ARTIGO DE REVISÃO

A GESTANTE NO PERÍODO DA PANDEMIA POR SARS-COV-2 NO BRASIL:

O ATENDIMENTO NA REDE PÚBLICA: UMA REVISÃO NARRATIVA
Pregnant women in the period of the sars-cov-2 pandemic in brazil:
service in the public network: a narrative review
ISSN: 2178-7514 Laurinda da Silva Solano Reis1; Júlia Vitória Nunes dos Prazeres1;
Ayla Rebecca da Silva Ferreira1; Camila Oliveira dos Santos1; Erica Feio Carneiro Nunes1
Vol. 14| Nº. 2| Ano 2022

RESUMO
Objetivo: Descrever o atendimento à gestante na rede pública de assistência à saúde no Brasil durante o período da
pandemia por SARS-CoV-2. Metodologia: Trata-se de uma revisão narrativa, mediante busca de publicações dos
últimos 10 anos, em língua portuguesa e inglês, através de bancos de dados científicos eletrônicos, incluindo SciELO,
Google acadêmico, Lilacs, sites de organizações e instituições relacionadas à temática. A busca ocorreu entre os meses
de agosto e novembro de 2021. Resultados: As gestantes apresentaram maiores riscos a complicações pela infecção
por SARS-CoV-2, em consequência das alterações fisiológicas no ciclo gravídico-puerperal. Dessa forma, constatou-
se a necessidade de adequações na assistência direcionada às grávidas. Conclusão: Os novos modelos de atendimentos
adotados colaboraram para a manutenção do acompanhamento pré-natal e para a proteção das gestantes enquanto
grupo de risco.
Palavras-chave: Gravidez, Complicações Infecciosas na Gravidez, Pandemia por COVID-19, Serviços de Saúde
Materna.

ABSTRACT
Objective: To describe the care of pregnant women in the public health care network in Brazil during the period
of the SARS-CoV-2 pandemic. Methodology: These are publications of a narrative review, through research of
Portuguese and English institutions, through electronic scientific databases, including SciELO, Google websites of
scientific institutions, Lilacs, themes. The search for SARS took place between the months of August 2021. Results:
The samples presented risks of complications from November-2 CoV infection, as a result of physiological changes
in the pregnancy-period cycle. In this way, the need for adjustments in care directed to pregnant women is informed.
Conclusion: The new care models adopted contributed to the maintenance of prenatal care and to the protection of
pregnant women as a risk group.
Keywords: Pregnancy, Pregnancy Complications, Pandemic COVID-19, Maternal Health Services.

1 Universidade do Estado do Pará - UEPA

Autor de correspondência
Erica Feio Carneiro Nunes - ericacarneiro@uepa.br

DOI: 10.36692/v14n2-19R
 A gestante no período da pandemia por SARS-COV-2 no Brasil

INTRODUÇÃO de sintomas, tanto em mulheres grávidas

quanto em não grávidas, são a tosse e febre.
A pandemia por SARS-CoV-2 representa
Outrossim, pôde ser verificado que não existem
grandes desafios para a assistência em saúde,
dados suficientes e comprobatórios para a
uma vez que o vírus mostra ser nocivo à vida.
transmissão vertical do vírus, entretanto partos
Dessa forma, os serviços de saúde no Brasil
prematuros e cesáreas realizados em mulheres
foram adaptados ao período pandêmico, o que
infectadas obtiveram alta taxa de registro. Por
incluiu adequações no atendimento pré-natal,
fim, a infecção direta entre mãe e bebê ainda
parto e pós-parto na rede pública, seguindo
está em análise, pois não existem materiais
as orientações da Organização Mundial da
suficientes para sua comprovação1,4.
Saúde. Tais mudanças foram necessárias, pois
É interessante revisar as mudanças
as gestantes, devido as alterações fisiológicas
fisiológicas pelas quais passam as gestantes,
características do período gravídico, estão
suas implicações para organismo materno e os
mais suscetíveis a complicações decorrentes
cuidados dados à gestante, antes e durante a
de infecções, sendo consideradas grupo de
pandemia, para a compreensão da reorientação
risco1. Além da cautela com as grávidas
das ações em saúde no Brasil.
saudáveis, é necessária uma atenção redobrada
com as gestantes de risco, visto que, para esse
OBJETIVO
grupo, existe a possibilidade proeminente de
complicações graves pela contaminação por
Descrever o atendimento à gestante na
SARS-CoV-22.
rede pública de assistência à saúde no Brasil
Dentre as adequações, foi constatado
durante o período da pandemia por SARS-
a diminuição do acompanhamento pré-natal
CoV-2.
e a restrição da presença de acompanhante
nas consultas, devido a possibilidade de
contaminação em ambientes hospitalares, além
METODOLOGIA
da realização de consultas via atendimento
online, quando médicos ou pacientes estão Trata-se de uma revisão narrativa,
infectados3. mediante busca de publicações dos últimos 10
Durante a pandemia, observou-se uma anos, em língua portuguesa e inglês, através
melhora no atendimento, uma vez que foram de bancos de dados científicos eletrônicos,
feitas descobertas, como a existência de casos incluindo Biblioteca Virtual em Saúde (BVS),
assintomáticos e que a forma mais branda Scientific Electronic Library Online (SciELO),

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 A gestante no período da pandemia por SARS-COV-2 no Brasil

PubMed, Google acadêmico, Lilacs, sites de intravascular6.

organizações e instituições relacionadas à As mudanças hematológicas na gravidez
temática. A busca ocorreu entre os meses de incluem um aumento significativo no número
agosto e novembro de 2021. de hemácias, ocasionando o aumento na
demanda de oxigênio. Outro fator preocupante
RESULTADOS E DISCUSSÃO é a anemia fisiológica da gestação, que acontece
em decorrência da diminuição de hematócritos.
Existe também uma redução da função de
ALTERAÇÕES FÍSICAS E
quimiotaxia e aderência dos leucócitos após
FISIOLÓGICAS DA GESTAÇÃO
o segundo trimestre, o que provoca uma
O estado gravídico é acompanhado
supressão da imunidade6.
de adaptações anatômicas e bioquímicas dos
Ressalta-se, ainda, alterações no aparelho
aparelhos e sistemas, pois acontece uma reação
respiratório durante o estado gravídico, as quais
orgânica diante da presença do concepto e
resultam da mudança de posição diafragmática
do aumento dos níveis hormonais5. Essas
devido ao aumento do útero7. Em vista disso,
mudanças adequam o corpo da mulher de
ocorre a redução da mobilidade torácica
forma a torná-lo viável para a formação do
com o avanço dos trimestres gestacionais e
feto, visto que promovem condições para um
das forças musculares respiratórias, como
desenvolvimento fetal adequado. Contudo,
consequência, a gestante apresenta uma perda
determinadas modificações podem intensificar
do fluxo expiratório8. Com a redução global
morbidades pré-existentes e gerar sintomas
do volume residual pulmonar, acontece a
incômodos6.
atenuação da complacência da parede torácica
Entre as alterações importantes no
e da complacência total respiratória. A gestante
período da gravidez, tem-se modificações nos
passa a hiperventilar, podendo apresentar uma
sistemas de coagulação. Na gestação acontece
alcalose respiratória descompensada e, com a
um aumento dos agentes pró-coagulantes e da
finalidade do corpo se manter em equilíbrio,
atividade dos fatores de coagulação VII, VII,
o aumento do pH impulsiona o acréscimo
IX, como também do fator Von Willebrand.
na síntese de difosfoglicerato, que se liga à
Essas adaptações ocorrem com o objetivo de
hemoglobina, bloqueando a ligação do O2,
diminuir o risco de hemorragia na dequitação
efeito que causa o decréscimo da afinidade da
placentária, porém expõe a mulher grávida ao
hemácia materna pelo oxigênio6.
acometimento de trombose venosa profunda,
Desse modo, as modificações na
tromboembolismo pulmonar e coagulação
gestação aumentam o estado de vulnerabilidade

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 A gestante no período da pandemia por SARS-COV-2 no Brasil
à infecção grave por SARS-CoV-29.
Decorrentes das mudanças cardiopulmonares,
as mulheres grávidas estão sujeitas
complicações respiratórias pela infecção por
covid-19, sendo o vírus responsável por grande
parte de internações maternas envolvendo
cuidados intensivos, uso de ventilação assistida,
insuficiências renais e mortes10. A modificação
da mecânica respiratória na gestação é um fator
importante a se considerar quando se trata da
contaminação pelo vírus, uma vez que ocorre
uma diminuição na capacidade respiratória,
como na tolerância à hipóxia e à acidose11,7.
Além disso, estudos apontam
uma relação da enzima conversora
angiotensina-2 (ECA2) com a SARS-CoV-2
e o risco desse fenômeno para gestantes,
visto o aumento dessas enzimas no período
gestacional. A enzima em questão tem a função
de inativar a angiotensina II, uma substância
vasoconstritora, convertendo-a, então, em
angiotensina. Pesquisas constatam que o
receptor da ECA2 propicia a entrada do SARS-
CoV-2 no organismo, tornando essa associação
um perigo11.
Na pandemia, dados demonstraram que
mulheres grávidas ocuparam, em proporção
maior, os índices de internação na unidade de
terapia intensiva (UTI), de uso da ventilação
mecânica e de mortes por covid-19, do
que as mulheres não grávidas. Foi inclusive
evidenciado que a taxa de mortalidade por
infecção pelo vírus também é alta em mulheres
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no período puerperal. Esses aspectos ocorrem
em razão das modificações fisiológicas nos
às sistemas imunológico, respiratório, circulatório
e secretório no ciclo gravídico-puerperal7.
Outras complicações gestacionais relacionadas
a covid-19 constatadas foram: aborto
espontâneo, ruptura prematura de membranas,
restrição de crescimento intrauterino,
sofrimento fetal e partos prematuros2.
Segundo a vigilância epidemiológica no Brasil,
está sendo relatado a ocorrência de óbitos de
mulheres grávidas, infectadas pela covid-19, por
consequência de problemas cardiopulmonares
e pela falência múltiplas dos órgãos. Em
de relação às comorbidades, têm-se relatado casos
de morte materna decorrentes, principalmente,
de obesidade, de doença cardiovascular e de
diabetes12.
Dentre os fatores de risco para a
evolução da doença na sua forma grave em
gestantes contaminadas, tem-se o alto índice
de massa corporal, comorbidades existentes
e complicações específicas da gravidez, sendo
essas diabetes gestacionais e pré-eclâmpsia.
Em vista disso, aumentam-se as chances de
resultados adversos em mulheres grávidas com
Covid-19 do que em gestantes que não estão
infectadas1.
Além das condições biológicas
aumentarem as chances da evolução negativa da
doença, existem os fatores socioeconômicos.
Nesse sentido, a falta de acesso ao atendimento
pré-natal de qualidade e a assistência pós-parto
 A gestante no período da pandemia por SARS-COV-2 no Brasil
são fatores que contribuem para a mortalidade
e morbidade materna relacionadas à infecção
por Covid-1913.
Desse modo, a ocorrência de um pré-
natal qualificado na gestação contribui para o
monitoramento da saúde fetal-materna e, no
contexto pandêmico, a assistência deve ser
reforçada com as gestantes acometidas pelo
novo Coronavírus. Além de ser necessário
conscientizar as mulheres grávidas sobre a sua
gravidade com o objetivo de reforçar as medidas
de prevenção, controlando a contaminação
nesse grupo14.
ATENDIMENTO A GESTANTE
NA REDE PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA
À SAÚDE
O Sistema Único de Saúde (SUS)
tem como principal porta de entrada as
Unidades Básicas de Saúde (UBS), sendo
consideradas a porta de acesso preferencial
das gestantes. Nesse contexto, tem-se a Rede
cegonha, instituída pelo Ministério da Saúde,
a qual tem por objetivo estruturar as Redes de
Atenção Materno-Infantil em todo território
brasileiro, e reduzir a taxa de mortalidade
materna e infantil. A estratégia proporciona,
principalmente, o acolhimento da gestante e do
bebê, e a humanização na gravidez, no parto e
no nascimento15.
Conforme o Caderno de Atenção ao
Pré-natal de Baixo Risco, do Ministério da
Saúde, o acompanhamento pré-natal deve ser
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iniciado no primeiro trimestre da gravidez
para assegurar o desenvolvimento saudável da
gestação. Segundo a Organização Mundial da
Saúde (OMS), o número adequado de consultas
é igual ou superior a 6.
Depois de confirmada a gravidez, é
realizado o cadastro na plataforma SisPreNatal
e, posteriormente, todos os procedimentos e/
ou condutas realizadas devem ser registrados
tanto na Ficha de Pré-Natal, como no próprio
Cartão da Gestante. Durante a primeira
consulta de pré-natal é realizada anamnese que
aborda as questões epidemiológicas, história
pregressa familiar, ginecológica e obstétrica, e
o estado da atual gravidez16.
No decorrer do pré-natal o profissional
de saúde desenvolve atividades relevantes para a
saúde da mulher e do bebê, dentre elas destaca-
se: a escuta ativa, avaliação e monitoramento
do estado nutricional, tratamento de possíveis
irregularidades durante a gestação e solicitação
de exames laboratoriais - dosagem de
hemoglobina e hematócrito (Hb/Ht), grupo
sanguíneo e fator RH, urina tipo I, glicemia
em jejum, sorologia para sífilis (VDRL), anti-
HIV, hepatite B, e toxoplasmose – segundo
o Programa de Humanização no Pré-Natal e
Nascimento5.
O quinto princípio fundamental da
atenção perinatal, estabelecido pela OMS,
recomenda que os cuidados ofertados durante a
gestação e parto devem ser multidisciplinares e
 A gestante no período da pandemia por SARS-COV-2 no Brasil
multiprofissionais, ou seja, conta com a atuação
de médicos(as), enfermeiros(as), técnicos de
enfermagem, e outros profissionais.
Quanto ás orientações recebidas
durante o pré-natal, constata-se que é maior
em gestantes que tiveram acompanhamento
com mais de um profissional, como médico e
enfermeiro. Assim, embora cada profissional
possua suas especificidades na assistência às
mulheres grávidas, é através da união de seus
diferentes saberes que se torna possível uma
promoção de saúde integral da mulher e do
bebê17.
No puerpério podem aparecer problemas
de saúde que são capazes de deixar sequelas
ou até levar a óbito. Nos estabelecimentos de
saúde ocorre a comunicação da importância
da execução de uma consulta de controle,
esta que precisa ser realizada até 42 dias
depois do final da prenhez, a fim de realizar
o acompanhamento da saúde geral da mulher.
Durante esse momento, a gestante recebe
orientações sobre aleitamento, sexualidade,
e cuidados que deve tomar consigo mesma e
com o recém-nascido5.
ATENDIMENTO A GESTANTE
DURANTE A PANDEMIA POR COVID-19
Em junho de 2020, a Organização
Mundial da Saúde (OMS) incluiu mulheres
grávidas no grupo de risco devido à prevalência
considerável da doença em sua forma grave
no determinado grupo, conhecida como
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Sars-CoV-2, a Síndrome Respiratória Aguda
Grave. Tal pois o período gestacional, em sua
natureza, proporciona mudanças fisiológicas
no organismo materno e favorece o surgimento
de patologias10.
Percebeu-se, então, a necessidade
da criação e reinvenção de outras formas de
atendimento para esse grupo de mulheres, visto
que os ambientes hospitalares e clínicos, apesar
dos protocolos de biossegurança estabelecidos
no ano de 2020 para o controle epidemiológico
do vírus, configuram um risco de transmissão
do vírus por gotículas respiratórias18.
A telemedicina, serviços de telessaúde
e assistência domiciliar durante o período pré-
natal se tornaram uma opção de atendimento
na pandemia para o acompanhamento materno
de maneira segura. As consultas por meio do
aparelho celular e/ou computador reduzem a
presença das gestantes em clínicas e hospitais,
mantendo-as distantes do risco de contaminação
pela Sars-CoV-219. As adaptações precisaram
ser feitas com urgência, dado a fragilidade da
saúde materna, e a importância do atendimento
pré-natal para a prevenção e detecção precoce
de patologias, como também para o controle
de riscos10.
CONCLUSÃO
O período inicial da pandemia por
Sars-Cov-2 foi um momento desafiador para
 A gestante no período da pandemia por SARS-COV-2 no Brasil
o âmbito da saúde, posto que, inicialmente,
os efeitos da infecção pelo novo coronavírus
ainda não eram totalmente conhecidos pela
comunidade científica. Dessa forma,
profissionais de saúde foram desafiados a
compreender as implicações da Sars-Cov-2
no organismo materno e aplicar tratamentos
eficazes diante das incertezas.
Dado a constatação de que
alterações fisiológicas durante a gestação põem
a gestante em uma posição de vulnerabilidade
a processos infecciosos e que, portanto, a
ação do vírus se torna nociva a esse grupo, o
atendimento à gestante na rede pública passou
por significativas adaptações. Sendo assim,
foi necessário organizar um atendimento
singularizado perante o contexto pandêmico.
Os novos modelos de atendimentos
adotados colaboraram para a manutenção do
acompanhamento pré-natal e para a proteção
das gestantes enquanto grupo de risco.
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OBSERVAÇÃO: Os autores declaram não existir

conflitos de interesse de qualquer natureza.

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