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Apresentação

A história dos primórdios dos quadrinhos americanos, ainda no final do século dezenove, deve
muito aos trabalhos de Richard Felton Outcault, o criador dos populares personagens The Yellow
Kid e Buster Brown, tiras semanais de muito sucesso, publicadas em jornais em todo território
americano, tiras que se tornariam com passar do tempo, trabalhos lendários e celebres na história
dos quadrinhos americanos.
Outcault por sinal, começou sua carreira como ilustrador, quando trabalhou para o inventor e
empresário americano Thomas Alva Edison, quando foi contratado aos 25 anos, no ano de 1888,
para fazer ilustrações, que seriam utilizadas em uma exposição que aconteceria Cincinnati, após o
sucesso da exposição, Edison o contratou para trabalhar em sua empresa chamada West Orange,em
New Jersey, onde ficou trabalhando até 1890.
Em 1890, casou-se, mudou para Nova York, onde foi trabalhar fazendo desenho técnico para
uma revista que pertencia a uns dos amigos de seu antigo patrão Thomas Edison, onde em paralelo
a isso começou, os seus primeiros trabalhos de ilustração de humor, para revistas da época. Mas
desde de 1889, já publicava caricaturas para o jornal NewYork World,
A grande momento criativo e profissional na vida de Outcault aconteceria mesmo em 1895,
quando publicaria seu mais famoso personagem, The Yellow Kid, um personagem que já aparecia
em suas ilustrações em preto e branco como personagem coadjuvante na revista Thuth, desde de
1894.
Esse seu primeiro sucesso, o alçaria a uma carreira lendária dentro dos primórdios do universo
das tiras de quadrinhos americanos publicados em diversos jornais nos Estados Unidos, que
finalmente vamos conhecer a partir das próximas páginas, onde enfim mergulharemos na vida e na
obra do criador de Yellow Kid e Buster Brown ( no Brasil Chiquinho).
De Ohio para o mundo
Há em cada homem estranhas possibilidades. O presente
seria cheio de todos os futuros se já o passado não projetasse
nele uma história.

André Gide

O pai de Outcalt, Jesse P. Outcalt fora um grande marceneiro, que aprendeu o ofício com
George Eckert o melhor marceneiro da região, em 1851, quando tinha 18 anos à época, continuou
trabalhando com Eckert até 1861, quando comprou dele sua loja de moveis. Onde tornou-se na
cidade de Lancaster, no estado de Ohio, um bem-sucedido fabricante de moveis projetados da
cidade. Ele tinha apenas 28 anos de idade. E já era casado há algum tempo com a jovem Catherine
Ann Davis, a época uma jovem de 24 anos.
No início do ano de 1863, marcou a libertação de cerca de 4 milhões de escravos na América,
que residiam nos estados rebeldes do Norte do país, quando em 1º de janeiro daquele ano, o
presidente Abraham Lincoln, que foi 16º presidente dos Estados Unidos, pelo Partido Republicano,
colocou em vigor um Ato Institucional que decretava de fato isso. Essa dita libertação, era
condicionado a formação de batalhões de soldados negros para o exercito americano, para que o
governo federal, conseguisse vencer a guerra civil travada naquele momento entre sul e norte do
país. Em uma carta ao governador militar do Tennessee, que era Andrew Johnson , Lincoln o
encorajou, que aumenta-se as tropas negras em seu estado, Lincoln escreveu isso sobre esse pedido
“A visão de 50.000 soldados negros armados e treinados nas margens do Mississippi, acabaria, com
certeza, com a rebelião de uma só vez”. No final de 1863, sob a direção do Presidente Lincoln,
foram recrutados 20 regimentos formados por jovens homens negros oriundos do Vale do
Mississippi. Por mas que esses acontecimentos libertadores parecessem mostra uma América que
estive-se mudando em relação ao seu tratamento com os negros, o genocídio de povos indígenas na
região onde nasceu Jesse, continuava a todo o vapor, agora em uma América que não parava de
fazer isso indiscriminadamente país adentro. E que ao final do século dezenove, deixou um saldo
de mais 150 milhões de indígenas mortos, se tornando um dos maiores etnocídios feitos na historia
recente da humanidade.
Apenas catorze dias depois dessa tão esperada libertação dos escravos, nascia em 14 de janeiro
de 1863, na cidade de Lancaster, no estado de Ohio, o primeiro filho do casal, que seria registrado
em cartório com o nome Richard Felton Outcalt, filho do jovem casal Outcalt, um casal já
abastardo, de filhos de imigrantes de origem Alemã, que descendiam do primeiros habitantes
brancos que povoaram aquela região inicialmente, ainda no final do século dezoito. Apos o
nascimento de Richard, o casal ainda teve dois filhos, que foram Charles Willoughby Outcalt,
nascido em 1864, que se tornaria um bem-sucedido médico no estado da Califórnia, vindo a falecer
no ano de 1949, aos 84 anos de idade e uma irmã registrada com o nome de Matilda Pearlia Outcalt,
nascida em 1866, que seria chamada por seus pais carinhosamente como “Tilly”, mas que
infelizmente morreria aos 4 de idade em 25 de fevereiro de 1871, de causas não conhecidas. Quem
cuidou durante um tempo das crianças do casal Outcalt, foi a irmã mais nova de Jesse, que se
chamava Harriet Outcalt, que morava em um quarto, no andar superior da casa do casal, e que era
chamada carinhosamente pelas crianças de 'tia Hattie', que era segundo relatos de familiares, uma
pessoa gentil e prestativa, que perdeu seu noivo na Guerra Civil Americana, e que após este fato,
nunca mais noivaria com ninguém .
E foi nesse ambiente social e familiar, que cresceria Outcalt, que desde de criança já teria uma
inclinação para desenhar, que se transformaria pouco a pouca em uma paixão avassaladora por artes
plásticas, que era bem-vista por seus pais. Com apenas 15 anos começou a frequentar, em 1878, a
escola de Designer do McMicken College, em Cincinnati – faculdade que levava o sobrenome do
vendedor de terras e que integrava a igreja presbiteriana da cidade, Charles McMicken, que doou
dinheiro para fundar essa instituição pública –, onde estudou também latim, grego, francês, alemão,
química, matemática e filosofia natural. Saiu dessa escola formado aos 18 anos, em 1881, sua
primeira renda pessoal, ainda nesta época, foi oriunda de pinturas de cenas pastorais que fazia em
cofres de escritórios localizados na cidade de Cincinnati, ele era contratado para fazer essas pinturas
pela Hall Safe and Lock Company, uma empresa que oferecia a escritórios, esse tipo de serviço e
de mão obra.
Mas a grande guinada em sua vida profissional, somente aconteceria em 1888, já com 25 anos
de idade, quando faria todas as ilustrações para exposição das lâmpadas, que Thomas Edson
(inventor e empresário) - que desde de 1878, já tinha formado a Edison Electric Light Company,
com sede no estado de Nova York, que tinha vários financiadores, que incluíam o banqueiro JP
Morgan , o investidor financeiro Spencer Trask , e os membros da rica família americana
Vanderbilt . Edison somente fez a primeira demonstração pública de sua lâmpada incandescente no
dia 31 de dezembro de 1879, em na cidade Menlo Park, no estado da Califórnia. Foi nessa época
que ele disse: "“Faremos a eletricidade tão barata, que apenas os ricos queimarão velas”-,
apresentaria na “Feira Mundial de Cincinnati’’, que comemoraria também os 100 anos de fundação
da cidade. A feira começou em 4 de Julho, data de comemoração da independência dos Estados
Unidos, somente acabando em 8 de novembro de 1888, contabilizando mais de 100 dias de feira,
aberto todos os dias exceto aos domingos, o ingresso individual, custava 25 centavos de dólar por
dia, para adultos.
O Music Hall ( que existe até os dias de hoje), foi uma das edificações que receberiam
exposições da feira, fora construído no ano de 1877, ao custo de um milhão de dólares, e durante o
evento abrigou diversas exposições Industriais, bem como uma instalação de um coral da
cidade. Dois edifícios foram construídos para a Exposição do Centenário do Vale de Ohio e de
Estados Centrais em 1888; um era o Salão Principal de Exposições e um outro era o Salão de
Máquinas. Eles custaram a época 225.149,00m mil dólares, para serem construídos. O edifício
principal da exposição, localizado no Washington Park, tinha dois andares. O Machinery Hall que
estava situado em frente ao Canal de Miami e Erie, que foi transformado em uma linda replica dos
canais da cidade italiana inundada de Veneza, durante a feira. E havia mais de 21,5 acres de espaço
aberto para outras exposições. A feira teve a participação de 14 estados americanos (Ohio,
Kentucky, Indiana, Illinois, West Virginia, Tennessee, Pensilvânia, Michigan, Iowa, Missouri,
Kansas, Geórgia, Carolina do Sul e Carolina do Norte) e de 8 nações estrangeiras (Estados Unidos,
Alemanha, Itália, França, Bélgica, Suíça, Áustria, Ontário (Canadá) ) que participaram da feira
durante três meses e meio.  As lâmpadas a gás e a lâmpadas a eletricidade ficavam espalhadas nas
ruas próximas ao evento, iluminavam tudo, pois a exposição estava sempre aberta seis dias por
semana, das 9h às 22h.
Thomas Edison gostou muito do trabalho feito por Outcalt na feira, por isso ofereceu a ele um
trabalho fixo de tempo integral, na sua empresa em West Orange, com sede em Nova Jersey, onde
ficava a casa de Edison e os seus laboratórios, que foram fundados em 1876, os laboratórios do
inventor foram fundamentais para popularização de tecnologias nos Estados Unidos, por serem os
primeiros laboratórios a buscar usos práticos e comerciais para inventos ali desenvolvidos, isso só
era possível pelos vários colaboradores envolvidos que se dedicavam a pesquisa novas invenções,
onde lá ele criou e deu uso para as primeiras câmeras cinematográficas, fonógrafos, gravadores de
som, filmes mudos e falados dentre outras invenções. E foi para esse ambiente criativo e funcional
que o jovem Outcalt, se mudou, para se torna o desenhista industrial dos laboratórios de Edison,
ganhando um ótimo salário.
No começo de Abril de 1889, Edison oferece a Outcalt, a oportunidade de ocupar o cargo de
artista oficial da exposição itinerante das lâmpadas elétricas desenvolvidas em seus laboratórios,
que iria desta vez ser montada na Exposição Universal de 1899 (em francês: Exposition
Universelle), que seria sediada na cidade de Paris na França, a exposição foi realizada para
comemorar o 100º aniversário da Queda da Bastilha, que marcou o início da Revolução Francesa, e
foi vista como uma forma de estimular a economia da França, que não andava tão bem. A
Exposição atraiu 61.722 expositores oficiais, dos quais cinco mil eram de fora da França, o evento
começou oficialmente em 6 de maio de 1889, por isso Outcalt, à época com 26 anos, de pronto
aceitou a proposta de seu chefe, antes da viajem para Europa, o jovem viaja para sua cidade natal,
para se despedir dos seus pais, logo depois embarca para Paris, em um grande navio, chegando a
cidade-luz do continente europeu, alguns dias antes do começo do evento, onde coordenaria e
supervisionaria a montagem das instalações das exposições de Edison, que ficariam em Paris entre
1889-1890. Edison, só viria visitar com a sua esposa a exposição de Paris, em agosto de 1889, onde
ficaria hospedado com sua família no luxuoso Hotel du Rhin. Já Outcalt, que dominava muito bem
a língua francesa, aproveitou sua longa estadia em Paris, para estudar belas-artes em algumas
escolas que ofereciam cursos de pintura e desenho de curta duração, que ficavam no bairro de
Quartier Latin, na margem esquerda do Rio Sena, próximo do prédio da Universidade de Sorbonne,
fundada no século XIII, que nesta época era dedicado apenas ao ensino de Teologia.
Em Paris, o jovem artista americano se tornou um das primeiras pessoas no mundo a visitarem a
Torre Einfel, inaugurada em 31 de março daquele ano, a torre foi feita para as comemorações do
centenário da Revolução Francesa, uma data significativa na historia da França. Em paris teve
contato com o movimento impressionista (um movimento artístico francês que consistiu em uma
nova representação da realidade nos quadros feitos, e que iniciou uma reviravolta na arte da época,
e que teve seu início de fato no ano de 1850, através das obras dos pintores Claude Monet e
Édouard Manet, que se inspiravam também nas estampas japonesas, especialmente as de Hokusaï e
Hiroshige.), e com artistas dessa escola, durante a sua estadia na França.
A exposição de Paris, teve o término para Outcalt, no dia 31 de Outubro de 1889, pois essa se
tornou a data de seu regresso para os Estados Unidos. Mas antes de seu retorno ao seu país natal,
estranhamente decidi muda a grafia do seu sobrenome, acrescentando um segundo “u” em Outcalt ,
que se torna Outcault, fato que jamais fora explicado o motivo, que o levou a fazer isso.
Em seu retorno aos Estados Unidos, continua a trabalhar para Edison em seus laboratórios em
Nova Jersey. Mas também viaja com muita frequência para Lancaster, sua cidade natal, onde
começa a corteja a jovem neta de um banqueiro da cidade, chamada Mary Jane Martin, uma bela
jovem de 18 anos à época, com quem contrai matrimônio, casando com Mary Jane, ainda naquele
mesmo ano de 1889, exatamente no dia 25 de dezembro se casam, que era no caso, o natal daquele
ano.

Das ilustrações de humor para as histórias em quadrinhos nos jornais

Nos Estados Unidos, nós lidamos com


os assuntos de interesse público através
dos Jornais.
Thomas Edison

Logo após se casar, Outcault por algum motivo nunca bem esclarecido, decidi não mais
trabalhar para Thomas Edison. E em 1890, muda-se com sua esposa para cidade de Nova York,
onde vai morar no distrito do Queens, no Bairro de Flushing, um bairro fundado por Holandeses em
1665, e que à época mantinha uma forte paisagem rural, com poucas casas e muita presença de
grandes porções de terras. A Nova York, que se apresenta ao jovem casal, é uma cidade de
contrastes sócias e culturais devido ao enorme quantidade, de imigrantes residentes, quando três
décadas antes, milhares de Italianos, alemãs, irlandeses e poloneses começaram a ocupa a cidade a
cidade a procura de viver o sonho americano, tão propagado no continente Europeu. Em sua
maioria, os imigrantes europeus, tinham muita dificuldade de aprender o idioma americano e de se
adaptarem aquela realidade sociocultural muito diferente das deles.
O jovem Outcault que já dominava a técnica do desenho industrial, consegue por intermédio
de um amigo de Edison, ser apresentado ao editor e engenheiro eletricista inglês, Thomas
Commerford Martin (amigo e colaborador de longa data de Thomas Edison na criação de suas
invenções), que editava a revista Electrical World, onde o jovem consegue um emprego. Em
contraponto a esse emprego, Outcault, também começa a colaborar para o Street Railway Journal,
jornal fundado em 1884, que tem sua linha editorial centrada em tudo relacionado a trens,e que era
editado pela McGraw Pub. Co.
Mas em seu tempo livre, Outcault começou a se dedicar em produzir charges e ilustrações de
humor politico e social, retratando cenas do cotidiano da cidade de Nova York, que vendia para as
revistas de humor como Puck – fundada em 1871, como publicação em língua alemã inicialmente,
pois teve como fundada o austríaco Joseph Keppler (que tinha formação pela Escola de Belas Artes
de Viena, a mesma que dispensaria Hitler anos depois), em 1877, a revista começou a ser publicada
também em inglês, sendo editada pelo americano Henry Cuyler Bunner, em 1887, a direção da
revista mudou sua sede de St. Louis para cidade de Nova York, uma outra revista que muitos artistas
como Outcault, faziam trabalhos, era a Judge – revista satírica gráfica semanal, que apareceu em
1881, com 16 páginas, que competia com diretamente com a Puck, pois seus fundadores eram
artistas dissidentes da revista Puck –, uma outra revista que também comprava muito material do
artista era a Life – revista de artigos de interesse gerais, humor, ilustrações e charges, fundada em
1883, que competia diretamente contra a Puck e a Judge. As experiências nestas revistas de humor,
foram bastante importantes para o desenvolvimento artístico/técnico que ajudariam Outcault, em
seus futuros trabalhos para jornais, pois foi através de seus trabalhos nestas publicações, que
conseguiu domina a ilustração com uso do texto, que se tornou fundamental para o passo seguinte
de sua carreira, que seria seu trabalho com quadrinhos.

Em 1892, em meio aos seus diversos trabalhos do dia a dia, nasce o primeiro filho do casal
Outcault, no dia 2 de dezembro, quando veio ao mundo um menino que seria registrado com o
nome de Richard Felton Outcalt Jr. - que viveria 83 longos anos –, primeiro filho do casal, que
alguns anos depois faria uma sessão de fotos fantasiado como o segundo personagem mais famoso
criado por seu pai, o garoto Buster Brown.
O jornal New York World, desde do ano de 1889, publicava cartuns em preto e branco em suas
páginas, feitas por artistas da época, isso sempre sobre o olhar atento do polêmico editor húngaro de
origem judaica Joseph Pulitzer, que pertenceu ao Partido Republicano inicialmente, e ao descobrir o
alto nível de corrupção dentro do partido, ficou muito desiludido, e decidiu migra para o Partido
Democrata, onde se tornou um correlegionário fervoroso pelas causas do partido. Em 1884, decidi
ser candidato a Deputado Federal, pelo estado de Nova York, ganhando a eleição para esse cargo,
onde durante seu mandato luta contra o poder das grandes empresas, contra corrupção e ajuda a
manter a Estátua da Liberdade em Nova York. Mas é conhecido até os dias de hoje por um prêmio
jornalístico que tem o seu nome, esse prêmio tem o seu nome, porque Pulitzer doava muito dinheiro
para a Universidade de Colúmbia, que em 1917 instituiu o Prêmio Pulitzer, isso 6 anos após a morte
do jornalista.
Mas Pulitzer ficaria muito famoso em seu tempo, junto com William Randolph Hearst, dono de
outro grande jornal da cidade de Nova York chamado  New York Journal, por criarem um modo
sensacionalista de vender jornais, baseado em notícias sobre sexo, crime e publicações de notícias
falsas que se tornariam o carro-chefe para venda de milhares de jornais.

Nasce os suplementos nos jornais


Não há caminho melhor e mais
curto para melhorar o trabalho
que o de fazer figuras.

Van Gogh

O primeiro suplemento ilustrado, com capa e contracapa colorida, em formato tabloide, 8


páginas, publicado e encartado em um jornal americano, foi publicado no Jornal de Chicago,
chamado Inter Ocean, o suplemento saiu em sua edição de 23 de junho de 1892, suplemento que
traria ilustrações, mas sem quadrinhos. E nesse mesmo ano e no mesmo jornal de chicago, Charles
Saalburg, produziu uma série de desenhos em painéis únicos coloridos que seria intitulado “The
Ting Lings”, uma série que duraria cerca de três meses, considerado por alguns estudiosos como o
primeiro quadrinho americano em série, precedendo o trabalho de Outcault em \yellow Kid.
Saalburg também, se tornaria o primeiro cartunista a publicar um desenho colorido em jornais
americanos.
Desde de 1893, o World de Joseph Pulitzer, já tinha em seu parque gráfico a mesma impressora
colorida usado pelo jornal de Chicago, no caso, o Inter Ocean, por isso o World já estava pronto
para produzir seus suplementos coloridos dominicais. Só precisava iniciar algum trabalho editorial
com essa característica.
Por isso o editor do World Morrill Goddard, que tinha um instinto muito aguçado para saber o
que os leitores queriam ler e ver nas páginas do jornal que editava – Apesar de Goddard externar
para quem o conhecia, uma personalidade simples e pouco atraente – criou um suplemento de
quadrinhos coloridos chamado Sunday World, que apresentava ilustrações de um único quadro, que
foi publicado pela primeira vez no World de 21 de maio de 1893, pois era sua obsessão e missão
torna o suplemento de Pulitzer, um imenso sucesso. Mas quando o World comprou a impressora
colorida, a princípio se pensou usá-la para imprimir um suplemento de moda, a qual Goddard, foi
enfaticamente contrário, pois tinha a ideia do suplemento de quadrinhos mesmo, inspirado no
sucesso das revistas de ilustrações cômicas como a Puck, a Judge e a  Life, revistas onde Outcault
trabalhava.
Nas primeiras edições do suplemento, Goddard, foi forçado a reimprimir trabalhos já
publicados, pois não podia conta com o trabalho dos artistas mais famosos da época, que estavam
contratados por outros jornais. Roy McCardell que fazia parte da equipe editorial de Goddard,
indicou o jovem artista Outcault (que na época adorava usar chapéu de caçadores para sair), para o
trabalho de produzir as primeiras ilustrações para o novo suplemento.
Foi nesse contexto profissional, que Outcault em 1894, exatamente no dia 16 de setembro
desse ano, que ele apresentaria o seu primeiro trabalho inédito, para o suplemento do New York
World, e que com o passar do tempo, se tornaria a famosa série "Hogan's Alley" de ilustrações de
um único quadro.
No decorrer dos treze meses seguintes, Outcault produziu para o suplemento, trabalhos mais
consistentes protagonizados por afro-americanos, que viviam em uma cidade americana imaginaria
chamada Possumville, ao mesmo tempo que produzia trabalhos protagonizados por crianças
irlandesas que viviam em cortiços da cidade de Nova York, nos quais, viviam uma imensa
população da cidade de Nova York. Não se tem nenhum registro iconográfico dos desenhos
ambientados em Possumville. Mas dos quadrinhos de um quadro das crianças de rua de Outcault se
tem até os dias de hoje vários deles em arquivos ou em coleções particulares, pois esses trabalhos já
eram frutos dessa visão comercial que o autor tinha sobre seu trabalho, visão esta que o autor
adquiriu com o pai que era um habil comerciante bem-sucedido e que aperfeiçoou essa visão com
sua convivência com o inventor/empresário Thomas Edison, durante o período que trabalhou para
os seus laboratórios de desenvolvimento e comercialização de invernações.
As Ilustrações de crianças de ruas simpáticas e vivendo felizes em bairros pobres, eram comuns
em revistas de humor nos Estados Unidos, não foram uma criação de Outcault, isso fica claro nos
trabalhos feitos anteriorores pelo cartunista Michael Angelo Woolf, que se especializou neste tipo
de ilustração de crianças pobres e que moravam em imundos cortiços que existiam na cidade Nova
York. E que, com certeza, influenciaram Outcault, em suas primeiras ilustrações com crianças de
rua, que ele fez para as revistas de humor e jornais que trabalhou posteriormente.
Mas em 1894, Outcault estava ainda desenhando a todo vapor essas crianças pobres para o
suplemento de domingo de Goddard, isso acontecia em função do imenso sucesso comercial que as
tiras faziam entre o publico. No ano seguinte, 1895, exatamente no dia 13 de janeiro daquele ano,
Goddard publicou em preto-e-branco uma charge de Outcaut, onde o autor dava destaque aos
meninos de rua carecas. Cinco dias depois, no dia 17 de fevereiro, Goddard selecionou outro dos
desenhos de crianças carecas de Outcault para publicar, desta vez era um trabalho antigo do artista,
que foi publicado originalmente em uma edição em preto e branco da revista Truth, de 9 de
fevereiro de 1895, onde apareceu pela primeira vez Yellow Kid, que ainda não tinha nome, mas que
se destacava por ter sido desenhado diferente dos outros meninos carecas do quadro, e que séria
desenhado com recorrência por Outcault, para o suplemento do World, pois muitos leitores da época
descreviam o garoto como uma criança careca com um sorriso bobo, o garoto costumava falar em
uma gíria esfarrapada e muito peculiar a classe pobre/imigrante de Nova York, frases que quase
sempre estavam estampadas em seu camisolão. Esse garoto sem nome, apareceu mais duas vezes
em maio, uma vez em julho, uma vez em setembro, três vezes em novembro e mais duas vezes em
dezembro, ou seja, se tornou um personagem recorrente, por ordem do editor, que notou o interesse
dos consumidores do suplemento por esse personagem.
A partir de 5 de janeiro de 1896, aquele menino careca que apareceu muito nas páginas do
suplemento do ano anterior, aparece pela primeira vez com a camisola amarela e é nomeado por seu
criador com o nome de Mickey Dugan (nome e sobrenome muito comum entre imigrantes de
origem ou acedência irlandesa, que moravam em Nova York), e a partir disso ele começa a se
destacar avassaladoramente, e o publico leitor do suplemento começa a exige a sua presença
sempre, e o editor e o artista tornam o personagem carismático, protagonista da série de tiras de um
quadro do suplemento. E a partir de maio de 1896, Outcault começa a escrever frases atrevidas e
ácidas na camisola do menino careca, que assim começa a dialogar diretamente com seus leitores. E
o publico por causa de camisolão amarelo que ele usa, começam a chama popularmente o
personagem de Yellow Kid, rapidamente ele torna-se o personagem mais querido da série Hogan's
Alley  do  Sunday World, o suplemento dominical do jornal de Pulitzer, que era lido por 40% da
população de Nova York, em sua maioria estrangeira, que lutava para aprender inglês, através das
legendas escritas em linguagem bem popular e as placas contendo referências políticas e sociais
(algumas até estampadas no camisolão de Yellow Kid) nas tiras que divertiam uma classe
trabalhadora semialfabetizada, que naquele momento, era uma boa parte da população da cidade.
Assim começa a se estabelecer no mercado dos Jornais na América, o alto valor comercial das
tiras de quadrinhos protagonizadas por um personagem principal e seus coadjuvantes, que geravam
financeiramente um grande lucro para os donos de jornais, atrelado é claro, ao grande aumento de
vendas dos jornais que as publicavam em seus suprimentos.
Apesar da tira da série Hogan Alley ( onde o personagem Yellow Kid aparecia), ser um alvo
de ataques, por representantes conservadores, que diziam que a tira glorificava a vida dos bairros
mais pobres da cidade de Nova York, por isso era rotulado como um personagem “Vulga” por seus
criticos, algo que não incomodava muito o autor. O jornal também recebia inúmeras cartas para
reformular o popular personagem, princialmente por causa da sua camisola amarela curta. Em
resposta, Outcault desenhou uma peça extra na camisola de seu personagem, que agora cobria o seu
corpo até quase os seus tornozelos. Mesmo com esses ataques ao seu trabalho, Outcalt se tornou
uma celebridade em Nova York, por causa de sua criação, por isso começou a ostentar certos
hábitos como andar com uma luxuosa bengala e aparar o bigode sempre com um barbeiro de
confiança, pois para ele ser elegante era algo essencial, um hábito que praticou durante toda a sua
vida.
Mas mesmo com o imenso sucesso e carro-chefe de vendas do suplemento dominical, Yellow
Kid, jamais apareceria na capa do suplemento do World. Mas na contracapa ou em uma página
interna colorida da publicação, era de lei ele aparecer sempre. A popularidade do personagem foi
tão grande, que ele passaria a ser o primeiro personagem da história dos quadrinhos americanos, a
ter produtos licenciados, onde sua imagem era colocada em latas de biscoito, maços de cigarro,
leques femininos, botões e em uma grande série de outros produtos da época, que hoje em dia tem
um altíssimo valor no mercado de colecionáveis. Como Outcault não possuía de fato os direitos
sobre o personagem, que pertenciam ao jornal, ele não tinha direito a nenhuma porcentagem do
dinheiro, gerado pelos produtos licenciados pelo Jornal.
Outcault, que não era nenhum pouco bobo, vendo que seu personagem gerava muito lucros
para o jornal, que iam além do obtido pela publicação da tira, tentou assegurar seus direitos autorais
sobre sua criação, e apresenta um primeiro pedido de registro de propriedade intelectual de Yellow
Kid, perante a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, pedido esse datado de 7 de setembro de
1896, após esse primeiro pedido não ter dado em nada, o autor faz mais dois pedidos que não dão
em nada também, como foi o primeiro, pois houve por parte da Biblioteca do congresso, a
identificação de irregularidade nos pedidos, que por isso não impediram a exploração comercial, e
por conseguinte financeira de seu personagem por parte do jornal que era detentor dos direitos
autorais de Yellow Kid.
Não obtendo resultado com sua tentativa de obter os direitos autorais de seu personagem
legalmente. Outcault, decidi para de trabalhar para World, E leva seu personagem famoso para o
jornal concorrente, tudo isso ainda em 1896, após esse fato, se criou um folclore sobre a existência
de um processo judicial sobre essa questão de direitos autorais de Yellow Kid, impetrada pelo autor,
algo que jamais aconteceu, por jamais tal processo ter sido encontrado em arquivos judicias da
época, envolvendo alguma reivindicação de direito autoral por parte do artista, contra o jornal de
Pulitzer.
Mesmo sem a existência desse processo, o criador de Yellow kid, deveria ter recebido algum
valor financeiro pelo licenciamento de produtos ligados a sua criação. Mas as leis sobre direitos
autorais da época, diziam claramente que cartunistas de jornais e seus trabalhos estavam sobre
contrato da empresa, para qual trabalhavam, pois a empresa comprava os serviços e o produto do
cartunista, que era devidamente remunerado por isso, em outras palavras, um jornal era dono dos
desenhos e fotografias que publicava. O World, era dono das imagens do Yellow Kid, que eram
impressas no jornal. E por isso podia as vender para quem quisesse, pois o desenhista que a fez já
tinha sido pago pelo trabalho, e essa era a relação profissional comum, entre jornais e artistas no
final do século dezenove.
Em outubro de 1896, Outcault, já pai do segundo filho, nascido em agosto daquele ano,
decidi ir trabalhar para o jornal de William Randolph Hearst, no caso, o  New York Journal, mesmo
com a saída de Outcalt, do jornal de Pulitzer, o World ainda publicava tiras inéditas de Yellow Kid,
feitas por outro artista. Outcalt publicava novas para o jornal de Hearst, os dois jornais publicavam
o mesmo personagem com histórias inéditas em seus suplementos de domingo. E durante esse
período não houve nenhum processo, por parte de Pulitzer contra Hearst e Outcalt. Pois era uma
prática muito comum naquela época, de não haver a necessidade de um grande jornal impetra uma
ação judicial sobre direitos autorais, pois isso custava muito dinheiro e tempo para os dolos dos
jornais.
Hearst, que era o novo patrão de Outcalt, que ficou conhecido como o magnata do jornal, no
estado da Califórnia, era o cara por trás do sucesso do jornal San Francisco Examiner, no início da
última década do século dezenove. Mas Hearst queria expandir os seus negócios, por isso em 1894,
ele decidi comprar um jornal de Nova York, chamado Morning Journal (que mudaria de nome em
pouco tempo, se tornando o New York Jornal), que pertencia ao irmão de Pulitzer, comprou muito
barato o jornal dele, pois a publicação passava por baixas vendas, em outras palavras, estava para
quebrar, pois em 1893 o Morning vendia 135 mil exemplares, no ano que Hearst comprou o jornal,
estava vendendo 30 mil exemplares apenas, era o pior jornal em vendas da cidade de Nova York,
como Hearst gostava de desafios, a compra do Morning cabia muita na sua frase “O impossível é
apenas um pouco mais difícil do que o possível”, pois era assim que ele procedia, comprava jornais
quase quebrados, contratava os melhores profissionais da cidade que trabalhavam em outros jornais
para levantar as vendas do jornal, pois Hearst não desenvolvia novos talentos profissionais em suas
redações, ele contratava os melhores sempre.
Desde de 1893, Heast já desejava se torna dono de um jornal em Nova York, tanto que alugou
um escritório em Nova York nesse mesmo ano, em um prédio que por caso ficava o jornal de
Pulitzer, que era também o dono do predio. O dono do World era também uma pessoa que Hearst
admirava muito, mas, mesmo assim, fazia questão de enfrenta-lo comercialmente sem nenhuma
cerimonia.
Nessa época Heast observou que o Sunday World, passou 266.000 mil exemplares vendidos em
1893 para 450.000 mil em 1895, Heast observou que o aumento aconteceu por causa do
Suplemento de quadrinhos de Goddard, que saia encartado no jornal, após essa constatação,
comprou uma impressora colorida para o seu jornal em Nova York, e foi contrata Goddard, para
trabalhar para o seu jornal, lhe oferecendo uma quantia vultosa de 35.000 mil dólares, que
literalmente jogou sobre a mesa do escritório dele, conseguiu assim persuadir Goddard, que
convenceu Hearst, que se achava Deus, a contrata também toda a equipe de Goddard, incluindo
Outcalt e seu Yellow Kid. Ao saber da deserção de Goddard e de sua equipe, Pulitzer tentou, atrai
Goddard e sua equipe com uma contraoferta bem alta. Mas Hearst abriu seu poderoso talão de
cheque e superou o valor oferecido pelo concorrente, poia afinal de contas, Deus não podia ser
vencido.
Com o roubo de toda sua equipe de domingo, Pulitzer declarou guerra contra o Journal de
Hearst, pois descobriu também que toda a negociação com Goddard acontecera no escritório de
Hearst, que ficava em uma sala no edifício que pertencia a ele, ou sejo, por debaixo de suas barbas.
Isso deixou possesso ainda mais Pulitzer, acirando e potencializando a guerra entre os dois.
Quando Outcalt foi trabalhar para Hearst em definitivo, ele ficou muito contente com o
trabalho, isso ficou evidente neste fragmento de uma resposta a uma carta de uma fã, para o
suplemento de Heast que ele intitulou de “The American Humorist”:

“Assinei um contrato com o maior jornal dos Estados Unidos, que é o New York Journal. Onde temos o suplemento
dominical colorido mais magnífico que já houve até hoje, e o melhor, é que estou recebendo mais do que o dobro do
dinheiro que recebia no outro jornal, duas vezes mais para ser preciso.”

O Suplemento de Hearst, no caso, “The American Humorist”, se tornava pouco a pouco o mais
vendido, tudo graças a Outcalt e seu Yellow Kid, que começou a publicar no novo jornal, a partir do
dia 18 de Outubro de 1896, e que agradava muito ao publico. Um dia anterior ao lançamento do
trabalho de Outcalt em seu suplemento, Hearst fez um anúncio formal na edição de sábado onde
colocou em letras garrafais: “O Yellow Kid – Amanhã, Amanhã!”. Enquanto isso, Pulitzer,
contratou o cartunista e amigo de Outcalt George Luks ( que mais tarde se tornaria um proeminente
e importante pintor na cidade Nova York), para desenhar em seu suplemento a série Hogan's Alley e
por tabela desenhava Yellow Kid. O Yellow Kid de Luks, foi publicado pela primeira vez em 11 de
outubro de 1896, uma semana antes da primeira publicação do Yellow Kid de Outcalt, no
suplemento dominical de Hearst.
Depois de um tempo Hearst, contrata o escritor Edward W. Townsend, que ficou famoso na
segunda metade do século dezenove, por escrever textos melodramáticos sobre garotos pobres que
viviam nos bairros miseráveis de Nova York, com o objetivo dele escrever textos, para acompanhar
os desenhos de Outcalt de Yellow Kid, para assim formarem, segundo Hearst uma dupla imbatível.
Mas os textos Townsend, eram histórias complemente diferentes das narrativas ou informaçãos
contidas nos quadrinhos de Yellow Kid, feitos por Outcault, e apresentados nas páginas do
suplemento. Esse fato somente prova que Hearst, a princípio ainda tinha uma certa desconfiava se
realmente o personagem de Outcalt, era o que fazia o seu o jornal e suplemento de domingo vender,
ele tinha a certeza que o Yellow Kid, era um dos fatores, mas não o único fator que gerava as altas
vendas de seu jornal.
A agressividade e vontade de Hearst em torna seu novo jornal nova-iorquino o mais vendido da
cidade, e derrubar as vendas do jornal de Pulitzer, não tem limites, por isso ele decidi baixa o valor
de capa de seu Jornal, para aumentar as vendas, estratégia que funciona muito bem, e torna o
suplemento de quadrinhos de domingo o mais vendido também. Hearst assim torna o seu jornal um
rolo compressor contra os concorrentes.
Mas mesmo assim, a guerra entre Hearst e Pulitzer, se focava na venda dos suplementos de
quadrinhos e no personagem Yellow Kid, onde no ring o Yellow Kid de Outcalt lutava contra o de
Luks. A guerra ficava ainda mais evidente quando em um passeio pela cidade via-se milhares de
cartazes do Yellow kid dos dois jornais colados em bancas de revistas da cidade e também nas
laterais de vagões que trasportavam os jornais impressos de Heast e Pulitzer estado adentro.
A guerra entre os jornais era chamada por muito leitores como luta entre “Os diários do Yellow
Kid” ou “os diários amarelos”. E pelos dois jornais praticarem um jornalismo sensacionalista
(vendiam fatos trágicos, fofocas e difamações contra tudo e todos) e estarem em guerra por causa
do personagem de camisolão amarelo, se apelidou que eles praticavam o “Jornalismo Amarelo”,
termo que se popularizou na América, para dizer quando um jornal era sensacionista, no Brasil, o
termo foi interpretado como Jornalismo Marrom.
Ainda em 1896, Hearst decidi publicar dois desenhos de Yellow kid por semana, o que
acarretou mais trabalho ´para Outcaut, onde ele era obrigado a fazer um desenha grande de uma
página e um outro de meia página para serem publicados sempre. Esse esquema dos dois desenhos
por semana, começaram a partir de 25 de outubro daquele ano. Até antes disso Yellow Kid, era uma
ilustração de uma página, a partir dessa mudança Outcalt, começou a cria histórias em sequências
de quadros, dando assim ritmo, e criando uma narrativa mais complexa para o seu personagem,
Apesar que as sequências de quadros protagonizados por um personagem já eram comum, e não
algo inventado por Outcalt. Mas ele as populariza, por causa do grande alcance midiático que tem
as HQs de seu personagem.
Mas o diferencial de Outcalt nestas primeiras histórias sequenciadas, foi a utilização do texto
nos balões no camisolão ou mesmo no espaço do desenho dos quadros que formavam a sequências
narrativas. Pois antes dele, o texto em desenho feito em sequência era escrito abaixo de cada quadro
desenhando, como algo dividido claramente. Outcalt criou uma junção de desenho e texto em
sequência, onde ambos funcionavam ao mesmo tempo, para narrar algo, que atualmente é a forma
principal usada da linguagem dos quadrinhos, para se fazer uma HQ moderna que todos podem ler,
que possibilitou décadas depois que Stan lee apenas escreve-se textos nos balões e recordatórios das
páginas desenhadas por sua equipe de desenhistas. O grande diferencial entre literatura e quadrinhos
foi popularizado por Outcalt, que fundiu elementos da literatura com elementos da ilustração para
construção dos alicerces de uma linguagem muito mais sofisticada, que o quadrinista americano
Will Eisner décadas depois, no século XX, chamaria de narrativa gráfica. O balão e até a narrativa
atribuído a Outcault, na verdade são criações de William Heath, um cartunista britânico de humor
que fez isso, para revista Inglesa '”The Glasgow Looking Glass” ( também considerada a primeira
revista em quadrinho do mundo), que foi publicada nas primeiras décadas do século dezenove na
Inglaterra.
Com o passar do tempo, Outcault estabeleceu o padrão de tamanho de tira, com as tiras
sequenciadas publicadas de seu Yelllow Kid, fez isso para estabelecer o espaço que uma tira deveria
ocupa em um suplemento de quadrinhos de um jornal ou mesmo em sua publicação diária. A partir
de 14 de novembro de 1896, Outcalt começou, a desenhar com certo grau de regularidade todo dia
seu Yellow Kid, em uma ilustração na página do editorial do jornal, foi os primeiros passos para que
se convencionou alguns anos depois, chamar de tiras diária, protagonizada por personagens
recorrentes. Outcalt e Hearst, assim estavam criando as bases estruturais para publicação de tiras em
qualquer jornal no mundo.
No ano de 1897, Outcalt a mando Hearst, fez uma viagem de cinco meses pelo continente
europeu, criando assim um diário de viagens de Yellow Kid pela Europa, tiras alimentadas também
por textos de Townsend, inspirados agora nos relatos de um editor do suplemento de quadrinhos de
Hearst, chamado Rudolph Block, que tinha viajado para Europa também. Tudo isso foi feito para
atrair assim, o leitor de jornal das classes media e altas da cidade de Nova York. Essa ação não
logrou muito êxito, e em setembro de 1897, o Yellow Kid voltou a ter histórias ambientadas nos
bairros pobres de Nova York, sem muita explicação de sua passagem pela Europa.
Em dezembro de 1897, o Word de Pulitzer, parou de publicar Yellow Kid, que naquele
momento já não fazia grande sucesso entre o publico que comprava o seu jornal, Outcalt por outro
lado, desenhou o personagem até o início de 1898, quando ainda em janeiro daquele ano o Yellow
Kid, também foi cancelado das páginas do suplemento do Jornal de Hearst.
O fim da tira de Yellow Kid de Outcault, ocorreu em meio a uma atmosfera social e politica
muito turbulenta na América, que antecedia a futura Guerra Hispano Americana em território
cubano. Porque o sentimento antiespanhol nos Estados Unidos, alimentandos pelas manchetes e
notícias sensacionalistas impressas pelos jornais de Hearst, ajudavam a inflamar ainda mais os
ânimos de jovens cidadãos americanos.
Com o término da tira de Yellow Kid, os ataques a nova mídia popular já eram algo claro,
pois se o personagem de Outcault iniciou isso, não seria com o fim de sua publicação que isso
acabaria. Tanto que anos depois, o Clube de Mães de Nova York, em uma reunião realizada em
1908, em Saratoga, foi decidido por esse clube condena e boicota os jornais sensacionalistas e os
suplementos dominicais de quadrinhos que desvirtuavam a mente dos jovens leitores,
O autor do famoso e polêmico personagem, em uma entrevista dada por ele em 1902, ele
declarou isso sobre o seu personagem Yellow Kid:
“Yellow Kid, não era exatamente alguém que existiu. Mas um arquétipo. Com caráter e uma imensa disposição, era generoso por
natureza. Não tinha malícia, inveja ou mesmo egoísmo em sua personalidade e, ele nunca perdia a paciência com nada em sua vida.”

Mas como o novo século iria prova, Outcault ainda criaria um outro grande personagem, que o
tornaria alguém ainda mais famoso e rico. E que não seria mais um representante da classe
trabalhadora, e sim um garoto mimado e riquinho da classe alta americana, mas com alma travessa
de seu Yellow Kid.

A reinvenção de Outcault em seu ofício

O artista é o criador de coisas belas.


Revelar a arte e ocultar o artista é a finalidade da arte.

Oscar Wider

Com o fim da guerra comercial entre os dois grandes jornais de Nova York, por causa do fim
da tira de Yellow Kid, Outcault teve liberdade para trabalhar para ambos os jornais, e sem muita
pressão dos donos. Para o World criou a tira de humor Casey's Corner ( em tradução livre As Áreas
do Casey), uma série protagonizada por moradores pobres que eram afro-americanos ( novamente),
a primeira história dessa série, foi publicada em 13 de fevereiro de 1898, e apresentou um
personagem bem chamativo chamado New Bull (O Valentão em português), um jovem negro que
era bem corpulento e brigava com todo mundo nas narrativas da tira. Com o passar do tempo, a tira
começou satiriza também, os jovens rebeldes civis americanos, que se preparavam para lutar em um
conflito fora de seu país, no caso, um conflito em que Cuba pedia independência da Espanha.
Em 8 de abril de 1898, ele levou os jovens rebeldes para o concorrente do World, no caso, o
Evening Journal de Heart, que não tinha nenhuma objeção ou mesmo era contra a esse tipo de
prática. E renomeou a tira com o título de Huckleberry Volunteers, nas duas semanas seguintes a
tornou a primeira tira diária, com continuidade a ser publicada em um jornal nos Estados Unidos, a
série durou apenas 11 dias, e foi encerrada em 22 de abril daquele mesmo ano.
Mas curiosamente quando as tropas da tira chegaram em Cuba, ele colocou seu Yellow Kid,
para comandar os jovens, isso aconteceu a partir de 16 de abril, 7 dias antes da tira ser cancelada. O
cancelamento aconteceu, porque na vida real, o conflito em Cuba, entre Estados Unidos e Espanha
estava ficando muito perigoso, no entendimento do governo americano da época. É tanto que se
tornou guerra declarada em 4 de agosto de 1898, como previa Outcault em uma ilustração de
Yellow Kid, publicada em 4 de maio, onde colocou no camisolão do personagem uma frase, que
previa uma possível guerra entre Estados Unidos e Espanha.
Em 1899, Outcault, que já era editor-chefe da página de quadrinhos do Evening Journal.
Também fazia um trabalho freelance de fazer caricaturas para diversos jornais americanos. E
também vendia duas séries de tiras para o Philadelphia Inquirer que foram o The Country School e
The Barnyard Club. E para o New York Herald, ele criou uma tira de curta duração hamada Tucker,
protagonizada por um mensageiro de hotel. E uma série de longa duração que nomeou de Pore Lil
Mose, que começou a fazer a partir do ano de 1900. Outcault por isso mostrava um empenho em
trabalhar exaustivamente em seu ofício, ao mesmo que queria ganhar muito bem pelo que fazia.

Nasce Buster Brown o novo sucesso de Outcalt

Não acho que a perspicácia nos negócios


é em grande parte resultado de um esforço
para comercializar ideias. É uma consequência, na verdade.

Will Eisner

Pore Lil Mose era uma tira que Outcault fez para o New York Herald - jornal nova-iorquino
fundado por James Gordon Bennett Sênior, em 6 de maio de 1835, um jornal apartidário, que tinha
uma linha editorial que não era sensacionalista. E por isso agradava a classe A e as pessoas que
pertenciam as elites financeiras da cidade de Nova York. Era um jornal de elite por natureza -, Mose
o protagonista da série era um garoto de 7 anos, um garoto de pele negra, estereotipado, vestido
com lindas roupas de um garoto branco, muito brincalhão e divertido, que parecia um boneco que
fazia um relativo sucesso, ate que em 4 de maio de 1902, Outcault criou para o Herald (um jornal
lido pela elite de Nova York), uma tira também estrelada por um outro garoto, chamado Buster
Brown, dessa vez, um garoto muito branco, com mechas loiras, de família rica americana. Mas que
era um pestinha e que não conseguia ser controlado por seus pais.
O personagem, segundo alguns estudiosos da vida e obra de Outcault, afirmam que ele foi
vagamente, baseado fisicamente, em um garoto que o autor conhecia que se chamava Granville
Hamilton Fisher, que era filho de Charles e Anna Fisher residentes em Flushing, na cidade de Nova
York, (onde a Familia de Outcault residia também). A aparência física de Fisher, incluindo o corte
de cabelo característico daqueles jovens que eram pagens que acompanhavam príncipes e cavaleiros
na idade média, foi copiada por Outcault e dada a Buster Brown. As roupas chiques de Buster,
foram inspiradas nas ilustrações (feitas pelo ilustrador Reginald Bathurst Birch) de um garoto
apresentado no romance infantil Little Lord Fauntleroy, escrito pela escritora inglesa Frances Eliza
Hodgson Burnett, que iniciantemente foi apresentado aos americanos, em forma de um folhetim em
capítulos, que saíram na revista novaiorquina infantil, St. Nicholas Magazine, a história completa
foi publicada entre novembro de 1885 e outubro de 1886, depois se tornou um livro muito popular
infantil, comprado por muitos pais. O nome "Buster" veio direto ou indiretamente da popularidade
de Buster Keaton (então à época ator infantil, muito famoso no teatro Vaudeville, que anos depois,
seria consagrado como um dos maiores atores/comediantes do cinema mudo, que criaria o homem
que não ri, o tipo que disputaria pau a pau com o Carlitos de Charles Chaplin). Outro menino,
Roger Cushman Clark (1899–1995) da cidade de Deadwood, do estado de Dakota do Sul, também
foi descrito por outros estudiosos como também “modelo original”, para criação física do
personagem Buster Brown.
Buster em sua tira, tinha uma interação bem humana com seu cachorro Tige (da raça American
Pit Bull Terrier), o primeiro cachorro falante dos quadrinhos a protagonizar uma tira de quadrinhos
para um jornal, e também interagia com sua namorada Mary Jane (nome da esposa de Outcault e
também o mesmo nome da futura esposa do Homem-Aranha na Marvel comics). Esses personagens
coadjuvantes se tornaram muito populares entre o publico leitor da tira, que se tornou um sucesso
nacional nos Estados Unidos, tornando Outcault muito famoso novamente, como na época do
sucesso de seu Yellow Kid.
Com o sucesso estrondoso de Buster Brown, e o dinheiro entrando sem para na conta de
Outcault, ele para de produzir Pore Lil Mose, três meses após criar Buster, para se dedica apenas a
essa tira protagonizada pelo seu garoto riquinho e mimado para o Herald. Pois tanto por sua postura
moral, quanto por suas travessuras infernais e pelo último quadro da tira, que sempre mostrava que
o garoto aprendeu a lição de não fazer nada de errado novamente. Buster era uma tira de sucesso
incontestável.
Em pouco tempo a tira nova de Outcalt, se tornou uma mania nacional entre crianças e adultos
naquela América do início do século XX, diferente de seu primeiro sucesso comercial, que foi
Yellow Kid, Outcault começou antes que o jornal pudesse explora comercialmente Buster, a ele
mesmo explora comercialmente seu personagem. Licenciando Buster e sua turma para se torna
produtos que iam de instrumentos musicais até charutos. O criador de Buster, não media esforços
para ganhar muito mais com sua criação, por isso em 1904, na feira Mundial de St. Louis, ele
vendeu licenças para que mais de 200 empresas usassem Buster para anunciar seus produtos, e
assim tornar Buster, o personagem de quadrinhos mais conhecido nos Estados Unidos.
Ainda em 1904, negocia um contrato com seu ex-chefe Thomas Edison, e seu estúdio de
cinema, que existia desde de 1894, localizado à época em seu segundo endereço, que ficava entre a
41 East e 21st Street em Manhattan, na cidade de Nova York, onde se via um prédio gigantesco com
um enorme teto de vidro. O estúdio era dirigido por Alex T. Moore. E os estúdios de Edison, foram
os primeiros que se especializaram em produção de filmes comerciais em curtas-metragens em larga
escala, que tinham menos de 2 minutos de duração nos Estados Unidos, por isso o estúdio se propôs
a produzir 4 filmes de um rolo (com cerca de 1 minuto e 26 segundos de duração) estrelado por
Buster Brown (interpretado por um ator mirim jamais identificado), filmes que foram produzidos e
dirigidos por Edwin S. Porter (um dos pioneiros do cinema, que contribuiu muito para criação da
linguagem cinematográfica), que eram inspirados livremente em roteiros das tiras do personagem já
publicadas no Herald. O primeiro filme estrelado por Buster, data de 09 de março de 1904, onde no
filme aparecem personagem de sua tira como sua mãe e seu cachorro Tige. Os Filmes renderam a
Outcault uma boa quantia em dinheiro, por se tornarem sucesso instantâneo de publico. E que
viraram febre nas salas de nickelodeon, os cinemas que cobravam um nickel por pessoa nos Estados
Unidos, consideradas as primeiras salas comercias de cinema no mundo. Essa passagem do
personagem pelo cinema, mostrou a força comercial dele, em outras mídias até 1906, quando saiu o
último filme de um rolo de Buster, pelos estúdios de Edison.
No teatro, Buster teve sua primeira adaptação datada do ano de 1905, a temporada dessa peça
começou em janeiro daquele ano e se encerou em abril do mesmo ano corrente, durando exatos 4
meses, as apresentações aconteceram no Majestic Theatre, na Broadway. Buster foi interpretado na
peça pelo ator anão de 21 anos, chamado Mestre Gabriel (que na verdade se chamava Gabriel
Weigel que também interpretou Buster na turner nacional da peça e que também interpretou no
teatro o garoto Nemo, em uma peça inspirada na tira Little Nemo in Slumberland) e seu cachorro
Tige foi interpretado pelo ator George Ali, que manipulava a marionete de Tige, que se notabilizou
em sua carreira, pelo seu trabalho em manipular marionetes de animais no teatro e no cinema.
Uma empresa chamada Brown Shoe Company, lançou uma linha de sapatos infantis que
nomeou de Buster Brown, que trazia dentro dos sapatos fotos de Buster e Tige, e se tornaram
sucesso de venda na época. A empresa de sapatos só comprara os direitos de Buster e seus
personagens coadjuvantes, graças à insistência de John Bush, um executivo de vendas da empresa,
que convenceu os donos da empresa de calçados a fazer isso. A empresa de sapatos, também criou
uma estranha campanha publicitaria, que foi contrata diversos meninos com nanismo (um
transtorno que se caracteriza por uma deficiência no crescimento, que resulta numa pessoa com
baixa estatura se comparada com a média da população de mesma idade e sexo), para se vestirem de
Buster Brown, todos acompanhados com seus cachorros Tige, para que se apresentassem em lojas
de departamento, lojas de sapatos e até em teatros, para divulgar os sapatos da linha Buster Brown,
isso começou em 1904 e só terminou em 1930, ou seja, 26 anos. Essa história foi relatado em
detalhes em um livro chamado Buster Brown and the Cowboy (2010), livro de memórias de
Richard Barker, que nasceu em Massachusetts, em 1899, que teve uma mãe que era dona de uma
escola de dança, que o incentivou a se apresenta em um palco ainda criança, até que em 1907, com
apenas 8 anos de idade, foi descoberto por representantes da Brown Shoe, durante uma
apresentação improvisada, e contratado de imediato para se apresenta vestido de Buster Brown,
com o objetivo de divulgar os sapatos da empresa, que levavam a imagem do personagem, que ele
agora incorporava, e que interpretaria pelos próximos 6 anos, e só teria como companhia o cachorro
que interpretava o Tige da tira, O contrato de Barker afirmava que ele deveria estar em seu traje de
Buster Brown, junto com seus cachos loiros de marca registrada, o tempo todo. Este traje o
incomodava muito. Barker lembrou assim dessa época : “Eu não fiz exatamente amigos à primeira vista,
estava sempre brigando com alguém ou correndo para outro local. Pensando bem, Tige era o único amigo que eu tinha
mesmo.”
Nas apresentações, Barker cantava e dançava fantasiado como Buster nos palcos. E foi esse
trabalho que contribuiu muito para transforma Buster Brown, em uma das marcas mais conhecidas
da América, Barker somente deixou de interpretar o personagem em 1913, aos 14 anos de idade. Só
após essa parada que ele conseguiu finalmente frequentar uma escola pela primeira vez na vida, e
após participar como combatente na primeira guerra mundial, na Europa, e em seu retorno para
América, conseguiu realizar o sonho de se torna Cowboy de verdade, casou com uma jovem
chamada Virgínia, em 1923, herdou terras em Little Snake River Valley, na fronteira norte dos
condados de Routt e Moffat. Participou da Segunda Guerra Mundial, e morreu de ataque cardíaco
fulminante em casa, em 1976, aos 77 anos de idade.
Mas mesmo com produtos licenciados, filmes e peça de teatro fazendo sucesso. Outcault não
era o detento dos direitos autorais de Buster Brown de fato. Mas mesmo assim ganhou muito
dinheiro licenciando produtos do personagem que pertencia na verdade ao New York Herald. Mas
com experiência adquirida durante a guerra da circulação de seu personagem Yellow Kid entre
Pulitzer e Hearst, aprendeu que o direito material sobre o personagem que ele tinha era mas
importante que ter um documento legal que lhe dava os direitos autorais sobre o personagem.
Em 31 de dezembro de 1905, Outcault publica sua última tira de Buster Brown, pelo Herald.
No ano seguinte, 1906, Outcault leva Buster Brown para o jornal de Hearst, agora o New York
American, pois Hearst e seu jornalismo sensacionalista com matérias apelativas e mentirosas,
provocaram um homicídio de uma pessoa, por isso Hearst acuado pelos criticos do jornalismo
amarelo, decidiu mudar o nome do seu Jornal, para que não associassem esse crime ao seu jornal.
Mesmo após a saída Outcault e de seu Buster Brown do Herald, o jornal continuo publicando o
personagem, que foi desenhado por outros artistas da época. Isso deixou Outcault muito irritado.
Que decidiu sem pensar, processar judicialmente o Herald, para que o jornal não produzisse mais
tiras inéditas do seu personagem. Mas o feitiço virou contra o feiticeiro, os advogados do Herald
processaram o Star Company ( a editora que pertencia ao jornal New York American), que detinha
os direitos autorais de publicação do personagem no jornal de Hearst. E o Herald ganhou
judicialmente apenas o nome do personagem, pois o entediamento judicial da época, não deu ganho
para o Herald se torna detentor dos direitos de elementos de semelhança como chapéu e sapatos,
figurino e do comportamento do personagem.
Foi por isso que Outcault, continuou a fazer para o American tiras novas de Buster. Apenas
trocaram o título da tira, para uma imagem desenhada de Buster Brown, pois o nome da tira
pertencia ao jornal concorrente. Mas mesmo com o processo aberto por Outcault, para tornar a Star
Company detentora dos direitos de Buster Brown, ele de fato após a perda do nome de seu
personagem, não tentou revindicar os direitos autorais dele, como tentou com Yellow Kid, ao fazer
um pedido formal de direito, a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.
Mas com Buster Brown, ele conseguiu ter direito de ganhar dinheiro com os anúncios
publicitários e com o licenciamento de produtos, pois ele de fato jamais teve o direito de publicação
de seus personagens nos jornais para qual trabalhou. Mas tinha segundo ele próprio o direito
consuetudinário, ou seja, o direito de explorar comercialmente e financeiramente suas criações sem
ter é claro legalmente um documento de fé, que lhe desse essa autorização. Mas esses processos de
Outcault, envolvendo os direitos autorais de seus personagens de quadrinho, foram fundamentais,
para criação de leis mas claras sobre o direito autoral e do entendimento do direito de propriedade
intelectual de um personagem criado dentro de uma empresa de comunicação.
No American, Outcalt produziria pelo menos uma história de Buster até o ano de 1921, pois
durante esse período, ele criou uma agência publicitaria, que operava na cidade de Chicago, no
endereço 208 South Dearborn Street. A agência cuidaria de contrata equipes de criação artística,
para fazerem novas tiras dos personagens criados por Outcault para os jornais que ele era
contratado, além de vender anúncios publicitários com seus personagens e licenciamento de
empresas para usa a imagens de suas criações.
Mas antes de funda sua agência, Outcault já contava com um advogado e duas secretarias,
que lhe ajudavam nos negócios de licenciamentos de produtos ligados a Buster Brown. Pois ele
tinha um enorme volume de trabalho, produzindo as tiras, que lhe tomavam muito tempo, por isso
precisou contar com essa ajuda por um tempo, antes de criar sua agência. E tudo que licenciava com
o seu personagem lhe gerava enormes lucros, que por ano geravam uma vultosa renda de mais de
75 mil dólares por ano, que lhe possibilitou ser dono de uma casa Long Island, onde ele e sua
família residiam.
Interessante sempre ressalta, que o único direito legal que Outcault tinha sobre Buster, era
somente desenhá-lo para o jornal. Mesmo assim se comportava como dono do personagem, e não
era importunado em seus negócios usando Buster, por nenhum deles.
Durante a trajetória inicial de Buster Brown, Outcalt não esqueceu seu Yellow Kid, fazendo
encontros entre os dois personagens na tira de Buster, que aconteceram em 1907 e 1910, totalizando
4 encontros entre os personagens.
A primeira tira onde Kid conhece Buster, seu cachorro Tiger e Mary Jane, que data de 7 de
julho de 1907, é ambientada nas paisagens urbanas dos bairros sujos e pobres onde Kid vivia, e o
penúltimo quadro da tira termina com Buster caindo da cama, notamos assim, que tudo isso foi um
sonho, esse penúltimo quadro também é uma alusão ao último quadro das tiras populares de Little
Nemo in Slumberland, criado em 1905, pelo cartunista Winsor McCay, onde o jovem Nemo cai da
cama, para avisar ao leitor da tira, que toda a aventura de Nemo lida, não passou de um sonho do
personagem.
O poder das tiras de jornais era tão grande que em 1908, 75% dos jornais americanos tinham
seções de quadrinhos diárias ou dominicais. Como resultado disso eles se tornaram alvo de ataques.
Pois muitos acreditavam em inúmeros malefícios, que eles traziam a vida e as mentes dos jovens
leitores. Tanto que entre 1910 e 1912, grupos de mulheres e organizações religiosas começaram
campanhas contra a publicação dos quadrinhos publicados em jornais. Linhas de batalhas estavam
sendo criadas contra os quadrinhos. Até que uma grande mudança aconteceu em 1912, no negócio
envolvendo a distribuição de tiras para jornais, quando Hearst formou o “Internacional New
Service”, que foi a primeira empresa a distribuir quadrinhos para jornais em todo o país, e que
também inaugurou uma censura a diversos temas das tiras, ou seja, só era distribuído a tira que não
tivesse algum tema que desagrada-se aos criticos das tiras, assim Hearst, conseguiu acalmar os
críticos, e qualquer tipo de organização conservadora. E essa era realidade que a tira famosa de
Outcault, vivia naquela segunda década do seculo vinte.
Em 1925, Outcault decidi vender os direitos de Buster para Universal Pictures, para produzir
filmes de 2 rolos, e quem é escolhido para interpretar o personagem principal foi o ator mirim
Arthur Trimble, na época com apenas 9 anos de idade, que interpretaria o personagem até o ano de
1929, quando completou 13 anos.
Outcault nesta época, já tinha parado de desenhar Buster, e apenas coordenava desde 1921,
uma equipe de artistas que fazia as tiras de seu personagem para o jornal. Pois ele era essa altura um
homem muito rico. Nesta época, os Syndicates, é que distribuíam tiras para os jornais, e já eram
algo natural no meio editorial dos jornais da época. O primeiro desses Syndicate a distribuir tiras de
quadrinhos foi o McClure Newspaper Syndicate (fundado em 1884), que começou a distribuir tiras
de quadrinhos por volta de 1901. E a partir de 1905, o New York World de Pulitzer, começou a
distribuir tiras para outros jornais sob o nome World Feature Servise. Em 1914, finalmente Willian
Randolph Hearst funda o King Featuares, o mais antigo sindicato de quadrinhos ainda em operação
até os dias de hoje. As tiras do King se tornaram tão populares em todo o mundo, que algumas delas
chegaram até os dias de hoje, como foi o caso The Katzenjammer Kids, no Brasil “Os Sobrinhos do
Capitão” (1897-2006) e a tira de Popeye (1919- até o presente momento).
Mas em meio a esse mercado em ebulição das tiras de quadrinhos, na década de 20 do século
passado, a saúde de Outcalt, não andava muito bem no final dessa década, em uma terça-feira 25 de
setembro de 1928, ele falece em sua casa, na cidade de Nova York, aos 65 anos, após uma luta
perdida para uma doença que lhe acometeu durante 10 semanas, seu corpo foi cremado, para
atender um de seus últimos pedidos, e suas cinzas estão sepultadas em um túmulo, localizado Forest
Laws Memorial Park, em Glendale, Los Angeles, no estado da Califórnia, as cinzas foram
enterradas apenas em 1945, após o falecimento de sua esposa, que guardou as cinzas do marido por
16 anos, com objetivo de quando ela morresse, eles pudessem enfim serem enterrados juntos, o que
acabou acontecendo naquele ano que anunciou o final da Segunda Guerra Mundial, após os Estados
Unidos terem jogados duas bombas atômicas, nas cidades japonesas, de Hiroshima e Nagasaki, e
que prenunciava, a guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética, que só terminaria no final
dos anos 80, com o fim da União Soviética, e a queda simbólica do muro de Berlin.

O legado de Outcault para linguagem dos quadrinhos modernos


E o que se tem de fazer é dar ao publico
um bom espetáculo, uma vez que, presumivelmente,
as pessoas querem entreterimento

Neal Gabler

Desde cedo, Outcault descobrira, que no nascente mercado de quadrinhos, que surgia na última
década do século dezenove, que a verdadeira riqueza a ser gerada a partir das histórias em
quadrinhos, viria, com certeza, do Merchandising dos personagens protagonistas das histórias.
Que por sua vez garantiria a continuidade da existência saudável dessa nova forma de arte em
um ambiente social de um país capitalista, como era e é os Estados Unidos. Pois o quadrinho
comercial e tratado como mercadoria, é uma das grandes criações de Outcault, ele viu na
comercialização e na propagação em massa de seus personagens um modo de os eterniza-los na
cultura pop que estava se estabelecendo no final do século dezenove e no começo do século vinte.
Por outro lado Outcault nos quadrinhos como D.W. Griffith no Cinema, se apossaram de
elementos já criados por outros em suas respectivas linguagens, para implantarem e criarem
linguagens visuais, com forte função narrativa e popular. Se Griffth usou o plano e a montagem
( que criou) no cinema, Outcault usou a sequencias de quadros e o texto no Balão ( que criou) ou
fora dele, para criar uma narrativa coerente e fluida.
Mas afirmar que Outcault foi o pai dos quadrinhos, é algo meio equivocado sempre, como
muitos atribuíram a ele esse título por muito tempo no decorrer do século vinte. Ele e seu Yellow
Kid, contribuiram muito para valorização dos quadrinhos entre o publico e os poderosos jornais,
pois a linguagem em si, foi criada com a contribuição de muitos, que foram esquecidos ou relegados
a serem coadjuvantes históricos.
O fato é que a popularidade dos personagens criados por Outcaut, e como ele conseguia
compreender o que o grande publico queria ver em seus trabalhos, e suas habilidades como artista
gráfico, são fatos inegáveis em sua trajetória profissional. E o que o torna assim, um dos grandes
pioneiros das histórias em quadrinhos no mundo.
Estranhamente seu personagem Yellow Kid, que sempre figura em listas como o mais
importante personagem das histórias em quadrinhos nos Estados Unidos, tem seu material
pouquíssimas vezes republicado nos Estados Unidos e no mundo.

Buster Brown no Brasil, ou melhor, Chiquinho no Brasil


No Tico Tico eu achava que as histórias que
eles publicavam eram muito infantis e que
havia um público juvenil a ser aproveitado.

Adolfo Aizen

A primeira revista de quadrinhos brasileira, foi a Tico-Tico (também nome de um pássaro


brasileiro), uma revista semanal, que inicialmente tinha apenas 22 páginas, que teve sua primeira
edição lançada, em 11 de outubro de 1905, com imensso sucesso de vendas, a ideia da revista foi
idelizada por Renato de Castro, pelo poeta Cardoso Júnior e pelo professor e jornalista Manoel
Bonfim, que conceberam após algumas discussões, uma proposta da publicação, que foi de imediata
apresentada ao jornalista Luís Bartolomeu de Souza e Silva, dono da sociedade o Malho, que gostou
muito da proposta, e que para criar a publicação brasileira o Tico-Tico, usou como modelo a revista
francesa La Semaine de Suzette (publicada de fevereiro do ano de 1905 a junho do ano de 1940, e
de maio do ano de 1946 a agosto do ano de 1960), uma revista destinada ao publico infantil rico da
França. A logo da revista foi criada pelo ítalo-brasileiro Angelo Agostini, um dos pioneiros dos
quadrinhos no mundo.
E foi nas páginas de o Tico-Tico, ainda em 1905, que Buster Brown foi publicado, com o
nome de Chiquinho, que tinha um amigo chamado Benjamin (introduzido na tira, quando já não era
mais usado o material original americano), um garoto negro criado pelos autores brasileiros da tira
para força abrasileiramento total do personagem americano, e seu cachorro Tige, renomeado com o
nome de Jagunço, o personagem era uma cópia não autorizada do personagem original americano
publicado em jornais nos Estados Unidos, com a dinâmica das tiras originais estrangeiras, onde
Chiquinho em histórias de uma página aprontava tudo, como era comum a personalidade de garotos
mimados em qualquer lugar do planeta, aqui no Brasil ele era um garoto de classe media em vez de
ser um de classe rica como na tira original. Mas que ao final da história era reprendido, para que o
leitor aprende-se que aquilo não era o certo a se fazer jamais.
Nas primeiras histórias de Chiquinho no Brasil, os desenhos não pareciam em nada com a versão
da tira americana feita por Outcault, mas tinha a estrutura narrativa igual. Mas com o passar dos
meses, as tiras originais começaram a ser usadas, com algumas mudanças feitas por artistas
brasileiros, a tira era apresentada aos jovens leitores da revista com o sugestivo nome de “As
Desventuras do Chiquinho”, se tornou em pouco tempo muito popular entre o publico que consumia
as revistas.
É tanto, que na década de 10, a revista o Tico-Tico, começou a publicar HQs inédita do
personagem, quem inaugurou essa fase de HQs inéditas, foi o artista brasileiro Luis Gomes
Loureiro, após ele, vários outros artistas que trabalharam com o personagem, que foram ano a ano
incorporando as narrativas e aos personagens, características da cultura brasileira, que distanciavam
ainda mas Chiquinho, do seu original americano. Seu cachorro Jagunço (no original Tige), se tornou
um retrato da sociedade brasileira do início do século XX, isso graças ao trabalho dos artistas
Augusto Rocha, Alfredo Storni, Paulo Afonso, Oswaldo Storni e Miguel Hochmann. Assim
chiquinho se tornou uma cópia não autorizada de Buster Brown, que foi publicado até 1958 no
Brasil. Mesmo assim foi considerado por muitas pessoas, como um dos grandes personagens do
nosso quadrinho nacional.

Bibliografia

1- Livros
NASAW, David. The Chief: The Life of William Randolph Hearst. Boston-Massachusetts,
Houghton Mifflin, 2000.
PROCTER, Ben. William Randolph Hearst: The Early Years, 1863-1910. Washington, Oxford
University Press, USA, 1998.

MURREL, William. A History of American Graphic Humor, Vol. 1: 1865-1938. New


York. Whitney Museum of American Art/The Macmillan Compa,1938

BLACKBEARD, Bill. RF Outcault's the Yellow Kid: A Centennial Celebration of th Kid Who
Started the Comics. Princeton, Kitchen Sink Press,1995.

MORRIS, James McGrath. Pulitzer: A Life in Politics, Print, and Power. New York,
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VERGEIRO, Waldomiro; SANTOS, Roberto Elísio dos. O Tico-tico - Centenário da Primeira


Revista em Quadrinhos do Brasil. São Paulo, Opera Graphica, 2005.

MOYA, Álvaro de. História da História Em Quadrinhos. São Paulo, Ed. Brasiliense,1994

2-Sites
http://cbldf.org › Acesso em 23 de Junho de 2022

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3-

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