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ECOSSISTEMA E INFRAESTRUTURAS DE INOVAÇÃO SOCIAL
ECOSSISTEMAS DE INOVAÇÃO SOCIAL
E CIDADES: CO-CONSTRUÇÃO DE
UMA PLATAFORMA COLABORATIVA
Este artigo sintetiza a abordagem analítica e metodológica utilizada na
coconstrução de uma plataforma digital e colaborativa denominada Observatório
de Inovação Social de Florianópolis, no Sul do Brasil, para compreender a
emergência e configuração do Ecossistema de Inovação Social (SIE) e seu impacto
no praças públicas da cidade.
Carolina Andion / Graziela Alperstedt / Júlia Graeff
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa parte do pressuposto de que os Ecossistemas
de Inovação Social (SIEs) são centros de inteligência e
criatividade coletiva, contribuindo para a solução de problemas
urbanos, criando novos caminhos de desenvolvimento e
reforçando a democracia nas cidades [1, 2].
Nesse sentido, é importante compreender as dinâmicas que
favorecem ou inibem a mobilização, a coconstrução do
conhecimento e as ações coletivas em torno dos problemas
públicos da cidade. Para observar e analisar as práticas dos
atores que configuram os SIEs (como agentes de apoio ou
promotores da inovação social) e seus relacionamentos, o
Observatório de Inovação Social de Florianópolis (OBISF)
(www.observafloripa. com.br) foi co- construído. Este artigo
apresenta o referencial analítico e metodológico adotado para
mapear e analisar o SIE da cidade e para desenvolver o OBISF,
com base em uma perspectiva pragmática de inovação social [3].
METODOLOGIA E MOMENTOS DE SUA
APLICAÇÃO NA CO-CONSTRUÇÃO DE UM
PLATAFORMA DIGITAL E COLABORATIVA
A OBISF foi coconstruída a partir de um projeto de pesquisa,
vinculado ao ensino e transferência, cujo objetivo foi implementar
uma plataforma digital de acesso gratuito que permitisse reunir
informações, monitorar e analisar o SIE da cidade de Florianópolis.
As instalações que suportam a construção da estrutura
eram:
1. Uma perspectiva multiescalar e multidisciplinar compreendendo
o SIE como uma rede envolvendo múltiplos setores (governo,
empresas, academia e sociedade civil), diferentes níveis de
prática (macro, meso e micro) inseridos em arenas públicas [4].
2. Uma análise longitudinal e socioespacial por meio do
georreferenciamento e monitoramento de longo prazo de
diferentes iniciativas na cidade de Florianópolis; uma cidade
reconhecida nacional e internacionalmente como fonte de
inovação social.
3. Uma abordagem de aprendizagem colaborativa e experiencial
criando espaços em cada um dos quatro momentos principais
para que os próprios atores expliquem as suas práticas tendo
como pano de fundo a inovação social e construam as suas
próprias teorias sobre elas, estimulando processos de
'investigação pública'.
É importante entender as
dinâmicas que favorecem ou
inibem a mobilização, a
coconstrução do conhecimento e
as ações coletivas em torno dos problemas púb
O projeto de investigação estrutura-se em quatro momentos
principais: (1) Exploração territorial e institucional, (2) Cartografia
do Ecossistema de Inovação Social , (3) Etnografia em espaços
públicos e (4) Relacionar as escalas macro, meso e micro. Os
quatro momentos não são desenvolvidos linearmente.
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Marco analítico e metodológico do Observatório de Inovação Social de Florianópolis
1. Exploração territorial e institucional Esta
primeira análise partiu de uma análise documental e de
conteúdo examinando o contexto institucional (leis,
regulamentos, políticas e programas públicos) que sustenta a
inovação social na cidade. Para além das disposições legais,
debruçámo-nos sobre a dimensão territorial e a história do SIE, problemas públicos, as soluções que propõem, como medem
incluindo o surgimento e desenvolvimento do SIE, bem como
a sua dinâmica territorial, com destaque para a identificação
dos principais problemas públicos da cidade. Para cumprir
esta etapa, entrevistamos os principais atores envolvidos no
SIE da cidade e analisamos as principais reportagens que
tratam dos desafios atuais em Florianópolis. Com as
informações preliminares do contexto institucional e o
entendimento da formação e desenvolvimento do SIE,
traçamos um panorama do que chamamos de macroescala
considerada para análise juntamente com as escalas meso e micro.inovação social apoiadas por eles no ecossistema, aumentando
2. Cartografia do Ecossistema de Inovação
Social Esta etapa começou com entrevistas aos principais
atores que apoiam a inovação social na cidade. Seguindo a
técnica da bola de neve, ampliamos a amostra de atores de
apoio em Florianópolis, aos quais solicitamos o preenchimento
de um questionário para coletar informações sobre eles e as
iniciativas de inovação social que eles reforçavam. Com essas
primeiras informações, iniciou-se a concepção e implementação
da plataforma. A equipe do OBISF coletou informações de
livre acesso sobre as iniciativas de inovação social, (do
governo, empresas, sociedade civil e universidades) e
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atores de apoio, incluindo formato jurídico, causas com as
quais trabalham , públicos-chave e informações de contato
para georreferenciamento. Em seguida, foram observadas (por
meio de visitas in loco) as iniciativas de inovação social
mapeadas para entender sua mobilização em torno dos
seus resultados, quem está engajado com as ações, quais
metodologias e tecnologias utilizam, se influenciam a esfera
pública e quem são seus parceiros, apoiadores e financiadores.
Nesse processo, pela análise da rede, foram identificados mais
de 10 'atores da rede' como articuladores nos campos da
empreendedorismo, governo, academia (Universidades) e
sociedade civil. Esses atores foram convidados a se tornar
parceiros da OBISF e ajudaram a identificar novas iniciativas de
a amostra de iniciativas de mapeamento. O envolvimento dos
principais atores do ecossistema como parceiros da OBISF foi
importante para validar os dados, legitimar o projeto e cocriar a
plataforma. A partir daí, a rede cresceu e, com o lançamento da
OBISF em setembro de 2017, os questionários passaram a ser
preenchidos online. Dessa forma, construiu-se um mapa
georreferenciado dos atores de apoio e das inter-relações entre
eles e as iniciativas de inovação social. Tudo isso
informações sobre iniciativas de inovação social e atores de
apoio passaram a fazer parte do mapa, assim como suas inter-
relações. Configura uma mesoescala de análise que compõe a
plataforma online do Observatório.
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ECOSSISTEMA E INFRAESTRUTURAS DE INOVAÇÃO SOCIAL
Atualmente (julho de 2019), a plataforma conta com 228 atores
de apoio e 306 iniciativas de inovação social cadastradas,
resultando em 534 agentes que compõem o SIE de Florianópolis.
Das 306 iniciativas de inovação social cadastradas, 201 foram
mapeadas e 105 observadas.
O número de iniciativas observadas pôde ser ampliado graças ao
envolvimento de alunos de graduação que realizam visitas in loco
e acompanham as iniciativas mapeadas.
Isso possibilitou ampliar o envolvimento da comunidade acadêmica
com a pesquisa e também com os EIS do município.
3. Etnografia em espaços públicos
Para acompanhar os 'campos de experiência' das iniciativas de
inovação social de Florianópolis, estamos realizando um trabalho
de campo com abordagem etnográfica para estudar alguns
espaços públicos específicos. Essas arenas públicas são
escolhidas pela importância de sua dinâmica no ecossistema, seja
pelo número de iniciativas de inovação social, seja por seu
significado estratégico em termos de dinâmicas de reforço da
democracia e da sustentabilidade. A partir da cartografia anterior
e com base na observação das iniciativas de inovação social,
foram identificados alguns 'experimentos democráticos' [5]
relevantes nas arenas públicas. Essas experiências são
acompanhadas de observação sistemática realizada por pós-
graduandos em alguns espaços públicos: (1) a rede que atua na
garantia dos direitos da criança e do adolescente; (2) a rede de
tratamento de resíduos sólidos urbanos; (3) o fórum municipal de
políticas públicas; e (4) a articulação em torno da agricultura
urbana.
A partir do acompanhamento das iniciativas e suas práticas, bem
como da participação dos pesquisadores em reuniões e discussões
públicas, torna-se possível compreender melhor os avanços,
desafios e consequências da atuação desses atores da rede
envolvidos com os problemas públicos da cidade . Isso também
nos permite entender as controvérsias, os diferentes interesses e
os conflitos em torno do tema.
Dessa forma, pudemos observar os 'campos de experiência' das
arenas públicas analisadas e não apenas iniciativas isoladas.
Assim, juntamente com a plataforma, foi coconstruída uma espécie
de 'laboratório vivo' para acompanhar e facilitar os processos de
consulta pública nas arenas públicas estudadas. O Laboratório de
Educação em Sustentabilidade e Inovação Social (LEDS) pretende
ser um espaço colaborativo para a co-construção do conhecimento,
REFERÊNCIAS
[1] Howaldt, J./ Kaletka, C./ Schröder, A./ Zirngiebl, M. (2018): Atlas de
inovação social – Novas práticas para um futuro melhor. TU Dortmund
University: Dortmund.
[2] Lévesque, B. (2016): Économie sociale et solidaire et empreendedor
social: vers quels nouveaux écosystèmes? In: Reveue Interventions
économiques, 54, pp. 1-38.
[3] Andion, C./ Ronconi, L./ Moraes, RL/ Gonçalves, AKR/ Serafim, LB
D. (2017): Sociedade civil e inovação social na esfera pública: uma
perspectiva pragmática. In: Revista de Administração Pública, 51 (3), pp.
369-387.
promovendo a interação entre o conhecimento produzido na
Universidade e nas comunidades de práticas.
4. Relacionar as escalas macro, meso e micro
O objetivo do projeto de pesquisa é promover uma leitura
multiescalar e longitudinal do SIE de Florianópolis, relacionando
suas dimensões histórica, territorial e institucional (escala macro),
com análise de sua rede, formas de cooperação e interação
(mesoescala), bem como as práticas dos atores (microescala) e
suas consequências na esfera pública. A pesquisa permite
observar in loco como o SIE se constitui na interface entre as
instituições já estabelecidas e o potencial criativo dos diferentes
atores. Nesse sentido, o objetivo é promover a aprendizagem
colaborativa por meio da vivência em espaços públicos.
Isso significa reforçar espaços e oportunidades de problematização,
divulgação, exploração e experimentação coletiva no enfrentamento
de problemas públicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo sintetizou o referencial analítico e metodológico
que está orientando a implementação de uma plataforma
digital e colaborativa que mapeia o SIE da cidade de
Florianópolis, no Brasil. Como resultados preliminares desta
pesquisa, foi possível dar maior visibilidade aos atores e
iniciativas de inovação social, promover sua interação e
estimular a coconstrução de aprendizados sobre o SIE e
suas arenas públicas. Também promove espaços de reflexão
coletiva sobre as características do SIE e seu impacto na
resposta aos problemas públicos da cidade. Esta pesquisa,
de inspiração pragmatista, não parte de uma noção ou
conceito predeterminado de inovação social, pois busca
compreender as práticas que possibilitam um processo de
teorização. Assim, a plataforma está à disposição de
qualquer iniciativa que promova respostas aos problemas
públicos da cidade. Nesse sentido, nosso objetivo é analisar
e iluminar essas iniciativas, entendendo como elas surgem,
se relacionam e produzem consequências nas arenas
públicas, (potencialmente) mudando as realidades em que
se inserem. Mais do que uma análise estrutural do SIE,
pretendemos fortalecer e disseminar as práticas de consulta
pública na cidade, contribuindo para reforçar dinâmicas de
experimentação da democracia e promoção da mudança para estilos de de
[4] Cefaï, D. (2002): Qu'est-ce qu'une arène publique? Quelques pistas pour
une approche pragmatiste. In: Cefaï, D./ Joseph, I. (Eds.): L'héritage du
pragmatisme. Conflits d'urbanité et épreuves de civisme.
La Tour d'Aigues: Paris, pp. 51-82.
[5] Ansell, C. (2012): O que é o Experimento Democrático? In: Pragmatismo
Contemporâneo, 9 (2), pp. 159-180.