Você está na página 1de 16

,*d+r, .

l'

DESENVOLVIMËNTO E APRENDIZAGEIJI
- TEXTO 1
È

CUNHA,U.V,PsicologiadaEducâção'Riode
Janeiro: DP& A, 2000' I
Crrptrulo I
I
I

I
i
I
I

i
ì

Stouuuo Fnruo, cRtADoR Do paneDrcMn pslceNel"tncor nasceu em


\
I 1856 na cidade de Freiberg, Morávia, hoje uma região da
I
I
República ïLheca, Originário de família judia, viveu grande
ì

ì
parte de sua vida em Viena, na Áustria, e morÍeu, em londres,
capítal da Inglaterra, em 1939, para onde refugÍotr.se das
perseguições do nazismo.
Formado em medicina, inleressou,se por estudar manifestações
de desequilÍbrio psicológico, e foi no contato com seus pacientes
que elaborou sua teoria, Esse é um aspecto importante do
paradigma porque revela o ambiente em que a Psicanálise surgiu
I
e o destino original de suas íormulações: a cura de pessoas qüe
1

ì sofrem distúrbios psíquicos. Freud não se dedicou a analisar a


escola e o trúallro do professor, embora teúa abordado questóes
1

educacionais ertr alguns de seus escrÍtos.

A teoria da personalidade
Com base no relato de pacientes a respeito de suas fantasias,
sintomas ,r.uróìicos, lembranças e sonhos, Freud desenvolveu
uma teoria sobre a estrutura da personalidade humana e a
dínâmica de seu funcionamento. Segundo ele, nossa personalidade
é formada por três instâncias: id, ego e superego.
O id é a instância que contém os impulsos inatos, as
inclinações mais elemenüarcs do indivíduo. O id é composto
por energias - -
que Freud chamava pulsões determinadas
biologicamente e determinantes de desejos e necessidades que I
não reconhecem qualquer norma socialmenüe estabelecida.
g Psrcoloct,r oa EoucrçÃo Fntuo - PsrcerÁusr E EDUcAçÃo

I
g 4 O id não é socializado, não respeita convençóes' e as energias
Essa região é chamada inconsciente. Está no inconsciente

g que o constituem buscam a satisfação incondicional do


aquilo que o ego não sabe que existe, tudo aquilo que foi

g organismo.
reprimido com base nas concepções morais inremalizadas pelo
indivíduo.
& Enquanto o id é inato, as duas outrâs partes da ftersonalidade
desenvolvem-se no decorrer da vida da pessoa' O ego, que
Observe-se que esse modelo maduz uma concepção de ser
& significa literalmente eu, é o seror da personalidâde especializado
humano. Segundo a Psícanálise, somos seres possuidores de um
universo de desejos e necessidades que não conhecemos. Tüdo
{ em mânter contato com o ambiente que cerca o indivíduo'
I O ego é a porçáo visível de cada um de nós, convive segundo o que pensamos e queremos é apenas uma parte do que
realmente somos. Grande parte de nós encontra-se oculta em
I regras socialmente aceitas, sofre as pressões'imediatas do meio
e executa ações destinadas a equilibrar o convívio da pessoa
nosso inconsciente, reprimida por nosso superego.
I com os que a cercam. Tiata-ôe de uma versão da personalidade hümana que rompe
{ O superego, por suâ vez, ê um depositário das normâs e com o racionalismo e mostra não sermos donos da verdade que
fi princípios morais do grupo social a que o indivíd,ro t. vincula' julgamos conhecer a respeiro de nossas motivações, nossos gostos,

Ali concenr,ram-se as regras e as ordenações da sociedade e da amores e ódios. Isto porque nossâs escolhas conscientes sáo
{
cultura, representadas inicialmente pela família e posteriormente profundamente influenciadas pelas energias inconscientes
{
u intemalizadas pela pessoa.
Podemos visualizâr a dinâÍÍúeã entïe essâs três instâncias da
reprimidas.

{ seguinte maneira: energias determinantes de desejos, originárias A origem das neuroses


t do id, devem chegar ao nível do ego para que este possa articular Tüdo seria muito simples se os conteúdos reprimidos ficassem
u ações suprissoras das necessidades entáo impostas. Se o ego irá definitivamente soterrados, mas não é assiin que se pâssa.
u, i,ft'llt' dar conta de fazê-lo ou não, este é um problema que diz respeito As pulsões, precisamen[e por sereú energias, continuam a
às possibilidades reais de que dispõe o indivíduo. Nao e esse o pressionar o superego para chegar ao nível consciente. Nesse
,,
tema prioritário da teoria de Freud. processo Freud viu a origem de alguns fenômenos da vida
,, O foco de atenção da Psicanálise dirige-se à relação entre psíquica, como os sonhos, os atos falhos, a sublimação e as
, as energias oriundas do id e os impedimentos que o superego neutoses.
lhes impóe. A Psicanálise mostra que há umâ vastã gama de O.sonho nada mais é do que um resultado da luta entre o id
s'' desejos que são impedidos de chegar ao nível do ego, isto é,
clesejos cuja existência o eu sequer toma ciência devido à censura
e o superego.O conjunto de conteúdos que forma o sonho traduz
a trama de desejos não satisfeitos contidos no inconsciente da
fi', O superego atua
clas barreiras morais intemalizadas pela pessoa. oessoa. Sonhar, portânto, ê a realizaçáo de um desejo reprimido.
f,i como protetor do ego, pois sem ele as pulsões tornariam Realização imperfeita e incompldta, é claro, porque a ação do
, insuportável a vida do indivíduo em sociedade. superego impede que as imagens oníricas explicitem com clareza
t, Constitui-se, desse *olo, uma região da personalidade o desejo inconsciente.
t habitada por pulsóes reprimidas, que não são conscientes para o ego'

{i
d;,

ill
Psrcorocre oe EoucaÇÂo Fnruo - PsrcerÁrrsr E €DUc^çÃo 17

A falta de clareza do sonho é exigência feita pelo superego, objetivo de Freud. Para isso ele cBiou uma técnica terapêutica,
que libera as eneigias do id desde que estas renham sua forma uma psicoterapia, como veremos logo.
alterada e não cheguem ao plano consciente tal qual elas
realmente são. O superego garante assim o cumprimento de sua Uma concepção de educação í
função repressora; ao mesmo tempo que.alivia, de certo modo, a Mais ou mehos neuróticos todos somos, ensina a teòria I
pressão oriunda do id. psicarralítica, uma vez que temos desejos reprimidos a todo l
' Algo semelhante ocorre com os atos falhos - lapsos momento interferindo em nossa vida consciente e, muitas vezes, I
lingüísticos ou de escrita. O caso mais banal é aquele em que provocando desconforto. Jbdas as nossas relações pessoais são t
um palestrante inicia seu iliscurso dizendo: l'Bem, vamos
encerrar esta sessão..." O. lapso, neste caso, seria a uadução do
permeadas por'emanações de energias psíquicas desconhecidirs,
oriundas de um território obscuro e inatingível. Desse modo,
I
grande parte de nossos desejos e motivos conscientes, que
(
desejo incoruciente de encerraç e não iniciar a palestra. O desejo
reprimido obteve satisfação por uma fresta nas defesas do julgamos conhecer e dominal não passam de simulacros daquilo t
superego. que habita no nosso inconsciente t
O mecanismo chamado sublimação também expressa o Se é assim, como ver então o relacionamento entre professor t
lqsul-tado das tensões entre o id e o superego. Energias repr-irnidas e al,uno, situação aparerrtemente tão simples-em que um está
ali para transmitir certos conteúdos escolares e o outro para
I
transformam-se e são canalizadas para um único objetivo, {
possibilitando ao ego exercer uma atividade socialmente aceita. aprendê.los? À primeira visÈa, a relação pedagógica resume-se
O indivíduo destaca-se num determinado sgtor da vida social, na escolha de um bom método de ensino, um planejamento c
seja ele artístico, esporfivo ou intelectual, dada a concenüação adequado do seqüenciamento das matérias e um certo t
de energia psíquica que ali se forma. conhecimefito das competências intelectuais dos aprendizes. I
A neurose, por fim, foi explicada por Freud de acordo com Mas a educação escolar é assim apenas na aparência, mostra I
esse mesmo esquema de produção. A exemplo do sonho e das - método, planejamento,
a Psicanálise, pois as questóes objetiúas I
demais maniíestações acima mencionadas, o sintoma neurótico - conteúdos das matérias etc. - são o que menos importa no ato
de educar. Os ensinamentos psicanalíticos dirigem nossa atenção
I
um desequilíbrio que se maniíesta na vida consciente da pessoa
é o resultado visível de desejos que, reprimidos pelo superego,
-
para o vasto e complexo mundo subjetivo oculto no interior de I
tornam-se inconscientes e procuraú uma "válvula de escape" professor e aluno, cada qual sofrendo constantemente a.pressão (l
para ascenderem ao. plano consciente. de seus respecËivoó desejos, muitos dos quais atingidos pela C
_ A pessoa neurótica percebe que há algo errado com ela - repressão. ., c
uma angústia indefinida, um pensamento ou um ato recolTeÍÌte - O professor psicanaliticamente orientado deve observar
atitudes conscientes de seus alunos, como também as suas,
as c
mas não sabe a causa dos sintomas que a afligem, pois esta
procurando desvelar os desejos escondidos por trás delas.
a
encontra-se no'inconsciente, regiáo inacessível ao ego. Ao
contrário de um sonho, uma neurose é algo que sempre causa O professor que aceita o paradigma psicanalítico está sempre a
sofrimento. Curar ou, ao menos, minimizar tal sofrimento era o interessado em ir além de ministrar uma boa aula - no sentido o
,.
Psrcolocta o,r EouceçÃo Fnrub
18 - PstceNÂLtst E EDUcAçÀo

técnico da expressão. Seu olhar volta-se consÈanremente parâ os ensinamentos de Freüd na escola sígnifica abrir caminho para a
morivos desconhecidos que o levam a estar ali, as possíveis razões irracionalidãde, para práticas não-científicas' para o abandono
que o motivam a relacioÍrâr-sê com seus alunos desta ou daquela dos conteúdos esiolares. Segundo essa visão, os ensinàmentos
freudianos contribuiriam para psicologizar a escola' isto é'
maneira. Ele é um profissional que tende a valorizar menos'â para
manutenção do bom comportamento de seus educandos e mais relegar a plano secundário o papel polírico e social do educador'
a iiwe expressão das crianças e jovens que estão sob os seus Logo que a Psicanálise começou a ser difundida no Brasi!'
cuidados.
r.céb.,, a adesão dos educadoreq especialmente'daqueles que
O professor que conhece a Psicanálise sabe que o conhecimento estâvam empenhados em renoüar o ensino' Por volta dos anos
está sempre permeado pelo desejo. Se os fenômenos que dizem de 1930, o, escolanovistas não deixavam de fazer
respeito ao ensino e à aprendizâgem possuem, por urn, lado, "uror.r,
referência aos ensinamentos psicanalíticos e às contribuiçóes
componentes inscritos no campo intelecrual, possuem dmbém que deles poderiam advir para modemizar as práticas escolares'
toda uma carga emocional, em grande parte inconsciente. lourenço Filho, por exemplo, em seu lwro Introduçãa ao Estudo
E isso tem a ver t-anto com o universo psíquico do professoç da Escola Nooa, um clássico do pensamento renovador dessa
detentor e transmissor dos saberes formalizados, quanto com o que integrou
época, menciona a Psicanálise como uma das teorias
do aluno, para quem esses saberes são destinados. o -novo ideário..educacional-
Essas indicações seráo melhor compreendidas quando Outros, €ntretanto' mesÍIo compartilhando dessa matriz de
analisarmos a psicoterapia psicanalítica, criada por Freud para pepsámento, a Escola Nova, viam a Psicanálise como'doutrina
curar as neuroses de seus pacientes. Por.ora, observemos que a que viria desvirtuar os objetivos socializadores da nova educação'
que
visão psicanalírica traz alguns problémas - e algumas soluções - Para fi.a, no niesmo moinento histórico, vale mencionar
para o campo educacional essa crítica foi formulada por Renato Jardim, em
liwb publicado
na década de 1930- Para o autor' a educaçáo é um assunto
Para que serve a Psicanátise? eminentemente social, um emPreendimento que diz respeito
à
pelas
Ao mostrar que os fenômenos da sala de aula'são muito mais estruturação da sociedade e aos valores a serem assimilados
humanos do que técnicos, o paradigma psicanalítico abre um novas gerações.
caminho diferente e frutífero para os professores, o caminho da uma crítica social'
'Jardim admitia que à Psicanálise contém
vivência humanizadora, da compreensão do'outro, da busca de .r*" ,r", que faz referêricia à moral vigente na cultura, moral
boas relações do indivíduo consigo mesmo e com os que o cercam. esta què, irrt"*alir"da pelo superego' produz as neuroses'
Mas'
Menos ênfase no método, mais preocupação com a pessoa. segundo ele, o paradigma freudiano não apresenta qualquer
De outro lado, considerando que o inconsciente é um proposição voltada à mudança social, o que seria importante
território inatingível, desconhecido, impossível de ser visualizado p"r i-pl"*.ntâr novâs abordagens educacionais' O máxiino
objetivamente, a visão psicanq!írica sugere que o professor baseie àu. fr.ud ousou fazer foi criar uma psicoterapia individual'
suas ações em algo que não conhece. Os crícicos da transposição um üâtamento capaz de aliviar a angústia das pessoas sem tocâr
da Psicanálise pam a educaç{o escolar sugerem que adotar os nos conceitos morais vigentes.

nl
ü
20 pstcoLoct oa
PsrcoLocra D^ EoucrçÃo
EDUc^çÃo Fneuo - Psrcer.tÁlrsr E EDUcAçÃo ü
ü
Ainda segundo Renato Jardim, enquanro a psicanálise não desobstrução das barreiras morai$ que impedem o livre acesso ü
diz nada quanto aos fins soci4is da educação, nada apresenta das energias reprimidas à vida consciente. Esse é o firndamento È
tambémquanto aos meios, isro é, os métodos pedagógicop.Jardim da psicoterapia psicarr-alítica. ?
considera que uma das grandes conrribuições de Freud foi ter
sistematizado o conceito de sublimação, a que já nos referimos;
O trabalho psicoterápico consiste em solicitar ao paciente
que relaie livremente qualquer aspecto de sua vida, desde suas
?
quando as pulsões. inconscientes, canalizadas e concentradas, Õ
lembranças mais rerrigtas até os fatos mais recenres, suas
são dirigidas para cerras atividades socialmente desejáveis. Mas angústias, seus medos, seus sonhos etc. O inlportante é que.o
È
3
I

a teoria psicanalítica não explica aquilo que seria realmente paciente não fique preocupado em organizar racionalmente sua t
I
útil ao trabalho escglar: como controlar esse processo em proveito fala, como normalmente o íaz, e que não busque censurar os
t
ü
*''ott*
do aprendizado do aluno. conteúdos de seus pensamentos. Esta idéia de Freud visa criar
[
i è
O leitor poderá refletir, ao longo deste capítulo, sobre essas um ambiente de comuqicação que torne menos rigorosas as tI
questões. Por ora, vale observar que o crítico Rena;to
iI È
Jardim foi barreiras impostas pelo superego ,I!
escolhido, aqui, por representar uma certa inclinação do C
Qterapeutar"-p*ol*s_ll1-_v.e.zr_c_ollJloI[9*-r-t9eq.-n{9f azgr :Ë

pensaniento pedagógico que consiste em analisar a teoria julgamentos de valoç não censura4, não interpor obstáculos ao
ì[ }
freudiana com os olhos da aplicabilidade, conio se ela pudesse
- livre curso dos pensamgntos do paciente. Não faz parte de sua ÌlÌ

I '3
e devesse - tornar-se uma ferramenta a serviço do ensino. função apresentar soluções ou conselhos, diferentemente do que

O
Mas será que as conrribuições do paradigma psièanalítico podem
ser julgadas pelo crivo das técnicas psicológicas? Não esraria
se passa em outros tipos de psicoterapia. O trabalho do terapeuta
psicanalítico é simplesmente interpretar. Este termo técnico
if
",Í
ì[ o
a Psicanálise mais à vontade se fosse vista segundo os referenciais
f Ü
significa estabelecer vínculos entre os conteúdos da fala do !$
de uma filosofia da educaçáol paciente, isto é, os conteúdos rnanifestos, conscientes, e os i&
iI
Ü
Esse é um tema que permeia os três capítulos deste livro e conteúdos supostamente presentes em seu inconsciente.
tr
O
iF
que iremos retomar em nossas conclusões: qual é o sentido dos
Partindo do princípio de que a neurose é causada por um fi Õ
paradigmas. da Psicologia para o professor? Será que a psicologia
deve ser vista pelo educador como uma tecnologia, uma caixa
desejo reprirrrido, se este desejo for tornado consciente estará ,I
['

s
o
desfeita - ao menos teoricamente - a razão de ser da neurose. F'
C}
de ferramentas portadoras de soluções, ou estaria melhor Um desejo reconhecido pelo ego não é capaz de produzir uma
posicionada se fosse vista como um conjunto de idéias, sugestões,
neurose, como também não produz um sonho. Ao solicitar que o
Ë

Ë
ü
r
algumas acertadas, outras nem tanto, cuja servenria é auxiliar- paciente fale livremente sobre sua vida, o psicoterapeuta t ü
I
nos a pensar sobre o que desejamos para o ser humanol psicanalítico espera trazer à tona elementos inconscientes que I Ü
A psicoterapia psicanalítica
possam ser interpretados como possíveis causas da neurose de $ J
seu paciente. i!
3
Com base em sua teoria sobre as neuroses, produzidas pela
ação repressora do.superego, Freud que o rraramenro
Em princípio, tÍazeÍ um desejo à luz da consciência significa
retirá-lo dos domínios do inconsciente, cuja linguagem é
t
I
f
::.".]"iy t ü
{ Psrcorocre oe EoucaçÃo Frruo - Psrc,rNÁttse E Éouc^çÃo

I
â logo mais abordaremos o processo de formaçâo desses afetol,
t humana. Entretanto,'esse processo não é tão simples quanto
oc.orrido ao longo do desenvolvimento individual- Por ora,
s possa parecer. Há que se considerar a complexidade do
inconsciente e o fato de que a situação de psic'oterapia envolve vejamos que quando essas represencações eclodem na situação

t os desejoS do paciente e também'as pulsóes do próprio


terapeuta.
de psicoterapia, o profissional deve emPregar o mesmo
procedimento interpretativo que utiliza em relação a qualquer
{ outra manifestaçáo do ego: considera tais expressões como
Se analisarmos o desenvolvimento das concepções de Freud
{ originárias do inconsciente de.seu analisando e atribui às
t a respeito da técnica que criou, veremos que ele tomou-se cético
quanto à possibilidade de cura advinda da psicoterapia energias reprimidas a responsabilidade por sua existência'
t psicanalítica. O termo czra, muito taxativo, originário da
Assim, a relação entre paciente e psicoterapeuta Eansfoima'se

t medicina, de fato não'se aplica adequadamente a esse


núma oportunidade ímpar de compreender a constituição da

t parâdigmâ. Consideia-se hoje que a Psicanálise possui um


vida afetiva da pessoa, constituiçáo esta ocorri{a na inÍância e
cujas energiai componentes - muitas delas reprimidas -
t arsenal clínico que possibilita à pessoa um caminho para o
perrnanecem atuantes na atualidade.
a autoconhecimento, o que nem sempre pode ser'identificado
O quq garante que os afetos manifestados diante do
t com o término de'sintomas neuróticcis.
Certos fenômenos conceituados por Freud, entretanto, ainda
psicanalista têm raiz verdadeiramente transferencial? Sem
dúvida é a postura absolutamente imparcial do psicoterapeuta'
, são válidos para caracterivdr arelação entre paciente e terapeutâ.
qug 4ão faz.iulgamentos de valor,.não c9n19ra, ltio opin.a,
, Um deles é chamado ediz respeito ao estabèlecimento
enfim. Essa postura neutra e impessoal é que permite afirmar
, de vínculos afetivos entre o ai.ralisando e seu analista. Coirsidera-
serem tais vínculos fruto de transferência, náo relàcionados a
se que esses vínculos, positivos oü negativos, têrri origem'no
, passado, especialmente na infância do paciente, quando foram
qualquer fato o$etivo relacionado com a pessoa do profissional'
, um dia vivenciados. No momento presente são atualizados
a ',iiËìiü

dirigidos ao psicorerapeura.
e
O psicoterapeutá e o professor
a Nao é raro haver pacientes que se apaixbnam por seus
'Ao tratar aqui da técnica clínica criada por Freud,
estamos sugerindo que o professor deva tomar-se
não
psicoterapeuta
D psicoterapeutas ou que, em certos câsos, passâm a odiá-los.
de seus alunos. Ao aceitar.a existência do inconsciente, beu e
a A Psicanálise vê esses fatos como .resultantes de vínculos
de seus alunos, e ao ter sua atenção dirigida para os desejos que
s originários das relações do indivíduo co'm seüs pais.'A bem
da verdade, o fenômeno transferencial advém de afetos
se ocultam nas ações conscientes dos integrantes da sala de
J elabcirados com base nas representaçóes das figuras de pai e
aula, o que deve fazer o professor?
) . ",. i
mãe intemalizadas pela criançâ - representações estas que Vale lembrar que, por mais que conheça a Psicanálise e a
o :
não necessariamente coincidem com, o que seus pfogenitores àceite como paiadigma válido para a educação, o professor não
é um profissional formado para psicanalizar pessoas. Ele não está
)t de fato eram e faziam. É doruniverso fantasioso da iáfância
na escola pafa.lsso, não é contratado e pago para tal função,
3 que brotam os vínculos afetívos depois rransferidos parâ a pessoa
do psicanalista. ou seja, náo tem competência técnica.ê
lem
nem autorização formal
C .ri

G
C
s
Fnruo - PsrcANÁr.rsE E EDUc^çÂo
ìi
PsrcoLocre oe EoucaçÃo
,!i ü
È
fórmulas, cartilhas de procedimentqp que possibilitem ao professor
para tornar-se, num passe de mágica, psicoterapeuta de crianças ü
e jovens. ensinar de modo mais eficiente e produtivo.
O que as idéias freudianas realmente sugerem
c
Tomemos o caso dos afetos que são dirigidos ao professor.
Assim como não é raro haver pacientes que, na situaçáo clínica,
uma ética,
que nem mesmo pode ser apresentada na forma de um catálogo
é.
c
desenvolvem amor e ódio pelo psicanálista; também na'sala de de instruções. A Psicanálise encaminha o educador na direçáo ì
aula há alunos que aÍnam e odeiam seus mestres. Podem esses do reconhecimento das limitações do processo pedagógico, ì
vínculos ser considerados transferenciais? Sem dúvida; segundo tomando-o uma pessoa menos obcecada pela imposição de seus ì
pontos de visËa, suas verdades, seub valores morais, seu desejo
a Psicanálise, pois todo afeto, positivo ou negativo., decorre de ü
vivências passadas que se encontram reprimidas no incoruciente. de ordem e disciplina.
Nessa perspectiva, anula-se o mestr'e, ao menos na acepção
c
Mas há um fator que impede uma caracterização assim tão
tradicional que esta palavra conÌporta, sinônimo de autoridade ü
simplista. Diferentemente do psicanalista, o professor lida com '

fatos objetivos do dia-a-dia de seus alunob, ele se posiciona quanto suprema, saber incontestável e dispooitivos d.isciplinares rigorosos. C
aos conteúdos que ensina, emite juízos de valor, avalia por meio Sua relação com os alunos será pautada na compreensão de C
de notas, enfim, ele não bcupa aquela posição de neutralidade que os conteúdos escolares são assimilados por causa de o
disposições ineonse.ientes-favoráveis e gue o-fraeasso, do aluno
típica do psicoterápeütâ; confoime'viihos'há poudo.. Sefá-pos5ível' C
distinguir com clareza qüando o t'rnculo afetivo de um aluno é ou do professor, deve-se muito mais a fenômenos interpessoais -
transferenciais, por.exemplo - do que às peculiaridades do
C
transferencial ou quando está fundamentado em'arirudes
concretas do professor? E o que dizer das emoções que tomam método de ensino ou do material didático. ü
conta do professor? Seriam elas também transferênciais? c
O que a Psicanálise possibilita, então, é a estruturação de um
O conceito,üe libido a
campo de reíerências mediante o qual o mestrê pode elaborar Parà compreender melhor o que Freud dizia sobre o conflito e
hipóteses a respeito de si mesmo e de seus educandos. Isto, aliás, entre id e superego e suas conseqüências para o ego, vejamos 1|:
uma de suas mais desafiadoras afirmações. Segundo Freud, dentre
é o que faz o psicoterapeuta com seus pacientes..A'connibuição
da teoria psicanalítica paia o trabalho docente não diz tespeito a as pulsões que compõem o id destacam-se as energias de
I
tomar o professor um curador de neuroses, mas sim uma pessoa naturezâ sexual. É aor,u" elas que se erguem as barreiras morais a
atenta,para entender que o processo de ensino e aprendizagem que, intemalizadas pelo indivíduo, formam o supetego. e
náo se resume a aspectos técnico-metodológicos. À épo." em que Freud elaborou sua teoria, entre fins do a
A psicanalista Maria Cristina Kupfea nossa contemporânea, século XIX e início do século XX, essa afirmaçáo causou a
repulsa e indignação, qm? vez que significava dizer que as
compartilha dessa tese. Para ela a Psicanálise não rraz, de fato,
pessoas já nasciam com desejos sexuais. O problema era que
a
nenhuma contribuição ao campo dos métodos pedagógicos, se
se imaginava a sexualidade como algo que surge bem mais
a
tomarmos o conceito de método no sentido estrito, como
conjunto de ações que visa regularidade, ob;etividade, preyisão adiante, na adolescência, e que os bebês e as crianças'pequenas a
e mensuração de resultados. A Psicanálise não oferece certezas, eram toralmente imunes a sentimentos desse tipo. C
a
.,,
i,l
1

I
76 Psrcorocre o^ EDUc^çÃo Fnruo - PsrcrrÁrrse € EDUc,\çÃo

Freud jamais negou isso, mas âcrescentou que â boca, uma vez
Freud trouxe uma concepção diferente de infância e por
ocupada pela libido, torna-se um órgão que viabilizâ prazer-
isso foi mal aceito durante décadas, especialmente em certos
meios intelectuais. O que ele pretendia dizer era que um bebê,
Em outras palavras, a boca torrla-se um órgão que dá vazão à
atò s,.rgat o seio da mãe, por exemplo, ativava uma energia que
energia sexual.
era da mesma natureza que um adulto ativagq{ndo mantinha Caracteriza-se assim a fase de desenvolvimento. oral' quando
uma relação sexual genital. Deu o nome deQ.b$ta essa energia a sexualidade é vivenciada na relação que a criança estSbelece,
e considerou-a como a energra que move.o ser humano na direçáo por intermédio da boca, com o mundo que a cerca. Dependendo
do'prazer, seja ele uma criança pequena, seja um hornem feito- do rirodo como essas vivências ocorrem, constituem-se certos
'A Ìibido, portânto, é uma energia de natureza sexual, traços de personalidade, especialmente aqueles que dizenr
respeito à imagem que o indivíduo guarda de si.
componente do id, presente no ser hurnâno desde o nascimento,
e é ela que impulsionâ â pessoa em busca de satisfação. E o Impossibilirada de distinguir entre o mundo exteríor -'a
prâzer, para Freud, é a motivação maior de todos nós, poisb que rnãe e os cuidados que esta lhe dispensa - e o seu próprio eu'
dita a vida humana é o "princípio do prazer". Mas esse princípio, ainda em formação, a criança atribui a si mesma as ações que
como já vimos, é interditado pelo superego' norteado por ourro são a ela dirigidas. Assim, dependendo das vivências da
referencial, o "princípio da realidade", originário das ordenaçóes criança, por i4termédio da boca, com os que cuidam dela,
culturais e sociais. Voltaremos a esse temâ, pois ele diz respeito desenvolve-se â. auto-imagem do indivíduo' que poderá ser
às concepções sociais e políticas de Freud. mais ou-menos negati-va ou positiva.

O que interessa no conceito de libido, no moúento, é que .Mais tarde, a atividade excretória do ânus assume relevância
ele permite entender a personalidade como profundamente na. vida da, críança, especialmente quando do treinamento feito
rr;i
pelos pais para que ela aprenda a defecar em lugar certo e horários
marcada por forças de natureza sexual. As énergias envolvidas
i"'íol$' apropriados. A
libi.do,'então, desloca-se para eisa'região, dando
I
no conflito Que gera o ego - seus rraços característicos e seus
distúrbios - são energias libidinais, isto é, sexuais. Assim, o margem-i fase de desenvolvimento anal. As vivências dessa fase
desenvolvimento da libido, energia que assume diversas formas, associam-se a noções de disciplina, gerando maior ou menot
fundamenta a teoria de desenvolvimento elaborada por Freud. senso de organização e método.
No corpo dessa teoria veremos como são constituídos os afetos É preciso ter em mente alguns aspectos importantes da teoria
primordiais que formam a personalidade da Pessoa. freudiana do desenvolvimento. Em primeiro lugar, Freud não
esteve preocupado em estabelecer as idades em que essas fases '

A teoria do deienvolvimento psicossexual se dáo. Cada pessoa é únióa e as suas vivênçias.também são
únicas, o que impede uma demarcação cronológica genérica
A libido é'uma energia e' como tal, necessita localizar-se
aplicável ao desenvolvimento de todas as pessoas.
:

em uma região do corpo, pela qual consegue obter satisfação.


Em segundo lugaq, o que determina uma fase é a ftxação da
Quando nascemos, a região {o corpo que se encontrâ em maior
libido numa certa regiáo do coçpo, como já vimos, o que não
evidência é a região bucal. A boca é responsável pelâ nutrição
quer dizer que a libido não possa estar em dois locais ao mesmo
do recém-nascido, o que é umgatividade essencialmente biológica'
Psrcotocra DA EoucAçÃo Fnruo - Psrc,rNÀltsr E EDUcAçÃo
G
28

i'
ü
maneira não iria impedir as fantagias sexuais de suas crianças.
tempo - na boca e no ânus, por exemplo. Além disso, a mobilidade
da libido permite que ela retorne a regiões do corpo antes Freud não era urn entusiasta da aplicaçáo da Psicanálise aos
G
ocupadas, determinando assim a regressão psicológica do processos educa'cionais, justamente por perceber a ü
indivíduo á cerüas vivências anteriormente prazerosas. .
impossibilidade de acesso direto à dinâmica do inconsciente. ç
Outro aspecto relevante a ser considerado é que, quando ü
A situação edipiana
nos referimos às experiências da criança com os adultos que a .'
- Um d'os tópicos mais conhecidos da teoria freudiana é o que
cercarn o modo como a mãe amamenta a criança, por exemplo
- ü
e completaúos dizendo que essas vivências determinam traços
de personalidade, náo queremos dizer que as atitudes'dos pais
diz respeito à vivência do Complexo de Édipo, fenômeno que
ocorre em uma das fases do desenvolvimento psicossexual, o'
produzam automaticamente o caráter dos filhos. A Psicanálise a fase masturbatória. Essa fase também é conhecida como fase ü
revela que o fator decisivo, no caso, é o modo como o indivíduo frálica, dada a relevância atribuí:la por Freud às fantasias infantis - ü
enxerga - ou fantasia - o mundo exterioç as pessoas e as atitudes masculinas e femininas - sobre o pênis nesse momento da vida Ü'
das pessoas que se relacionam com ele. Não é o mundo tal qual da criança.
ü
ele é, objetivamente falando, que interfere em nossa personalidade, Vale ressaltar que muitas das concepções psicanalíticas foram
|'
mas sim o mundo que subjetivament€ apree-ndemos. Desse modo, construídas com base nas reflexões de Freud sobre esSa fase,
uma mãe, por mais carinhosa e cuidadosa que seja, pode ser especialmente sobre o modo comoos meninos avivenciam. Pouco
ü
experienciada pela criança de modo oposto. espaço restou para a análise da situação feminina, cujas o'
Foi propósito disso que afirmamos, há pouco, que os vúrculos
a conclusões não agradaram nem mesmo ao próprio Freud. j
transferenciais dirigidos ao psicoterape,rtã decorrem de É preciso observar também que Freud descreveu as ocorrências ;
representações intemalizadas pelo paciente na infância. O que dessa fase dç várias maneiras diferentes, tendo inclusive ?
está em causa não são, de fato, as figuras 5eais de seus
progenitores e as ações que realmente empreenderam, mas as
reformulado suas idéias ao longo de suas obras. Vamos nos ater
aqui a uma única linha de análise, dentre as muitas que a
o'
imagèns, construídas pela criança, sobre eles e sobre os seus atos. Psicanálise comporta. ;
A Psicanálise não é uma teoria ambientalista, do tipo que Coruideremos inicialmente que em certo momento da üda -
j
considera nossa personalidade como simplesmente moldada pela por volta de 4 anos de idade, dizia Freud, o que não pode ser G
ação do meio sobre nós. Embora seja assirn, durante muito tempo tomado categoricamente - a criança sente-se particularmente G
supostos adeptos das idéias de Freud utilizaram suas teorias para atraída pelo órgão sexual masculino. No caso do menino, este
percebe sua presença, manipula-o e obtém satisfação libidinal
G
impor normas de bom comportamento aos pais, como se estes
pudessem ser orientados por uma cartilha de atitudes conetas. por seu inteimédio. Já a meninâ, rêss€otê-se por não possuir G
Conta-se que Freud, certa vez, ao teiminar uma conferência,
algo que os meninos possuem. G
teria sido procurado por uma senhora que indagou sobre a melhor Vejamos primeiramente o caso masculino. O rnenino, que G
forma de educar seus filhos. O mestre de Viena teria respondido tem forte ligação afetiva com a mãe, fantasia retribuir o afeto G
que ela poderia fazer como bem entendesse, pois de qualquer que a mãe lhe dedica fazendo uso do instrumento pelo qual ele G
C
30 Psrcorocre DA EDUc^çÃo Fneuo - Psrc,rlÁltsr E €Duc^çÃo

,' próprio obtém prazer - seu pênis. Façamos uma pausa, aqui, uma criança, cujo superego a.inda não se encontra desenvolvido,

I para sublinhâr:euê estâmos nos referindo ao universo de fantasias


da criança. Não valem, portanto, indagações quanto ao
e que, além disso, está sob forte pressão de desejos libidinais.
A situação feminina é de explicação controvertida, conforme
D conhecimento objetivo que o menino possui. para congrerizar já foi dito. A menina, percebendo em si mesma a ausência de
D um ato sexual genital. Ele certamente não possui esse tipo de um pênis, desenvolve profundo sentimento de iqferioridade.
D conhecimento, o que náo impede o livre curso de sua irhaginação. Atribui à mãe a."culpa" por ela ter sido gerada assim e nutre um
f Estamos falando, na verdade,'daquela pulsão de natureza sentimento de ódio pela máe - à semelhança do que ocolre, por

I sexual, já. mencionada, que encaminha o indivíduo na direção


do prazer. E devemos lembrar que o superego ainda não tem
outrâs vias, com o menino.

) bases sólidas nesse momento, ou seja, a criança ainda não


I intemalizou os escrúpulos que nós, adultos, possuírnôs quanto
A superação do Edipo
Como vimos, é durante a fase de desenvolúmento chamada
) ao íncesro. Seu ego ainda é muito sensível às pressóes do id.
fálica que ocorre a situação edipiana, cuja denominação advém
I Assim, o menino tem fantasias de relacionar-se incestuosamente
da análise do caso masculino. Foi sobre as ocorrências na vida
com a mãe. Freud foi taxativo nesse ponto
) dos meninos que Freud mais trabalhou e, conforme veremos logo
Ocorre que o menino, nesse momento,.encontra um
) mais, foidaí também que ele extraiu elementos para.suas reflexões
obstáculo entre ele e a máe: o pai. Fo-rma;sê, .Ér"s-s-ifti, õ chamado
) sobre a sociedade e a cultura. O que interessa no momento é
tríângulo edipiano, irnagem que Freud foi buscar na tragédia verificar como a crise edipiana é superada e como se dá o
) grega,escrita por Sófocles, no século IV a,C. O menino
desenvolvimento psicossexual dali por diante.
) desenvolve em relação ao pai um seniimento que Freud não
Vamos púmeiramente à situaçáo do menino que, conforrne
) ,
t,itu,!r:
titubeou em denominar "ódio".
.$ìl!Èü' já.vimos, sente ódio pelo pai. Ocorre que o menino, ao mesmo
)
O leitor poderá âpresentar, neste ponto, uma série de tempb que odeia, e por isso mesmor passa também a temer o pai,
indagações sobre as múlriplas possibilidades de variação nesse
I a sêntir que este poderá castigá.lo como retribuição pelos
triângulo. E se não houver a presença do pai na famfliaÌ E se o
sentimentos negativos que lhe são dirigidos. O castigo fantasiado
)
menino não o enxergar como adversário! Devemos então
pelo menino viria na forma de casrração. O pai poderia retirar
) esclarecer que essâ narrativa de Freud apresenta uma sit'uação
dele o instrumento pelo qual ele fantasia a satisfàção de seus
geral, uma linha de desenvolvimenro Ëípica, e que as
desejos incestuosos: o pênis.
I

conseqüências de eventuais desvios só poderâo ser analisadas


em cada caso específico, preferencialmence qm situação de
À angústia que Freud chamou de angústia de castração
soüa-se a ambigüidade de sentimentos vivenciada pelo menino,
psicoterapia
adiffcil situação de odíar e amàr a mesma pessoa - pois o menino
Quanto âo sentimento de ódio, vale lembrar o que já foi nufre sentimentos de amor pelo pai, em semelhante intensidade.
dito a.cima quanÍo à ausência de barreiras morais bem
estabelecida!, nesse momentb da vida da criança. O que para A superação da situaçáo edipiana vem, segundo Freud, com
nós pode parecer inaceitável - odiar o próprio pai - não o é para a intensificação do amor, o que se dá na forma de identificação,
32 Pstcotocra o,r EouceçÃo Frruo - PsrceHÁtrst E EDUc^çÂo
f
exacerbação de amor que mesmo alguns adultos sentem: querer à fase fálica ftcam ocultos no incorsciente, reprimidos por ação
ser como ele implica deixar de ser eu mesmo. Ao identificar-se dessas norrnas morais, sobre as quais muitas outras são ergúdas
com o pai, o menino coloca em ação um mecanismo psicológico no decorrer da vida da pessoa.
que visa ocultar o ódio que sente. Livra-se ÍÌssim, ao mesmo tempo,
Mas, como sabemos, os conteúdos do inconsciente não ficam
de sua angústia de castração e da insuportável ambigüidade de
lá sepultados docilmente. Eles exercem poderosa pressão para
senËimentos - amor e ódio - relacionados ao pai. Com a menina
manifestar-se à luz do ego, para chegar ao plano consciente.
pâssa-se algo semelhante. Ela identifica-se com a mãe, afastando
Entretanto, não é isto o que ocof,re nos anos que imediatamente
deste modo o ódio.
se seguqm. Os conflitos váo eclodir mais tarde, no início da
Menino e menina, cada qual à sua maneira, identificam-se puberdade.
com pessoas de seu mesmo sexo, o que abre a possibilidade de
.:i,$".:r
que venham a desempenhar, dali por diante, papéis sexuais Latência da libido e Íase genital -
"ïni
compatíveis com o que a sociedade espera . - mesmo, dizia
"ié Referimo-nos, até aqui, a experiências que o indivíduo
Freud - para o bem da preservação da espécie, uma vez que o
vivencia na etapa pré-escolar, que antecede os estudos seriados
encontro camal de macho e fêrr.rea torna-se factível.
indispensáveis para a formação do educando. Embora o tema
AsuperaçãodoÇ-o-rlp!q(gdcÉdlps.,p1e.-fi $Àfas-e*fálica. das relaçõês'da criança com os profissionais que lidam com ela
Mas para onde vai o ódio sentido por meninos e meninas? nessa fase seja atraente, não trataremos dessa especificidade.
Para onde vai o sentimento de inadequaç{o ou inferioridade Consideraremos que o professor entra em cena a partir da primeira
das meninas e o desconíortável temor de castração dos série do ensino fundamental, quando a criança tem por volta
meninos? Onde fica a libido qu" mõti'oou o desejo incestuosol de sete anos de idade.
To{as essas energias não desaparecem, mas são afastadas,
coníorme afirmamos. Elas são afastad3s da consciência, isto é,
O professor passa a conviver com a criança quando ela está -
pelo menos teoricamente - saindo da fase edipiana. As ob.servações
da área de visibilidade do ego. Tomam-se, portanto, inquilinas
de Freud sobre os ános que vão até o início da puberdade o
do inconsciente.
levaram a verificar um comportamento atípico da libido. Desde
Freud considerava que só um grande deslocamento de o nascimento da crianEa essa energia psíquica vinha ocupando
energia ê capaz de reprimir o ódio vivenciado na fase fálica. Um determinadas regiões do corpo - a boca, o ânus, os órgãos
deslocamento de energia tão monumental que arrasta consigo, genitais - mas agora isto não ocorre. Estamos falando de uma
para as regiões sombrias do inconsciente, todos os sentimentos linha de desenvolvimento genérica, é.claro, e genericamente
desconfortáveis experienciados naquele momento e, mais ainda, esta.é uma fase da vida em que não há localização física da
todas as vivências infantis - orais, anais, masturbatórias. libido.
Esse é o momento decisivo de constituição do superego, que Inicialmente Freud chegou a pensar que a libido se
incorpora, dali por diante, certas normas fundamentais, certas encontrava em latência; que a energia sexual ficava reclusa até
proibiçóes decisivas. Dentre elas, o horror ao incesto e o que novas ocorrências no corpo da criança justiíicassem sua
impedimento de odiar o pai. Os verdadeiros sentimentos ligados manifestação. Posteriormente concluiu que a libido está em
I'
) Psrcor-ocra oe EouceçÃo Fnruo - PsrcrruÁltst E EDUc^çÃo

,
) atividade, sim, energizando atividades que vinculam o corpo e e, na situação escolar, poderá idendficar-se com o professo4, o
) â mente da criança ao ambienre que â cerca. É quando os jogos, que será útil ao bom relacionamenro, de ambos.

) as brincadeiras, os esportes e as atividades escolares passam a A partir do início da puberdade, porém, todo esse quadro
deqempenhar papel mais relevante na vida infantil. sofre profunda alteração. Devido às alterações biológicas que
)
A Psicanálise considera que o mecanir*o a.rS-.g1]-ç - começam a ocorrer nesse momento, a libido tein sua força
) deslocamento de libido para fins socialmente aceitáveii-- atua intensificada na direçáo do corpo da criánça, particulârmente
) fortemente nessa fase. Vale lembrar que grande quantidade parâ as zonas genitais. A força pulsional agiganta-se e faz
) dessa energia foi reprimida ao término da fase masturbatória, aumentar a pressão pâra que retornem os desejos infantis
) está contida no inconsciente e buscâ manifestar-se ao nível do reprimidos ao término da fase fálica.

) ego. A libido é enrão canalüada na direção de uma ou mais Inicia-se assim a fasé genital de desenvolvimenÈo da libido,
esíeras de atuação do indivíduo. A criança sente-se atraída gerando fenômenos que conhecemos como cúe da adolescência.
) para um certo brinquedo, uma matéria escolar, uma atividade As pulsões orais e-anais querem sâtisfação, ocorrendo o mesmo
) ftsica, podendo inclusive destacar-se num desses campos, dada com o desejo incestuoso e o sentimento de ódio ao pâi, o que
) â concentração de energia que ali se forma. pode gerai sensíveis distúrbios do ego. Sentimentos e desejos
) O fenômeno da aprendizagem, porranto, segundo a Psicanálise, vivenciados na fase fálica e nas fases anteriores entram agora
) depende do modo òôriro sê-dã o aprovãitãmã"io aá fËiao.-fr." em ïntèãiô confliio com as bámeüas do superego, já bastante
proposição não diz respeito apenas à fase de latência, pois todos fortalecidas
)
os envolvirnentos do indiúduo com o conhecimento - interesse, Impossibilitadas pelo superego de manifescar-se em sua
)
desejo de saber, recusa em aprender etc. - são influenciados verdadeira forma, essas energias surgem no plano consciente
) ',I'ri pelo inconsciente.
,, sob outra aparência. Podem eclodir sintomas neuródcos, fato
)
Se imaginarmos uma linha genérica e normal de comum nessa idade. A aversão às autoridades é outra ocorrência
) desenvolvimento, o que exclui manifestações particulares e que chama a atenção nessa etapa da vida e que diz respeito à
) desviantes, podemos dizer que os primeiros anos da escolarização relação do adolescente com a esco'la. O professor, simulacro da
I
podem ser altamente proveitosos para a criança. Ao rrabalhar figura patema, passa a ser o alvo de representações transferenciais,.
os conteúdos escolares, o professor pode ter a sublimação a seu usualmente' negativas-
favor e, é claro, a favor do crescimento intelectual e social do Já que estamos tratando de uma linha de desenvolvimento
aluno. O professor lida com energias sexuais reprimidas que, típico, podemos dizer que o término desses conflitos.dá-se com
extravasadas para a região consciente,.poclem ser empregadas a a possibilidade de satisfação plena da libido, concenÈrada nos
serviço da equilibração do ego. órgãos'genitais. No plano afetivo, isto significa a ligação âinorosa
Outro aliado do nabalho pedagógico é a identificação, do indivíduo com outra pessoa. Mas é bom lembrar que, de
mecanismo que a criançs d",genvolveu como forma de superação acordo com a teoria psicanalítica, é duvidoso falar em término
do conÍlito edipiano. Se o seu emprego foi bem-sucedido naquele de conflitos, assim como é falacioso pensâr em cura de neuroses,
momento, o indivíduo continUaná lançando mão desse mecanismo como já mencionamos anteriormente. O que se pode afirmar é
I

I
Psrcor.ocre or EouceçÃo Fneuo - Psrc,rxÁlrse E EDUc^çÃo

i' I

que o indivíduo encontra um ponto de equilíbrio entre seus para ficar em extremos - são exem$os de casos que muitas vezes I
desejos inconscientes e as exigências da realidade que agem obtêm a confirmação de suas tendências nas atitudes do
i
sobre seu ego. ; professor. Ao invés de amenizar certas inclinações já constituídas,
I
o professoç por descuido ou excesso de zelo, acaba fazendo
Limites e possibitidades da Psicanálise na educação recrudescer traços de personalidade que trazem sofrimento ao (

Comenta.se muito - e até se fuma na legislaçáo educacional educarrdo. I

- que uma das tarefas da educação escolar é contribuir para a O psicanalista francês Georges Mauco escreveu que uma I

formação da personalidade da pessoa. Sob o prisma da Psicanálise, das contribuições da Psicanálise à educação consiste em elucidar I

essa pretensáo deve ser relativizada, pois os alicerces do caráter a importância do mestre como modelo e possibilitador de diálogo.
t'
do indivíduo já se encontram firmados quando ele vai pela Como modelo, porque a teoria psicanalítica não deve ser
primeira vez à escola confundida com ausência de autoridade e liberdade total para
a realização de desejos reprimidos. Mauco ressalta a integridade
Quando o professor entra em cena na vida da criança, tem
diante de si um indivíduo cujos traços fundamentais do ego já psicológica do mesrre como recurso para a boa equilibração da
ergio_ ççdgngsrgqdo- gp vivê11ciap gmto: ?F3f: Ig?:!uJpg!gg?s, personalidade dos alunos. Ao fomecer-lhes um ego ideal com
s.,"
lQ{qs
todo o conflito edipiano que sustenta o superego, enfim, qúe posSâm'identifiéàf-se, o professor trabalha para que as
traços fundamentais do ego e de suas relaçóes cgm o id já se energias irracionais do inconsciente possam ser convertidas
encontram deftnidos nesse momenÈo. Recalcamentos, repressões, em forças socialmente úteis.
mecanismos de defesa do ego e de ocultâmento.de desejos já Possibilitar diálogo significa, para Mauco, respeitar a pessoa
fazem parte da personalidade. O que pode fazer o professor, enrão? e manter a necessária distância entre adulto e criança, para
Vimos que o professor, orientado pelgs conhecimenÈos que esta possa adquirir autonomia e compreensão das regïas
psicanalíticos, dispõe de saberes que lhe permitem conhecer - que consËituem a vida coletiva. Reaffrma-se, assim, o papel do
ou ao menos supor - o que se passa com seu aluno nas diferentes mestre como autoridade capaz de nortear a vida pulsional de
fases de seu desenvolvimento, o modo como sua libido se seus educandos, antes que outras agências sociais o façam,
manifesta, os conflitos que pode estar atravessando e as angústias causando danos para o indivíduo e para a sociedade
de que pode estar sendo vítima. O professor que compreende a O professor pode contribuir muito, a começar, sem dúvida,
Psicanálise está à frente dos demais, pois tem em mãos qm quadro pelo abandono do sentimento de onipotência que atribui a ele-o
de refetências que fornece um panorama, ainda que não poder de moldar a personalidade do aluno. Uma das aflições do
específiço, sobre a vida psíquica da criança e do adolescente. educador,'não só nessa etapa da escolaúação, é a incapacidade
Mas o professor não constrói a personalidade de seu alirno. que sente diante de certas aËitudes das crianças e dos jovens.
Ele pode, sim, agir de modo a não agravar certas tendências do O professor possui objecivos, conceitos e valores que deseja ver
caráter dè seu educando. Uma criança que possua auto-imagem refletidos nas pessoas que educa e sente-se frustrado, muitas
excessivamente negativa, um jovem obcecado pela ordem e pela vezes, por não conseguir fazer valer o seu exemplo de vida. Seus
disciplina, um aluno que agride desmesuradamente as autoridades alunos não são as pessoas que ele gostaria que fossem.
-
t
- 38 Psrcorocre o^ Eouc^çÃo Fnruo
- - Pstc^NÁUs€ E EDUc^çÃo

-,
Essa frustração instala-se quando o professor,não percebe a
- Seus estudos o levaram a perceber a ausência de explicações
{ dinâmica de seu inconsciente e se deixa levar pór vínculos plausíveis sobre a proibição ao incesto, rabu existenre em
transferenciais. Mais ainda, quando não considera a história de
praticamente todas as cultúras. Unindo os resultados das
- constituição da penonalidade do ourro. A busca do enrendimenro
observaçõés clínicas psicanalíticas às conclusões da antropologia
- desses dois aspectos, presentes em todas as nossâs relações
de suà época, Freud elaborou uma nanativa "histórica" sobre
- interpessoais, não só as que se pâssam na escola, é uma maneira
fatos de um tempo distante. A expressão "histórica" deve ser
de amenizar frustrações.
-
t É preciso reconhecer que seu esfoiço como professor pode
lida com cuidado, uma vez que Freud construiut segundo suas
próprias palavras em Totem e Tabu, "um vislumbre de uma
não obter muiros resukados na formaçáo da personalidade do hipótese que pode parecer fantástica" mâs que vinha ao enconrro
-
t aluno, e isto não implica apatia e aceitação cômodd dos problemas de seus objetivos.
t com que se depara. Esse reconhecimento ocasiona, isto sim,
A narrativa.do criador da Psìcanálise pode ser âssim
t empenho ainda maior na superação de seus próprios conflitos
resumida. No tipo mais primitivo de organizaçáo sociàI, as
a interiores e a percepção dos pequenos ganhos que um simples
gesto pode trazer-
pessoâs viviam em pequenos agrupamentos compostos por um
homem, suas mulheres e seus filhos. O chefe era um pai
- É ..rto que o paradigma pri.""ãtiiiãô ãor'poita
''ì--r--- --- -.
violento e ciumenro que sê apiôpiiaïã dã-s íêmeas com
, "â" dè ação
indicações quanto aprocedimenros, técnicas ou modelos exclusividade e expulsava os membros masculinos do grupo,
pedagógica, o que caberia ser desenvolvido por especialistas em assim que estes cresciam. Numa dessas hordas, os filhos expulsos
-
a 'il..
r.Sni:J,
.
metodologia de ensino. Como paradigma, a Psicanálise não passa retomaram, certa vez, e assassinaram o pai.

a de um referencial de compreensão do ser humano. Eis o seu


papel como ciência, que contribui para uma Psicologia da
Essê ato, contra o qual ainda não havia qualquer proibição

a Educação.
moral ou jurídica, colocou o grupo em total desordem. Os jovens

a foram tomados pelo sentimento de culpa, pois odiavam o pai


mas também o amavamr e além disso começaram.â lutaÍ entre
a Concepções sgciais de Freud
si pelas mulheres. Colocado em risco o agrupamento, os assassinos

a No plano do desenvolvimenro individual, já vimos o conflito


que opõe as pulsões sexuais e os ordenamentos morais
estabeleceram dois acordos fundamentais: a proibição do
a internalizado pelo superego. Esse conflito entre o princípio do
homicídio e o impedimento de relaçóes sexuais com mulheres
da própria horda.
€ prâzer e o princípio da realidade rermina com a virória deste
O sentimento de culpa dos filhos gerou, assim, os dois tabus
a último, consubstanciada na predominância da pulsão genital que deram origem à civilização que hoje conhecemos: "não
e sobre as pulsões infantis. Em algumas de suas obras, Freud
dedicou-se a enconirar, na história da humanidade, eventos
matarás'l e "não cometerás incesto". Observe-se que a üâma
Õ que pudessem auxiliar a,compreensão desse processo de
elaborada por Freud, bem como o seu desfecho, coincide com a
tÇ situação edipiana que ele considerou parte constituinte da vida
desenvolvimento individ,r"ï quu, segundo ele, fazfarte da vida de todos os seres humanos do sexo masculino. Freud entendia
C de todos os seres humanos.. que essá trama data dos primórdios da.hurnanidade, tendo sido
a
Ç
g
g
40 Psrcor.ocra D^ EDUc^çÃo
Fneuo - PsrceNÁrrsr E Éouc^çÃo
g
v
,tl

escrita por Sófocles no século IV a.C. com base em mitos contados


semelhantes, desenvolveram nonnas para conter a agressividade
e a impulsividade sexual e, a partir de então, progrediram em
I
de geraçáo em geração. r i *
tomo de nobres sentimentos gregários.
O que Freud concluiu, portanto, é que a atração sexual do *
menino por sua mãe e o ódio por seu pai são sentimentos que i
estiveram presentes na origem de nossa civilização. E que a
Educação e sociedade I
proibiçao ao incesto - bem como ao homicídio - foi o que Sob a ótica da concepção freudiana de sociedade, qual é o *
permitiu o desenvolvimento dessa mesma civilização. O horror sentido da educaçáo, seja no laç seja na escola? Inevitavelmente, ü
ao incesto transformou-se, com o tempo, em ulna série de outras a educação visa reprimir a energia sexual para convertê-la em ry
repressões da pulsão sexual, ao ponto de em cçrto mômento só sentimentos que possam ser empregados em prol da harmonia
social. Este pressuposto aplica-se a qualquer tipo de organização
ü
sermos capazes de obter prazer genital, só nos ,permitirmos ,ü
ligações monogâmicas,. com pessoas de outro sexo e asim por social, capitalista ou socialista
,út
diante. O que Freud quis dizer é que não existe a mínima
O princípio do prazer, portanto, deve ceder ao princípio da possibilidade de vivermos coletivamente sem que cada indivíduo ü
realidade em benefício da constituição da ordem social, como aprenda sentimentos como solidariedade, fraternidade e ?
_a-al--. --_
tor no lnÍcro, quando os runos nveram que rmpor a sl mesmos cooperagão. 'E estes. sent'iÍnentos são .rea-hnente aprendidos, rct
segundo ele; náo são próprios do ser humano, conforme ficou
aquelas proibições em prol da existência da horda. Daí Freud
evidente nos eventos da horda primitiva. Como são resultados
o|
ser absolutamente cético quanto à possibilidade de'criarmos 'er
uma sociedade desprovida de repressão sexual. OrgariiÀção de aprendizagem, precisam ser ensinados, pela famflia e pela
social e sexualidade reprimida sáo termos gêmeôs. O primeiro escola. ?
não existe sem o segundo. Entretantol desenvolver sentimentos desse tipo, construtores J
Mais ainda, Freud via que quanto mais ãesenvolvida e da sociabilidade, não é tarefa íâcil.Já vimos que a criança nasce J
sofisticada toma-se nossa sociedade, maior é a repressão sexual com pulsões totalmente não socializadas, egoístas, que buscam j
imposta a seus membros. Ou, se quisermos inverter essa equação: exclusivamente o prazer a qualquer preço. Essas energias que
formam o id precisam ser reprimidas para que parte delas possa
ü
quanto mais repressão à libido, maior o progresso social e cultural.
Tiata-se, aqui, da concepção de Freud em que a energia sexual ser convertida - sublimada - em favor da vivência grrrpal ô
j
reprimida converte-se em sentimenros úteis à convivência social - Nessa perspectiva, pode-se imaginar que os educadores
a sublimação, conforme já vimos. adeptos da Psicânálise sejam favoráveis a uma escola ]
Esses sentimentos produzidos pelo cbnstrangimento à organizada de,acordo com os moldes tradicionais, impositora, )
sexualidade - amizade, fraternidade, amor ao próximo etc- - castradora, autoritária. Não é o que acontece, conforme'foi )
são empregados para contrabalançar a agressividade inata do assinalado aqui mesmo nestas páginas. Em geral, os autores j
ser humano. O mesmo que ocolreu com os filhos que assassinaram
que reÍletem sobre a educação sob a inspiração das idéias
j
o pai na horda primeva. Eles tiveram que interditar seu próprio psicanalíticas tendem a posicionar-se favoravelmente a posturas
nrâzêr aroqnizerqnt-sê aômaì Íyrtrno nlle não mata.sgus menos repressivas no trato com crianças e jovens. )
#' Psrcor.ocre or EouceçÃo

{
I Um'exemplo real e interessante.vem de Summerhill, a escola
inglesa criada nos anos de L920 - e que existe ainda hoje, aliás -
CepÍrur.o ll
*
a
I

por A. S. Neill, cujos livros tiveram grande Sucesso em nosso


país nas décadas de 1960 e 1970. Naquela instiruição os alunos
l=_J
Pavlov, Watson e Skinner -
I Comportamentatismo e Educação
{ têm toda liberdade para estudar o que quiserem, na hora em
tÜ que bem desejarem, sob uma orientação pedagógica não-
a diretivista. No corpo teórico dos argumentos que sustentam
Summerhill, há conceitos niridamente inspirados na Psicanálise,
{
favoráveis à liberação dos desejos de cada um - dentro de O Cor,aponravENrALISMo - ou BEHÁvroRIsMo, termo oriundo da
{ norrnas definidas coletivamente - em benefício do bem-estar Iíngua inglesa - originou-se nos meios acadêmicos dos Estados
{ de todos. Unidos da América, criado pelo pesquisador John B; \üarson,
L Como é possível a existência de uma escola corpo Summerhilll nascido em 1878 e falecido em 1958. As idéias de Varson ficaram
u Ou ainda, como podem os educadores psicanálistas endossar conhecidas como Behaviorismo Metodológico, o que as
a um sistema de ensino baseado em menor rgpressão? Se Freud diferencia de outras vertentes comportamentalistas surgidas
a estiver certo em suas análises, a liberação de desejos conduz mais tarde.

a inevitavelmente à barbárie, e não à cooperação.


Ocorre -que a' transposição -dos-ensin'anerrtos- drPsicanálise
Antes de \7atson, porém, as bases desse paradigma já haviam

a pâra o câmpo da educação escolar - da mesma forma que para


sido=uaçad-as, de- certo mo-do; pelo eiëÍifbã" Ivõ P' Paltm; qrie
nasceu na Rússia em 1849 e morreu nesse mesmo pdís, então
a outros setores de nossa vida - é um processo complexo em que União Soviética, em 1936. Pavlov foi um renomado fisiologista,
a estão envolvidas várias decisóes. Uma delas diz respeito ao ganhador do Prêmio Nobel de 1904.
D equaqionamento entre liberdade e autoridade, terreno em que Outro expoente desse paradigma foi Burrhus F. Skinner,
a o professor é colocado quandb opta pelo paradigma psicanalítico
como guia de suas ações. Ourra decisão crucial, estreitamente
pesquisador norte,americâno que viveu entre 1904 e 1990. Ao passo

a vinculada à primeira, é quanto ài ffnalidades sociais e políticas


que o primeiro trabalho relevante de.'lü(/atson, coúecido como

a em que situa o seu trabalho


Manifesn Belwviurisn, foi publicado em 1913, as pesquisas de
Skinner tiveram maior divulgação a partir do início dos anos de
a Somente uma ampla reflexão sobre esses ternâs permitirá 1940. Sua abordagem é denominada Behaviorismo Radical.
a encontrarmos o caminho que melhor possibilite à Psicanálise
a oferecer contribuições para a Psicologia da Educação. O afastámento de conceitos não-observáveis :.

a A mais imporranre afirmação paradigmá[ica do


Comportamentalismo diz respeito ao tipo de fenômeno a ser
) estudado pela Plicologia para que esra seja considerada ciência.
a Segundo Watson, uma psicologia científica não deve ousar
a d
dedicar-se a compreender o ser humano por intermédio da
a
a

Você também pode gostar