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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas


Programa de Pós-Graduação em História Social
Doutorado em História

PEDRAS E RAIOS NO PARLAMENTO BRASILEIRO


A atuação legislativa do deputado constituinte Carlos Marighella
(1946-1948)

Projeto de pesquisa apresentado ao Programa


de Pós-Graduação em História, como pré-
requisito parcial à seleção de Doutorado, em
2018, para a Linha de Pesquisa: Sociedade,
Relações de Poder e Região.

Salvador – Bahia
2018
1

1. INTRODUÇÃO

No dia 24 de julho de 1946, noventa e cinco mulheres da cidade de Alagoinhas,


interior baiano, assinaram um telegrama endereçado ao deputado federal constituinte Carlos
Marighella. Na correspondência, enviada ao único parlamentar eleito na Bahia pelo Partido
Comunista do Brasil (PCB),1 Mariana Pereira, Otávia Correia e as outras signatárias se
posicionaram favoráveis à possibilidade da realização do divórcio, um dos temas que era alvo
das discussões na Assembleia Constituinte de 1946.2 As alagoinhenses afirmaram que o
divórcio era “uma das necessidades mais sentidas na família”, afinal, caso fosse permitido,
seriam “evitados inúmeros crimes cuja causa principal é na maioria das vezes
incompatibilidades sexuais e de gênios”. Para elas, os legisladores deveriam evitar que
homens e mulheres ficassem “uma vida inteira sacrificados pelo chamado casamento
indissolúvel, responsável direto por tantos males”.3 É possível que missivas com
posicionamentos parecidos com o das alagoinhenses tenham sido enviadas aos demais
congressistas, ainda assim, a Constituição promulgada em 1946 continuou determinando a
indissolubilidade do casamento4.
O telegrama acima mencionado nos indica que uma das formas de comunicação entre
uma parcela da população da Bahia e o comunista se dava através do envio de
correspondências, onde as suas demandas eram expostas ao parlamentar. Isto fica mais
evidente ao se analisar o discurso proferido por Carlos Marighella, na Câmara dos Deputados,
em 12 de dezembro de 1946. Na ocasião, o parlamentar após afirmar que objetivava
evidenciar a crise econômica que a Bahia atravessava e traduzir “os anseios e reclamações do
povo baiano”, leu a carta de um médico que declarava que a “miséria lavra em todo estado”,
fazendo com que os preços da carne estivessem caríssimos e faltasse pão em Salvador.
Marighella também fez a leitura do memorial de moradores do bairro do Peru, em Salvador,
que reivindicavam a construção de um chafariz, o conserto de ruas, a instalação de energia
elétrica, entre outros. De Feira de Santana, interior baiano, foi enviado um memorial
solicitando o saneamento básico em toda cidade, além da construção de “hospital e escola
profissional para menores abandonados”. O comunista ainda tratou da situação dos

1
Nas eleições de 1945, das 286 vagas na Câmara dos Deputados, o estado da Bahia tinha direito a 24. Desse
total, doze foram ocupadas por parlamentares da UDN; nove por membros do PSD; e as outras três por
deputados do PCB, PTB e PPS.
2
Com o fim do Estado Novo (1937-1945), o Tribunal Superior Eleitoral ratificou o entendimento da Lei
Eleitoral, criada naquele ano, que os parlamentares eleitos para a legislatura (1946-1950) tinham como atribuição
inicial a elaboração de uma nova Constituição. Assim, a Assembleia Constituinte iniciou seus trabalhos no dia
dois de fevereiro e terminou em dezoito de setembro de 1946, quando foi promulgada a nova Carta
Constitucional do país.
3
Telegrama endereçado a Carlos Marighella. (24 jul. 1946): Prontuário Carlos Marighella. Arquivo Público do
Rio de Janeiro. Fundo: Divisão de Polícia Política e Social- DPS. Rio de Janeiro.
4
BRASIL. Constituição (1946). Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao46.htm. Acessado em: 20 mai. 2018.
2

ferroviários de Alagoinhas, informando que a Leste Brasileira não estava pagando o descanso
semanal remunerado e as horas extraordinárias, e nem indenizando os funcionários que
sofriam acidentes de trabalho. Após citar outras demandas da população, Carlos Marighella
encerrou seu pronunciamento afirmando que o seu mosaico não havia terminado, e que, por
essa razão, voltaria à tribuna “para pontilhar os problemas do interesse do povo da Bahia”.5
Como muitas vezes essas correspondências eram lidas no plenário, é possível
identificar por meio delas, entre outras coisas, a situação política e econômica do estado,
assim como muitas das necessidades de uma parcela do povo baiano, que eram visibilizadas
no Parlamento. Por isso, a análise dessa documentação será imprescindível para este projeto
de pesquisa de doutorado, que tem por objetivo investigar a atuação legislativa do deputado
federal constituinte Carlos Marighella, entre os anos de 1946 e 1948.6
É importante salientar que a inédita presença de Carlos Marighella, e dos demais
comunistas, no Parlamento brasileiro causou tensões desde seus primeiros momentos, tendo
em vista que em 1946 o Congresso “abrigava a fina flor das forças conservadoras do país,
eleita por uma poderosa máquina eleitoral e que reabilitara a oligarquia deposta em 1930”
(GIOVANNETTI NETTO, 1986, p. 147). Tais tensões aconteceram desde a Sessão
Preparatória da Assembleia Constituinte, quando Carlos Marighella e outros parlamentares do
PCB, os primeiros a fazerem o uso da palavra, questionaram o fato de os trabalhos da
Constituinte estarem sendo presidido pelo Presidente do Tribunal Superior Eleitoral,
Valdemar Falcão.7
Foram também os comunistas que inauguraram as discussões sobre assuntos que
extrapolavam as questões acerca do funcionamento do Parlamento. O primeiro foi Carlos
Marighella, que usou a tribuna para afirmar que o ministro do Trabalho, Indústria e Comércio,
Otacílio Negrão de Lima, autorizado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, havia declarado
que a greve nacional dos bancários, iniciada em 24 de janeiro de 1946,8 não se justificava,
haja vista que “o recurso extremo das greves, principalmente intempestivas”, criavam

5
CONGRESSO NACIONAL. Diário do Congresso Nacional. (Sessão de 12 dez. 1946). Capital Federal. Ano I,
n. 57, 13 dez. 1947. p. 1712-1713. Disponível em: http:www2.camara.leg.br Acessado em: 12 fev. 2018.
6
Embora Carlos Marighella e os demais parlamentares comunistas tenham sido eleitos em 1945 para a
legislatura de 1946 a 1950, os mandatos deles foram extintos em janeiro de 1948. Isto ocorreu porque no início
de 1946 foi protocolado o pedido de cassação do registro do PCB, sendo que este processo durou até maio do
ano seguinte, quando o partido foi colocado mais uma vez na ilegalidade. Como consequência, os quatorze
deputados e o senador, Luis Carlos Prestes, tiveram seus mandatos extintos no início de 1948.
7
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 1ª Sessão Preparatória, 01 fev. 1946. Anais da Assembleia
Constituinte. Vol. I. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1946. p. 3-5. Disponível em:
http://bd.camara.gov.br/bd/. Acessado em: 02 mai. 2017. (Por conta da presença do presidente do TSE na
Constituinte, o deputado Maurício Grabois, do PCB, propôs que os trabalhos fossem dirigidos por um
parlamentar7. A proposta foi acompanhada por alguns deputados, a maioria comunista, como Marighella, porém
Valdemar Falcão continuou presidindo os trabalhos até a eleição que escolheu o senador Fernando de Melo
Viana, do PSD, como presidente da Constituinte).
8
Segundo Carlos Zacarias Sena Júnior, a greve nacional dos bancários durou até 13 de fevereiro, atingindo mais
de 40 mil trabalhadores, em sete estados da Federação, além do Distrito Federal. (SENA JÚNIOR, 2007. p. 350-
358).
3

“dificuldades ao governo democrático” que se iniciava, “perturbando a vida pacífica da


Nação”.9 Em sentido contrário ao ministro, Marighella saiu em defesa dos grevistas, dizendo
que aquele era um “movimento de reivindicações justas, promovido pelos trabalhadores, os
quais, passando fome neste momento, se utilizam do recurso legal da greve para conseguir
mais um pouco de pão”. Ademais, lamentou que Negrão de Lima não reconhecesse o “direito
líquido e incontestável que é o do proletariado fazer suas greves, direito reconhecido no
mundo todo e pela nossa própria pátria, quando, em Chapultepec, assinou a ata que garante
essa defesa a todo o operariado”.10
Ainda durante este pronunciamento, Marighella disse que a posição dos comunistas
em relação ao Governo “seria clara, firme e decidida, de apoio a todos os seus atos
democráticos, como também de repulsa e combate, o mais implacável e impiedoso, a todos os
atos reacionários”. Em seguida, o comunista foi interrompido pelo senador Georgino Avelino
(PSD/RN) que afirmou que o direito à greve defendido pelo comunista não era “reconhecido
nem mesmo na Rússia”.11 Alguns dias após este pronunciamento, o jornal A Tarde repercutiu
o discurso do deputado Dâmaso Rocha (PSD/RS), no qual foi afirmado que o PCB estimulava
“o proletariado contra o poder constituído, sempre provocando desordens e sabotagens”.
Rocha também disse que o Partido Comunista “sugestiona a classe dos trabalhadores,
preparando e organizando a greve geral, que nenhum governo poderá suportar, porque
representará a desagregação completa de todas as formas estruturais da nação”.12
As ressalvas em relação aos parlamentares do Partido Comunista, evidenciadas nas
falas dos constituintes Georgino Avelino e Dâmaso Rocha, também foram salientadas por
Jorge Amado, deputado eleito pelo PCB/SP. Ao escrever sobre o período em que atuou no
Parlamento, o escritor afirmou:
O exercício do mandato pela bancada comunista tornara-se cada vez mais difícil à
proporção que o clima democrático resultante da vitória das Nações Unidas sobre o
nazismo cedia lugar às discórdias da guerra fria. Os deputados dos demais partidos
nos olhavam com olhos de suspeita, quando não de repulsa. Qualquer emenda ou
projeto da bancada via-se rejeitado in limine. O que estará por detrás disso?
perguntavam-se senadores e deputados do PSD, da UDN, do PTB ou do PST, e
descobriam na proposição mais inocente o famigerado dedo de Moscou. [...] o dedo
e o olho de Moscou estavam em toda a parte ameaçando a sociedade estabelecida,
a religião, a moral, os bons costumes, a família brasileira (AMADO, 2012a, p.67-
68).

Esta declaração de Jorge Amado indica as dificuldades da atuação dos comunistas no


Parlamento. De qualquer forma, nota-se, pelas discussões em torno da greve dos bancários,
ocorridas desde a Sessão Preparatória da Constituinte, a atuação de Marighella em defesa de
9
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 1ª Sessão Preparatória, 01 fev. 1946. Anais da Assembleia
Constituinte. Vol. I. Op. cit., p. 10-11.
10
Idem.
11
Idem.
12
O DEPUTADO acusou os comunistas de estarem fomentando as greves e planejando uma parede geral. A
Tarde. Salvador, 26 fev. 1946. p. 2. Biblioteca Pública do Estado da Bahia. Setor: Periódicos Raros. Salvador.
4

interesses dos trabalhadores. Nesse sentido, em meados de julho de 1946, Marighella


denunciou a situação em que se encontrava o portuário Januário Ferreira dos Santos,
trabalhador das docas da Bahia, que tinha problemas cardíacos “em virtude do pesadíssimo
trabalho no cais”. Mesmo com seu problema de saúde, Januário Santos “não obteve
aposentadoria, apenas licença por dois meses, renovada, em seguida, para tratamento, tendo
ficado encostado à Caixa, mas sem receber um tostão”. Além deste, Marighella ainda relatou
o caso da senhora Agripina da Rocha Dória, viúva de um funcionário dos Correios, que
enviou uma carta para denunciar que o valor da pensão que recebia não era suficiente para
sustentar seus quatro filhos.13
Assim como estes, os pronunciamentos até então analisados evidenciam o
conhecimento do parlamentar sobre inúmeros problemas enfrentados pelos baianos, embora
Carlos Marighella tenha ficado longe de seu estado natal por quase uma década, sendo que
neste período ficou aproximadamente sete anos encarcerado14. Em um dos duzentos e treze
discursos realizados, o deputado comunista afirmou que “a situação do proletariado e do povo
da Bahia é de profunda miséria”, sendo que isto poderia ser observado em todos os
municípios do estado, como em “Alagoinhas, onde existe grande concentração de
ferroviários; no Recôncavo, principalmente nas zonas açucareiras e fumageira; em Santo
Amaro, Cachoeira, São Félix, Maragogipe, Nazaré, Juazeiro, Ilhéus, Jequié, no sertão ou no
litoral”. Além disso, Marighella disse que os operários não tinham onde aprender o ofício na
Bahia, sendo que as pouquíssimas escolas profissionais existentes exigiam diploma de curso
secundário ou que o operário já soubesse ler, o que era um problema, já que “os engenheiros,
na construção civil, não querem aceitar aprendizes. Alegam que o rendimento da produção
diminui”.15
Nesse discurso, ao tocar na questão das escolas profissionalizantes, Marighella teve o
apoio do deputado Rui Santos (UDN/BA), que coadunou com seu posicionamento ao afirmar
que só havia uma escola profissional no estado, já que outra que existia foi transformada em
reformatório de menores. Em seguida, Marighella disse que não havia “na Bahia um Instituto

13
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 107ª Sessão, 18 jul. 1946. Anais da Assembleia Constituinte. Vol.
XVIII. Op. cit., p. 360-364.
14
Marighella saiu da Bahia com destino ao Rio de Janeiro em fins de 1935. Em maio do ano seguinte foi preso,
tendo ficado encarcerado até meados de 1937. Em 1939, foi preso em São Paulo, sendo solto apenas após a
concessão da anistia aos presos políticos, em abril de 1945. Marighella retornou à Bahia em junho daquele ano,
permanecendo no estado por aproximadamente um mês. Inclusive por conta do longo período longe da Bahia,
não consideramos que Marighella fosse um agente político muito conhecido em seu estado quando foi eleito em
1945. Divergimos da perspectiva apresentada pelas biografias que afirmam que ele era bastante conhecido na
Bahia, em 1945. Entendemos que a sua eleição se deu por uma conjuntura de fatores, dentre os quais, pelo fato
de ter sido escolhido pelo PCB como candidato preferencial, ou seja, o que os militantes deveriam votar,
independentemente de suas preferências. Cf. SIZILIO, 2017.
15
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 107ª Sessão, 18 jul. 1946. Anais da Assembleia Constituinte. Vol.
XVIII. Op. cit., p. 360-364.
5

de Pesquisas Tecnológicas, reivindicação sentida dos engenheiros”. Além de citar a situação


de precariedade dos ferroviários; dos trabalhadores da navegação; dos guardas-civis; e dos
soldados, cabos, sargentos e oficiais da Polícia Militar da Bahia, o comunista finalizou seu
pronunciamento tratando do descumprimento, por alguns comerciantes, do tabelamento de
preços determinado pelo Governo. Em sua denúncia, Marighella disse que “os gêneros de
primeira necessidade são vendidos na Bahia pela hora da morte. São preços exageradíssimos”,
o que demonstrava “até que ponto sofre o nosso povo, e até onde vai a carestia da vida”.16
A partir de pronunciamentos tão amplos como este, pode-se perceber aspectos da
situação econômica e social da Bahia que tiveram visibilidade por meio da atuação legislativa
de Marighella. Além disso, há indícios que houve aproximações entre o comunista e
deputados de outras agremiações a respeito de determinados problemas enfrentados pelos
baianos, como a falta de escolas profissionalizantes, mencionado acima. Isto demonstra a
complexidade das relações estabelecidas entre os parlamentares no Congresso Nacional, o que
enseja uma pesquisa mais aprofundada acerca destas questões.
Deve-se destacar, também, que Carlos Marighella como deputado constituinte,
apresentou dezenove emendas ao Projeto Constitucional (BRAGA, 1998, p. 228-231). Dentre
as quais, propôs que na Constituição estivesse assegurado que o ensino ministrado nos
estabelecimentos públicos fosse leigo, “para assegurar de forma completa a separação entre a
Igreja e o Estado”;17 que fosse suprimido o artigo que constava que o casamento era
indissolúvel;18 e que estivesse no texto constitucional a inviolabilidade da liberdade de
consciência e de crença, garantindo o livre exercício dos cultos religiosos.19 Após a
promulgação da Carta Constitucional, Marighella apresentou nove Projetos de Lei, como o
que instituía o regime legal das jazidas de petróleo e gases naturais; o que declarava de
utilidade pública o abastecimento nacional do petróleo e nacionalizava a indústria de
refinação do petróleo importado ou de produção nacional; e o que criava o Instituto Nacional
do Petróleo.20 Ainda que a maioria das emendas e projetos tenha sido rejeitada, a introdução
de discussões sobre essas temáticas no Congresso evidencia a importância da atuação
institucional do comunista.

16
Idem.
17
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 90ª Sessão, 25 jun. 1946. Anais da Assembleia Constituinte. Vol.
XVI. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1948. p. 48-49. Disponível em:
http://bd.camara.gov.br/bd/. Acessado em: 02 mai. 2017.
18
Ibidem, p. 73.
19
Ibidem, p. 49. (Cabe salientar que em Navegações de Cabotagem, Jorge Amado afirma ter sido sua a
proposição que garantiu que a liberdade religiosa estivesse assegurada na Constituição. Em suas palavras, foi a
sua contribuição para a Carta Constitucional. Todavia, o texto sobre liberdade religiosa é praticamente o mesmo
do que estava Constituição de 1934, em vigor durante o período da Assembleia Constituinte, já que a
Constituição de 1937 tinha sido revogada. Portanto, a afirmação do escritor suscita dúvidas. De qualquer forma,
ressalte-se que a Emenda assinada por Marighella propondo que as liberdades de consciência e de crença, e de
culto não estivessem vinculadas à ordem pública e aos bons costumes foi rejeitada).
20
Os Projetos de Lei apresentados por Carlos Marighella podem ser pesquisados no site da Câmara dos
Deputados, a saber: http://www2.camara.leg.br/.
6

Quanto à repercussão do mandato de Marighella na imprensa baiana, cabe mencionar


que alguns dias após o início dos trabalhos da Constituinte, em 07 de fevereiro, o jornal A
Tarde publicou um longo artigo a respeito das discussões no Congresso. Antonio Osmar
Gomes, no texto “Começou mal”, abordou os debates no Parlamento de forma bastante
depreciativa, sem mencionar a greve nacional dos bancários, tema apresentado por
Marighella. Para o autor, ao término da sessão, dominada pelas falas dos deputados
comunistas, ficou em seus “ouvidos a ressonância do palavreado oco de fundo e de forma dos
chamados representantes da vontade popular”. Além disso, o articulista escreveu que “se é
pela bitola dos homens que ali discutiram questões bizantinas, sem resultado prático e nem
finalidade patriótica, [...] então podemos dizer que o Brasil estará mesmo irremediavelmente
perdido”.21 Neste mesmo mês, o A Tarde ainda repercutiu o discurso do deputado Dâmaso
Rocha, em que foi afirmado que o PCB estimulava “o proletariado contra o poder constituído,
sempre provocando desordens e sabotagens”, como citado anteriormente.
Por outro lado, o periódico comunista O Momento, de 04 de fevereiro, publicou uma
longa matéria intitulada: “Marighella defende, na Constituinte, o direito dos bancários em
greve – como age um verdadeiro deputado do povo”. Após dar ênfase aos debates do primeiro
dia da Constituinte, foi afirmado que “a atitude de Carlos Marighella, deputado comunista
eleito pelo proletariado e pelo povo bahiano, mostra como atuam os verdadeiros
representantes do povo”, por isso o parlamentar era motivo de orgulho na defesa dos
interesses populares.22 Meses depois, em abril, em entrevista ao jornal do comunista, o
portuário José Olavo de Oliveira se referiu a Marighella como “um deputado feito pelo povo e
pelos trabalhadores”.23 Desse modo, pode-se perceber que há fortes indícios de que a
imprensa baiana tratava a atuação dos comunistas no Parlamento brasileiro de forma distinta.
Pelo exposto, em suma, este projeto de pesquisa de doutoramento, a partir da atuação
institucional de Carlos Marighella, buscará responder em qual medida o Parlamento serviu
como espaço de luta para a população da Bahia. Assim, analisaremos a participação da
população baiana nos debates do Parlamento brasileiro; as demandas sociais de parte de
população do estado; os canais de comunicação construídos entre o representante e os
representados; as categorias de trabalhadores que o comunista teve maior aproximação e
inserção; as aproximações, afastamentos e conflitos entre o comunista e os demais deputados
baianos, e as temáticas em que houve alinhamento político do PCB com os demais partidos; e
a repercussão da atuação legislativa de Carlos Marighella nos periódicos da Bahia. Ademais,
averiguaremos o grau de enraizamento do PCB em diversas cidades da Bahia; assim como o

21
GOMES, Antonio Osmar. Começou mal. A Tarde. Salvador, 07 fev. 1946. p. 3. Biblioteca Pública do Estado
da Bahia. Setor: Periódicos Raros. Salvador.
22
MARIGHELLA defende, na Constituinte, o direito dos bancários em greve. O Momento. Salvador, 04 de
fevereiro de 1946. p. 8. Biblioteca Pública do Estado da Bahia. Setor: Periódicos Raros. Salvador.
23
O POVO precisa de deputados como Marighella. O Momento. Salvador, 28 de abril de 1946. p. 3. Biblioteca
Pública do Estado da Bahia. Setor: Periódicos Raros. Salvador.
7

posicionamento político de Marighella durante os trabalhos da Constituinte, e na Câmara dos


Deputados, sobre temáticas de caráter nacional, como, por exemplo, a laicidade do Estado, a
exploração do petróleo e a reforma agrária.
Por fim, no que se refere às hipóteses provisórias, temos em perspectiva que o
mandato de Carlos Marighella serviu como um importante canal de visibilidade a muitos
problemas socioeconômicos da Bahia, evidenciando, no corpo burocrático do Estado, as
demandas sociais da população baiana, referentes, por exemplo, às questões trabalhistas,
como hora extra, descanso remunerado, greves, assim como outras apresentadas neste projeto.
Essa visibilidade funcionou como mecanismo de pressão dentro do Parlamento para que tais
questões fossem apreciadas pelo aparelho estatal, abrindo caminho para expressões
divergentes e conflitos de interesses dentro daquele espaço. Ademais, é provável que o
posicionamento mais radical de Marighella, e da bancada comunista, sobretudo em relação às
questões vinculadas à agenda social, popular e nacional, tenham contribuído para o processo
de cassação do registro do PCB e a extinção dos mandatos dos parlamentares.

2. JUSTIFICATIVA

Carlos Marighella entrou no Partido Comunista em 1934, aos vinte e dois anos,
permanecendo por mais de três décadas na agremiação, onde se tornou um dos seus principais
dirigentes. Durante esse período, apenas entre 1945 e 1948 pode viver de forma pública, não
clandestina, sem as recorrentes perseguições policiais e a iminência de ser preso. Todavia,
deve-se salientar que isso ocorreu de forma relativa, já que, em 31 de agosto de 1946, durante
o exercício de seu mandato parlamentar, a casa de Carlos Marighella e a sede do PCB foram
invadidas pela polícia.24 De qualquer forma, é neste curto período, entre a sua anistia em abril
de 1945, e a extinção do seu mandato em janeiro de 1948, que Marighella teve a liberdade
para se expressar e ir e vir sem maiores transtornos. Na vida pública, o deputado baiano fez
uma grande quantidade de pronunciamentos no Parlamento, além de ter concedido
entrevistas, produzido textos e feito declarações, principalmente para a imprensa comunista.
Por isso, este período é ímpar para se compreender um pouco melhor o pensamento deste
importante personagem da história política brasileira do século XX, e também a linha política
de atuação institucional do PCB no Parlamento.
Diante disso, e em função da escassez de estudos sobre os parlamentares do PCB,
incluindo Marighella, ente 1946 e 1948, é que propomos pesquisar a atuação institucional de
Carlos Marighella no Parlamento. É certo que a atuação legislativa de Marighella neste
período é pouco estudada e, portanto, pouco conhecida. Um dos indícios acerca desta
24
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 155ª Sessão, 31 ago. 1946. Anais da Assembleia Constituinte. Vol.
XXIII. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1950. p. 366-367. Disponível em:
http://bd.camara.gov.br/bd/. Acessado em: 02 mai. 2017.
8

perspectiva é o fato de que não houve qualquer menção à atuação parlamentar de Marighella
na solenidade em que foi concedido o Título de Cidadão Paulistano ao comunista. Na Sessão
Solene, realizada em 04 de novembro de 2009, ao se completar 40 anos do assassinato do
baiano, todos os oradores que reverenciaram Marighella, incluindo o escritor Antônio
Cândido; sua viúva, Clara Charf; e seu filho, Carlos Augusto Marighella, enfatizaram a
atuação guerrilheira do comunista e seu enfrentamento à ditadura civil-militar brasileira, sem
ser mencionada a contribuição política dele durante o período em que pode atuar
institucionalmente25.
Esta ênfase ao período em que Marighella enfrentou a ditadura de 1964 não é
exclusividade daqueles que o homenagearam naquela Sessão Solene. Tanto que, nas quatro
biografias sobre o comunista baiano, este é o momento de sua vida que tem maior destaque,
enquanto os anos de liberdade política são pouco aprofundados (JOSÉ, 2004; NOVA e
NÓVOA, 1999; SILVA JÚNIOR, 2009; MAGALHÃES, 2012). Nas biografias, no pouco
espaço dedicado para a atuação parlamentar de Marighella, os autores, com maior ou menor
ênfase, optaram por apenas descrever alguns pronunciamentos do comunista, sem fazer uma
análise mais cuidadosa do contexto e do conteúdo dos inúmeros discursos proferidos pelo
legislador baiano.
Também de forma essencialmente descritiva e pouco analítica, a monografia do
Bacharelado em História de Luis Sandri (2009) abordou a atividade parlamentar de
Marighella. Porém, apenas sobre os sete meses dos trabalhos da Assembleia Constituinte,
portanto, o autor optou por não tratar do período mais longo da atuação legislativa do
comunista. Provavelmente pelas limitações de uma pesquisa na graduação, Sandri elegeu
apenas cinco temas da plataforma política do PCB, como, por exemplo, “contra o
imperialismo”, para abordar o mandato de Marighella. Por isso, apesar de seus méritos e
contribuição, a pesquisa de Sandri não trata da grande maioria das discussões e proposições
de Marighella no Parlamento.
De qualquer maneira, ainda que haja poucos estudos e conhecimento acerca da
atuação legislativa de Marighella entre 1946 e 1948, a contribuição deste parlamentar para a
vida púbica brasileira já foi reivindicada algumas vezes. Nesse sentido, em março de 2013, a
Câmara dos Deputados tornou nula a Resolução que cassou o mandato dos parlamentares
comunistas em 1948, devolvendo-os simbolicamente, ao reconhecer “que o tratamento
dispensado àqueles Parlamentares não levou em conta princípios basilares da democracia e do
devido processo legal”.26 Exatamente três décadas antes da devolução dos mandatos, ainda
em fins da ditadura, também houve na Câmara dos Deputados uma “homenagem ao ex-
25
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Ata da 119ª Sessão Solene, 04 nov. 2009. São Paulo: Secretaria
de Registro Parlamentar e Revisão. p. 1-31. Disponível em: http://www.camara.sp.gov.br/atividade-
legislativa/sessao-plenaria/registro-das-sessoes/. Acessado em: 12 jun. 2017.
26
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Ata da Sessão Solene, 13 ago. 2013. Brasília: Departamento de Taquigrafia,
Revisão e Redação. p. 102-168. Disponível em: http://www2.camara.leg.br. Acessado em: 14 jun. 2017.
9

deputado Carlos Marighella, constituinte de 1946”,27 o que evidencia a importância deste


personagem para a vida pública brasileira, mesmo que tenha sido alijado da política
institucional após extinção de seu mandato em 1948, em função da cassação do registro do
PCB no ano anterior.
Assim como Marighella, um dos deputados comunistas que teve seu mandato
devolvido simbolicamente foi Jorge Amado, que, ao se referir à atividade parlamentar de
Marighella, afirmou que seu companheiro ao subir “à tribuna, punha em pânico os
parlamentares”, já que suas “palavras eram pedras e raios” (AMADO, 2012a, p.205-206,
grifo nosso). Amado ainda informa que, juntos, escreveram vários discursos para os outros
parlamentares do partido, onde passavam em revista por todos os problemas do país. Armênio
Guedes,28 outro importante integrante do partido à época, afirmou que Marighella era o
coordenador das atividades dos comunistas na Constituinte. Conforme nos declarou Guedes,
Marighella “era quem fazia as reuniões; via como é que podíamos fazer os discursos; as leis
que íamos propor; os artigos que íamos aprovar ou não na Constituição”.29 Além disso, cabe
ressaltar que durante a Constituinte Marighella fez parte da Mesa da Assembleia, na condição
de suplente de secretário.30
Posto isto, cientes tanto da importância de Marighella, e dos demais parlamentares do
PCB, para a história política brasileira, quanto da quantidade limitada de estudos a respeito da
sua atuação institucional em meados da década de 1940, é que se torna relevante uma análise
historiográfica com maior acuidade sobre a atuação legislativa do comunista baiano. Além
disso, esta pesquisa se justifica tendo em perspectiva a abordagem desta investigação, já que
propomos vincular os aspectos políticos-institucionais às demandas sociais. Desse modo, à
luz da atividade institucional de Marighella, com seus pronunciamentos, propostas de
Emendas e Projetos de Lei realizados, compreendemos ser importante a realização de um
estudo que nos permita perceber, entre outros, a diversidade das demandas da população da
Bahia no período em questão; assim como aspectos sociais e econômicos do estado; e,
também, a postura da imprensa do estado diante da atuação do parlamentar do PCB no
Parlamento. Afinal, o estudo sobre a atuação institucional se torna relevante, pois, como
afirma Consuelo Novais Sampaio (1985, p.18), “o legislativo assume grande significado [...]
como representação microcósmica das forças sociais e seus interesses; como arena para a
articulação de alternativas políticas que atendam aqueles diferentes interesses”.

27
BRASIL. Diário do Congresso Nacional. Ano XXXVIII, n. 163. Brasília, 02 dez. 1983. p. 14232-14233.
Disponível em: http://www2.camara.leg.br/. Acessado em: 03 set. 2015.
28
Armênio Guedes, baiano da cidade de Mucugê, participou em 1943 da reorganização do PCB. Dirigente
nacional do partido, em 1945 concorreu, junto com Marighella, ao cargo de deputado pela Bahia.
29
GUEDES, Armênio. Armênio Guedes: depoimento [out. 2013]. Entrevistador: Ricardo José Sizilio. Salvador.
30
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 2ª Sessão, 07 fev. 1946. Anais da Assembleia Constituinte. Vol. I.
Op. cit., p. 84.
10

Saliente-se, ainda, que na Constituinte de 1946 os comunistas deram visibilidade a


questões que eram pouco discutidas no Parlamento até então, servindo de exemplo a Emenda
de autoria de Marighella que garantiria a ampla liberdade de consciência e de crença e o livre
exercício de cultos religiosos no Brasil, sem que estivessem vinculados à ordem pública e aos
bons costumes, como aprovado na Carta Constitucional.31 Muitas dessas proposições, que
foram rejeitadas, reapareceram em debates posteriores, sendo que a maioria das propostas dos
comunistas foi consagrada apenas na Constituição de 1988.
Diante disso, compreender a atuação parlamentar de Marighella em consonância com
os interesses da população da Bahia; e como a imprensa abordava o mandato do comunista,
constitui-se em uma temática que ainda não foi amplamente desenvolvida, justificando a
importância e relevância de uma investigação histórica sobre o tema. Dessa forma, tendo em
perspectiva que o sujeito é a expressão de uma coletividade, onde há disputas, negociações,
acordos, resistências, é que pretendemos contribuir para a ampliação dos estudos sobre:
Carlos Marighella; o Partido Comunista do Brasil; a Assembleia Constituinte de 1946 e a
Câmara dos Deputados; a imprensa na Bahia; e as diversas demandas da população baiana,
entre 1946 e 1948.
Para finalizar, atualmente a sociedade brasileira ainda luta pelo amadurecimento de
sua democracia com a coexistência de debates à esquerda e à direita. Nos últimos anos,
inclusive, aconteceram muitos ataques aos direitos da população e ao Estado democrático de
direito. Assim sendo, além de contribuir academicamente com a historiografia, entendemos
que esta pesquisa se torna relevante socialmente ao acrescentar variados, complexos e novos
elementos aos debates em torno da luta pela democracia e por direitos sociais e políticos, à luz
da trajetória de um importante personagem da esquerda nacional, Carlos Marighella.

3. OBJETIVOS
3.1 GERAL
 Analisar a atuação parlamentar do deputado comunista Carlos Marighella, entre 1946
e 1948, tanto na Assembleia Constituinte quanto na Câmara dos Deputados.

3.2 ESPECÍFICOS
 Analisar a relação de Carlos Marighella com a população da Bahia, averiguando quais
canais de comunicação foram construídos; as demandas dos representados; em quais
categorias de trabalhadores o comunista teve maior inserção; e qual era o grau de
enraizamento do PCB no estado.

31
BRASIL. Constituição (1946). Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm. Acessado em: 20 mai. 2016.
11

 Analisar os discursos e as propostas legislativas de Carlos Marighella no Parlamento


brasileiro, identificando o seu posicionamento em relação às questões relativas ao
Estado e à sociedade brasileira, assim como a respeito da situação econômica e social
da Bahia.
 Analisar as aproximações e afastamentos entre o comunista e os demais deputados
baianos, e em quais temáticas houve alinhamento e divergências políticas do PCB com
os outros partidos.
 Analisar a repercussão da atuação legislativa de Carlos Marighella nos periódicos da
Bahia.

4. CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

Em março de 1946, em artigo publicado no jornal do Partido Comunista, A Classe


Operária, Carlos Marighella afirmou que o fato de haver parlamentares do PCB na
Assembleia Constituinte consistia na ascensão da classe operária, representando um momento
relevante ao desenvolvimento da luta de classes. Todavia, para Marighella, a Constituinte não
tinha fim em si mesma, já que “a classe operária não pode esperar que todos os seus
problemas venham a ser resolvidos só com o funcionamento dessa Assembleia”. Citando
Engels, o deputado afirmou que a presença comunista no parlamento beneficiava o
proletariado, já que desta forma os constituintes poderiam “falar a seus adversários na
Câmara, e às massas fora dela, com uma autoridade e uma liberdade muito diferente das que
tem na imprensa e nos comícios”.32 Em novembro, meses após esse artigo, e já com a nova
Constituição promulgada, Marighella escreveu outro texto para A Classe Operária, refletindo
sobre a atuação da fração parlamentar bolchevique antes da Revolução de Outubro de 1917,
na Rússia. De acordo com o deputado baiano, aquela fração parlamentar soube ligar-se às
massas, sendo a sua atuação vinculada diretamente ao Comitê Central do partido. Embora
direcionasse sua análise para a experiência bolchevique, é perceptível que o comunista
também refletia sobre a atuação dos parlamentares do PCB, mesmo que não explicitamente,
ao assemelhar as ações dos parlamentares russos com os atos dos pecebistas em 1946.33
Nota-se, a partir desses escritos e dos pronunciamentos já mencionados, que
Marighella se colocava a serviço da luta de classes e dos trabalhadores, além de seguir as
diretrizes do Comitê Central do partido. Diante disso, e tendo ciência de que as bases

32
MARIGHELLA, Carlos. A Assembleia Constituinte e o Partido Comunista. A Classe Operária. Rio de
Janeiro, 16 mar. 1946. p. 6. Centro de Documentação e Memória (Cedem) - Universidade do Estado de São
Paulo. Acervo: Asmob. Fundo: Roberto Morena. São Paulo.
33
______. A Fração Parlamentar Bolchevique e suas lutas antes do 7 de novembro. A Classe Operária. Rio de
Janeiro, 07 nov. 1946. p. 2. Centro de Documentação e Memória (Cedem) - Universidade do Estado de São
Paulo. Acervo: Asmob. Fundo: Roberto Morena. São Paulo.
12

econômicas e sociais se influenciam mutuamente e também reverberam sobre a dinâmica de


toda sociedade, é que esta pesquisa tem como arcabouço teórico-metodológico o materialismo
histórico, conectando a história social à história política.34
Decerto que a investigação a respeito da atuação parlamentar de Carlos Marighella
também não poderá ser dissociada das diretivas do Partido Comunista e, portanto, da história
da agremiação. Assim sendo, à luz da atuação legislativa de Marighella, este estudo analisará
“a eficiência real do partido, sua força determinante, positiva e negativa, sua capacidade de
contribuir para a criação de um acontecimento e também para impedir que outros
acontecimentos se verificassem” (GRAMSCI, 2007, p. 87-88). Para tal, ainda de acordo com
o conceito do escritor italiano Antonio Gramsci, “será necessário levar em conta o grupo
social do qual o partido é expressão e a parte mais avançada”. Na concepção de Gramsci, ao
se estudar a “eficiência real do partido”, deve-se realçar a relação entre partido e aqueles que
lhes dão sustentação; assim como a correlação com outros partidos e com os movimentos
sociais, fazendo com que a luta de classes possa ser alçada ao seu papel principal. Saliente-se
que a “eficiência real” não deve ser entendida a partir de uma perspectiva em que se busque
atestar se o partido foi útil historicamente; ou se o partido foi bem-sucedido em suas ações. A
proposta de Gramsci, como aponta Igor Santos (2010, p.28-32), tem por objetivo
compreender a história de um partido vinculado diretamente à vida social, criando uma baliza
metodológica para o historiador averiguar a capacidade do partido de transpor um programa,
para que assim possa encontrar na “reconstituição da história do partido político os
movimentos das classes sociais, pois os partidos se constituem estreitamente relacionados
com as classes sociais”.
Alinhada com a concepção de “eficiência real”, esta proposta de estudo também está
norteada pela perspectiva apresentada por Edward Thompson (1987, p.13), já que ao
analisarmos os trabalhos legislativos de Marighella também estamos interessados nos “de
baixo”, nos trabalhadores, em suas demandas, ensejando desobscurecer “a atuação dos
trabalhadores, e o grau com que contribuíram com esforços conscientes, no fazer-se da
história”. Além disso, também temos em perspectiva as experiências dessas pessoas, afinal,
entender um processo histórico é buscar, por meio das evidências históricas, apreender como
homens e mulheres agiram e pensaram dentro de determinadas condições (THOMPSON,
1981, p.111). Portanto, buscamos compreender as ações de Marighella, que estão vinculadas

34
De acordo com René Rémond (2003, p. 13-36), com seu processo de renovação ocorrido nas décadas de 1960
e 1970, a História Política deixou de fixar-se nos monarcas, no Estado e nos “acidentes e circunstâncias mais
superficiais”, por exemplo, alargando o domínio do político, ao enfocar, entre tantos aspectos, “às estratégias dos
grupos de pressão”, aos comportamentos coletivos. Para o autor, a renovação da História Política acontece a
partir da multidisciplinaridade, tendo em vista que os fatos estão interligados entre si. Logo, o econômico, o
social, os culturais não estão e nem podem se dissociar do político, já que todos são determinantes e
determinados no processo histórico.
13

às diretrizes do PCB, relacionando com o movimento das classes, com as demandas da


população, buscando apreender como essas mulheres e homens agiram.
Para a concretização deste estudo, que vincula o partido com aqueles que lhes dão
sustentação, e que tem como uma de suas fontes os pronunciamentos realizados no
Parlamento, será levada em consideração a advertência de Serge Berstein (2003, p.61),
segundo a qual, “entre um programa político e as circunstâncias que o originaram, há sempre
uma distância considerável, porque passamos então do domínio do concreto para o do
discurso, que comporta uma expressão das ideias e uma linguagem codificada”. Assim, nos
buscaremos compreender as relações entre essas duas realidades que tem alcances complexos
e distintos. Para tal, o cuidado na análise das fontes, fazendo a crítica interna e externa a
documentação será imprescindível, não apenas em relação aos pronunciamentos de
Marighella, mas também em relação às correspondências, jornais, entrevistas, documentos do
partido e demais documentos utilizados neste estudo. Afinal, como afirma Jacques Le Goff
(1990, p. 545), todo documente é parcial, não existindo “um documento objetivo, inócuo,
primário”, já que ele é fruto das escolhas e intenções de quem o elabora, logo, um ponto de
vista parcial da história.
É certo que não há hierarquização entre as fontes e que cada tipo de documento
necessita de uma abordagem específica. Nesse sentido, como já mencionado, Berstein afirma
que, para a análise dos pronunciamentos, é indispensável ter ciência do grau de subjetividade
que estes carregam, tendo em vista que se passa do domínio do concreto para o do discurso.
Por sua vez, Ângela de Castro Gomes (2004, p.51-75), ao tratar das correspondências como
“fonte privilegiada”, afirma que trabalhar com este tipo de documentação possibilita perceber
a constituição de redes e relações que se estabelecem em torno de um ou vários missivistas.
Ademais, a autora adverte que as correspondências exigem atenção redobrada devido ao seu
caráter subjetivo e normalmente pessoal, sendo adequado que as análises sejam feitas de
forma serial.
Percebe-se, portanto, a necessidade de se realizar uma abordagem própria tanto para
esses tipos de fontes quanto para as demais que serão utilizados nesta pesquisa. Nesta
perspectiva, é imperioso que se faça as críticas, internas e externas, aos documentos, tendo em
vista que as fontes históricas possuem limitações, o que nos direciona a cruzar as informações
fornecidas pelo conjunto da documentação. Cabe dizer que esta pesquisa utilizará a maior
variedade de fontes possível, tendo em vista que a análise combinada de jornais, documentos
oficiais do PCB, discursos no Parlamento, entrevistas, entre outros, amplia o leque de
interpretações a respeito do tema. Diante deste corpus documental vasto, analisaremos cada
instrumento qualitativamente, lendo cada documento a partir de sua metodologia própria, já
que análise de um jornal se difere da análise de uma entrevista, ou de um pronunciamento, por
exemplo. A partir do resultado das análises específicas, poderemos também fazer uma análise
14

quantitativa, para, em seguida, fazer o cruzamentos e comparações das informações obtidas na


documentação.
Ao cruzarmos as informações obtidas por meio das fontes, também temos em
perspectiva a pluridisciplinaridade, a aproximação da História com Ciência Política, Direito e
demais áreas afins, assim como a conexão de campos da própria História, mais
especificamente, a história política, história social e a história oral.35 Tanto essas
aproximações, quanto as abordagens das fontes de forma qualitativa e quantitativa, estão em
acordo com a metodologia crítico-dialético. Tendo em vista o caráter conflitivo, dinâmico e
histórico da realidade, que está em contínuo movimento, e partindo da compreensão de que o
mundo é sempre resultado da práxis humana, a pesquisa crítico-dialética busca desvelar os
conflitos, negociações ou rearranjos que estão em vários níveis desde as interpretações até os
interesses. Esta metodologia, marcadamente crítica, expressa a pretensão de desvendar o
conflito dos interesses, manifestando um “interesse transformador” das situações ou
fenômenos estudados, resguardando sua dimensão sempre histórica e desvendando suas
possibilidades de mudanças (GAMBOA, 2010. p.106-108).
Decerto que para a concretização deste estudo ainda será necessário o debate com a
bibliografia existente, principalmente sobre Carlos Marighella, o PCB e os trabalhadores.
Nesse sentido, o debate sobre a relação dos trabalhadores com o Estado durante o período em
questão será importante. Sobre este tema, deve-se levar em consideração o debate acadêmico
em torno desta relação, a partir dos conceitos de populismo e trabalhismo. De um lado, o
sociólogo Octávio Ianni (1968) e o cientista político Francisco Weffort (1978) cunharam o
termo populismo para caracterizar as relações políticas existentes entre classes sociais e o
Estado, entre 1930 e 1964. Para Weffort, as elites políticas, sem desfrutar da condição de
hegemonia, recorriam ao apoio político das massas com o objetivo de manter-se no poder. Na
perspectiva deste autor, não havia confronto entre os trabalhadores e o Estado, sendo que os
primeiros eram manipulados por meio das leis trabalhistas, sem participar diretamente dos
embates políticos, já que estes eram resolvidos pelos grupos dominantes da esquerda que
reivindicavam sua representação. Do outro lado da disputa, em fins dos anos de 1980, Ângela
de Castro Gomes (1988) compreendeu a classe trabalhadora como preponderante na cena
política brasileira, diferentemente da interpretação de Weffort, cunhando o termo trabalhismo
para designar a relação entre o Estado e os trabalhadores. Para Castro Gomes, existiam
brechas estratégicas na relação o Estado e os trabalhadores, sendo que estes, embora não

35
Deve-se salientar que a utilização de novos objetos de estudos e métodos de análises, interdisciplinando o
estudo da História, muito se deve ao movimento historiográfico dos Annales, liderado inicialmente por Marc
Bloch e Lucien Febvre, que revolucionou o fazer historiográfico. Além de substituir a narrativa tradicional dos
acontecimentos por uma história-problema, dentre outros, buscou-se fazer uma história que contemplasse todas
as atividades humanas e não apenas a política, tradicionalmente voltada para os grandes “líderes, os fatos e as
guerras”. (BURKE, 1991, p. 21).
15

estivessem em luta aberta, tinham papel ativo nas relações políticas, ao estabelecerem um
pacto com o governo através, por exemplo, das leis trabalhistas.36
Os conceitos de populismo e trabalhismo são importantes nesta pesquisa, já que
muitos trabalhos em torno do PCB dialogam com uma ou outra perspectiva. Tomando como
referencial o populismo, Arnaldo Spindel (1980) analisou a abertura política em 1945, e como
os trabalhadores se mobilizaram diante da deposição de Getúlio Vargas da presidência. Em O
Partido Comunista na gênese do populismo, o autor estudou o breve período de legalidade do
PCB, de 1945 a 1947, demonstrando as tentativas de articulação do PCB com a classe
operária. Por outro lado, Fernando Teixeira da Silva e Marco Aurélio Santana (2007) afirmam
que há lacunas na explicação do populismo sobre o sindicalismo da época, já que esta corrente
entende que os trabalhadores eram cooptados e manipulados. Para Teixeira da Silva e Aurélio
Santana, a partir de 1945, o PCB teve grande inserção na organização dos trabalhadores e nos
sindicatos, com forte penetração em diversas categorias de trabalhadores, ainda que não
tivesse o controle das organizações. Diferente do que entende Weffort, os autores
compreendem que o PCB não fez parte da engrenagem do populismo, já que a agremiação se
colocava ao lado dos trabalhadores, mesmo tendo uma postura inicialmente de contenção das
greves.
Assim como os textos acima mencionados, muitos outros são fundamentais para a
melhor compreensão de temas vinculados a esta pesquisa. Não obstante a impossibilidade de
se fazer uma discussão aprofundada neste projeto, é necessário tecer breves comentários
acerca de algumas obras de grande relevância para o desenvolvimento deste estudo,
principalmente a respeito da relação dos trabalhadores, partidos políticos e o Estado. Assim as
obras, A UDN e o Udenismo e O PTB e o Trabalhismo, de Maria Victória Benevides (1981;
1989); e Estado e partidos políticos no Brasil, de Maria do Carmo Campello de Souza (1983),
continuam sendo necessárias para o melhor conhecimento da conjuntura política do país, e
sobre alguns dos seus principais partidos políticos ao longo década de 1940. Ao mesmo
tempo, o texto Sindicatos e democratização, escrito por Ricardo Maranhão (1979); e
Trabalhadores e sindicatos no Brasil, de Marcelo Badaró Matos (2003), são algumas das
obras que abordam a relação dos trabalhadores e sindicatos, sendo todos relevantes nesta
pesquisa, pois é certo que, para se analisar a sociedade brasileira e baiana com maior
acuidade, nos termos em que estamos propondo, não se pode deixar de levar em consideração
a importância das organizações sindicais.
Em relação à produção bibliográfica específica sobre o PCB, o pioneirismo do tema se
deve aos textos memorialísticos escritos, em fins de 1970, por ex-militantes do partido. Em

36
Saliente-se que uma corrente de historiadores encabeçados por Jorge Ferreira e Daniel Aarão Reis Filho, a
partir dos estudos de Ângela de Castros Gomes, e com grande produção na historiografia brasileira, defendem
que o conceito de trabalhismo é o mais adequado para se entender a relação entre o Estado e os trabalhadores no
período em questão. Cf: (FERREIRA, 2001).
16

Uma vida em seis tempos, Leôncio Basbaum (1976) abordou o que considerou mais relevante
sobre o partido entre as décadas de 1920 e 1960, tecendo críticas às mudanças de
posicionamento dos dirigentes a partir da década de 1940. Ainda que seja perceptível a
frustração do autor em relação ao partido, o texto tem grande importância para o estudo da
agremiação. Em O Partidão, Moisés Vinhas (1982) refletiu sobre a atividade do partido entre
1922 e 1974 a partir do seu olhar, tendo como diferencial em seu texto a transcrição de alguns
documentos do PCB neste período. Ainda no conjunto de obras memorialísticas, mas a
respeito do PCB na Bahia, os livros de João Falcão (1993; 2000) são referenciais para
conhecer o partido no estado. Em suas obras, Falcão aborda diversos momentos da atuação
dos comunistas, entre os anos de 1930 e 1970, principalmente na Bahia, onde foi dirigente da
agremiação.
A partir da década de 1980, textos acadêmicos produzidos na Universidade Federal da
Bahia (UFBA) aprofundaram o conhecimento a respeito do PCB e dos trabalhadores no
estado natal de Marighella. O estudo de Petilda Serva Vazquez (1986) enfoca a transição
política do Estado Novo para os governos de ordem liberal, fundados a partir de 1946.
Vazquez, a partir de jornais, afirma que o PCB no período em questão estava mais
preocupado com a atuação nos sindicatos do que nas instituições oficiais, como no
Parlamento. Sônia Serra (1987), por sua vez, analisou a trajetória do jornal que foi o porta-voz
oficial do PCB na Bahia entre 1945 e 1957. Em seu estudo, a autora analisou o PCB
associado à liberdade de imprensa no Brasil após o Estado Novo, e sua tentativa de
aproximação com as massas populares soteropolitanas. Já Maria Victória Espiñeira González
(1997) estudou a atuação do PCB nos anos 1940, e do PCdoB na década de 1980 junto aos
movimentos associativos urbanos. Em sua pesquisa, Espiñeira González abordou como os
setores populares urbanos se articularam contra as políticas econômicas e sociais no final da
ditadura militar, enfocando, ainda, a atuação dos setores progressistas da Igreja Católica em
apoio aos movimentos sociais.
Alguns estudos mais recentes também são importantes para a compreensão da atuação
do PCB e dos trabalhadores na Bahia. Dentre os quais, a dissertação de Raquel Silva (2012)
aprofunda a análise de Espiñeira González sobre os Comitês Populares Democráticos,
organizações que tinham por objetivo fazer a ligação da população com os comunistas, por
meio de reivindicações por melhoria de vida nos bairros e dos grupos envolvidos. Já a
dissertação de Ede Ricardo Soares (2013) analisa a atuação do PCB em Alagoinhas, interior
baiano, e sua relação com o processo de formação da esquerda local, principalmente através
da inserção de membros do partido entre os ferroviários. Ainda a respeito da atuação do PCB
na Bahia, Carlos Zacarias Sena Júnior (2007) aborda a trajetória do partido entre 1936 e 1948.
Em seu texto, Sena Júnior investiga a atuação do PCB no país, e no estado, diante da
17

conjuntura da Segunda Guerra Mundial; e da luta antifascista promovida pelos comunistas a


partir da linha política de União Nacional.
Em relação ao trabalho dos comunistas na Constituinte, os textos O PCB na
Assembleia Constituinte de 1946, de Evaristo Giovannetti Netto (1986), e Os comunistas na
Constituinte de 1946, de José Carlos Rui (2016), são fundamentais para a compreensão da
atuação da agremiação durante a elaboração da Constituição, ainda que as obras não tratem do
período posterior que teve a presença dos comunistas no Parlamento. Deve-se ressaltar,
também, que os autores trataram, sobretudo, do posicionamento do PCB acerca de questões
de cunho mais nacional, como, por exemplo, os “comunistas e a luta pela soberania da
Assembleia Constituinte”, abordado na obra de Giovannetti Netto.
Também tratando da elaboração da Constituição de 1946, porém, sem focar nos
comunistas, os livros Os democratas autoritários e Era uma vez uma Constituinte, escritos
por João Almino (1980; 1985), fazem uma análise aprofundada, principalmente, a respeito
das discussões na Constituinte sobre a concepção de democracia, assim como a respeito das
liberdades individuais, e de associação política e sindical. Por outro lado, Sérgio Braga
(1998), em Quem foi quem na Assembleia Constituinte de 1946, escreveu sobre parlamentares
de 1946, descrevendo seus históricos políticos e as emendas apresentadas durante a
elaboração da Constituição.
Por fim, as biografias Carlos Marighella: o inimigo número um da Ditadura Militar,
de Emiliano José (2004); Carlos Marighella: o homem por trás do mito, de Jorge Nóvoa e
Cristiane Nova (1999); Carlos, a face oculta de Marighella, de Edson Teixeira da Silva
Júnior (1999) e Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo, de Mário Magalhães
(2012), são importantes para a compreensão da trajetória de Carlos Marighella. Porém, como
já afirmado, os autores optaram por não aprofundar a discussão sobre o período em que o
comunista foi parlamentar, o que nos impele a realizar esta pesquisa.

5. LISTA DE FONTES

 ENTREVISTAS
Clara Charf – Companheira de Carlos Marighella e assessora parlamentar do PCB à época
(entrevista realizada).
Armênio Guedes – Dirigente nacional do PCB à época (entrevista realizada).
Luis Contreiras de Almeida – Militante do PCB à época (entrevista realizada).
Hidelbrando Dias – Militante do PCB à época (entrevista a ser realizada).
 BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA
Jornais: O Momento, A Tarde e Estado da Bahia (1946-1948).
 BIBLIOTECA NACIONAL / HEMEROTECA DIGITAL
Jornal: Tribuna Popular (1946-1948).
 CÂMARA DOS DEPUTADOS
18

Anais da Assembleia Nacional Constituinte (1946).


Diários da Câmara dos Deputados (1946-1948).
Projetos de Lei e Resoluções da Câmara dos Deputados (1946-1948).
 ARQUIVO NACIONAL
Documentação policial sobre o Partido Comunista do Brasil e Carlos Marighella (1946-1948).
 ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Documentação do Partido Comunista do Brasil (1946-1948).
Prontuário Carlos Marighella (1946-1948).
 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E MEMÓRIA / UNESP
Documentação do Partido Comunista do Brasil (1946-1948).
Jornal: A Classe Operária (1946-1948).
 ARQUIVO DE MEMÓRIA OPERÁRIA DO RIO DE JANEIRO / UFRJ
Documentação do Partido Comunista do Brasil (1946-1948).
Revista Problemas (1947-1948).
 ARQUIVO ESTATAL DE HISTÓRIA POLÍTICA E SOCIAL DA RÚSSIA
Autobiografia de Carlos Marighella. Manuscrito em espanhol. 7f. 1954.

6. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

19.1 19.2 20.1 20.2 21.1 21.2 22.1 22.2


Créditos em disciplinas X X
Leitura da Bibliografia X X X X X X X
Levantamento de fontes X X X X
Análise de fontes X X X X X
Exame de qualificação X
Elaboração da redação final X X X
Defesa da Tese X

7. REFERÊNCIAS

ALMINO, João. Os democratas autoritários. Liberdades individuais, de associação política e


sindical na constituinte de 1946. São Paulo: Brasiliense, 1980.
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Brasiliense, 1985.
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Companhia das Letras, 2012a.
_____. Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais
escreverei. São Paulo: Companhia das Letras, 2012b.
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do Brasil dos últimos quarenta anos. São Paulo: Alfa-Omega, 1976.
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liberalismo brasileiro (1945-1965). São Paulo: Paz e Terra, 1981.
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