Você está na página 1de 32

1

Medidas de Grandezas Físicas, Incertezas e


Propagação de Incertezas

Antes de discutirmos mais detalhadamente como expressar corretamente o resultado


de uma medida de uma grandeza física e os vários problemas envolvidos nos processos de
medida, teremos que conceituar adequadamente o que vem a ser uma grandeza física.
Ao estudar um fenômeno físico qualquer, interessa-nos como certas propriedades ou
grandezas associadas aos sistemas físicos participam desse fenômeno. É possível traduzir a
variação de certas propriedades ou comparar os diversos graus de intensidade com que as
mesmas se manifestam sobre um dado sistema físico por meio de números e unidades
associados a elas. Pode-se dizer que essas propriedades, constituem-se nas grandezas físicas
associadas àqueles sistemas físicos.
A descrição meramente qualitativa dos fenômenos, embora útil e necessária, é
insuficiente para fins científicos ou técnicos. É indispensável fornecer uma descrição
quantitativa dos mesmos, traduzida através das chamadas leis físicas.
Em Ciências Exatas, o resultado de medição de uma grandeza física consiste do valor
numérico e da sua incerteza associados à medição, expressos no sistema de unidades
apropriado. Esses valores devem refletir com a maior fidelidade possível o processo
completo de medição, incluindo os instrumentos, a montagem experimental e o método
experimental utilizados. Neste capítulo, são apresentados os conceitos fundamentais do
processo de medição aplicados em todo tipo de experimento ou ensaios de laboratório e os
critérios utilizados para a obtenção dos resultados.
As medidas de grandezas físicas tais como volume, massa, temperatura,
comprimento, etc., são expressas apenas por um número seguido da unidade
correspondente. Uma grandeza desse gênero é chamada de grandeza escalar.
No entanto, as expressões de leis físicas podem envolver grandezas de natureza mais
complexas, que precisam de um número, que é seu módulo, uma direção e um sentido, além
da unidade correspondente, como por exemplo: força, torque, campo elétrico, etc. Essas
grandezas são chamadas de grandezas vetoriais.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
2

De agora em diante, discutiremos somente grandezas escalares.

I – Medição de Uma Grandeza Física


O resultado de qualquer processo de medição de uma grandeza escalar, X, é expresso
por um número real que chamaremos de valor da grandeza em questão, λ, e sua respectiva
unidade. Esse resultado é indicado como na Equação 1:

𝐗 = 𝛌|𝐱| (unidade) (1)

onde: λ é o valor numérico da grandeza x, |x| representa uma grandeza física da mesma
espécie tomada como unidade ou, seus múltiplos ou submúltiplos.
Tomemos como exemplo a medida de um certo intervalo de tempo, Δt, que resultou
em:

Δt = 0,5 h (2)

Na Equação 2, λ = 0,5 e |x| = h (hora, nome da unidade de tempo utilizada).


Note que o valor numérico, isoladamente, não caracteriza a medição da grandeza
física x, porque o resultado da medição depende também de um fator arbitrário que é a
escolha da unidade de medida. Por exemplo, o mesmo intervalo de tempo apresentado na
Equação 2, tomando como unidade de tempo o segundo (s), ficaria:

Δt = 1800 s (2.a)

II - Medições Diretas e Indiretas


Nas medições diretas, o valor numérico atribuído à grandeza física é lido diretamente
da escala do instrumento. Podemos citar, como exemplos, o comprimento medido com uma
régua, o tempo medido com um cronômetro ou a corrente elétrica medida com um
amperímetro.
Nas medições indiretas, a grandeza resulta da aplicação de uma ou várias relações
matemáticas que vinculam a grandeza física a ser medida com outros valores de grandezas
medidas diretamente. Por exemplo, o volume de um objeto pode ser determinado
indiretamente, a partir das medidas diretas de suas dimensões com régua ou paquímetro. A

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
3

maioria das grandezas físicas é medida indiretamente. Em alguns casos, a grandeza pode ser
medida de ambas as formas. Por exemplo, a velocidade de um objeto é medida indiretamente
através da medida direta da distância percorrida, Δx, e o intervalo de tempo empregado, Δt,
com v = Δx⁄Δt . No entanto, é possível também construir e calibrar um velocímetro, de
forma que se obtenha diretamente o valor da velocidade em uma determinada escala.

III - Imprecisão dos Instrumentos


Ao utilizar instrumentos de medida direta, temos que saber identificar a imprecisão,
D, dos valores fornecidos. Em instrumentos com escalas de comparação ou ponteiros de
agulha, a máxima imprecisão, D, pode ser identificada como a metade da menor divisão da
escala que o observador é capaz de apreciar (limite de erro com confiança de
aproximadamente 95%). Como exemplo, podemos utilizar uma trena, em que a menor
divisão é 1mm, a imprecisão é D= 0,5 mm. Em alguns casos onde não é possível identificar
com clareza a separação entre duas menores divisões, a imprecisão é a própria menor
divisão. Quando for utilizado um instrumento com mostrador numérico, mecânico ou
eletrônico, D é a última casa decimal mostrada. Contudo, note que a imprecisão D da
escala não é garantida para toda medida; depende das condições (por exemplo: escalas do
instrumento e uso correto do instrumento). Assim, se usada uma trena para medir
comprimentos e ela não estiver esticada e alinhada com o objeto, seria incorreto assumir que
o valor medido tem uma precisão de 0,5 mm.

IV - Erros de Medida
Uma grandeza física, a ser determinada pelo processo de medição, possui um valor
que poderíamos chamar de valor verdadeiro (também chamado de valor real). Em alguns
casos, esse valor já é conhecido antes da realização do experimento como, por exemplo,
quando se mede um padrão para aferir o funcionamento de um equipamento. Porém, na
maioria dos casos práticos o valor verdadeiro da grandeza é desconhecido.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
4

Só falamos em erro de medição quando conhecemos o valor verdadeiro do


mensurando. Caso contrário, falamos em incerteza de medição.

O resultado de um experimento fornece o valor medido. Quanto mais próximo o


valor medido está do valor verdadeiro, maior é a exatidão da medida. Como todo
experimento possui uma incerteza intrínseca, que NÃO deve ser chamada de ERRO, nunca
saberemos dizer se o valor que foi medido é exatamente o verdadeiro. Os erros podem ser
classificados como erros: grosseiros, sistemáticos, aleatórios ou estatísticos.

Definição de Erro

Na nomenclatura do Guia para Expressão da Incerteza da Medição, GUM, (JOINT


COMMITEE FOR GUIDES IN METROLOGY, 2008a), a palavra “erro” é empregada
exclusivamente para indicar a diferença entre o valor verdadeiro e o resultado de uma
medição.

ERRO = VALOR VERDADEIRO – VALOR DE MEDIÇÃO

Assim, para saber o erro de uma medição, é preciso conhecer seu valor verdadeiro.
Como o valor verdadeiro da maioria das grandezas de interesse experimental é
desconhecido a priori, o conceito de erro tem pouco uso prático.
Em circunstâncias excepcionais, o mensurando é conhecido com acurácia
(proximidade entre o valor obtido experimentalmente e o valor verdadeiro na medição de uma
grandeza física) muito melhor que a permitida pela medição. Por exemplo, isto pode ocorrer
na aferição de um equipamento e também é comum em experiências didáticas.
Por exemplo, sabendo que a velocidade da luz no vácuo é definida exatamente como
c = 299 792 458 m/s, é possível calcular o erro de qualquer medição dessa grandeza
subtraindo o resultado obtido no experimento pelo valor verdadeiro (conhecido por
definição). Assim, o cálculo exato do erro só é possível se soubermos, de antemão, qual é o
valor verdadeiro em questão. Porém, apesar de ter pouco uso prático, o conceito de erro é

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
5

fundamental para se compreender de que maneira e por que motivos os resultados das
medições se desviam dos seus respectivos valores verdadeiros.

IV.1 - Erros Grosseiros


São cometidos por imperícia do operador, tais como erros de leitura ou de cálculos,
desconhecimento do método experimental ou do uso dos instrumentos. Essa classe de erro
pode ser evitada e eliminada pela repetição cuidadosa das medições.

IV.2 - Erros Sistemáticos


São cometidos de forma idêntica (repetitiva) durante o experimento, tipicamente por
uma limitação do método de medida, uma falha do instrumento ou imperícia do operador.
Um exemplo típico é a medida de valores de comprimentos sem perceber que a régua
utilizada não começa a partir do zero. Esses erros atuam sempre no mesmo sentido sobre o
valor numérico, causando resultados por excesso ou defeito, com relação ao valor
verdadeiro. A repetição do experimento nas mesmas condições não elimina esses erros.
Portanto, o operador deve revisar cuidadosamente o método de medida e conferir a
calibração dos instrumentos, para determinar se há possibilidade de estar cometendo erros
sistemáticos.
Essa classe de erro também pode ser evitada, se antes de realizar uma medição, o
operador tomar os seguintes cuidados:
 certificando-se das condições de operação dos instrumentos;
 aferindo o equipamento, ou seja, conferindo se os resultados de medidas com “amostras-
padrão” fornecem os resultados esperados. Em caso contrário, o operador deve calibrar o
equipamento de forma que ele possa fornecer os resultados corretos quando a medição
for realizada com os respectivos padrões;
 fazendo testes de reprodutibilidade dos resultados obtidos, isto é, fazendo um grande
número de medidas sob as mesmas condições.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
6

IV.3 - Erros Aleatórios ou Estatísticos


Esses são os erros mais importantes de analisar. São causados pelas mudanças
aleatórias, não controladas, nas condições do processo de medida, incluindo o operador, os
instrumentos, o ambiente do experimento e o próprio sistema físico. Por exemplo, a
dificuldade visual do usuário para apreciar a escala ou a coincidência de um ponteiro do
instrumento, causa flutuações na leitura, tanto para cima, como para baixo do valor
verdadeiro. Esses erros são inevitáveis, mas pela sua natureza aleatória é possível definir
estratégias experimentais para minimizá-los e para estimar o quanto influenciam na
confiabilidade do resultado numérico.
Como principais fontes de erros aleatórios podemos citar:
 interferências externas sobre os instrumentos de medidas: fontes de ruídos, flutuação da
fontes de alimentação, etc.;
 pequenas variações das condições ambientais: temperatura, pressão, umidade relativa,
etc., que podem fazer com que o sistema físico sob investigação varie sua resposta quando
submetido ao mesmo tipo de medição;
 fatores relacionados ao próprio operador e que estão sujeitos a flutuações, em particular
à visão e à audição: cansaço, erro de paralaxe na leitura de uma escala; e reflexos
condicionados: acionar ou parar um cronômetro, apertar o tambor do micrômetro, etc.

V – Precisão e Exatidão de Uma Medida


De um modo simples podemos dizer que:
 uma medida exata é aquela para a qual os erros sistemáticos são nulos ou desprezíveis;
 uma medida precisa é aquela para a qual os erros aleatórios ou estatísticos são
minimizados.

Então temos que a exatidão e a precisão de uma medida podem ser definidas como:

 A exatidão é uma medida de quão próximo o resultado experimental fica do valor


correto (ou verdadeiro) da medição. Também pode ser entendida como a capacidade
de um instrumento para dar respostas próximas ao valor verdadeiro da medida. É a
capacidade que o instrumento de medição tem de fornecer um resultado correto. Um

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
7

equipamento exato é aquele que, após uma série de medições, nos fornece um valor
médio que é próximo ao real, mesmo que o desvio padrão seja elevado, ou seja,
apresente baixa precisão. A exatidão, geralmente, depende da capacidade técnica de
controlar ou compensar os erros sistemáticos. A exatidão pode ser avaliada através
da calibração do instrumento.

 A precisão é uma medida de quão reprodutível é o resultado da medição. Também


pode ser entendida como a capacidade de um instrumento de medição fornecer
indicações muito próximas, quando se mede a mesma grandeza, sob as mesmas
condições. Define o quanto um instrumento é capaz de reproduzir um valor obtido
numa medição, mesmo que ele não esteja correto. A precisão, geralmente depende da
capacidade de superar ou minimizar os erros aleatórios e varia com o número de
repetições de uma medição. A precisão é definida pelo desvio padrão de uma série
de medidas de uma mesma amostra ou um mesmo ponto. Quanto maior o desvio
padrão, menor é a precisão. A precisão tem relação com a qualidade do instrumento.

Analogia de Exatidão e Precisão Com o Tiro ao Alvo


Para compreender melhor os conceitos de exatidão e precisão, é usual fazer analogia
entre o processo de medição e um exercício de tiro ao alvo. Na base dessa analogia está a
ideia de que, assim como o objetivo de um atirador é atingir o centro do alvo, o objetivo da
medição é determinar o valor verdadeiro da grandeza física sob medida. A Figura 1 ilustra
quatro resultados possíveis em um teste de tiro ao alvo.

Figura 1 – Analogia de Exatidão e Precisão com as possíveis tentativas de tiro ao alvo.

Caso 1 Caso 2 Caso 3 Caso 4

Fonte: www.if.ufrgs.br/fis1258/index_arquivos/TXT_01.pdf, consultado em 03/08/2019.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
8

Segundo as condições em que as medições são realizadas, os resultados


experimentais obtidos podem ser classificados em 4 classes:
 Caso 1 da Figura 1 - Medida Exata e Precisa: aquela onde os erros grosseiros e
sistemáticos foram eliminados (escolha de instrumento ou escala adequado e
instrumento calibrado) e os resultados são reprodutíveis;
 Caso 2 da Figura 1 - Medida Inexata e Precisa: aquela onde o instrumento (ou escala do
instrumento) utilizado não é adequado ou esse não estava calibrado, mas os resultados
são reprodutíveis;
 Caso 3 da Figura 1 - Medida Exata e Imprecisa: aquela onde os erros grosseiros e
sistemáticos foram eliminados (escolha de instrumento ou escala adequado e calibrado),
mas os resultados não são reprodutíveis;
 Caso 4 da Figura 1 - Medida Inexata e Imprecisa: aquela onde o instrumento (ou escala
do instrumento) utilizado para a medição não é adequado ou esse não estava calibrado; e
os resultados não são reprodutíveis.

VI - Erro Absoluto e Erro Relativo Para Medições Com Valor Verdadeiro Conhecido
Para os casos onde o valor verdadeiro do mensurando (grandeza sob ato de medição)
é conhecido, podemos definir os seguintes tipos de erro.

VI.1 - Erro Absoluto Para Medições Com Valor Verdadeiro Conhecido


O erro absoluto, EA, de uma medição de uma grandeza X é dado pelo módulo da
diferença entre o valor real (tabelado ou medido com equipamento calibrado e de precisão
adequada, também chamado de verdadeiro), xV, e o valor medido (ou estimado ou medido
com procedimento inadequado), xE, da grandeza, é dado pela Equação 3.

EAx = |𝐱 𝐯 − 𝐱 𝐄 |. (3)

Exemplo 1) Queremos saber quanto é a estimativa da distância de uma árvore para outra.
Utilizando passos largos estimamos que a distância entre elas é de 23 metros – esse é o valor
experimental.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
9

Em seguida, realizamos uma medição com uma fita métrica, para determinar a mesma
distância e determinamos que, na verdade, elas estão a 26 metros de distância uma da outra.
Esse é o valor real.
O erro absoluto na medição da distância entre as árvores é |23 – 26| m= 3 m.

Exemplo 2) Sabendo-se que o valor da aceleração da gravidade, g, na linha do equador ao


nível do mar, sob medição de equipamentos de alta precisão é g0 = 9,7803 m/s2. Se ao
calcular o valor da força peso de uma massa de 1 kg, na mesma localidade, utilizarmos a
aproximação para g = 10 m/s2, o erro absoluto da força peso é de 1.|10 – 9,7803| N = 0,2197
N.

VI.2 - Erro Relativo Para Medições Com Valor Verdadeiro Conhecido


O erro relativo, ER, na medição de uma grandeza física, X, é a razão entre o erro
absoluto e o valor real (tabelado ou verdadeiro), é dado pela Equação 4.

𝐞𝐫𝐫𝐨 𝐚𝐛𝐬𝐨𝐥𝐮𝐭𝐨 |𝐱𝐯 𝐱𝐄 |


ERx = = . (4)
𝐯𝐚𝐥𝐨𝐫 𝐯𝐞𝐫𝐝𝐚𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨 𝐱𝐕

Para os dois exemplos citados no Item VI.1 os erros relativos são respectivamente:
,
= 0,12 = 12% e ,
= 0,023 = 2,3%.

VII - O Conceito de Incerteza da Medição


Por definição, incerteza é uma estimativa que quantifica a confiabilidade do resultado
de uma medição. Quanto maior for a incerteza, tanto menor será a confiabilidade desse
resultado. Paralelamente, é importante destacar que incerteza não é erro. O cálculo do
erro depende de conhecermos o valor verdadeiro daquilo que estamos medindo. Em
contrapartida, o cálculo da incerteza não tem esse tipo de restrição. A incerteza pode (e deve)
ser calculada mesmo quando não temos nenhuma ideia do valor verdadeiro em jogo. Por
isso, a incerteza é um conceito muito mais instrumental e com mais aplicabilidade que o
conceito de erro.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
10

VII.1 - Incerteza Absoluta Para Medições Onde O Valor Verdadeiro Não É Conhecido
Como dito anteriormente, quando não podemos definir o valor verdadeiro de uma
medição não podemos determinar o erro do valor obtido na medição. Mas, como o ato de
medir implica sempre em uma dispersão em torno do valor do mensurando, é importante
quantificar essa dispersão através da incerteza obtida como se descreve a seguir.
Define-se como incerteza absoluta de uma medida, a amplitude de incertezas fixada
pelo experimentador, com o sinal ±. A incerteza absoluta, depende da perícia do
experimentador, de sua segurança, da facilidade de leitura da escala e do próprio
instrumento utilizado na medição.
Apesar de não ser norma, costuma-se adotar como incerteza absoluta, o valor da
metade da menor divisão da escala tomado em módulo. Na medida X=(10,3 ± 0,1) cm, 0,1 cm
é a incerteza absoluta.

VII.2 – Incerteza Relativa Para Medições Onde O Valor Verdadeiro Não É Conhecido
A incerteza relativa é igual ao quociente entre a incerteza absoluta e a medida da
grandeza, e é frequentemente expressa em termos percentuais. Por exemplo, para a medida
X=(10,3 ± 0,1) cm, temos:
Incerteza absoluta = ±0,1 cm
Incerteza relativa = (±0,1/10,3) = ± 0,0097 ou 0,97%
Poderíamos dizer que quanto menor a incerteza relativa, maior a “qualidade” da
medida.
Quando o valor de uma grandeza é obtido a partir de uma medida única, costuma-se
exprimi-lo com a respectiva incerteza absoluta

VII.3 – Tipos de Incerteza


Há dois tipos de incerteza: do tipo A e do tipo B.
As incertezas são de tipos diferentes porque são calculadas por procedimentos
distintos. No primeiro grupo de procedimentos de avaliação da incerteza estão todos os
métodos que envolvem a análise estatística de uma série de observações. No outro grupo, o
restante.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
11

Por definição, as avaliações da incerteza do tipo A dependem que seja feita uma série
de medições da mesma grandeza física. A avaliação da incerteza do tipo A ocorre
essencialmente quando calculamos o desvio padrão da média de uma série de medições.
Nesses casos, o resultado da medição é a média das observações.
As avaliações da incerteza do tipo B são utilizadas principalmente quando é muito
difícil realizar observações repetidas (ou quando não faz sentido realizar tais observações).
Do ponto de vista teórico, os procedimentos de avaliação da incerteza do tipo B são bastante
sofisticados, mas não precisam ser discutidos agora.
Assim como ocorre com a incerteza do tipo A, o resultado da avaliação da incerteza
do tipo B pode ser interpretado como um desvio padrão. Ou seja, tanto a incerteza do tipo A
quanto a incerteza do tipo B pode ser utilizada para construir intervalos de confiança.
O Quadro 1 resume os procedimentos e definições apresentados.
Quadro 1 - Conceitos-chave da nomenclatura atual de metrologia.
Nome Significado/Definição Observações
Erro É igual à diferença entre o resultado É muito útil para compreender de
da medição e o valor verdadeiro. que maneira e por que motivos a
medida se desvia do seu valor
verdadeiro. Contudo, tem pouco uso
instrumental, pois seu cálculo requer
conhecer de antemão o valor
verdadeiro em questão.
Incerteza Estimativa que quantifica a Pode ser obtida por meio de uma
confiabilidade do resultado de uma avaliação do tipo A ou do tipo B.
medição. Quanto maior for a Incerteza não é erro!
incerteza, tanto menor será a
confiabilidade desse resultado.
Incerteza do Tipo Incerteza calculada a partir de um Nesse caso, o resultado de uma
A procedimento que envolve medição é igual à média das
medições repetidas. observações e a incerteza (do tipo A)
é igual ao desvio padrão dessa
média.
Incerteza do Tipo Incerteza calculada a partir de um Nesse caso, o resultado da medição é
B procedimento que não envolve igual ao resultado da primeira (e
medições repetidas. única) medição. Assim como a
incerteza do tipo A, a incerteza do
tipo pode ser interpretada como um
desvio padrão.
Neste texto, trabalharemos somente com a incerteza do tipo A, por ser mais aplicada
em aulas práticas de laboratórios.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
12

Incerteza do Tipo A
Para definirmos a incerteza do tipo A, precisamos definir os conceitos de valor médio
(representado por uma barra sobre a letra que representa a grandeza sob medição; por
exemplo: 𝐱), o desvio padrão experimental (representado pela letra grega sigma
minúscula, σ) e o desvio padrão experimental da média (representado pela letra grega
sigma minúscula com sub-índice m, σm).

Desvio Padrão Experimental, σ


A existência de erros aleatórios pode fazer com que o resultado numérico x, obtido na
medição de uma grandeza física X, não seja reprodutível em ocasião da repetição do
experimento. Dessa maneira, uma série de N medidas pode mostrar uma dispersão de
valores. Quando a dispersão é aleatória, aparecem valores acima e abaixo do valor
verdadeiro com a mesma probabilidade. Assim, ao calcular a média aritmética dos valores
medidos, xi, dada pela Equação 5, os erros aleatórios tendem a se cancelar mutuamente.

∑𝐍
𝐢 𝟏 𝐱𝐢
𝐱= . (5)
𝐍

Para um número N, suficientemente grande de medidas, podemos esperar que o valor


médio da medição, x, se aproxime do valor verdadeiro e o resultado do experimento seja
cada vez mais exato.
O desvio padrão experimental, σ, que quantifica a dispersão de cada valor de medição
em torno da média é dado pela Equação 6:

∑𝐍
𝐢 𝟏(𝐱 𝐢 𝐱)
𝟐
Desvio Padrão Experimental = 𝛔 = . (6)
𝐍 𝟏

A raiz quadrada garante que σ tenha as mesmas unidades da grandeza X. O desvio


padrão experimental, σ, indica a ordem de grandeza da dispersão de cada medição em torno
do valor médio da medição, x. Um tratamento estatístico rigoroso mostra que se o
experimento for repetido, existe uma probabilidade de 68% de que o valor medido se
encontre dentro do intervalo (x − σ, x + σ).

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
13

Esta estimativa da variabilidade das medidas devido a erros aleatórios por meio do
desvio padrão, supõe que a frequência das medidas obedece à distribuição gaussiana
apresentada na Figura 2. Na Figura 2 temos a representação gráfica de uma distribuição
gaussiana (dita distribuição normal), onde estão indicadas as percentagens de medições em
função dos múltiplos do desvio padrão σ.
Analisando-se a Figura 2, observa-se que para a distribuição gaussiana, 68,26% dos
valores das medições então contidas no intervalo −σ ≦ x ≦ +σ, 95,44% dos valores estão
no intervalo −2σ ≦ x ≦ +2σ, e 99,74% dos valores estão no intervalo −3σ ≦ x ≦ +3σ.

Figura 2 – A distribuição gaussiana de distribuição de medidas em torno do valor médio da medição da


grandeza X, 𝒙, em função dos múltiplos do desvio padrão, σ.
Número de Medidas

𝐱 − 𝟑𝛔 𝐱 − 𝟐𝛔 𝐱 − 𝛔 𝐱 𝐱+𝛔 𝐱 + 𝟐𝛔 𝐱 + 𝟑𝛔

Valores medidos de uma grandeza X


Fonte: Autora

Desvio Padrão Experimental da Média, σm


Assim, como existe um desvio padrão experimental dos resultados das medições, σ,
que quantifica a dispersão de cada medição em torno da média, podemos definir um desvio
padrão experimental da média, σm, que quantifica a variabilidade dessa média. Este valor

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
14

quantifica quão bem foi estimado o valor esperado de uma medição, x, e qualquer um dentre
eles pode ser usado como medida da incerteza de x. Quando utilizamos o desvio padrão
experimental da média, σm, temos que o valor verdadeiro de uma grandeza X, xo, (e não o
valor médio 𝐱) tem a probabilidade de 68% de estar no intervalo, −σ ≦ x ≦ σ .

É possível demonstrar que o desvio padrão experimental da média, σm, se relaciona


com o desvio padrão experimental das medições, σ, pela expressão apresentada na Equação
7.

𝛔 ∑𝐍
𝐢 𝟏(𝐱 𝐢 𝐱)
𝟐
Desvio Padrão Experimental da Média = = (7)
√𝐍 𝐍(𝐍 𝟏)

É importante, portanto, entender que o resultado do experimento não é,


simplesmente, um número, x (o valor mais provável), mas um intervalo de confiança que dá
uma ideia da magnitude dos erros aleatórios afetando o experimento. Os experimentos de
maior precisão são aqueles cujo desvio padrão da média é menor. Observe que um
experimento preciso (σm pequeno, erros aleatórios pequenos) não é, necessariamente, um
experimento exato (x próximo do valor verdadeiro); a presença de erros sistemáticos pode
afastar todos os valores x do valor verdadeiro.
É interessante notar que a precisão da média aumenta com √N. Assim, uma medida
com a precisão 2 vezes maior que outra requer 4 vezes mais dados que a outra.
Ainda convém acrescentar que se σm varia com o número de dados da medida, o
mesmo não acontece com o desvio padrão, σ. O desvio padrão dos dados é uma medida da
precisão do instrumento, só dependendo deste, que por variar com o número de dados, N; é
a estimativa que se faz do desvio padrão, σ, desde que, justamente por ser apenas uma
estimativa, está sujeito a flutuações estatísticas, que serão tanto menores quanto maior o
número de dados, N.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
15

VIII – Apresentação de Uma Grandeza Física Sob Medição


A incerteza é inerente ao processo de medição, isto é, nunca será completamente
eliminada. Poderá ser minimizada, procurando-se eliminar ou minimizar as fontes de erros
citados acima.
O resultado de uma medição de uma grandeza física, X, é geralmente indicado na
seguinte forma:
𝐗 = 𝐱 ± 𝚫𝐱 (unidade) (8)
onde temos que:

x é o valor de uma única medida; e


X, resultado de uma única medida = Δx é determinado pela imprecisão, D, do
instrumento de medida (D depende do tipo de
instrumento de medida utilizado)
e

X, resultado de uma série de medidas = x é o valor médio das medições, x; e


Δx é a incerteza dada pelo desvio padrão
experimental da média, σm (Equação 7).

O sinal ± na Equação 8 indica que o valor da medição da grandeza X esta


compreendido no intervalo:

𝐱 − 𝚫𝐱 ≦ 𝐗 ≦ 𝐱 + 𝚫𝐱 (9)

Por exemplo, o valor da massa molecular do hidrogênio (H) é expresso como:

mH = (1,0078 ± 0,0005) g/mol.

Dados sem Dispersão


Em algumas medidas diretas, pode ocorrer que todos os valores x medidos sejam
idênticos, ou difiram, no máximo, no valor da mínima divisão da escala do instrumento D.
Nesse caso, a dispersão é nula e não há necessidade de calcular uma média; o resultado do
experimento é único (x = x ). O exemplo típico é a medida de comprimentos de objetos
rígidos, de faces bem definidas, com uma trena milimétrica (D = 0,5 mm) ou um paquímetro
(D = 0,05 mm); a repetição da medida fornece valores equivalentes. Isso significa que os
erros aleatórios são pequenos, menores que a imprecisão D do instrumento. Nesse caso, a

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
16

incerteza do experimento pode ser atribuída à metade da imprecisão D e o resultado da


medida é expresso como:

X = 𝐱 ± imprecisão do instrumento D (unidade). (10)

Sendo a imprecisão, D, do instrumento determinada conforme o tipo de instrumento


utilizado.

Forma Correta de Expressar O Resultado de Uma Medida

 Não existem resultados experimentais sem incerteza: não


deixe valores medidos sem sua incerteza.

 Para uma série de medições da grandeza X, onde há dispersão


dos valores, calcule o valor médio 𝑥̅ e o desvio padrão
experimental da média, 𝜎m. O resultado da medida é expresso
por:

X = 𝑥̅ ± 𝜎m (unidade)

 Os algarismos significativos da incerteza definem onde serão


truncados e arredondados os resultados.

 Evite arredondar e truncar durante os cálculos auxiliares;


façam-no apenas no resultado final.

Exemplo 3) Tomemos uma série de 5 medidas do diâmetro de um fio, ϕ, como apresentado


na Tabela 1 feitas com um micrômetro cuja precisão é de 0,05 mm.
Tabela 1 – Medidas do diâmetro de um fio.
ϕ (mm) 2,05 2,00 2,05 2,10 1,95

O valor médio do diâmetro do fio, ϕ, será:


, , , , ,
ϕ= ∑ = = 2,03 mm
O desvio padrão experimental da média das medidas é:

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
17

∑ (ϕ − 2,03)
σ = =
5(5 − 1)

(2,05 − 2,03) + (2,00 − 2,03) + (2,05 − 2,03) + (2,10 − 2,03) + (1,95 − 2,03)
= =
20

(0,02) + (−0,03) + (0,02) + (0,07) + (−0,08)


= =
20

0,0004 + 0,0009 + 0,0004 + 0,0049 + 0,0064 0,013


= = = 0,00325 =
20 4

= 0,02549 mm
Assim, temos que o resultado das medições do diâmetro do fio sob estudo será:

ϕfio = ϕ ± 𝜎m = (2,03 ± 0,02549) mm

A forma correta de apresentar esse resultado, utilizando-se as regras de truncamento


e arredondamento, segundo descrito neste texto, será:

ϕfio = ϕ ± 𝜎m = (2,030 ± 0,03) mm

IX – Incerteza Combinada, Incerteza em Medidas Indiretas, Propagação de Incertezas

Quando uma grandeza W, determinada indiretamente, é uma função de várias


grandezas sob medição, Xi, com N números de medição, W = f(X1, X2, X3, ...), com valores
médios, x e respectivas incertezas (desvios padrões experimentais das médias), Δx ,
medidos de forma direta (𝑥 ± 𝛥𝑥 , 𝑥 ± 𝛥𝑥 , 𝑥 ± 𝛥𝑥 , ...), sua incerteza resultante ∆w =
σc (denominada incerteza combinada, σc) será determinada a partir das incertezas (desvios
padrões experimentais das médias) das grandezas sob medições, conforme a Equação 11.

𝟐
𝛛𝐖
𝚫𝐰 = 𝛔𝐜 = ∑𝐢𝐢 𝐍𝟏 . (𝚫𝐱 )𝟐 =
𝛛𝐗 𝐢 𝐗 𝐱
𝐢

𝟐 𝟐 𝟐
𝛛𝐖 𝛛𝐖 𝛛𝐖
𝛛𝐗 𝟏 𝐗
. (𝚫𝐱 𝟏 )𝟐 + 𝛛𝐗 𝟐 𝐗
. (𝚫𝐱 𝟐 )𝟐 + ⋯ + 𝛛𝐗 𝐍 𝐗
. (𝚫𝐱𝐍 )𝟐 (11)
𝟏 𝐱 𝟐 𝐱𝟐 𝐍 𝐱𝐍

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
18

Na Equação 11, as derivadas parciais são sempre calculadas no valor médio de

Xi, 𝑥 , e a incerteza combinada, σc é sempre tomada em módulo.

Exemplo 4) O volume V de um cubo de aresta média, 𝑎, cujas medidas diretas forneceram


a = (a ± Δa) =(10 ± 1) cm terá como valor mais provável V = (a) = (10 cm)3 = 1000 cm3
. Entretanto, como a medição da aresta, 𝑎, tem dispersão, teremos variações prováveis no
valor de V entre V_ = (9 cm)3 = 729 cm3 e V+ = (11 cm)3 = 1331 cm3. Neste caso a incerteza
(desvio padrão experimental da média) da aresta é Δa = 1 cm.

Como o volume é dado por V = a3 (uma única variável), sua incerteza combinada ΔV
será dada por:

∂V ∂a
ΔV = σ = . (Δa) = . (Δa) =
∂a ∂a

= ([3𝑎 ] ) . (Δa) 3(a) . (Δa) = 3(10) . (1) = √300 cm

ΔV = 17,32 cm3

E o volume do cubo será dado por: V = V ± ΔV = (1000 ± 17,32) cm3.


A forma correta de apresentar este resultado, utilizando-se as regras de truncamento
e arredondamento, segundo descrito neste texto, será:
V = 𝐕 ± 𝚫𝐕 = (100 ± 2)x10 cm3

Exemplo 5) Determinar a área de uma folha de papel cujo comprimento, c, e largura, l,


obtidos após uma série de medições são, respectivamente: c = (25,0 ± 0,1) cm e 𝑙 = (12,0±
0,1) cm.
Neste caso a área média da folha de papel, A, é dada pela função matemática, A = c. l ̅ =
c. l ̅ = 300 cm .
A incerteza combinada, ΔA, para área A da folha segundo a Equação 11 é:

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
19

𝟐 𝟐
𝛛𝐀 𝛛𝐀 𝟐
Δa = 𝛛𝐜 𝐜̅ 𝟐𝟓,𝟎
. (𝚫𝐜̅)𝟐 + 𝛛𝐥 𝐥̅ 𝟏𝟐,𝟎
. 𝚫𝐥̅

𝟐 𝟐
Δa = 𝐥̅ . (𝚫𝐜̅)𝟐 + (𝐜̅)𝟐 . 𝚫𝐥̅ = (𝟏𝟐, 𝟎)𝟐 . (𝟎, 𝟏)𝟐 + (𝟐𝟓, 𝟎)𝟐 . (𝟎, 𝟏)𝟐 = 𝟕, 𝟔𝟗

Δa = 2,77 cm2

Portanto, a área A da folha de papel é: A = (300 ± 2,77) cm2.


A forma correta de apresentar este resultado, utilizando-se as regras de
truncamento e arredondamento, segundo descrito neste texto, será:
A = (300 ± 3) cm2.

A Tabela 1 apresenta as fórmulas de propagação de incertezas para as funções mais


utilizadas. O resultado, w, é sempre dado em função dos valores médios (Equação 5), x , e
dos desvios padrão experimental das médias (Equação 7), Δx = σ , das grandezas.
Todos os termos utilizados para a determinação da incerteza Δw são tomados em
valor absoluto (módulo), ou seja, todos os termos pertencentes à incerteza são positivos e
sempre se somam (isto é, a incerteza se propaga).

Exemplo 6) Considere um cilindro de raio b = (3,50 ± 0,05) cm e altura h = (10,00 ± 0,05)


cm, obtidos após uma série de medições. O volume do cilindro e sua respectiva incerteza são:
Como Vcilindro = Área da Base (πb2). Altura (h) =π(3,50 ± 0,05)2cm2. (10,00 ± 0,05)cm.
Vamos utilizar as seguintes regras, apresentadas na Tabela 1, para obtermos a
incerteza combinada do volume do cilindro, ΔV: regra do produto por uma constante (π);
regra da potência (potência 2, raio ao quadrado) e regra do produto de funções (base vezes
altura).
Inicialmente, devemos começar a calcular a propagação do erro envolvido na
potenciação do cálculo da área da base:
(b) = (b) ± 2. (b) Δb = (3,50) ± [2. (3,50). (0,05)] = (12,25 ± 0,35)cm ;

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
20

A seguir, aplicamos a regra da multiplicação pela constante, π, pelo raio ao quadrado:


π(b) = π. (12,25 ± 0,35) = 3,1416(12,25) ± 3,1416. (0,35) = (38,4846 ± 1,09956)cm

E então, aplicamos a regra do produto (área da base vezes a altura):


hπ(b) = (10,00 ± 0,05). (38,4846 ± 1,09956)cm = (10,00). (38,4846) ±
(38,4846) . (0,05) + (10,00) . (1,09956) = (384,846) ± √3,70266 + 120,90321 =
384,846 ± 11,1626 cm =

Assim, o volume do cilindro, 𝑉 = V ± ΔV = 384,846 ± 11,1626 𝑐𝑚


A forma correta de apresentar este resultado, utilizando-se as regras de
truncamento e arredondamento, segundo descrito neste texto, será:

𝐕 = 𝐕 ± 𝚫𝐕 = (𝟑𝟖 ± 𝟏) · 𝟏𝟎 𝐜𝐦𝟑

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
21

Tabela 1 - Fórmulas de propagação de incertezas para algumas funções elementares. As grandezas Xi


apresentam valores médios 𝐱 e desvios padrões experimentais da média 𝜟𝒙

Operação W = f(X1, X2) ± Δ𝒘

Soma 𝑤 = 𝑥 +𝑥 ± Δw = (Δ𝑥 ) + (Δ𝑥 )

Subtração 𝑤 = 𝑥 −𝑥 ± Δw = (Δ𝑥 ) + (Δ𝑥 )

Produto 𝑤 = 𝑥 .𝑥 ± Δw = (𝑥 ) (Δ𝑥 ) + (𝑥 ) (Δ𝑥 )

Quociente 𝑥
𝑤= (𝑥 ) (Δ𝑥 ) + (𝑥 ) (Δ𝑥 )
𝑥 Δw =
(𝑥 )

Produto por uma 𝑤 = 𝑎𝑥 ± Δw = 𝑎Δ𝑥


constante a

Potência 𝑤 = (𝑥 ) ± Δw = 𝑛(𝑥 )( )
Δ𝑥

Cosseno 𝑤 = cos(𝑥 ) ± Δw = 𝑠𝑒𝑛(𝑥 )Δ𝑥


(𝒙𝟏 𝒆𝒎 𝒓𝒂𝒅𝒊𝒂𝒏𝒐)

Seno 𝑤 = 𝑠𝑒𝑛(𝑥 ) ± Δw = 𝑐𝑜𝑠(𝑥 )Δ𝑥


(𝒙𝟏 𝒆𝒎 𝒓𝒂𝒅𝒊𝒂𝒏𝒐)

Logaritmo de base 𝑤 = 𝑙𝑜𝑔 (𝑥 ) ± 𝑙𝑜𝑔 (𝑒)


Δw = Δ𝑥
c 𝑥

Constante,c, 𝑤= 𝑐 ± Δw = 𝑐 ( )
ln(𝑐)𝛥𝑥
elevada a 𝑥
Fonte: Autora

Nos cálculos de propagação de incertezas, constantes físicas bem

conhecidas, como a aceleração da gravidade, 𝑔, por exemplo, ou

números irracionais, como 𝜋 ou 𝑒, são considerados sem erro. Nesse caso,

o número de algarismos significativos utilizados deve ser suficiente

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
22

para que o efeito do truncamento seja desprezível diante das incertezas

experimentais.

Quando trabalhamos com grandezas físicas cujo valor deve ser

determinado por medições indiretas ou a mistura de medições indiretas

e diretas através de medidas repetitivas, as incertezas das medições

diretas devem ser determinadas previamente, como discutido no Item

IX, e só então aplicamos as regras da Tabela 1 para obter a incerteza

combinada final.

X - A Regra do Truncamento
Quando, por meio de um cálculo, obtemos os valores médios de uma grandeza, x, e
da incerteza, σm, são originados números com vários dígitos. Tendo em conta que são
resultados experimentais, medidos com instrumentos de imprecisão D e afetados por erros
aleatórios, é lógico pensar que muitas das casas decimais obtidas são irrelevantes e não
devem ser apresentadas. Ou seja, é necessário fazer um truncamento em uma dada casa
decimal. Qual é, portanto, o critério para decidir o número de algarismos (casas decimais) a
serem apresentados?
A resposta para qual critério utilizar depende do número de medições realizadas, N.
Podemos dividir os procedimentos para 2 tipos segundo o número de medições, N,
realizadas: 5≤N≤50 e N>50.
No caso dos Laboratórios Didáticos, o número de medições, N sempre será
menor que 50, mas deve ser no mínimo igual a 5.

X.1 – Número de Medições entre 5 e 50


Neste caso, o truncamento das casas decimais do valor médio e de sua incerteza deve
ser realizado na casa decimal correspondente à casa decimal do primeiro algarismo não nulo,

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
23

contado da esquerda para a direita, da respectiva incerteza, onde serão aplicadas as regras
de arredondamento discutidas no Item XI.

Exemplo 5) Considere o resultado de 5 medições (sem truncamentos ou arredondamentos)


da massa de um objeto, M = (237,9325 ±0,0349)g.
O primeiro algarismo não nulo, contado da esquerda para direita, da respectiva
incerteza, é o número 3, que ocorre na casa dos centésimos (segunda casa após a vírgula).
Portanto, a representação correta da medição com os respectivos algarismos significativos
é: M = (237,93 ±0,03)g = (237,93 ±0,03)x10-3kg.

Exemplo 6) Considere o resultado de 13 medições (sem truncamentos ou arredondamentos)


do comprimento de um objeto, M = (4971,8659 ± 56,3478)m.
O primeiro algarismo não nulo, contado da esquerda para direita, da respectiva
incerteza, é o número 5, que ocorre na casa das dezenas (segunda casa antes da vírgula).
Portanto, a representação correta da medição com os respectivos algarismos significativos
é: M = (497± 6)x10m.

X.2 – Número de Medições Maior Que 50


Neste caso, O parâmetro chave é a incerteza do desvio padrão experimental da
média, σm.
O desvio padrão da média, σm, obedece a uma função densidade de probabilidade.
Ele tem, portanto, um desvio padrão. É possível avaliar a ordem de grandeza desse desvio
através do desvio padrão do desvio padrão experimental da média (ou da incerteza
combinada), que identificaremos por σ , através da Equação 12:

𝛔𝐦
𝛔𝛔𝐦 = (12)
𝟐(𝐍 𝟏)

O primeiro algarismo não nulo do desvio padrão do desvio padrão experimental


da média, 𝝈𝝈𝒎 , nos dá a posição de onde devemos truncar os valores apresentados, para
a incerteza determinada pelo desvio padrão experimental da média, σm.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
24

Exemplo 7) O diâmetro de uma esfera, após 60 medições (sem truncamentos ou


arredondamentos) é Φesfera = ϕ ± 𝜎m = (2,03678 ± 0,02549) cm.
Neste caso o desvio padrão do desvio padrão da média, σ , é:

σ 0,02549 0,02549
σ = = = = 0,00234 cm
2(N − 1) 2(60 − 1) √118
Assim, neste caso, o primeiro algarismo não nulo do desvio padrão do desvio padrão
experimental da média, 𝜎 , está na casa dos milésimos. Então a forma correta de apresentar
o resultado do diâmetro da esfera é:
Φfio = ϕ ± 𝜎m = (2,037 ± 0,002) mm

Após definirmos onde devemos truncar a apresentação do valor médio


e do desvio padrão experimental da média, utilizamos as regras de
arredondamento (Item XI) para apresentar corretamente o valor médio
da grandeza e seu respectivo desvio padrão experimental da média.
Devemos lembrar que o número de casas decimais devem ser as mesmas
para o valor médio e seu respectivo desvio padrão experimental da
média.

XI – Regras do Arredondamento Segundo a ABNT


O desvio padrão da média (para número de medições entre 5 e 50), σm, e do desvio
padrão do desvio padrão da média (para número de medições maior que 50), σ , nos indica
onde devemos truncar a apresentação dos valores. Mas, temos que levar em conta a
influência dos algarismos posteriores à casa de truncamento para representar corretamente
o último algarismo a ser representado.
A norma ABNT NBR 5891 de 2014 é transcrita abaixo.
A) Quando o algarismo a ser conservado for seguido de algarismo inferior a 5,
permanece o algarismo a ser conservado e retiram-se os posteriores.
Exemplo A: 1,333 arredondamento à primeira casa decimal torna-se 1,3.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
25

B) Quando o algarismo a ser conservado for seguido de algarismo superior ou igual a 5


seguido de no mínimo um algarismo diferente de zero, soma-se uma unidade ao
algarismo a ser conservado e retiram-se os posteriores.
Exemplo B1: 1,666 arredondado à primeira casa decimal torna-se 1,7.
Exemplo B2: 4,850 arredondando à primeira casa decimal é 4,8.

C) Quando o algarismo a ser conservado for ímpar, seguido de 5 e posteriormente de


zeros, soma-se uma unidade ao algarismo a ser conservado e retiram-se os
posteriores.
Exemplo C : 4,550 arredondamento à primeira casa decimal torna-se 4,6

D) Quando o algarismo a ser conservado for par, seguido de 5 e posteriormente de zeros,


permanece o algarismo a ser conservado e retiram-se os posteriores.
Exemplo D: 4,850 arredondado à primeira casa decimal torna-se 4,8.

Estas regras podem ser reescritas como descrito abaixo.

As regras de arredondamento, seguindo a Norma ABNT NBR 5891, aplicam-se aos


algarismos decimais situados na posição seguinte ao número de algarismos decimais que se
queira transformar, ou seja, se tivermos um número de 4, 5, 6, ..., n algarismos decimais e
quisermos arredondar para 2 por exemplo, aplicar-se-ão estas regras de arredondamento:

 Se os algarismos decimais seguintes forem menores que 50, 500, 5000..., o anterior
não se modifica.
 Se os algarismos decimais seguintes forem maiores a 50, 500, 5000..., o anterior
incrementa-se em uma unidade.
 Se os algarismos decimais seguintes forem iguais a 50, 500, 5000..., verifica-se o
anterior; se for par, o anterior não se modifica; se for ímpar, o anterior
incrementa-se em uma unidade.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
26

Nos exemplos abaixo, queremos o arredondando a 2 algarismos decimais. Então


deveremos ter em atenção o terceiro e quarto decimal. Assim, conforme as regras anteriores:

 O número 12,6529 seria arredondado para 12,65 (aqui fica 12,65, uma vez que 29 é
inferior a 50, então não se modifica)
 O número 12,86512 seria arredondado para 12,87 (aqui fica 12,87, uma vez que 512
é superior a 500, então incrementa-se uma unidade)
 O número 12,744623 seria arredondado para 12,74 (aqui fica 12,74, uma vez que
4623 é inferior a 5000, então não se modifica)
 O número 12,8752 seria arredondado para 12,88 (aqui fica 12,88, uma vez que 52 é
superior a 50, então incrementa-se uma unidade)
 O número 12,8150 seria arredondado para 12,82 (aqui fica 12,82, uma vez que os
algarismos seguintes são iguais a 50 e o anterior é ímpar, nesse caso 1, então
incrementa-se uma unidade)
 O número 12,8050 seria arredondado para 12,80 (aqui fica 12.80, uma vez que os
algarismos seguintes são iguais a 50 e o anterior é par, nesse caso 0, então o anterior
não se modifica)
 O número 13,4666..., se fossemos arredondar à parte inteira, será sempre
arredondado para 13, pois 4666... é menor que 5000... (Se fizermos o arredondamento
número a número, teríamos: 13,4666... → 13,47 → 13,5 → 14, porém, isso seria a irmar
que 13,4666... está mais próximo de 14 do que está de 13, que não é verdade. Portanto,
não devemos arredondar o número já previamente arredondado!!!)

XII – Algarismos Exatos e Duvidosos de Uma Medição


Em Matemática trabalhamos com números exatos, assim tanto faz escrevermos 5,4
cm como 5,40 cm. Já em Física, trabalhamos com números que, geralmente, decorrem de
medidas de grandezas físicas, assim, 5,4 cm ou 5,40 cm têm significados completamente
diferentes, no que diz respeito à precisão com que foram realizadas cada uma dessas
medidas. No primeiro caso, 5,4 cm, temos certeza apenas do valor do primeiro algarismo
significativo apresentado (5, algarismo exato) e estimamos o segundo algarismo (4,

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
27

algarismo duvidoso e desconhecemos completamente o valor do terceiro algarismo, sendo


assim, não o apresentamos. No segundo caso, temos certeza quanto aos dois primeiros
algarismos significativos (5 e 4, algarismos exatos) e estimamos o terceiro algarismo como
sendo zero (algarismo duvidoso).

Os algarismos que temos certeza ao apresentarmos o valor de uma

medida são chamados de algarismos exatos ou corretos. Os algarismos

exatos são contados da esquerda para a direita a partir do primeiro

algarismo diferente de zero. Aqueles que são estimados são chamados de

algarismos duvidosos. O(s) algarismo(s) duvidoso(s) é (são)

determinado(s) como sendo aquele(s) onde incide a incerteza da medição.

A partir das definições acima, podemos definir o que chamamos de algarismos


significativos do resultado de uma medição.

Os algarismos significativos de uma medição são constituídos dos

números exatos mais o primeiro algarismo duvidoso e mais nenhum.

Algumas regras importantes devem ser observadas na contagem dos algarismos


significativos:
 A base 10 e seu expoente não são considerados significativos;
 Um número que seja reescrito com o auxílio da base 10 não deve ser aproximado
(arredondado), isto é, deve manter todos os seus algarismos significativos;
 O algarismo zero à esquerda, desde que não precedido de outro algarismo diferente
de zero, não é considerado significativo
 As potências de 10 devem ser sempre utilizadas para apresentar o resultado de uma
medida com somente seus algarismos significativos (exatos + duvidoso) e nada além.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
28

Exemplo 7) A medição do comprimento de uma barra resultou em l = (103 ± 2) mm. Neste


caso, os algarismos exatos do valor médio são o 1 e o primeiro zero, e o algarismo duvidoso
é o dígito 3, onde incide a incerteza.

XII - Comparação de Grandezas Físicas com Incertezas


Suponhamos que se deseje comparar dois resultados com incertezas, x ± σ1 e x ± σ2
relativos a diferentes medições da mesma grandeza física. Em quais condições podemos
afirmar que ambos são equivalentes ou diferentes entre si? A simples comparação dos
valores mais prováveis x e x não é suficiente para decidir, pois cada um desses resultados
experimentais tem uma faixa de incerteza. A forma correta de proceder é comparar a
diferença entre os valores mais prováveis, x e x , com relação às incertezas (desvio padrão
experimental médio, ou incerteza do instrumento), σ1 e σ2. Assim, consideramos que os
resultados 𝐱 𝟏 e 𝐱 𝟐 são equivalentes entre si quando obedece a desigualdade da Equação
13:

| 𝐱 𝟏 − 𝐱 𝟐 | < 𝟐(𝛔𝟏 + 𝛔𝟐 ) (13)

Essa relação indica que a separação entre os valores é, no máximo, duas vezes a
combinação das incertezas. Por outro lado, os resultados serão considerados como não-
equivalentes quando obedecem a desigualdade da Equação 14:

| 𝐱 𝟏 − 𝐱 𝟐 | < 𝟑(𝛔𝟏 + 𝛔𝟐 ) (14)

Quando o valor da diferença | 𝐱 𝟏 − 𝐱 𝟐 | fica entre as condições expressas nas


Equações 16 e 17 o resultado desses experimentos não é suficientemente conclusivo para
afirmar se há equivalência ou não entre as medidas. Nessa situação, o procedimento correto
é repetir cuidadosamente os experimentos tentando excluir a presença de erros sistemáticos
ou grosseiros.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
29

XIII – Utilização da Notação Científica (Potências de 10) na Apresentação de Uma


Medição
Após definirmos o número de algarismos significativos de uma medição, temos que
esse número nunca deverá ser alterado durante uma transformação de unidades.
Para que essa regra seja sempre obedecida, muitas vezes se torna imprescindível
utilizarmos as potências de dez para que possamos realizar as transformações de unidades
ou para apresentarmos o resultado com o número de algarismos significativos corretos. Esse
tipo de notação é chamado de notação científica.

As potências de dez utilizadas na notação científica não são contadas

como algarismos significativos ou dígitos do resultado de uma medição.

Como a notação científica é muito utilizada, suas potências recebem letras que as
representam (prefixos, no sistema internacional de unidades, SI) para maior clareza na
apresentação das medições. Esses prefixos são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 - Prefixos da Notação Científica do Sistema Internacional de Unidades


Fator Nome Símbolo Fator Nome Simbolo
101 deca da (letra 10-1 deci d
minúscula)
102 hecto h (letra 10-2 centi c
minúscula)
103 quilo ou kilo k (letra 10-3 mili m
minúscula)
106 mega M 10-6 micro μ (letra
grega mi)
109 giga G 10-9 nano n
1012 tera T 10-12 pico p
1015 peta P 10-15 femto f
1018 exa E 10-18 atto a
1021 zetta Z 10-21 zepto z
1024 yotta Y 10-24 yocto y
Fonte: autora

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
30

Outro símbolo muito utilizado em Física para comprimento está relacionado à


potência 10-10 denominada de angstrom (em homenagem ao físico sueco Anders Jonas
Ångström), cujo símbolo é Å.
A Tabela 3 apresenta alguns exemplos de transformações de unidades e as
respectivas notações científicas. Observe que na transformação de unidades o número de
algarismos significativos (exatos mais o duvidoso) não pode ser alterado.

Tabela 3 – Exemplos de transformações de unidades, notação científica, algarismos duvidosos,


algarismos significativos e número de dígitos.
Grandeza Valor da Algarismo No de No de Transformação Algarismo No de No de
Física Medida Medição Duvidoso Algarismos Dígitos de Unidades Duvidoso Algarismos Dígitos
Significativos Significativos
Comprimento 6,8 cm 8 2 2 68x101 mm 8 2 2
de Uma Barra =0,68x102 mm= 8 2 3
0,068x103 mm 8 2 4
Espessura de 3μm 3 1 1 3x10-6 m = 3 1 1
um Fio de 3x10+4 Å 3 1 1
Cabelo
Área de Uma 142 m2 2 3 3 142x104 cm2 = 2 3 3
Superfície 142x10-6 km2 = 2 3 3
1,42x10-4 km2 2 3 3
Intervalo de 0,0056 s 6 2 5 0,0056x103 ms= 6 2 5
Tempo 0,56x101 ms= 6 2 3
5,6 ms 6 2 2
Fonte: Autora

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
31

XIV – Alfabeto Grego


Muitas grandezas físicas são comumente representadas por letras gregas.
A Tabela 4 apresenta o alfabeto grego.
Tabela 4 – Alfabeto Grego
Notação Nome
Letra Maiúscula Letra Minúscula
Α α alfa
Β β beta
Γ γ gama
Δ Δ delta
Ε ε epsilon
Ζ ζ zeta
Η η eta
Θ θ téta
Ι ι yota
Κ κ capa
Λ λ lambda
Μ μ mi (ou miu)
Ν ν ni (ou niu)
Ξ ξ csi
Ο ο omicron
Π π pi
Ρ ρ ro
Σ σ sigma
Τ τ tau
Υ υ upsilon
Φ φ fi
Χ χ qui
Ψ ψ psi
Ω ω omega
Fonte: Autora

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-Vocabulário Internacional de Metrologia: Conceitos fundamentais e gerais e termos
associados (VIM 2012). Duque de Caxias, RJ : INMETRO, 2012
- Lima Junior, P. et al. O laboratório de mecânica. UNIDADE I – Fundamentos de Metrologia,
Porto Alegre: IF-UFRGS, 2012, www.if.ufrgs.br/fis1258/index_arquivos/TXT_01.pdf,
consultado em 03/08/2019.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022
32

- Gallas, Márcia Russman, Incerteza de Medição,


https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&cad=rja&uact=8&
ved=2ahUKEwjLk_qMsZ3nAhUxHbkGHVCVBysQFjABegQIAhAB&url=http%3A%2F%2Fw
ww.if.ufrgs.br%2F~marcia%2Fmedidas.pdf&usg=AOvVaw2-YN0u-SQ_OPjwIAJcXNTZ,
consultado em janeiro de 2020.
- Helene, O. A. M. e Vanin, Tratamento Estatístico de Dados: Em Física Experimental, 2a
Edição, Ed. Blucher, 1991.
- Vuolo, J. R., Fundamentos da Teoria de Erros, 2a Edição, Ed. Blucher, 1996.

Profa. Dra. Dorotéia de Fátima Bozano


Instituto de Física
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Laboratório de Física FI
Fevereiro 2022

Você também pode gostar