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26 Anatomia Funcional da Reprodução

TABELA 2-3. Histologia Funcional do Ovário de Mamíferos


Unidade Anatõmica Fundamental Características Histológicas

Epitélio superficial Uma camada superficial de epitélio frouxo (comum e incorretamente conhecido
por epitélio germinativo) com abundantes microvilosidades.
Túnica albugínea Tecido conjuntivo fibroso e denso cobrindo todo o ovário logo debaixo do epitélio
superficial. As células de tecido próximas à superfície são dispostas
grosseiramente paralelas à superfície ovariana e são algo mais densas do
que as células dispostas em direção à medula.
Córtex ovariano Contém vários folículos primários (com oócitos em estado quiescente) e poucos
folículos grandes. Durante cada ciclo estral, um número variável de folículos
passa por rápido crescimento e desenvolvimento, culminando no processo
da ovulação.
Medula ovariana Tecido conjuntivo frouxo que contém nervos, linfáticos, e vasos sanguíneos
tortuosos e com parede fina, fibras colágenas e elásticas, fibroblastos e
células musculares lisas dispersas.
Estroma ovariano Pobremente diferenciado, células semelhantes às embrionárias-
mesenquimatosas capazes de sofrer alterações morfológicas complexas
durante a vida reprodutiva; as células do estroma podem originar as células
da teca interna ou as células intersticiais.
Musculatura lisa As células musculares lisas estão presentes em todo ovário, especialmente no
estroma cortical onde se entremeiam com as células da teca. As células
mióides ovarianas são similares às musculares lisas de outros tecidos.
Estas células contêm grande número de microfilamentos dispostos em feixes
característicos e também vesículas micropinocitóticas localizadas logo
abaixo do plasmalema Os receptores colinérgicos das células musculares
lisas podem mediar a contração do folículo de Graaf. Assim as células
musculares lisas e os elementos nervosos podem estar diretamente
envolvidos na ovulação. A presença de células musculares lisas,
especialmente nas regiões perifoliculares, pode estar envolvida na
"compressão do folículo" durante a ovulação.
Folículos ovarianos
Folículo primário Um oócito envolvido por uma única camada de células foliculares planas ou
cubóides e circundado por tecido intersticial.
Folículo em crescimento Oócito com diâmetro aumentado e maior número de camada de células
foliculares; a zona pelúcida está presente ao redor do oócito.
Folículo secundário Células granulosas planas do folículo primordial ou unilaminar proliferam,
assumindo uma aparência irregular, poliédrica.
Folículo terciário (vesicular) Sob a influência das gonadotrofinas hipofisárias, as células granulosas dos
folículos de múltiplas camadas secretam um fluido, o líquor folicular, que
se acumula nos espaços intercelulares. A continuada secreção e acúmulo
do líquor folicular resulta na dissociação das células granulosas, que causa
a formação de uma cavidade cheia de fluido -o antro. A zona pelúcida é
circundada por uma massa sólida de células foliculares radiais, formando
a corona radiata.
Folículo de Graaf As células foliculares aumentam de tamanho; o antro está cheio de fluido
folicular (líquor folicular). O oócito é pressionado para um lado, circundado
por um acúmulo de células foliculares (cumulus oophorus); em qualquer
parte da cavidade folicular um epitélio de espessura regularmente uniforme,
. chamado membrana granulosa, se formou. Formaram-se também a teca
interna e a teca externa.
Folículo pré-ovulatório Uma estrutura semelhante a vesículas projetando-se da superfície ovariana
devida à rápida acumulação de fluido folicular e adàgaelçamento da camada
granulosa. O viscoso líquor folicular é formado das secreções das células
granulosas e proteínas plasmáticas transportadas para dentro do folículo
por transudação. O cumulus oophorus destaca-se dentro do estrato
granuloso adelgaçado e extensivamente dissociado. O oócito permanece
livre no líquor folicular, circundado por uma massa irregular de células.
Grandes modificações ocorrem a nível subcelular, particularmente no
Anatomia da Reprodução Feminina 27

TABELA2-3. Histologia Funcional do Ovário de Mamíferos


Unidade Anatõmica Fundamental Características Histológicas

Complexo de Golgi, que é envolvido na formação da zona pelúcida e dos


grânulos corticais. O oócito na prófise da meiose (estágio dictiado), recomeça
a meios e várias horas antes da ovulação. A primeira divisão meiótica
(maturacional) está associada com a expulsão do primeiro corpúsculo polar,
que pode permanecer brevemente ligado ao oócito por uma ponte
citoplasmática.
Corpo hemorrágico A cavidade folicular está cheia de ninfa e sangue dos vasos tecais rompidos e
de sangue dos fluidos foliculares e de pequenos vasos que se rompem na
ovulação. Ele atu'a como um interruptor,"vedando" a cavidade residual após
a liberação do oócito. Vasos intactos e células do tecido conjuntivo da teca
circundante começam a proliferar.
Corpo lúteo A transformação de um folículo rompido no corpo lúteo envolve dobras
características da camada granulosa em direção à porção central da
cavidade residual; a luteinização das células granulosas ocorre sob a
influência do LH. As células luteínicas, de forma poliédrica e sem paredes
celulares definidas, são dispostas em massas irregulares. O citoplasma
pode ser claro ou granuloso de acordo com a atividade secretora funcional.
Corpus albicans Tecido fibroso branco que se forma a partir do corpo lúteo de ovulações prévias.

uterinos podem apresentar um papel no folículo desdobra-se em pregas macro e mi-


transporte de estrógenos de um corno uterino croscópicas que penetram na cavidade cen-
para o ovário ipsilateral. tral. Estas pregas consistem de uma porção
central de tecido estromático e grandes vasos
Ovariectomia venosos que se distendem. As células desen-
volvem-se poucos dias antes da ovulação e
A ovariectomia unilateral (ULO) em ratos regridem rapidamente. Dentro de 24 horas
adultos pode levar a uma compensação fun- após a ovulação todas as células tecais rema-
cional de crescimento folicular e ovulação no nescentes encontram-se em avançado estado
ovário remanescente durante o ciclo. O me- de degeneração. Após a ovulação inicia-se um
canismo compensatório envolve um aumen- processo hipertrófico e de luteinização das
to na secreção de FSH, 6 a 18 horas após a células granulosas. O tecido luteínico aumen-
ovariectomia unilateral. ta principalmente por meio de hipertrofia das
A remoção de um ovário provoca um au- células luteínicas.
mento compensador no peso do ovário rema- A progesterona é secretada pelas células
nescente (hipertrofia ovariana compensató- luteínicas sob a forma de grânulos. Na ove-
ria) na cobaia. Os nervos ovarianos podem lha, parece que este processo atinge o máxi"
participar no desenvolvimento da hipertrofia mo no dia 10 do ciclo, começando a diminuir
compensadora após ovariectomia unilateral. notavelmente no 12Qdia. A atividade secretora
Nervos adrenérgicos ovarianos podem exer- declina gradualmente até o 14Qdia.
cer normalmente uma influência inibidora Em animais de idade mais avançada as
sobre a seleção de folículos para maturação e / funções do corpo lúteo declinam em
ou ovulação (Curry, T.E., Jr., et aI., 1984), consequência de: (a) inabilidade das células
foliculares (granulosa e teca interna) em res-
Corpo Lúteo ponder integralmente aos estímulos
hormonais; (b) modificações quantitativas e/
o corpo lúteo desenvolve-se após o colapso ou qualitativas da secreção hormonal; (c) re-
do folículo na ovulação. A parede interna do dução de estímulos para a secreção hormonal.
28 Anatomia Funcional da Reprodução

Desenvolvimento. O aumento de peso do folículo de Graaf maduro, com exceção na


corpo lúteo é inicialmente rápido. Geralmen- égua, em que ele é menor (Tabela 2-2).
te o período de crescimento ultrapassa ligei- O corpo lúteo estimula o desenvolvimento
ramente a metade do ciclo estral. Na vaca, o folicular e a ovulação por meio de um meca-
peso e o conteúdo de progesterona do corpo nismo local intra-ovariano. Por exemplo, a
lúteo, aumentam rapidamente entre os dias presença de um corpo lúteo previamente for-
3 e 12 do ciclo (Fig. 2-4), permanecendo rela- mado aumenta a eficiência da gonadotrofina
tivamente constantes até o 16Qdia, quando sérica (PMSG) para induzir a ovulação em
se inicia a regressão. Na ovelha e na porca, ovelhas.
os corpos lúteos aumentam rapidamente de Regressão. Caso não se efetue a fertilização,
peso e conteúdo de progesterona do dia 2 ao o corpo lúteo regride, permitindo a maturação
dia 8, permanecendo relativamente constan- de outros grandes folículos ovarianos. À me-
te até o dia 15, quando então começa a re- dida que essas células degeneram, todo o ór-
gressão (Erb et al.,1971). O diâmetro do cor- gão diminui de tamanho, torna-se branco ou
po lúteo maduro é maior do que aquele do castanho-claro, passando a denominar-se
corpus albicans. As alterações regressivas
caracterizam-se por espessamento das pare-
Direito
des arteriais no corpo lúteo, diminuição da
Esquerdo
granulação citoplasmática, arredondamento
~
dos contornos celulares e vacuolização peri-
CiOI~ férica das grandes células luteínicas (Figs. 2-
5 a 2-7). Depois de dois ou três ciclos, perma-
logo após a
ovulação
~e <3
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nece apenas uma cicatriz visível do tecido
conjuntivo. Remanescentes dos corpus
albicans bovino persistem durante vários ci-

C
5 clos sucessivos. O corpo lúteo bovino do ciclo
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ovulação
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O- " estral começa a regredir 14 a 15 dias depois do
cio, e seu tamanho pode ser diminuído pela
metade dentro de 36 horas.

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FIG. 2-4.llustração diagramática das modificações
morfológicas d~ ovário bovino durante o ciclo estral. a b c
1, Folículo maduro; 2, corpo lúteo em regressão (cor FIG. 2-5. Diagrama mostrando a organização ce-
castanho-atijolada); 3, folículo colapsado - super- lular do corpo lúteo da ovelha. a, Corpo
fície pregueada e paredes tintas de sangue; 4, cor- hemorrágico; b, corpo lúteo do segundo dia após o
po lúteo em regressão (amarelo- claro); 5, corpos cio; c, corpo lúteo do quarto dia após o cio. Os va-
lúteos gêmeos - certa hemorragia; 6; corpo lúteo sos sanguíneos são representados em negro. f. 1.,
em regressão (amarelo-claro); 7, corpo lúteo de Coleção de fluido folicular; g.l., células luteínicas
diestro; 8, o maior folículo; 9, corpus albicans. (Co- da membrana granulosa ; t.i., teca interna; t.e., teca
piado de Arthur (1964). Wright's Obstretrics. externa. (Adaptado de Warbritton (1934). J.
London, Bailliere, Tindall & Cox.) Morphol. 56, 181.
Anatomia da Reprodução Feminina 29

Superfície dias ap,ós o acasalamento. Esta época, apa-


Ge
rentemente, representa o estado em que o
Te útero inicia as primeiras providências que
irão levar à luteólise.
A PGF2a é uma luteolisina potente, de
ocorrência natural na ovelha. Várias doses e
Ti
vias de administração de PGF2a exógena são
eficientes para provocar completa regressão
Mg luteínica. Uma das vias mais eficientes é a
injeção de PGF2a dentro de um folículo bem
Co
desenvolvido presente em ovário com corpo
Lf
lúteo. A indometacina [1-(p-elorobenzoil)-5-
metoxi-2-metilindole-3-ácido acético] bloqueia
a liberação de PGF2a induzida por estrógenos
pelo útero ovino. Injeções intra-uterinas de
indometacina impedem a regressão luteínica
Células da teca interna induzi da por estrógenos nas espécies bovina
e ovina.
A principal veia uterina e a artéria ovaria-
na são os componentes proximal e distal de
um mecanismo local arteriovenoso envolvido
nos efeitos luteolíticos e antiluteolíticos. A
histerectomia elimina o efeito luteolítico e
Retículo provoca persistência do corpo lúteo. A
capilar luteólise no poro está associada com o aumen-
to de prostaglandina plasmática na veia úte-
ro-ovariana (Guthrie e Rexroad, 1981).
Modificações na Irrigação Sanguínea do
Corpo Lúteo. A presença de um corpo lúteo
funcional aumenta consideravelmente a irri-
gação sanguínea do ovário (Niswender et aI.,
Membrana 1976); o fluxo sanguíneo regional dentro do
basal
corpo lúteo utiliza 1511de microsferas radioa-
FIG. 2-6. (Acima) Ilustração de um folículo de tivas. Na ovelha, o fluxo para o ovário
Graaf. Co, cumulus oophorus; Ge, epitélio luteinizado aumenta de menos de 1 ml/min
germinativo; Lf, líquido folicular; Mg, membrana para 3 a 7 ml/min à medida que o corpo lúteo
granulosa; Te, teca externa; Ti, teca interna. (Abai- se desenvolve (Niswender et aI., 1976). Du-
xo) Estrutura da parede do folículo de Graafmos- rante a regressão, o fluxo sanguíneo para o
trando como as células granulosas são privadas
de um suprimento sanguíneo pela membrana ovário luteinizado declina bruscamente (Fig.
baBa!. (Baird (1972). In Reprodution ofMammals. 2-8).
C.R. Austin e R.v. Short (eds). Cambridge, As modificações no fluxo sanguíneo para o
Cambridge University Press.) tecido luteinizado podem ser atribuídas a al-
terações no fluxo para o corpo lúteo que rece-
Luteólise. A luteólise induzida por be a maior parte do suprimento sanguíneo. A
estrógenos, provavelmente tendo como media- irrigação sanguínea do corpo lúteo exerce um
dora a prostaglandina F2a uterina durante o papel na regulação desta glândula e no con-
ciclo estral da ovelha, é responsável pela re- trole da atividade dos hormônios
gressão normal do corpo lúteo. Para que o gonadotróficos ao nível celular luteínico. Uma
corpo lúteo seja mantido na ovelha, um em- ação secundária do LH pode ser a de aumen-
brião deverá estar presente no útero 12 a 13 tar o fluxo sanguíneo para o corpo lúteo. A
30 Anatomia Funcional da Reprodução

PGF2a afeta o componente vascular do corpo


lúteo.
Corpo Lúteo e Gestação. Os progestágenos
são necessários para a manutenção da gesta-
ção. Em parte eles atuam alterando a
permeabilidade iônica através da membrana
celular do músculo do miométrio, aumentan-
do o repouso potencial da membrana e dimi-
nuindo a condução e excitabilidade celulares.
Alguns progestágenos servem de precurso-
res imediatos para outros esteróides, igual-
mente necessários durante a gestação.
Com exceção da égua, existem necessida-
des obrigatórias de contínua atividade do cor-
po lúteo durante a gestação uma vez que a
placenta não secreta progesterona nesta es-
pécie. Na marrã a ovariectomia praticada em
qualquer época da gestação resulta em
abortamento dentro de 2 ou 3 dias. Após a
remoção de um ovário ou dos corpos lúteos de
cada ovário no 40Q dia da gestação, é neces-
sário um mínimo de cinco corpos lúteos para
mantê-Ia.
ReconhecimentoMaterno da Gestação.
Blastocistos devem estar presentes no 12Qdia
após a ovulação nas ovelhas e no 13Q dia em
marrãs para aumentar a vida útil do corpo
lúteo. O reconhecimento materno da gesta-
ção em bovinos ocorre entre o 15Q e 17Q dia
de gestação. As concentrações plasmáticas de
progesterona são maiores em vacas prenhes
dentro de 8 dias após a cobertura. Contudo,
pouco se sabe sobre os mecanismos fisiológi-
cos que controlam a manutenção do corpo
lúteo e a síntese de progesterona durante a
gestação precoce.
FIG. 2-7.A, Estrutura da zona pelúcida totalmente O corpo lúteo da gestação é conhecido por
formada (ZP) ao redor de um oócito em um folículo corpus luteum verum e pode apresentar maio-
de Graaf. As microvilosidades originando-se do res dimensões do que o corpus luteum
oócito se entremeiam com os processos das células spurium (falso corpo amarelo) do ciclo estral.
granulosas (G). Estes processos penetram dentro
do citoplasma do oócito (C) e podem subministrar
Em bovinos, ele aumenta de tamanho duran-
nutrientes e,o.proteínamaterna; (N) núcleo do oócito te 2 ou 3 meses da gestação, regride por 4 a 6
(Baker (1972). In Reproduction in Mammals. C.R meses, após o que permanece relativamente
Austin e RV Short (eds.). Cambridge, Cambridge constante até o parto, degenerando dentro de
University Press). B, Ovo após a remoção da zona uma semana após o parto.
pelúcida.
TROMPAS

Existe uma íntima relação anatômica en-


tre os ovários e as trompas. Nos animais do-
Anatomia da Reprodução Feminina 31

Artéria Ramo Tubárico


(ramo ovariano)

\dU'" do,,=
Artéria Ovariana
(útero-ovariana)

FIG. 2-8. (Esquerda) Anatomia da vasculatura ovariana bovina e localização de cateter venoso com
anastomose entre a veia e a artéria ovariana. (Wise, J.H. et aI, 1982). Função ovariana durante o ciclo
estral da vaca. J.Anim. Sei. 55: 627-637.) Fluxo ovariano sanguíneo e nível de liberação de progesterona.
(Direita) Modelo hipotético simulando a interação do embrião, do útero e do corpo lúteo durante a luteólise
e o início da gestação. Grandes células luteínicas (LG); pequenas células luteínicas (SM). (Silva et aI.
(1984). Mecanismos moleculares e celulares envolvidos na luteólise e no reconhecimento materno da
gestação na ovelha. Anim. Reprod. Sei., 7: 57-74).

mésticos os ovários situam-se numa bursa no mesossalpinge, que é uma prega peritoneal
ovariana aberta, contrastando com certas es- derivada do estrato lateral do ligamento lar-
pécies (p. ex., rata e camundonga) em que ele go. O comprimento e o grau de circunvoluções
fica alojado dentro de uma bolsa. Nos animais da trompa variam nas espécies domésticas.
domésticos esta bursa é uma invaginação que A trompa pode ser dividida em quatro seg-
consiste de uma prega peritoneal do mentos funcionais: as fímbrias em forma de
mesossalpinge, ligada a uma alça suspensa franjas; a abertura abdominal próxima ao
na porção superior da trompa (Fig. 2-9). Na ovário em forma de funil - o infundíbulo; a
vaca e na ovelha a bursa ovárica é larga e ampola dilatada mais distalmente e a estrei-
aberta. Na porca ela é bem desenvolvida e, ta porção próxima da trompa, ligando-a à luz
embora aberta, envolve o ovário em grande uterina - o istmo (Fig. 2-10).
parte. Na égua ela é estreita, apresenta for- O tamanho do infundíbulo varia com a es-
ma de clave e envolve somente a fossa da ovu- pécie e idade do animal; a área de superfície
lação. é de 6 a 10 cm2 na ovelha e 20 a 30 cm2 na
vaca. A abertura do infundíbulo denominada
Anatomia óstio abdominal, situa-se no centro de uma
franja de processos irregulares que formam
A morfologia e anatomia funcional das a extremidade da trompa, as fímbrias. Estas
trompas dos mamíferos estão resumidas e são livres, exceto em um ponto no pólo supe-
ilustradas nas Tabelas 2-4 e 2-5 e nas Figu- rior do ovário, que assegura a sua íntima apro-
ras 2-10 até 2-17.As trompas estão suspensas ximação à superfície ovariana.
32 Anatomia Funcional da Reprodução

0--------

L--.J
I em.
~
FIG. 2-9. Relação anatômica entre o ovário ea trompa na ovelha. A, Ampola; F, fímbrias; In, infundíbulo;
Is, istmo; M.a., mesovário; O, ovário; O.a., artéria ovariana; O.b., bursa ovárica; U, útero; Utj, junção
útero-tubárica. Notar a alça suspensa à qual se une a bursa ovárica. A trompa da ovelha é pigmentada.

A ampola, que corresponde a cerca da me- tas pregasmucosas na ampola preenche qua-
tade do comprimento da trompa, funde-se com se completamente a luz de modo a existir ape-
a porção constricta conhecida por istmo. O nas um espaço potencial. O fluido é mínimo;
significado anatõmico e fisiológico desta jun- deste modo a massa de cumulu fica em ínti-
ção istmo-ampolar ainda é desconhecido. O mo contato com a mucosa ciliada (Figs. 2-11
istmo está diretamente ligado ao útero; na a 2-14).
égua ele penetra no corno uterino sob a for- A mucosa consiste de uma camada de cé-
ma de uma pequena papila. Nenhum esfincter lulas epiteliais colunares. A submucosa das
muscular bem definido apresenta-se na jun- fibras musculares lisas e do tecido conjunti-
ção útero-tubárica. Na porca, entretanto, esta vo é entremeada por finos vasos sanguíneos
junção é guarnecida por longos processos e linfáticos. O epitélio contém células cHiadas
mucosos em forma de dedos. Na vaca e na e não-ciliadas.
ovelha existe uma flexura na junção útero- Células CHiadas. As células ciliadas da
tubárica especialmente durante o cio. mucosa do oviduto possuem cílios móveis e
Existem também extensões musculares delgados (cinocílio) que se estendem para o
destas camadas para dentro do tecido conjun- interior do lúmen. A proporção de batimentos
tivo das pregas mucosas, permitindo contra- dos cílios é afetada pelos níveis de hormõnios
ções coordenadas de toda a parede. O ovarianos, com atividade máxima na ovula-
espessamento da musculatura aumenta da ção ou logo após o ímpeto do cílio na porção
extremiãade ovariana para a extremidade fimbriada das trompas estar intimamente sin-
uterina das trompas. cronizado e dirigido em direção ao óstio. A
Mucosa do Oviduto ação dos batimentos ciliares parece favore-
A mucosa do oviduto é formada por pregas cer o óvulo dentro das células circundantes
primárias secundárias e terciárias. A mucosa do cumulus a fim de ser despojado da super-
na ampola situa-se dentro de pregas altas e fície dos folículos em direção ao óstio das trom-
ramificadas que diminuem de altura em di- pas. A porcentagem de células ciliadas dimi-
reção ao istmo tornando-se baixas na junção nui gradualmente na ampola em direção ao
útero-tubárica. A complexa constituição des- istmo e atinge o máximo nas fímbrias e
Anatomia da Reprodução Feminina 33

TABELA 2-4. Anatomia Comparada do Trato Reprodutivio em Fêmeas Adultas


Vazias de Mamiferos Domésticos
Animal
Órgão Vaca Ovelha Porca Égua

Trompa
Comprimento (cm) 25 15-19 15-30 20-30

Útero
Tipo Biparlido Biparlido Bicomual Biparlido
Comprimento do como (cm) 35-40 10-12 40-65 15-25
Comprimento do corpo (cm) 2-4 1-2 5 15-20
Superfície de revestimento 70-120 CarÚllculas 88-96 Carúnculas Ligeiras Distintas
do endométrio pregas pregas
longitudinais longitudinais
Cérvice
Comprimento (cm) 8-10 4-10 10 7-8
Diâmetro externo (cm) 3-4 2-3 2-3 3,5-4
Luz cervical
Forma 2-5 anéis anulares Vários anéis anulares Saca-rolhas Pregas distintas
Entrada do útero
Forma Pequena e protrusa Pequena e protrusa Maldefinida Claramente definida
Vagina anterior
Comprimento (cm) 25-30 10-14 10-15 20-35

Hímen Maldefinido Bem desenvolvido Maldefinido Bem desenvolvido

Vestíbulo
Comprimento (cm) 10-12 2,5-3 6-8 10-12

Ai:,dimensões incluídas nesta tabela variam com a idade, raça, pariedade e plano de nutrição.

infundíbulo. Células ciliadas são encontradas estrógenos exógenos. As trompas atrofiam-se


em grande número no ápice das células e perdem os cílios durante o anestro, hiper-
mucosas. Variações na porcentagem de célu- trofiam-se e readquirem os cílios durante o
las ciliadas e secretoras, ao longo das trom- proestro e o cio e tornam a atrofiar-se e perde
pas possuem algum significado funcional. os cílios durante a gestação.
Células ciliadas são mais abundantes no lo- Infecções do trato reprodutivo feminino
cal onde o óvulo é apanhado da superfície ova- estão associadas com dramáticas associações
riana enquanto que células secretoras são na morfologia celular. Uma infecção geral-
abundantes onde os fluidos luminais são ne- mente está associada com a perda de células
cessários como um meio para a interação de ciliadas. O epitélio inflamado da trompa pos-
óvulos e espermatozóides. sui células ciliadas livres de cílios que retêm
Os cílios batem em direção ao útero. A sua um certo número de corpos ciliares basais,
atividade aliada a contrações das trompas, precursores das hastes ciliares. Uma diminui-
mantém os óvulos do oviduto em constante ção do número de cílios pode levar a um
rotação, o que é essencial para a aproxima- acúmulo de fluidos nas trompas e de
ção dos óvulos com os espermatozóides (ferti- exsudatos inflamatórios, que contribuem para
lização) e para impedir que haja uma implan- a aglutinação das pregas nas trompas e
tação no oviduto. A presença de cílios no subsequente desenvolvimento de salpingite.
oviduto é controlada por hormônios no maca- Células Não-cHiadas. As células secretoras
co rhesus: Os cílios desaparecem quase com- da mucosa do oviduto não são ciliadas e pos-
pletamente após hipofisectomia e se desen- suem característicos grânulos secretores,' cujo
volvem em resposta à administração de tamanho e número variam bastante entre as
34 Anatomia Funcional da Reprodução

Infundíbulo Ampola Istmo

FIG. 2-10. (Acima) Principal


segmento da trompa. (Abaixo)
Variabilidade anatômica dajun-
ção nas diferentes espécies.

ISTMO

EXTRAMURAL
grau de flexão
suprimento vascular
suprimento linfático
suprimento neural
LIGAMENTOS
INTRAMURAL
mesotubáricoinferior
músculo circular
mesotubáricosuperior
músculo longitudinal
glândulas endometriais

ENDOMÉTRIO PROJEÇÕES
número
MIOMÉTRIO estrutura
divertículos
ciliogênese
secretora

espécies e durante as diferentes fases do ci- Inervação. Do mesmo modo que outros seg-
clo estral. A superfície apical das células não mentos do trato genital feminino, a trompa
cHiadas é recoberta por numerosas está parcialmente servida por "curtos"
microvilosidades. Os grânulos secretores acu- neurônios adrenérgicos fisiofarmacologica-
mulados nas células epiteliais durante a fase mente diferentes dos mais comuns "longos"
folicular do ciclo são liberados dentro da luz neurônios adrenérgicos. Além de receber ner-
após a t1VU.lação,provocando uma redução na vos dos gânglios pré e paravertebrais, a trom-
altura epitelial. pa recebe uma porção de formações
Vascularização. A vascularização da trom- ganglionares da área útero-vaginal (curtos
pa deriva-se das artérias uterinas e ovaria- neurônios adrenérgicos),
nas, que juntamente suprem arcadas de va- O grau de inervação varia nas diferentes
sos ao longo de sua extensão. O notável camadas musculares e em diferentes regiões
aumento na proeminê!lcia da vascularização, da trompa. A inervação adrenérgica é parti-
bastante regulada por estrógenos ovarianos, cularmente proeminente na musculatura cir-
está parcialmente associado com a realçada cular do istmo e na junção ampola-istmo, onde
função secretora da trompa. os nervos adrenérgicos terminais estão em
Anatomia da Reprodução Feminina 35

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FIG. 2-11. Secção transversal de diferentes segmentos da trompa. (1) Representa o istmo e (8) represen-
ta o infundíbulo. Deve notar-se a variabilidade no grau de complexidade das dobras da mucosa.
36 Anatomia Funcional da Reprodução

íntimo contato com as células musculares li-


sas. A densa inervação adrenérgica permite
ao istmo agir como um esfíncter fisiológico, o
que pode ser importante para regular o trans-
porte do óvulo.

Função da Trompa

Várias técnicas in vivo e in vitro têm sido


usadas para estudar a função da trompa (Ta-
bela 2-5). Esta tem a singular função de con-
duzir os óvulos e os espermatozóides em di-
reções opostas, quase simultaneamente. A
estrutura da trompa está bem adaptada às
suas múltiplas funções. As franjas das fím-
brias transportam os óvulos liberados da su-
perfície ovariana para o infundíbulo. Os óvu-
los são conduzidos através das pregas-
mucosas para a ampola onde ocorre a fertili-
zação e os primeiros estágios da clivagem dos
óvulos fertilizados. Os embriões permanecem
nas trompas durante 3 dias antes de serem
encaminhados ao útero. O mesossalpinge e a
musculatua tubárica coordenam os hormônios
ovarianos, os estrógenos e a progesterona. A
junção útero-tubárica controla, parcialmen-
te, o transporte do sêmen do útero para as
trompas.
A trompa propicia um ótimo ambiente para
a união dos gametas, assim como para o de-
senvolvimento inicial do embrião. Este ambi-
ente proporciona nutrição e proteção para os
espermatozóides, para o oócito e para o
subsequente embrião. Os espermatozóides e
os embriões possuem antígenos estranhos que
podem ser reconhecidos e atacados pelo sis-
tema imuno-humoral materno (Oliphant et
aI., 1984).
Fluido da Trompa. O fluido da trompa
subministra um ambiente adequado para a
fertilização e clivagem dos óvulos fertilizados.
FIG. 2-12. Fotom~rografias em microscopia ele-
trônica de varredura do epitélio tubárico. A, Pre- O nível de acumulação dos fluidos da trompa
gas mucosas projetando-se na luz da ampola (37x). é regulado pelos hormônios ovarianos. Utili-
B, Pregas mucosas projetando-se na luz do istmo zando diferentes métodos de canulação para
(40x). C, Fotomicrografias do epitélio da trompa colheita contínua das secreções da trompa, é
no istmo (6.000x). possível demonstrar-se que o volume de flui-
do secretado pelas duas trompas varia duran-
te o ciclo estraI. O volume é pequeno durante
a fase luteínica, aumenta no início do cio, atin-
Anatomia da Reprodução Feminina 37

FIG. 2-13. Fotomicrografias em microscopia eletrônica de varredura da trompa. A, Epitélio da trompa


mostrando células secretoras (flexa) extremamente ligadas a microvilosidades e células ciliadas. Notar
que algumas células são totalmente ciliadas enquanto outras apresentam cílios na periferia. B, Estrutu-
ras semelhantes a rosetas de uma célula ciliada, processo esse que ocorre aleatoriamente, culminando
em completa ciliação conforme foi demonstrado em B. C, Células totalmente ciliadas nas fímbrias que
participam da captação do óvulo após sua liberação do folículo de Graaf.

gindo Omáximo um dia após e então declina e em resposta a agentes anticoncepcionais; (b)
até os níveis característicos da fase luteínica batimentos de cílios móveis nos compartimen-
(Fig. 2-17). tos da trompa e que variam em tamanho e
O fluxo de grande parte do fluido da trom- forma; (c) alterações constantes da luz da
pa é em direção ao ovário, pois o istmo blo- trompa em diferentes segmentos, resultante
queia, pelo menos parcialmente, sua entrada da contração muscular e reorientação das pre-
para o útero. gas mucosas.
Vários fatores fisiológicos podem estar en- O movimento direcional das secreções da
volvidos na criação de correntes e contracor- trompa pode contribuir para o transporte do
rentes: (a) modificações quantitativas nas óvulo fertilizado ao útero. Na ovelha, a maior
secreções da trompa durante o ciclo menstrual parte das secreções da trompa sai pelo óstio
38 Anatomia Funcional da Reprodução

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FIG. 2-14. Histologia e citologia do epitélio da trompa. A, Células secretoras com material saliente e
células ciliadas com quinocília, coradas pelo azul de toluidina. (Foto pelo Professor S. Reinius). B, Célu-
las ciliadas da trompa (direita) e útero (esquerda). Notar a presença de microvilosidades na superfície
apical da célula. C, Células secretoras mostrando a biossíntese, embalagem, armazenamento, liberação
e distribuição de material secretor, que é o principal componente do fluido luminal da trompa e do útero.
Acredita-se que a movimentação ciliar facilita a liberação de grânulos secretores da superfície das célu-
las.
Anatomia da Reprodução Feminina 39

TABELA 2-5. Técnicas ln Vitro Utilizadas para Estudo das Funções da Trompa
Função em Estudo Técnicas

Estrutura e ultra-estrutura do epitélio, atividade Microscopia eletrônica de transmissão e de varredura


secretora e cílios Cultura de fragmentos da mucosa tubárica e transferência
para câmeras de crescimento
Observações histoquímicas de cortes congelados
Identificação de receptores adrenérgicos ou Técnica histoquímica de fluorescência
colinérgicos Fisiofarmacologia da contratilidade tubárica (p. ex.,
resposta a drogas autônomas)
Contratilidade da musculatura tubárica Observação visual da trompa através da parede abdominal
ou janela abdominal
Quimografia direta
Cateter intraluminal ou microbalão colocado na luz para
registrar a pressão intratubular da trompa
Cinerradiografia
Composição bioquímica do fluido tubárico Dispositivo extra ou intra-abdominal para colheita de fluido
Ligadura da trompa na junção útero-tubárica e fímbrias
para colher fluido
Radioisótopos
Detecção da captação de proteínas pelo epitélio Imunofluorescência
tubárico Farmacologia e neurofarmacologia
Transporte de ovo na trompa Efeitos de prostaglandinas, hormônios esteróides e
anticoncepcionais orais
Lavagem segmentar da trompa após salpingectomia
Utilização de ovos substitutos
Recuperação de ovos do útero in vivo
Transporte espermático na trompa Lavagem segmentar da trompa após salpingectomia em
intervalos após inseminação artificial
Lavagem das trompas a partir das fímbrias, por
laparoscopia, em intervalos após cobertura ou
inseminação artificial
Cinética de batimentos ciliares Cinematografia de alta velocidade
Foto-ensaio para medir os batimentos ciliares opticamente
Espectroscopia de correlação de foto laser para estudar os
batimentos ciliares em células ciliadas cultivadas

tubárico precocemente no ciclo estraI. Toda- diferentes nos dois fluidos orgânicos; p. ex., a
via, no 4Qdia, quando os ovos usualmente en- quantidade de transferrina e pré-albumina
tram no útero, o fluxo através da junção úte- no fluido da trompa está muito mais relacio-
ro-tubárica aumenta consideravelmente. nado à albumina, do que à quantidade des-
O fluido do oviduto apresenta várias fun- sas proteínas no soro. Muitas proteínas
ções, incluindo a nutrição de oócitos recente- séricas não têm correspondentes no líquido
mente ovulados e a capacitação espermática, das trompas e reciprocamente, várias proteí-
a fertilização, e o desenvolvimento antes da nas são privativas do fluido tubárico. A pre-
pré-implantação. O fluido das trompas é com- sença de proteínas privativas no fluido da
posto de um transudato seletivo de soro e de trompa quer dizer que as células tubáricas
produtos secretários dos grânulos das células podem estar comprometidas com uma ativi-
secretárias do epitélio do oviduto (Oliphant dade secretora específica. O fluido tubárico
et aI., 1984). As secreções do oviduto são re- apresenta um efeito direto sobre a
guladas pelos hormônios esteróides. hiperativação dos espermatozóides, fenôme-
Vários constituintes protéicos são comuns no este recentemente reconhecido como es-
ao fluido da trompa e ao soro. No entanto, al- sencial para a interação espermatozóide-óvu-
guns destes estão presentes em proporções 10.
40 Anatomia Funcional da Reprodução

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b
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B

FIGo 2-150 Ilustração diagramática da muscu-


latura da trompa de ungulados. A, Ampola: a
musculatura consiste de fibras espiraladas dis-
postas quase circularmente. B, Istmo: Notar di-
ferenças na morfologia das fibras musculares.
C, Junção útero-tubárica: Notar o revestimen-
to muscular longitudinal de origem uterina, as-
si~ como as fibras peritoneais. (Schilling (1962).
c
Zentralbl. Veterinaermed. 9, 805).

Musculatura Tubárica e Ligamentos


Relacionados
FIGo 2-160 Contrações das fímbrias em relação à
superfície ovariana, mecanismo pelo qual os ovos
Á13contrações tubáricas facilitam a mistu- são recolhidos para dentro do infundíbulo.
ra de seus conteúdos, ajudam a desnudar os
óvulos, promovem a fertilização facilitando o
contato entre o óvulo e o espermatozóide e
regulam parcialmente o transporte do ovo. o padrão de contratilidade tubárica é com-
Diferentemente do peristaltismo intestinal, plexo, sendo constantemente ativado devido
o peristaltismo da trompa tende a atrasar li- às fibras musculares longitudinais que pro-
geiramente a progressão do óvulo em vez de vocam encurtamento e às fibras musculares
transportá-Io. circulares que causam constrição anular. Ou-
Padrões das Contrações Tubáricas. A tros fatores adicionais de complexidade são
musculatura tubárica passa por vários tipos as atividades contráteis do mesossalpinge do
de contrações complexas: contrações localiza- miométrio e dos ligamentos suspensores,
das semelhante~ ao peristaltismo, originan- além dos movimentos ciliares.
do-se em segmentos isolados ou alças e com Á13contrações musculares das trompas são
curto trajeto; contrações segmentares e tor- estimuladas pela contração de duas membra-
ções vermicularis de toda a trompa. Contra- nas maiores que contêm musculatura lisa e
ções em direção oposta ao ovário são mais co- estão unidas às fimbrias, à ampola e ao ová-
muns do que as dirigidas para esse órgão. De rio: o mesossalpinge e o mesotubarium
um modo geral a ampola é menos ativa que o superius. Afrequência e a amplitude das con-
istmo (Figs. 2-15, 2-16). trações espontâneas variam com a fase do ci-
Anatomia da Reprodução Feminina 41

1.4 média das trompas. Os variáveis padrões da


TROMPA
1.2 contração tubárica podem estar associados
1.0 com as alterações cíclicas do conteúdo
.8 glicogênico da musculatura da trompa. O
., glicogênio tubárico é mais abundante na mus-
~
o
.6
..= .4
culatura circular interna do que na muscula-
..;< tura longitudinal externa.
~ .2
Prostaglandinas e Contratilidade
-5
w.
O
Tubárica.APGE1e a PGE2 exercem um efei-
O 81
r::4 to característico sobre a musculatura longi-
§
r:.. 6 Útero
tudinal da trompa, que é o aumento do tônus
r.:<
da porção proximal e relaxamento do resto
r::4 do órgão. A PGEs' entretanto, relaxa a trom-
r.:< 4
pa toda. Por outro lado, a PGF 1 e a PGF2
§O 2
agem como estimulante, sendo o efeito maior
:> exercido pela PGF 2 sem modificação aparen-
te na sensibilidade ou ação durante o ciclo
O
65432 menstrual. A PGF 2 apresenta um efeito
'Antes do cio relaxante sobre toda a trompa.
DIAS Ligamento Útero-ovariano e Conexos. O
FIG. 2-17. Flutuações no volume de secreções da ligamento útero-ovariano contém células
trompa e do útero durante o ciclo estral da ovelha. musculares lisas, dispostas em feixes
Os índices máximos de secreção ocorrem um dia logitudinais, que penetram no miométrio,
após o desencadeamento do cio; este período coin-
cide com a ovulação e a captação do óvulo pelas porém não no estroma ovariano. Os múscu-
fímbrias. Durante o cio o volume dos fluidos los lisos do mesovário, os vários ligamentos
uterinos excede o da trompa, enquanto que o in- do mesentério unidos ao ovário e as fímbrias
verso é verdadeiro durante a fase luteínica. contraem-se intermitentemente. Estas con-
(Perkins et aI. (1965). J. Anim. Sei. 24, 383.) trações musculares rítmicas asseguram a po-
sição das fímbrias em relação à superfície dos
elo estral. Antes da ovulação as contrações são ovários.
suaves com variações individuais na propor-
ção e padrão de contratilidade. Durante a ÚTERO
ovulação, as contrações tornam-se mais vigo-
rosas. Neste período, o mesossalpinge e o O papel do útero durante o cielo estral, a
mesotubarium superius se contraem vigoro- gestação, e as falhas reprodutivas nos animais
sa, independente e intermitentemente; o domésticos estão ilustradas nas Figuras 2-18
mesotubarium contrai-se mais vigorosamente até 2-22. O útero é composto de 2 cornos
do que o mesossalpinge. Estas contrações pu- uterinos (cornua), um corpo e uma cérvice
xam a trompa em forma crescente, deslocam (colo) (Fig. 2-18). As proporções relativas de
as fímbrias sobre a superfície ovariana e pro- cada parte, assim como a forma e disposição
vocam contínuas modificações no contorno da dos cornos variam de espécie para espécie
trompa. Na ovulação, as dobras em forma de (Tabela 2-4). O útero da porca é do tipo
franja se contraem ritmicamente e bicornual (uterus bicornis). Os cornos são do-
"massageiam" a superfície ovariana. brados ou convolutos, podendo atingir 4 a 5
O padrão e a amplitude das contrações va- pés de comprimento, enquanto o corpo uterino'
riam nos diferentes segmentos da trompa. No é curto (Fig. 2-19). Este comprimento é uma
istmo as contrações peristálticas são adaptação anatômica para carregar satisfa-
segmentais, vigorosas e quase contínuas. Na toriamente a leitegada. O útero bipartido
ampola, fortes ondas peristálticas movem-se (uterus bipartitus) é típico da vaca, ovelha e
de maneira segmentada em direção à porção égua. Estas fêmeas apresentam um septo que
42 Anatomia Funcional da Reprodução

FIG. 2-18.A, Fotomicrografia eletrôni-


ca de varredura do endométrio de ove~
lha. Carúncula circundada por abertu-
ras das glândulas endometriais. B,
Mucosa do corno uterino em ovelha não
prenhe. Notar carúnculas e pigmenta-
ção do endométrio. C, Carúncula ma-
terna de uma vaca prenhe. Notar as
criptas semelhantes a esponjas nas
quais estão alojadas as vilosidades
coriônicas.
Anatomia da Reprodução Feminina 43

separa os dois cornos e um proeminente cor- deslize para dentro da cavidade pélvica. Na
po uterino (o maior é o da égua). Em rumi- égua esta situação pode impedir a remoção
nantes o epitélio uterino possui várias dos líquidos endometriais ou mesmo permi-
carúnculas (Fig. 2-18). Superficialmente, o tir que pequenos volumes de urina atraves-
corpo do útero da vaca e da ovelha parece ser sem a cérvice durante o cio, resultando em
maior do que ele é realmente; isto porque as ligeira inflamação catarral.
porções caudais dos cornos são ligadas pelo Como a maioria dos órgãos cavitários in-
ligamento intercornual. ternos, as paredes uterinas são constituídas
Ambas as laterais do útero são unidas às de uma membrana mucosa interna, de uma
paredes pélvica e abdominal pelo ligamento camada intermediária inteira de músculos
largo. Nos animais multíparos os ligamentos lisos e de uma camada serosa externa, o
uterinos se estiram, permitindo que o útero peritônio. Do ponto de vista fisiológico ape-

~ ""

PORCA

FIG. 2-19. Anatomia comparada dos órgãos


reprodutivos na fêmea. b, Bexiga; m, glândula
mamária; T, reto; t, trompa; u, útero; u, vagina; x,
cérvice; y, ovário. Notar as diferenças entre espé-
cies na anatomia da cérvice, útero e glândula ma-
mária. (Copiado de Ellenberger e Baum (1943).
Handbuch der vergleichenden Anatomie der
Haustiere, 18th ed. Zietszchmann, Ackernecht and
Grau (eds.). Berlin, Springer.)

~
..;:~
44 Anatomia Funcional da Reprodução

nas 2 camadas são reconhecidas - o endomé-


trio e o miométrio.
VACA
Vascularização Uterina

o útero recebe o seu suprimento sanguí-


neo e venoso através do ligamento largo (Fig.
2-20). Os vasos sanguíneos são numerosos, de
parede espessa e tortuosos. A artéria uterina
média, ramo da artéria ilíaca interna ou da
artéria ilíaca externa, fornece o principal su-
primento sanguíneo ao útero na região do feto
em desenvolvimento, de modo que ela aumen-
ta bastante de diâmetro com o avançar da
gestação. A artéria uterina cranial, ramo da
artéria útero-ovariana, fornece sangue ao
ovário pela artéria ovariana e para a extre-
midade anterior do corno uterino pela arté-
ria uterina cranial.
A artéria útero-ovariana corre intimamen-
te ao longo da superfície da veia correspon-
dente, apresentando apenas um pequeno grau
de sinuosidade. Esta artéria termina dando
origem a um pequeno ramo para a extremi- ÉGUA
dade do corno uterino e trompa, a um ou mais
ramos ovarianos bastante enrolados e ainda
um ramo para o ligamento largo.
A constrição da artéria uterina com resul-
tante redução no fluxo sanguíneo é atribuída
à resposta do músculo liso vascular à
norepinefrina liberada dos nervos
adrenérgicos. As ações reguladoras dos
esteróides ovarianos sobre a artéria uterina
FIG. 2-20. Ilustração diagramática do suprimen-
de ovinos podem ser também potencializadas to sanguíneo arterial do trato reprodutivo femini-
pela prostaglandina PGF2a, que é sintetiza- no. 1, artéria útero-ovariana; 2, artéria ovariana;
da e liberada pelo útero. 3, artéria útero-tubárica; 3' artéria cornual ante-
rior ou artéria anterior do corno uterino; 4, arté-
ria uterina; 5, artéria cornual média; 6, artéria
cornual posterior; 7, artéria do corpo do útero; 8,
Glândulas Endometriais e Fluido Uterino artéria vaginal; 9, artéria cérvico-uterina; 10, ar-
téria vaginorretal; 11, artéria pudenda interna; 12,
As glândulas endometriais são estruturas artéria do clitóris. (Barone e Pavaux (1962). Bull.
tubulares delineadas com epitélio colunar, Soe. Sei. Veto Lyon W,l, 33-52).
apresentando-se sinuosas e ramificadas. Elas
se abrem para dentro da superfície do
endométrio, excetuando-se as áreas tornam-se mais sinuosas e complexas. Elas
carunculares (em ruminantes). As glândulas começam a regredir quando são também no-
apresentam-se relativamente retas durante tados os primeiros sinais de regressão uterina.
o cio; à medida que aumenta o nível de As células epiteliais da superfície do
progesterona produzida pelo corpo lúteo em endométrio são relativamente altas durante
desenvolvimento, elas crescem, secretam e o cio; em seguida a um período de ativa se-
Anatomia da Reprodução Feminina 45

creção durante o cio, elas tornam-se baixas e sentam um tipo de placentação epiteliocorial
cubóides dois dias após o cio. ou sindesmocoriaI. Sob a forma de recepto-
O volume e a composição bioquímica do flui- res, p. ex., as proteínas são responsáveis pelo
do uterino mostram consistentes variações estabelecimento da sensibilidade do útero aos
durante o ciclo estral (Fig. 2-17). Na ovelha o esteróides ovarianos. O estrógeno secretado
volume do fluido no útero excede ao da trom- durante a fase pré-ovulatória parece ser res-
pa durante o cio, enquanto que durante a fase ponsável pela indução da síntese de
luteínica o inverso é verdadeiro. progesterona e estrógeno, e é através da sín-
tese desses receptores de progesterona que o
Proteínas Uterinas. O fluido endometrial estrógeno pré-ovulatório prepara o útero para
contém principalmente proteínas séricas, mas a subsequente proliferação progestacionaI.
há também pequenas quantidades de proteí- Proteínas específicas de origem uterina e/
nas específicas. A proporção de quantidades ou do produto da concepção foram identifi-
desta proteína varia de acordo com o ciclo cadas e caracterizadas durante o início da
reprodutivo. Diferenças de concentração, bem gestação em ovelhas; todavia, não se sabe ain-
como a distribuição dos componentes nos flui- da se algumas destas proteínas podem influ-
dos uterinos, comparadas ao soro sanguíneo enciar respostas imunes mediadas por célu-
fornecem evidências que ocorre secreção e las. Uma das proteínas, de cor púrpura, uma
inclusive transudação. Na coelha, uma pro- glicoproteína contendo ferro denominada
teína denominada blastoquinina (uteroglo- uteroferrin foi purificada (Basha et aI., 1980).
bulina) pode influenciar a formação de Secreções uterinas tomam parte no controle
blastocisto a partir da mórula, enquanto que da implantação e do crescimento embrioná-
o fluido uterino da camundonga contém um rIO.
fator que inicia a implantação. As secreções O fluido uterino apresenta duas importan-
uterinas propiciam um ambiente ótimo para tes funções: subministrar um ambiente favo-
a sobrevivência e a capacitação dos esperma- rável para a capacitação espermática e for-
tozóides, além da clivagem do blastocisto pri- necer condições nutritivas para o blastocisto
mário antes da implantação. até que se complete a implantação. Na vaca,
A diesterase glicerilfosforilcolina (GPC) nas o embrião permanece livre no meio por apro-
secreções uterinas atinge uma concentração ximadamente 30 dias, durante os quais ocor-
máxima por ocasião da ovu!ação em re grande diferenciação embrionária antes
consequência de ação estrogênica. Esta que o produto se una firmemente ao
enzima hidrolisa a glicerilfosforilcolina libe- endométrio.
rando glicerol e fosfoglicerol para utilização
pelos espermatozóides. As secreções uterinas
do proestro são responsáveis pelo início da Contração Uterina
captação assim como pelo estímulo do meta-
bolismo espermático. Em complemento a es- A contração do útero é coordenada com
tas proteínas secretoras, os altos níveis de movimentos rítmicos da trompa e ovário. Há
estrógenos associados à ovulação são respon- uma considerável variação na origem, dire-
sáveis pela indução da síntese de algumas ção, grau de amplitude e frequência das con-
proteínas -incluindo mucopolissacarídeos do trações no trato reprodutivo. Na coelha em
estroma, receptores hormonais de esteróides cio, as contrações uterinas são continuações
e enzimas que executam importantes funções de contrações das trompas e se movem ao lon-
dentro do próprio endométrio. go do corpo uterino da junção útero-tubárica
As secreções podem continuar sendo uma em direção à cérvice. De um modo geral, maio-
fonte importante de nutrição para o feto em res números de contrações uterinas se mo-
crescimento durante a fase de pós-implanta- vem em direção das trompas no início do cio,
ção da gestação. Este fato é particularmente porém em direção da cérvice após cessado o
verdadeiro em animais domésticos que apre- cio.
46 Anatomia Funcional da Reprodução

A dinâmica vascular uterina e a contra- Os hormônios ovarianos apresentam subs-


tilidade são moduladas por hormônios tancial envolvimento na regulação do meta-
esteróides ovarianos e aminas biogênicas. O bolismo uterino. O crescimento do útero (tanto
plexo vascular uterino recebe uma inervação a síntese protéica como as divisões celulares)
rica vasomotora que altera o fluxo sanguíneo é induzido por estrógeno; no processo ele uti-
uterino e o volume sanguíneo. Assim, a liza grande quantidade de energia sob a for-
vasculatura uterina apresenta inervações ma de ATP. As respostas progestacionais no
vasodilatadoras (colinérgicas) e vasocons- endométrio envolvem maior crescimento, no-
tritoras (adrenérgicas) que são moduladas por tável aumento em DNA e RNA e perda de
condições cíclicas (hormonais) (Garris et aI., água. Uma rápida modificação ocorre no me-
1984). tabolismo do endométrio, mais ou menos na
Durante o ciclo estral, a frequência de con- época em que o ovo passa através da junção
trações miometrais é máxima e imediatamen- útero-tubárica.
te após o cio. No cio, as contrações uterinas
originam-se na porção posterior do trato Função do Útero
reprodutivo e mais predominantemente em
direção ao oviduto. Durante a fase luteínica, O útero apresenta uma série de funções. O
a frequência de contrações é reduzida e ape- endométrio e seus fluidos têm grande rele-
nas uma pequena porcentagem move-se em vância no processo reprodutivo: (a) transpor-
direção aos ovidutos. O estradiol aumenta a te dos espermatozóides do local de ejaculação
frequência de contrações uterinas em ove- até o ponto da fertilização da trompa; (b) con-
lhas ovariectomizadas, onde a progesterona trole da função do corpo lúteo e (c) início da
reduz a frequência. Altos níveis de proges- implantação, gestação e parto.
terona são notados quando a atividade Transporte Espermático. Durante a cober-
contrátil está relativamente quiescente. Al- tura, a contração do miométrio é essencial
tos níveis de progesterona ligados ao estro para o transporte do espermatozóide do pon-
representam um papel na quiescência de to de ejaculação para o local da fertilização.
progesterona induzi da durante a fase Um grande número de espermatozóides agre-
luteínica do ciclo estraI. ga-se nas glândulas endometriais; o signifi-
cado fisiológico e imunológico deste fenôme-
no é desconhecido. À medida que os
Metabolismo Uterino espermatozóides são transportados através
da luz uterina para as trompas eles sofrem a
o endométrio metaboliza carboidratos, "capacitação" nas secreções endometriais.
lipídios e proteínas para suprir os requeri- Mecanismos Luteolíticos. Existe um ciclo
mentos necessários à nutrição celular, à rá- útero-ovariano local no qual o corpo lúteo es-
pida proliferação do tecido uterino e ao de- timula o útero para que este produza uma
senvolvimento do produto da concepção. substância, que por sua vez destrói o corpo
Variações metabólicas cíclicas neste tecido lúteo. O útero possui um importante papel
consistem de modificações na taxa de síntese no controle da função do corpo lúteo. Os cor-
de ácido nucléico, na avaliabilidade de glicose pos lúteos são mantidos funcionalmente ati-
e na quantidade de reservas de glicogênio. vos por longos períodos seguindo-se à
Estas reações dependem de quatro fenôme- histerectomia em vacas, ovelhas ou porcas.
nos: (a) as reações enzimáticas envolvidas no Caso pequenas porções de tecido uterino per-
metabolismo da glicose; (b) aumento da cir- maneçam in situ, a regressão luteínica ocor-
culação através das arteríolas espiraladas; (c) re e os ciclos recomeçam após variados perío-
alterações morfológicas que ocorrem no dos. Em seguida à histerectomia unilateral,
efldométrio e miométrio e (d) ação estimulan- os corpos lúteos adjacentes ao corno uterino
te dos hormônios ovarianos e outros hormô- retirado são melhor mantidos do que aqueles
nios. adjacentes ao corno remanescente (Fig. 2-21).
Anatomia da Reprodução Feminina 47

É possível que o útero produza ou partici-


pe na produção de alguma substância luteo-
lítica, e esta luteolisina uterina pode ser se-
letivamente transferi da da veia útero-ovárica
para a artéria que lhe é intimamente aderen-
te, atingindo assim o ovário em concentrações
muito maiores do que no sangue periférico. A
A administração intramuscular ou intra-
uterina de prostaglandina provoca regressão
luteínica completa na vaca e na ovelha. Infu-
sões de PGF2a na veia útero-ovariana de ove-
lhas também causam rápida regressão dos
corpos lúteos e uma queda nos níveis
plasmáticos de progesterona. A PGF2a pare-
ce ser a luteolisina uterina na ovelha, trans-
mitida por um trajeto venoarterial diretamen-
te do útero para o corpo lúteo, onde provoca a
regressão luteínica. B
O corno uterino gestante exerce um efeito
antiluteolítico ao nível do ovário adjacente.
Este efeito é exercido através de um trajeto
local útero-ovariano-venoarterial.
Na ovelha não-prenhe, o útero provoca re-
gressão do corpo lúteo por um mecanismo di-
reto e local entre o corno uterino e o ovário
adjacente. O trajeto local entre um corno
uterino e o ovário adjacente na ovelha é de
natureza venoarterial, envolvendo a princi-
pal veia uterina (ramo uterino da veia ovaria-
na) como elemento uterino e o ramo ovariano
da artéria ovárica como componente ovaria-
no.
A dilatação uterina e a irritação inibem o
desenvolvimento normal e a função dos cor-
pos lúteos cíelicos em vacas e ovelhas. Este ~PARTE REMOVIDA DO ÚTERO
mecanismo pode ter influência nos distúrbios
reprodutivos. A infusão de grande quantida- ~ CORPOS LÚTEOS EM REGRESSÃO
de de bactérias não-específicas dentro do útero
e a inseminação de novilhas com sêmen con-
~ CORPOS LÚTEOS PERSISTENTES

taminado por um vírus provocam a inibi- FIG. 2-21. Diagrama mostrando o efeito da
ção luteínica e induzem cios precoces. histerectomia parcial sobre a persistência dos cor-
pos lúteos em suínos. A, Histerectomia total du-
Implantação e Gestação. O útero é um ór- rante a fase luteínica provoca a retenção do corpo
gão altamente especializado e adaptado para lúteo por um período similar ao da gestação. B,
aceitar e nutrir os produtos da concepção des- Histerectomia unilateral e remoção parcial do ou-
de a implantação até o parto. Uma "diferen- tro corno, permanecendo apenas um fragmento de
ciação" uterina bem descrita, embora obscu- 20 cm de comprimento, provoca funcionalidade
assimétrica dos dois ovários. C, Os corpos lúteos
ramente definida, ocorre sob o comando dos do lado intacto são normalmente mantidos, en-
hormônios esteróides ovarianos. Este proces- quanto que os do outro lado regridem antes do 22Q
so deve evoluir para algum estágio crítico em dia da gestação. (Dados de Du Mesnil du Buisson
que o útero esteja preparado para aceitar se- (1961). Ann. Biol. Anim. Bioch. Biophys. 1,105.).
48 Anatomia Funcional da Reprodução

letivamente o blastocisto. Caso não ocorra tal


diferenciação, o útero não estará adaptado
para permitir a implantação.
Após a implantação, o embrião depende de
um suprimento vascular adequado dentro do
endométrio para o seu desenvolvimento. Du-
rante a gestação as propriedades fisiológicas
do endométrio e seu suprimento sanguíneo
são importantes para a sobrevivência e de-
senvolvimento do feto. O útero tem capacida-
de de sofrer modificações extraordinárias no
tamanho, estrutura e posição a fim de aco-
modar as necessidades do produto em cresci-
mento.
Parto e Involução Pós-parto. A resposta
contrátil do útero permanece quiescente até
a época do parto, quando então tem a partici-
pação mais destacada para a expulsão fetal. FIG. 2-22. Ilustração diagramática das modifica-
Após o parto, o útero quase readquire seu ções de tamanho e forma do útero de ruminantes
antigo tamanho e condição por um processo durante a gestação. Três úteros são mostrados no
chamado involução (Fig. 2-22). Na porca, o diagrama; o mais interno representa um útero não
útero diminui continuamente em peso e ex- prenhe; o mais externo representa um útero pre-
tensão durante 28 dias após o parto; poste- nhe antes do parto e o do meio representa um úte-
ro em processo de involução após o parto.
riormente ele permanece relativamente imu-
tável durante o período de lactação. No
entanto imediatamente após o desmame da
leitegada, o útero aumenta de peso e tama-
nho por 4 dias.
Durante o intervalo pós-parto, a destrui- estral subsequente será encurtado ou prolon-
ção do tecido endometrial é acompanhada pela gado dependendo de quando se deu a inser-
presença de um grande número de leucócitos ção do corpo estranho e da natureza e tama-
e pela redução do leito vascular endometrial. nho do material introduzido. O fato do ciclo
As células do miométrio são reduzidas em estral não ser afetado quando o segmento
número e tamanho. Estas alterações rápidas uterino contendo o corpo estranho tiver sido
e desproporcionais no tecido uterino são a enervado, mostra que o sistema nervoso é
possível causa do baixo índice de concepção responsável por esse efeito.
pós-parto. A involução uterina não é retarda- Embora os dispositivos intra-uterinos
da pela presença dos bezerros em amamen- (DIUs) apresentem efeito antifertilidade em
tação e nem por anemia da mãe. Os tecidos vários animais domésticos, aparentemente
carunculares se destacam e são repelidos do seu modo de ação varia bastante. O maior efei-
útero 12 dias após o parto. A regeneração do to antifertilidade dos DIUs parece ser exerci-
epitélio superficial sobre as carúnculas ocor- do entre o momento que o embrião entra no
re pelo crescimento do tecido circundante e útero e o momento da implantação. Por exem-
completa-se 30 dias após o parto. plo, a inserção de DIUs de grande diâmetro
Efeitos de Corpos Estranhos e DIUs. O (que distendem o útero) em ovelhas e vacas
estímulo do útero durante o início do ciclo resulta em alteração do ciclo estral caracte-
estI"a1 apressa a regressão do corpo lúteo e rizada pelo encurtamento da atividade funcio-
provoca cio precoce. O estímulo uterino pode nal do corpolúteo. Na ovelha os DlUs de gran-
ser desencadeado pela colocação de um pe- de diâmetro inibem o transporte espermático
queno corpo estranho dentro do útero. O ciclo e a fertilização.
Anatomia da Reprodução Feminina 49

CÉRVICE UTERINA dispõem-se em forma de saca-rolhas, adap-


tando-se à extremidade torcida em espiral do
A cérvice uterina é uma estrutura seme- pênis do macho. Na égua, são características
lhante a um esfíncter que se projeta as visíveis dobras da mucosa e as alças que
caudalmente na vagina (Fig. 2-23). A cérvice se projetam para dentro da vagina.
é um órgão fibroso composto predominante- A cérvice permanece firmemente fechada,
mente de tecido conjuntivo e muito pouco de exceto durante o cio, quando relaxa-se leve-
tecido muscular presente. Desde que as pro- mente, permitindo a entrada dos esperma-
priedades do tecido conjuntivo dependem do tozóides no útero. O muco saído da cérvice é
tipo, da concentração e das interações das expelido pela vulva.
moléculas que compõem a matriz
extracelular, as características funcionais da
cérvice são alteradas dramaticamente pelas Estroma Cervical e Modificações
modificações nestes parâmetros (Fig. 2~24). Fisiológicas
A cérvice caracteriza-se por uma espessa
parede e uma luz constrita. Embora a cérvice O tecido conjuntivo do estroma cervical é
difira em detalhes entre os mamíferos domés- feito de substância básica, de constituintes
ticos, o canal cervical é caracterizado por vá- fibrosos e de elementos celulares. A substân-
rias proeminências. Nos ruminantes estas cia básica contém proteoglican e ácido
têm a forma transversa ou espiralada com hialurônico, sulfato de condroitina-4,6, sulfato
saliências fixas conhecidas por anéis anula- dermatânico, sulfato heparânico e sulfato de
res, que apresentam vários graus de desen- ceratan associados com proteínas. Os consti-
volvimento nas diferentes espécies (Figs. 2- tuintes fibrosos incluem colágeno, elastina e
25 e 2-26). Na vaca, são especialmente reticulina. Os elementos celulares compreen-
proeminentes (geralmente quatro anéis) e na dem mast células, fibroblastos, e células er-
ovelha adaptam-se um no outro, ocluindo a rantes. O colágeno é feito de cadeias de vá-
cérvice com segurança. Na porca, os anéis rios aminoácidos como a glicina, a prolina, a

FIG. 2-23. Morfologia e histologia da cérvice. A,


Cérvice (cortada de forma aberta) de uma novilha
4 dias após o cio. Notar os anéis ao redor do canal
cervical. B, Microfotografia eletrônica de varredu-
ra da cérvice bovina. Notar a complexidade das
criptas cervicais (59X).

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