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GREGÓRIO DE MATOS

Sobre a poesia satírica


O poema satírico de Gregório é marcado por uma briga entre uma
sociedade “normal” (a do homem bem nascido, culto e correto) e
uma outra sociedade “absurda” (composta por pessoas
oportunistas instaladas no poder).

Neste caso a “sociedade absurda” é real porque é a Bahia onde ele


vive e a “sociedade normal” é absurda se comparada à realidade
baiana. Assim, ambas são consideradas absurdas uma pela outra
e esse impasse é reflexo do seu contexto histórico.

À cidade da Bahia (Gregório de Matos)

Triste Bahia! ó quão dessemelhante (A)


Estás e estou do nosso antigo estado! (B)
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, (B)
Rica te vi eu já, tu a mi abundante. (A)
A ti trocou-te a máquina mercante, (A)
Que em tua larga barra tem entrado, (B)
A mim foi-me trocando, e tem trocado, (B)
Tanto negócio e tanto negociante. (A)
Oeste em dar tanto açúcar excelente (C)
Pelas drogas inúteis, que abelhuda (D)
Simples aceitas do sagaz Brichote. (E)
Oh se quisera Deus, que de repente (C)
Um dia amanheceras tão sisuda (D)
Que fora de algodão o teu capote! (E)

 Barroco tem o resgate do formalismo estético

Sobre a poesia lírica amorosa


A poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos é construída em torno de
contradições (antíteses) e pares de opostos (paradoxos), utilizando figuras de
linguagens como o oximoro, que reforça essas contradições. Entretanto, não se
pode esquecer que estas contradições não se anulam, elas se completam.

A figura de musas, mulheres romanceadas e idealizadas, comparadas a


elementos da natureza, são bem presentes. Traz ainda sentimentos dúbios,
onde o pecado e a culpa se mostram presentes. Essa visão dualista também
aparece na mulher desejada, podendo ser caracterizada como um “anjo-
demônio”.

Sobre a poesia Lírica-erótica Gregório de Matos

Já a poesia erótica, na qual o poeta utiliza uma linguagem mais direta e


explícita do que na lírico-amorosa, o amor carnal aparece como forma de
libertação do corpo e do indivíduo.
Apesar de escrever sobre o amor de forma delicada, mostra também seu lado
mais áspero sobre as relações humanas.
E isto é o amor?
Mandai-me Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva
do Amor a ilustre prosápia,
e de Cupido as proezas.
Dizem que de clara escuma,
dizem que do mar nascera,
que pegam debaixo d’água
as armas que o amor carrega.
O arco talvez de pipa,
a seta talvez esteira,
despido como um maroto,
cego como uma toupeira.
E isto é o Amor? É um corno.
Isto é o Cupido? Má peça.
Aconselho que não comprem
Ainda que lhe achem venda.
O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.

Neste poema o escritor questiona o sentimento amoroso


colocado de uma forma apenas romântica e com inspiração
mitológica. Ele afirma que o amor é, na realidade, um
acontecimento carnal, que envolve os prazeres da junção dos
corpos dos amantes. Finaliza, de forma desaforada dizendo que
quem não concorda com ele é estúpido.
A Poesia Religiosa de Gregório de Matos
Por fim, há a poesia religiosa que também é trabalhada por meio
de pares de opostos. O ambiente fortemente cristão do período
barroco, faz-se presente: os pares antagônicos da vez são culpa vs.
perdão e corpo vs. alma.
Neste ponto, Gregório põe a poesia como a única forma de
libertação e salvação para o poeta. Esta salvação não se dá
somente entre o poeta e Deus, mas também perante a sociedade
e si mesmo.
Aqui, ele não deixa de expor seus sentimentos conflitantes,
principalmente no que se refere a sua vida de dupla moral e
infidelidades à fé. Também pode haver críticas a determinados
comportamentos religiosos em outros poemas de Gregório.

A Jesus Cristo Nosso Senhor

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,


Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
[...]

Este soneto é um dos maiores representantes da poesia


sacra/religiosa de Gregório de Matos. Segundo a crítica literária,
foi inspirado em outros poemas já existentes em língua espanhola.
Outra inspiração do poeta foi a passagem do evangelho de São
Lucas, onde Jesus Cristo conta a parábola da ovelha perdida.
Fonte: https://beduka.com/blog/materias/literatura/analise-de-
poemas-escolhidos-de-gregorio-de-matos/. Acesso em 06/11/2022.

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