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Custos industriais

Paula Valéria C. P. Correia


BLOCO 1: INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DE CUSTOS

Apresentação

Quando vamos ao shopping comprar uma roupa e pagamos R$ 100,00, a maioria de nós não tem dúvida de
que seu custo foi R$ 100,00. Neste caso, o preço da venda tem que ser suficiente para cobrir os gastos do
comerciante e ainda gerar o lucro. Agora, quando este custo está relacionado a quem produziu essa roupa,
a compreensão se torna mais complexa, pois o custo está relacionado ao gasto envolvido no processo de
fabricação, tais como o material, a mão de obra, a energia elétrica etc. Na indústria, o preço a ser aplicado
tem que ser suficiente para cobrir todos os gastos de fabricação, as despesas e ainda gerar lucro, suprindo
suas necessidades, contribuindo com seu crescimento e atendendo aos objetivos de seus sócios.
O controle dos gastos envolvidos no processo de fabricação é primordial ao sucesso empresarial, portanto a
contabilidade de custos é essencial, pois registra todos os gastos gerando relatórios que sejam úteis ao
processo de tomada de decisões. O controle adequado das finanças está diretamente relacionado ao sucesso
comercial de uma empresa.
Este bloco tem como objetivo mostrar a você como o processo de controle dos custos acontece. Inicialmente
trataremos da terminologia ligada aos custos e dos princípios contábeis aplicados a estes.
Você terá uma visão geral de como esta ferramenta é de suma importância, pois em todos os segmentos
(indústria, comércio e prestação de serviços) existe este controle.

1.1 Contexto Histórico e Terminologia

Foi a partir da Revolução Industrial (século XVIII) que as preocupações com a forma de controlar os gastos
no processo produtivo começaram. Até então, a contabilidade financeira, representada pela função do
contador, se preocupava em atender às demandas de controle das empresas comerciais. Para realizar a
apuração do resultado de cada período, bastava efetuar o levantamento físico dos estoques, verificando o
valor pago em cada montante por item estocado e, a partir daí, valorizar as mercadorias. Efetuando um
cálculo basicamente pela diferença, observando o estoque que existia inicialmente, adicionando as compras
do período e comparando com o que sobrou no estoque, chegava-se ao custo da mercadoria vendida. Isso
deu origem à tradicional fórmula de apuração de custo de mercadoria vendida:

CMV = EI + C – EF
Onde:
CMV = Custo da Mercadoria vendida
EI = Estoque Inicial
C= Compras
EF = Estoque Final

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Para chegar ao resultado, bastava apurar o total das receitas obtidas pela venda das mercadorias e deduzir
o custo da mercadoria vendida, chegando-se ao lucro bruto. Depois, deduziam-se as despesas do período,
determinando o resultado do período. Este era evidenciado na Demonstração do Resultado da empresa
comercial, conforme modelo a seguir:

Vendas
(-) Custo da Mercadoria Vendida
Estoque Inicial
+ Compras
(-) Estoque Final
= Lucro Bruto
(-) Despesas
Comercial
Administrativa
Financeira e outras despesas
= Resultado Líquido

A contabilidade financeira está focada no passado da empresa, registrando a movimentação econômico-


financeira que já ocorreu. Isto gera relatórios que vão atender à imposição legal com foco no público externo
às empresas, tais como fornecedores, instituições financeiras e governo.
Já a contabilidade de custos tem como foco o controle dos gastos envolvidos no processo produtivo. Neste
caso, estamos falando principalmente das indústrias. Elas precisam ter um controle maior na elaboração dos
produtos, pois se a fabricação de determinado produto gerar gastos excessivos, como consequência seu
preço ficará mais alto e sua produção será inviável. É por esta razão que a realização de um controle neste
processo é fundamental.
Quanto maior o controle no processo de fabricação, menor será o custo de fabricação, o que pode levar a
preços mais competitivos e a um volume maior de vendas, possibilitando uma melhora nos resultados.
Na indústria, o controle dos custos de fabricação é muito mais complexo, pois é necessário que os gastos
sejam analisados de forma mais detalhada, havendo a necessidade de saber todos os tipos de gastos
existentes no processo produtivo, tais como matéria-prima, mão de obra, água, luz etc.
São inúmeras as finalidades para se estudar os custos em uma empresa. Dentre elas, podemos destacar:
apuração do custo total de produção de cada produto, apuração do custo unitário, controle das operações,
determinação dos lucros, auxílio na tomada de decisões etc.
Com o advento da indústria, o controle no processo de fabricação passou a ser muito mais rigoroso do que
no comércio, necessitando uma atenção muito maior no controle dos gastos no processo produtivo. Assim,
foi desenvolvido o seguinte esquema para apuração dos custos industriais:

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Estoque Inicial (EI)
+ Compras ou Consumo de Matéria-Prima (C)
+ Mão de Obra Direta (MOD)
+ Custos Indiretos de Fabricação (CIF)
= Produto Acabado ou em Elaboração
(-) Estoque Final do Produto Acabado
= Custo do Produto Vendido (CPV)

Fórmula matemática para apuração dos custos dos produtos vendidos:

CPV = EI + (C + MOD + CIF) – EF


Onde:
CPV = Custos dos Produtos Vendidos
C = Compras ou Consumo de Matéria-Prima
CIF= Custos Indiretos de Fabricação
EF = Estoque Final

A demonstração dos custos dos produtos vendidos (CPV) é um relatório com o detalhamento dos custos
envolvidos no processo de produção. Se estrutura da seguinte maneira:
Estoque Inicial de Matéria-Prima
+ Compras de matéria-Prima
(-) Estoque Final de Matéria-Prima
= Custo da Matéria-Prima Consumida
+ Outros Materiais Diretos
+ Mão de Obra Direta
+ Custos Indiretos de Produção
= Custo de Produção no Período
+ Estoque Inicial de Produtos em Elaboração
(-) Estoque Final de Produtos em Elaboração
= Custo de Produção Acabada
+ Estoque Inicial de Produtos Acabados
(-) Estoque Final de Produtos Acabados
= Custo do Produto Vendido
Fonte: Maher, Michael (2001, p.134)

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1.2. Terminologia aplicada aos custos industriais
Inicialmente, a grande dificuldade dos estudantes é entender a diferença entre custos e despesas.
Os gastos são divididos em custos e despesas. Os custos referem-se a todos os gastos relativos aos bens ou
serviços utilizados na produção de outros bens ou serviços, portanto, a palavra custos define todos os gastos
que estão envolvidos no processo produtivo, por exemplo: gasto com matéria-prima, salário dos
funcionários da produção, energia elétrica utilizada na produção etc.
Já as despesas não estão associadas à produção de bens ou serviços. Elas vão auxiliar direta ou indiretamente
na geração de receitas, por exemplo: gastos com salários dos vendedores, gastos com salários do
administrativo etc. As despesas podem ser fixas ou variáveis.
- Despesas fixas: são aquelas que não se alteram, independentemente do volume de vendas. Exemplo:
despesas com aluguel, seguro etc.
- Despesas variáveis: são aquelas que se alteram proporcionalmente às variações no volume de venda.
Exemplo: comissões sobre vendas, impostos incidentes sobre o faturamento etc.
Também costuma-se dizer que, se a empresa depender daquele gasto para gerar a receita, como por
exemplo a energia elétrica, matéria-prima e mão de obra, então este gasto será custo, pois sem o produto
para ser comercializado a empresa não conseguirá vender e, consequentemente, não obterá receita. Mas,
se a empresa não depender deste gasto para geração da receita, como por exemplo a comissão de
vendedores e salário dos funcionários do RH, então será despesa.
Um item muito importante, pois é a fonte de renda das empresas, é a receita que decorre da multiplicação
da quantidade de bens vendidos ou serviços prestados pelo preço por unidade.
Os custos de fabricação ou custos industriais compreendem as seguintes terminologias:

 Gasto: compra de um produto ou serviço qualquer, que gera sacrifício financeiro para a entidade
(desembolso), sacrifício esse representado por entrega ou promessa de entrega de ativos
(normalmente dinheiro).
 Desembolso: pagamento resultante da aquisição de bem ou serviço.
 Investimento: gasto ativado em função de sua vida útil ou de benefício atribuíveis a futuros períodos.
 Custo: gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços
 Despesa: bens ou serviços consumidos direta ou indiretamente para obtenção de receitas.
 Perda: bens ou serviços consumidos de forma anormal ou involuntária.
Fonte: Martins (2003, p.24-27)

Atenção:
No comércio, como não há fabricação, os custos das vendas estão relacionados ao custo da mercadoria
vendida (CMV). Na indústria existe um processo de fabricação, por isso os custos das vendas são chamados
de custo dos produtos vendidos (CPV).

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1.3. Classificação de Custos e Nomenclatura

Os custos relacionados às variações no volume de produção são classificados como:

- Fixos: Aqueles que permanecem constantes dentro de determinada capacidade instalada,


independentemente do volume de produção. Exemplo: aluguel, seguro, depreciação etc.
- Variáveis: aqueles que mantêm uma relação direta com o volume de produção ou serviço, podendo ser
identificados com os produtos. Exemplo: matéria-prima, energia elétrica gasta na produção etc.

Os custos também são classificados de acordo com o quão fácil é identificar sua origem na produção,
distribuição ou apropriação. Estes são:

- Custos Diretos: podem ser relacionados aos produtos ou serviços e valorados com relativa facilidade. Neste
caso, não são necessários critérios de rateio para alocar os custos aos produtos fabricados ou serviços
prestados. Na maioria das vezes, os custos diretos estão relacionados aos materiais e à mão de obra, que
podem ser:

 Materiais diretos: referem-se àqueles materiais que fazem parte da elaboração do produto, tais
como: matéria-prima, materiais de embalagem e outros materiais necessários para a produção desde
a fabricação, acabamento até a apresentação final.
 Mão de obra direta: refere-se ao trabalho aplicado diretamente na elaboração do produto ou na
prestação do serviço.

- Custos indiretos: são aqueles que, por não serem perfeitamente identificados nos produtos ou serviços,
não podem ser apropriados de forma direta para as unidades específicas, necessitando da utilização de
algum critério de rateio para sua alocação.

1.4. Princípios Contábeis Aplicados aos Custos

Os princípios contábeis aplicados ao custo são:


 Princípio da Realização da Receita: por meio deste princípio acontece o reconhecimento contábil do
resultado, apenas quando há realização de receita, ocorrendo quando existe transferência do bem
ou serviço para terceiros.
 Princípio da Competência: a partir do momento do reconhecimento da receita também serão
reconhecidas as despesas. Após o reconhecimento da receita, deduz-se dela todos os valores
representativos dos esforços para sua consecução (despesas), devendo considerar o momento em
que o fato gerador aconteceu, não importando se houve o pagamento ou recebimento.
 Princípio do Custo Histórico como Base de Valor ou Registro pelo Valor Original: os ativos serão
registrados contabilmente por seu valor original de entrada, ou seja, valor histórico.

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 Princípio da Consistência ou Uniformidade: quando houver várias alternativas para um registro
contábil relativo ao um mesmo evento, a empresa deverá adotar uma de forma consistente, devendo
utilizá-la sempre, não podendo mudar de forma aleatória.
 Princípio do Conservadorismo ou Prudência: alguns lançamentos podem gerar dúvidas em relação à
classificação contábil, por exemplo, custos ou despesas. Nestes casos, deve prevalecer a precaução,
mas não de forma aleatória, devendo considerar o bom senso.
 Princípio da Materialidade ou Relevância: desobrigam de um tratamento mais rigoroso aos itens cujo
valor monetário é pequeno dentro dos gastos totais, devendo avaliar a influência e a relevância da
informação recebida para ser contabilizada.

Saiba Mais

Custos de produção e endividamento

https://www.youtube.com/watch?v=R_J6E4WyU1M

Conclusão

Neste bloco vimos que o custo surgiu a partir da Revolução Industrial (século XVIII) pela necessidade do
controle no processo produtivo, assim como a terminologia aplicada aos custos. Vimos também a diferença
entre custo e despesas, além da classificação dos custos em relação ao volume produzido quanto à
distribuição e apropriação e, por fim, os princípios contábeis aplicados aos custos.

Referências Bibliográficas

MAHER, M. Contabilidade de Custos - criando valor para a administração. 1ª Edição. São Paulo: Atlas, 2001.
MARTINS, E. Contabilidade de custos. 9ª Edição. São Paulo: Atlas, 2003.

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