Você está na página 1de 22

O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS

Marcella Ferreira e Silva


Zulmira Rosa de Sousa Silva Duque

2a Edição / Abril / 2015


Impressão em São Paulo - SP
O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS
Professor Responsável
Marcella Ferreira e Silva
Zulmira Rosa de Sousa Silva Duque

2ª Edição: Abril de 2015


Impressão em São Paulo/SP

Copyright © EaD KnowHow 2015


Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por
qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

S586a Silva, Marcella Ferreira.


O ambiente e as doenças laborais. / Marcella Ferreira
Silva, Zulmira Rosa de Souza Silva Duque. - 2. ed. - São
Paulo : Know How, 2015.
000 p. : 21 cm.

Inclui bibliografia
ISBN : 978-85-8065-314-4

1. Doenças laborais. 2. Riscos. 3. Ambiente. I. Título.

CDD – 616. 9803

Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353


SUMÁRIO
unidade1 |RISCOs BIOLÓGICOs 17
1.1 – RELAÇÃO ENTRE AS DOENÇAS INFECCIOSAS E TRABALHO
1.2 – PRINCIPAIS DOENÇAS
1.3 – PREVENÇÃO

unidade 2|RISCOS QUÍMICOS 57


2.1 DOENÇAS RELACIONADAS À EXPOSIÇÃO AO RISCO QUÍMICO
2.1.1 DOENÇA RESPIRATÓRIA
2.1.2 DOENÇAS DA PELE
2.1.3 DOENÇAS DO OLHO
2.1.4 DOENÇAS DO OUVIDO
2.1.5 DOENÇAS DO SANGUE
2.1.6 DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO
2.1.7 DOENÇAS DO SISTEMA REPRODUTIVO

unidade 3 |RISCOS FÍSICOS 99


3.1 RUÍDO
3.1.1 ANATOMIA DA ORELHA
3.1.2 FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO
3.1.3 DOENÇAS RELACIONADAS AO RUÍDO
3.1.4 MEDIDAS DE CONTROLE DO RUÍDO
3.2 CALOR
3.2.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO AO CALOR
3.2.2 MEDIDAS DE CONTROLE DO CALOR
3.3 FRIO
1.3.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO AO FRIO
3.3.2 MEDIDAS DE CONTROLE DO FRIO
3.4 PRESSÕES ANORMAIS
3.4.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO ÀS PRESSÕES
ANORMAIS
3.4.2 MEDIDAS DE CONTROLE DAS PRESSÕES ANORMAIS
3.5 VIBRAÇÕES
3.5.1 DOENÇAS DECORRENTES DE EXPOSIÇÃO À VIBRAÇÃO
3.5.2 MEDIDAS DE CONTROLE DA VIBRAÇÃO
3.6 RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES
3.6.1 MEDIDAS DE CONTROLE DA RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE
3.7 RADIAÇÕES IONIZANTES
3.7.1 EFEITO DAS RADIAÇÕES IONIZANTES NO HOMEM
3.7.2 MEDIDAS DE CONTROLE DA RADIAÇÃO IONIZANTE

unidade 4 |rISCOS ERGONôMICOS E DE ACIDENTES 143


4.1 ALGUMAS SÍNDROMES NEURÓTICAS
4.2 DOENÇAS DA COLUNA VERTEBRAL RELACIONADAS AO
TRABALHO
4.3 LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER) / DISTÚRBIOS
OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 179


INTRODUÇÃO
Há muito tempo se sabe que o trabalho,
quando executado sob determinadas condições, pode
causar doenças, encurtar a vida ou matar, sem rodeios,
os trabalhadores. (8)
O desgaste do corpo durante o processo pro-
dutivo gera patologias específicas para cada tipo de ati-
vidade ocupacional, além das diferentes modalidades de
acidentes do trabalho, cujas características encontram-
se também diretamente relacionadas com o tipo de tra-
balho executado. (18)
Em relação às condições de trabalho, os riscos
ambientais estão divididos em cinco categorias:

• Riscos Biológicos: são diretamente relaciona-


dos com micro-organismos, podendo provocar doenças;
• Riscos Químicos: são substâncias ou produ-
tos que podem contaminar o ambiente de trabalho e,
consequentemente, o organismo humano;
• Riscos Físicos: São resultantes da troca de
energia entre o organismo e o ambiente de trabalho, em
quantidade que pode causar o desconforto, acidentes
ou doenças do trabalho;
• Riscos Ergonômicos: são as condições de tra-
balho que não são adaptadas às características físicas e
psicofisiológicas das pessoas;
• Riscos Mecânicos ou de Acidentes: são agen-

7
tes relacionados com os processos de trabalho e as
condições físicas do ambiente. (1)

É importante observar que a nocividade do


trabalho pode não ser dele próprio, ou das ativida-
des que o conformam, mas determinada ou agravada
por duas considerações sobre o “tempo de trabalho”,
sendo elas pela “duração” ou pela “configuração”,
entendido como “tempo de trabalho” nas mais distin-
tas acepções, que vão desde o tempo na vida em que
se começa a trabalhar; o tempo na vida em que se para
de trabalhar; o tempo ou duração do trabalho numa
jornada de trabalho (jornada, do francês jour = dia),
nas semanas, nos meses, nos anos e, enfim, na vida.
“Duração”, no sentido de tempo acumulado, e “con-
figuração”, no sentido de sua distribuição, ou forma
como a duração está organizada ou distribuída no pró-
prio referencial de periodização do tempo: vida, época
da vida, ano, estação do ano, mês, semana, dia, hora,
minuto... (8)
O grau de sucesso ou insucesso dos mecanis-
mos de “agressão” irá depender não apenas da natu-
reza e intensidade da “agressão”, e do grau de “vulne-
rabilidade” aos patógenos do trabalho, mas também
da eficiência ou eficácia dos mecanismos de “defesa”
do trabalhador. (8)
Sobre a ideia de saúde a Organização Mundial
da Saúde conceitua da seguinte forma:

8
condição em que um indivíduo ou grupo de indivídu-
os é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas
necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saú-
de é um recurso para a vida diária, e não um objetivo
de vida; é um conceito positivo, enfatizando recursos
sociais e pessoais, tanto quanto as aspirações físicas.
(OMS, 1984 apud Rey, 1999. Grifo introduzido). (8)

Dito em outras palavras:

saúde é o estado caracterizado pela integridade ana-


tômica, fisiológica e psicológica; pela capacidade de
desempenhar pessoalmente funções familiares, pro-
fissionais ou sociais; pela habilidade para tratar com
tensões físicas, biológicas, psicológicas ou sociais.
(Rey, 1999. Grifo introduzido). (8)

Podemos concluir que, o trabalhador ao ser


exposto a um agente agressor, seu organismo irá reagir
com um tipo de mecanismo de defesa, seu resultado
pode ser uma adaptação ou uma lesão. Por exemplo, o
trabalhador exposto a uma natureza predominantemente
biológica, seu mecanismo de defesa poderá dar resposta
imunológica competente e adequada, caso não seja ade-
quada irá surgir doenças decorrentes desta exposição.

Antes de iniciarmos nossos estudos sobre as doen-


ças ocupacionais, precisamos ter claro algumas definições:

9
• Acidente de trabalho
• Doença do trabalho
• Doença profissional

A Lei 8.213/91 conceitua o acidente de tra-


balho, primeiro no sentido restrito, depois no sentido
amplo ou por extensão. (10)
Do acidente-tipo, ou também chamado de
macrotrauma, cuida a lei no art. 19 e basicamente
define como acidente do trabalho aquele que ocorre
pelo exercício do trabalho provocando lesão corporal
ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda
ou redução da capacidade permanente ou temporária
para o trabalho. Ou seja, trata-se de um evento único,
subitâneo, imprevisto, bem configurado no espaço e no
tempo e consequências geralmente imediatas. (10)
O acidente de trabalho representa uma inter-
rupção súbita no processo de trabalho, traumática para
o acidentado, diferente das doenças profissionais ou do
trabalho que tem caráter progressivo e em boa parte
dos casos irreversíveis, implicando um processo lento
de degeneração orgânica do qual muitas vezes o pró-
prio trabalhador não se dá conta. Pela ausência inicial
de sintomatologia clínica, as patologias profissionais
permitem – ao contrário dos acidentes – que o indiví-
duo prossiga trabalhando até que se torne inútil para a
produção e seja substituído por outro. (18)
Deste modo o objetivo deste trabalho é tratar

10
apenas das doenças laborais, das quais podemos ana-
lisar sob algumas características do ponto de vista de
Ramazzini, Schilling e da própria Lei 8.213/91.
Bernardino Ramazzini (1633 – 1714) parece
ter sido o primeiro a tentar classificar o que ele deno-
minou de “doenças do trabalhador”, descrevia as
doenças como, por exemplo: “doença dos mineiros”;
“doença dos que trabalham em pé”; “doença dos pinto-
res”, “doença dos que trabalham com enxofre”, etc. (8)
Da classificação empírica construída por Ber-
nardino Ramazzini, há mais de 300 anos, é possível
pinçar os critérios para uma primeira sistematização
da patologia do trabalho:

• Num primeiro grupo estão aquelas doen-


ças diretamente causadas pela “nocividade da matéria
manipulada”, de natureza relativamente específica, e
que vieram dar origem às “doenças profissionais” (8)
• Num segundo grupo estão aquelas doenças
produzidas pelas condições de trabalho: “posições for-
çadas e inadequadas”, “operários que passam o dia de
pé, sentados, inclinados, encurvados etc.”. São as que
mais tarde foram denominadas “doenças causadas pelas
condições especiais em que o trabalho é realizado”. (8)

O professor Richard Schilling, da Inglaterra,


desenvolveu uma classificação própria, que agrupa
as “doenças relacionadas com o trabalho” em três

11
categorias, resumidas na tabela 1.1. (8)

A Lei 8.213/91 subdivide as doenças ocupacio-


nais em doenças profissionais e doenças do trabalho,
estando previstas no art. 20, I e II.

12
As primeiras, também conhecidas como “ergo-
patias”, “tecnopatias” ou “doenças profissionais típi-
cas”, são as produzidas ou desencadeadas pelo exercício
profissional peculiar a determinada atividade (corres-
ponde à classificação Schilling I). Nessa situação, o tra-
balho é considerado causa direta do agravo, ou seja, se
o agente for eliminado, o agravo poderá ser completa-
mente prevenido. Dada a sua tipicidade, prescindem de
comprovação do nexo de causalidade com o trabalho.
Há uma presunção legal nesse sentido. Decorrem de
microtraumas que cotidianamente agridem e vulneram
as defesas orgânicas, e que, por efeito cumulativo, ter-
minam por vencê-las, deflagrando o processo mórbido.
Por exemplo, os trabalhadores da mineração, sabe-se de
há muito que estão sujeitos à exposição do pó de sílica,
e, portanto, com chances de contrair a silicose, sendo
considerada uma doença profissional. (10) (20)
Por sua vez as doenças do trabalho, também
chamadas de “mesopatias”, ou “moléstias profissionais
atípicas”, são aquelas desencadeadas em função de con-
dições especiais em que o trabalho é realizado (classifi-
cação Schilling II e III), ou seja, o trabalho é um dos
fatores de risco para a ocorrência do agravo. Contudo,
por serem atípicas, exigem a comprovação do nexo de
causalidade com o trabalho, via de regra através de visto-
ria no ambiente laboral. A retirada do fator de risco redu-
zirá a incidência do agravo e/ou modificará a evolução da
doença. Por exemplo, a ocorrência de problemas osteo-

13
musculares nos profissionais de enfermagem. (10) (20)
Enquanto as doenças profissionais resultam de
risco específico direto (característica do ramo de ativi-
dade), as do trabalho tem como causa o risco específico
indireto. Assim, por exemplo, uma bronquite asmática
normalmente provém de um risco genérico e pode aco-
meter qualquer pessoa. Mas se o trabalhador exercer sua
atividade sob condições especiais, o risco genérico trans-
forma-se em risco específico indireto. (10)
A Lei 8.213/91 ainda contempla uma terceira
categoria de doença, disposto no parágrafo 2° do art.
20: “Em caso excepcional, constatando-se que a doença
não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste
artigo resultou das condições especiais em que o traba-
lho é executado e com ele se relaciona diretamente, a
Previdência Social deve considerá- la acidente do tra-
balho”. Estamos diante de uma variante da doença do
trabalho, pois há uma relação direta com as condições
especiais em que é executado o trabalho, por exemplo,
as doenças ligadas à voz presentes nos trabalhadores
das empresas de telemarketing. (10)

14
15
UNIDADE 1 | RISCOS BIOLÓGICOS
Consideram-se riscos biológicos os vírus, bac-
térias, parasitas, protozoários, fungos e bacilos. (12)
Os riscos biológicos ocorrem por meio de
micro-organismos que, quando entram em contato com
o ser humano, podem causar diversas doenças. Muitas
atividades profissionais favorecem o contato com tais
riscos. É o caso das indústrias de alimentação, hospitais,
limpeza pública (coleta de lixo), laboratórios etc. (12)
Dentre as inúmeras doenças profissionais pro-
vocadas por micro-organismos, destacam-se: tubercu-
lose, brucelose, malária e febre amarela. (12)
Para que essas doenças possam ser conside-
radas doenças profissionais, deve haver exposição do
empregado a tais micro-organismos. Alguns agentes
infecciosos que podem ter relação com o trabalho são:

• Dos vírus: adenovírus; caxumba; citomega-


lovírus; ebola; hepatite B; hepatite C; Herpes simplex;
HIV; influenza; parainfluenza; parvovirus B19; poliovi-
rus; rotavirus; rubéola; sarampo; varicela-zoster; vírus
respiratório sincicial.
• Das bactérias: bordetella; campulobacter;
corynebacyerium diphteriae; mycobacterium tuberculosis;
neisseria meningitidis; salmonella; shigella; yersínia pestis.

17
• Outros: chlamydia psittaci; coxiella burnetti;
cryptosporidium; mycoplasma pneumonie; sarcoptes
scabiei. (12) (8)

O conhecimento dos riscos biológicos nos


ambientes de trabalho é crucial para a prevenção das
doenças ocupacionais. A displicência e complacência
podem resultar em graves e ameaçadoras consequências.
Os micro-organismos encontrados nos ambientes de tra-
balho variam de vírus extremamente pequenos e bacté-
rias unicelulares, até fungos e parasitas multicelulares. (8)
É preciso adotar medidas preventivas para que
as condições de higiene e segurança nos diversos seto-
res de trabalho sejam adequadas. (12)
As medidas de controle mais usualmente ado-
tadas são: saneamento básico, controle médico perma-
nente, uso de EPI, higiene rigorosa, higiene pessoal, uso
de roupas adequadas, vacinação, treinamento, etc. (12)
Para que uma substância seja nociva ao
homem, é preciso que ela entre em contato com o
organismo. Há diferentes vias de penetração para os
riscos biológicos: (12)

Ingestão: a água, os alimentos em geral, mãos e


objetos quando levados à boca constituem as principais
maneiras pelas quais a maioria dos agentes infectantes
por via oral é transportada e introduzida no organismo,
por exemplo, ovos de helmintos (Ascaris lumbricoides,

18
Enterobius vermicularis, Trichuris trichiura), cistos de pro-
tozoários (Entamoeba histolytica, Giardia lambia), bacté-
rias entéricas (Salmonella sp., Shigella sp., Escherichia coli
enteropatogênica) e enterovírus (vírus da poliomielite,
rotavírus, e outros). (8)

Inalação através das vias respiratórias superio-


res: gotículas expelidas pela boca e pelo nariz contendo
vírus diversos (gripe, sarampo, etc.); população viável de
Mycobacterium tuberculosis no escarro em dessecação,
associada a micropartículas de poeira; esporos de fun-
gos das espécies Histoplasma capsulatum e Paracocci-
dioides braziliensis, responsáveis, respectivamente, pela
histoplasmose e pela paracoccidioidomicose; frações de
muco nasal contendo Mycobacterium leprae, agente da
hanseníase, e diversos outros exemplos, compõem uma
vasta lista de biopatógenos que podem estar presentes
em suspensão no ar inalado. (8)

Penetração através das mucosas: de forma


geral, as mucosas expostas aos fatores ambientais –
vagina, uretra, olhos, boca – dispõem de condições
biofísico-químicas favoráveis à instalação de germes
e consequente desenvolvimento de infecções especí-
ficas. O material chegado à mucosa sadia pode origi-
nar-se do contato direto com outra mucosa doente ou
ser trasnportado por algum veículo ou vetor. A Neisse-
ria gonorrhhoeae, responsável pela blenorragia e pela

19
oftalmia neonatorum, e as clamídeas, responsáveis por
alguns tipos de uretrites e pelo tracoma, são exemplos
de micro-organismos que penetram pelas mucosas, aí
permanecendo e desenvolvendo estado patológico. O
Trypanosoma cruzi, agente da doença de Chagas, pode
penetrar pela mucosa ocular e daí invadir a corrente san-
guínea e outros tecidos. O Schistosoma mansoni é outro
agente que penetra no hospedeiro pelas mucosas. (8)

Penetração através de solução de continuidade:


Feridas cirúrgicas, ferimentos acidentais, tecidos necro-
sados, queimaduras, escarificações, e, de forma geral,
toda descontinuidade da pele pode servir de porta de
entrada para agentes infecciosos. Esses podem ter sido
depositados sobre a pele antes de ocorrido o seu rom-
pimento naquele ponto e introduzidos durante o pro-
cesso ou podem vir a ser aí depositados por vetores
ou veículos após a ocorrência da lesão. São conhecidos
casos de tétano produzidos por contaminação do coto
umbilical pela deposição intencional de excremento
animal, usado como curativo. No entanto, a penetra-
ção do Clostridium tetani não se dá, na maioria dos
casos, de forma tão inusitada, sendo a penetração mais
simples. Os esporos são veiculados por poeira e terra
contaminadas com fezes humanas ou de animais. Em
alguns casos, o ferimento que deu acesso ao esporo é
tão insignificante que passa despercebido. O Trypano-
soma cruzi pode ser levado à circulação com o rompi-

20
mento da pele por ação da unha no ato de coçar locais
onde o barbeiro defecou ao sugar sangue. (8)

Deposição sobre a pele seguida de propagação


localizada: os agentes etiológicos das dermatofitoses
(fungos dos gêneros Microsporum e Trichophyton)
tem acesso ao couro cabeludo, às unhas e à pele, por
contato direto com indivíduos infectados, ou indireta-
mente por contato com objetos, pisos úmidos, instru-
mentos de barbearia e manicure. (8)

Introdução no organismo com auxílio de


objetos e instrumentos: neste caso, o acesso pode se
dar pelos orifícios naturais ou através de perfurações
cirúrgicas ou acidentais. A transmissão por transfusão
de sangue poderia também ser enquadrada neste item,
considerando que a penetração do bioagente se dá por
intrusão no corpo, com auxílio de objeto mecânico.
Uma grande parte das infecções hospitalares relaciona-
se a este mecanismo. (8)

Introdução em tecido muscular ou na corrente


sanguínea, por picadas de inseto ou por mordedura de
animais: através de sua probóscida introduzida na pele,
fêmeas dos mosquitos anofelinos injetam cargas de
plasmódios sob a forma de esporozoítas, que darão ori-
gem à malária. Mosquitos do gênero Culex são respon-
sáveis pela introdução, no organismo do hospedeiro, de

21
larvas infectantes de Wuchereria bancrofti, agente cau-
sal da filariose. Neste caso também a penetração se faz
por inoculação através da probóscida do mosquito. Os
agentes causais do calazar (leishmaniose visceral) e da
úlcera de Bauru (leishmaniose tegumentar) são intro-
duzidos no organismo suscetível através da picada da
fêmea do mosquito flebótomo. O vírus rábico é intro-
duzido no organismo de seres humanos por mordedura
lacerante de cães e gatos infectados, e em bovinos, por
mordedura de morcego. (8)

Penetração ativa direta do bioagente patogê-


nico: a transmissão da sarna ocorre quando indivíduos
infectados com Sarcoptes scabiei entram em contato
com susceptíveis. As fêmeas recém-fecundadas do
agente infeccioso abandonam o seu hospedeiro atual e
penetram ativamente o novo hospedeiro. Cercárias de
Schistosoma mansoni saídas do seu hospedeiro inter-
mediário, molusco do gênero Biomphalaria e vivendo
em coleções de água doce, penetram ativamente pela
pele de pessoas suscetíveis que estejam imersas na água
durante o trabalho ou recreação. Larvas infectantes
de Strongyloides stercoralis, agente da estrongiloidí-
ase, Ancylostoma caninum e Ancylostoma braziliensis,
agentes da dermtite serpiginosa (larva migrans), podem
penetrar ativamente na pele de pessoas que caminham
com os pés descalços, a partir do solo contaminado. (8)

22

Você também pode gostar