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Salvador – Bahia
2018
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1. INTRODUÇÃO
1
Nas eleições de 1945, das 286 vagas na Câmara dos Deputados, o estado da Bahia tinha direito a 24. Desse
total, doze foram ocupadas por parlamentares da UDN; nove por membros do PSD; e as outras três por
deputados do PCB, PTB e PPS.
2
Com o fim do Estado Novo (1937-1945), o Tribunal Superior Eleitoral ratificou o entendimento da Lei
Eleitoral, criada naquele ano, que os parlamentares eleitos para a legislatura (1946-1950) tinham como atribuição
inicial a elaboração de uma nova Constituição. Assim, a Assembleia Constituinte iniciou seus trabalhos no dia
dois de fevereiro e terminou em dezoito de setembro de 1946, quando foi promulgada a nova Carta
Constitucional do país.
3
Telegrama endereçado a Carlos Marighella. (24 jul. 1946): Prontuário Carlos Marighella. Arquivo Público do
Rio de Janeiro. Fundo: Divisão de Polícia Política e Social- DPS. Rio de Janeiro.
4
BRASIL. Constituição (1946). Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao46.htm. Acessado em: 20 mai. 2018.
2
ferroviários de Alagoinhas, informando que a Leste Brasileira não estava pagando o descanso
semanal remunerado e as horas extraordinárias, e nem indenizando os funcionários que
sofriam acidentes de trabalho. Após citar outras demandas da população, Carlos Marighella
encerrou seu pronunciamento afirmando que o seu mosaico não havia terminado, e que, por
essa razão, voltaria à tribuna “para pontilhar os problemas do interesse do povo da Bahia”.5
Como muitas vezes essas correspondências eram lidas no plenário, é possível
identificar por meio delas, entre outras coisas, a situação política e econômica do estado,
assim como muitas das necessidades de uma parcela do povo baiano, que eram visibilizadas
no Parlamento. Por isso, a análise dessa documentação será imprescindível para este projeto
de pesquisa de doutorado, que tem por objetivo investigar a atuação legislativa do deputado
federal constituinte Carlos Marighella, entre os anos de 1946 e 1948.6
É importante salientar que a inédita presença de Carlos Marighella, e dos demais
comunistas, no Parlamento brasileiro causou tensões desde seus primeiros momentos, tendo
em vista que em 1946 o Congresso “abrigava a fina flor das forças conservadoras do país,
eleita por uma poderosa máquina eleitoral e que reabilitara a oligarquia deposta em 1930”
(GIOVANNETTI NETTO, 1986, p. 147). Tais tensões aconteceram desde a Sessão
Preparatória da Assembleia Constituinte, quando Carlos Marighella e outros parlamentares do
PCB, os primeiros a fazerem o uso da palavra, questionaram o fato de os trabalhos da
Constituinte estarem sendo presidido pelo Presidente do Tribunal Superior Eleitoral,
Valdemar Falcão.7
Foram também os comunistas que inauguraram as discussões sobre assuntos que
extrapolavam as questões acerca do funcionamento do Parlamento. O primeiro foi Carlos
Marighella, que usou a tribuna para afirmar que o ministro do Trabalho, Indústria e Comércio,
Otacílio Negrão de Lima, autorizado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, havia declarado
que a greve nacional dos bancários, iniciada em 24 de janeiro de 1946,8 não se justificava,
haja vista que “o recurso extremo das greves, principalmente intempestivas”, criavam
5
CONGRESSO NACIONAL. Diário do Congresso Nacional. (Sessão de 12 dez. 1946). Capital Federal. Ano I,
n. 57, 13 dez. 1947. p. 1712-1713. Disponível em: http:www2.camara.leg.br Acessado em: 12 fev. 2018.
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Embora Carlos Marighella e os demais parlamentares comunistas tenham sido eleitos em 1945 para a
legislatura de 1946 a 1950, os mandatos deles foram extintos em janeiro de 1948. Isto ocorreu porque no início
de 1946 foi protocolado o pedido de cassação do registro do PCB, sendo que este processo durou até maio do
ano seguinte, quando o partido foi colocado mais uma vez na ilegalidade. Como consequência, os quatorze
deputados e o senador, Luis Carlos Prestes, tiveram seus mandatos extintos no início de 1948.
7
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 1ª Sessão Preparatória, 01 fev. 1946. Anais da Assembleia
Constituinte. Vol. I. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1946. p. 3-5. Disponível em:
http://bd.camara.gov.br/bd/. Acessado em: 02 mai. 2017. (Por conta da presença do presidente do TSE na
Constituinte, o deputado Maurício Grabois, do PCB, propôs que os trabalhos fossem dirigidos por um
parlamentar7. A proposta foi acompanhada por alguns deputados, a maioria comunista, como Marighella, porém
Valdemar Falcão continuou presidindo os trabalhos até a eleição que escolheu o senador Fernando de Melo
Viana, do PSD, como presidente da Constituinte).
8
Segundo Carlos Zacarias Sena Júnior, a greve nacional dos bancários durou até 13 de fevereiro, atingindo mais
de 40 mil trabalhadores, em sete estados da Federação, além do Distrito Federal. (SENA JÚNIOR, 2007. p. 350-
358).
3
13
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 107ª Sessão, 18 jul. 1946. Anais da Assembleia Constituinte. Vol.
XVIII. Op. cit., p. 360-364.
14
Marighella saiu da Bahia com destino ao Rio de Janeiro em fins de 1935. Em maio do ano seguinte foi preso,
tendo ficado encarcerado até meados de 1937. Em 1939, foi preso em São Paulo, sendo solto apenas após a
concessão da anistia aos presos políticos, em abril de 1945. Marighella retornou à Bahia em junho daquele ano,
permanecendo no estado por aproximadamente um mês. Inclusive por conta do longo período longe da Bahia,
não consideramos que Marighella fosse um agente político muito conhecido em seu estado quando foi eleito em
1945. Divergimos da perspectiva apresentada pelas biografias que afirmam que ele era bastante conhecido na
Bahia, em 1945. Entendemos que a sua eleição se deu por uma conjuntura de fatores, dentre os quais, pelo fato
de ter sido escolhido pelo PCB como candidato preferencial, ou seja, o que os militantes deveriam votar,
independentemente de suas preferências. Cf. SIZILIO, 2017.
15
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 107ª Sessão, 18 jul. 1946. Anais da Assembleia Constituinte. Vol.
XVIII. Op. cit., p. 360-364.
5
16
Idem.
17
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 90ª Sessão, 25 jun. 1946. Anais da Assembleia Constituinte. Vol.
XVI. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1948. p. 48-49. Disponível em:
http://bd.camara.gov.br/bd/. Acessado em: 02 mai. 2017.
18
Ibidem, p. 73.
19
Ibidem, p. 49. (Cabe salientar que em Navegações de Cabotagem, Jorge Amado afirma ter sido sua a
proposição que garantiu que a liberdade religiosa estivesse assegurada na Constituição. Em suas palavras, foi a
sua contribuição para a Carta Constitucional. Todavia, o texto sobre liberdade religiosa é praticamente o mesmo
do que estava Constituição de 1934, em vigor durante o período da Assembleia Constituinte, já que a
Constituição de 1937 tinha sido revogada. Portanto, a afirmação do escritor suscita dúvidas. De qualquer forma,
ressalte-se que a Emenda assinada por Marighella propondo que as liberdades de consciência e de crença, e de
culto não estivessem vinculadas à ordem pública e aos bons costumes foi rejeitada).
20
Os Projetos de Lei apresentados por Carlos Marighella podem ser pesquisados no site da Câmara dos
Deputados, a saber: http://www2.camara.leg.br/.
6
21
GOMES, Antonio Osmar. Começou mal. A Tarde. Salvador, 07 fev. 1946. p. 3. Biblioteca Pública do Estado
da Bahia. Setor: Periódicos Raros. Salvador.
22
MARIGHELLA defende, na Constituinte, o direito dos bancários em greve. O Momento. Salvador, 04 de
fevereiro de 1946. p. 8. Biblioteca Pública do Estado da Bahia. Setor: Periódicos Raros. Salvador.
23
O POVO precisa de deputados como Marighella. O Momento. Salvador, 28 de abril de 1946. p. 3. Biblioteca
Pública do Estado da Bahia. Setor: Periódicos Raros. Salvador.
7
2. JUSTIFICATIVA
Carlos Marighella entrou no Partido Comunista em 1934, aos vinte e dois anos,
permanecendo por mais de três décadas na agremiação, onde se tornou um dos seus principais
dirigentes. Durante esse período, apenas entre 1945 e 1948 pode viver de forma pública, não
clandestina, sem as recorrentes perseguições policiais e a iminência de ser preso. Todavia,
deve-se salientar que isso ocorreu de forma relativa, já que, em 31 de agosto de 1946, durante
o exercício de seu mandato parlamentar, a casa de Carlos Marighella e a sede do PCB foram
invadidas pela polícia.24 De qualquer forma, é neste curto período, entre a sua anistia em abril
de 1945, e a extinção do seu mandato em janeiro de 1948, que Marighella teve a liberdade
para se expressar e ir e vir sem maiores transtornos. Na vida pública, o deputado baiano fez
uma grande quantidade de pronunciamentos no Parlamento, além de ter concedido
entrevistas, produzido textos e feito declarações, principalmente para a imprensa comunista.
Por isso, este período é ímpar para se compreender um pouco melhor o pensamento deste
importante personagem da história política brasileira do século XX, e também a linha política
de atuação institucional do PCB no Parlamento.
Diante disso, e em função da escassez de estudos sobre os parlamentares do PCB,
incluindo Marighella, ente 1946 e 1948, é que propomos pesquisar a atuação institucional de
Carlos Marighella no Parlamento. É certo que a atuação legislativa de Marighella neste
período é pouco estudada e, portanto, pouco conhecida. Um dos indícios acerca desta
24
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 155ª Sessão, 31 ago. 1946. Anais da Assembleia Constituinte. Vol.
XXIII. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1950. p. 366-367. Disponível em:
http://bd.camara.gov.br/bd/. Acessado em: 02 mai. 2017.
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perspectiva é o fato de que não houve qualquer menção à atuação parlamentar de Marighella
na solenidade em que foi concedido o Título de Cidadão Paulistano ao comunista. Na Sessão
Solene, realizada em 04 de novembro de 2009, ao se completar 40 anos do assassinato do
baiano, todos os oradores que reverenciaram Marighella, incluindo o escritor Antônio
Cândido; sua viúva, Clara Charf; e seu filho, Carlos Augusto Marighella, enfatizaram a
atuação guerrilheira do comunista e seu enfrentamento à ditadura civil-militar brasileira, sem
ser mencionada a contribuição política dele durante o período em que pode atuar
institucionalmente25.
Esta ênfase ao período em que Marighella enfrentou a ditadura de 1964 não é
exclusividade daqueles que o homenagearam naquela Sessão Solene. Tanto que, nas quatro
biografias sobre o comunista baiano, este é o momento de sua vida que tem maior destaque,
enquanto os anos de liberdade política são pouco aprofundados (JOSÉ, 2004; NOVA e
NÓVOA, 1999; SILVA JÚNIOR, 2009; MAGALHÃES, 2012). Nas biografias, no pouco
espaço dedicado para a atuação parlamentar de Marighella, os autores, com maior ou menor
ênfase, optaram por apenas descrever alguns pronunciamentos do comunista, sem fazer uma
análise mais cuidadosa do contexto e do conteúdo dos inúmeros discursos proferidos pelo
legislador baiano.
Também de forma essencialmente descritiva e pouco analítica, a monografia do
Bacharelado em História de Luis Sandri (2009) abordou a atividade parlamentar de
Marighella. Porém, apenas sobre os sete meses dos trabalhos da Assembleia Constituinte,
portanto, o autor optou por não tratar do período mais longo da atuação legislativa do
comunista. Provavelmente pelas limitações de uma pesquisa na graduação, Sandri elegeu
apenas cinco temas da plataforma política do PCB, como, por exemplo, “contra o
imperialismo”, para abordar o mandato de Marighella. Por isso, apesar de seus méritos e
contribuição, a pesquisa de Sandri não trata da grande maioria das discussões e proposições
de Marighella no Parlamento.
De qualquer maneira, ainda que haja poucos estudos e conhecimento acerca da
atuação legislativa de Marighella entre 1946 e 1948, a contribuição deste parlamentar para a
vida púbica brasileira já foi reivindicada algumas vezes. Nesse sentido, em março de 2013, a
Câmara dos Deputados tornou nula a Resolução que cassou o mandato dos parlamentares
comunistas em 1948, devolvendo-os simbolicamente, ao reconhecer “que o tratamento
dispensado àqueles Parlamentares não levou em conta princípios basilares da democracia e do
devido processo legal”.26 Exatamente três décadas antes da devolução dos mandatos, ainda
em fins da ditadura, também houve na Câmara dos Deputados uma “homenagem ao ex-
25
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Ata da 119ª Sessão Solene, 04 nov. 2009. São Paulo: Secretaria
de Registro Parlamentar e Revisão. p. 1-31. Disponível em: http://www.camara.sp.gov.br/atividade-
legislativa/sessao-plenaria/registro-das-sessoes/. Acessado em: 12 jun. 2017.
26
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Ata da Sessão Solene, 13 ago. 2013. Brasília: Departamento de Taquigrafia,
Revisão e Redação. p. 102-168. Disponível em: http://www2.camara.leg.br. Acessado em: 14 jun. 2017.
9
27
BRASIL. Diário do Congresso Nacional. Ano XXXVIII, n. 163. Brasília, 02 dez. 1983. p. 14232-14233.
Disponível em: http://www2.camara.leg.br/. Acessado em: 03 set. 2015.
28
Armênio Guedes, baiano da cidade de Mucugê, participou em 1943 da reorganização do PCB. Dirigente
nacional do partido, em 1945 concorreu, junto com Marighella, ao cargo de deputado pela Bahia.
29
GUEDES, Armênio. Armênio Guedes: depoimento [out. 2013]. Entrevistador: Ricardo José Sizilio. Salvador.
30
BRASIL. Assembleia Constituinte (1946): 2ª Sessão, 07 fev. 1946. Anais da Assembleia Constituinte. Vol. I.
Op. cit., p. 84.
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3. OBJETIVOS
3.1 GERAL
Analisar a atuação parlamentar do deputado comunista Carlos Marighella, entre 1946
e 1948, tanto na Assembleia Constituinte quanto na Câmara dos Deputados.
3.2 ESPECÍFICOS
Analisar a relação de Carlos Marighella com a população da Bahia, averiguando quais
canais de comunicação foram construídos; as demandas dos representados; em quais
categorias de trabalhadores o comunista teve maior inserção; e qual era o grau de
enraizamento do PCB no estado.
31
BRASIL. Constituição (1946). Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao46.htm. Acessado em: 20 mai. 2016.
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4. CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS
32
MARIGHELLA, Carlos. A Assembleia Constituinte e o Partido Comunista. A Classe Operária. Rio de
Janeiro, 16 mar. 1946. p. 6. Centro de Documentação e Memória (Cedem) - Universidade do Estado de São
Paulo. Acervo: Asmob. Fundo: Roberto Morena. São Paulo.
33
______. A Fração Parlamentar Bolchevique e suas lutas antes do 7 de novembro. A Classe Operária. Rio de
Janeiro, 07 nov. 1946. p. 2. Centro de Documentação e Memória (Cedem) - Universidade do Estado de São
Paulo. Acervo: Asmob. Fundo: Roberto Morena. São Paulo.
12
34
De acordo com René Rémond (2003, p. 13-36), com seu processo de renovação ocorrido nas décadas de 1960
e 1970, a História Política deixou de fixar-se nos monarcas, no Estado e nos “acidentes e circunstâncias mais
superficiais”, por exemplo, alargando o domínio do político, ao enfocar, entre tantos aspectos, “às estratégias dos
grupos de pressão”, aos comportamentos coletivos. Para o autor, a renovação da História Política acontece a
partir da multidisciplinaridade, tendo em vista que os fatos estão interligados entre si. Logo, o econômico, o
social, os culturais não estão e nem podem se dissociar do político, já que todos são determinantes e
determinados no processo histórico.
13
35
Deve-se salientar que a utilização de novos objetos de estudos e métodos de análises, interdisciplinando o
estudo da História, muito se deve ao movimento historiográfico dos Annales, liderado inicialmente por Marc
Bloch e Lucien Febvre, que revolucionou o fazer historiográfico. Além de substituir a narrativa tradicional dos
acontecimentos por uma história-problema, dentre outros, buscou-se fazer uma história que contemplasse todas
as atividades humanas e não apenas a política, tradicionalmente voltada para os grandes “líderes, os fatos e as
guerras”. (BURKE, 1991, p. 21).
15
estivessem em luta aberta, tinham papel ativo nas relações políticas, ao estabelecerem um
pacto com o governo através, por exemplo, das leis trabalhistas.36
Os conceitos de populismo e trabalhismo são importantes nesta pesquisa, já que
muitos trabalhos em torno do PCB dialogam com uma ou outra perspectiva. Tomando como
referencial o populismo, Arnaldo Spindel (1980) analisou a abertura política em 1945, e como
os trabalhadores se mobilizaram diante da deposição de Getúlio Vargas da presidência. Em O
Partido Comunista na gênese do populismo, o autor estudou o breve período de legalidade do
PCB, de 1945 a 1947, demonstrando as tentativas de articulação do PCB com a classe
operária. Por outro lado, Fernando Teixeira da Silva e Marco Aurélio Santana (2007) afirmam
que há lacunas na explicação do populismo sobre o sindicalismo da época, já que esta corrente
entende que os trabalhadores eram cooptados e manipulados. Para Teixeira da Silva e Aurélio
Santana, a partir de 1945, o PCB teve grande inserção na organização dos trabalhadores e nos
sindicatos, com forte penetração em diversas categorias de trabalhadores, ainda que não
tivesse o controle das organizações. Diferente do que entende Weffort, os autores
compreendem que o PCB não fez parte da engrenagem do populismo, já que a agremiação se
colocava ao lado dos trabalhadores, mesmo tendo uma postura inicialmente de contenção das
greves.
Assim como os textos acima mencionados, muitos outros são fundamentais para a
melhor compreensão de temas vinculados a esta pesquisa. Não obstante a impossibilidade de
se fazer uma discussão aprofundada neste projeto, é necessário tecer breves comentários
acerca de algumas obras de grande relevância para o desenvolvimento deste estudo,
principalmente a respeito da relação dos trabalhadores, partidos políticos e o Estado. Assim as
obras, A UDN e o Udenismo e O PTB e o Trabalhismo, de Maria Victória Benevides (1981;
1989); e Estado e partidos políticos no Brasil, de Maria do Carmo Campello de Souza (1983),
continuam sendo necessárias para o melhor conhecimento da conjuntura política do país, e
sobre alguns dos seus principais partidos políticos ao longo década de 1940. Ao mesmo
tempo, o texto Sindicatos e democratização, escrito por Ricardo Maranhão (1979); e
Trabalhadores e sindicatos no Brasil, de Marcelo Badaró Matos (2003), são algumas das
obras que abordam a relação dos trabalhadores e sindicatos, sendo todos relevantes nesta
pesquisa, pois é certo que, para se analisar a sociedade brasileira e baiana com maior
acuidade, nos termos em que estamos propondo, não se pode deixar de levar em consideração
a importância das organizações sindicais.
Em relação à produção bibliográfica específica sobre o PCB, o pioneirismo do tema se
deve aos textos memorialísticos escritos, em fins de 1970, por ex-militantes do partido. Em
36
Saliente-se que uma corrente de historiadores encabeçados por Jorge Ferreira e Daniel Aarão Reis Filho, a
partir dos estudos de Ângela de Castros Gomes, e com grande produção na historiografia brasileira, defendem
que o conceito de trabalhismo é o mais adequado para se entender a relação entre o Estado e os trabalhadores no
período em questão. Cf: (FERREIRA, 2001).
16
Uma vida em seis tempos, Leôncio Basbaum (1976) abordou o que considerou mais relevante
sobre o partido entre as décadas de 1920 e 1960, tecendo críticas às mudanças de
posicionamento dos dirigentes a partir da década de 1940. Ainda que seja perceptível a
frustração do autor em relação ao partido, o texto tem grande importância para o estudo da
agremiação. Em O Partidão, Moisés Vinhas (1982) refletiu sobre a atividade do partido entre
1922 e 1974 a partir do seu olhar, tendo como diferencial em seu texto a transcrição de alguns
documentos do PCB neste período. Ainda no conjunto de obras memorialísticas, mas a
respeito do PCB na Bahia, os livros de João Falcão (1993; 2000) são referenciais para
conhecer o partido no estado. Em suas obras, Falcão aborda diversos momentos da atuação
dos comunistas, entre os anos de 1930 e 1970, principalmente na Bahia, onde foi dirigente da
agremiação.
A partir da década de 1980, textos acadêmicos produzidos na Universidade Federal da
Bahia (UFBA) aprofundaram o conhecimento a respeito do PCB e dos trabalhadores no
estado natal de Marighella. O estudo de Petilda Serva Vazquez (1986) enfoca a transição
política do Estado Novo para os governos de ordem liberal, fundados a partir de 1946.
Vazquez, a partir de jornais, afirma que o PCB no período em questão estava mais
preocupado com a atuação nos sindicatos do que nas instituições oficiais, como no
Parlamento. Sônia Serra (1987), por sua vez, analisou a trajetória do jornal que foi o porta-voz
oficial do PCB na Bahia entre 1945 e 1957. Em seu estudo, a autora analisou o PCB
associado à liberdade de imprensa no Brasil após o Estado Novo, e sua tentativa de
aproximação com as massas populares soteropolitanas. Já Maria Victória Espiñeira González
(1997) estudou a atuação do PCB nos anos 1940, e do PCdoB na década de 1980 junto aos
movimentos associativos urbanos. Em sua pesquisa, Espiñeira González abordou como os
setores populares urbanos se articularam contra as políticas econômicas e sociais no final da
ditadura militar, enfocando, ainda, a atuação dos setores progressistas da Igreja Católica em
apoio aos movimentos sociais.
Alguns estudos mais recentes também são importantes para a compreensão da atuação
do PCB e dos trabalhadores na Bahia. Dentre os quais, a dissertação de Raquel Silva (2012)
aprofunda a análise de Espiñeira González sobre os Comitês Populares Democráticos,
organizações que tinham por objetivo fazer a ligação da população com os comunistas, por
meio de reivindicações por melhoria de vida nos bairros e dos grupos envolvidos. Já a
dissertação de Ede Ricardo Soares (2013) analisa a atuação do PCB em Alagoinhas, interior
baiano, e sua relação com o processo de formação da esquerda local, principalmente através
da inserção de membros do partido entre os ferroviários. Ainda a respeito da atuação do PCB
na Bahia, Carlos Zacarias Sena Júnior (2007) aborda a trajetória do partido entre 1936 e 1948.
Em seu texto, Sena Júnior investiga a atuação do PCB no país, e no estado, diante da
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5. LISTA DE FONTES
ENTREVISTAS
Clara Charf – Companheira de Carlos Marighella e assessora parlamentar do PCB à época
(entrevista realizada).
Armênio Guedes – Dirigente nacional do PCB à época (entrevista realizada).
Luis Contreiras de Almeida – Militante do PCB à época (entrevista realizada).
Hidelbrando Dias – Militante do PCB à época (entrevista a ser realizada).
BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA
Jornais: O Momento, A Tarde e Estado da Bahia (1946-1948).
BIBLIOTECA NACIONAL / HEMEROTECA DIGITAL
Jornal: Tribuna Popular (1946-1948).
CÂMARA DOS DEPUTADOS
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6. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
7. REFERÊNCIAS
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