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« LANÇAMENTO DO LIVRO

do sujeito com sua imagem. O amor que a descoberta


do narcisismo permitiu a Freud reconhecer como “amor
DE CARLOS AUGUSTO de si” explicita a direção que toma a libido, investindo
NICÉAS O AMOR DE SI » amorosamente o eu.
O amor, portanto, na teoria freudiana, é inicialmente
O amor de si, 1ª ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
narcísico. Resta a Freud saber como se dá a passagem
É com imensa alegria que a Seção PE faz o lançamento do amor de si para o amor do outro, que supõe um
do livro de Carlos Augusto Nicéas. Introdução ao transbordamento pulsional entre diferentes registros? O
Narcisismo: o amor de si. (Nicéas, 2013)1 amor imaginário de que o narcisismo é tributário vai ser
desdobrado em direção ao registro do simbólico em que
Nicéas é pernambucano, médico e psicanalista, Analista o Outro da fala se constitui como objeto de investimento
Membro da EBP – AMP. Assumiu diversas funções na libidinal. Um novo laço se estabelece por meio de
EBP e hoje faz parte da primeira Comissão de Garantia. palavras, inscrevendo-se dessa forma as histórias de amor.
Trouxe sementes fecundas através do seu ensino quando
a Escola chegou efetivamente a Pernambuco. Seu livro As histórias de amor, Freud ouviu dos seus analisandos,
integra a coleção Para Ler Freud, coordenada por Nina não necessariamente como nas declarações do amor, mas
Saroldi, publicada pela Editora Civilização Brasileira. nas cores de um amor de transferência. A transferência
Os autores da coletânea trabalham temas escolhidos em está no começo da experiência analítica e estabelece, antes
função da relevância na obra de Freud e nas discussões de tudo, que no dispositivo freudiano há uma relação de
da atualidade. Introdução ao Narcisismo: o amor de si dependência estreita da estrutura da transferência com a
apresenta-se expressivo, hoje, quando a imagem tornou- linguagem.
se uma referência maior, ou, como diz Nina Saroldi, os Nicéas nos deixa, ainda, a possibilidade de observar
espelhos se multiplicaram. a configuração da sociedade atual, e constatar que o
Apoiado na sua experiência clínica, Nicéas retoma o narcisismo apresenta-se cada vez mais em nossos laços
percurso traçado por Freud e as viradas de seu ensino e redes sociais, onde os sujeitos se mostram sempre
que dão corpo ao conceito do narcisismo, dando especial glamurosos para que sejam admirados pelo outro. O
destaque ao campo das pulsões. O narcisismo, entendido autor constrói todo o seu texto utilizando-se de uma
como expressão do investimento libidinal no próprio eu, linguagem acessível a todos que se interessem pelo tema
não se colocou para Freud como um conceito de fácil do narcisismo, e com o rigor teórico que lhe é próprio,
acesso: “Eu pari com dificuldades o Narcisismo”, afirma demonstrando o fio condutor estabelecido por Freud
no texto Teoria do narcisismo 2de 1914, de onde Nicéas para construir o conceito do narcisismo.
retoma a passagem do autoerotismo para o narcisismo, Rosane da Fonte
momento onde o corpo despedaçado se dirige para a sua [Analista praticante, EBP/AMP]

unidade, prefigurada pela imagem do semelhante, que se


oferece ao bebê para ser tomada como seu eu.
Segue com as indicações de Freud em seu texto3 de 1923,
“O Eu e o Isso”, relativas ao estatuto corporal do eu,
“o eu é antes de tudo corporal”. Avança percorrendo
as referências de Lacan sobre o estádio do espelho em
que reitera o lugar dado à imagem do corpo próprio,
que emerge da dialética especular. Essa especularidade
estrutural projeta-se nas relações com o outro onde
transita todo sujeito.
O autor articula os textos de Freud, 1914 e 1923 e o
escrito lacaniano O estádio do espelho, para dizer que
no alicerce do narcisismo se tece uma relação amorosa

2 FREUD, S. [1914]. Sobre o Narcisismo: uma introdução. ESB, v. XIV.


Rio de Janeiro: Imago, 1990.
3 _________ [1923]. O Eu e o Isso. ESB, v. XIX. Rio de Janeiro: Imago,
1990.

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