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Autor: B. F. Skinner
Origem: Selection by consequences. Science, 1981, 213, 501-504.
Fonte: http://www.cemp.com.br/novo/corpo.asp?id=13&cod=90&tipo=8
Similaridades e diferenças
Cada um dos três níveis de variação e seleção tem sua própria disciplina – o primeiro,
biologia; o segundo, psicologia; e o terceiro, antropologia. Apenas o segundo,
condicionamento operante, ocorre em uma velocidade no qual pode ser observado de
momento a momento. Biólogos e antropólogos estudam os processos através dos
quais variações surgem e são selecionadas, mas estes meramente reconstroem a
evolução de uma espécie ou cultura. O condicionamento operante é seleção em
progresso. Assemelha-se a cem milhões de anos de seleção natural ou mil anos de
evolução de uma cultura compactada em um período muito curto de tempo.
A imediação do condicionamento operante tem certas vantagens práticas. Por
exemplo, quando uma característica atual adaptativa é presumivelmente muito
complexa para ter ocorrido na sua presente forma como uma variação única, esta é
usualmente explicada como produto de uma seqüência de variações mais simples,
cada uma com seu próprio valor de sobrevivência. É prática padrão na teoria evolutiva
observar tais seqüências, e os antropólogos e historiadores têm reconstruído os
estágios através dos quais os códigos éticos e de moral, a arte, a música, a literatura, a
ciência, a tecnologia, e assim por diante, tem presumivelmente evoluído. Um operante
complexo, no entanto, pode na verdade ser “moldado através de aproximação
sucessiva” pelo arranjo de uma série graduada de contingências de reforço. (Padrões
de comportamento inato muito complexos para terem surgido como variações únicas
podem ter sido moldados por mudanças geológicas devido ao platô tectônico (Skinner
1975a).
Uma questão atual em nível i tem paralelo com os níveis ii e iii. Se a seleção natural é
um princípio válido, porque muitas espécies permanecem imutáveis por milhares ou
mesmo milhões de anos? Presumivelmente, a resposta é que tanto não ocorreram
variações ou que aquelas que ocorreram não foram selecionadas pelas contingências
prevalecentes. Questões similares têm sido feitas nos níveis ii e iii. Porque pessoas
continuam a fazer coisas da mesma maneira durante anos? Porque grupos de pessoas
continuam a observar velhas práticas durante séculos? Mudança é avesiva???? As
respostas são presumivelmente as mesmas: cada uma das novas variações (novas
formas de comportamento ou novas práticas) não têm aparecido, ou aquelas que
apareceram não foram selecionadas pelas contingências prevalecentes (de
reforçamento ou da sobrevivência do grupo). Em todos os três níveis uma mudança
repentina e possivelmente extensiva é explicada como sendo devida a variações
selecionadas por contingências prevalecentes ou a novas contingências. A competição
com outras espécies, pessoas ou culturas podem ou não estar envolvidas. As coações
estruturais podem também ter um papel nos três níveis.
Outra questão é a definição ou identidade de uma espécie, pessoa ou cultura. As
características em uma espécie e as práticas em uma cultura são transmitidas de
geração a geração, mas o comportamento reforçado é “transmitido” apenas no
sentido da parte remanescente do repertório do indivíduo. Onde espécies e culturas
são definidas por restrições impostas sobre a transmissão – por genes e cromossomos
e digamos, isolamento geográfico respectivamente – um problema de definição (ou
identidade) surge no nível ii, apenas quando contingências diferentes de reforço criam
repertórios diferentes, como egos ou pessoas.
Seleção negligenciada
A força casual atribuída à estrutura como um substituto da seleção causa problemas
quando se diz que uma característica em um nível explica uma característica similar
em outro a prioridade histórica da seleção natural usualmente dando a ela um lugar
especial. A sociobiologia oferece muitos exemplos. O comportamento descrito como
defesa de território pode ser devido a (i) contingências de sobrevivência na evolução
de uma espécie, possivelmente envolvendo suprimento de alimentos ou prática de
procriação; (ii.) as contingências de reforço para o indivíduo, possivelmente
envolvendo uma parte dos reforçadores disponíveis no território; ou (iii)contingências
mantidas pelas práticas culturais de um grupo promovendo o comportamento que
contribua para a sobrevivência do grupo. Da mesma forma, o comportamento altruísta
(i) pode evoluir através de digamos, seleção de parentes (consangüinidade); (ii.) pode
ser moldado e mantido por contingências de reforço arranjadas por aqueles cujo
comportamento trabalha uma vantagem; ou (iii) pode ser gerado por culturas as quais,
por exemplo, induzam os indivíduos a sofrerem ou morrerem como heróis ou mártires.
As contingências da seleção em três níveis são bastante diferentes, e a similaridade
não atesta um princípio generativo comum.
Quando uma força comum é designada para a estrutura, a seleção tende a ser
negligenciada. Muitas questões que surgem na moral ética podem ser resolvidas pela
especificação do nível de seleção. O que é bom para o indivíduo ou cultura pode ter
más conseqüências para a espécie, como quando o reforço sexual leva a super
população ou o reforço de amenidades da civilização leva à exaustão de recursos: o
que é bom para a espécie ou cultura pode ser ruim para o indivíduo, como quando
práticas para controlar a procriação ou preservar os recursos restringem a liberdade do
indivíduo; e assim por diante. Não há nada inconsistente ou contraditório sobre os
usos de “bom” e “mal”, ou sobre outro julgamento de valor, uma vez que o nível da
seleção seja especificado.
Um agente iniciante
O papel da seleção por conseqüências tem particularmente sofrido resistência porque
não há lugar para o agente iniciante sugerido pelos mecanismos clássicos. Tentamos
identificar tal agente quando dizemos (i) que uma espécie se adapta a um ambiente,
ao invés de dizer que o ambiente seleciona as características adaptativas; (ii.) que um
indivíduo se ajusta a uma situação, ao invés da situação se moldar e manter o
comportamento ajustado; e (iii) que um grupo de pessoas resolvem um problema
surgido por certas circunstâncias, ao invés das circunstâncias selecionarem as práticas
culturais que produzem uma solução.
A questão de um agente iniciante é levantada em forma mais aguda por nosso próprio
lugar na história. Darwin e Spencer pensavam que a seleção levaria necessariamente à
perfeição, mas as espécies ,pessoas e culturas, todas pereceram quando não puderam
lidar com a rápida mudança, e a nossa espécie parece estar ameaçada. Devemos
esperar que a seleção resolva os problemas de superpopulação, exaustão de recursos,
poluição ambiental e holocausto nuclear, ou podemos dar passos explícitos para
tornar nosso futuro mais seguro? No último caso, não devemos em algum senso
transcender a seleção?
Pode-se dizer que poderíamos intervir no processo de seleção quando como
geneticidas mudamos as características de uma espécie ou criamos novas espécies, ou
quando como governantes, empregadores ou professores mudamos o comportamento
das pessoas, ou quando planejamos novas práticas culturais; mas em nenhuma dessas
formas escapamos da seleção por conseqüências. Em primeiro lugar, nós trabalhamos
apenas através da variação e seleção. No nível i – podemos mudar genes e
cromossomos ou contingências da sobrevivência, como numa procriação seletiva. No
nível ii. podemos introduzir novas formas de comportamento – por exemplo,
mostrando ou contando as pessoas o que fazemos a respeito das contingências
seletivas. Nível iii podemos, introduzir novas práticas culturais, ou raramente
encontrarmos contingências especiais de sobrevivência – por exemplo, para preservar
uma prática tradicional. Tendo feito essas coisas, devemos esperar que a seleção
ocorra. (Existe uma razão especial porque essas limitações são significantes.
Freqüentemente se diz que a espécie humana é agora capaz de fazê-lo no sentido o
qual o termo “controle” é usado nos mecanismos clássicos. Não o faz pela mesma
razão que os seres vivos não são máquinas; a seleção por conseqüências faz a
diferença.). Em segundo lugar, devemos considerar a possibilidade de que nosso
comportamento na intervenção é por si só um produto de seleção. Tendemos a nos
ver como agentes iniciantes apenas porque sabemos ou nos lembramos tão pouco das
nossas histórias genéticas e ambientais.
Embora não possamos prognosticar muitas das contingências da seleção aos quais a
espécie humana estará provavelmente exposta em todos os três níveis e que podem
especificar o comportamento que irá satisfazer muitos deles, não pudemos
estabelecer as práticas culturais sob as quais aquele comportamento é selecionado e
mantido. É possível, que nosso esforço para preservar o papel do indivíduo como um
originador esteja errado, e que um conhecimento mais amplo do papel da seleção por
conseqüências fará uma diferença importante.
A presente cena não é encorajante. A psicologia é a disciplina de escolha no nível ii,
mas poucos psicólogos prestam atenção à seleção. Os existencialistas entre eles estão
explicitamente preocupados com o ‘aqui e agora’, ao invés do ‘passado e futuro’. Os
estruturalistas e desenvolvimentistas tendem a negligenciar as contingências seletivas
em sua busca pelos princípios causais, tais como a organização e o crescimento. A
convicção de que as contingências estão armazenadas como informações é apenas
uma das razões porque o apelo às funções cognitivas não é útil. As três personas da
teoria psicanalítica estão em muitos aspectos próximas aos nossos três níveis de
seleção; mas o ID. não representa adequadamente a enorme contribuição da história
natural das espécies; o superego, mesmo com a ajuda do ego ideal, não representa
adequadamente a contribuição do ambiente social para a linguagem, auto-
conhecimento e auto gerenciamento ético e intelectual; e o ego tem pouca
probabilidade de repertório pessoal adquirido sob as contingências práticas da vida
diária
O campo conhecido como análise experimental do comportamento tem explorado
extensivamente a seleção por conseqüências , mas sua concepção de comportamento
humano sofre resistências, e muitas de suas aplicações práticas são rejeitadas,
precisamente para uma pessoa como um agente iniciante. As ciências
comportamentais no nível iii mostram deficiências similares. A antropologia é
altamente estrutural, e os cientistas políticos e economistas usualmente tratam o
indivíduo como um agente iniciante livre. A filosofia e as letras não oferecem direções
promissoras.
Um reconhecimento apropriado da ação seletiva do ambiente significa uma mudança
em nossa concepção de origem do comportamento, que é possivelmente tão extenso
quanto aquele da origem das espécies. Uma vez que aderimos à visão de que uma
pessoa é um ator, fazedor ou causador inicial de comportamento, poderemos
provavelmente continuar a negligenciar as condições que devem ser mudadas se
vamos resolver nossos problemas (Skinner, 1971)
É curioso que a noção de seleção por conseqüências tenha aparecido tão tarde na
história do pensamento humano. A seleção é encontrada apenas nas coisas vivas
(seres vivos), e não há dúvida, mas as pessoas tem se interessado pelas coisas vivas,
bem como por coisas não vivas. Uma explicação possível é que o efeito da seleção é
algo atrasado. Vemos o produto, mas não vemos o processo; portanto tendemos a
atribuir o produto a um produto atual das contingências seletiva ao invés das próprias
contingências.
Um ato criativo é um tipo de substituto da seleção; o propósito é outro. Os biólogos
têm lidado com seu lugar suposto na origem das espécies. Os psicólogos mostram
menos concordância sobre seu lugar na origem do comportamento. Os psicólogos
cognitivos, por exemplo, tendem a chamar o comportamento operante de
“direcionado ao objetivo”, mas a direção ao objetivo é apenas um substituto atual de
uma história de conseqüências reforçadoras. O intencionalismo da filosofia moderna
também serve como um substituto de uma história pessoal.
A razão porque a seleção por conseqüências tem sido a tanto tempo negligenciada
deve ser a mesma razão pela qual ainda é tão mal compreendida.