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Escola Pluricultural Odé Kayodê / Vila Esperança:

30 anos demolindo a colonialidade


Robson Max de Oliveira Souza

Apresento hoje a Escola Pluricultural Odé Kayodê do Espaço Cultural Vila Esperança, brevemente
em seus aspectos demolidores do pensamento colonial, que se traduz em uma escola instrucionista,
homogeneizante e monocultural, tudo o que não queremos ser.
Nos interessa contribuir com a sinalização de três aspectos que julgamos transcender em suas
intersubjetividades até uma dimensão que pode ser considerada espiritual.
As atitudes não se formam só pela razão, mas na dinâmica entre pensar, sentir e agir. Essa dinâmica
mobiliza os sujeitos, e os engaja na busca concreta dos sentidos da vida e de seus desejos.
Pode-se perceber que essa busca aparece na organização dos projetos, oficinas e atividades
cotidianas deste coletivo, e tem como objetivo propor uma escola com identidade e corpo latino
americano (afro-ameríndio).
A Aprendizagem é aqui vista como a ação refletida, nos projetos e diálogos com a comunidade.
Através da dinâmica metodológica das trocas intersubjetivas, que reforçam o lugar dos sujeitos do
conhecimento, pretende-se chegar a uma Escola Transdisciplinar, pluri e multicultural. Vale
assinalar que não é a porcentagem de crianças negras ou notadamente de outras etnias, que faz a
Vila e sua Escola optarem por trabalhar pela diversidade, mas a própria idéia da riqueza da
diversidade humana e o direito a essa muitiplicidade de modos de existir. Percebemos a ambiência,
o contexto onde a aprendizagem se dá, como um eixo bem significante, pois é nela o lugar onde se
dá a experiência espaço-temporal do sujeito. Por isso cuidamos com zelo e empenho dos espaços
físicos e de seu preparo. Ela compreende fatores sociais, históricos, físicos, emocionais, relacionais,
além de outras dimensões, como a afetiva, a espiritual. Estas duas últimas podem encontrar na arte,
um ótimo meio de canalização. O projeto dessa Escola só pode ser realizado com comprometimento
individual, e no coletivo.
Quanto mais o educador trouxer em si mesmo as buscas subjetivas e objetivas desses aspectos, tanto
melhor ele saberá lidar com o processo de vida das crianças com as quais ele está comprometido.
É a busca de sentido e a questão da falta que mobilizam o desejo, a atitude e a realização de uma
escola transformadora.
No fazer da Educação há implicações éticas, políticas e sociais. Escola e projeto social não se
dicotomizam, mas se complementam, se constroem mutuamente. A postura crítica, refletiva e
propositiva de outras epistemologias e visões de mundo, são inerentes a uma "Educação como
prática da liberdade".
Relativizar as verdades, reposicionar os pontos de vista. Reconhecer que há horizontes culturais
diversos, e que o chão onde se pisa tem suas marcas de diferença.
Essa postura avança para uma proposta de educação transdisciplinar, não elitista e contra
hegemônica, dizendo não à monocultura, a cristalização dos projetos de colonização dos corpos, dos
saberes, dos sentidos.
Temos na Odé Kayodê um outro eixo significante que nós o chamamos Ancestralidade. Outros o
identificam como Espiritualidade. Espiritualidade não é aqui definível a partir da religião. Ela não
se reduz à crença ou às manifestações religiosas, ainda que as reconheça e legitime. A Escola
Pluricultural Odé Kayodê, fundada e dirigida pelo Espaço Cultural Vila Esperança continua na
escolha de ser uma escola não confessional. Mas reconhece que esse aspecto é uma condição do
humano, e por isso deseja trabalhar na consciência de sua transcendência. O sagrado é um elemento
integrador da pessoa, conferindo sentido ao saber construido, Natureza e Razão, o feijão e o sonho.
A Espiritualidade acha um lugar nesta escola, no campo da filosofia, da ética, e pela empatia e o
cuidado. Estamos em um contexto de sociedade racista, elitista, de pensamento colonial em vários
aspectos. Particularmente vivemos em uma cidade do século 18, fruto da colonialidade portuguesa,
concreta e ideologicamente. A Odé Kayodê apresenta um perfil de educação decolonial e
descolonizadora.

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Os Educadores buscam se comprometer com projeto educativo que colabore com o surgimento de
um mundo que não está dado, e com a transformação de um mundo que está posto desde a
conquista européia. Transformar uma educação racionalista, conteudista, instrucionista, limitante e
voltada aos interesses externos, monocultural e homogeneizante... esse é nosso projeto!
A história de vida, a busca do sentido da vida e do bem viver do sujeito, em comunidade, é o que
concentra as forças de uma utopia que se constrói, e se refaz há 30 anos, tomando para si a tarefa de
colaborar concretamente com esse projeto de mundo, não como ideal intangível, mas como vivência
das relações que queremos conceber.
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