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Biocompósito de
polihidroxibutirato/cânhamo
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1. Compósitos e biocompósitos
Os materiais compósitos são formados pela combinação de, pelo menos, dois materiais,
que não se dissolvem ou misturam, com diferentes composições, estruturas e propriedades.
Estes contêm uma fase de reforço de material rígido e forte, geralmente particulado ou fibras
(contínuas ou descontínuas), dispersa numa matriz contínua (mais fraca que a de reforço), de
constituição cerâmica, polimérica ou metálica. (Fowler et al., 2006) (Materiais Compósitos,
2008) Ocorre ainda a formação de uma interface, devido ao efeito de processamento e às
interações químicas (M.Daniel & Ishai, 1996). A Figura 1 mostra as fases presentes num material
compósito e a Tabela 1 algumas características importantes sobre o reforço e a matriz.
Reforço Matriz
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As preocupações ambientais levaram à procura de novos materiais naturais, que
apresentassem o mesmo desempenho e substituíssem os de origem sintética, para serem
usados em materiais compósitos (Lobo, 2018). Deste modo, surgiram os biocompósitos.
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Figura 2 - Estrutura molecular do
Polihidroxibutirato
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exemplo de um agente compatibilizante de base biológica, é o oligo-PHB com grupos
aromáticos, que desenvolve interações com as fibras de cânhamo, por despolimerização do PHB
com funções de álcool de grupos aromáticos de base biológica. Um composto que demonstrou
ser um bom candidato para despolimerizar o PHB, é o álcool vanílico (álcool 4-hidroxi-3-
metoxibenzílico), que possui um álcool primário (Touchaleaume et al., 2019), como se pode ver
na Figura 5. Contudo, para se beneficiar completamente da introdução das fibras é necessário
dispersar as fibras homogeneamente dentro da matriz, utilizando, por exemplo, um agente
dispersante.
3. Síntese/Produção do material
A síntese do material, descrita neste trabalho, é apresentada com base no artigo
científico Polyhydroxybutyrate/hemp biocomposite: tuning performances by process and
compatibilisation, do autor Touchaleaume.
3.1. Matérias-primas
Para a produção deste biocompósito as matérias-primas utilizadas foram: pellets de PHB
(P(3HB- co -4HB) com 5% de 4-hidroxibutirato), que foram secos a vácuo durante a noite a 60oC
antes do processamento; fibras de cânhamo, que foram maceradas, cardadas e cortadas em 2
a 4 mm de comprimento, com diâmetro médio 50-100 µm; acetato de zinco di-hidratado com
99% de pureza; e álcool vinílico com 98% de pureza.
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De seguida, o masterbatch do compatibilizador foi composto no aparelho extrusora de
dupla rosca e a velocidade da rosca foi ajustada para 500 rotações por minuto (rpm). O perfil de
temperatura foi um gradiente de 180°C no alimentador a 150°C na matriz. No final, o
masterbatch preparado foi seco ao ar e peletizado.
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4. Propriedades do material
4.1. Estrutura multiescala dos biocompósitos
4.1.1. Morfologia
Para avaliar a morfologia dos biocompósitos utilizou-se um microscópio eletrónico de
varrimento (MEV), onde se observou que a dispersão das fibras de cânhamo dentro da matriz
de PHB era homogénea e o facto de se ter utilizado diferentes condições de processamento não
afetou a dispersão homogénea das fibras, pois tanto nas condições de alto cisalhamento a 750
rpm, como nas condições de baixo cisalhamento a 250 rpm, a dispersão foi uniforme. O nível de
adesão interfacial entre a matriz e as fibras também foi avaliado por MEV e constatou-se que,
para as mesmas condições de processamento (perfil de alto cisalhamento a 250 rpm), o
biocompósito preparado com compatibilizante exibiu uma interfase entre a fibra e o polímero
(maior nível de adesão), ao passo que o biocompósito sem compatibilizante apresentou lacunas
entre as fibras e a matriz (menor nível de adesão), confirmando assim a eficiência do
compatibilizador, como se pode observar na Figura 7, imagens (c) e (d).
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grupo (baixo e alto cisalhamento), observa-se que com o aumento da velocidade de rosca a
massa molar diminui, como por exemplo, nas condições de baixo cisalhamento o PHB-H a 250
rpm apresentou uma massa molar de 122,2 Kg/mol e a 500 rpm 90,0 Kg/mol. Demonstrando
que a velocidade de rosca influencia a massa molar do biocompósito.
Tabela 2 - Propriedades térmicas e moleculares dos biocompósitos PHB/cânhamo, para diferentes condições de
processamento
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o
C. Os valores da temperatura de transição vítrea (Tg) foram calculados no ponto médio do salto
da capacidade calorífica e o grau de cristalinidade também foi obtido.
Por fim, sobre a estabilidade térmica do material, pode-se visualizar (Tabela 2), pela
temperatura de início da degradação (T-5%), que o PHB puro apresentou maior temperatura,
seguido do PHB extrudado sem fibras e, por último, os materiais contendo fibras. Confirmando
que a adição de fibras favorece a hidrólise do PHB e intensificam o aquecimento interno da
matriz, aumentando a viscosidade de cisalhamento de fusão.
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No caso da tensão de rutura (tensão máxima que o material suporta), esta diminuiu
quando a velocidade de rosca aumentou, tanto para PHB-H, como para PHB-CH. Essa diminuição
foi mais acentuada nos biocompósitos processados com perfil de alto cisalhamento, como por
exemplo, a tensão de rutura foi reduzida em 49%, quando a velocidade do parafuso aumentou
de 250 para 750 rpm para PHB-H de alto cisalhamento. Também se pode observar na Figura 8
que, para a mesma velocidade de rosca, os valores de tensão de rutura para PHB-H e PHB-CH
foram sempre muito próximos, indicando que a introdução de compatibilizante não alterou
significativamente esta propriedade mecânica.
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4.2.1. Sensibilidade à água
A análise deste parâmetro foi realizada através da secagem das amostras a 40oC, numa
estufa a vácuo durante 24 horas e depois deixadas para equilibrar a 0% de humidade relativa,
por uma semana antes da medição, numa balança de precisão. Como representado na Figura 9,
o teor de humidade adsorvido no equilíbrio, para todos os materiais PHB/cânhamo,
independentemente da composição e das condições de processamento, rondou os 2 e 3%.
Segundo Miguel & Iruin et al. 1999, em condições semelhantes, o PHB puro apresenta um teor
de humidade adsorvido inferior ao PHB contendo as fibras, isto porque as fibras são mais
sensíveis ao vapor de água.
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4.2.2. Biodegradabilidade
Para determinar a biodegradação aeróbia dos biocompósitos realizaram-se testes
respirométicos, em meio de compostagem a 58oC e tendo como material de referência uma
celulose microcristalina em pó. Dos biocompósitos preparados, os estudados foram o PHB-H
LS250 e o PHB-CH HS750.
Analisando a Figura 10, o PHB puro degradou-se mais rapidamente que a celulose e a
adição das fibras de cânhamo ao PHB, resultou numa degradação ainda mais rápida deste
material. Isto revela que, a adição das fibras naturais, melhora a biodegradabilidade do
compósito, porque (fazendo a analogia do PHA, para o PHB) a adição de fibras naturais cria
caminhos adicionais para a entrada de humidade, enzimática e microbiana, levando ao inchaço
da fibra, aumento de danos na interface fibra/matriz e fendas, acelerando ainda mais a
degradação (Ryan et al., 2018). Comparando o PHB-H com o PHB-CH, o PHB-CH degradou-se
mais rapidamente, no entanto não houve uma diferença significativa entre eles e, por isso, pode-
se afirmar que independentemente da composição e das condições de processamento, a
biodegradação dos biocompósitos à base de PHB revelou-se rápida e elevada.
5. Aplicações do material
O polihidroxibutirato (PHB) e o cânhamo, possuem propriedades interessantes,
permitindo a sua aplicação em diversos produtos. O PHB pode ser utilizado na fabricação de
embalagens para cosméticos, limpeza, produtos farmacêuticos, higiene, produção de sacos e de
vasilhames para fertilizantes e ainda na produção de materiais que necessitem do processo de
extrusão por sopro, como por exemplo, os sacos de plástico (Ortega Filho, 2003). As fibras de
cânhamo podem ser utilizadas na produção de papel, tecidos, materiais de construção, biodiesel
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e biocombustível, entre outros. A junção destes dois componentes (PHB e cânhamo) resulta na
sua aplicação em embalagens de alimentos, pois a difusidade de vapor de água variou entre 10-
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a 10-12 m2/s, que são valores aceites para vários materiais de embalagens de alimentos.
Também a redução de custos na produção deste biocompósito, como as propriedades
mecânicas e biodegradabilidade obtidas, são pontos vantajosos para a sua aplicação na
fabricação de embalagens de alimentos.
6. Referências bibliográficas
Antunes, T. S. de J. (2018). Agentes compatibilizantes em formulações de Biopolímeros com
cortiça para impressão 3D.
Fowler, P. A., Hughes, J. M., & Elias, R. M. (2006). Biocomposites: Technology, environmental
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1789. https://doi.org/10.1002/JSFA.2558
M.Daniel, I., & Ishai, O. (1996). Engineering mechanics of composite materials. In Materials &
Design (Vol. 17, Issue 2). https://doi.org/10.1016/s0261-3069(97)87195-6
Miguel, O., & Iruin, J. J. (1999). Water transport properties in poly(3-hydroxybutyrate) and
poly(3-hydroxybutyrate-co-3-hydroxyvalerate) biopolymers. Journal of Applied Polymer
Science, 73(4), 455–468. https://doi.org/10.1002/(SICI)1097-
4628(19990725)73:4<455::AID-APP1>3.0.CO;2-Y
Promhuad, K., Srisa, A., San, H., Laorenza, Y., Wongphan, P., Sodsai, J., Tansin, K., Phromphen,
P., Chartvivatpornchai, N., Ngoenchai, P., & Harnkarnsujarit, N. (2022). Applications of
Hemp Polymers and Extracts in Food, Textile and Packaging: A Review. Polymers, 14(20).
https://doi.org/10.3390/polym14204274
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Ryan, C. A., Billington, S. L., & Criddle, C. S. (2018). Biocomposite Fiber-Matrix Treatments that
Enhance In-Service Performance Can Also Accelerate End-of-Life Fragmentation and
Anaerobic Biodegradation to Methane. Journal of Polymers and the Environment, 26(4),
1715–1726. https://doi.org/10.1007/s10924-017-1068-4
Touchaleaume, F., Tessier, R., Auvergne, R., Caillol, S., Hoppe, S., & Angellier-Coussy, H. (2019).
Polyhydroxybutyrate/hemp biocomposite: Tuning performances by process and
compatibilisation. Green Materials, 7(4), 194–204.
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https://doi.org/10.3389/fbioe.2020.619266
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https://doi.org/10.1186/s12934-022-01845-x
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