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REPÚBLICA DE ANGOLA

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Instituto Superior de Ciências de Educação
Departamento de Ciências Sociais
Repartição de Sociologia
-- ISCED --
LUANDA

INFLUÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL EM LUANDA:


ESTUDO DE CASO NO BAIRRO PARAÍSO, DISTRITO URBANO DE
MULENVU DE BAIXO MUNICÍPIO DE CACUACO

AUTOR: Henriques Matuvanga


ORIENTADOR: Paulo Teca (Msc)

Trabalho apresentado para a obtenção do grau da Licenciatura em


Ciências da Educação.

Opção: Sociologia.

LUANDA, 2022
Influência da delinquência juvenil em Luanda: estudo de caso no bairro
Paraíso, distrito Urbano de Mulenvu de Baixo Município de Cacuaco

AUTOR: Henriques Matuvanga


ORIENTADOR: Paulo Teca (Msc)

Trabalho apresentado para a obtenção do grau de Licenciatura em


Ciências da Educação

Opção: Sociologia

Luanda / 2022
INTRODUÇÃO

A problemática da delinquência juvenil tem surgido actualmente como uma


consequência das insuficiências produzidas pelos diversos aparelhos sociais. Em Angola, a
inexistência de centros de reeducação social é preocupante, na medida em que não
sabemos até que ponto estes jovens são acompanhados. Encontrando-se os jovens num
período conturbado da sua vida, urge a necessidade de um permanente acompanhamento
da sociedade civil, e profissionais qualificados sociólogos, psicopedagogos e psicólogos
direcionado, essencialmente, para a prevenção de comportamentos desviantes.
A contenda está instalada em todos os lares e sítios do nosso país, seja nas grandes
avenidas da cidade seja nos musseques (bairros de lata, guetos localizados dentro da cidade
e na periferia dos centros urbanos de Luanda). Carvalho (2006: 79) refere “ a delinquência
juvenil como falta de ocupação e como forma de sobrevivência”. Das ideias de Carvalho
destaca-se a que se refere ao desemprego e a pobreza como sendo premissas para
delinquência juvenil.
Fala-se em delinquência quando estamos diante de comportamentos ilícitos, que
não estão de acordo com os códigos de conduta estabelecidos pelas autoridades de
determinado espaço geográfico e com os preceitos morais socialmente
estabelecidos. Delinquente é aquele indivíduo que comete delitos ou infracções à lei
(crimes), infringindo simultaneamente códigos de conduta moral. A delinquência juvenil
tem a ver com comportamentos ilícitos praticados por adolescentes ou jovens [Mulligan
1960, Griffin & Griffin 1978].
De geração em geração, independentemente da cronologia histórica, a delinquência
juvenil tem sido quase sempre associada à adolescência, tornando-se num requisito
estereotipado que acompanha este período de maturação, entendendo-se assim, numa
perspectiva mais extrema, que “qualquer acto realizado por um adolescente excepto talvez
a obediência civil – deveria ser visto como um indício de delinquência” (Sprinthall &
Collins, 2008, p.457).
Para Becker (1963) o facto de se rotular os adolescentes como delinquentes
demonstra apenas uma atitude defensiva levada a cabo pelos adultos, como forma de
utilizar os jovens como bodes expiatórios dos erros cometidos pelos próprios adultos.
Do ponto de vista jurídico-legal, delinquente é o indivíduo que praticou actos dos
quais resultou uma condenação pelos tribunais (Negreiros, 2008), isto é, actos

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considerados como comportamentos ilícitos, não confundindo com crimes, pois
juridicamente, um menor não comete crimes mas sim actos susceptíveis de causar danos
sociais ou considerados como crimes.
Já na óptica social, o termo delinquente remete para o indivíduo que transgrediu
normas da sociedade e cujos comportamentos se desviam da normatividade social (Matos,
2002). Nesta perspectiva, mais do que meramente rotular, é necessário compreender este
problema social (Benavente, 2002).
A grandeza e complexidade da delinquência requerem pesquisas empíricas, a fim
de compreender o fenômeno e melhor explica-lo. Torna-se ainda propício e interessante o
estudo da delinquência juvenil na sociedade angolana, tendo em vista a difícil situação
social que se vive actualmente ligada a recessão econômica desencadeado pela falta de
mercado de emprego e do despedimento de alguns trabalhadores por parte de algumas
empresas e também ligados a questões familiares.
Desta feita surgiu o interesse em querer compreender este fenómeno, pelo que
partimos do seguinte questionamento: Quais são os factores que levam os jovens do bairro
Paraiso a prática da delinquência e seu impacto na sociedade.

1.2.Justificativa

Vários são os motivos que nortearam a escolha deste trabalho:

O primeiro imperativo, é uma realidade cada vez mais latente na sociedade


angolana, cujos contornos são preocupantes.

Segundo tem a ver com, que pretende-se compreender e interpretar das histórias
vivenciadas pelas pessoas que praticam a delinquência juvenil visando aprofundar os
conhecimentos actuais sobre o impacto da delinquência e sobre as suas repercussões.

Todavia afirma-se relevante, por ser um tema que permite maior compreensão
sobre as causas que estão na base da delinquência juvenil no bairro paraíso e as suas
consequências sociais.

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1.3. Objectivos do Estudo
À luz do que acima foi exposto, o presente trabalho comporta os seguintes
objectivos:
1.3.1. Objectivo Geral:
 Compreender os factores e as consequências que levam os jovens no bairro Paraíso
a prática da deliquência.

1.3.2. Objectivos Específicos:


 Identificar os factores que levam os jovens no bairro Paraíso a enveredarem-se a
pratica da deliquência;
 Descrever os factores que levam os jovens no bairro Paraíso a pratica da
deliquência;
 Descrever as consequências da prática da deliquência juvenil.

1.4. Hipóteses

Desta feita sugerimos a seguinte hipótese:


 H1: A pobreza, o desemprego, o tipo de gestão familiar, a violência fisica e outros
maus-tratos contribuem para a delinquência.

1.5. Estrutura do Trabalho

O presente trabalho contém uma Introdução, onde problematizamos o tema,


indicamos a Justificativa, enunciamos o objetivo geral e os específicos, indicamos a
hipótese que sustenta o nosso trabalho, mas, também, encontra-se estruturado em (3) três
capítulos a saber:
No primeiro capítulo, denominada Factores que influenciam a delinquência juvenil
no bairro paraíso, apresentamos as definições estruturantes a volta das quais giram toda a
nossa discussão designadamente, delinquência juvenil, Adolescência, Jovem, Factores
impulsionadores da delinquência juvenil em Angola, Disfunção familiar, Comportamento
desviante.
No Segundo capitulo, denominado metodologia indicamos as opções metodológicas
adoptadas para a consecução dos objectivos propostos.
No terceiro capítulo, designado Apresentação, análise e interpretação dos
resultados, a luz dos seus discursos, procuramos interpretar os depoimentos dos nossos

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entrevistados. Por último, o trabalho contém algumas linhas conclusivas sobre a pesquisa
levada a cabo e as referências bibliográficas.

CAPITULO I- FACTORES QUE INFLUÊNCIAM A DELIQUÊNCIA JUVENIL


NO BAIRRO PARAÍSO.

No presente capitulo começamos a definir os conceitos chaves , bem como a


fundamentação teórica sobre o assunto com o objectivo de desenvolver um referencial
teórico que se ajuste aos seus objectivos.

1.1.1 Conceito de delinquência juvenil.


Ao buscarmos uma definição de delinquência juvenil jamais podemos ter a
pretensão de que a mesma constitua uma caracterização estanque e absoluta (Dias, 1992)
deste fenómeno em Angola, na medida em que, em primeiro lugar, não existe consenso
quanto à faixa etária que a mesma abrange. Em Segundo lugar, surge a dificuldade de
saber se as acções ou actos desviantes que não são delitos criminais podem ser integrados
neste conceito jurídico e criminológico. Além disso, a doutrina diverge relativamente à
classificação deste flagelo social (Herrero, 2001).
Segundo Carvalho (2005) relata que, a delinquência juvenil tem haver com os
comportamentos ilícitos praticados por jovens e que não estão de acordo com os códigos
de condutas estabelecidos pelas autoridades de determinados espaço geográfico ou com
preceitos morais socialmente estabelecidos. O delinquente é o indivíduo que comete delitos
ou infrações a lei.
Na asserção Durkheim (1984: 145-167), “delinquência juvenil, está associada ao
conceito de desvio e por sua vez ao de anomia, que é um estado patológico, por pressupor
à ausência de conformidade com as normas vigentes numa sociedade.
Assim, a nosso ponto de vista, e com base na revisão da literatura, consideraremos
delinquência juvenil um conjunto de actos ou comportamentos sociais desviantes,
cometidos por um jovem de idade compreendida entre os 12 e os 21 anos, susceptíveis de
serem criminalizados por lei.
Nesta linha de raciocínio, e segundo o Dec-Lei nº 401/82 de 23/9, é considerado
jovem, para efeitos criminais, o indivíduo entre os 16 e os 20 anos, com o qual se
estabelece uma regulamentação peculiar de correção. Podemos assim estabelecer uma
associação entre os jovens autores de crimes cujas idades se compreendem na referida

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faixa etária e a Lei Tutelar Educativa, que anui ao adolescente com idade compreendida
entre os 12 e os 16 anos, a prática de um “facto qualificado pela lei como crime”.

Em Angola, como noutras partes do Mundo, os actos de delinquência juvenil são


fundamentalmente perpetrados em grupo. As idades dos elementos das gangs são
geralmente pouco díspares. Estes actos desviantes e criminosos praticados por “menores” –
usamos este termo dado que a sua capacidade de discernimento não é tão clara como a de
um adolescente integrado numa sociedade mais organizada e desenvolvida - deveriam ser
julgados à face da lei como actos praticados por inimputáveis.
Relativamente ao conceito de delinquência, entende-se por delinquente “o
indivíduo que praticou actos dos quais resultou uma condenação pelos tribunais”
(Negreiros, 2008, p.13).

1.1.2. Adolescência
A adolescência (do latim adolescere que significa “crescer”), é marcada por
profundas transformações fisiológicas, psicológicas, pulsionais, afectivas, intelectuais e
sociais, constituindo um processo dinâmico de passagem da infância para a idade adulta
[Dias, 1998: 168].
Entretanto, a história regista que os problemas da adolescência tiveram importância
para a sociedade desde os primórdios. Platão por exemplo, preocupou-se com a
inconstância dos adolescentes ao passo que Aristóteles, com a sua natureza instável e
imprevisível, descrevendo-a como impulsiva, irascível, muito emocional de um modo
geral, incapaz de definir as gratificações ou tolerar a crítica (Weiner, 1995: 3-4).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência é definida como
o período da vida que vai dos 10 até os 19 anos, 11 meses e 29 dias. Ou seja tem inicio a
primeira menstruação nas meninas e a primeira ejaculação nos meninos. Caracteriza-se por
mudanças físicas aceleradas e características da fase da puberdade, diferentes do
crescimento e desenvolvimento que ocorrem em ritmo constante na infância. Essas
alterações são influenciadas por factores hereditários, ambientais, nutricionais e
psicológicos (OMS, 1994).
De acordo a asserção da OMS, é possível aferir em nosso entender que, existe uma
dimensão biológica e psicológica da adolescência. Porém, para este estudo, olhamos a

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adolescência numa dimensão psicossocial e como uma categoria socialmente construída
(idem).
De facto, esta dimensão mostra que a adolescência é um conceito psicossocial que
representa uma fase crítica no processo evolutivo em que o indivíduo é chamado a fazer
importantes ajustamentos de ordem pessoal e de ordem social (OMS, 1994).
Com efeito, a adolescência como categoria socialmente construída, na esteira de
Pais (1993), está sujeita a modificações ao longo do tempo. A segmentação do curso da
vida em sucessivas fases é produto do complexo processo de construção. Para este autor, a
adolescência não pode ser simplesmente considerado como uma fase de vida, como um
grupo de indivíduos que antecede a entrada no mundo adulto pois, os adolescentes não
vivem ou experimentam as mesmas coisas de forma semelhante.
Pais (1993), mostra que cada adolescente tem o seu próprio percurso individual,
que varia em função da especificidade do seu trajecto mas, também, do seu quotidiano,
com as encruzilhadas com que se deparam e que estão directamente relacionados com a
família, a classe e origem social.
Nesta perspectiva, as definições acima apresentadas são relevantes para a
compreensão do conceito adolescência. Dessa forma, no nosso entender a definição
apresentada por Pais (1993) é aquela que melhor se enquadra neste estudo, dado que o
autor sublinha o facto de ser uma categoria socialmente construída e que está sujeita a
modificações ao longo do tempo e não simplesmente como uma fase de vida.
1.1.3. Jovens
Denomina-se “jovem à pessoa que se encontra num período inicial do seu
desenvolvimento orgânico”. O termo provém do latim “Juventus” para referir à idade
situada entre a infância e a idade adulta (OMS, 1994).
Entretanto, a diversidade do “seu jovem” nas sociedades modernas nos coloca a
desafio de compreender este fenómeno nas suas múltiplas dimensões (Pais, 1990: 1939-
165). Deste modo torna-se universario relativizar as definições que tratam a juventude
como sendo uma mesma experiência vivenciada por todos.
Pierre Bourdieu (1983), realça que assumir a juventude como um fenómeno
unívoco, independente de clivagens sociais é uma tentativa de manipulação da realidade,
não considerar as diferentes oportunidades vivenciadas por jovens de distintas classes
sociais resultaria em análises “caricaturais” do fenómeno (apud, Camarano, 2006).

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Segundo a Organização das Nações Unidas (OMS, 1994), a extensão
da juventude pode variar entre os 10 até os 23 anos, tanto na puberdade como
na adolescência tardia, até chegar à juventude propriamente dita (Bueno, 2001).
Na sociedade moderna, embora, haja variação dos limites de idade, a juventude é
compreendida como um tempo de construção de identidades e de definição de projectos de
futuro. Logo, de maneira geral, a juventude é a fase da vida mais marcada por
ambivalências. Ser jovem, é viver uma contraditória convivência entre a subordinação à
família e à sociedade. Ao mesmo tempo, grandes expectativas de emancipação (Groppo,
2000:5).
Nesta perspectiva, para a juventude acena-se como uma espécie de “moratória
social”. Isto é, a juventude é vista como etapa de preparação, em que os indivíduos
processam a sua inserção nas diversas dimensões da vida social, designadamente:
responsabilidade com família própria, inserção no mundo do trabalho, exercício pleno de
direitos e deveres de cidadania. Desde logo, nos termos de Groppo (2000: 7), a juventude é
atribuída como uma categoria social que se torna, ao mesmo tempo, uma representação
sócio-cultural e uma situação social.
Podemos então pensar esse grupo, como algo relactivo que toma formas a partir dos
comportamentos atribuídos por uma classe social, seja ela de etnia, nacionalidade, género,
contexto histórico nacional e regional.
Portanto, a juventude, no seu carácter diverso instiga sempre os estudiosos a tentar
dar conta de compreender esta fase de transição à maturidade dos grupos sociais concretos,
de uma pluralidade de juventudes, de cada recorte sócio-cultural – classe social, estrato,
etnia, religião, mundo urbano ou rural. Saltam subcategorias de indivíduos jovens, com
características, símbolos, comportamentos, subculturas e sentimentos próprios (Groppo,
2000: 5).
       Por conseguinte, o jovem é um sujeito com valores, comportamentos, visões de
mundo, interesses e necessidades singulares. Logo, ser Jovem é estar imerso numa
sociedade com processos transitórios, a partir de uma nova conjuntura familiar, política e
social estabelecida. É, portanto, estar no meio de diversas formas de leitura do mundo, que
o rodeia, pois, o mundo mudou, novos actores tomam conta dos grupos e das comunidades,
a sociedade aceitou o que antes não aceitava, abriu o que antes estava fechado, apagou o
que antes escrevera e, hoje, tenta-se definir o seu perfil (idem).
1.2 Factores impulsionadores da delinquência juvenil em Angola

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A partir do seu vasto trabalho e experiência científica nos Centros Educativos do
Instituto de Reinserção Social, Pedro Strecht (2005:177) concluiu que “a evolução
delinquente representa um longo trajeto de mal-estar psicossocial que começou nos
primeiros anos de vida”.
Na verdade, as histórias de vida de muitos jovens estão recheadas de traumas,
como tratamento negligente por parte dos progenitores, abandono familiar e profundos
abusos psicológicos e emocionais. Ora, estas vivências permitem prescrever “um nexo de
causalidade entre os maus-tratos e delinquência futura, pois os comportamentos desviantes
cometidos por crianças e jovens consubstanciam-se na exteriorização de um sofrimento
interior não aliviado” (Strecht, 2005: 177).
1.3 A disfunção familiar
Para o estudo em apreço consideramos a disfunção familiar como sendo a
insusceptibilidade ou a incapacidade de planeamento administrativo elaborados pelos
cônjuges ou companheiros no âmbito de uma família, tendo em vista a educação e o
desenvolvimento social sadio dos seus filhos quer no âmbito da família quer fora dele.
Assim, quando nos referimos ao círculo familiar, referimo-nos às relações vivenciadas
entre os cônjuges ou companheiros e a prole. Por outro lado, o ambiente externo à família
alude às relações estabelecidas entre os pais, os encarregados de educação, a Escola e
outras instituições sociais, Ferreira, (1997: 913-924).
Dadas as características específicas da família, um dos seus objectivos centrais
reside no aperfeiçoamento exigido quanto às suas relações internas e externas, que se
fortalecerão uma vez que estejam sustentadas no amor, no afecto, no companheirismo e em
actos que fortaleçam emocionalmente os seus membros. De facto, é no âmbito familiar que
as crianças vêm os seus progenitores e responsáveis como entidades basilares das suas
vidas, (idem).
Neste sentido, e conforme discorrido no parágrafo anterior, a administração familiar
é legalmente exercida pelo instituto do poder paternal (tanto no Direito angolano como no
Direito português), daí que aos pais seja sempre atribuída a obrigação de educar os filhos
segundo a capacidade legal que lhes foi atribuída. Consequentemente, essa capacidade
implica o direito de os progenitores exigirem dos filhos o cumprimento dos deveres que
lhes são imputados, (idem).
Apesar das agruras da vida, os progenitores e os tutores de menores não poderão
desistir do exercício pleno deste poder que lhes é concedido para a educação e formação
dos seus filhos ou tutelados. De facto, é com base numa saudável inter-relação entre ambos

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que se poderá formar uma identidade infanto-juvenil e uma personalidade equilibrada
fortes, favorecendo a estabilidade emocional, preparando-os para o desempenho, na idade
adulta, de papéis sociais que lhes serão exigidos e para contribuir para a construção de uma
sociedade menos dissemelhante e iníqua, embora as condições económicas não favoreçam
as melhores condições de subsistência humana, (idem).
Num Estado Democrático de Direito, como é Angola, em que a dignidade e o valor
da pessoa humana são, ou deveriam ser, princípios estruturantes e fundamentais, o sistema
jurídico jamais poderá ser, de acordo com os pressupostos positivistas, algo estático ou
rígido, pois urge a necessidade de haver convergência entre áreas científicas que
contribuam para o progresso humano, como é o caso da Psicologia, da Psicanálise, da
Sociologia, da Antropologia, da História ou da Criminologia, para que o Direito se aplique
de acordo com a dignidade da pessoa humana. Assim, defendemos que a penalização e o
tratamento a serem aplicados ao “menor” infractor deverão ser minorados, na média em
que este se encontra em plena construção da sua identidade e personalidade, (idem).
Os efeitos nocivos que a globalização, os meios de comunicação de massas e o
consumismo exacerbado geram na nossa sociedade têm-se revelado devastadores. Com
efeito, a falta da escolaridade básica e a incapacidade de filtrar a informação veiculada por
esses meios influencia os jovens a adoptar uma postura contrária aos valores transmitidos
pela família. Os pais vêm-se num conflito entre a necessidade de aplicação dos bons
princípios veiculados no seio familiar, por um lado; e a incapacidade de os menores
filtrarem as influências potencialmente perniciosas associadas à utilização das tecnologias,
como a televisão ou a Internet, por outro. Ora, encontrando-se numa faixa etária em que a
sua personalidade está em plena formação e evolução, os jovens apresentam-se como
especialmente vulneráveis a estas influências. Assim, o exercício do poder paternal é ferido
na sua génese e o dever que os progenitores o poderiam exigir dos seus filhos não é
cumprido na íntegra, (idem).
O espaço para o diálogo entre os membros de uma família deveria, e deve ser, mais
amplo, assim como a generosidade entre os seus membros na definição das regras que
regem o lar. A ética e a moral, conceitos que infelizmente parecem ter-se extinguido com
os longos anos de guerra, deverão ressurgir para que construamos uma sociedade mais
justa, equilibrada e solidária. Infelizmente, nas discórdias familiares ainda impera o
autoritarismo e a violência verbal e física. Os progenitores não exercem o seu poder
paternal democraticamente, actuando sem coerência ou equilíbrio quanto às decisões
familiares (por exemplo, satisfazem os filhos com bens materiais, não sabendo dizer “não”

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nas situações adequadas). Não descartamos, portanto, a possibilidade de aplicação de
técnicas educativas mais severas, desde que proporcionais às acções praticadas pelos
filhos. Infelizmente, por motivos de segurança e de estabilidade nacional, a polícia
angolana não foi autorizada a facultar-nos dados mais recentes sobre o índice de
criminalidade no País (idem).
A partir de 2002, com o cessar do conflito civil que dilacerava Angola e o seu
tecido social, humano e económico, assistimos a um avanço significativo no que respeita
ao desenvolvimento e à melhoria das condições básicas de saúde, educação e segurança,
porém ainda insuficientes para a satisfação da comunidade. Infelizmente, a taxa de
mortalidade infantil é hoje extremamente elevada: uma em cada quatro crianças morre
antes de completar cinco anos. Por outro lado, mais de metade das crianças em Angola não
frequentam o sistema de ensino e a maioria das que logram fazê-lo somente o conseguem
por dois anos. Finalmente, 45% padecem de mal nutrição crónica (UNICEF, 2005). A taxa
de mortalidade infantil em Angola é a oitava mais elevada no mundo (IDH, 2012).
De acordo com as palavras proferidas por Malloch-Brown5 no 10º Fórum Angola
na Chathan House, os “altos níveis de riqueza gerados pela indústria petrolífera angolana
ainda não se traduzem em ganhos para os mais pobres” (Malloch-Brown, 2009). Embora
assistamos a um grande esforço do executivo no investimento e na construção de
infraestruturas, ainda são parcas as melhorias verificadas no combate à pobreza.
Segundo Yong (1997) o fenómeno social que está a verificar-se em Angola
designa-se “transição da modernidade tardia”, pois cada vez mais a sociedade angolana
tenderá a transformar-se numa sociedade excludente. Estabelecendo um nexo causal entre
a violência e a exclusão social a que os mais desfavorecidos estão votados, o autor defende
que a “privação crónica pode conduzir os pobres ao crime, do mesmo modo que a
insegurança pode levar os que vivem bem à intolerância e à perseguição (Hespanha, 2001).
O aumento do fosso entre ricos e pobres em Angola começa a assumir contornos
preocupantes, dado que os elevados índices de desenvolvimento económico não se
coadunam com a melhoria do modo de vida dos angolanos. Nesta medida, os níveis de
violência vêm aumentando drasticamente, originando estratégias de apartheid social
(Martin e Schumann, 1996). Ou seja, assistimos a uma proliferação de condomínios
fechados que materializam uma acentuada separação entre ricos e pobres, bem como a
disseminação de empresas especializadas em segurança privada, particularidades muito
específicas de sociedades em transição (Martin e Schumann apud Hespanha, 2001).

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Apesar de Angola ser uma nação rica, não só a nível económico e financeiro, mas
também ao nível dos seus recursos naturais e humanos, a verdade é que a maior parte da
população vive em condições de extrema pobreza. A guerra civil, o êxodo rural, a
inexistência de infra-estruturas sociais e de meios e vias de comunicação conduziram o
país a uma catástrofe humanitária, geradora de uma pesada desvalorização e
desclassificação do angolano.
As feridas causadas pela guerra tardam a sarar. Como tal, neste longo processo de
cura os casos de corrupção, prostituição, delinquência juvenil e abuso de drogas e de álcool
têm aumentado vertiginosamente. Embora tendo em vista a resolução destes flagelos, o
estado e o governo angolanos não conseguem dar resposta imediata e real às necessidades
básicas do povo.
Deste modo, e segundo António de Sousa, (2006) a delinquência juvenil em Angola
deve-se em particular ao estado de “pré-delinquência do menor, como aquela que engloba
toda a conduta desviante, cujas causas podem ser multiformes: a pobreza, as condições de
vida sub-humanas dentro dos centros urbanos, as dificuldades de acesso ao progresso
educacional, dificuldades de inserção no mundo do trabalho (...) mais ainda as que estão
ligadas à própria pessoa do menor, como o desejo incontrolado do consumismo, o uso de
drogas, o abuso de bebidas alcoólicas, que propiciam o furto e a violência.
A desadaptação juvenil é causada por múltiplas formas de desvio de conduta e
muitas vezes a origem do comportamento criminal encontra as suas causas em: factores
macro sociais, como as transformações sociais, crises de estruturas e de instituições
tradicionalmente vocacionadas para a socialização; em factores micro sociais, como a
incapacidade e a desagregação da família e a irradiação do próprio grupo social; e factores
individuais de natureza psicopatológica e ambiental, como dificuldades de socialização,
dificuldades com a figura de autoridade, desadaptação escolar, desadaptação ao trabalho,
fuga e vagabundagem, associações em bandos juvenis, prostituição e outros desvios”
(Sousa, 2006).
Estes desvios são bem reveladores da necessidade urgente da elaboração e
aplicação de leis que protejam e previnam a incursão dos jovens no mundo do crime.
Normalmente, os principais tipos de crime cometidos por estes jovens (muitos com idade
inferior aos 16 anos) são o furto, o roubo, o tráfico e o consumo de drogas, leves e pesadas.
A família será sempre a instituição social de maior primazia. Como vimos
anteriormente, é no seu cerne que a gestão familiar deve concretizar-se, pois a formação de
cidadãos equilibrados e íntegros, que contribuirão para uma sociedade mais harmoniosa,

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são frequentemente o resultado do tipo de relação estabelecida, da qualidade dessa relação
e dos comportamentos que a mesma fomenta, (idem).
Por isso, se a dado momento a família carecer de meios de subsistência, mas devido
a um aumento substancial do rendimento conseguir melhorar a qualidade de vida, tal
contribuirá para uma maior abertura ao conhecimento e à satisfação das necessidades
básicas, outrora inexistentes. Ora, está melhoria das condições de vida irá fortalecer
emocional e afectivamente a personalidade da criança, inibindo-a de enveredar pelo crime,
(idem).
No entanto, sabemos que, independentemente das condições financeiras, a gestão
de um agregado familiar revela-se sempre uma tarefa árdua no que respeita à educação dos
descendentes e à formação das suas personalidades. De facto, as relações desenvolvidas
pelos jovens com o exterior influenciam particularmente a qualidade dos laços criados,
bem como a forma como estes se estabelecem entre os seus membros, contribuindo para o
fortalecimento ou o enfraquecimento do vínculo familiar entre os pares. Este argumento
coaduna-se com a tese de que quanto melhores forem as relações travadas, quer a nível
familiar quer social (mas essencialmente familiar), mais profundo e de melhor qualidade
será o vínculo entre os elementos de uma família, (idem).

2.5. O comportamento desviante


Durante o seu trajecto de maturação social e ao lutar por um lugar num grupo que
lhe ofereça a segurança e confiança que o jovem tanto procura, este ver-se-á perante a
obrigação de tomar decisões relativamente a determinados comportamentos que o levem a
ponderar qual o caminho mais correcto a seguir para alcançar os seus objectivos. Este
conflito ao nível da decisão, encontra-se muitas vezes patente nas situações em que o
jovem se vê confrontado com dois possíveis caminhos a seguir para atingir uma meta, ou
se encontra num grupo que apesar de marginal lhe trará benefícios sociais (como “fama”,
dinheiro, bens materiais, etc.), ou criará a sua própria identidade correndo o risco de
afastamento social, (Sá, 2001).
Perante o confronto de escolhas sociais ao longo do processo de socialização, o
jovem aprende consciente ou inconscientemente a forma como deve estar na sociedade ou,
melhor dizendo, qual o comportamento que deve adoptar para que seja considerado um
indivíduo normativo no seio desse meio social, (idem).
Esta aprendizagem social leva, na visão de Sá (2001), a que o jovem faça escolhas
relativamente ao que é certo ou errado do ponto de vista da normatividade social, acabando

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o mesmo por adoptar, em determinadas alturas, uma postura decisiva que o leve a
enveredar por um caminho desviante.
Neste sentido, verifica-se com isto que, apesar de actualmente se continuar a
afirmar que os jovens não possuem ainda “os instrumentos necessários devidamente
desenvolvidos” (Pais & Oliveira, 2010: 39) para decidir relativamente aos seus
comportamentos, a verdade é que as mais recentes teorias, no âmbito da tomada de
decisão, demonstram que o jovem consegue e tem capacidade para discernir, apesar de lhe
quererem mostrar o contrário. Porém, estas mesmas decisões são susceptíveis de serem
influenciadas, tendo em conta o período de vida em que o jovem se encontra.
Segundo Sá (2001), o comportamento desviante pressupõe a existência de normas
sociais que ajuízem e identifiquem certas atitudes como normativas, sendo que um
comportamento desviante “corresponde ao outro lado da norma” (Sá, 2001: 38).
De acordo com esta interpretação, um comportamento desviante não implica
necessariamente que se esteja perante uma atitude delinquente, apenas significa que houve
um comportamento levado a cabo por um jovem que não correspondeu à normatividade
dos comportamentos sociais, podendo não ser censurado do ponto de vista criminal mas
sim, por exemplo, do ponto de visto moral e ético.
Para Becker (1963) o desvio é criado através da sociedade, isto porque, “os grupos
sociais criam desvios através da fixação de regras cujas infracções constituem um desvio”
(Becker, 1963: 9), entendendo-se com isto, que o desvio é a própria sociedade que cria as
regras e, consequentemente, os próprios desvios (Becker, 1963).
Sá (2001: 39) acrescenta ainda que o comportamento desviante “tem a ver com a
frequência com que ocorre, não é um comportamento habitual e, quando passa a ser
habitual, põe em causa a norma que o tornava desviante”.
Seguindo esta linha de pensamento, Cusson (cit. in Sá, 2001: 39) descreve o
comportamento desviante como sendo “uma diferença entendida negativamente”. Ao citar
Cusson (cit. in Sá, 2001), Sá refere que o comportamento desviante pode resultar em actos
voluntários ou não-voluntários.
Esta categorização elaborada por Cusson (cit. in Sá, 2001) vai distinguir três tipos
de acção social desviante: a acção voluntária, acção voluntária/involuntária e a acção não-
voluntária.
Tal como foi referido anteriormente, um comportamento desviante não implica
necessariamente que estejamos perante um comportamento criminoso.

15
Para Sá (2001), pode-se constatar em determinados comportamentos desviantes a
existência de um crime, contudo, nem todos os crimes advêm protagonizada pelos
desviantes sub-culturais e os transgressores. Protagonizada pelos alcoólicos, e pelos
toxicómanos. Protagonizada pelos deficientes comportamentos desviantes, podendo-se
constituir, alguns comportamentos, como incivilidades.
O desvio é visto assim como o outro lado da norma construída pela colectividade,
isto é, todo o comportamento que não coincida com a “consciência colectiva” (Durkheim,
cit. in Sá, 2001) ou pela maioria social torna-se marginalizado, sendo apelidado e
categorizado como um desvio comportamental face ao que é maioritariamente seguido.

CAPITULO II- METODOLOGIA APLICADA

Este capítulo discute as questões metodológicas utilizadas. Dada a natureza do


nosso estudo optamos pela abordagem Qualitativa.
3.1. Análise qualitativa.
Análise qualitativa é aquela em que existe uma relação dinâmica entre o mundo real
e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do
sujeito que não pode ser traduzido em números [Prodanov e Freitas, 2013: 70].
A interpretação dos fenómenos e a atribuição de significados são básicas na
pesquisa qualitativa. Esta não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente
natural é a fonte directa para colecta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave
[idem].
Neste trabalho foi privilegiado a pesquisa qualitativa que Segundo Minayo [1987],
é a mais apropriado para analisar os processos históricos, as relações entre indivíduo e
sociedade, entre realidades e sua compreensão pela ciência, apresentando como atributo a
possibilidade de explorar com maior profundidade aspectos objectivos e subjectivos.
Outrossim, a pesquisa qualitativa é adequada para estudar a questão do significado
e da intencionalidade como inerentes aos actos, às relações e às estruturas sociais [idem].
Desta forma, julgamos adequado a utilização dessa abordagem no presente estudo,
uma vez que está incluso nos objectivos deste estudo, a intenção de buscar dados capazes
de identificar os factores que levam os jovens no bairro paraíso a pratica da delinquência.
Tornou-se também importante o uso desta pesquisa para análise dos valores, atitudes e dos
factos interativos do quotidiano.

16
Nesta perspectiva, a análise qualitativa permitiu-nos aprofundar os aspectos
inerentes sobre a delinquência juvenil. Considerando, os adolescentes e jovens
delinquentes como sujeitos activos da sua realidade buscamos compreender como fonte de
estudo a óptica dos indivíduos que vivenciam o fenómeno, seu universo de significados,
aspirações, crenças, valores e atitudes.
3.2. Entrevista Semi-estruturada
È uma técnica de recolha de dados em que o entrevistador segue um esquema de
perguntas previamente estabelecido, ou seja, as perguntas feitas aos entrevistados são
rigorosamente seleccionados pelo investigador [Lakatos e Marconi 2009: 199].
 Na asserção, Trivinos [1987], a entrevista Semi-estruturada é aquela que
ajuda o investigador a ter acesso a dados da realidade de carácter subjectivo,
como ideias, crenças, maneiras de pensar e actuar, opiniões, sentimentos,
conduta ou comportamento e razões conscientes ou inconscientes. Portanto,
a entrevista Semi-estruturada é adequada na medida em que, faz com que os
entrevistados participem na elaboração do conteúdo da pesquisa,
enriquecendo deste modo a investigação.

Ou seja, é um tipo de entrevista que permiti-nos, captar subjetividades, substâncias


nas respostas dos entrevistados que vão para além do manifesto, uma vez que, podemos
conversar de forma amena com o objecto de estudo, criando a confiança do entrevistado
com objectivo de fazer com que o entrevistado se libertasse para falar sobre questões
aparentemente sensíveis.
Para alcançarmos os nossos objectivos recorremos a um guião de entrevista
baseados nos objectivos preconizados, que são traduzidas em queOstões. Também
recorremos a captação sonora das entrevistas por meio de um gravador mini para uma
transcrição verdadeira das informações. E por fim, utilizamos cadernos, esferográfica para
anotarmos algumas respostas importantes.
3.3. Amostra por conveniência
A amostra por conveniência é um tipo de amostragem não probabilística que é
formada por indivíduos de fácil acesso e que estão presentes num determinado local de
fácil acesso [Fortin, 1996].
Este tipo de amostra consiste em seleccionar unidades de amostragem baseadas em,
onde e quando o estudo irá ser conduzido [Dillon, Madden e firtle, 1993]. Os indivíduos
vão sendo inseridos na amostra até está atingir a dimensão pretendida [Fortin: 1999].

17
De acordo com Hair, Bush e Ortinau [2003], nas amostras não probabilísticas,
como as amostras por conveniência, não é possível utilizar as formulas para determinar o
tamanho da amostra. Assim, o tamanho da amostra é determinado de forma subjectiva e
intuitiva pelo investigador que se baseia em estudos anteriores, pelas normas do sector ou
pela quantidade de fontes disponíveis.
Outros autores, [Kinnear & Taylor: 187; Churchill, s/d: 30], sugerem que a amostra
por conveniência é adequada e frequentemente utilizada para geração de ideias
principalmente em pesquisas.
Por outro lado, a amostras por conveniência podem ser facilmente justificadas em
um estágio exploratório da pesquisa, como uma base para geração de hipóteses e insights e
para estudos conclusivos onde o gerente aceita os riscos da imprecisão dos resultados do
estudo [Kinnear, T.C. e Taylor, s/d: 187].
Portanto, este tipo de amostra, emprega-se quando se deseja obter informações de
maneira rápida e barata. Segundo Aaker, Kumar e Day [s/d: 376], uma vez que esse
procedimento consiste em simplesmente contactar unidades convenientes da amostragem,
é possível recrutar respondentes tais como na rua, paragens de táxi, mercados, alguns
amigos e vizinhos, entre outros.
Neste caso as entrevistas foram realizadas durante 30 dias do mês de Outubro de
2022. Neste contexto, na nossa pesquisa, selecionamos simplesmente os jovens
pertencentes ao distrito do Mulenvu de Baixo do bairro Paraíso, pela facilidade de acesso
aos nossos entrevistados por serem residentes do mesmo distrito. Para a entrevista, o
critério utilizado por nós foi de selecionar jovens dos 12 aos 21 anos de idade, dentre eles
indivíduos do sexo masculino e feminino, na qualidade de sermos jovens, os acessos a
estes mesmos indivíduos para as nossas entrevistas foram mais facilitadas no sentido de ter
uma conversa mais saudável.
3.4. Perfil dos entrevistados
A amostra foi composta por 12 indivíduos 7 do sexo masculino e 5 do sexo
feminino com idades compreendidas entre 12 a 21 anos de idades por adolescentes e
jovens que vivem no município de Cacuaco, no bairro Paraíso, distrito urbano de Mulenvu
de baixo. Para a distinção dos entrevistados levamos em conta algumas características
sociodemográficas que se encontram descritas segundo; Sexo, Idade, Ocupação, Nível de
escolaridade e Local de residência.
Tabela nº 1 Caracterização dos entrevistados segundo sexo e idade

18
Faixa etária Masculino Feminino Total
12-16 2 1 3
17-20 4 2 6
21 ou + 1 2 3
Total 7 5 12
Fonte: Autor

A tabela nº 1 acima, mostra que na faixa etária dos 12 aos 16 anos de idade, foram
entrevistados 2 indivíduos do sexo masculino e dos 17 aos 20 anos de idade foram
entrevistados 4 do sexo masculino e por último dos 21 ou + foi entrevistado apenas 1
indivíduo do sexo masculino. Ao passo que dos 12-16 anos de idade foi entrevistado 1
indivíduo do sexo feminino e dos 17-20 anos de idade foram entrevistados 2 indivíduos do
sexo feminino. Por último na faixa etária dos 21 ou + anos de idade foram entrevistados 2
indivíduos do sexo feminino. Isto mostra que a nossa mostra é constituída por indivíduos
maioritariamente jovens.

Tabela nº 2 Caracterização dos entrevistados segundo ocupação

Ocupação/Profissão Masculino Feminino Total


Estudante 1 1 2
Lotador 3 - 3
Cobrador 2 - 2
Domestica - 4 4
Motoqueiro 1 - 1
Total 7 5 12
Fonte: Autor

Relactivamente a Tabela nº 2 acima, mostra que quanto a ocupação, 1 indivíduos do


sexo masculino é estudante e 3 indivíduos do sexo masculino são lotadores e 2 indivíduos
do sexo masculino são cobradores e por último 1 motoqueiro do sexo masculino. Já no
sexo feminino apenas 1 estudante e 4 indivíduos do sexo feminino são domesticas.
Tabela nº 3 Caracterização dos entrevistados segundo nível académico

Nível académico Masculino Feminino Total


5ª classe 2 2 4
6ª classe 2 - 2
8ª Classe 2 3 5

19
10ª classe 1 - 1
Total 7 5 12
Fonte: Autor

A Tabela nº 3 acima, mostra que, quanto ao nível académico apuramos que 2


indivíduos do sexo masculino possuem a 5ª classe, 2 indivíduos do sexo masculino,
possuem a 6ª classe, e 2 indivíduos do sexo masculino possuem a 8ª classe, 1 indivíduo do
sexo masculino possuí a 10ª classe, e 2 indivíduos do sexo feminino possuem a 5ª classe e
3 indivíduos do sexo feminino possuem a 8ª classe. Isto mostra as dificuldades que tivemos
no que tange ao entendimento das perguntas colocados aos nossos entrevistados.

Tabela nº 4 Caracterização dos entrevistados segundo residência


Residência Total
Paraíso 12
Total 12
Fonte: Autor

Relactivamente a, Tabela nº 4 acima, mostra que quanto a residências, os 12


entrevistados vivem no bairro paraíso distrito urbano do Mulevu de baixo.

20
CAPÍTULO III- APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS
RESULTADOS

Neste capítulo faremos a análise e interpretação dos resultados alcançados pela


pesquisa a partir do processo de entrevista.

3.1- Factores que levam os jovens do bairro paraíso a prática da delinquência


Entretanto, procuramos saber dos nossos entrevistados quais são os factores que
levam os jovens do bairro paraíso a prática da delinquência dos doze (12) entrevistados,
três (3) apontam os maus tratos vindo das famílias como do meio onde estão inseridos
fruto da criminalidade vivenciada nesses locais e as influência vindo das amizades que
acabam por os arrastar para o mundo da delinquência fruto das fragilidades que
apresentam, ao passo que dois (2) apontam como factores que lhes proporcionam aderir a
delinquência as dificuldades no mercado de trabalho porque sentem-se como se já não
existe outra solução se não roubar para se sustentar ou para sobreviver. Como podemos
observar aos entrevistados em destaques:

“O que me motivou são os maus tratos eram demais mesmo a fazer todos trabalhos de
casa daí que veio a ideia de entrar no grupo” (E2).

21
“Foi influência dos amigos, porque um certo dia estávamos a organizar uma festa e não
tínhamos dinheiro daí que preparamos alguns roubos para conseguir o dinheiro daí até
agora a vibe colou” (E3).

“As minhas amigas influenciaram-me muito e por outra a falta de emprego até porque
vivo apenas com a minha filha” (E11).

“ O que me motivou a entrar no mundo da delinquência são as dificuldades da vida e o


meio em si obrigou-me a se enquadrar num determinado grupo” (E9).

“O que me influenciou-me são os maus tratos quer na família como no bairro através dos
grupos” (E6).

Diante das análises apresentadas, percebe-se que vários factores proporcionam aos
jovens do bairro Paraíso a entrarem no mundo da delinquência tais como: factores
familiares, violência doméstica ou maus tratos, dificuldades da vida ou meio de
sobrevivência, influências das amizades ou mais companhias. Aliando-se na ideia de Pedro
Strecht (2005:177) concluiu que “a evolução delinquente representa um longo trajeto de
mal-estar psicossocial que começou nos primeiros anos de vida”. Na verdade, as histórias
de vida de muitos jovens estão recheadas de traumas, como tratamento negligente por parte
dos progenitores, abandono familiar e profundos abusos psicológicos e emocionais.
Ora, estas vivências permitem prescrever “um nexo de causalidade entre os maus-
tratos e delinquência futura, pois os comportamentos desviantes cometidos por crianças e
jovens consubstanciam-se na exteriorização de um sofrimento interior não aliviado”
(Strecht, 2005: 177).
Quem dá mais ênfase é António de Sousa, (2006) a delinquência juvenil em Angola
deve-se em particular ao estado de “pré-delinquência do menor, como aquela que engloba
toda a conduta desviante, cujas causas podem ser multiformes: a pobreza, as condições de
vida sub-humanas dentro dos centros urbanos, as dificuldades de acesso ao progresso
educacional, dificuldades de inserção no mundo do trabalho (...) mais ainda as que estão
ligadas à própria pessoa do menor, como o desejo incontrolado do consumismo, o uso de
drogas, o abuso de bebidas alcoólicas, que propiciam o furto e a violência.

3.2- Impacto da delinquência juvenil no bairro paraíso


Quanto ao Impacto da delinquência juvenil procuramos primeiro questionar aos
nossos entrevistados se têm algum impacto na sua vida e na sociedade. Dos doze (12)
entrevistados, podemos constatar que todos jovens disseram que a nível pessoal
conseguiram alcançar muito dinheiro e fama e sentem-se que atingiram os seus objectivos

22
de vida mesmo vivendo uma vida ligada a criminalidade e no âmbito social tiveram um
impacto negativo porque não são aceites pela sociedade nem bem vistos onde muitos
afirmaram ter ido parar na cadeia várias vezes e sofre represálias no meio onde vivem.
Podemos confirmar na transcrição das entrevistas abaixo:

“Na minha vida o impacto tem sido normal porque ajuda-me a atingir os meus objectivos já
na sociedade é negativo porque não sou bem visto” (E3).

“Digo que sim porque ganho lá dinheiro apesar do nosso meio me falarem mal por causa
dessas práticas” (E11).

“Teve um impacto positivo porque consigo pagar as minhas propinas da escola e é negativo
porque já parrei na cadeia por causa de roubos e lutas de rua” (E9).

“Sim porque consigo satisfazer as minhas necessidades” (E1).

“Sim porque tive fama e dinheiro” (E7).

Diante das análises apresentadas, podemos então constatar que a maioria dos nossos
jovens entrevistados tem quer boa vida e fama à custa do dinheiro vindo do roubo ou do
esforço do outro. Como nos diz, Sá (2001) que durante o seu trajecto de maturação social e
ao lutar por um lugar num grupo que lhe ofereça a segurança e confiança que o jovem
tanto procura, este ver-se-á perante a obrigação de tomar decisões relativamente a
determinados comportamentos que o levem a ponderar qual o caminho mais correcto a
seguir para alcançar os seus objectivos. Este conflito ao nível da decisão, encontra-se
muitas vezes patente nas situações em que o jovem se vê confrontado com dois possíveis
caminhos a seguir para atingir uma meta, ou se encontra num grupo que apesar de marginal
lhe trará benefícios sociais (como “fama”, dinheiro, bens materiais, etc.), ou criará a sua
própria identidade correndo o risco de afastamento social.
As acções dos jovens delinquentes tendem a ser motivadas por princípios ilusórios
ou pulsões primitivas. Estes jovens aproveitam-se do estatuto de delinquente para
conseguir satisfazer suas necessidades com drogas, roupas, diversão bem como para
superar seus medos, sua baixa auto-estima, descriminação ou estigmatização vivenciadas
quando criança.
Como afirma Hutz (2002, p.168) a prática de actos ilícitos, infelizmente, é para
esses jovens fonte imediata de reforçadores importantes como dinheiro e tudo o que ele
pode comprar: drogas, roupas novas, carros, equipamentos de lazer, reconhecimento, têm
uma força grande como controladora do comportamento.

23
3.3- Consequências resultantes da prática da delinquência.
Em relação as Consequências resultantes da prática da delinquência os jovens do
bairro paraíso procuramos primeiramente questionar aos nossos entrevistados quais são as
consequências nefasta do crime nas suas vidas após entrar nesse mundo onde dificilmente
se te benefícios positivos. Assim sendo, dos doze (12) entrevistados todos os jovens,
falaram sobre perseguições da polícia, morte, cadeia e perca de valorização na sociedade.
Vejamos em seguida as respostas dos entrevistados em destaques:

“Morte por uma doença prolongada proveniente das pessoas que a saltamos, pela
população e pela polícia” (E1).

“Morte, desprezado no meio e na família etc.” (E2).

“Morto pela população por uma acção de queimada com pneu e gasolina, polícia ou
Cadeia” (E3).

“Papoite, as consequenciais todos nós sabemos morte ou cadeia, mas também ela onde sai
o meu pão” (E4).

“São tantas ex. a polícia está sempre a minha trás, a família me desprezou e a cadeia
comigo” (E5).

“Está pratica só tem 2 caminhos se não for a morte vai a cadeia” (E6).

“As consequências da pratica da delinquência são, ser mal visto no meio em que vivo,
cadeia e morte” (E7).

“A consequência é a morte boss” (E8).

“E a morte, cadeia ou diminuírem-te o físico” (E9).

“As consequências da pratica da delinquência são várias como cadeias, morte e a falta de
consideração na sociedade” (E10).

“Cadeia ou Morte” (E11).

“As consequências da pratica da delinquência são, a morte, cadeia e os outros males que
enfrentamos” (E12).

De acordo com as análises feitas dos nossos entrevistados, podemos então perceber
que a delinquência juvenil acaba arrastando os jovens para um fim trágico como a morte
afastamento da rede familiar e de amigos ou até mesmo acabam por cumprir cadeia por
resto das suas vidas e nunca conseguir ter um futuro promissor ou digno. A liando-se assim
na ideia de Hutz (2002: 166), afirma que, “a delinquência é considerada uma consequência

24
negativa, que gera desadaptação e prejudica o desenvolvimento posterior do jovem, uma
vez que ela acarreta prejuízos sociais, económicos e cognitivos para o adolescente”.
Implica dizer que ao entrar para à delinquência o indivíduo espera como
consequências a morte, a prisão, as cicatrizes, vícios, danos psicológicos, descriminação ou
estigmatização, desistência às aulas. De acordo com o nosso entrevistado pode se entender
que a delinquência traz consequências drásticas, uma vez que, o adolescente metido a esta
prática pode ser morto por agentes da polícia ou então por adolescentes de gangues rivais,
deixando para as famílias e a sociedade uma desolação e ao mesmo tempo um alívio.
Nota-se que à prática da delinquência deixa sequelas para o carácter do indivíduo,
de tal modo que as pessoas na sociedade, acabam sendo incapazes de perdoar pelos desvios
de conduta e acreditar na ressocialização do indivíduo que anteriormente cometeu vários
delitos
Na opinião de Sá (2015) uma das consequências, inegavelmente terrível, que mais
frequentemente ocorre é rompimento com o pacto social e a lei da cultura, torna-se iníquo
e sem sentido, para o indivíduo, pelo que tenderá a retomar e actualizar suas pulsões
primitivas.

CONCLUSÃO

Levando em consideração aos objectivos gerais e específicos que norteiam a nossa


pesquisa, tendo feito a análise e interpretação das informações obtidas através dos nossos
entrevistados, podemos responder à pergunta de partida, bem como a hipótese por nós
formulada.
Através do estudo empírico feito no campo com os nossos entrevistados, podemos
concluir, que a delinquência é um problema que tem penetrado à vida de muitas famílias e
de muitos adolescentes em particular no bairro do paraíso. O problema da delinquência é
universal, quer dizer que, não se verifica somente em Angola. Por esta razão, a cada dia, os
estudiosos e pesquisadores debatem-se no sentido de encontrar respostas para este
fenómeno e ajudar as famílias, o governo e todos aqueles que directa ou indirectamente
enfrentam as consequências da prática da delinquência.
Constatou-se que os indivíduos envolvidos à prática da delinquência apresentaram
factores como os maus-tratos, dificuldades no mercado de trabalho, influência das

25
amizades e meio social e afirmaram que tem um impacto negativo a delinquência juvenil
porque não são aceites pela sociedade e como consequências estão propensos a mortes,
prisões, desistência das aulas, desprezo por parte dos familiares e outros agentes sociais,
rompimento com o pacto social e as leis da cultura do seu meio, falta de perspectiva de
futuro, diminuição do auto estima assim somo dificuldade de se relacionar.
Tendo em conta as consequências da prática da delinquência, é importante lembrar
que a supervisão familiar e das comunidades bem como a existência de laços familiares e
sociais saudáveis inibem ou controlam a delinquência, pois, o adolescente não deseja pôr
em causa as boas relações que mantém com os familiares e a comunidade.
Convém, verificar na prática da delinquência não somente o mal que tem causado
aos jovens e a sociedade mas também uma oportunidade de repensar as políticas públicas,
bem como os programas que contribuem para a garantia dos direitos básicos e
fundamentais do cidadão tais como: saúde, educação, liberdade, dignidade, trabalho, lazer
e de segurança.
Com os resultados obtidos podemos afirmar que foi verificada e comprovada a nossa
hipótese segundo a qual, “ A pobreza, o desemprego, o tipo de gestão familiar, violência
física e outros maus-tratos contribuem para delinquência. Do mesmo modo, os objectivos
desta pesquisa foram alcançados tal como preconizados no princípio, face o trabalho
desenvolvido e sustentado pelas narrativas dos nossos entrevistados.

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28
APÊNDICE

ANEXO I

GUIAO DE ENTREVISTA

Sexo:

Idade:

Ocupação:

Nível de escolaridade:

Local de residência:

29
1. Com quem cresceste?

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste envolvido em situações de violência doméstica?

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

4. O que te motivou a entrar no mundo da delinquência?

5. Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade?

6. Quais são as consequências da pratica da delinquência?

30
ANEXO II
Transcrição das entrevistas

ENTREVISTA nº 1

Sexo: M

Idade:13

Ocupação: Estudante

Nível de escolaridade: 6ª

Local de residência: Paraíso

1. Com quem cresceste?

31
E1: Cresci com os meus pais

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência domestica

E1: Já presenciei sim.

3.Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência

E1: Nunca sofri maus tratos

4. O que te motivou a entrar no mundo da delinquência

E1: E só a aquela ilusão de quere a acudir ou proteger o bairro, quando um outro grupo
aparece para invadir o nosso território. Daí levou-me ao mundo da delinquência.

5. Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade

E1: Sim, porque consigo satisfazer as minhas necessidades

6. Quais são as consequências da pratica da delinquência

E1: Morte por uma doença prolongada proveniente das pessoas que a saltamos, pela
população e pela polícia.

ENTREVISTA nº 2

Sexo: F

Idade: 21

Ocupação: Domestica.

Nível de escolaridade: 8ª

Local de residência: Paraiso

1.Com quem cresceste?

32
E2: Cresci com meu tio

2.alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência domestica?

E2: Sim

3.Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

E2: Já, como a adolescente, ofensas morais antes de comer, dormíamos por de baixo do
camião com outros irmãos, patos, galinhas, mas os filhos deles dentro de casa com chuvas
sem chuvas.

4.O que te motivou a entrar no mundo da delinquência?

E2: O que me motivou são os maus tratos eram demais mesmo a fazer todos os trabalhos
de casa, daí que veio a ideia de entrar no grupo

5.Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade?

E2: O impacto é negativo.

6.Quais são as consequências da pratica da delinquência?

E2: Morte, desprezado no meio e na família etc.

ENTREVISTA nº 3

Sexo: M

Idade: 15

Ocupação: Lotador

Nível de escolaridade: 6º

Local de residência: Paraiso

1. Com quem cresceste?

33
E3: Cresci com os meus pais

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência


domestica?

E3: As vezes discutem sim.

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

E3: Nunca sofri maus tratos, até porque, mesmo com essas minhas praticas nunca me a
abandonarão

4. O que te motivou a entrar no mundo da delinquência?

E3: Foi influência dos amigos, houve um certo dia estávamos a organizar uma festa e não
tínhamos dinheiro daí que preparamos alguns a saltos para conseguirmos o dinheiro dali
até agora a vibe colo.

5. Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade?

E3: Na minha vida o impacto tem sido normal, porque a ajuda-me a tingir os objectivos. Já
na sociedade e negativo

6. Quais são as consequência da pratica da delinquência?

E3: Morto pela população por uma acção de queimada com pneu e gasolina, polícia ou
cadeia.

ENTREVISTA nº 4

Sexo: M

Idade: 17

Nível de escolaridade: 8ª

Ocupação: Motoqueiro

Local de residência: Paraiso

34
1. Com quem cresceste?

E4: cresci com a minha mae a gora vivo sozinho.

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência


domestica?

E4: Já presenciei várias vezes, a ponto de perder a minha mãe e a irmã de tanto estresse

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

E4: Sim, por um pai não presente, sempre que que se fazia presente era graves problemas
em casa

4. O que te motivou a entrar no mundo da deliquência?

E4: A motivação foi por parte dos amigos, tentei no primeiro dia deu certo e lá fiquei.

5. Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade?

E4: O impacto e sempre negativo.

6. Quais são as consequência da pratica da delinquência?

E4: Papoite , as consequências todos nós sabemos morte ou cadeia, mas também ela onde
sai o meu pão .

ENTREVISTA nº 5

Sexo: M

Idade: 17

Ocupação: Cobrador

Nível de escolaridade: 8ª

Local de residência: Paraiso

1. Com quem cresceste?

35
E5: cresci com os meus pais e depois de um tempo passei a viver sozinho ate a data
presente.

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência


domestica?

E5: Quando eu vivia com os meus pais não, mas, após morte dos meus pais por acidente
daí começou tudo

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

E5: Sim, mas na adolescência.

4. O que te motivou a entrar no mundo da delinquência ?

E5: E a falta de emprego

5. Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade?

E5: Eu digo que sim, porque, e deste dinheiro que consigo cobrir com as minhas
necessidades pois que não a emprego

6. Quais são as consequencia da pratica da deliquencia?

E5: São tantas ex: a polícia está sempre a minha trás, a família me desprezou e a cadeia é
comigo.

ENTREVISTA nº 6

Sexo: M

Idade: 17

Ocupação: Cobrador

Nível de escolaridade: 6ª

Local de residência: Paraiso

1. Com quem cresceste?

36
E6: cresci com os meus avos

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência


domestica?

E6: Não

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

E6: Em casa não mas, na rua sim.

4. O que te motivou a entrar no mundo da delinquência?

E6. Foi uma influência do meio em que vivo, pois que a saltavam-me por 2 vezes logo, tive
que me enquadrar num grupo.

5. Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade?

E6. Na minha sim, mas, na sociedade não.

6. Quais são as consequências da pratica da delinquência?

E6: Esta pratica so tem 2 caminhos se não for a morte vai a cadeia.

ENTREVISTA nº 7

Sexo: M

Idade: 21

Ocupação: Lotador

Nível de escolaridade: 10ª

Local de residência: Paraiso

1. Com quem cresceste?

37
E7: Cresci com o meu tio

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência


domestica

E7: Sim

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

E7: Na adolescência sim.

4. O que te motivou a entrar no mundo da delinquência?

E7: O que me motivou são os maus tratos quer na família e no bairro através dos grupos.

5. Teve algum impacto a pratica da deliquência na tua vida e na sociedade

E7: Sim, ter fama e dinheiro.

6.Quais são as consequências da pratica da delinquência?

E7: As consequências da pratica da delinquência são, ser mal visto no meio em que vivo,
cadeia e morte.

ENTREVISTA nº 8

Sexo: F

Idade: 17

Ocupação: Domestica

Nível de escolaridade: 8º

Local de residência: Paraiso

1. Com quem cresceste?

38
E8: cresci com a minha mãe

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência


domestica

E8: Sim, os meus pais brigavam sempre a ponto de separarem

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência

E8: Não

4. O que te motivou a entrar no mundo da deliquência?

E8: E a fome boss

5. Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade?

E8: Ela onde sai o meu pão

6. Quais são as consequências da pratica da delinquência?

E8: A consequência e a morte boss

ENTREVISTA nº 9

Sexo: F

Idade: 17

Ocupação: Estudante

Nível de escolaridade: 8ª

Local de residência: Paraíso

1. Com quem cresceste?

39
E9: Cresci com a minha mãe

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência


domestica?

E9. Sim

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

E9. Também já, por parte da família do meu pai. Eles não queriam saber de mim após a
morte do meu pai sendo órfão de pai que só.

4. O que te motivou a entrar no mundo da delinquência?

E9. O que me motivou a entrar no mundo da delinquência são as dificuldades da vida e o


meio em si obrigou-me a em quadrar-se a um determinado grupo.

5. Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade?

E9: teve um impacto positivo porque, consigo pagar as minhas propinas da escola e e
negativo porque, já parei na cadeia por causa de roubo e lutas de ruas.

6. Quais são as consequências da pratica da delinquência?

E9: E a morte, a cadeia ou diminuírem-te o físico.

ENTREVISTA nº 10

Sexo: M

Idade:15

Ocupação: Lotador

Nível de escolaridade: 5ª

Local de residência: Paraiso

1. Com quem cresceste?

40
E10: Cresci com os meus pais e depois foi viver com outros familiares.

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência


domestica?

E10: Já presenciei situações de violência e já tive em envolvido em situações dessa velho..

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

E10: Sim. Na infância e na adolescência

4. O que te motivou a entrar no mundo da delinquência?

E10: O meio influenciou- me e também não trabalho nem estudo.

5. Teve algum impacto a pratica da deliquencia na tua vida e na sociedade?

E10: Teve um impacto muito grande, por perder tempo em cadeias e a boa reputação na
sociedade

6.Quais são as consequências da pratica da delinquência?

E10: As consequências da pratica da delinquência são várias como cadeias, morte e a falta
de consideração na sociedade.

ENTREVISTA nº 11

Sexo: F

Idade: 21

Ocupação: Domestica

Nível de escolaridade: 5ª

Local de residência: Paraiso

1. Com quem cresceste?

41
E11: cresci com os meus pais e posteriormente passei aviver sozinha

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência


domestica

E11: Não

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

E11: Não

4. O que te motivou a entrar no mundo da delinquência?

E11: As minhas amizades influenciaram-me muito e por outro a falta de emprego até
porque, vivo só com a minha filha.

5. Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade?

E11: Digo que sim, porque, ganho lá dinheiro apesar do nosso meio me falarem mal por
causa dessa pratica.

6. Quais são as consequências da pratica da delinquência?

E11: Cadeia ou Morte

ENTREVISTA nº 12

Sexo: F

Idade.16

Ocupação: Domestica

Nível de escolaridade: 5ª

Local de residência: Paraiso

1. Com quem cresceste?

42
E12: Cresci com os meus Avos materno

2. Alguma vez presenciaste ou estiveste em envolvido em situações de violência


domestica?

E12: Sim

3. Sofreste maus tratos na infância ou na adolescência?

E12: Sofro até agora. por causa dessas coisas resolvi sair dela e vivo sozinha a fazer
aminha vida.

4. O que te motivou a entrar no mundo da delinquência?

E12: O que me motivou e o meio social em que vivo, e também o desemprego.

5. Teve algum impacto a pratica da delinquência na tua vida e na sociedade?

E12: Sim. Maus companinhas me levaram aos maus caminhos, porque, temos que ir
procurar o nosso pão de cada dia e vimos que está vida não presta.

6. Quais são a consequência da pratica da delinquência?

E12: As consequências da pratica da delinquência são, a morte, cadeia e os outros males


que enfrentamos.

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