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Prof.

Maurício Oliveira
Pré-ENEM – SESI Petrópolis
A expressão barroca denomina genericamente todas as
manifestações artísticas dos anos de 1600 e início dos anos 1700.
Além da Literatura, estende-se à música, pintura, escultura e
arquitetura da época.
 O termo barroco refere-se a um tipo de pérola de forma irregular,
ou mesmo um terreno desigual, assimétrico.
 A literatura religiosa barroca abarca certa angústia, traduzida em
antíteses (pecado x santidade, céu x inferno, Deus x diabo, etc.),
que na arte se traduzem num jogo de luz e sombra.

Mario Quintana, sobre a arte barroca:


O estilo muito ornado lembra aqueles antigos altares barrocos, tão cheios de anjinhos
que a gente mal conseguia enxergar o santo.
ESCULTURAS DE ALEIJADINHO

INTERIOR DE IGREJA BARROCA


PINTURAS DE CARAVAGGIO
O Êxtase de Santa Teresa D’Ávila

ESCULTURAS DE GIAN LORENZO BERNINI O Rapto de Proserpina


 Características do Barroco:
a) Contraste: contraposição de temas, de assuntos, de motivos e de
elementos expressivos, tais como a oposição entre a vida terrena e a vida
eterna, espiritualidade e materialidade;
b) Verbalismo: uso exagerado de imagens, de figuras de sintaxe, de
metáforas difíceis e de floreios (enfeitar, adornar, ornamentar, engalanar;
florir) literários;
c) Religiosidade: repetida frequência de assuntos envolvendo a
problemática religiosa da época;
d) Sensualismo: contraposição à característica anterior, e dá ênfase aos
aspectos táteis, visuais, sensitivos, tanto em relação à Natureza como ao
corpo humano;
 Características do Barroco:
e) Pessimismo: nascido da oposição frontal feita entre o corpo e a alma,
entre o eu e o mundo, entre o Cristianismo e a Reforma;
f) Culto da Solidão: o artista, o poeta é um ser especial, que se isola num
mundo particular. Com esta característica, o Barroco está na raiz do futuro
movimento romântico;
g) Transitoriedade da vida: tudo passa rapidamente;
h) Preocupação constante com a morte: igual ocorria na Idade Média;
i) Gosto pelo grandioso, sangrento e pelo espetáculo trágico;
j) Tensão emocional: o homem já não se orienta pela razão, mas
sim por sentimentos e emoções violentas.
 Principais autores barrocos (no Brasil):
a) Poesia:
• Gregório de Matos;
• Bento Teixeira;
• Botelho de Oliveira;
• Frei Itaparica.
b) Prosa:
• Padre Antônio Vieira (também em Portugal);
• Sebastião da Rocha Pita;
• Nuno Marques Pereira.
 Exemplo de prosa barroca:
 Sermão da Quarta-Feira de Cinzas (fragmento) – Pe. Antônio Vieira
 Ora suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus o disse: perguntar-me-eis
e com muita razão, em que nos distinguimos logo os vivos dos mortos? Os mortos são pó, nos
também somos pó; em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos
mortos, assim como se distingue o pó do pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó
caídos; os vivos são pó que anda, os mortos são pó que jaz: Hic jacet. Estão essas praças no
verão cobertas de pó: dá um pé-de-vento, levanta-se o pó no ar e que faz? O que fazem os
vivos, e muitos vivos. Não aquieta o pó, nem pode estar quedo; anda, corre, voa; entra por esta
rua, sai por aquela; já vai adiante, já torna atrás; tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo
perturba, tudo toma, tudo cega, tudo penetra: em tudo e por tudo se mete, sem aquietar e
sossegar um momento, enquanto o vento dura. Acalmou o vento: cai o pó, e onde o vento
parou, ali fica; ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou no rio,
ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é. E que pó, e que vento é este? O pó
somos nós: Quia pulvis es; o vento é a nossa vida: Quia ventus est vita mea. Deu o vento,
levantou-se o pó; parou o vento, caiu. Deu o vento, eis o pó levantado; estes são os vivos.
Parou o vento, eis o pó caído; estes são os mortos. Os vivos pó, os mortos pó; os vivos pó
levantado, os mortos pó caído; os vivos pó com vento, e por isso vãos; os mortos pós sem
vento, e por isso sem vaidade. Esta é a distinção, e não há outra.
 Gregório de Matos (1633 – 1695, Bahia):
a) Poesia lírica amorosa: manifestação do “eu-lírico” em relação ao amor.
• Marcada pelo dualismo amoroso carne/espírito;
• Sentimento de culpa no plano espiritual;
• Vê na mulher a personificação do próprio pecado.

Exemplo:
Soneto a D. Ângela de Sousa Paredes
Não vira em minha vida, a formosura, Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me,
Ouvia falar nela cada dia, Se esta a cousa não é, que encarecer-me
E ouvida me incitava, e me movia Sabia o mundo, e tanto exagerar-me:
A querer ver tão bela arquitetura:

Ontem a vi por minha desventura Olhos meus, disse então por defender-me
Na cara, no bom ar, na galhardia Se a beleza heis de ver para matar-me,
De uma mulher, que em Anjo se mentia; Antes olhos cegueis, do que eu perder-me.
De um Sol, que se trajava em criatura:
 Gregório de Matos (1633 – 1695, Bahia):
b) Poesia lírica filosófica: manifestação filosófica do “eu-lírico”.
• Fala sobre o desconcerto do mundo (lembrando Camões);
• Retrata as frustrações humanas diante da realidade;
• Expõe a consciência da transitoriedade da vida e do tempo.

c) Poesia lírica religiosa: manifestação religiosa do “eu-lírico”.


• Apresenta o amor a Deus;
• Não esconde a culpa;
• Mostra-se arrependido;
• Pede o perdão;
• Argumenta com Deus;
• Faz referências bíblicas.
 Exemplo de poesia barroca:
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR – Gregório de Matos
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,


A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida e já cobrada


Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história,

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,


Cobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
 Gregório de Matos (1633 – 1695, Bahia):
d) Poesia satírica: representa uma veia ferina em que falava dos
governantes, do clero, dos comerciantes, dos negros, dos mulatos,
enfim, de toda a sociedade.
• Utiliza palavrões;
• Crítica a todas as classes da sociedade baiana de seu tempo;
• Linguagem diversificada, ou seja, cheia de termos indígenas,
africanos, gírias e expressões locais.
 Exemplo de poesia barroca:
Necessidades Forçosas da Natureza Humana – Gregório de Matos
Descarto-me da tronga, que me chupa,
Corro por um conchego todo o mapa,
O ar da feia me arrebata a capa,
O gadanho da limpa até a garupa.

Busco uma freira, que me desemtupa


A via, que o desuso às vezes tapa,
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.

Que hei de fazer, se sou de boa cepa,


E na hora de ver repleta a tripa,
Darei por quem mo vase toda Europa?

Amigo, quem se alimpa da carepa,


Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ou faz da mão sua cachopa.
 Exemplo de poesia barroca:
A MESMA MARIA VIEGAS SACODE AGORA O POETA ESTRAVAGANTEMENTE, PORQUE SE
ESPEYDORRAVA MUYTO – Gregório de Matos
Dizem, que o vosso cu, Cota,
assopra sem zombaria,
que parece artilharia,
quando vem chegando a frota:
parece, que está de aposta
este cu a peidos dar, Cota, esse vosso arcabuz
porque jamais sem parar parece ser encantado,
este grão-cu de enche-mão pois sempre está carregado
sem pederneira, ou murrão disparando tantos truz:
está sempre a disparar.
arrenego de tais cus,
De Cota o seu arcabuz porque este foi o primeiro
apontado sempre está, cu de Moça fulieiro,
que entre noite, e dia dá que tivesse tal saída
mais de quinhentos truz-truz:: para tocar toda a vida
não achareis muitos cus por fole de algum ferreiro.
tão prontos em peidos dar,
porque jamais sem parar
faz tão grande bateria,
que de noite, nem de dia
pode tal cu descansar.
 Questões:
1. (FEI)
Em tristes sombras morre a formosura,
em contínuas tristezas a alegria

Nos versos citados acima, Gregório de Matos empregou uma figura de


linguagem que consiste em aproximar termos de significados opostos, como
“tristezas” e “alegria”. O nome desta figura de linguagem é:
a) metáfora
b) aliteração
c) eufemismo
d) antítese
e) sinédoque
 Questões:
2. (UFV) Leia o texto:
Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda flor sua pisada.
Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
(Gregório de Matos)

Os tercetos acima ilustram:


a) caráter de jogo verbal próprio da poesia lírica do séc. XVI, sustentando uma crítica à preocupação
feminina com a beleza.
b) jogo metafórico do Barroco, a respeito da fugacidade da vida, exaltando gozo do momento
c) estilo pedagógico da poesia neoclássica, ratificando as reflexões do poeta sobre as mulheres maduras.
d) as características de um romântico, porque fala de flores, terra, sombras.
e) uma poesia que fala de uma existência mais materialista do que espiritual, própria da visão de mundo
nostálgico-cultista.
 Questões:
3. (UFRS) Considere as seguintes afirmações sobre o Barroco brasileiro:
I. A arte barroca caracteriza-se por apresentar dualidades, conflitos, paradoxos e contrastes, que convivem
tensamente na unidade da obra.
II. O conceptismo e o cultismo, expressões da poesia barroca, apresentam um imaginário bucólico, sempre
povoado de pastoras e ninfas.
III. A oposição entre Reforma e Contra-Reforma expressa, no plano religioso, os mesmos dilemas de que o
Barroco se ocupa.
Quais estão corretas:
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e III
e) I, II e III.
 Questões:
4. (Enem-2014)
Com uma elaboração de linguagem e uma visão
Quando Deus redimiu da tirania de mundo que apresentam princípios barrocos,
Da mão do Faraó endurecido o soneto de Gregório de Matos apresenta
O Povo Hebreu amado, e esclarecido, temática expressa por
Páscoa ficou da redenção o dia.
a) visão cética sobre as relações sociais.
Páscoa de flores, dia de alegria b) preocupação com a identidade brasileira.
Àquele Povo foi tão afligido c) crítica velada à forma de governo vigente
O dia, em que por Deus foi redimido; d) reflexão sobre os dogmas do cristianismo.
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. e) questionamento das práticas pagãs na Bahia.
Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro Deus,
que veio estirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro.
DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006.
 Questões:
5. (PUC)
Anjo no nome, Angélica na cara,
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara?

Na estrofe acima, o jogo de palavras:


a) é recurso de que se serve o poeta para satirizar os desmandos dos governantes de seu tempo;
b) retrata o conflito vivido pelo homem barroco, dividido entre o senso do pecado e o desejo de perdão;
c) expressa a consciência de que o poeta tem do efêmero da existência e o horror pela morte;
d) revela a busca da unidade, por um espírito dividido entre o idealismo e o apelo dos sentidos;
e) permite a manifestação do erotismo do homem, provocado pela crença na efemeridade dos
predicados físicos da natureza humana.
 Questões:
6. (UCS) Escolha a alternativa que completa de forma correta a frase abaixo:
A linguagem ________, o paradoxo, ________ e o registro das impressões sensoriais são recursos
linguísticos presentes na poesia ________.
a) simples; a antítese; parnasiana.
b) rebuscada; a antítese; barroca.
c) objetiva; a metáfora; simbolista.
d) subjetiva; o verso livre; romântica.
e) detalhada; o subjetivismo; simbolista.

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