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Santo André
2015
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SUMÁRIO
I. Resumo........................................................................................................................01
II. Introdução................................................................................................................01
III. Objetivos ...............................................................................................................06
IV. Justificativa ...........................................................................................................06
V. Metodologia..............................................................................................................08
VI. Cronograma preliminar........................................................................................09
VII. Bibliografia............................................................................................................10
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RESUMO
Este projeto tem por objetivo investigar os reflexos da criminalização conforme
estereótipo e o aumento da (i) legitimidade do crime organizado, principalmente entre
as classes mais desfavorecidas e a consequente perda de legitimidade da polícia.
Demonstra que as ações da polícia são na sua maioria dirigidas contra pessoas que se
encaixam no modelo de criminoso, ou seja, os integrantes das camadas mais pobres, o
que resulta numa maior criminalização de uma parcela da sociedade. Enfoca também a
forma com que os moradores da periferia enxergam, reconhecem a atuação da polícia.
Revela que os policiais são temidos e tidos como mais perigosos que os próprios
criminosos. Esse desprezo é recorrente na manifestação da cultura musical típica da
periferia. Igualmente torna-se visível que o crime organizado assume a regulação e
mediação de conflitos na periferia, notadamente de São Paulo. Partindo da hipótese da
existência de uma verdadeira guerra entra a polícia e a periferia, busca propor soluções
que reduzam o enfrentamento da violência a partir de estereótipos e o resgate da
legitimidade da sua atuação em muitos bairros pobres. Será realizada pesquisa
bibliográfica e visitas às Academias das Polícias Civil e Militar no Estado de São Paulo,
bem como nas associações de bairros das periferias.
1. INTRODUÇÃO
A sociedade brasileira enfrenta uma guerra. É essa a impressão que se tem ao
assistir qualquer telejornal. Criminosos cada vez mais violentos e audaciosos, que
deixam uma sociedade atemorizada e clamando por Justiça, ou melhor, por punição.
O medo generalizado faz surgir uma nova cruzada (BATISTA, 2000) e os
policiais são os cruzados de agora. Alguns realmente imaginam que estão numa
verdadeira guerra santa. Logo até mesmo o extermínio é justificável contra o mal,
representado pelo criminoso.
Surge aqui o primeiro ponto de reflexão. O policial pratica o mal, imaginando
que faz o bem, pois pensa que está combatendo um inimigo feroz e irrecuperável.
De um lado se tem uma polícia que usa um sistema penal subterrâneo, calcado
no desrespeito dos direitos fundamentais. E de outro, uma população, principalmente
das camadas mais pobres da sociedade, que, além de não confiar, tem medo e odeia a
polícia.
A perda de legitimidade da polícia contribui sobremaneira para o não
arrefecimento da criminalidade. Isso porque, o sistema penal subt
errâneo não é destinado a todos indistintamente, é voltado apenas àqueles tidos
como criminosos. E quem são os criminosos? Numa palavra, os pobres! E onde estão
os pobres? Na periferia!
Existem duas formas distintas de a polícia agir, uma para os “cidadãos”, a qual é
respeitosa e outra para quem mora na periferia das cidades brasileiras, esta
extremamente violenta, admitindo, inclusive, a pena de morte. Aliás, os moradores da
periferia, na visão policial, são sempre suspeitos, principalmente quando se atrevem a
sair da periferia. Prova disso é a recente ordem do Comando da Polícia Militar de
Campinas para que os policiais “abordassem principalmente indivíduos de cor negra ou
parda” (Pellegrini, 2013).
A atuação policial e repressão ao crime são pautadas por estereótipos. Um
indivíduo que se encaixe no estereótipo de criminoso, provavelmente será submetido a
sucessivas abordagens polícias, principalmente quando se atreva a sair da periferia. E o
pior, a própria polícia relega a periferia ao segundo plano. São os bairros menos
policiados, além do que trabalhar na periferia é uma forma de castigo ao policial. Surge
um perverso paradoxo. Onde deveriam trabalhar os melhores policiais trabalham na
realidade os piores.
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Essa forma de ação faz com que o trabalho policial perda a legitimidade, isto
porque a população, como já dito, não só não confia, mas também passa a temer a
Polícia.
Carece de legitimidade a atuação policial focada em estereótipos, pois na
realidade indica a existência de um aparato policial voltado para o controle das classes
menos favorecidas. A polícia a serviço de poucos é fatal para a democracia. Nesse
sentido, Stuart Mill (1964, p. 86) advertiu que “um dos maiores perigos da democracia,
como de todas as outras formas de governo, está no sinistro interesse dos que ocupam o
poder: É o perigo do governo destinado ao benefício da classe dominante, em
detrimento permanente de todos”.
É evidente que a autuação policial voltada especificamente para uma parcela da
sociedade faz com que essa parcela seja mais criminalizada. Esse é o nefasto efeito da
criminalização secundária. Ou seja, é a polícia que escolhe sobre quem vai recair o
ordenamento penal. É aplicação de verdadeiro direito penal do autor, baseado no que o
indivíduo é, e não naquilo que ele fez.
Outra consequência desse quadro é que o policial fica refém na própria
comunidade. Tem que se esconder, não pode ir para casa com uniforme, o filho não
pode comentar a profissão do pai na escola. Isso acaba isolando e distanciando o
policial do povo. Ele passa a relacionar-se somente com seus colegas de serviço,
criando uma subcultura, na qual ele vive preso no meio de sua gente. Por mais absurdo
que pareça a maioria dos policiais são oriundos da mesma camada social, que depois
passa a considerar como inimiga. Ou em outras palavras é uma guerra de pobres contra
pobres. Para Zaffaroni (2003, p.56) o drama dos policiais é o mesmo do povo, já que:
O estereótipo policial acha-se tão carregado de racismo, preconceitos
de classe social e outros tão deploráveis quanto aqueles que compõem
o estereótipo criminal. Isto acarreta para a pessoa uma considerável
grau de isolamento no que concerne a seus grupos originários de
pertencimento, bem como o desprezo das classes médias, que mantêm
a seu respeito uma posição completamente dúbia. As exigências
quanto ao papel policial se originam em um imaginário alimentado
grandemente pela difusão de entretenimentos (filmes ou seriados de
ficção) aos quais não pode a realidade adequar-se nem seria
conveniente que tratasse fazê-lo, e o contraste com o comportamento
concreto provoca frustração e repúdio que se associam aos estigmas
esteriotípicos.
3. Em suma, este setor se vê instigado a assumir atitudes antipáticas e
inclusive a ter condutas ilícitas, a sofrer isolamento e desprezo, a
sobrecarregar-se de estereótipo estigmatizante, a submeter-se a uma
ordem militarizada e inumana, a passar por uma grave instabilidade
no trabalho, a privar-se dos direitos trabalhistas elementares, a correr
6
Como não poderia ser diferente, a autora questiona quais as razões que
permitiram que o crime organizado, principalmente nas periferiais, substituísse o
7
Até quando? Essa é a pergunta. Até quando a sociedade vai tolerar essa guerra?
É preciso resgatar a legitimidade da polícia. Mas como fazer isso? Por meio da
educação em direitos humanos? Enquanto a repressão ao crime for orientada por
estereótipos impossível. Será sempre a guerra dos pobres contra os pobres.
Na realidade essa condição de opressão interessa às classes dominantes, pois
enquanto os desprivilegiados lutam entre si, não incomodam os que controlam a
sociedade.
2. OBJETIVOS
sociais, nessa população, assim como para minimizar as normas impostas pelo crime
organizado.
Atuação da polícia como meio para concretização do Estado Democrático de
Direito.
3. JUSTIFICATIVA
fins da pena. Todavia, como afirma Nilo Batista (VER OBRA), discutir os fins do
direito penal deveria ser discutir os fins da pena – e, no entanto, não é 1. A pena
um só e indivisível projeto.
1
NILO BATISTA (INTRODUÇÃO CRÍTICA AO DIREITO PENAL BRASILEIRO)
9
de Nilo Batista
2
NILO BATISTA, INTRODUÇÃO CRITICA AO DIREITO PENAL –VER PAGINA
10
discriminação.
3
PAULO DE SOUZA QUEIROZ, 121
4
PAULO DE SOUZA QUEIROZ- 122
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Direito, contudo, não significa dizer que deve ser garantida apenas no aspecto
de satisfação.
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo aos
sentimento pessoal de satisfação pela própria vida que deve lhe devotar o
máxima utilidade possível dos “não desviados” não só não oferece critérios
maximizá-las.
E continua
quais esses direitos não podem ser sacrificadas, pois o homem na formação do
pacto social transferiu apenas parte da sua liberdade em favor do bem público,
de tal sorte que não pode dela ser privado de forma ilimitada, de modo abusivo
e injusto.
13
minimização dos delitos e das penas, ou seja, um direito penal mínimo. Deixa
lei do mais forte, que vigoraria na sua ausência; portando, não genericamente a
defesa social, mas sim a defesa do mais fraco, que no momento do delito é a
da execução, é o réu.
cuja democracia não deve ser entendida apenas como o poder e vontade do
do Estado.
E prossegue:
Assim, ao contrário do mito difundido pela ideologia dominante, a lei
penal brasileira não se destina a proteger apenas bens e valores
essenciais, no sentido de bens comuns a todos os homens, tendendo
sim a privilegiar os interesses daquela minoria de detentores das
riquezas e do poder.6
6
KARAM, Maria Lúcia. De crimes, penas e fantasia. Rio de Janeiro: Luam, 1993. p. 75.
7
KARAM, Maria Lúcia. Op. cit. p. 75.
8
Os dados divulgados no Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito, que investigou a
situação do sistema penitenciário e concluiu os trabalhos no ano de 1993, mostraram que 95% da
população carcerária era absolutamente pobre e 72% dos procedimentos criminais eram de furto e roubo,
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Estado selecionam pessoas e não condutas, direcionando seu poder de fogo àquelas
advindas das classes socialmente desfavoráveis. Baratta destaca que, além de ser o
forma a reproduzi-la:
orienta-se seletivamente.
9
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia do
direito penal: Trad. Juarez Cirino dos Santos. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002. p. 166.
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Necessário também o estudo de Michel Foucalt (2011) por revelar que a atuação
policial é a modo pelo qual os poderosos vigiam e controlam o resto da sociedade.
Raimundo Faoro (2000) ajudará a compreender a origem patrimonialista da
sociedade brasileira e a exclusão dos desprivilegiados.
Jorge de Figueiredo Dias (1997) e Eugenio Raul Zaffaroni (2003) desnudam a
ficção de que o sistema penal é para todos, ao descreverem ao descreverem a perversa
seletividade da criminalização secundária, cuja compreensão será fundamental nesta
pesquisa.
Pretende-se, ainda, estudar a formação dos policiais, civis e militares, em suas
academias, a fim de investigar a influência da formação policial na orientação seletiva.
Enfim, o diálogo teórico entre os autores, a respeito da temática apontada na
pesquisa, tem a finalidade de contribuir para o debate, no sentido da compreensão de
antigas polêmicas, suscitando novas dúvidas e futuros esclarecimentos.
4. METODOLOGIA
Propõe-se uma pesquisa essencialmente teórica. Nesse sentido, será analisado o
objeto de estudo acima descrito a partir da bibliografia pertinente ao tema. Esta será
discutida procurando inseri-la no contexto histórico em que tais análises foram
produzidas, debatendo a participação histórico-social de seus autores. Portanto, pode-se
afirmar que o projeto possui, também, um caráter histórico, pois tem como pressuposto
o processo sócio-histórico no qual os autores em discussão se inseriram. A preocupação
na primeira parte da pesquisa, será evidenciar a atuação policial com base em
estereótipos, com suas consequências no controle da violência e também demonstrar
qual a visão que as classes mais carentes tem do policial.
Na segunda parte, a pesquisa procurará trazer propostas que diminuam a
orientação seletiva e também que ajudem a arrefecer a repulsa que a população tem da
polícia, de maneira a concretizar o modelo de Estado adotado pela Constituição
Federal.
Nesta pesquisa serão adotados procedimentos metodológicos embasados numa
leitura dialética da realidade. A metodologia dialética busca a compreensão da realidade
a partir dela mesma, em que o ser social, por meio da razão, é capaz de captar os “nexos
causais” de seu desenvolvimento histórico-social, na relação entre as esferas do
universal, do particular e do singular. Tais procedimentos metodológicos serão
utilizados com o intuito de esclarecer os nexos que constituem a forma de ser de nosso
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objeto, qual seja, o estado de guerra entre a polícia e a sociedade num Estado, ao menos
no texto da Constituição da República, democrático.
Os pressupostos metodológicos aferidos, abstratamente acima, reproduzir-se-ão
no concreto imediato a partir da análise das fontes bibliográficas primárias. As fontes
secundárias serão as obras que dizem respeito ao debate teórico contemporâneo sobre
nosso objeto de estudo.
5. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Atividades a serem realizadas Período
1O a 12O mês 13o a 24o mês 25o a 36o mês
1o sem. 2o sem. 1o sem. 2o sem. 1o sem. 2o sem.
Cumprimento dos Créditos x X
Participação em eventos acadêmicos X x
Análise das fontes primárias referentes x X
à 1ª parte
Análise das fontes primárias referentes x x
à 2ª parte
Análise das fontes secundárias x x x
referentes à 1ª e 2ª partes do projeto
Redação da 1ª parte x x
Redação da 2ª parte x x x
Relatórios x x x
Apresentação da qualificação x
Redação final e defesa da tese x x
6. PLANO DE TRABALHO
A) Análise bibliográfica das obras de Max Weber, Michel Foucalt, Jorge de Figueiredo
Dias, autores que serão a fonte primária de investigação, os quais serão
complementados com obras de outros autores que possam contribuir na compreensão
do objeto de pesquisa;
B) Verificar com a moradores da periferia veem a Polícia, utilizando como fonte
primária de pesquisa as músicas de rap.
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C) Visitar as academias das Polícias Civil e Militar no Estado de São Paulo, a fim de
verificar a influência da formação do policial nessa orientação seletiva. Tal estudo será
feito não só com base no currículo das instituições de ensino policial, mas
principalmente pelo estudo do pensamento dos dirigentes da Polícia quando da
conclusão do Curso Superior de Polícia, requisito no Estado de São Paulo, para
exercício das altas funções de comando tanto na Polícia Civil quando na Militar.
D) estudar e apresentar propostas que reduzam a orientação seletiva e
consequentemente aproximem a polícia da sociedade.
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