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I.

anatomia funcional
da reprodução
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ANATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA
RR ASHDOWN e E.S.E. HAFEZ

As gônadas masculinas, os testículos, lo- corpos cavernosos formando o corpo do pênis,


calizam-se exteriormente no abdômen dentro que situa-se por baixo da pele da parede
do escroto, estrutura em forma de bolsa deri- corpórea. Um certo número de músculos
vada da pele e fáscia da parede abdominal. grupados ao redor da saída pélvica contribui
Cada testículo situa-se dentro do processo para formar a raiz do pênis. O ápice ou extre-
vaginal, extensão separada do peritônio que midade livre do pênis é coberto por pele mo-
passa através da parede abdominal pelo ca- dificada - o tegumento peniano; em condição
nal inguinal. Os anéis inguinais interno e de repouso ele permanece encerrado dentro
externo são as aberturas profunda e superfi- do prepúcio. As características topográficas
cial do canal inguinal. Os vasos sanguíneos e dos órgãos de importantes espécies animais
nervos atingem os testículos no cordão estão demonstradas na Figura 1-1. Descrições
espermático, que localiza-se dentro do proces- detalhadas dos órgãos são fornecidas por
so vaginal; o duto deferente acompanha os Nickel et aI. (1973).
vasos porém abandona-os no orifício do pro- Os testículos e epidídimos são irrigados
cesso vaginal para juntar-se à uretra. Além com sangue da artéria testicular, que se ori-
de permitir a passagem do processo vaginal e gina da aorta dorsal próximo à localização
seus componentes, o canal inguinal também embrionária dos testículos. A artéria pudenda
dá passagem a vasos e nervos que suprem a interna supre a genitália pélvica e seus ra-
genitália externa. mos deixam a pelve no arco isquiático para
Os espermatozóides abandonam os testí- suprir o pênis. A artéria pudenda externa
culos pelos canais eferentes que penetram no deixa a cavidade abdominal via canal inguinal
duto tortuoso dos epidídimos, continuando no a fim de suprir o pênis, o escroto e o prepúcio.
duto deferente reto. Glândulas acessórias li- A linfa dos testículos e dos epidídimos passa
beram seus conteúdos para o interior dos para os nódulos linfáticos aórticos lombares.
dutos deferentes ou na porção pélvica da A linfa das glândulas acessórias, da uretra e
uretra. do pênis passa para os nódulos ilíacos mediais
A uretra origina-se no colo da bexiga. Em e sacrais. A linfa do escroto, prepúcio e teci-
toda sua extensão ela é cercada por tecido dos peripenianos é drenada para os nódulos
vascular cavernoso. A sua porção pélvica, cir- linfáticos inguinais superficiais.
cundada por músculo uretral estriado e rece- Nervos aferentes e eferentes (simpáticos)
bendo secreções de várias glândulas, passa acompanham a artéria testicular aos testícu-
para uma segunda porção peniana na saída los. O plexo pélvico supre fibras autônomas
pélvica. Nesta região ela é unida por mais dois (simpáticas e paras simpáticas) para a

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4 Anatomia Funcional da Reprodução

TOURO

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vg

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FIG. 1.1. Diagr.ama do trato reprodutivo masculino visto em dissecção lateral esquerda. a, Ampola; bu, glândula
bulbouretral; capo e, cabeça do epidídimo; caud. e, cauda do epidídimo; cp, pedúnculo esquerdo do pênis, separado do
ísquio esquerdo; dd, duto deferente; ds, divertículo dorsal do prepúcio; es, prepúcio externo; te, extremidade livre do
pênis; is, prega prepucial;pg, glândula prostática; r, reto; rp, músculo retratar do pênis; s, escroto; sf, flexura sigmóide;
t, testículo; up, processo uretral; vg, glândula vesicular. (Adaptado de Popesko (1968). Atlas der topographischen
Anatomie der Haustiere. VoI. 3, Jena, Fischer.)

genitália pélvica e para os músculos lisos do ao duto mesonéfrico, para formar o epidídimo,
pênis. Nervos sacros suprem fibras motoras o duto deferente e a glândula vesicular. A
para os músculos estriados do pênis e fibras próstata e as glândulas bulbouretrais for-
sensitivas para a extremidade livre do pênis. mam-se a partir do sinus urogenital embrio-
Fibras aferentes do escroto e do prepúcio di- nário e o pênis forma-se pela tubulação e alon-
rigem-se principalmente ao nervo genito- gamento de um tubérculo que se desenvolve
femoral. no orifício do sinus urogenital.
Dois agentes produzidos pelos testículos
DESENVOLVIMENTO fetais são responsáveis por esta diferencia-
ção e desenvolvimento (Gondos, 1980).
Desenvolvimento Pré-natal Andrógenos fetais são responsáveis pelo de-
senvolvimento do trato reprodutivo masculi-
Os testículos desenvolvem-se no abdômen, no. A "substância.inibidora MüIleriana", uma
medialmente ao rim embrionário (meso- glicoproteína, é responsável pela supressão
nefros). O plexo de dutos dentro do testículo dos dutos paramesonéfricos (MüIlerianos) a
liga-se aos túbulos mesonéfricos e deste modo partir dos quais desenvolvem-se o útero e a
Anatomia da Reprodução Masculina 5

vagina (Vigier et aI., 1983). Anormalidades testis. O tempo de descida varia (Tabela 1-1).
na diferenciação e no desenvolvimento das No garanhão, o epidídimo comumente pene-
gônadas e dos dutos podem resultar em va- tra no canal inguinal antes do testículo e a
riados graus de intersexualidade (Hare e porção do ligamento inguinal que liga os tes-
Singh, 1979). tículos e epidídimos (ligamento próprio do
testículo) permanece extensa até após o nas-
Descida dos Testículos cimento.
Ocasionalmente, o testículo pode falhar de
Durante a descida testicular (Wensing, entrar no escroto. Nesta condição (crip-
1986), a gônada migra caudalmente dentro torquidismo) as necessidades térmicas espe-
do abdômen para o anel inguinal interno. ciais dos testículos e epidídimos não são su-
Atravessa então a parede abdominal, emer- pridas, embora a função endócrina dos
gindo no anel inguinal superficial, que é na testículos não seja prejudicada. Por esta ra-
realidade, o forame muito aumentado do ner- zão machos criptorquídeos bilaterais demons-
vo genitofemoral (L3, L4). O testículo com- tram desejo sexual mais ou menos normal,
pleta a migração localizando-se totalmente no mas são estéreis. Ocasionalmente alguma
escroto. A descida é precedida pela formação víscera abdominal passa através do processo
doprocesso vaginal, uma dilatação peritoneal vaginal e penetra no escroto; a hérnia escrotal
que se estende através da parede abdominal é particularmente comum em suínos.
envolvendo o ligamento inguinal do testícu-
lo. O ligamento inguinal da gônada é Desenvolvimento Pós-natal
comumente chamado de gubernaculum testis
e termina na região dos rudimentos escrotais. Cada componente do trato reprodutivo de
A descida obedece a linha do gubernaculum todos os animais domésticos cresce em tama-

TABELA 1-1. Cronologia do Desenvolvimento do '!rato Reprodutivo Masculino em


Animais Domésticos
Touro Carneiro Varrão Garanhão

Descida testicular Entra no escroto na Entra no escroto na Entra no escroto na Entra no escroto antes
metade da vida metade da vida última quarta ou logo após o
escrotal escrotal parte da vida nascimento
fetal
Espermatócitos 24 semanas 12 semanas 10 semanas Variável nos túbulos
primários nos seminíferos de cada
túbulos testículo
seminíferos
Espermatozóides 32 semanas 16 semanas 20 semanas 56 semanas (variável)
nos túbulos
seminíferos
Espermatozóides 40 semanas 16 semanas 20 semanas 60 semanas (variável)
na cauda do
epidídimo
Espermatozóides 42 semanas 18 semanas 22 semanas 64-96 semanzas
na ejaculação
Acabamento de 32 semanas >10 semanas 20 semanas 4 semanas
separação
entre o pênis e
a porção
peniana do
prepúcio
Idade em que o 150 semanas >24 semanas 30 semanas 90-150 semanas
animal pode (variável)
ser considera-
do sexualmen-
te "maduro"
6 Anatomia Funcional da Reprodução

nho relativo ao volume corpóreo total e passa


por diferenciação histológica, porém a com-
petência funcional não é atingida simultanea-
mente por todos os constituintes do sistema m
reprodutivo. Assim, no touro, a capacidade de
ereção do pênis precede por vários meses o
aparecimento de espermatozóides na pp
ejaculação. Em carneiros, o segmento termi-
nal do epid~dimo fica morfologicamente "adul-
to" com 6 semanas, embora o segmento ini- ta
cial não se comporte de modo semelhante até
18 semanas (Nilnophakoon, 1978). Na puber-
dade todos os componentes do sistema
reprodutivo masculino atingiram um estágio
suficientemente avançado de desenvolvimen-
to para serem funcionais em seu todo. O perío-
do de rápido desenvolvimento que precede a
puberdade é conhecido como período pré-
caude
puberal, embora em várias oportunidades,
este próprio período seja referido como "pu- ta
berdade". Durante o período pós-puberal, o
desenvolvimento continua e o trato
reprodutivo atinge plena maturidade sexual
meses e até anos após a idade da puberdade. FIG. 1-2. Vista diagramática lateral do testículo
Em garanhões, ocorrem significantes aumen- esquerdo de um garanhão, mostrando a disposição
tos no peso testicular, na produção das artérias e veias. capo e, Cabeça do epidídimo;
caud. e, cauda do epidídimo; dd, duto deferente;
espermática diária e nas reservas m, mesórquio; mu, veia marginal do testículo;pp,
espermáticas epididimárias aos 15 anos de plexo pampiniforme de veias; ta, artéria testicu-
idade. Algumas importantes modificações lar; tu, veia testicular. (Adaptado de Tagand e
anatômicas que ocorrem durante o desenvol- Barone (1956). Anatomie des Équidés
Domestiques. 2, iii, Lyons, École Nat. Vet.)
vimento pós-natal encontram-se resumidas
na Tabela 1-1.

O tamanho testicular varia durante o ano


TESTÍCULO E SACO ESCROTAL nos reprodutores estacionais (carneiro,
garanhão, camelo). A remoção de um testícu-
O testículo está seguro à parede do proces- lo resulta em considerável aumento da gônada
so vaginal ao longo da linha de sua união remanescente (há um aumento de até 80%
epididimária (Fig. 1-2). A posição dentro do no peso). No animal criptorquídeo unilateral,
saco escrotal e a direção do eixo maior em a remoção do testículo que se encontra na
relação ao corpo do animal difere segundo as bolsa escrotal pode ser acompanhada da des-
espécies (Fig. 1-1). A distribuição dos túbulos cida do testículo abdominal à medida que este
e dutos dentro do testículo em touros está aumenta de tamanho.
demonstrada na Figura 1-3. As característi- As células intersticiais (Leydig), situadas
cas histológicas e citológicas dos componen- entre os túbulos seminíferos, secretam os
tes celulares dos túbulos seminíferos estão hormônios masculinos para o interior das
resumidas na Tabela 1-2 e ilustradas na Fi- veias testiculares e vasos linfáticos. As célu-
gura 1-11 (ver também Hafez, 1975). A rete las espermatogênicas do túbulo dividem-se e
testis é delineada por um epitélio cubóide não diferenciam-se para formar os esper-
secretor (Goyal/Williams, 1987). matozóides. Imediatamente antes da puber-
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30 X 106g de tecido testicular. A produção


espermática aumenta de acordo com a idade
no período pós-puberdade e está sujeita a
modificações estacionais em muitas espécies.
A castração de machos pré-púberes suprime
o desenvolvimento sexual. Modificações re-
gressivas no comportamento e na estrutura
surgem após a castração de machos adultos.
A castração é um procedimento padrão na
indústria animal para modificar o comporta-
mento agressivo masculino e eliminar quali-
corp.e dades de carcaça indesejáveis, p. ex., o odor
do cachaço. A testosterona exerce alguns efei-
rl tos escassos sobre o metabolismo protéico,
sendo que atualmente há uma certa tendên-
dcI----.- cia para a utilização de machos inteiros para
a produção de carne.

Termorregulação Testicular

Para um funcionamento eficaz, os testícu-


los dos mamíferos devem ser mantidos em
temperatura inferior à do corpo. Caracterís-
ticas anatômicas dos testículos e do saco
escrotal permitem a regulação da tempera-
FIG. 1-3. Desenho esquemático do sistema tubu-
tura testicular. Receptores de temperatura
lar do testículo e epidídimo de touro (para
elucidação o sistema de dutos da rete testis foi situados na pele escrotal podem proporcionar
omitido). capo e, Cabeça do epidídimo; caud. e, respostas que tendem a baixar a temperatu-
cauda do epidídimo; corpo e, corpo do epidídimo; ra corpórea total, provocando dificuldade de
dd, duto deferente; de, duto do epidídimo; ed, respiração e sudorese (Robertshaw e Vercoe,
dúctulo eferente; lb, lóbulo com túbulos 1980). A pele escrotal é notavelmente falha
seminíferos; rt, rete testis; st, túbulo reto; t,
testículo. (Simplificado de Blom e Christensen em gordura subcutânea. Ela é extremamen-
(1960). Nord. Veto Med. 12, 453.) te dotada de grandes glândulas sudoríparas
adrenérgicas, e o seu componente muscular
(dartos) propicia alterar a espessura e a área
dade, as células sustentaculares (Sertoli) do superficial do escroto, além de variar a proxi-
túbulo formam uma barreira (Vazama et aI., midade de contato dos testículos com a pare-
1988) que isola as células germinativas em de corpórea. No cavalo, esta ação pode ser
diferenciação da circulação geral. Estas célu- sustentada pelo músculo liso no interior do
las sustentaculares contribuem para a pro- cordão espermático e túnica albugínea, que
dução de fluidos pelo túbulo e podem produ- tem a capacidade de abaixar ou elevar os tes-
zir o fator inibidor Mülleriano encontrado na tículos. Em temperaturas frias, esta muscu-
rete testis de machos adultos (Vigier et aI., latura lisa se contrai, elevando os testículos,
1983). As células sustentaculares não aumen- enrugando e espessando a parede escrotal.
tam em número após a puberdade ter sido Em temperaturas quentes, os músculos rela-
atingida. Este fato pode limitar a xam, abaixando os testículos para o saco
espermiogênese (Hochereau-de-Reviers et aI., escrotal penduloso e com paredes finas. As
1987; Johnson e Tatum, 1989). A produção vantagens oferecidas por estes mecanismos
espermática diária varia de acordo com as são favorecidas pela especial relação das vei-
espécies, porém calcula-se em torno de 15 a as e artérias.
8 Anatomia Funcional da Reprodução

TABELA 1-2. Histologia Funcional do Thstículo


Segmento Características Histológicas

Túnica albugínea Cápsula espessa e branca de tecido conjuntivo circundando o testículo; constituída
principalmente de séries interlaçadas de fibras colágenas com núcleos alongados
e planos dos fibroblastos.
Túbulos seminíferos Aparecem como grandes estruturas isoladas, perfis arredondados ou oblongos,
aparência variável devido ao complexo espiralado dos túbulos em muitos
diferentes ângulos e níveis. Entre os túbulos situam-se vasos sanguíneos de
diâmetro variável (menores do que os túbulos) agrupados com eritrócitos e
embutidos em pequenas massas de células intersticiais (Leydig), que produzem
os hormônios sexuais masculinos. Cordões de tecido conjuntivo formam uma
fina camada ao redor de cada túbulo.
Espermatogônias Localizam-se na região mais afastada do túbulo; núcleos arredondados aparecem
como uma camada irregular dentro do tecido conjuntivo circundante. Os núcleos
podem ser reconhecidos com corante escuro, de tamanho pequeno, devido à
presença de grande número de grânulos de cromatina.
Espermatócitos primários Localizados no interior de uma camada irregular de espermatogônias e células de
Sertoli; os núcleos são sensivelmente maiores do que os das espermatogônias e
coram-se de maneira mais clara, embora ainda possuam uma quantidade
considerável de cromatina granular.
Espermatócitos secundários Divisões de maturação e espermatócitos secundários não são visualizados no túbulo
médio devido à curta duração destes estágios.
Espermátidas Localizadas internamente aos espermatócitos primários. As células são pequenas
e arredondadas com núcleos claros à coloração. Camadas de espermátidas podem
ser várias células em espessura. Os espermatozóides situam-se ao longo da
margem da luz; suas caudas longas estendem-se para o interior da cavidade
como estruturas filamentosas, com as cabeças aparecendo como pequenos pontos
escuros à coloração ou como linhas curtas. As cabeças espermáticas estão
acomodadas em profundas reentrâncias da superficie da célula de Sertoli, porém
na realidade, nunca dentro do citoplasma.
Células de Sertoli Grandes e relativamente claras, excetuando-se os nucléolos proeminentes e
escuros à coloração. O citoplasma é difuso, com limites indefinidos.

Em todos os animais domésticos, a artéria ra e umidade podem provocar significantes


testicular é uma estrutura enrolada em for- aumentos de espermatozóides anormais em
ma de cone, cuja base repousa no pólocranial touros, carneiros e cachaços.
ou dorsal do testículo (Fig. 1-2). Estas espi-
rais arteriais estão intimamente enredadas
pelo chamado plexo pampiniforme das veias EPIDÍDIMO E DUTOS DEFERENTES
testiculares (Hees et aI., 1990). Neste meca-
nismo de contracorrente, o sangue arterial No epidídimo são reconhecidas três partes
que entra nos testículos é resfriado pelo san- anatômicas (Fig. 1-3). A caput epididymidis
gue venoso que os deixa. No carneiro, a tem- (cabeça), onde um número variável de dútulos
peratura do sangue da artéria testicular so- eferentes (13 a 20) (Hemeida et aI., 1978) liga-
fre uma queda de 4 °C em seu curso do anel se ao duto do epidídimo, forma uma estrutu-
inguinal superficial até a superfície testicu- ra plana aplicada a um pólo do testículo. Em
lar; o sangue nas veias é aquecido a um grau seguida, a cabeça liga-se ao estreito corpus
similar entre o testículo e o anel superficial. epididymidis (corpo) que termina no pólo
A posição das artérias e veias junto à superfí- oposto na dilatada cauda epididymidis (cau-
cie do testículo tende a aumentar a perda di- da). O contorno da cauda do epidídimo é uma
reta de calor testicular. No cachaço, o escroto característica visível no animal vivo. A cabe-
é menos penduloso (Fig. 1-1) e a sudorese ça, corpo e cauda do epidídimo são claramen-
menos eficiente; tais fatos podem explicar a te menos diferenciados no garanhão do que
menor diferença entre as temperaturas em outras espécies domésticas. No potro, a
escrotais e retais (2,3 °C)(Stone, 1981).Perío- união entre epidídimo e testículo é bastante
dos relativamente curtos de alta temperatu- frouxa.
Anatomia da Reprodução Masculina 9

FIG. 1-4. A, Superfície luminal de um duto eferente com células cHiadas e não-cHiadas e um
espermatozóide. B, Microvilosidades curtas na superfície luminal de células não-ciliadas nos dutos
eferentes. Uma gota citoplasmática (CD), o acrossomo (A) e a peça intermediária (MP) são visualizados
por SEM (6.500 X). C, Corte transversal da cauda distal do epidídimo. Camadas espessas de músculo
liso circundam o epitélio totalmente sem dobras (25 X). D, Corte sagital do corpo do epidídimo. Células
colunares cobertas de estereocílios. As ondulações são devido às diferenças de altura celular (276 X).
(Johnson, L. et aI. (1978). Am.J.Vet.Res. Cortesia do Dr. Larry Johnson.)

A porção média de cada duto eferente mos- coincidem com as regiões anatômicas
tra marcante atividade secretora (Goyal et aI., macroscópicas (Amann, 1987).
1988). O duto convoluto do epidídimo é bas- Existe uma diminuição progressiva na al-
tante longo (touro, 36 m; cachaço, 54 m). Ca- tura do epitélio e dos estereocílios e um alar-
racterísticas histológicas estão demonstradas gamento da luz através dos três segmentos.
na Figura 11-4. A parede do duto do epidídimo Os dois primeiros segmentos estão relaciona-
tem uma camada proeminente de fibras mus- dos com a maturação espermática, enquanto
culares circulares e um epitélio pseudo- que O segmento terminal serve para
estratificado de célulàs colunares. armazenamento espermático. A camada
Histologicamente, podem ser reconhecidas epitelial do epidídimo consiste de diferentes
três regiões do duto do epidídimo; estas não espécies de células; células colunares princi-
10 Anatomia Funcional da Reprodução

FIG. 1-5. Micrografias eletrônicas de varredura


de componentes testiculares. A, Corte transversal
de um túbulo seminífero (ST). Notar vários
"estágios" de espermatogênese, encaixados em um
tecido muscular limitante (B) composto de células
mióides, fibras colágenas e uma matriz
glicoprotéica (438 X). B, Clone de espermátidas
alongadas de um testículo de cão. Notar inserção
dentro do citoplasma das células de Sertoli (S). As
espermátidas do lado direito mostram com
evidência a relação do núcleo (Nu) e a ligação
citoplasmática (A) da espermátida com a célula de
Sertoli (2.640 X). C, Células de Sertoli cônicas
projetam-se da membrana basal, onde estão
obscurecidas por fibras colágenas, para a luz do
túbulo; espermátidas arredondadas com flagelos
aparecem no lado direito (T). (930 X). (C.J. Connell
(1978). Spermatogenesis. In Scanning Electron Mi-
croscopy of Human Reproduction. E.S.E. Hafez
(ed.). Ann Arbor, MI, Ann Arbor Science Pubs.)

pais, pequenas células basais sobre a mem- separada de peritônio; nestas condições, ele é
brana basal e alguns linfócitos. prontamente separável do resto do cordão
A luz dos túbulos epididimários é delineada espermático (Figs. 1-2, 1-3).
com epitélio feito de uma camada basal de A mucosa do duto deferente é atirada para
pequenas células e uma camada superficial dentro de dobras longitudinais. Próximo à
de células ciliadas colunares altas. Massas de extremidade final do epidídimo, o epitélio as-
espermatozóides são frequentemente encon- semelha-se ao deste órgão. As células não-
tradas na luz. Os espaços entre os túbulos são ciliadas apresentam pouca atividade
preenchidos com tecido conjuntivo frouxo. secretora. A luz é delineada com epitélio
O duto deferente deixa a cauda do pseudo-estratificado. A ampola do duto defe-
epidídimo e fica sustentado em uma dobra rente é abastecida com ramos de glândulas
Anatomia da Reprodução Masculina 11

tubulares que, no garanhão, são bastante GLÂNDULAS ACESSÓRIAS


desenvolvidas e contribuem com ergotioneína
para o ejaculado. O duto ejaculatório penetra A próstata, as glândulas vesiculares e as
na uretra; em ruminantes e equinos, ele é for- glândulas bulbouretrais emitem suas secre-
mado pela união com o duto da glândula ções para dentro da uretra onde, por ocasião
vesicular. A absorção de fluidos e a da ejaculação, são misturadas com a suspen-
espermiofagia se dão no epitélio do duto são fluida de espermatozóides e com as se-
ejaculatório (Abou-Elmagd e Wrobel, 1990). creções ampolares dos dutos deferentes (Fig.
A microscopia eletrônica de varredura tem 1-6). Todas as glândulas acessórias são essen-
sido utilizada para avaliar a ultra-estrutura cialmente do tipo lobularramificadotubular
funcional dos órgãos reprodutivos masculinos com musculatura lisa proeminente no tecido
(Fig. 1-4) com ênfase na espermatogênese intersticiaI. Weber et aI. (1990) demonstra-
(Fig. 1-5). Grandes volumes de fluidos (até 60 ram modificações volumétricas nas glându-
ml no carneiro) abandonam os testículos dia- las acessórias de garanhão resultantes de
riamente, sendo que a maioria é absorvida estímulo sexual (volume aumentado) e de
na cabeça do epidídimo pelo segmento inicial ejaculação (volume reduzido). Diferenças
do duto do epidídimo. O transporte dos anatômicas entre espécies domésticas estão
espermatozóides através do epidídimo leva resumidas na Figura 1-7.
cerca de 9 a 13 dias nas espécies domésticas
julgando-se que seja devido ao fluxo do fluido Anatomia Comparada
da rete, à atividade do epitélio ciliado dos
dútulos eferentes e às contrações da parede Glândulas Vesiculares. Estão situadas
muscular do duto do epidídimo. A maturação lateralmente às porções terminais de cada
dos espermatozóides ocorre durante a passa- duto deferente. Nos ruminantes elas são com-
gem através do epidídimo; a motilidade au- pactas e lobuladas. Nos suínos elas são gran-
menta à medida que os espermatozóides en- des e menos compactas. Nos equinos são gran-
tram no corpo do epidídimo. O ambiente dos des bolsas glandulares piriformes. O duto da
espermatozóides na cauda do epidídimo glândula vesicular e os dutos deferentes po-
subministra fatores que aumentam o valor da dem participar de um orifício ejaculatório co-
habilidade fertilizante; os espermatozóides mum que se abre dentro da uretra.
desta região promovem maior fertilidade do Glândula Prostática. Uma distinta par-
que aqueles do corpo do epidídimo (Amann, te lobulada externa ou corpo situa-se exter-
1987). namente ao espesso músculo uretral, e uma
Os espermatozóides armazenados no segunda parte interna disseminada que cir-
epidídimo retêm a capacidade fertilizante por cunda a uretra pélvica profundamente ao
várias semanas; a cauda do epidídimo é o músculo uretraI. A próstata disseminada es-
principal órgão de armazenamento, e contém tende-se caudalmente tanto quanto os dutos
cerca de 75% de todos os espermatozóides das glândulas bulbouretrais. O corpo da prós-
epididimários. A especial habilidade da cau- tata é pequeno no touro e grande no porco,
da do epidídimo para estocar espermatozóides enquanto que não é visível nos pequenos ru-
depende de baixas temperaturas do escroto e minantes. No cavalo, a glândula prostática é
da ação do hormônio sexual masculino totalmente externa.
(Foldesy e Bedford, 1982). Espermatozóides Glândulas Bulbouretrais. Elas são
armazenados na ampola constituem apenas dorsais à uretra, próximas à extremidade de
uma pequena parte das reservas totais de sua porção pélvica. No touro são quase ocul-
espermatozóides extragonadais. Pequeno tas pelo músculo bulboesponjoso, e em todas
número de espermatozóides imóveis aparece as espécies são recobertas por espessa cama-
nos ejaculados colhidos semanas e mesmo da de músculo estriado bulboglandular. Elas
meses após a castração e são derivados prin- são grandes no porco e contribuem para a for-
cipalmente da ampola. mação da substância gelatinosa do sêmen
12 Anatomia Funcional da Reprodução

a vg

pel. ti

FIG. 1-6. Diagrama mostrando a disposição das glândulas que descarregam dentro da uretra pélvica do
touro. a, Ampola; bu, glândula bulbouretral; dd, duto deferente; pb, corpo de glândula prostática; pd,
porção disseminada da glândula prostática; Fel. u, uretra pélvica; pen.u, uretra peniana; u, ureter; ub,
bexiga; ug, glândula vesicular

desta espécie. Nos ruminantes e no porco, os e são caracterizadas por alto conteúdo de
dutos das glândulas bulbouretrais abrem-se ergotioneína e inositoI.
para dentro do recesso uretral, situado Os espermatozóides da cauda do epidídimo
dorsalmente (Garrett, 1987), o que pode im- são capazes de fertilizar quando inseminados
pedir a passagem de um cateter nessas espé- sem a adição de secreções das glândulas aces-
CIes. sórias. A fração gelatinosa do sêmen de porco
Glândulas Uretrais. O touro carece de forma um tampão na vagina das fêmeas co-
glândulas uretrais comparáveis às encontra- bertas, embora na prática da inseminação
das no homem (Kainer et aI., 1969). Glându- comercial esta fração seja removida do sêmen
las com essa denominação no cavalo têm sido por filtração.
consideradas como comparáveis à próstata Nas grandes espécies animais é possível a
disseminada dos ruminantes, porém no por- palpação das glândulas acessórias por via
co, a próstata disseminada e as glândulas retaI. As posições dessas glândulas em rela-
uretrais são histologicamente distintas ção a pelve óssea são mostradas na Figura 1-
(McKenzie ét aI., 1938). 7.
No porco, o tamanho das glândulas bulbo-
Função uretrais pode ser utilizado para diferenciar o
criptorquidismo da situação de castração.
Apesar de fornecer um veículo líquido para Após a castração pré-puberal, as glândulas
o transporte dos espermatozóides, a função bulbozuretrais são pequenas; com 100 kg de
das glândulas acessórias é obscura, embora peso corpóreo, cada glândula apresenta cer-
muito se saiba sobre os agentes químicos es- ca de 5 cm de comprimento e pesa menos de 1
pecíficos com que elas contribuem para as g. Em porcos com testículos retidos, as glân-
ejaculações (Spring-Mills e Hafez, 1979, dulas são de tamanho normal; cada uma apre-
1980). A frutose e o ácido cítrico são compo- senta acima de 10 cm de comprimento e pesa
nentes importantes da secreção das glându- 45 g quando o animal atinge 100 kg de peso
las vesiculares dos ruminantes domésticos. corpóreo (Lauwers et aI., 1984). Estas dife-
Somente o ácido cítrico é encontrado nas glân- renças podem ser facilmente sentidas, ven-
dulas vesiculares do equino; as glândulas tralmente ao reto, com um dedo inserido no
vesiculares dos suínos contêm pouca frutose ânus (Fig. 1-7).
Anatomia da Reprodução Masculina 13

dd
dd

ub
a a

vg vg

bu
ic

TOURO CARNEIRO

dd
ub
a

vg

pb

bs

INTEIRO CASTRADO
VARRÕES GARANHÃ O

FIG. 1-7. Diagrama das genitálias pélvicas, dentro dos ossos pélvicos, vistos dorsalmente. (As porções
craniais do ílio foram removidas.) a, Ampola; bs, músculo bulboesponjoso; bu, glândula bulbouretral; dd,
duto deferente; ic, músculo isquiocavemoso;pb, corpo da glândula prostática;pel. u, uretra; rp, músculo
retrato r do pênis; ub, bexiga; ug, glândula vesicular. (Diagramas de touro, varrão e garanhão copiados
de Nickel (1954). Tierãrztl. Umschau 9, 386.)
14 Anatomia Funcional da Reprodução

ic

cp

ccp

da!

rp
-----...
~

FIG. 1.8. Diagrama mostrando os mecanismos da ereção em um ruminante. (1) Vaso dilatação da artéria
peniana (ap) aumenta o fluxo sanguíneo para os espaços cavernosos do pedúnculo peniano (ep) através
da artéria profunda do pênis (app). (2) "Bombeamento" de contrações do músculo isquiocavernoso (ie)
puxa o pedúnculo peniano em direção cranial contra o arco isquiático (ai), ocluindo as veias profundas
(app, vpp) e comprimindo o pedúnculo peniano. (3) Compressão do pedúnculo peniano força a saída do
sangue para o eorpus eavernosum penis (eep), através dos espaços cavernosos longitudinais ("canais da
ereção"; lee), elevando a pressão intracorpórea a níveis bastante altos. (4) Preenchimento de tecido
cavernoso dorsal especial (set) na curvatura distal da flexura sigmóide elimina a flexura à medida que o
músculo retrato r do pênis (rp) relaxa. (5) Término do "bombeamento" de contrações do músculo
isquiocavernoso permite que o sangue reflua para os espaços cavernosos do pedúnculo peniano, drenando
assim através das veias penianas profundas (vpp) para a veia peniana (vp). O diagrama mostra inclu-
sive o ligamento apical dorsal (dal).

PÊNIS E PREPÚCIO controla o efetivo comprimento do pênis por


sua ação na flexura sigmóide.
Estrutura No equino, os corpos cavernosos apresen-
tam grandes espaços; durante a ereção há um
No pênis de mamíferos, três corpos caver- considerável aumento de tamanho devido ao
nosos estão agregados ao redor da uretra acúmulo de sangue nesses espaços. No touro,
peniana (Figs. 1-8 e 1-9). O corpus spongiosum carneiro e porco, os espaços cavernosos do
penis que circunda a uretra é ampliado no corpus cavernosum penis são pequenos, com
arco isquiático para formar o bulbo peniano. exceção nos pedúnculos e na curvatura distal
Este bulbo é recoberto pelo músculo bulbo- da flexura sigmóide. Os espaços cavernosos
esponjoso estriado. O corpus cavernosum do corpus spongiosum penis são grandes, po-
penis origina-se como um par de pedúnculos rém a distensão é limitada pela túnica
do arco isquiático sob o músculo albugínea. Nos ruminantes e suínos, a ere-
ischiocavernosus. O corpus cavernosum penis ção resulta do influxo de um volume relativa-
continua para o ápice do pênis, mais ou me- mente pequeno de sangue.
nos como um corpo cavernoso dorsal empare- Os tecidos subcutâneos da extremidade li-
lhado. Uma espessa cobertura (túnica vre do pênis, em algumas espécies, formam
albugínea) recobre os corpos cavernosos. Em um corpo cavernoso bem desenvolvido, o
ruminantes e suínos o músculo retractar penis corpus spongiosum glandis, que é o corpo
Anatomia da Reprodução Masculina 15

pu
vp

bs

abp
bp
ai

vpe
csp

up

'
FIG. 1-9. Diagrama mostrando os mecanismos de ejaculação de um ruminante. (As flexas mostram a
direção do fluxo venoso). (1) Vaso dilatação da artéria peniana (ap) aumenta o fluxo sanguíneo para os
espaços cavernosos do bulbo peniano (bp) via artéria do bulbo peniano (abp). (2) "Bombeamento" de
contrações do músculo bulboesponjoso (bs) comprime o bulbo peniano e força o sangue deste para o
corpus spongiosum penis (csp), produzindo ondas de pressões ao longo do comprimento do corpo cavernoso.
(3) Cada onda de pressão passando abaixo do corpus spongiosum penis resulta em drenagem venosa dos
espaços cavernosos distais para a veia dorsal do pênis (udp), e deste modo para a veia pudenda externa
(upe), e/ou veias penianas (up). Nota: o bulbo peniano é drenado por veias do bulbo peniano (ubp). (4) A
uretra peniana (pu) percorre o corpus spongiosum penis terminando o processo uretral (up) e por este
motivo é comprimida de modo "peristáltico" por ondas de pressão no corpo cavernoso. Estando vazios os
componentes da uretra, ocorre a ejaculação.

erétil de glande peniana. Ele é grande no pênis (especialmente os pedúnculos). Nos


garanhão, pobreme~te desenvolvido no tou- animais domésticos, fibras parassimpáticas
ro e indistinto no cachaço. do nervo pélvico (n. erigf$ns) provavelmente
Em ruminantes e suínos, o orifício do são responsáveis por esta vasodilatação, po-
prepúcio é regulado pelo músculo cranial do rém o neurotransmissor envolvido não foi
prepúcio; pode também estar presente um identificado, podendo ser importante um
músculo caudal. No porco existe um grande polipeptídio vasoativo (Dixson et aI., 1984).
divertículo dorsal no qual acumula-se urina Uma redução adrenérgica no controle motor
e restos celulares epiteliais (ver Fig. 1-1). O pode também exercer importante papel na
prepúcio peniano (interno) do garanhão está vasodilatação (Domer et aI., 1978). O
contido em um prepúcio pré-peniano volumo- enrijecimento e a ereção do pênis em rumi-
so (externo) pela formação de uma prega nantes são causados pelo músculo isquioca-
prepucial distinta e permanente. A eversão vernoso, o qual bombeia sangue dos espaços
do prepúcio pode expor o epitélio a lesões e cavernosos dos pedúnculos para dentro do
infecções. resto do corpus cavernosum penis através de
espaços cavernosos longitudinais especiais
Ereção e Protrusão (canais da ereção) (Ashdown et aI., 1979). Al-
tas pressões em sua maior expressão têm sido
O estímulo sexual provoca dilatação das registradas nos corpos cavernosos de muitas
artérias que suprem os corpos cavernosos do espécies durante a ereção (Beckett, 1983).
16 Anatomia Funcional da Reprodução

Em animais adultos normais, touros, car- Quando o pênis do touro está em protrusão, o
neiros, bodes, cachaços e garanhões, não se prepúcio fica evertido e esticado sobre o ór-
encontram veias drenando os níveis distais gão. A arquitetura fibrosa do tegumento
do corpus cavernosum penis (Ardalani e peniano faz com que o pênis fique em forma
Ashdown, 1988), sendo que isto facilita o de- de hélice quando o tegumento é estirado (Fig.
senvolvimento da pressão de ereção no órgão. 1-10A2); o orifício uretral adquire l}l1la posi-
Falhas na ereção (impotência) são ção anti-horária de 3000 quando se dá a
consequentes de defeitos estruturais que afe- ejaculação (Ashdown e Smith, 1969; Sei dei e
tam o mecanismo representado na Figura 1- Foote, 1969). Em serviço normal, isto ocorre
8, mais do que por causas psicológicas após a penetração. Caso ocorra antes que o
(Glossop e Ashdown, 1986). A pressão eleva- pênis penetre no vestíbulo, a penetração não
da no corpus cavernosum produz considerá- se completa.
vel alongamento do pênis em ruminantes e A penetração do pênis do touro dura cerca
suínos com pouca dilatação (Ashdown et aI., de dois segundos e o enrijecimento após o
1981). A distensão dos espaços cavernosos do desembainhamento, com frequência ocorre
corpus cavernosum penis, especialmente abruptamente assim que o ligamento dorsal
aqueles localizados na curvatura distal da apical assegura sua ação de conservar o pê-
flexura sigmóide, elimina a flexura à medida nis reto. O recolhimento do pênis para den-
que os músculos retratores do pênis relaxam. tro do prepúcio dá-se após cessar a pressão
nos espaços cavernosos. A arquitetura fibro-
sa do corpus cavernosum penis na região da

~~ flexura sigmóide tende a formar de novo a


flexão; isto é auxiliado pelo encurtamento do
músculo retrator do pênis. A porção terminal

~ de mais ou menos 5 cm do pênis do porco é


espiralada (ver Fig. 1-10) e durante a ereção
~uro toda a porção visível da extremidade livre do
pênis torna-se espiralada ao redor de seu eixo
longo como uma corda retorci da. Esta forma
B~ C-arneiro
espiralada resulta da arquitetura fibrosa do
corpus cavernosum penis (Ashdown et aI.,
1981). A inserção do pênis dura até 7 minu-
C]
Varrão
~ tos, tempo em que é ejaculado um grande vo-
lume de sêmen. O desvio em espiral não ocor-
re no carneiro e no bode, e a penetração é de

G Garanhão
curta duração. No garanhão, a inserção per-
dura por vários minutos.

Emissão e Ejaculação

A emissão consiste do movimento do fluido


FIG. 1-10. Diagramas mostrando a forma da
extremidade livre do pênis. AI mostra a forma do espermático ao longo do duto deferente para
pênis logo antes da introdução e A2 após a a uretra pélvica, onde mistura-se com secre-
introdução, tendo ocorrido o desvio em espiral. B ções das glândulas acessórias. A ejaculação é
mostra a forma do pênis durante o servimento a passagem do sêmen resultante ao longo da
natural. C não demonstra o grau total de forma uretra peniana. A emissão é motivada por
espiral que ocorre durante o servimento. D foi
desenhado após a injeção e mostra a dilatação dos
músculos lisos, sob controle do sistema ner-
corpos eréteis. (AI, A2 e B desenhados de voso autônomo. A ejaculação é provocada por
fotografias. C e D de peças fixadas. Os desenhos músculos estriados, sob controle de compo-
não foram feitos em escala.) nentes eferentes somáticos dos nervos sacros
Anatomia da Reprodução Masculina 17

FIG. 1-11.Estruturas reprodutivas,


in situ, de gato, cão e cobaia. 1,
Testículo; 2, cabeça do epidídimo; 3,
cauda do epidídimo; 4, duto
deferente; 5, glândula ampolar; 7,
glândula prostática; 9, glândula
bulbouretral; 10, bexiga; 11, ureter;
12, uretra; 13, pênis; 17, báculo; 18,
corpo lipídico; 19, reto; 20, rim. (De
S. McKeever (1970). Male reproduc-
tive organs. In Reproduction and
/ Breeding Techniques for Laboratory
AnimaIs. Hafez, E.S.E. (ed.). Phila-

/ Cão
delphia, Lea & Febiger.)

Cobaia
18 Anatomia Funcional da Reprodução

Tabela 1-3. Idade e Peso da Primeira Cobertura e Características Seminais


Início da Concentração espermática
Vida Reprodutiva Volume do Ejaculado 108 por ml

Espécies Idade (meses) Peso Corpóreo Variação Média Variação Média

Gato 9 3,5 kg 0,01-0,3 0,04 1,5-28 14


Cão 10-12 varia 2-25 9,0 0,6-5,4 1,3
Cobaia 3-5 450 g 0,4-0,8 0,6 0,05-0,2 0,1
Coelho 4-12 varia 0,4-6 1,0 0,5-3,5 1,5

(De Hammer, C.E., 1970. The semen. In Reproduction and Breeding Techniques for Laboratory Ani-
mais. E.S.E. Hafez [ed.], Philadelphia, Lea & Febiger.)

(nervo perineal profundo). Aeletroejaculação Durante a ejaculação (ver Fig. 1-9), o mús-
em animais domésticos não passa de uma culo bulboesponjoso comprime o bulbo
imitação imperfeita dos complexos mecanis- peniano, bombeando sangue deste órgão para
mos naturais. Durante a monta natural, as dentro do restante do corpus spongiosum
terminações sensitivas do nervo no tegumento penis. Diferentemente do corpus cavernosum
peniano, bem como os tecidos profundos penis, este corpo cavernoso é normalmente
penianos são essenciais ao processo da drenado por veias distais; as pressões máxi-
ejaculação. Os nervos aferentes estendem-se mas registradas durante a ejaculação são
no nervo dorsal do pênis. muito menores do que aquelas no corpus
A passagem de sêmen através dos dutos cavernosum penis (Beckett, 1983). As ondas
deferentes é contínua durante a inatividade de pressão que passam por baixo da uretra
sexual. Prinz e Zaneveld (1980) sugeriram peniana podem ajudar a transportar a
que durante o descanso sexual um complexo ejaculação. As modificações de pressão no
ocasional ou um processo cíclico de remoção corpus spongiosum penis durante a ejaculação
espermática da cauda do epidídimo podem são transmitidas ao corpus spongiosum
ajudar a regulação das reservas de sêmen. A glandis; a glande peniana aumenta de tama-
excitação sexual e a ejaculação são acompa- nho no carneiro, bode e garanhão, porém não
nhadas por contrações da cauda do epidídimo no touro.
e dos dutos deferentes, aumentando propor-
cionalmente o fluxo, seguido porém por mo- ANIMAIS DE LABORATÓRIO
vimentos do fluido espermático retrograda-
Diferenças entre espécies quanto aos ór-
mente para dentro do epidídimo e por uma
gãos reprodutivos estão resumidas na Figu-
redução no nível do fluxo por 10 a 20 horas
ra 1-11. O relativamente grande canal
após a ejaculação. Apesar de tudo, a quanti-
inguinal e o processo vaginal em roedores e
dade de espermatozóides que passa pelos lagomorfos está associado com considerável
dutos deferentes não é aumentada pela ativi-
mobilidade dos testículos e epidídimos em
dade sexual.
animais adultos. Estes órgãos podem mover-
A contração muscular da parede do duto é
. se de uma total posição escrotal para uma
controlada pelos nervos simpáticos autôno- também total posição abdominal. Diferenças
mos do plexo pélvico derivado dos nervos de tamanhos relativos das glândulas acessó-
hipogástricos. Em garanhões normais, o estí- rias estão refletidas nas características do
mulo do receptor-a. e o bloqueio do receptor-~ sêmen (Tabela 1-3).
aumentam a concentração espermática no
ejaculado (Klug et aI., 1982). A emissão de REFERÊNCIAS
sêmen do duto para dentro da uretra é acom-
panhada por contração muscular das ampo- Abou-Elmagd, A. and Wrobel, K.H. (1990). The epi-
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Anatomia da Reprodução Masculina 19

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2
ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA
E.S.E.HAFEZ

Os órgãos reprodutivos femininos com- são do sexo genético é um processo de desen-


põem-se de ovários, ovidutos, útero, cérvice volvimento que depende do funcionamento
uterina, vagina e genitália externa. Os órgãos das gônadas fetais e,'ocasionalmente, da ati-
genitais internos (o primeiro de quatro com- vidade do córtex adrenal.
ponentes) são sustentados pelo ligamento lar- Os estrógenos e os andrógenos podem pro-
go. Este ligamento consiste do mesovário, que vocar inversão sexual em embriões masculi-
mantém o ovário; do mesossalpinge, que es- nos e femininos respectivamente, apenas du-
cora o oviduto e do mesométrio, que susten- rante um breve período no início da
ta o útero. Em bovinos e ovinos, a união do diferenciação sexual. A idade em que este
ligamento largo é dorsolateral na região do potencial bissexual é perdido completamente
ílio, de modo que o útero fica disposto como varia de acordo com as espécies animais.
os cornos de um carneiro, com a convexidade
dorsal e os ovários localizados próximos à
pelve (Fig. 2-1). O ovário, oviduto e útero são Gônadas
primariamente supridos por nervos autôno-
mos. O nervo pudendo fornece fibras sensiti- As gônadas são formadas de um grupo de
vas e parassimpáticas para a vagina, vulva e grandes células granuladas do sacovitelínico
clitóris. que invadem a crista germinativa. Duas in-
vasões ocorrem na fêmea. A primeira é
EMBRIOLOGIA abortiva, todavia a segunda resulta na for-
mação de extensões sexuais do epitélio
O sistema reprodutivo fetal consiste de germinativo que, posteriormente, avançam
duas gônadas não-sexualmente diferenciadas, para cima originando as células germinativas
dois pares de dutos, um sinus urogenital, um (oogônias).As extensões sexuais da fêmea são
tubérculo genital e pregas vestibulares (Fig. chamadas cordões medulares e as do macho
2-2). Este sistema origina-se primariamente túbulos seminíferos.
de duas cristas germinativas na parte dorsal O testículo desenvolve-se predominante-
da cavidade abdominal e que podem diferen- mente a partir da medula da gônada sexual-
ciar-se em sistemas masculino ou feminino, mente indiferenciada, enquanto que o ovário
condição esta conhecida como bissexualidade origina-se primariamente de seu córtex.
embrionária. O desenvolvimento dos rudi-
mentos sexuais para fetos masculino e femi- Dutos Reprodutivos
nino é relacionado na Tabela 2-1.
O sexo do feto depende de genes herdados, Tanto os dutos de Wolff, quanto os de
da gonadogênese e da formação e maturação Müller encontram-se presentes no embrião se-
dos órgãos reprodutivos acessórios. A expres- xualmente indiferenciado. Na fêmea, os dutos
21
22 Anatomia Funcional da Reprodução

c B Ut.

Ov.A
A

-Ob.

FIG. 2-1. Secção sagital através da região pélvica (vista do lado esquerdo) mostrando as relações dos
tratos do reto e urogenital, as bolsas do peritônio pélvico, e as uniões dos músculos abdominais ao tendão
pré-púbico na ovelha. A, aorta; B, bexiga; Br. L, ligamento largo do útero; C, cérvice; O, ovário; Ob.,
músculo oblíquo interno; Ou., trompa; Ou.A, artéria ovariana; Ou.L, ligamento ovariano; P, tendão pré-
púbico;R, reto; U, uretra; Ur, ureter; Ut. A, artéria uterina; V, vagina.

de Müller desenvolvem-se em um sistema penha duas funções, uma exócrina (liberação


duto-gonadal e os dutos de Wolff atrofiam-se, de óvulos) e uma endócrina (esteroidogênese).
ocorrendo o oposto no macho. Os dutos de
Müller femininos fundem-se caudalmente Desenvolvimento Pré-natal
para dar origem ao útero, à cérvice e à porção
anterior da vagina. O córtex é o tecido predominante do ová-
No feto masculino, o andrógeno testicular rio. As células germinativas primordiais têm
atua na persistência e desenvolvimento dos origem extragonadal e migram do saco
dutos de Wolff e na atrofia dos dutos de vitelínico mesentérico para as cristas genitais.
Müller. Durante o desenvolvimento fetal as oogônias
são produzidas por multiplicação mitótica.
Sinus Urogenital Esta é seguida pela primeira divisão meiótica
formando vários milhões de oócitos, processo
O sinus urogenital dá origem ao vestíbulo. este desenvolvido na prófase. Uma subse-
As pregas de pele que margeiam o sinus for- quente atresia reduz o número de oócitos na
mam os lábios vulvares. O falo feminino ou época do nascimento e nova redução ocorre
clitóris, homólogo ao pênis masculino, desen- na puberdade, de modo que somente algumas
volve-se pouco em tamanho. centenas estarão presentes durante a
senescência reprodutiva. Todos os óvulos ori-
OVÁRIO ginam-se da população original de células
germinativas da crista genital.
O ovário, diferentemente do testículo, per- No nascimento uma camada de células
manece na cavidade abdominal. Ele desem- foliculares circunda os oócitos primários no
Anatomia da Reprodução Feminina 23

A.T.
V.D.
A.E.
V.E.
G
5.1.
R.T. Ep.

T.A.

T.

U-G.5.

cf ~
FIG. 2-2. Diagrama representando a diferenciação embrionária dos sistemas genitais masculino e femi-
nino. (Centro) Sistema indiferenciado com grande mesonefro, duto mesonéfrico, duto de MüIler e gônada
indiferenciada. Notar que os dutos de MüIler e mesonéfrico se cruzam antes de entrar no cordão genital.
(Direita) Sistema feminino em que o ovário e os dutos de MüIler se diferenciam enquanto que os rema-
nescentes do mesonefro e dos dutos mesonéfricos se atrofiam no epoóforo, paroóforo e duto de Gartner.
(Esquerda) Sistema masculino, em que os testículos e os dutos mesonéfricos (de Wolfl) se diferenciam; os
únicos remanescentes dos dutos de MüIler são o apêndice testicular e o utrículo prostático (vagina
masculina).
A Ampola G.C. Cordão genital Paro Paroóforo
AE. Apêndice do epidídimo Gl. Glomérulo Pro. Pronefro
AT. Apêndice do testículo G.S. Sinus genital R.T. Rete tubules
B Bexiga I. Istmo S.T. Túbulos seminíferos
C Cérvice M Medula do ovário T. Testículo
Co Córtex ovariano Mes.D. Duto mesonéfrico T.A Artéria testicular
Ep. Epidídimo Mest. T Túbulos mesonéfricos U Útero
Epo. Epoóforo Mül.D. Duto de MüIler U-G.S. Sinus urogenital
Epo. D. Duto do epoóforo O Ovário VA Apêndice vesicular
F Fímbrias O.G. Duto de Gartner obliterado VD. Vaso deferente
G Gônada (indiferenciada) O.Mül. Duto de MüIler obliterado. VE. Vasos eferentes

ovário para formar os folículos primordiais. guras 2-1 até 2-7. A forma e tamanho do ová-
De início estes estão espalhados pelo ovário, rio variam com a espécie animal e com a fase
porém no recém-nascido, eles tornam-se lo- estral (Tabela 2-2). Em bovinos e ovinos o
calizados na zona cortical periférica, debaixo ovário tem forma de amêndoa, enquanto nos
da túnica albugínea e circundando a 'medula equinos ele tem forma de feijão, devido a pre-
vascular. sença de uma definida fossa de ovulação, uma
A estrutura e a ultra-estrutura do ovário chanfradura na borda unida do ovário. O ová-
dos animais domésticos acham-se resumidas rio de porcas assemelha-se a um cacho de uvas
e ilustradas nas Tabelas 2-2 e 2-3; e nas Fi- em decorrência dos folículos salientes e dos
24 Anatomia Funcional da Reprodução

TABELA2-1. Destino dos Rudimentos Sexuais nos Fetos Masculino e Feminino de


Mamíferos
Rudimento Sexual Masculino Feminino

Gônada
Córtex Regride Ovário
Medula Testículo Regride
Dutos de MüIler Vestígios Útero, trompas, parte da vagina
Dutos de Wolff Epidídimos, vasos deferentes Vestígios
Sinus urogenital Uretra, próstata, glândulas bulbouretrais Parte da vagina, uretra
'fubérculo genital (falo) Pênis Clitóris
Pregas vestibulares Escroto Lábios

(Frye, 1967. Hormonal Control in Vertebrates. New York, Macmillan.)

TABELA 2-2. Anatomia Comparada do Ovário em Fêmeas Adultas de Animais


Domésticos
Animal

Órgão Vaca Ovelha Porca Égua


Ovário
Forma Amêndoa Amêndoa Cacho de uva Rim, com fossa de
ovulação
Peso de um ovário (g) 10-20 3-4 3-7 40-80
Folículos de Graaf maduros
Número 1-2 1-4 10-25 1-2
Diâmetro do folículo(mm) 12-19 5-10 8-12 25-70
Diâmetro do óvulo sem 120-160 140-185 120-170 120-180
zona pelúcida(11)
Corpo lúteo maduro
Forma Esferóide ou ovóide Esferóide ou ovóide Esferóide ou ovóide Em forma de pêra
Diâmetro (mm) 20-25 9 10-15 10-25
Tamanho máximo 10 7-9 14 14
atingido (dias a partir da
ovulação)
Início da regressão (dias a 14-15 12-14 13 17
partir da ovulação)

corpos lúteos que obscurecem o tecido ovaria- regressão. (Tabela 2-3). O tecido conjuntivo
no subjacente. do córtex contém muitos fibroblastos, algu-
A parte do ovário não-ligada ao mesovário mas fibras colágenas e reticulares, vasos san-
fica exposta e saliente na cavidade abdomi- guíneos, vasos linfáticos, nervos e fibras mus-
nal. O ovário composto de medula e córtex, é culares lisas.
circundado pelo epitélio superficial, Fluxo Sanguíneo do Ovário. O padrão
comumente conhecido como epitélio vascular do ovário modifica-se com as dife-
germinativo (Fig. 2-3). A medula ovariana rentes situações hormonais. Variações na ar-
consiste de tecido conjuntivo fibroelástico e quitetura dos vasos permitem adaptação do
regularmente distribuído e de nervos exten- suprimento sanguíneo às necessidades do ór-
sivos e sistemas vasculares que atingem o gão. A distribuição relativa de sangue entre
ovário pelo hilo (união entre o ovário e os vários compartimentos do ovário é altera-
mesovário). As artérias são distribuídas de da sem que o suprimento sanguíneo total seja
forma espiralada definida. O córtex ovariano afetado.
contém folículos ovarianos e/ou corpos lúteos A distribuição intra-ovárica de sangue pas-
em vários estágios de desenvolvimento ou sa por notáveis modificações durante o perío-
Anatomia da Reprodução Feminina 25

H.

I.c.

FIG. 2-3. Diagrama composto do ovário de mamífero. São indicados os estágios progressivos da diferen-
ciação de um folículo de Graaf (da esquerda superior para a direita superior). O folículo maduro pode
entrar em atresia (direita inferior) ou ovular e formar um corpo lúteo (esquerda inferior).
Af, Folículo atrésico; C.a., corpus albicans; C.l., corpo lúteo; G.e., epitélio germinativo; G.f, folículo de
Graaf; H, hilo; I.c., células intersticiais; Pf, folículo primário; S.f, folículo secundário; T.a., túnica
albugínea; T.f, folículo terciário. (Parcialmente adaptado de Turner (1948). General Endocrinology.
Philadelphia, W.B. Saunders.)

do pré-ovulatório. Em ovelhas o fluxo venoso matura regressão do corpo lúteo. Por ocasião
ovariano cai de cerca de 8 ml/minuto 73 dias da luteólise em ovelhas ocorre uma redução
antes da ovulação para 2 ml/minuto durante no fluxo sanguíneo ovariano, assim como um
o cio. Uma queda correspondente no fluxo aumento na passagem entre arteríolas e
sanguíneo arterial do ovário por minuto é vênulas dentro do ovário (Niswender et aL,
concomitante a um brusco declínio no fluxo 1976).
de liIÜa do ovário (Moor et aL, 1975). O fluxo sanguíneo para o ovário bovino é
O fluxo sanguíneo arterial para o ovário maior durante a fase luteínica, diminui com
varia em proporção à atividade luteínica. As a regressão do corpo lúteo e atinge um ponto
modificações hemodinâmicas parecem ser máximo antes da ovulação. O fluxo sanguí-
importantes no controle da função e duração neo ovariano aumenta com o desenvolvimen-
do corpo lúteo (CL). Assim, modificações no to do corpo lúteo recentemente desenvolvido.
fluxo sanguíneo precedem o declínio na se- O declínio do fluxo sanguíneo parece seguir
creção de progesterona, enquanto que a res- uma queda abrupta na época de regressão do
trição do fluxo sanguíneo ovariano causa pre- corpo lúteo (Wise et aL, 1982). Os linfáticos

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