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RELATÓRIO PARCIAL

CAPCIN®

Projeto
Uso da capsaicina para novilhos em crescimento mantidos
em pastagem tropical
INTRODUÇÃO
O rebanho de bovinos no Brasil gira em torno de 218,2 milhões de
cabeças, cerca de 86% desses animais são mantidos durante o ciclo inteiro em
ambiente de pastagem, sendo esta a principal fonte de alimento ofertada
(IBGE, 2020).
Essa maior porcentagem de criação a pasto está ligada às condições
edafoclimáticas favoráveis e extensão territorial abrangente em áreas com
possibilidade de uso (FERRAZ; FELÍCIO, 2010). Em contrapartida, os
parâmetros de desempenho e produtividade estão sempre em depressão
devido ao mau uso da base alimentar mais disponível e acessível que é a
forragem. A negligencia da utilização das pastagens faz com que sejam
necessárias alternativas para melhorar a eficiência alimentar e
consequentemente a maximização do retorno monetário. Segundo Mano et al.,
(2017) o uso de suplementação alimentar é essencial para assegurar o
desenvolvimento dos animais em condição exclusiva a pasto. Com isso busca-
se a utilização associada a aditivos que estimulem a síntese microbiana
ruminal, promovendo melhor aproveitamento do alimento disponibilizado e
menores perdas energéticas (OLIVEIRA et al., 2005; FERELI et al., 2010;
MOURTHE et al.,2011).
Devido a demanda por alimentos comprovadamente seguros têm-se a
responsabilidade de responder os questionamentos referentes :Presença de
resíduos de aditivos contaminantes ao produto que apresentem risco a saúde
humana, atender leis ambientais, respeito ao bem estar animal, atendimento
de normas trabalhistas ao direito de agentes no agronegócio. Locais como a
União Européia baniram o uso de promotores de crescimento (ionóforos se
enquadram) devido a possibilidade de efeitos residuais e indução de
resistência a patógenos humanos (BIOTECNAL, 1999)
O gênero Capsicum produz metabólitos secundários que são
sintetizados com função de defesa contra ataques externos chamados
capsaicinóides, estes são responsáveis pela pungência que causa irritação às
mucosas, são relatados com propriedades antimicrobianas podendo ser
utilizados como aditivo modificador da microbiota ruminal para bovinos de corte
(CALSAMIGLIA et al., 2007). Estudos avaliando o uso de produtos com
capsaicina relatam aumento da eficiência alimentar e produção de leite além de
redução de respostas inflamatórias e (OH et al., 2017a, 2017b; STELWAGEN
et al., 2016).
O uso de aditivos com a função antibiótica em doses controladas é uma
metodologia adotada pelo sistema de produção de carne como estratégia para
redução de custos, melhor conversão alimentar, maximização de ganho de
peso e favorecer a saúde metabolica dos animais com objetivo de refletir
positivamente no desempenho diretamente ativo nas fases de crescimento e
terminação (OLIVEIRA et al., 2005).
Assim criou-se uma demanda de mercado onde se tem a preocupação
com a segurança alimentar e a produção agropecuária, produtos de base
fitoterápica precisam então ser testados como possíveis melhoradores.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Recria a pasto

Estresse térmico
Capsaicina

Metodologia
Foi utilizada a área da fazenda experimental da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná (UTFPR) campus Dois Vizinhos, setor Gado de corte. O
trabalho foi desenvolvido sobre pastagem de estrela africana já consolidada há
mais de 7 anos, a área foi dividida em 9 piquetes de aproximadamente 0,3ha
utilizando-se carga variável e ocupação contínua. Foram utilizados 27 animais
machos castrados mestiços com predominância racial Angus e peso médio de
292kg distribuídos 3(três) por piquete.
O período experimental teve duração de 133 dias e foram realizadas 4
avaliações. As avaliações que compreenderam desempenho animal e
pastagem foram realizadas a cada 28 dias sendo a pesagem dos animais,
cortes de gaiolas de exclusão, dupla amostragem e simulação de pastejo.
Os animais eram suplementados com concentrado 0,3%pv diariamente as 13h
onde se tinha disponível 1 comedouro por piquete e a dose do Capcin® por
animal era adicionada no momento da alimentação. Os tratamentos foram SUP
(suplemento), CAPS200 (suplemento+200mg Capcin), CAPS400 (suplemento
+400mg Capcin)

Resultados
Tabela 1. Médias para massa de forragem (MF), taxa de acúmulo (TA),
oferta de forragem (OF), oferta de forragem instantânea (OFi), carga
animal (CA) e relação folha colmo.
Variáveis Tratamentos P-VALUE
SUP CAPS200 CAPS400 EP
MF 3251.87 3160.11 3112.91 125.97 0.31
TA 89.97 95.72 80.04 15.23 0.27
OF 6.19 6.02 5.25 0.79 0.39
Ofi 1.00 0.94 0.89 0.064 0.71
CA 3381.38 3451.72 3630.79 203.74 0.40
Folha:colmo 0.429 0.449 0.440 0.026 0.15

A oferta de forragem (MF), oferta instantânea (Ofi), taxa de acumulo (TA) e


relação folha:colmo não apresentaram diferenças entre os tratamentos devido
à massa de forragem e carga animal serem próximos, uma vez que o manejo
da pastagem foi o mesmo para todos os tratamentos.
Na tabela 1 pode-se observar que tratamento com 400mg de Capcin®
possibilitou suporte para 7,4% a mais de carga animal em relação ao
tratamento sem adição do produto sem grandes alterações nos demais
parâmetros relacionados a pastagem.

Tabela 2. Parametros de desempenho animal Peso inicial (PI), peso final


(PF), ganho médio diário total (GMDt), ganho de peso vivo por hectare
(GPV.ha), ganho de peso vivo por hectare por dia (GPV.ha.dia).
Tratamentos
Variáveis P-VALUE
0 200 400 EP
Pi 306.55 304.22 306.66 6.62 0.04
Pf 378.11 378.55 378.33 7.10 0.00
GMDt 0.559 0.580 0.559 0.038 0.10
GPV.ha 716.4 777.60 783.23 109.70 0.11
GPV.ha.dia 5.6 6.06 6.13 0.85 0.12

Na tabela 2 o ganho médio diário total (GMDt) dos animais


suplementados com Capcin® apresentou baixa variação entre as doses
testadas, não houveram diferenças estatísticas significativas, sendo a dose
200mg responsável por incrementar em 3,6% no ganho diário dos animais. A
dose de 400mg e o tratamento controle demonstraram o mesmo desempenho,
isso pode ser um indício de limite na dose a ser ofertada para novilhos em fase
de recria nestas condições.
Mesmo com a massa de forragem, oferta e oferta instantânea maiores
(Tabela 1.) o tratamento sem Capcin® não conseguiu atingir os ganhos por
área e ganho total dos tratamentos com 200mg e 400mg. O peso final
(Tabela2.) não foi afetado pelo uso do aditivo em nenhuma das doses.
O maior ganho de peso para os tratamentos com capsin podem ser
justificados devido ao estímulo de aumento do consumo de matéria seca que
também foi observado por Renó (USP, dados não publicados, 2020) utilizando
o produto também em comparação com o grupo testemunha. Mesmo como
estímulo, a relação folha:colmo pode ter influenciado refletindo neste
desempenho, visto que a quantidade de folhas era baixa e de colmo maior
sendo a qualidade do alimento reduzida.
O comportamento ingestivo não esta ligado apenas as propriedades do
alimento mas sim relacionadas ao ambiente e a individualidade animal (DADO
et al., 1995; HOGSON , 1990; SILVA et al.,2005)
O incremento por área e por área.dia tiveram comportamentos
crescentes entre as doses, sendo 200mg responsável por 61,22kg e 400mg por
66,83kg de peso vivo por hectare a mais em relação aos animais
suplementados sem o uso do aditivo alimentar representando adição em 9,5%
no GPV.ha.dia na dose 400mg.
No GMDt a dose de 400mg e o tratamento controle apresentaram o
mesmo desempenho e isso pode ser um indício de limite na dose a ser
ofertada para novilhos em fase de recria nestas condições. Apontando como
valor satisfatório para dose maior que 200mg com possível limitação em
400mg.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIOTECNAL O fantástico mundo dos probióticos. Manual técnico. Biotecnal, 1999.

CALSAMIGLIA, S., BUSQUET, M., CARDOZO, P.W., CASTILLEJOS, L., FERRET, A.,
2007. Invited review: essential oils as modifiers of rumen microbial fermentation. J.
Dairy Sci. 90, 2580–2595. https://doi.org/10.3168/jds.2006-644.
DADO, R. G.; ALLEN, M. S. Intake limitations, feeding behavior, and rumen function of
cows challenged with rumen fill from dietary fiber or inert bulk. Journal of dairy
Science, 1995, 78.1: 118-133.

FERELI, F.; BRANCO, A.F.; JOBIM, C.C.; CONEGLIAN, S.M.; GRANZ OTTO, F.;
BARRETO, J.C. Monensina sódica e Saccharomyces cerevisiae em dietas
para bovinos: fermentação ruminal, digestibilidade dos nutrientes e eficiência de
síntese microbiana. Revista Brasileira de Zootecnia, v.39, p.183-190, 2010

FERRAZ,J.B.S.;FELÍCIO,P.E.de.Production systems Anexample from Brazil. Meat


Science,v.84,n.2,p.238-243,2010
HODGSON, J. et al. Grazing management. Science into practice. Longman Group
UK Ltd., 1990.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa da Pecuária
Municipal, Efetivo de rebanhos (2020). Disponível em:
<https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/9107-
producao-da-pecuaria-municipal.html?edicao=31709&t=destaques>.
MANO,D.S.; BRANCO,A.F.; CONEGLIAN,S.M.; BARRETO,J.C.; CARVALHO,S.;
OLIVEIRA,M.V.M.;&GOES,R.H.T.B.Monensina sódica e óleo funcional como aditivo
em suplemento protéico-energético para novilhas em pastejo. Boletim de Indústria
Animal,74(2),96-104.2017
MOURTHE, M.H.F.; REIS, R.B.; LADEIRA, M.M.; SOUZA, R.C.; COELHO,
S.G.; SATURNINO, H.M. Suplemento múltiplo com ionóforos para novilhos em
pasto: desempenho. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia,
v.63, p.124-128, 2011
OH, J., HARPER, M., GIALLONGO, F., BRAVO, D.M., WALL, E.H., HRISTOV, A.N.,
2017a. Effects of rumen-protected Capsicum oleoresin on immune responses in dairy
cows intravenously challenged with lipopolysaccharide. J. Dairy Sci. 100, 1902–1913.
https://doi.org/10.3168/jds.2016-11666.
OH, J., HARPER, M., GIALLONGO, F., BRAVO, D.M., WALL, E.H., HRISTOV, A.N.,
2017b. Effects of rumen-protected Capsicum oleoresin on productivity and responses
to a glucose tolerance test in lactating dairy cows. J. Dairy Sci. 100, 1888–1901.
https://doi.org/10.3168/jds.2016-11665.
OLIVEIRA, M.V.M.; LANA, R.P.; JHAM, G.N.; PEREIRA, J.C.;
PÉREZ, J.R.O.; VALADARES FILHO, S.C. Influência da monensina no consumo
e na fermentação ruminal em bovinos recebendo dietas com teores baixo e
alto de proteína. Revista Brasileira de Zootecnia , v.34, p.1763-1774, 2005.

OLIVEIRA, J. S.; ZANINE, A. M.; SANTOS, E. M. Uso de aditivos na nutrição de


ruminantes. Revista Electrónica de Veterinária, v. 6, n. 11, 2005.

SILVA, R. R., et al. Comportamento ingestivo de novilhas mestiças de holandês


x zebu confinadas. Archivos de Zootecnia, 2005, 54.205: 75-85.

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