É de conhecimento de boa parte do planeta, as dificuldades pelas quais o Brasil passou
nesses últimos quatro anos de governo de ultra direita, de braços dados com o fascismo e encantado por coisas abomináveis como a ditadura e a tortura. Tempos obscuros para a Educação, a Saúde, a Cultura, a Economia e para as sofridas conquistas históricas dos direitos humanos e de um Estado democrático. Começamos um novo ciclo de esforços e de muitas esperanças. Um tempo de des- bolsonarização das instituições e das pessoas, como uma grande faxina na casa. Trago para nossa reflexão uma virtude que foi muito maltratada, pisada, trocada, invisibilizada e desvalorizada nesses tempos sombrios iniciados de maneira mais contundente desde o golpe civil ocorrido em 2016 no Brasil: a honestidade. Irmã da verdade e da sabedoria, mãe do caráter e filha da Divindade. O Corpus literário de Ifá, tradição africana Yorubá milenar tem como base algumas qualidades humanas/divinas que sustentam a construção de nossa existência. Paciência, ética, Veracidade e Sabedoria são basilares. A sabedoria é a energia que sustenta a consciência humana. Ela difere do conhecimento, mas este é material para aquela. Isto é, meus pensamentos, minha imaginação, minhas relações, analogias e sinapses, minhas reações e ações, dependem de minha base intelectual. Mas meus conhecimentos, se forem apenas cumulativos e não reflexivos, não se tornam automaticamente em sabedoria. Por isso analisamos, refletimos, usamos nossa capacidade intelectual, nossa inteligência emocional e espiritual. Junto ao nosso caráter, todos esses elementos ativam a sabedoria em nós, como uma teia de aranha bem tecida. Quem cultua Ifá e entra em sua escola de vida, encontra nessa tradição o culto ao seu próprio "Orí", sua essência interior, sua consciência espiritual e humana, e sua responsabilidade. Não é fácil adotar a filosofia dos Orixás, por que é um caminho onde não existe a opção de dar a culpa de nossas dificuldades ao outro, nem a humanos, nem a Deus. Nesse caminho, não é um problema a nossa estupidez, devo aceitar que o outro esteja em situação melhor que a minha. O que não é aceitável é não trabalhar por soluções e pela superação dessa situação ruim. Ifá é a divindade da Sabedoria, e ela se encontra dentro de nós. Além da Sabedoria, Ifá é intimamente ligado à Verdade. O que é a verdade? A verdade é individual ou coletiva? É opinião situacional, ou pré-existente? Vimos nesses tempos a enxurrada de fake news que espalharam equívocos e incêndios por todos os lados. O fato é que não se pode ensinar nada a quem está convencido de saber algo, e de ter razão. Voltamos à sabedoria, e a ela podemos também chamar de "respeito". Há um provérbio que diz: "se um sábio discute com um tolo, são dois tolos a discutir". Grandes lições aprendemos nesses tempos de desgoverno, de pandemia e de reeleição do Presidente Lula. Outras ainda nos aguardam para a transição e afirmação de um novo ciclo. Precisamos ter consciência e entendimento de que vivemos em um tempo e em um espaço. E que existe um motivo para estarmos sobre esse chão. Nossas perguntas orientadoras ao nosso projeto de vida deveriam ser: O que eu sou? Quem sou eu? O que vim fazer aqui? Até onde posso ser? Qual o sentido disso? Tempo, Espaço e processo, tem relação com a materialização do destino. Para o africano Yorubá, destino é caminho aberto, não é condenação. A diferença é feita pelo caráter e pelos nossos comportamentos. Então o roteiro da viagem pode ser modificado quase todo. Para melhor, ou para pior, de acordo com nossa atuação, nossa saúde emocional, e nossas escolhas.