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Seleção Por Conseqüências – Skinner

Autor: B. F. Skinner
Origem: Selection by consequences. Science, 1981, 213, 501-504.
Fonte: http://www.cemp.com.br/novo/corpo.asp?id=13&cod=90&tipo=8

A história do comportamento humano, se considerarmos o início com a origem da vida


na terra, é possivelmente superada em amplitude apenas pela história do universo.
Assim como o astrônomo e o cosmologista, o historiador trabalha apenas com a
reconstrução do que pode ter acontecido, ao invés de revisar os fatos registrados. A
história presumivelmente começou não com um big bang, mas com aquele momento
extraordinário quando surgiu uma molécula que tinha o poder de se auto-reproduzir.
Foi então que a seleção por conseqüências fez sua aparição de uma forma casual. A
reprodução foi por si só uma primeira conseqüência, e levou através da seleção natural
à evolução de células, órgãos e organismos que se auto reproduziram sob condições
altamente diversas.
O que chamamos de comportamento evoluiu como um conjunto de funções indo além
do intercâmbio entre organismos e ambiente. Em um mundo razoavelmente estável
isto poderia ser no máximo parte da capacidade genética das espécies, como a
digestão, a respiração ou qualquer outra função biológica. O comportamento
funcionou bem apenas sob condições mais ou menos similares àquelas sob as quais foi
selecionado. A reprodução sob condições muito mais amplas se tornou possível com
evolução de dois processos através dos quais os organismos individuais adquiriram
comportamento apropriado para novos ambientes. Através do condicionamento
respondente (Pavloviano), as respostas preparadas antes pela seleção natural
poderiam estar sob controle de novos estímulos. Através do condicionamento
operante, as novas respostas poderiam ser fortalecidas (“reforçadas”) por eventos que
imediatamente as seguiram.

Um segundo tipo de seleção


O condicionamento operante é um segundo tipo de seleção por conseqüências, que
deve ter evoluído em paralelo com dois outros produtos das mesmas contingências da
seleção natural – uma suscetibilidade de reforços para certos tipos de conseqüências e
uma fonte de comportamento menos comprometido especificamente para esclarecer
ou liberar os estímulos. (A maioria dos operantes são selecionados a partir do
comportamento que tem pouca ou nenhuma relação com tais estímulos).
Quando as conseqüências selecionadas são as mesmas, o condicionamento operante e
a seleção natural trabalham juntas de forma redundante. Por exemplo, o
comportamento de um patinho em seguir a sua mãe é aparentemente o produto não
apenas de uma seleção natural (os patinhos tendem a se mover em direção a objetos
móveis grandes), mas também de uma suscetibilidade evoluída para reforço
(reinforcement) pela proximidade de tal objeto, como mostrou Peterson (1960). A
conseqüência comum é que o patinho fica perto de sua mãe. (Impressão / imprinting é
um processo diferente, próximo ao condicionamento respondente).
Uma vez que uma espécie que rapidamente adquira comportamento apropriado a um
dado ambiente tenha menos necessidade de um repertório inato, o condicionamento
operante poderia não somente suplementar a seleção natural de comportamento, mas
poderia substituí-la. Houve vantagens favorecendo tal mudança. Quando membros de
uma espécie comem um certo alimento simplesmente porque isto tenha um valor para
a sobrevivência, a comida não precisa ser, e presumivelmente não é, um reforçador.
Da mesma forma, quando um comportamento sexual é simplesmente um produto da
seleção natural, o contato sexual não precisa ser, e presumivelmente não é, um
reforçador. Mas, quando através da evolução de suscetibilidades especiais, a comida e
o contato sexual se tornam reforçadores, novas formas de comportamento podem
surgir. Nova formas de ajuntamento, processamento e de cultivo de alimentos e novas
formas de comportamento sexual ou de formas que levam apenas eventualmente ao
reforço sexual podem ser construídas e mantidas. O comportamento condicionado
dessa forma não é necessariamente adaptativo; são consumidos alimentos que não
são saudáveis, e o comportamento sexual fortaleceu aquilo que não está relacionado
com a procriação.
Muito do comportamento estudado pelos etólogos – a corte, os pares, o cuidado com
os jovens, a agressão intra-espécie, a defesa de território, e assim por diante – é social.
Está dentro desta faixa de seleção natural fácil, porque outros membros de uma
espécie são aqueles de características mais estáveis do desenvolvimento de uma
espécie. Os repertórios sociais inatos são suplementados pela imitação. Ao correr
quando outros correm, por exemplo, um animal responde à liberação de um estímulo
ao qual não havia sido exposto. Um tipo diferente de imitação, muito mais amplo,
resulta do fato de que as contingências do reforço que induzem um organismo a se
comportar de uma dada maneira irá freqüentemente afetar outro organismo quando
este se comporta da mesma maneira. Um repertório imitativo que traz o imitador sob
o controle de novas contingências é então adquirido.
A espécie humana presumivelmente se tornou muito mais social quando sua
musculatura vocal ganhou controle operante. Gritos de alarme, a chamada de
parceiros, ameaças agressivas, e outros tipos de comportamento vocal podem ser
modificados através do condicionamento operante, mas aparentemente apenas com
respeito à ocasião em que ocorrem ou sua taxa de ocorrência. (O comportamento
vocal imitativo de certos pássaros deve ser uma exceção, mas se tem conseqüências
seletivas comparáveis àquelas dos gritos de alarme ou de chamada de parceiros, estas
são obscuras. O comportamento vocal do papagaio é construído, na melhor das
hipóteses, por uma conseqüência trivial, envolvendo uma semelhança entre sons
produzidos e sons ouvidos).
A habilidade da espécie humana de adquirir novas formas através da seleção por
conseqüências presumivelmente resultou da evolução de uma inervação especial da
musculatura vocal, junto com uma fonte de comportamento vocal não tão fortemente
sob o controle de estímulos ou liberadores – o balbuciar das crianças a partir dos quais
os operantes verbais são selecionados. Nenhuma nova suscetibilidade ao reforço foi
necessária porque as conseqüências do comportamento verbal são distinguidas
apenas pelo fato de que são mediadas por outras pessoas (Skinner,1957).
O desenvolvimento do controle ambiental sobre a musculatura vocal estendeu muito a
ajuda que uma pessoa recebe de outras. Ao se comportarem verbalmente, as pessoas
cooperam mais bem sucedidamente em empreendimentos comuns. Ao se aceitar
conselhos, obedecer avisos, seguir instruções, e observar regras, eles se beneficiam do
que os outros já aprenderam. As práticas éticas são reforçadas pelas suas codificações
em leis, e técnicas especiais de auto-gereciamento ético e intelectual são planejados e
ensinados. O auto-conhecimento ou consciência surge quando uma pessoa pergunta a
outra coisas como “O que você vai fazer?” ou “Porque você fez isso?”. A invenção do
alfabeto ampliou estas vantagens sobre grandes distâncias e períodos de tempo. Há
muito tem sido dito para dar à espécie humana sua posição única, embora seja
possível que esta unicidade seja simplesmente a extensão do controle operante da
musculatura vocal.

Um terceiro tipo de seleção


O comportamento verbal aumentou significantemente a importância de um terceiro
tipo de seleção por conseqüências, a evolução dos ambientes sociais ou culturas. O
processo presumivelmente começou no nível do individual. Uma melhor forma de
fazer uma ferramenta, cultivar alimentos, ou ensinar uma criança é reforçado por suas
conseqüências – a ferramenta, a comida, ou um ajudante útil, respectivamente . Uma
cultura evolui quando as práticas originárias desta forma contribuem para o sucesso
do grupo praticante em resolver seus problemas. É o efeito no grupo, e não as
conseqüências reforçadas para os membros individualmente, que é responsável pela
evolução da cultura.
Em resumo, o comportamento humano é um produto da junção de (i) as contingências
de sobrevivência responsáveis pela seleção natural das espécies e (ii) as contingências
de reforço responsáveis pelos repertórios adquiridos pelos seus membros, incluindo
(iii) as contingências especiais mantidas por um ambiente social evoluído.
(Definitivamente, é claro, tudo isso é uma questão de seleção natural, uma vez que o
condicionamento operante é um processo evoluído, no qual as práticas culturais são
aplicações especiais).

Similaridades e diferenças
Cada um dos três níveis de variação e seleção tem sua própria disciplina – o primeiro,
biologia; o segundo, psicologia; e o terceiro, antropologia. Apenas o segundo,
condicionamento operante, ocorre em uma velocidade no qual pode ser observado de
momento a momento. Biólogos e antropólogos estudam os processos através dos
quais variações surgem e são selecionadas, mas estes meramente reconstroem a
evolução de uma espécie ou cultura. O condicionamento operante é seleção em
progresso. Assemelha-se a cem milhões de anos de seleção natural ou mil anos de
evolução de uma cultura compactada em um período muito curto de tempo.
A imediação do condicionamento operante tem certas vantagens práticas. Por
exemplo, quando uma característica atual adaptativa é presumivelmente muito
complexa para ter ocorrido na sua presente forma como uma variação única, esta é
usualmente explicada como produto de uma seqüência de variações mais simples,
cada uma com seu próprio valor de sobrevivência. É prática padrão na teoria evolutiva
observar tais seqüências, e os antropólogos e historiadores têm reconstruído os
estágios através dos quais os códigos éticos e de moral, a arte, a música, a literatura, a
ciência, a tecnologia, e assim por diante, tem presumivelmente evoluído. Um operante
complexo, no entanto, pode na verdade ser “moldado através de aproximação
sucessiva” pelo arranjo de uma série graduada de contingências de reforço. (Padrões
de comportamento inato muito complexos para terem surgido como variações únicas
podem ter sido moldados por mudanças geológicas devido ao platô tectônico (Skinner
1975a).
Uma questão atual em nível i tem paralelo com os níveis ii e iii. Se a seleção natural é
um princípio válido, porque muitas espécies permanecem imutáveis por milhares ou
mesmo milhões de anos? Presumivelmente, a resposta é que tanto não ocorreram
variações ou que aquelas que ocorreram não foram selecionadas pelas contingências
prevalecentes. Questões similares têm sido feitas nos níveis ii e iii. Porque pessoas
continuam a fazer coisas da mesma maneira durante anos? Porque grupos de pessoas
continuam a observar velhas práticas durante séculos? Mudança é avesiva???? As
respostas são presumivelmente as mesmas: cada uma das novas variações (novas
formas de comportamento ou novas práticas) não têm aparecido, ou aquelas que
apareceram não foram selecionadas pelas contingências prevalecentes (de
reforçamento ou da sobrevivência do grupo). Em todos os três níveis uma mudança
repentina e possivelmente extensiva é explicada como sendo devida a variações
selecionadas por contingências prevalecentes ou a novas contingências. A competição
com outras espécies, pessoas ou culturas podem ou não estar envolvidas. As coações
estruturais podem também ter um papel nos três níveis.
Outra questão é a definição ou identidade de uma espécie, pessoa ou cultura. As
características em uma espécie e as práticas em uma cultura são transmitidas de
geração a geração, mas o comportamento reforçado é “transmitido” apenas no
sentido da parte remanescente do repertório do indivíduo. Onde espécies e culturas
são definidas por restrições impostas sobre a transmissão – por genes e cromossomos
e digamos, isolamento geográfico respectivamente – um problema de definição (ou
identidade) surge no nível ii, apenas quando contingências diferentes de reforço criam
repertórios diferentes, como egos ou pessoas.

Esquemas explicativos tradicionais


Como um modo casual, a seleção por conseqüências foi descoberta muito tarde na
história da ciência – na verdade menos que um século e meio atrás – e ainda não é
totalmente reconhecida ou compreendida, especialmente nos níveis ii e iii. O fato pelo
qual tem sido forçado dentro do padrão casual de mecanismos clássicos, e muitos dos
esquemas explicativos elaborados no processo devem agora ser descartados. Alguns
dos quais tem grande prestígio e são fortemente defendidos em todos os três níveis.
Aqui estão quatro exemplos:
Um ato anterior à criação- (i) A seleção natural substitui um criador muito especial e
ainda é desafiada porque o faz. (ii) O condicionamento operante proporciona uma
descrição similarmente controversa do comportamento (“voluntário”)
tradicionalmente atribuído a uma mente criativa. (iii) A evolução de um ambiente
social substitui a suposta origem de uma cultura como um contrato social ou de
práticas sociais como mandamentos.
Propósito ou intenção – Apenas conseqüências passadas figuram na seleção. (i) uma
espécie particular não tem olhos de forma que seus membros possam ver melhor; os
têm porque certos membros, submetidos á variação , foram capazes de ver melhor e
assim mais prováveis de transmitir a variação. (ii) As conseqüências do
comportamento operante não são o que o comportamento é agora; são meramente
similares às conseqüências que tem moldado e mantido o comportamento. (iii) As
pessoas não observam práticas particulares para que o grupo tenha probabilidade de
sobreviver; eles as observam porque os grupos que induziram seus membros a agirem
assim, sobreviveram e os transmitiram.
Certas essências – (i) Uma molécula que podia se auto-reproduzir e evoluir para célula,
órgão e organismo estava viva tão logo veio à existência sem a ajuda de um princípio
vital chamado “vida”. (ii.) O comportamento operante é moldado e trazido ao controle
do ambiente sem a intervenção de um princípio da mente. (Supor que o pensamento
apareceu como uma variação, como uma característica morfológica na teoria genética
é invocar um grande saltum desnecessário). (iii) Os ambientes sociais geram o auto-
conhecimento (“razão”) sem a ajuda da mente de um grupo ou zeitgeist.
Dizer isso não é reduzir a vida, a mente ou zeitgeist ao físico; é simplesmente
reconhecer a natureza consumível das essências. Os fatos são como eles sempre tem
sido. Dizer que a seleção por conseqüências é um modo casual encontrado apenas nas
coisas vivas é apenas dizer que aquela seleção (ou a “réplica com erro” o que o tornou
possível) define “vivo”. (Um computador pode ser programado para o modelo de
seleção natural, condicionamento operante, ou a evolução de uma cultura, mas
apenas quando construído e programado por uma coisa viva). A base física da seleção
natural está agora mais ou menos clara: a base correspondente do condicionamento
operante e portanto, da evolução das culturas, tem ainda que ser descoberta.
Certas definições de bom e valor. (i) o que é bom para as espécies é aquilo que
promove a sobrevivência de seus membros até que os filhos tenham nascido e
possivelmente sejam cuidados. Boas características são ditas como as que têm valor de
sobrevivência. Entre elas estão as suscetibilidades para o reforço por muitas das coisas
que dizemos ter o gosto bom, parecer bom. E assim por diante. (ii.) O comportamento
de uma pessoa é bom se é efetivo sob as contingências prevalecentes de reforço. Nós
valorizamos tal comportamento e, na verdade, o reforçamos ao dizermos “bom!”. O
comportamento em relação aos outros é bom se é bom para os outros neste sentido.
(iii) O que é bom para uma cultura é aquilo que promove sua sobrevivência, tal como
manter um grupo unido ou transmitir suas práticas. Estas não são, é claro, definições
tradicionais; elas não reconhecem um mundo de valores distintos de um mundo de
fatos, e por outras razões e serem observadas em breve, elas são desafiadas.
Alternativas à seleção
Um exemplo de tentativa de assimilar a seleção por conseqüência à casualidade dos
mecanismos clássicos é o termo “pressão de seleção”, que aparece para converter a
seleção em algo que force uma mudança. Um exemplo mais sério é a metáfora da
armazenagem. As contingências da seleção estão necessariamente no passado: elas
não estão agindo quando seus efeitos são observados. Para proporcionar uma causa
atual, já se foi considerado que elas são armazenadas (usualmente com “informação”)
e mais tarde acessadas. Assim, (i) dizem que genes e cromossomos “contêm a
informação” necessária pelo óvulo fertilizado para que este cresça e se torne um
organismo maduro. Mas, uma célula não consulta uma fonte de informações para
aprender como se transformar; se transforma por causa das características que são
produtos de uma história de variação e seleção, um produto que não é bem
representado pela metáfora do armazenamento. (ii.) Dizem que as pessoas
armazenam informações sobre contingências de reforço e as consultam (ou buscam)
para o uso em ocasiões posteriores. Mas elas não consultam cópias de contingências
anteriores para descobrir como se comportar; elas se comportam de certas maneiras
porque foram mudadas por aquelas contingências. As contingências podem talvez ser
inferidas de mudanças que elas tenham trabalhado, mas que não mais existem.(iii) Um
uso possivelmente legítimo de “armazenamento” na evolução das culturas deve ser
responsável por estes erros. Partes do ambiente social mantido e transmitido por um
grupo estão literalmente armazenados em documentos, artefatos, e outros produtos
daquele comportamento.
Outras forças casuais servindo in lieu da seleção tem sido buscado da estrutura das
espécies, pessoas, ou cultura. A organização é um exemplo. (i) Até recentemente, a
maioria dos biólogos discutiam que a organização distinguiu coisas vivas de não-vivas.
(ii.) De acordo com psicólogos da Gestalt e outros, ambas as percepções e atos
ocorrem em certas formas inevitáveis por causa de sua organização. (iii) Muitos
antropólogos e lingüistas apelam para a organização das práticas culturais e
lingüísticas. É verdade que todas as espécies, pessoas e culturas são altamente
organizadas, mas nenhum princípio de organização explica o fato de o serem. Tanto a
organização e os efeitos atribuídos a ela podem ser traçados nas contingências
respectivas da seleção. Outro exemplo é o crescimento. O desenvolvimento é o
estruturalismo com tempo ou idade adicionados como uma variável independente. (i)
Houve evidência antes de Darwin que as espécies tinham se “desenvolvido” (ii.) Os
psicólogos cognitivos tem discutido que os conceitos se desenvolvem na criança em
certas ordens fixas, e Freud disse o mesmo para as funções psicosexuais.(iii) Alguns
antropólogos tem sustentado que as culturas devem evoluir através de uma série
prescrita de estágios, e Marx disse o mesmo em sua insistência pelo determinismo
histórico. Mas todos os três níveis podem ser explicados pelo “desenvolvimento” de
contingências da seleção. Novas contingências da seleção natural vêm dentro de uma
faixa, uma vez que as espécies evoluem; novas contingências de reforço que começam
a operar como comportamento se tornam mais complexas; e novas contingências de
sobrevivência são trabalhadas por culturas mais efetivas.

Seleção negligenciada
A força casual atribuída à estrutura como um substituto da seleção causa problemas
quando se diz que uma característica em um nível explica uma característica similar
em outro a prioridade histórica da seleção natural usualmente dando a ela um lugar
especial. A sociobiologia oferece muitos exemplos. O comportamento descrito como
defesa de território pode ser devido a (i) contingências de sobrevivência na evolução
de uma espécie, possivelmente envolvendo suprimento de alimentos ou prática de
procriação; (ii.) as contingências de reforço para o indivíduo, possivelmente
envolvendo uma parte dos reforçadores disponíveis no território; ou (iii)contingências
mantidas pelas práticas culturais de um grupo promovendo o comportamento que
contribua para a sobrevivência do grupo. Da mesma forma, o comportamento altruísta
(i) pode evoluir através de digamos, seleção de parentes (consangüinidade); (ii.) pode
ser moldado e mantido por contingências de reforço arranjadas por aqueles cujo
comportamento trabalha uma vantagem; ou (iii) pode ser gerado por culturas as quais,
por exemplo, induzam os indivíduos a sofrerem ou morrerem como heróis ou mártires.
As contingências da seleção em três níveis são bastante diferentes, e a similaridade
não atesta um princípio generativo comum.
Quando uma força comum é designada para a estrutura, a seleção tende a ser
negligenciada. Muitas questões que surgem na moral ética podem ser resolvidas pela
especificação do nível de seleção. O que é bom para o indivíduo ou cultura pode ter
más conseqüências para a espécie, como quando o reforço sexual leva a super
população ou o reforço de amenidades da civilização leva à exaustão de recursos: o
que é bom para a espécie ou cultura pode ser ruim para o indivíduo, como quando
práticas para controlar a procriação ou preservar os recursos restringem a liberdade do
indivíduo; e assim por diante. Não há nada inconsistente ou contraditório sobre os
usos de “bom” e “mal”, ou sobre outro julgamento de valor, uma vez que o nível da
seleção seja especificado.
Um agente iniciante
O papel da seleção por conseqüências tem particularmente sofrido resistência porque
não há lugar para o agente iniciante sugerido pelos mecanismos clássicos. Tentamos
identificar tal agente quando dizemos (i) que uma espécie se adapta a um ambiente,
ao invés de dizer que o ambiente seleciona as características adaptativas; (ii.) que um
indivíduo se ajusta a uma situação, ao invés da situação se moldar e manter o
comportamento ajustado; e (iii) que um grupo de pessoas resolvem um problema
surgido por certas circunstâncias, ao invés das circunstâncias selecionarem as práticas
culturais que produzem uma solução.
A questão de um agente iniciante é levantada em forma mais aguda por nosso próprio
lugar na história. Darwin e Spencer pensavam que a seleção levaria necessariamente à
perfeição, mas as espécies ,pessoas e culturas, todas pereceram quando não puderam
lidar com a rápida mudança, e a nossa espécie parece estar ameaçada. Devemos
esperar que a seleção resolva os problemas de superpopulação, exaustão de recursos,
poluição ambiental e holocausto nuclear, ou podemos dar passos explícitos para
tornar nosso futuro mais seguro? No último caso, não devemos em algum senso
transcender a seleção?
Pode-se dizer que poderíamos intervir no processo de seleção quando como
geneticidas mudamos as características de uma espécie ou criamos novas espécies, ou
quando como governantes, empregadores ou professores mudamos o comportamento
das pessoas, ou quando planejamos novas práticas culturais; mas em nenhuma dessas
formas escapamos da seleção por conseqüências. Em primeiro lugar, nós trabalhamos
apenas através da variação e seleção. No nível i – podemos mudar genes e
cromossomos ou contingências da sobrevivência, como numa procriação seletiva. No
nível ii. podemos introduzir novas formas de comportamento – por exemplo,
mostrando ou contando as pessoas o que fazemos a respeito das contingências
seletivas. Nível iii podemos, introduzir novas práticas culturais, ou raramente
encontrarmos contingências especiais de sobrevivência – por exemplo, para preservar
uma prática tradicional. Tendo feito essas coisas, devemos esperar que a seleção
ocorra. (Existe uma razão especial porque essas limitações são significantes.
Freqüentemente se diz que a espécie humana é agora capaz de fazê-lo no sentido o
qual o termo “controle” é usado nos mecanismos clássicos. Não o faz pela mesma
razão que os seres vivos não são máquinas; a seleção por conseqüências faz a
diferença.). Em segundo lugar, devemos considerar a possibilidade de que nosso
comportamento na intervenção é por si só um produto de seleção. Tendemos a nos
ver como agentes iniciantes apenas porque sabemos ou nos lembramos tão pouco das
nossas histórias genéticas e ambientais.
Embora não possamos prognosticar muitas das contingências da seleção aos quais a
espécie humana estará provavelmente exposta em todos os três níveis e que podem
especificar o comportamento que irá satisfazer muitos deles, não pudemos
estabelecer as práticas culturais sob as quais aquele comportamento é selecionado e
mantido. É possível, que nosso esforço para preservar o papel do indivíduo como um
originador esteja errado, e que um conhecimento mais amplo do papel da seleção por
conseqüências fará uma diferença importante.
A presente cena não é encorajante. A psicologia é a disciplina de escolha no nível ii,
mas poucos psicólogos prestam atenção à seleção. Os existencialistas entre eles estão
explicitamente preocupados com o ‘aqui e agora’, ao invés do ‘passado e futuro’. Os
estruturalistas e desenvolvimentistas tendem a negligenciar as contingências seletivas
em sua busca pelos princípios causais, tais como a organização e o crescimento. A
convicção de que as contingências estão armazenadas como informações é apenas
uma das razões porque o apelo às funções cognitivas não é útil. As três personas da
teoria psicanalítica estão em muitos aspectos próximas aos nossos três níveis de
seleção; mas o ID. não representa adequadamente a enorme contribuição da história
natural das espécies; o superego, mesmo com a ajuda do ego ideal, não representa
adequadamente a contribuição do ambiente social para a linguagem, auto-
conhecimento e auto gerenciamento ético e intelectual; e o ego tem pouca
probabilidade de repertório pessoal adquirido sob as contingências práticas da vida
diária
O campo conhecido como análise experimental do comportamento tem explorado
extensivamente a seleção por conseqüências , mas sua concepção de comportamento
humano sofre resistências, e muitas de suas aplicações práticas são rejeitadas,
precisamente para uma pessoa como um agente iniciante. As ciências
comportamentais no nível iii mostram deficiências similares. A antropologia é
altamente estrutural, e os cientistas políticos e economistas usualmente tratam o
indivíduo como um agente iniciante livre. A filosofia e as letras não oferecem direções
promissoras.
Um reconhecimento apropriado da ação seletiva do ambiente significa uma mudança
em nossa concepção de origem do comportamento, que é possivelmente tão extenso
quanto aquele da origem das espécies. Uma vez que aderimos à visão de que uma
pessoa é um ator, fazedor ou causador inicial de comportamento, poderemos
provavelmente continuar a negligenciar as condições que devem ser mudadas se
vamos resolver nossos problemas (Skinner, 1971)
É curioso que a noção de seleção por conseqüências tenha aparecido tão tarde na
história do pensamento humano. A seleção é encontrada apenas nas coisas vivas
(seres vivos), e não há dúvida, mas as pessoas tem se interessado pelas coisas vivas,
bem como por coisas não vivas. Uma explicação possível é que o efeito da seleção é
algo atrasado. Vemos o produto, mas não vemos o processo; portanto tendemos a
atribuir o produto a um produto atual das contingências seletiva ao invés das próprias
contingências.
Um ato criativo é um tipo de substituto da seleção; o propósito é outro. Os biólogos
têm lidado com seu lugar suposto na origem das espécies. Os psicólogos mostram
menos concordância sobre seu lugar na origem do comportamento. Os psicólogos
cognitivos, por exemplo, tendem a chamar o comportamento operante de
“direcionado ao objetivo”, mas a direção ao objetivo é apenas um substituto atual de
uma história de conseqüências reforçadoras. O intencionalismo da filosofia moderna
também serve como um substituto de uma história pessoal.
A razão porque a seleção por conseqüências tem sido a tanto tempo negligenciada
deve ser a mesma razão pela qual ainda é tão mal compreendida.

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