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Corpo corno espaço: .

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000 lit:Selivoivicto ate então sobre o corpo abordava

um desafio à imaginação geográfica 'corpo no espaço' e a abordagem do 'corpo como espaço: estava ainda
por ser construída.

Assim, o desafio realizado naquele seminário ibi compartilhado com


Joseli Maria Silva Outro membro do GETE que divide comigo a autoria deste texto. Nosso
Marcio Jose Ornat objetivo é trazer para o debate a ideia do corpo como um espaço geográfico.
Na primeira parte do texto evidenciamos como o corpo passou a fazer parte
Introdução do interesse da comunidade geográfica e, na segunda, trazemos a noção da
construção social da escala geográfica a fim de estabelecer um interessante
Durante o 111 Seminário Internacional sobre Microterritorialidades caminho para compreender o corpo como espaço.
nas Cidades, cujo tema em 2014 foi 'De quem e o pedaço: fui desafiada' a
falar sobre a relação entre corpo e espaço na geografia. Baseada nas ideias da O corpo como interesse da Geografia
geógrafa Linda McDosstell (1999), resolvi, pautada nas experiências espaciais
de travestis e transexuais femininas, discutir a 'relação do corpo Lefebvre 0991 [19741), pensando sobre a relação entre o corpo e o
e o espaço' e espaço em seu clássico —Me production of space',
afirma o seguinte:
'o corpo como espaço'. Após minha explanação, com sua maneira perspicaz
'de-.se fizer que o corpo, com a sua capacidade de ação, e as suas
e provocadora, um amigo e admirável geógrafo alertou sobre os desafios várias energias, cria espaço? Segurarnenre. Mas não no sentido da
epistemológicos a serem vencidos para trazer o corpo como espaço na ocupação dita conto uma espacialidade fabricada; cai vez disso, há
narrativa da produção geográfica brasileira'. Entre outras criticas, lembro- uma relação imediata nitre o corpo e seu espaço, entre a distribui-
me da seguinte frase: "vejo com clareza a relação do corpo com o espaço ção do corpo no espaço e sua ocupação do espaço. Antes de produzir
em sua argumentação, mas ainda é necessário ccmstruir jus tificativas para efeitos na esfera material (ferrameinas e objetos), arries de produzir-
sustentar a ideia do corpo como espaço': -se por alinrentar-se daquela esfera niaterial e antes de se repnulu -
zir, gerando outros mganismos, cada corpo vivo é espaço e tent seu
O aguçado espirito cientifico que continham essas palavras provocou espaço: ele se produz no espaço e também produz esse espaça Esta
em mim a necessidade de sair da zona de conforto teórico e metodológico é unta relação verdadeiramente notável: o corpo com as energias
já sedimentado na produção cientifica do Grupo de Estudos Territoriais sua disposição, o corpo vivo, cria ou produz o seu próprio espaço; em
(GETE) da Universidade Estadual de Ponta Grossa, do qual faço parte. contrapartida, as leis do espaço, que significa dizer as leis de dikren-
Devo confessar que o desafio elaborado já era tuna preocupação científica ciação no espaço, lantbrbn governam o corpo vivo e a utilização de
suas energias. (LEFEBVRE, 1991 1.1974.1. p. 170, tradução nossaY
no âmbito de nossa equipe que há mais de uma década vem pesquisando as
relações entre o espaço, género e sexualidade. Alguns temas desenvolvidos
por componentes do grupo estavam ligados às experiências espaciais de
pessoas encarceradas, que haviam sofrido exploração sexual, que atuavam ' Can the bocly, with its capacity for action, and its various energias, be said to crate space?
Assurediy, but not in the SCIISC occupation might be said to 'manufactura' spatiality:
na prostituição, faziam uso de drogas ou tinham sido vitimas de homicídios. rather, there is an immethate relationship between the body and its space, between the
De alguma forma, os sujeitos abordados nas investigações em pauta tinham body's deployrnent in space and its occupation of space. Bafore producing itsclf effects in
the material realm (tools and objects), bafore producing itself by drawing nourushment
corpo como lócus fundamental dos processos geográficos. Além disso, a frorn that realm, and bafore reproducing itself by generating other bodies, each linving
body is space and has its space: it produces itself in space and it also produces that space.
' frisch Maria Silva This is a truly rernarlcable relationship: the body with energias at its disposal, the living
body, ereates os produces its own space; cuntroversely, the laws os space, which is to say
Meu na
ções especial agradecimento ao geógrafo Nécio Turra Neto peias importantes contribui-
elaboração the laws cif discrimi natio!' in space, also govern the living body and the deployrnent of
deste texto. its energias. (LEFEBVRE, 1991 [19741, P. 1 70)

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Quando Lefebvre 991 [1974]) traz a relação do corpo e espaço, ocupa um lugar central e já legitimado, mas tem sido criada a partir das
ele ultrapassa a ideia do 'corpo no espaço' ou como um mero 'produtor periferias da produção científica geográfica brasileira'.
material do espaço', ele desafia o pensamento geográfico a pensar o 'corpo Do total dos vinte e oito artigos, apenas dois deles foram publicados
como espaço', já que fala do corpo vivo, de suas potencialidades e de como em revistas do estrato A. Um deles, publicado em 2007 por fias Lopes
as leis do espaço também são as leis do corpo. de Lima, na revista GEOgraphia da Universidade Federal Fluminense,
Embora as ideias de Lefebvre (1991 [1974]) tenham influenciado a é uma discussão teórica sobre a contribuição da abordagem do corpo
produção da geografia humana no Brasil, o pensamento de que cada corpo desenvolvida por Merleau-Pomy para a análise geográfica. O outro artigo
vivo é espaço e, ao mesmo tempo, tem seu espaço não foi desenvolvida que envolve o corpo foi publicado apenas em 2013, por Angelo Serpa, na
com intensidade. Revista Mercator, com o título 'Espacialidade do corpo e ativismos sociais
Um levantamento de dados no 'Repositório de Artigos Científicos na cidade contemporânea'. É importante dizer que se o primeiro artigo se
da Geografia Brasileira'', pertencente ao Grupo de Estudos Territoriais restringe a um ensaio teórico, o segundo artigo traz o corpo como matéria
(GETE/UEPG), encontrou apenas 28 artigos que continham as palavras neutra, sem considerar as marcas corpóreas ou diferenças na construção
'corpo' e 'corporeidadd nos seus títulos. O banco de dados possui um das subjetividades humanas e suas experiências espaciais.
acervo de 13.990 artigos, oriundos de 90 periódicos disponíveis na internet O foco no corpo, suas marcas e experiências corpóreas, aparece
e classificados pelo Sistema Qualis-CAPES, área de Geografia, cujo triênio em dois artigos publicados em 2008 em periódicos científicos do estrato
considerado foi 02013-2015. Os estratos de classificação dos periódicos 137. Um deles, publicado no inicio do ano na GeoUerj por Joseli Maria
considerados foram Al, Az B1,132,133, B4 e Bs, cobrindo um período total Silva, traz o corpo marcado pela transgressão de gênero de pessoas que
de publicação de artigos entre 1974 a 20135. se autoidentificam 'travestis' e suas experiências de interdição espacial. O
Além do corpo se constituir em uni tema raro na Geografia brasileira, segundo, de autoria de Ana Paula Costa Rodrigues e Alex Ratts, publicado
p busca realizada no referido repositório permite afirmar que tal abordagem ao final do mesmo ano no periódico 'Espaço em Revista', traz o corpo negro,
é recente, concentrada no século XXI e está presente em periódicos racializado em processo de apropriação do espaço público, a partir da
classificados nos estratos inferiores do Sistema Qualis-CAPES, sendo raros experiência da festa. Entre 2009 e 2013 foram publicados os demais vinte
artigos sobre o corpo em periódicos dos estratos mais altos. Considerando e uni artigos sobre o corpo. Isso significa que este terna está despertando
que os periódicos de melhor classificação no referido sistema concentram recentemente a curiosidade da comunidade geográfica brasileira.
maior prestigio cientifico, pode-se presumir que a temática do corpo não Ao
interpretar este pequeno conjunto de textos sobre o corpo,
4 O repositório permite uma visão aproximada da organização da produção &mítica por disponíveis em forma de artigos, pudemos identificar que a relação
meio de publicação de artigos no Brasil. Contudo, é importante lembrar que o banco de entre corpo e espaço é elaborada a partir de duas tendências. A primeira
dados pode omitir algum trabalho que aborde o corpo e que não esteja na internei, que
esteja publicado em revistas ainda não avaliadas pelo Sistema Qualis-CAPES ou, ainda,
que não apareça a palavra corpo no campo do título do artigo, Mesmo frente a estas Utilizamos o termo 'periferia de produção científica geográfica' para identificar os locais
limitaçóes, o repositório ajuda a criar 11111 panorzuna do campo geográfico brasileiro com de enunciação que não possuem o privilégio de desfrutar de patamares elevados nos
relação à esta temática. processos de avaliação por parte dos órgãos de governo.
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No livro 'Geografias Malditas: corpos, sexualidades e espaços', lançado em 2011 já 7 Antes destes artigos publicados em 2008 é importante salientar a publicação em 1999
havíamos explorado a forma como o corpo era ainda pouco expressivo como tema da do artigo de Gilmar Mascarenhas na revista GeoUerj, classificada como Ed. no Sistema
Geografia brasileira. Contudo, naquele momento, o universo de pesquisa eram os peri- Qualis-CAPES com o titulo 0 corpo e a cidade: a epidemia de febre esportiva no Rio de
ódicos classificados em AI, A2, BI e B2 referentes ao triênio 2010-2012 e cobrindo um Janeiro (1880-1920)'. Apesar do artigo trazer o corpo no seu título trata-se da abordagem
universo temporal entre 1981 a 2012 Além disso, a busca realizada no banco de dados da relação entre o crescimento da prática de esportes e a criação de espaços públicos para
envolvia a palavra corpo, associada com mulher, gênero e sexualidades. Apesar da mo- tal finalidade, sendo que o corpo não foi o foco central do trabalho. Há ainda dois artigos
bilidade dos dados, pois a classificação dos periódicos se modifica a cada avaliação da publicados na revista 'Faz Ciência' em 2004, classificada como 133 e outro artigo publicado
CAPES e também da dinâmica diferenciada de disponibilização de artigos na interne, em 2006 na revista 'Espaço Plural, classificada como133. Estes três últimos artigos não foram
pode-se dizer que o padrão da pequena abordagem do tema ainda se manténs. produzidos por gengratbs e os conceitos geográficos não permearam tais pesquisas.

CO
Os corpos fazem diferença em nossas experiências espaciais. O chamou de Micro-tecnologias Lie poder '. ()corpo torna-se um cum
1+0 htilnail0, 2iln turf eo que ,oincide com a 'fqrnia' e espaço de uma
a Colina, a saúde, a aparência, a vestimenta, O comportamento, a
Ligo toye epuiernuea deintuta unta unuta-
:ci.:natal:ide e as práticas sexuais afetam como nós interpretamos e Somoti
ch. ,f?suplica, UM corpo que, assim, deltne os limites da experiái
interpretados pelos Outros como sustentam Johnston e 1:tangiam-st (2010).
L' si 114(17) terlóos psit- anal/ticos através da medi/LIMO tiO
Assim, os corpos não são algo natural, dado e universal, mas formas materiais cofio, C em li/tinia análise, da ordem shnbóli,m (GIWSZ„ 1995, p.
caie adquirem sentido no teralpia L,LL Nja.i. e Pile ( 7;11) ta:a:Lm 0.1, Hm!
realizam o mesmo caminho de argumentação e dizem que os corpos podem
ser usados de inúmeras maneiras pni sã lugares de identidade, moralidade, A ideia trazida por Grosz (1995) convive com outras formas de
estética, ação, trabalho, lazer, prazer e dor. Cada uma dessas maneiras de uso
compreensão do corpo e não deve ser pensada como absoluta. Contudo, ela
do corpo é passível de ser estudada pela geografia e, nesse sentido, há um pode ser útil para imaginar o corpo como um espaço, na medida em que os
grande universo a ser explorado por este campo de saber.
processos de subjetivação dos sujeitos são sempre processos corporificaçlos
Os corpos a partir dos geógrafos Pile and 11 hrill (1995) são i izados e portanto, os sujeitos são mutuamente e simultaneamente constituídos de
para a construção de nossa identidade pessoal e por meio dos quais mente e corpo. Como existem infindáveis tipos de corpos, em diferentes
reconhecemos nossf ts limites em relação aos outros. Ele é urna referência a formas, características, estágios e estados de existência e cada uma delas é
partir do qual nos diferenciamos dos demais seres, comunicamos a moral, ibterpretada e comunicada em cada tempo e espaço, pode-se argumentar,
realizamos julgamentos, desempenhamos ações, práticas e estratégias. Os assim, que o corpo é lugar social, político e geográfico e, além disso, o corpo
corpos são capazes de criar as condições de sua existência cotidiana, são se cumstit ui na na an eira como as pessoas se conectam com outros espaços
capazes de reproduzir outros corpos e possibilitar vários estágios de condições e experimentam o espaço.
corporais como a juventude, velhice, saúde, doença e deficiência. Cada uma Os argumentos de Valentine (2001) também apontam para uma
dessas condições cria diferentes abordagens da relação entre corpo e espaço, mesma direção de compreensão do corpo como um espaço. Para ela, o
podendo também se constituir em temas a serena investigados pela geografia. corpo marca a fronteira entre o eu e o outro, ambos em um sentido filosófico
Apesar do campo da geografia não possuir uma definição comum literal, mas também em uni sentido social. O corpo é um espaço pessoal. Uni
sobre o corpo, alguns elementos são compartilhados entre os estudf ti; órgão sensorial, una espaço de prazer e dor em que definições de bem estar,
realizados. Nos estudos geográficos o corpo jamais pode ser compreendido doença, capacidade física, felicidade e saúde são construídas socialmente.
fora de um determinado espaço e tempo, ele é móvel, fluido, ativo e sua Sendo assina, para ela, o corpo também é una meio de conectar com outros
materialidade está em eterna negociação com a exterioridade e, nesse espaços, assim como experienciádos.
sentido, o corpo é sempre posicionado socialmente e geograficamente.
Se sujeitos vivem espacialmente por meio de corpos velhos, jovens,
Uma interessante definição sobre o corpo é trazida por Grosz (1995): brancos, negros, femininos, masculinos e assim por diante, cada corpo/
Por corpo eu enfeudo (Mia organijaçãOCOlwrota, material, animada
de (tarne, órgãos, nervos, músculos e estrutura óssea à qual só C011- Ity boi!)' I understand a concrete, material, animate organization of flesh, organs, nerves,
111USCICLI,
and skeletal structure 'Ninei] are given a unity, cohesiveness, and organization
1////// Unidade, COeSt1,1 c! / 111gWILItirãO através da sua inscrição
only through their psychical and social inscription as the surface and raw materiais dm
psíquica e saciai C01110 il 51111C):11Cle C matérias-priums de!Mia tota- integrated and cohesive totality. 'lhe body is so to speak, organically /biolpgically / natu-
lidade integrada e coesa. O corpo à, /um aSSilti dizer; organicamen- rally 'incomplete'; it is indeterminate, amorphous, a series of uncoodinated potentialities
te / biologicamente / natimániente ducomplettf; é indeterniulaclo,
which remire social triggering, ordering, and long- terna 'administration!, regulated iii cada
culture and epoch by what Foucault has called 'the micro-tecnologies of power!. 'the body
amorfa zona série de potet7Ciálidades não coordenadas que requer becomes a lunnan body, a body which coincides with the lshape! and space of a psyche,
uni i1d0/1(1 /11entti social, uni ordenamento, unta continua adminis- body whose epidermic surface bounds a psychical unity, a body which thereby defines the
traçãO, eln Cada cultivo e éponl peio que hmeault limas of experience and subjectivity, in psychoanalytic terms through the int ervemion of
the (m)other, and ultimately, the Other ar Symbolic order (GROSZ, 1995, p. 104).

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espaço (ou unidade que separa o eu e o outro) está em constante negociação culturais e sociais contemporâneos da globalização redimensionaram vidas e
com outros espaços, cuias significações construídas sobre a idade, gênero, identidades cotidianas das pessoas em todo o planeta de maneiras complexas
raça são socialmente compartilhadas. Assim, os corpos não estão passivos e contraditórias, o que implicou a discussão mais contundente sobre as
às significações socialmente construídas. Podem incorporá-las e também escalas. Segundo este autor, até a década de 1980, a escala foi considerada
resistir à elas, como argumenta Pile (1996). como um conceito dado, utilizado para a imposição da ordem organizacional
Ao discutir as relações de poder entre o corpo e outros espaços, no mundo. As escalas (local, regional, nacional) eram consideradas como
Pile (1996) diz que o corpo é territorializado, desterritorializado e ferramentas para traçar geograficamente um sistema relativamente fechado,
reterritorializado por modalidades de identificação, por mecanismos cujas interações permaneciam dentro dos limites traçados.
psíquicos de defesa, pela autoridade internalizada, por sentimentos intensos, O pensamento sobre a natureza do conceito de escala e suas
por fluxos de poder e significados. Os corpos assim, são constituídos dentro implicações na forma como o espaço é compreendido não foram, durante
de uma constelação de relações de objetos (como a família, o estado, a arte, muito tempo questionados no campo da geografia. Foi a partir dos anos 90
a nação e assim por diante). Os corpos não são espaços passivos sobre os que a escala passou a ser foco de interesse e intenso debate.
quais o poder de outros espaços se realiza. Pelo contrário, os corpos também Delaney e L aitner (1997) argumentam que a escala não é
produzem espaço, seus próprios mapas de desejo, gosto, prazer, dor, amor simplesmente um fato externo esperando para ser descoberto, mas um
e ódio. Os corpos em permanente processo de negociação com outros caminho de concepção e enquadramento da realidade espacial. Smith
espaços ajustam suas posições no mundo, sendo, também eles lugares de (1992) afirma que não há nada ontologicamente dado sobre a divisãb do
aglutinação de negociações externas e internas do poder. espaço entre as escalas da casa, do local, do urbano, do nacional e do glóbal.
As relações de corpo e espaço, pelo que foi discutido na seção deste Para ele, a diferenciação geográfica da escala estabelece e é estabelecida
capitulo, já fazem parte da narrativa da historiografia da geografia. Contudo, através da estrutura geográfica das interações sociais. Portanto, a escala não
tal desenvolvimento ainda está concentrado nas geografias anglófonas, existe em si, mas se faz da construção social que tanto é uma maneira de
embora que já seja possível identificar o interesse de expansão do campo representar e organizar a realidade socioespacial, corno tal representação
no Brasil. torna-se uma base material sobre a qual ações humanas se desenvolvem.
Apesar de Moore (2008) também argumentar que a escala é uma
Corpo como espaço geográfico: perspectiva escalar e superação do dualismo realidade epistemológica (um conceito geográfico) ele insiste que é
A consideração do corpo como um espaço geográfico é um desafio à importante lembrar que a escala tem sido base para as práticas cotidianas das
superação de aspectos epistemológicos arraigados no pensamento geográfico pessoas. O autor faz uma analogia com a ideia de nação, evidenciando que
brasileiro, conforme evidenciam os artigos analisados e discutidos na seção nação também é um conceito construído socialmente em um determinado
anterior. O primeiro aspecto arraigado é a dicotomia entre sujeito e espaço. tempo e espaço. Mesmo sendo uma criação social, a nação é acionada pelas
Na maior parte das vezes o espaço é visto como algo separado do sujeito e pessoas para constituir uma comunidade imaginada, envolvendo assim
exterior à ele. O segundo aspecto é a ideia de escala geográfica entendida retóricas e ações de cunho nacionalista.
como algo que organiza o espaço externo ao sujeito. Nessa seção vamos Assim, se a escala não é um conceito dado, mas construído
evidenciar que a escala, entendida como socialmente produzida, pode ser socialmente, o importante é considerar como se constituem as visões sobre
um elemento de desenvolvimento da ideia de corpo como espaço geográfico. os fenômenos e processos sociais que são dimensionados pela escala e por
A ideia de escala desenvolvida na ciência geográfica passou por consequência, como esse tipo de dimensionamento constitui significações na
diversos significados e foi alvo de intenso debate, notadamente após os anos conceituação do mundo, pautando o comportamento das pessoas por meio
80 do século X.X. Segundo Herod (2011) os processos econõniicos, políticos, do processo de internalizacão das escalas. Moore (zoo8) alerta ainda que

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ser abordados. Marston (2000) argumenta que a compreensão da escala
mesmo que as escalas não possuam uma hierarquia vertical ou horizontal
também inclui complexos processos de reprodução social e consumo,
no sentido ontológico, o fato das pessoas lerem o mundo desta forma traz
além de evidenciar outros sistemas de dominação que estão inter-
consequências reais para a realidade socioespacial, tal como afirma Grosz
relacionados como a produção capitalista, tal como sistemas de gênero,
(1994 e 1995).
raça e sexualidades.
As diferentes formas de compreensão da escala são exploradas em
Na medida em que a escala foi sendo analisada a partir de sua
Herod (2011) a partir de urna série de metáforas'''. Entre elas, estão três
relação com outros fenômenos sociais, para além da economia e da politica,
metáforas que são comuns à narrativa da geografia, a metáfora da escada, a
outras escalas passaram a ser propostas. A casa para Marston (2000) é
dos círculos concêntricos e a metáfora da raiz de árvore. Cada uma dessas
urna escala implicada em processos sociais, políticos e econômicos mais
metáforas implica uma forma específica de leitura e interpretação do espaço.
amplo& embora tenha recebido pequena atenção académica na geografia.
A metáfora da escada está organizada em degraus em ordem crescente Na cobcepção de construção social da escala, a partir dessa geógrafa, a
onde no mais baixo nível está o corpo. O urbano, regional, nacional e global „reprodução social das bases materiais da sociedade envolve não apenas
vão sendo representados sucessivamente nos degraus mais altos. Esta uma infraestrutura física de grande escala, mas também uma infraestrutura
metáfora traz uma ideia de hierarquia entre os níveis e uma perspectiva de social, físico, cultural e emocional onde a força de trabalho é reproduzida
separação entre eles. A metáfora dos círculos concêntricos, considerando os em seu cotidiano, a pequena escala da casa. Assim, para Marston (2000)
mesmos níveis (corpo, urbano, regional, nacional e global) são organizados na casa onde vivem pessoas de uma sociedade capitalista há uma conekão
a partir de um núcleo central como representando o corpo, sendo que os direta com o patriarcado, direta e indiretamente, moldando relações sociais
demais círculos que rodeiam o núcleo de forma sucessiva representam as importantes para a compreensão da produção social da escala.
demais escalas. Embora esta metáfora horizontalizada procure superar a
Além disso, o sentido de casa pode não estar também apenas
noção de hierarquia espacial, ela não apresenta de forma clara a articulação
circunscrito nos limites materiais da casa em si, mas pode fluir por outras
entre os níveis. A metáfora de raiz de árvore, também baseada nos níveis
diferentes escalas, como destacado por Johnston e Longhurst (2010) quando
já explicitados, não se utiliza da noção de início e fim, sendo que tanto o
exploram a discussão sobre pertencimento e instituição de identidades de
tronco como as raízes ramificadas podem ser consideradas tanto o corpo
grupos sociais em processos migratórios. Portanto, o significado de lar pode
como o global. Além de não evidenciar a hierarquia, há implícito nesta
não ser exatamente a casa, mas um país ou uma região.
metáfora a relação em fluxos e a interdependência entre os níveis.
Outra importante contribuição para análise do corpo como
Tais metáforas não são representações inocentes, elas moldam
espaço foi desenvolvida por Adrienne Rich para estabelecer uma crítica
a forma como nós concebemos a organização do espaço e atribuímos
à universalização das mulheres. Ela não é geógrafa, mas uma poetiza
valores e significados a cada uma das escalas. Um interessante exemplo
e militante feminista norte-americana que desenvolveu a expressão
é observar a atribuição de níveis de importância de pesquisas científicas
`Geography closest in- fite bodt I 'Geografia mais próxima — o corpo'.
que, tomam as pesquisas da escala global como sendo mais complexas do
Tal expressão passou a ser bastante útil para a Geografia que analisa o
que as demais escalas.
corpo como lugar. Ela também cria a ideia de 'políticas de localização',
Em diferentes formas de metáforas, pode-se afirmar que a análise argumentando que seu corpo de mulher, branca, judia e lésbica se constitui
do espaço a partir da escala ocorreu de maneira mais influente nas áreas em relações espaciais variadas. Ela considera seu corpo geopoliticamente
da economia e da política, notadamente no processo de globalização. localizado, na medida em que as mesmas características materiais de
Entretanto, outros aspectos, como a cultura, por exemplo, também podem seu corpo, dependendo de sua localização, podem estabelecer diferentes
subjetividades. Diz ela:
1 ° As metãforas de escala apresentadas por Herod (anil) são a escada, os círculos concên-
tricos, a boneca Matryoshka, as raízes de árvore, a toca de minhocas e a teia de aranha.

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Como uma mulher eu tenho um país; como uma mulher eu não pos- marcado, constitui-se também da política de conexão e desconexão de
so me privar desse país simplesmente condenando seu governo ou por direitos sobre o corpo, do corpo como um lugar de luta social.
dizer três vezes 'Como urna mulher meu país é o mundo inteiro'". Le- A inclusão do corpo como um um lugar, teve o engajamento da
aldades tribais de lado, ainda que os Estados-nação sejam agora ape- geografia cultural, feminista e queer como pode ser visto nas obras de Bell
nas pretextos usados pelos conglomerados multinacionais para servir
e Valentine (1995), Pile (1996), Bell et ali (2001), Longhurst (2001 e 2008).
os seus interesses, eu preciso entender como um lugar no mapa é tam-
A ideia do corpo como escala geográfica teve importante contribuição de
bém um lugar na historia dentro do qual, conto uma mulher, judia,
lésbica, feminista eu sou criada e eu estou tentando criar. Comece, po- Smith (1992, 1993). Ele argumenta que cada escala é um princípio para
rém, não com um continente ou um país ou uma casa, mas com a ge- pensar tipos específicos de relações socioespaciais que são constituídas nos
ografia mais próxima - o corpo. (...) A política da gravidez e da ma- lugares. Para ele a escala é ativamente produzida 'em' e 'através' da atividade
ternidade. A política do orgasmo. A política do estupro e incesto, do social, gue também produz e é produzida pelas estruturas geográficas de
aborto, do controle de natalidade, da esterilização forçada. Da prosti- interação social.
tuição e sexo conjugal. Do que tinha sido nomeado como liberação se-
xual Da heterossexualidade normativa. Da existência lésbica. As fe- (, Smith (1992) propõe a ideia de 'salto de escalas"3 que se refere ao
ministas marxistas foram muitas vezes pioneiras neste trabalha Mas poder de uma escala geográfica que pode ser estendida para outra. Para
para muitas mulheres que eu conheci, a necessidade de começar com isso ele analisa um 'veículo para pessoas sem-teto', projeto desenvolvido em
nosso próprio corpo feminino, foi entendida não como uma aplica- Nova Iorque, que consistia de um carrinho de supermercado, coberto e que
ção de um principio Marxista às mulheres, mas como localização dos permitia os 'sem teto' a carregar consigo seus pertences e ter a segurança
fundamentos para falar com autoridade, como mulheres. Não é para de um local para dormir. Tal veiculo, não apenas tornava os corpos dos
transcender este corpo, mas para recuperá-lo. Para reconectar o nosso
'sem teto' visíveis na cidade como também permitia sua mobilidade
pensamento e fala com o corpo desta vida humana individual, parti-
corporal. O veículo permitia que a escala do corpo dos sem teto, geralmente
cular, a de uma mulher. (RICH, 1984,2012-2013, tradução nossa)"
circunscrita à vizinhança", pudesse apropriar a escala da cidade, por meio
de deslocamentos de grande extensão.
Rich (1984) evidencia que as mulheres são atravessadas por outras
categorias identitárias para além do gênero, como a sexualidade, cor da pele, Ao introduzir o corpo em sua análise da escala, Smith (1992)
a classe social e tantas outras que são imbricadas em localizações, adquirindo examina quatro aspectos da escala: 1- a identidade, ou as características que
sentidos particulares. O corpo para ela, além de ser geopoliticamente tornam cada escala coerente; 2- as diferenças internas; 3- as fronteiras com
outras escalas; e 4- as possibilidades políticas de resistência inerentes na
" Nesta frase Adrienne Rich dirige-se a Virgínia Wolf em um tom de critica, para discutir produção de escalas especificas, a revogação delimites, ou como ele mesmo
a ideia de Wolf sobre a condição feminina ser independe de sua localização.
chama 'o salto de escalas'. Ele argumenta que sua proposição pode servir
As a woman I have a country: as a woman I cannot divest myself of that country merely
by condemning its government or by saying three times "As a woman my country is the para organizar mais coerentemente o pensamento e análise da diferença
whole world." Tribal loyalties aside, and even if nation-states are now just pretexts used espacial. Diz ele:
by multinational conglomerates to serve their interests,1need to understand how a placa
on the rnap is siso a placa in history within which asa woman, a Jew, a lesbian, a feminist O local físico primário da identidade pessoal, a escala do corpo, é
I am created and trying to create. Begin though, not with a continent ora country ora socialmente construída. O lugar do corpo marca a fronteira entre
house, but with the geography closest in-the body. (...) lhe politics of pregnability and eu e o outro num sentido tanto físico como social e envolve a
motherhood. 'lhe politics of orgasm. lhe politics of rape and incest, of abortion, birth
control, forcible sterilization. Of prostitution and marital sex. Of what had been named construção de um 'espaço pessoal' para além de um espaço definido
sexual liberation. Of prescriptive heterosexuality. Oflesbian existence. And Marxist fe-
minists ware often pioneers in this work. But for many women I knew, the need to begin No original: 'jumping of scales'
with the female body-our own-was understood not as applying a Maxist principie to
women, but as locating the grounds from which to speak with authority as women. Not " O grupo de 'sem teto' que Smith (1992) estudou não se deslocava pela cidade porque ao
to transcend this body, but to reclaim it. To reconnect our thinlcing and speaking with deixarem seus pertences na rua corriam o risco de ao voltar não encontrarem mais nada.
the body of this particular living human individual, a woman. (RICH, 1984,2012-2013) Assim, para proteger seus poucos pertences, deslocavant-se apenas na área do entorno.

68 69
amei
1,1
homens gays em sua investigação e afirma que a ideia do 'armário' é trazida
literalmente fisiológico. (...)Como o lugar de prazer e dor, ele também
tem necessidades, desejos e medos, e é o órgão biológico em torno
nas falas dos sujeitos pesquisados como uma materialização do corpo que
do qual as definições sociais de doença e saúde são construídas. O negocia com outras escalas que são percebidas como heterossexistas e
cuidado com o corpo, o acesso físico 'ao' e 'pelo' corpo, e o 'controle' hamofóbicas. Ele afirma que:
sobre o corpo são as vias centrais da contestação da escala corporal. Em algumas vezes, o armário parece encolher para se tornar o es-
Se as mulheres não necessariamente monopolizam a escala do corpo, paço do próprio corpo. Através da homofobia profundamente enrai-
como Beauvoir sugere, as contestações nessa escala são, todavia, zada, vários homens falam sobre estarem constantemente discipli-
dominadas pelo gênero. A política do aborto, estupro, prostituição, nando seus corpos, ações, falas e afetações, a fim de 'se passar' por
reprodução e cuidados do corpo (prover e preparar alimentos, heterossexuais. Eles temem que o seu comportamento possa trai-los
vestuário, abrigo, acolhimento, beleza) foca no acesso aos corpos e abrir a porta do armário. O intenso isolamento e alienação que
das mulheres, trabalha o que as mulheres fazem com seus corpos e homens gays 'no armário' descreve também materializa o corpo co-
a fronteira entre o controle individual e do Estado sobre o corpo. O mo U112 espaço fechado. Para Don [um dos sujeitos entrevistados pe-
manual ?Jur Bodies, Ourseives'ajudou a consolidar um movimento lo autor], o armário está localizado dentro de seu próprio senso de
feminista emergente no início dei 970, precisamente porque permitiu ser: 'Dentro de mim eu guardava o meu segredo'. Outros falam so-
às mulheres recuperar seus corpos e controlar a conquista da escala bre como se tornar severamente introvertidos, girando em torno de
do corpo. Isso afirmou o corpo como um lugar de luta sobre a qual si próprios, afim de evitar o 'contato com o exterior' que pode, abrir
as feministas definiram uma poderosa reivindicação. (SMITH, 1992, a porta. (BROWN, 2000, p. 45, tradução nossa)"
p. 67, tradução nossa)"
Pensar o corpo como espaço, por meio da escala, ê possível. na
O corpo como escala também foi analisado por Brown (2000) que medida em que se adota a postura de que as escalas não existem em um
explora a ideia do 'armário"6 corno uma espacialidade estratégica e tática sentido ontológico, mas são construirias socialmente, configurando-se
que pode esconder ou disfarçar as pessoas homossexuais. O armário implica assim em um elemento epistemológico. Mesmo considerando a escala como
a onipresença e multidimensionalidade que sugere urna exploração através construção social, a escala é adotada pelos autores como uma fronteira
de uma ampla variedade de escalas espaciais a partir do corpo, para a cidade, geográfica que rodeia determinados espaços particularizados, implicando
para a nação e, finalmente, para o mundo. O autor explora as narrativas dos assim diferenças. Embora socialmente construídas as escalas instituem
materialidades na realidade socioespacial e no comportamento humano.
" The primary physical site of personal Identity, the scale of the body, is socially cons-
tructed. lhe place of the body marks the boundary between self and other in a social as As escalas são móveis e mutáveis no tempo e espaço e também articuladas
much as physical sense, and involves the construction of a "personal space" in addition entre si por meio de relações de poder.
to a literally defined physiological space. (...) As the site ofpleasure and pain, it also has
wants, desires, and fears, and it is the biological organ around which social definitions Nesse sentido, o corpo é uma escala criada socialmente tal como
of sickness and health are constructed. Gare for the body, physical access to and by the a escala urbana, regional, nacional ou global. Entretanto, como as escalas
body, and control over the body are the central atenues of contest ai this scale. ff women
do nos necessarilymonopolize the scale of the body, as Beauvoir suggests, contests at this são conceitos que foram representados metaforicamente, como visto
scale are nonetheless dominated by gender. lhe politics of abortion, rape, prostitution, em Herod (2011), é preciso adotar um ponto de vista escalar específico
reproduction, and body-care (the provision and preparation of food, clothing, shelter,
warmth, beauty) focus on access to women's bodies, work women do with their bodies,
17 At some times, the closet seems to shrink to become the space of the body itself. Throu-
and the boundary between individual and state control over the body. lhe manual Our
gh deeply ingrained homophobia, several men talk about constantly disciplining their
Bodies, Ourselves helped galvanize an emerging feminist movement in the early 19705 bodies, actions, speech and afFectationsin order to 'pau' for straight. They fear that their
precisely because it enabled women to reclaim their bodies and control the conquest of
comportment will betray them and open the doset door. lhe intensa isolation and alie-
the scale of the body; it affirmed the body as a site of struggle over which feminista staked nation closeted gay men describe also materialises the body as a closet space. For Dou.
a powerful claim. (SMITH, 1992, p. 67)
the closet is located inside his own sense of sele 'Within myself 1 treasured my secret:
16 'Armário'
é uma metáfora que já se popularizou socialmente e significa a dissimulação Others talk about becoming severely introverted, turning in upon themselves in order
das sexualidades dissidentes da heteronormatividade. O termo foi cunhado por Eve to avoid butside contact. that might open the door. (BROWN, 2000. p. 45)
Kosofslcy Sedgwick (1990) em seu livro Episternology of the Closet.

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na interpretação do corpo como um espaço ou lugal. Por exemplo, o Referências
corpo pode ser imaginado como uma escala em fluxos, como é o caso
da metáfora de raiz de árvore. A escolha desta representação implica BEAVOIR, S de. O segundo sexo: a experiência vivida. São Paulo:
resultados na interpretação do fenómeno corpóreo a ser interpretado. Círculo do Livro, 1976/1949.
Nesta perspectiva, a pele, em geral adotada como fronteira limite com a BELL, D; VALENTINE, G. Mapping desire: geographies ofsexualities.
exterioridade, poderia ser permeável, já que os fluídos corporais e o ar London: Routledge, 1995.
que respiramos, por exemplo, ultrapassam tal limite corpóreo. Enfim, se a BELL, D; BINNIE, J; HOLLIDAY, R; LONGHURST, R. Pleasure zones:
escala serve para organizar a forma como ordenamos o espaço, e a forma bodies, cities, spaces. New York: Syracuse University Press, 2001.
corno criamos tal representação de ordenamento cria diferentes valores e
BINNIE, J, LONGHURST, R, PEACE, R. Upstairs/downstaits — Place
significados espaciais, esta escolha é também uma posição política que deve
mptters, bodies matter. In: BELL, David; BINNIE, Jon; HOLLIDAY, Ruth;
ser assumida no campo cientifico.
LONGHURST, Robyn. Pleasure zones: bodies, cities, spaces. New York:
Syracuse University Press, 2001, p.
Considerações finais BUTLER, J. Cuerpos que importan: sobre los limites ma eriales y
discursivos del `sexo'. Barcelona: Paidós, 2005.
Neste capítulo nós trouxemos a ideia do corpo como um espaço . Deshacer el género. Barcelona: Paidós, 2006.
geográfico e para isso evidenciamos que, ao adotarmos a perspectiva da
BROWN, M. P. Closet space: Geographies of metaphor from the body
construção social da escala, é possível trilhar um interessante caminho
to the globe. London: Routledge, 2000.
de uma geografia corporificada. Evidenciamos neste texto que, apesar
do corpo não ser uma temática comum na geografia brasileira, há uma DAVIS, A.. I used to be your sweet mama: ideology, sexuality and
trajetória de pelo menos três décadas de abordagem geográfica do corpo, domesticiy. In: . Blues legacies and black feminism. New York:
se considerarmos outras escalas de produção científica geográfica. Vintage Boolcs, 1998. p. 3-41.
A superação da ideia do corpo neutro universal (em geral expresso . Mujeres, raza y clase. Madrid: Akal, 2004 [1981].
pela palavra 'homem') a partir da consideração de corpos marcados DELANEY, D. and LEITNER, H. 'The political construction of scale:
pela raça, sexualidade e gênero, tem trazido a corporeidade para o Political Geography, v. 16, n. 2, p. 93-97,1997.
centro da discussão geográfica. Assim, afirmamos que um corpo que é
1. DUNCAN, N. Bodyspace: destabilizing geographies of gender and
geopoliticamente marcado é um 'corpo-espaço' na medida em que o corpo
sexualities. New York: Routledge, 1996.
não é compreensível fora do lugar de sua própria constituição. Portanto,
respondendo o desafio que inspirou o presente capítulo, mais do que a GROSZ, E. Volatile bodies. Toward a corporeal feminism. Bloomington:
ideia de corpos no espaço, é sim possível ampliarmos noss imaginação Indiana Univesity Press, 1994.
geográfica a partir da ideia do corpo como espaço. . Bodies-cities. In: Space, Time, and perversion. Essays on the
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