do sinciciotrofoblasto contêm RER, enquanto que noutras
predomina o REL, presumivelmente envolvido na síntese das hormonas
esteroides.

 O citotrofoblasto permanece como uma camada única de células-tronco, enquanto


o sinciciotrofoblasto se torna cada vez mais largo e desenvolve projecções
digitiformes para dentro do endométrio

10. Há um 3º tipo de trofoblasto, conhecido como trofoblasto intermédio que tem


características histológicas intermédias entre o citotrofoblasto e o sinciciotrofoblasto,
desempenhando um papel importante na invasão do endométrio.

11. A adesão do trofoblasto e a implantação subsequente depende de:


 Ligação à membrana das células epiteliais voltadas para o lúmen uterino e a forma
solúvel do factor semelhante ao factor de crescimento epidérmico ligado à
heparina (HB-EFG)
 Forte afinidade de ligação do HB-EGF pelo receptor do factor de crescimento
epidérmico (EGF-R), que se autofosforila, e pelo proteoglicano heparansulfato
presente na superficie do citotrofoblasto.
12. Na implantação, os processos citoplasmáticos das células trofoblásticas
interagem com pequenos prolongamentos da superfície apical das células epiteliais uterinas
– pinopodos – que penetram nos espaços intercelulares das células epiteliais. A penetração
é facilitada por uma diminuição no número de desmossomas que ligam as células epiteliais
endometriais que sofrem apoptose.

13. No local de implantação, as células epiteliais endometriais desenvolvem-se


(pela estimulação da HCG), resultando em grandes células deciduais, poliédricas
(alteração já começada na fase secretora tardia)

Decídua:
 Células deciduais que proliferam e aumentam muito de tamanho.
 É infiltrada por células sinciciotrofoblásticas multinucleadas.
 Células trofoblásticas intermediárias estão presentes em números maiores
que as do sinciciotrofoblasto
 Parte mais profunda do endométrio na gravidez

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 Observa-se o pregueamento proeminente do epitélio glandular e a vacuolização


do citoplasma das células epiteliais.

14. Dentro de pouco tempo, desenvolve-se uma rede de espaços dentro do


sinciciotrofoblasto – lacunas – inicialmente cheias de líquido tecidual e secreções uterinas.
15. Logo depois, a invasão pelo trofoblasto intermédio causa a desintegração dos
capilares endometriais (por proteases libertadas pelo sinciotrofloblasto), com vazamento do
sangue materno para dentro das lacunas.
16. Progressivamente, o trofoblasto envolve os capilares maternos, expandindo a
rede lacunar e estabelecendo um suprimento arterial e um sistema de drenagem venosa.

17. A essa altura, o sinciciotrofoblasto também secreta uma variedade de


hormonas, incluindo a gonadotrofina coriónica humana (HCG), somatotrofina
coriónica humana (HPL), estrogénio e progesterona, que são necessários para sustentar
os tecidos endometriais.
18. Enquanto isso, a cavidade do blastocisto é preenchida por mesoderme extra-
embrionária (mesênquima), que circunda completamente o jovem embrião que se
desenvolve a partir da massa celular interna.
19. Nessa ocasião, o embrião é constituído:
 Por placas de endoderme e de ectoderme embrionária
 Ao lado dessas placas ficam as cavidades da vesícula vitelina e da vesícula
amniótica circundadas pela endoderme e pela ectoderme extra-embrionárias,
respectivamente

20. Em seguida, forma-se o celoma extra-embrionário:


 Cavidade dentro da mesoderme extra-embrionária
 Acaba por circundar o embrião em desenvolvimento, que permanece preso ao
trofoblasto por um pedículo de fixação de mesoderme extra-embrionária

21. O trofoblasto, juntamente com a camada de mesoderme que permanece abaixo


deste, agora constitui o córion.
22. Enquanto isso as trabéculas de sinciciotrofoblasto e de trofoblasto
intermediário entre as lacunas são invadidas por colunas de células citotrofoblásticas
chamadas de vilosidades coriónicas primárias. Estas espalham-se sobre a interface entre o
trofoblasto e o endométrio, formando o revestimento citotrofoblástico.
23. A mesoderme extra-embrionária invade agora as vilosidades primárias que,
deste modo, desenvolvem um cerne mesenquimal, tornando-se conhecidas como
vilosidades coriónicas secundárias.
24. Cerca de 2 semanas após a implantação (isto é cerca de 20 dias após a
fertilização), vasos sanguíneos primitivos começam a desenvolverem-se na mesoderme
coriónica simultaneamente com o desenvolvimento do sistema circulatório embrionário
primitivo, e o embrião é agora grande demais para depender apenas da difusão para o seu
crescimento e necessidades metabólicas.
25. Quando os cernes mesenquimais das vilosidades se tornam vascularizados,
estas passam a ser conhecidas como vilosidades terciárias. A vilosidade terciária pode
desenvolver-se de várias formas:
 as células citotrofoblásticas estendem-se para além do sinciotrofoblasto para formar
a capa citotrofoblástica, prendendo o saco coriónico ao endométrio.
 vilosidades-tronco ou de ancoragem, prendem-se à capa citotrofoblástica.
 vilosidades-ramo ou terminais, crescem das laterais da vilosidade tronco e estão
em contacto directo com o sangue materno nos espaços intervilosos.

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 Cada vilosidade contém uma porção central mesenquimal contendo


capilares servidos pelos vasos sanguíneos fetais aferentes e eferentes.
 À medida que mais ramos são acrescentados à árvore vilosa, as vilosidades
tornam-se cada vez menores, e a barreira de tecido entre os capilares fetais e o sangue
materno é grandemente atenuada.

26. A partir do 3º mês e após a formação das vilosidades coriónicas, o córion passa a ser
conhecido por córion frondoso.
27. O córion superficial em contacto com a decídua basal atrofia-se para se tornar o córion liso.
28. A forma da placenta está essencialmente estabelecida ao final do 4º mês, após o que a
placenta cresce em diâmetro, complementando o crescimento em tamanho do útero.

Características histológicas da placenta

 O padrão das vilosidades é muito mais desenvolvido e o diâmetro viloso médio é muito
menor, reflectindo o crescimento ramificado extenso das vilosidades à medida que a
placenta cresce.
 Cada vilosidade é constituida por um eixo de tecido conjuntivo mesenquimal e vasos
sanguíneos fetais.
O eixo mesenquimal contém 2 tipos celulares:
 células mesenquimais, que diferenciam em fibroblastos
 células de Hofbauer com capacidade fagocítica
O eixo mesenquimal é recoberto por:
 células citotrofoblasticas
 células sinciotrofoblásticas

 Uma característica da placenta a termo é o nó sincicial formado pelos núcleos


sinciciotrofoblásticos que se agregam em conjuntos, deixando zonas de citoplasma fino
isento de núcleos entre si.
 A barreira de difusão entre a circulação materna e a fetal compreende 5 camadas:
Trofoblasto
Membrana basal do trofoblasto
Tecido de sustentação do cerne
Membrana basal do endotélio capilar
Endotélio

 Em muitos casos os capilares fetais estão tão perto do trofoblasto, que as


suas membranas basais se fundem, reduzindo a barreira de difusão a apenas
3 camadas.

 Como a placenta se desenvolve, a decídua basal regride, de tal modo que tudo o
que resta dela é um nº de septos anastomosados de tecido de sustentação materno
projectando-se para dentro do revestimento citotrofoblástico.
 Quando a placenta é eliminada imediatamente após o nascimento da criança, vê-se
que a sua superfície materna é dividida em cerca de 20 segmentos irregulares chamados

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de cotilédones, que são demarcados uns dos outros pelas posições dos antigos septos
maternos (placentários).

Componente materno da placenta: decídua, que pode ser:


 Decídua basal: situada abaixo do embrião em desenvolvimento.
 Decídua capsular: recobre o embrião e o seu saco coriónico.
 Decídua parietal: revestimento decidual do resto do útero

Componente fetal da placenta: córion frondoso, constituido por:


Placa coriónica
Vilosidade derivada da placa citotrofoblástica.

Componente fetal e materno: espaço interviloso

Membranas fetais

 Durante o desenvolvimento inicial, o embrião é circundado pelo celoma extra-


embrionário.
 Porém, mais tarde, este é obliterado à medida que a cavidade amniótica se expande para
envolver o feto.
 A camada mesenquimal externa do âmnio vai então ficar em contacto (e frequentemente
fundir-se) com a camada mesenquimal interna do córion, formando a membrana
amniocoriónica ou as membranas fetais.
 A membrana amniótica compreende uma camada única de células epiteliais derivadas da
ectoderme extra-embrionária, repousando sobre uma membrana basal espessa.
 Abaixo desta há uma delicada camada avascular de mesênquima que é 1 remanescente da
mesoderme extra-embrionária.
 A membrana coriónica é constituída por 3 camadas:
1. Camada interna:
 Colagénica avascular
 Derivada da mesoderme extra-embrionária
 É separada do âmnio pela zona intermediária que representa o remanescente
do celoma extra-embrionário

2. Trofoblasto do córion liso: camada interna de células epiteliais eosinófilas.

3. Camada externa: colagénica vascular, de origem maternal, representando a


decídua capsular.

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Cordão umbilical

 O desenvolvimento do cordão umbilical começa com a formação do celoma extra-


embrionário que circunda quase completamente o jovem embrião, permanecendo inserido
no córion pelo pedículo de fixação de mesênquima.
 Com o desenvolvimento adicional do embrião, o sítio da inserção do pedículo de fixação
do embrião irá localizar-se ventralmente, imediatamente caudal ao ponto onde o canal
vitelino liga a vesícula vitelina ao intestino médio.
 À medida que o embrião cresce, a vesícula amniótica expande-se muito, preenchendo o
celoma extra-embrionário e comprimindo o canal vitelino e a vesícula vitelina
remanescente contra o pedículo de fixação.
 Essas estruturas fundem-se finalmente para formarem o cordão umbilical, que é então
circundado pelo âmnio e pela cavidade amniótica.
 Na metade do 5º mês, os remanescentes do canal vitelino, da vesícula vitelina e a bainha de
celoma extra-embrionário atrofiam-se e desaparecem.
 Tudo o que resta são duas artérias umbilicais e uma veia umbilical incluídas num
mesênquima constituído sobretudo por substância fundamental e conhecido como geleia
de Wharton.

Circulação sanguínea da placenta

 A circulação fetal é fechada enquanto a circulação materna é aberta (não limitada por
vasos sanguíneos).
 O sangue materno, derivado das terminações abertas das artérias espirais, entra no espaço
interviloso sob pressão reduzida, regulada por uma prega de células citotrofoblásticas e sai
através das veias uterinas após trocas com o sangue fetal nas extremidades das vilosidades-
ramo.
 A veia umbilical possui lâmina el´satica subendotelial; as duas artérias umbilicais não
possuem lâmina elástica.
 A veia umbilical transporta 80% do sangue oxigenado fetal.
 As artérias umbilicais retornam com sangue fetal desoxigenado para a placenta.

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