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anatomia funcional
da reprodução
1
ANATOMIA DA REPRODUÇÃO MASCULINA
RR ASHDOWN e E.S.E. HAFEZ
3
4 Anatomia Funcional da Reprodução
TOURO
'I'
~fiijj~~
vg
'te
FIG. 1.1. Diagr.ama do trato reprodutivo masculino visto em dissecção lateral esquerda. a, Ampola; bu, glândula
bulbouretral; capo e, cabeça do epidídimo; caud. e, cauda do epidídimo; cp, pedúnculo esquerdo do pênis, separado do
ísquio esquerdo; dd, duto deferente; ds, divertículo dorsal do prepúcio; es, prepúcio externo; te, extremidade livre do
pênis; is, prega prepucial;pg, glândula prostática; r, reto; rp, músculo retratar do pênis; s, escroto; sf, flexura sigmóide;
t, testículo; up, processo uretral; vg, glândula vesicular. (Adaptado de Popesko (1968). Atlas der topographischen
Anatomie der Haustiere. VoI. 3, Jena, Fischer.)
genitália pélvica e para os músculos lisos do ao duto mesonéfrico, para formar o epidídimo,
pênis. Nervos sacros suprem fibras motoras o duto deferente e a glândula vesicular. A
para os músculos estriados do pênis e fibras próstata e as glândulas bulbouretrais for-
sensitivas para a extremidade livre do pênis. mam-se a partir do sinus urogenital embrio-
Fibras aferentes do escroto e do prepúcio di- nário e o pênis forma-se pela tubulação e alon-
rigem-se principalmente ao nervo genito- gamento de um tubérculo que se desenvolve
femoral. no orifício do sinus urogenital.
Dois agentes produzidos pelos testículos
DESENVOLVIMENTO fetais são responsáveis por esta diferencia-
ção e desenvolvimento (Gondos, 1980).
Desenvolvimento Pré-natal Andrógenos fetais são responsáveis pelo de-
senvolvimento do trato reprodutivo masculi-
Os testículos desenvolvem-se no abdômen, no. A "substância.inibidora MüIleriana", uma
medialmente ao rim embrionário (meso- glicoproteína, é responsável pela supressão
nefros). O plexo de dutos dentro do testículo dos dutos paramesonéfricos (MüIlerianos) a
liga-se aos túbulos mesonéfricos e deste modo partir dos quais desenvolvem-se o útero e a
Anatomia da Reprodução Masculina 5
vagina (Vigier et aI., 1983). Anormalidades testis. O tempo de descida varia (Tabela 1-1).
na diferenciação e no desenvolvimento das No garanhão, o epidídimo comumente pene-
gônadas e dos dutos podem resultar em va- tra no canal inguinal antes do testículo e a
riados graus de intersexualidade (Hare e porção do ligamento inguinal que liga os tes-
Singh, 1979). tículos e epidídimos (ligamento próprio do
testículo) permanece extensa até após o nas-
Descida dos Testículos cimento.
Ocasionalmente, o testículo pode falhar de
Durante a descida testicular (Wensing, entrar no escroto. Nesta condição (crip-
1986), a gônada migra caudalmente dentro torquidismo) as necessidades térmicas espe-
do abdômen para o anel inguinal interno. ciais dos testículos e epidídimos não são su-
Atravessa então a parede abdominal, emer- pridas, embora a função endócrina dos
gindo no anel inguinal superficial, que é na testículos não seja prejudicada. Por esta ra-
realidade, o forame muito aumentado do ner- zão machos criptorquídeos bilaterais demons-
vo genitofemoral (L3, L4). O testículo com- tram desejo sexual mais ou menos normal,
pleta a migração localizando-se totalmente no mas são estéreis. Ocasionalmente alguma
escroto. A descida é precedida pela formação víscera abdominal passa através do processo
doprocesso vaginal, uma dilatação peritoneal vaginal e penetra no escroto; a hérnia escrotal
que se estende através da parede abdominal é particularmente comum em suínos.
envolvendo o ligamento inguinal do testícu-
lo. O ligamento inguinal da gônada é Desenvolvimento Pós-natal
comumente chamado de gubernaculum testis
e termina na região dos rudimentos escrotais. Cada componente do trato reprodutivo de
A descida obedece a linha do gubernaculum todos os animais domésticos cresce em tama-
Descida testicular Entra no escroto na Entra no escroto na Entra no escroto na Entra no escroto antes
metade da vida metade da vida última quarta ou logo após o
escrotal escrotal parte da vida nascimento
fetal
Espermatócitos 24 semanas 12 semanas 10 semanas Variável nos túbulos
primários nos seminíferos de cada
túbulos testículo
seminíferos
Espermatozóides 32 semanas 16 semanas 20 semanas 56 semanas (variável)
nos túbulos
seminíferos
Espermatozóides 40 semanas 16 semanas 20 semanas 60 semanas (variável)
na cauda do
epidídimo
Espermatozóides 42 semanas 18 semanas 22 semanas 64-96 semanzas
na ejaculação
Acabamento de 32 semanas >10 semanas 20 semanas 4 semanas
separação
entre o pênis e
a porção
peniana do
prepúcio
Idade em que o 150 semanas >24 semanas 30 semanas 90-150 semanas
animal pode (variável)
ser considera-
do sexualmen-
te "maduro"
6 Anatomia Funcional da Reprodução
Termorregulação Testicular
Túnica albugínea Cápsula espessa e branca de tecido conjuntivo circundando o testículo; constituída
principalmente de séries interlaçadas de fibras colágenas com núcleos alongados
e planos dos fibroblastos.
Túbulos seminíferos Aparecem como grandes estruturas isoladas, perfis arredondados ou oblongos,
aparência variável devido ao complexo espiralado dos túbulos em muitos
diferentes ângulos e níveis. Entre os túbulos situam-se vasos sanguíneos de
diâmetro variável (menores do que os túbulos) agrupados com eritrócitos e
embutidos em pequenas massas de células intersticiais (Leydig), que produzem
os hormônios sexuais masculinos. Cordões de tecido conjuntivo formam uma
fina camada ao redor de cada túbulo.
Espermatogônias Localizam-se na região mais afastada do túbulo; núcleos arredondados aparecem
como uma camada irregular dentro do tecido conjuntivo circundante. Os núcleos
podem ser reconhecidos com corante escuro, de tamanho pequeno, devido à
presença de grande número de grânulos de cromatina.
Espermatócitos primários Localizados no interior de uma camada irregular de espermatogônias e células de
Sertoli; os núcleos são sensivelmente maiores do que os das espermatogônias e
coram-se de maneira mais clara, embora ainda possuam uma quantidade
considerável de cromatina granular.
Espermatócitos secundários Divisões de maturação e espermatócitos secundários não são visualizados no túbulo
médio devido à curta duração destes estágios.
Espermátidas Localizadas internamente aos espermatócitos primários. As células são pequenas
e arredondadas com núcleos claros à coloração. Camadas de espermátidas podem
ser várias células em espessura. Os espermatozóides situam-se ao longo da
margem da luz; suas caudas longas estendem-se para o interior da cavidade
como estruturas filamentosas, com as cabeças aparecendo como pequenos pontos
escuros à coloração ou como linhas curtas. As cabeças espermáticas estão
acomodadas em profundas reentrâncias da superficie da célula de Sertoli, porém
na realidade, nunca dentro do citoplasma.
Células de Sertoli Grandes e relativamente claras, excetuando-se os nucléolos proeminentes e
escuros à coloração. O citoplasma é difuso, com limites indefinidos.
FIG. 1-4. A, Superfície luminal de um duto eferente com células cHiadas e não-cHiadas e um
espermatozóide. B, Microvilosidades curtas na superfície luminal de células não-ciliadas nos dutos
eferentes. Uma gota citoplasmática (CD), o acrossomo (A) e a peça intermediária (MP) são visualizados
por SEM (6.500 X). C, Corte transversal da cauda distal do epidídimo. Camadas espessas de músculo
liso circundam o epitélio totalmente sem dobras (25 X). D, Corte sagital do corpo do epidídimo. Células
colunares cobertas de estereocílios. As ondulações são devido às diferenças de altura celular (276 X).
(Johnson, L. et aI. (1978). Am.J.Vet.Res. Cortesia do Dr. Larry Johnson.)
A porção média de cada duto eferente mos- coincidem com as regiões anatômicas
tra marcante atividade secretora (Goyal et aI., macroscópicas (Amann, 1987).
1988). O duto convoluto do epidídimo é bas- Existe uma diminuição progressiva na al-
tante longo (touro, 36 m; cachaço, 54 m). Ca- tura do epitélio e dos estereocílios e um alar-
racterísticas histológicas estão demonstradas gamento da luz através dos três segmentos.
na Figura 11-4. A parede do duto do epidídimo Os dois primeiros segmentos estão relaciona-
tem uma camada proeminente de fibras mus- dos com a maturação espermática, enquanto
culares circulares e um epitélio pseudo- que O segmento terminal serve para
estratificado de célulàs colunares. armazenamento espermático. A camada
Histologicamente, podem ser reconhecidas epitelial do epidídimo consiste de diferentes
três regiões do duto do epidídimo; estas não espécies de células; células colunares princi-
10 Anatomia Funcional da Reprodução
pais, pequenas células basais sobre a mem- separada de peritônio; nestas condições, ele é
brana basal e alguns linfócitos. prontamente separável do resto do cordão
A luz dos túbulos epididimários é delineada espermático (Figs. 1-2, 1-3).
com epitélio feito de uma camada basal de A mucosa do duto deferente é atirada para
pequenas células e uma camada superficial dentro de dobras longitudinais. Próximo à
de células ciliadas colunares altas. Massas de extremidade final do epidídimo, o epitélio as-
espermatozóides são frequentemente encon- semelha-se ao deste órgão. As células não-
tradas na luz. Os espaços entre os túbulos são ciliadas apresentam pouca atividade
preenchidos com tecido conjuntivo frouxo. secretora. A luz é delineada com epitélio
O duto deferente deixa a cauda do pseudo-estratificado. A ampola do duto defe-
epidídimo e fica sustentado em uma dobra rente é abastecida com ramos de glândulas
Anatomia da Reprodução Masculina 11
a vg
pel. ti
FIG. 1-6. Diagrama mostrando a disposição das glândulas que descarregam dentro da uretra pélvica do
touro. a, Ampola; bu, glândula bulbouretral; dd, duto deferente; pb, corpo de glândula prostática; pd,
porção disseminada da glândula prostática; Fel. u, uretra pélvica; pen.u, uretra peniana; u, ureter; ub,
bexiga; ug, glândula vesicular
desta espécie. Nos ruminantes e no porco, os e são caracterizadas por alto conteúdo de
dutos das glândulas bulbouretrais abrem-se ergotioneína e inositoI.
para dentro do recesso uretral, situado Os espermatozóides da cauda do epidídimo
dorsalmente (Garrett, 1987), o que pode im- são capazes de fertilizar quando inseminados
pedir a passagem de um cateter nessas espé- sem a adição de secreções das glândulas aces-
CIes. sórias. A fração gelatinosa do sêmen de porco
Glândulas Uretrais. O touro carece de forma um tampão na vagina das fêmeas co-
glândulas uretrais comparáveis às encontra- bertas, embora na prática da inseminação
das no homem (Kainer et aI., 1969). Glându- comercial esta fração seja removida do sêmen
las com essa denominação no cavalo têm sido por filtração.
consideradas como comparáveis à próstata Nas grandes espécies animais é possível a
disseminada dos ruminantes, porém no por- palpação das glândulas acessórias por via
co, a próstata disseminada e as glândulas retaI. As posições dessas glândulas em rela-
uretrais são histologicamente distintas ção a pelve óssea são mostradas na Figura 1-
(McKenzie ét aI., 1938). 7.
No porco, o tamanho das glândulas bulbo-
Função uretrais pode ser utilizado para diferenciar o
criptorquidismo da situação de castração.
Apesar de fornecer um veículo líquido para Após a castração pré-puberal, as glândulas
o transporte dos espermatozóides, a função bulbozuretrais são pequenas; com 100 kg de
das glândulas acessórias é obscura, embora peso corpóreo, cada glândula apresenta cer-
muito se saiba sobre os agentes químicos es- ca de 5 cm de comprimento e pesa menos de 1
pecíficos com que elas contribuem para as g. Em porcos com testículos retidos, as glân-
ejaculações (Spring-Mills e Hafez, 1979, dulas são de tamanho normal; cada uma apre-
1980). A frutose e o ácido cítrico são compo- senta acima de 10 cm de comprimento e pesa
nentes importantes da secreção das glându- 45 g quando o animal atinge 100 kg de peso
las vesiculares dos ruminantes domésticos. corpóreo (Lauwers et aI., 1984). Estas dife-
Somente o ácido cítrico é encontrado nas glân- renças podem ser facilmente sentidas, ven-
dulas vesiculares do equino; as glândulas tralmente ao reto, com um dedo inserido no
vesiculares dos suínos contêm pouca frutose ânus (Fig. 1-7).
Anatomia da Reprodução Masculina 13
dd
dd
ub
a a
vg vg
bu
ic
TOURO CARNEIRO
dd
ub
a
vg
pb
bs
INTEIRO CASTRADO
VARRÕES GARANHÃ O
FIG. 1-7. Diagrama das genitálias pélvicas, dentro dos ossos pélvicos, vistos dorsalmente. (As porções
craniais do ílio foram removidas.) a, Ampola; bs, músculo bulboesponjoso; bu, glândula bulbouretral; dd,
duto deferente; ic, músculo isquiocavemoso;pb, corpo da glândula prostática;pel. u, uretra; rp, músculo
retrato r do pênis; ub, bexiga; ug, glândula vesicular. (Diagramas de touro, varrão e garanhão copiados
de Nickel (1954). Tierãrztl. Umschau 9, 386.)
14 Anatomia Funcional da Reprodução
ic
cp
ccp
da!
rp
-----...
~
FIG. 1.8. Diagrama mostrando os mecanismos da ereção em um ruminante. (1) Vaso dilatação da artéria
peniana (ap) aumenta o fluxo sanguíneo para os espaços cavernosos do pedúnculo peniano (ep) através
da artéria profunda do pênis (app). (2) "Bombeamento" de contrações do músculo isquiocavernoso (ie)
puxa o pedúnculo peniano em direção cranial contra o arco isquiático (ai), ocluindo as veias profundas
(app, vpp) e comprimindo o pedúnculo peniano. (3) Compressão do pedúnculo peniano força a saída do
sangue para o eorpus eavernosum penis (eep), através dos espaços cavernosos longitudinais ("canais da
ereção"; lee), elevando a pressão intracorpórea a níveis bastante altos. (4) Preenchimento de tecido
cavernoso dorsal especial (set) na curvatura distal da flexura sigmóide elimina a flexura à medida que o
músculo retrato r do pênis (rp) relaxa. (5) Término do "bombeamento" de contrações do músculo
isquiocavernoso permite que o sangue reflua para os espaços cavernosos do pedúnculo peniano, drenando
assim através das veias penianas profundas (vpp) para a veia peniana (vp). O diagrama mostra inclu-
sive o ligamento apical dorsal (dal).
pu
vp
bs
abp
bp
ai
vpe
csp
up
'
FIG. 1-9. Diagrama mostrando os mecanismos de ejaculação de um ruminante. (As flexas mostram a
direção do fluxo venoso). (1) Vaso dilatação da artéria peniana (ap) aumenta o fluxo sanguíneo para os
espaços cavernosos do bulbo peniano (bp) via artéria do bulbo peniano (abp). (2) "Bombeamento" de
contrações do músculo bulboesponjoso (bs) comprime o bulbo peniano e força o sangue deste para o
corpus spongiosum penis (csp), produzindo ondas de pressões ao longo do comprimento do corpo cavernoso.
(3) Cada onda de pressão passando abaixo do corpus spongiosum penis resulta em drenagem venosa dos
espaços cavernosos distais para a veia dorsal do pênis (udp), e deste modo para a veia pudenda externa
(upe), e/ou veias penianas (up). Nota: o bulbo peniano é drenado por veias do bulbo peniano (ubp). (4) A
uretra peniana (pu) percorre o corpus spongiosum penis terminando o processo uretral (up) e por este
motivo é comprimida de modo "peristáltico" por ondas de pressão no corpo cavernoso. Estando vazios os
componentes da uretra, ocorre a ejaculação.
Em animais adultos normais, touros, car- Quando o pênis do touro está em protrusão, o
neiros, bodes, cachaços e garanhões, não se prepúcio fica evertido e esticado sobre o ór-
encontram veias drenando os níveis distais gão. A arquitetura fibrosa do tegumento
do corpus cavernosum penis (Ardalani e peniano faz com que o pênis fique em forma
Ashdown, 1988), sendo que isto facilita o de- de hélice quando o tegumento é estirado (Fig.
senvolvimento da pressão de ereção no órgão. 1-10A2); o orifício uretral adquire l}l1la posi-
Falhas na ereção (impotência) são ção anti-horária de 3000 quando se dá a
consequentes de defeitos estruturais que afe- ejaculação (Ashdown e Smith, 1969; Sei dei e
tam o mecanismo representado na Figura 1- Foote, 1969). Em serviço normal, isto ocorre
8, mais do que por causas psicológicas após a penetração. Caso ocorra antes que o
(Glossop e Ashdown, 1986). A pressão eleva- pênis penetre no vestíbulo, a penetração não
da no corpus cavernosum produz considerá- se completa.
vel alongamento do pênis em ruminantes e A penetração do pênis do touro dura cerca
suínos com pouca dilatação (Ashdown et aI., de dois segundos e o enrijecimento após o
1981). A distensão dos espaços cavernosos do desembainhamento, com frequência ocorre
corpus cavernosum penis, especialmente abruptamente assim que o ligamento dorsal
aqueles localizados na curvatura distal da apical assegura sua ação de conservar o pê-
flexura sigmóide, elimina a flexura à medida nis reto. O recolhimento do pênis para den-
que os músculos retratores do pênis relaxam. tro do prepúcio dá-se após cessar a pressão
nos espaços cavernosos. A arquitetura fibro-
sa do corpus cavernosum penis na região da
G Garanhão
curta duração. No garanhão, a inserção per-
dura por vários minutos.
Emissão e Ejaculação
/ Cão
delphia, Lea & Febiger.)
Cobaia
18 Anatomia Funcional da Reprodução
(De Hammer, C.E., 1970. The semen. In Reproduction and Breeding Techniques for Laboratory Ani-
mais. E.S.E. Hafez [ed.], Philadelphia, Lea & Febiger.)
(nervo perineal profundo). Aeletroejaculação Durante a ejaculação (ver Fig. 1-9), o mús-
em animais domésticos não passa de uma culo bulboesponjoso comprime o bulbo
imitação imperfeita dos complexos mecanis- peniano, bombeando sangue deste órgão para
mos naturais. Durante a monta natural, as dentro do restante do corpus spongiosum
terminações sensitivas do nervo no tegumento penis. Diferentemente do corpus cavernosum
peniano, bem como os tecidos profundos penis, este corpo cavernoso é normalmente
penianos são essenciais ao processo da drenado por veias distais; as pressões máxi-
ejaculação. Os nervos aferentes estendem-se mas registradas durante a ejaculação são
no nervo dorsal do pênis. muito menores do que aquelas no corpus
A passagem de sêmen através dos dutos cavernosum penis (Beckett, 1983). As ondas
deferentes é contínua durante a inatividade de pressão que passam por baixo da uretra
sexual. Prinz e Zaneveld (1980) sugeriram peniana podem ajudar a transportar a
que durante o descanso sexual um complexo ejaculação. As modificações de pressão no
ocasional ou um processo cíclico de remoção corpus spongiosum penis durante a ejaculação
espermática da cauda do epidídimo podem são transmitidas ao corpus spongiosum
ajudar a regulação das reservas de sêmen. A glandis; a glande peniana aumenta de tama-
excitação sexual e a ejaculação são acompa- nho no carneiro, bode e garanhão, porém não
nhadas por contrações da cauda do epidídimo no touro.
e dos dutos deferentes, aumentando propor-
cionalmente o fluxo, seguido porém por mo- ANIMAIS DE LABORATÓRIO
vimentos do fluido espermático retrograda-
Diferenças entre espécies quanto aos ór-
mente para dentro do epidídimo e por uma
gãos reprodutivos estão resumidas na Figu-
redução no nível do fluxo por 10 a 20 horas
ra 1-11. O relativamente grande canal
após a ejaculação. Apesar de tudo, a quanti-
inguinal e o processo vaginal em roedores e
dade de espermatozóides que passa pelos lagomorfos está associado com considerável
dutos deferentes não é aumentada pela ativi-
mobilidade dos testículos e epidídimos em
dade sexual.
animais adultos. Estes órgãos podem mover-
A contração muscular da parede do duto é
. se de uma total posição escrotal para uma
controlada pelos nervos simpáticos autôno- também total posição abdominal. Diferenças
mos do plexo pélvico derivado dos nervos de tamanhos relativos das glândulas acessó-
hipogástricos. Em garanhões normais, o estí- rias estão refletidas nas características do
mulo do receptor-a. e o bloqueio do receptor-~ sêmen (Tabela 1-3).
aumentam a concentração espermática no
ejaculado (Klug et aI., 1982). A emissão de REFERÊNCIAS
sêmen do duto para dentro da uretra é acom-
panhada por contração muscular das ampo- Abou-Elmagd, A. and Wrobel, K.H. (1990). The epi-
las dos dutos deferentes. theliallining of the bovine ejaeulatory duetoAeta
Anatomia da Reprodução Masculina 19
tis and epididymis of the boar. J. Reprod. Fertil. til. 69, 207.
63, 551. Weber, J.A., Geary, R.T. and Woods, G.L. (1990).
Vazama, F., Nishida, T., Kurobmara, M., and Hay- Changes in accessory sex glands of stal1ions after
ashi, Y. (1988). The fine structure of the blood- sexual preparation and ejaculation. J. Am. Veto
testis barrierin the boar. Jap. J. VetoSei.50,1259. Med. Assoe. 196, 1084.
Vigier, B., Tran, D., duMesuil du Brusson, F., Hey- Wensing, c.J.G. (1986). Testicular desCÊmt in the rat
man, Y. and Josso, N. (1983). Use of monoclonal and a comparison of this proeess in the rat with
antibody techniques to study the ontogeny of that in the pig. Anat. Rec. 214, 154.
bovine anti-MüIlerian hormone. J. Reprod: Fer-
2
ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA
E.S.E.HAFEZ
c B Ut.
Ov.A
A
-Ob.
FIG. 2-1. Secção sagital através da região pélvica (vista do lado esquerdo) mostrando as relações dos
tratos do reto e urogenital, as bolsas do peritônio pélvico, e as uniões dos músculos abdominais ao tendão
pré-púbico na ovelha. A, aorta; B, bexiga; Br. L, ligamento largo do útero; C, cérvice; O, ovário; Ob.,
músculo oblíquo interno; Ou., trompa; Ou.A, artéria ovariana; Ou.L, ligamento ovariano; P, tendão pré-
púbico;R, reto; U, uretra; Ur, ureter; Ut. A, artéria uterina; V, vagina.
A.T.
V.D.
A.E.
V.E.
G
5.1.
R.T. Ep.
T.A.
T.
U-G.5.
cf ~
FIG. 2-2. Diagrama representando a diferenciação embrionária dos sistemas genitais masculino e femi-
nino. (Centro) Sistema indiferenciado com grande mesonefro, duto mesonéfrico, duto de MüIler e gônada
indiferenciada. Notar que os dutos de MüIler e mesonéfrico se cruzam antes de entrar no cordão genital.
(Direita) Sistema feminino em que o ovário e os dutos de MüIler se diferenciam enquanto que os rema-
nescentes do mesonefro e dos dutos mesonéfricos se atrofiam no epoóforo, paroóforo e duto de Gartner.
(Esquerda) Sistema masculino, em que os testículos e os dutos mesonéfricos (de Wolfl) se diferenciam; os
únicos remanescentes dos dutos de MüIler são o apêndice testicular e o utrículo prostático (vagina
masculina).
A Ampola G.C. Cordão genital Paro Paroóforo
AE. Apêndice do epidídimo Gl. Glomérulo Pro. Pronefro
AT. Apêndice do testículo G.S. Sinus genital R.T. Rete tubules
B Bexiga I. Istmo S.T. Túbulos seminíferos
C Cérvice M Medula do ovário T. Testículo
Co Córtex ovariano Mes.D. Duto mesonéfrico T.A Artéria testicular
Ep. Epidídimo Mest. T Túbulos mesonéfricos U Útero
Epo. Epoóforo Mül.D. Duto de MüIler U-G.S. Sinus urogenital
Epo. D. Duto do epoóforo O Ovário VA Apêndice vesicular
F Fímbrias O.G. Duto de Gartner obliterado VD. Vaso deferente
G Gônada (indiferenciada) O.Mül. Duto de MüIler obliterado. VE. Vasos eferentes
ovário para formar os folículos primordiais. guras 2-1 até 2-7. A forma e tamanho do ová-
De início estes estão espalhados pelo ovário, rio variam com a espécie animal e com a fase
porém no recém-nascido, eles tornam-se lo- estral (Tabela 2-2). Em bovinos e ovinos o
calizados na zona cortical periférica, debaixo ovário tem forma de amêndoa, enquanto nos
da túnica albugínea e circundando a 'medula equinos ele tem forma de feijão, devido a pre-
vascular. sença de uma definida fossa de ovulação, uma
A estrutura e a ultra-estrutura do ovário chanfradura na borda unida do ovário. O ová-
dos animais domésticos acham-se resumidas rio de porcas assemelha-se a um cacho de uvas
e ilustradas nas Tabelas 2-2 e 2-3; e nas Fi- em decorrência dos folículos salientes e dos
24 Anatomia Funcional da Reprodução
Gônada
Córtex Regride Ovário
Medula Testículo Regride
Dutos de MüIler Vestígios Útero, trompas, parte da vagina
Dutos de Wolff Epidídimos, vasos deferentes Vestígios
Sinus urogenital Uretra, próstata, glândulas bulbouretrais Parte da vagina, uretra
'fubérculo genital (falo) Pênis Clitóris
Pregas vestibulares Escroto Lábios
corpos lúteos que obscurecem o tecido ovaria- regressão. (Tabela 2-3). O tecido conjuntivo
no subjacente. do córtex contém muitos fibroblastos, algu-
A parte do ovário não-ligada ao mesovário mas fibras colágenas e reticulares, vasos san-
fica exposta e saliente na cavidade abdomi- guíneos, vasos linfáticos, nervos e fibras mus-
nal. O ovário composto de medula e córtex, é culares lisas.
circundado pelo epitélio superficial, Fluxo Sanguíneo do Ovário. O padrão
comumente conhecido como epitélio vascular do ovário modifica-se com as dife-
germinativo (Fig. 2-3). A medula ovariana rentes situações hormonais. Variações na ar-
consiste de tecido conjuntivo fibroelástico e quitetura dos vasos permitem adaptação do
regularmente distribuído e de nervos exten- suprimento sanguíneo às necessidades do ór-
sivos e sistemas vasculares que atingem o gão. A distribuição relativa de sangue entre
ovário pelo hilo (união entre o ovário e os vários compartimentos do ovário é altera-
mesovário). As artérias são distribuídas de da sem que o suprimento sanguíneo total seja
forma espiralada definida. O córtex ovariano afetado.
contém folículos ovarianos e/ou corpos lúteos A distribuição intra-ovárica de sangue pas-
em vários estágios de desenvolvimento ou sa por notáveis modificações durante o perío-
Anatomia da Reprodução Feminina 25
H.
I.c.
FIG. 2-3. Diagrama composto do ovário de mamífero. São indicados os estágios progressivos da diferen-
ciação de um folículo de Graaf (da esquerda superior para a direita superior). O folículo maduro pode
entrar em atresia (direita inferior) ou ovular e formar um corpo lúteo (esquerda inferior).
Af, Folículo atrésico; C.a., corpus albicans; C.l., corpo lúteo; G.e., epitélio germinativo; G.f, folículo de
Graaf; H, hilo; I.c., células intersticiais; Pf, folículo primário; S.f, folículo secundário; T.a., túnica
albugínea; T.f, folículo terciário. (Parcialmente adaptado de Turner (1948). General Endocrinology.
Philadelphia, W.B. Saunders.)
do pré-ovulatório. Em ovelhas o fluxo venoso matura regressão do corpo lúteo. Por ocasião
ovariano cai de cerca de 8 ml/minuto 73 dias da luteólise em ovelhas ocorre uma redução
antes da ovulação para 2 ml/minuto durante no fluxo sanguíneo ovariano, assim como um
o cio. Uma queda correspondente no fluxo aumento na passagem entre arteríolas e
sanguíneo arterial do ovário por minuto é vênulas dentro do ovário (Niswender et aL,
concomitante a um brusco declínio no fluxo 1976).
de liIÜa do ovário (Moor et aL, 1975). O fluxo sanguíneo para o ovário bovino é
O fluxo sanguíneo arterial para o ovário maior durante a fase luteínica, diminui com
varia em proporção à atividade luteínica. As a regressão do corpo lúteo e atinge um ponto
modificações hemodinâmicas parecem ser máximo antes da ovulação. O fluxo sanguí-
importantes no controle da função e duração neo ovariano aumenta com o desenvolvimen-
do corpo lúteo (CL). Assim, modificações no to do corpo lúteo recentemente desenvolvido.
fluxo sanguíneo precedem o declínio na se- O declínio do fluxo sanguíneo parece seguir
creção de progesterona, enquanto que a res- uma queda abrupta na época de regressão do
trição do fluxo sanguíneo ovariano causa pre- corpo lúteo (Wise et aL, 1982). Os linfáticos