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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

UMA TENTATIVA DE SÍNTESE DAS DIFERENÇAS ENTRE AS


NIC E OS VÁRIOS REGIMES DO SNC
Um artigo de Fábio Albuquerque, de julho de 2021, da revista Contabilista

Pós-Graduação em Contabilidade e Fiscalidade

Unidade Curricular de Normas Internacionais de Contabilidade


Ano letivo 2022/2023
Professor João Borralho

Alunas Carolina Costa, Joana Marcão e Samanta Correia


Índice:

Índice:............................................................................................................................................ 1

Lista de Siglas e abreviaturas: ....................................................................................................... 2

Biografia do autor: ........................................................................................................................ 4

Uma tentativa de síntese das diferenças entre as NIC e os vários regimes do SNC: .................... 5

1ª Parte do Artigo ...................................................................................................................... 5

Explicação breve sobre os normativos nacionais e internacionais: ....................................... 5

2ª Parte do Artigo ...................................................................................................................... 6

Diferenças entre o SNC e as NIC: ......................................................................................... 6

Reflexão crítica: ............................................................................................................................ 9

Microentidades: ....................................................................................................................... 12

Pequenas entidades: ................................................................................................................ 12

Médias entidades: .................................................................................................................... 12

Grandes entidades: .................................................................................................................. 13

Pequenos grupos: .................................................................................................................... 13

Bibliografia ................................................................................................................................. 17

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Lista de Siglas e abreviaturas:

CNC – Comissão de Normalização Contabilística

DF – Demonstrações Financeiras

ESNL – Entidades do Setor não Lucrativo

IAS – International Accounting Standards

IASB – International Accounting Standards Board

IASC – International Accounting Standards Committee

IFRS – International Financial Reporting Standards

IFRS-SME - IFRS por Small and Medium Entities

ME – Microentidades

NCM – Normalização Contabilística para as Microentidades

NCP – Normas de Contabilidade Pública

NCRF – Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro

NCRF-ESNL – Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro para as Entidades do Setor não


Lucrativo

NCRF-ME – Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro para as Microentidades

NCRF-PE – Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro para as Pequenas Entidades

NIC – Normas Internacionais de Contabilidade

SNC – Sistema de Normalização Contabilística

POC – Plano Oficial de Contabilidade

PE – Pequenas Entidades

UE – União Europeia

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Introdução:

Neste trabalho apresentamos sucintamente o artigo “Uma tentativa de síntese das


diferenças entre as NIC e os vários regimes do SNC”. Para o efeito, apresentamos a biografia do
autor, a exposição do artigo e por último expomos o nosso ponto de vista sobre as temáticas
abordadas no mesmo, utilizando algum espírito crítico.
Fábio Henrique Ferreira de Albuquerque, atual diretor do mestrado em contabilidade no
ISCAL publicou, em outubro de 2021, o artigo em questão. Através da publicação deste artigo, o
autor pretende explicar a abrangência obrigatória e facultativa das NIC (Normas Internacionais
de Contabilidade) em Portugal, clarificar os diversos níveis de normalização contabilística
(NCRF, NCRF-PE e NCM) e explicitar as diferenças entre o SNC (Sistema de Normalização
Contabilístico) e as NIC.
No artigo o autor explica ainda que, no âmbito da harmonização contabilística, houve a
necessidade de se introduzir em Portugal um novo sistema de normalização contabilística, o SNC.
O SNC, para além de pretender harmonizar o processo de normalização contabilística nacional,
pretendia, também, a simplificação de requisitos para as entidades de menor dimensão.
No âmbito da intensificação da atividade económica internacional, a harmonização
contabilística revela ser extremamente importante, pois contribui para a criação de um conjunto
de regras comum a todos os países, e consequentemente para o aumento da comparabilidade da
informação financeira o que, consequentemente, potencia a utilidade da informação financeira, a
globalização dos mercados, o crescimento económico e diminui custos. Para o desenvolvimento
da harmonização contabilística internacional, destaca-se o papel do IASB enquanto organismo de
normalização contabilística internacional.
O autor alerta, ainda, os leitores, que o objetivo da harmonização contabilística foi alvo
de diversas críticas, pois deixava a cargo dos Estados-membros (EM) um conjunto vasto de
opções em distintas matérias, incluindo os limiares de enquadramento nos diferentes níveis de
normalização.
Fábio Albuquerque, reforça que apesar de o SNC ter sido construído com base nas NIC,
existem diferenças relevantes entre ambos, que se podem enquadrar em quatro distintos tópicos,
tais como, instrumentos contabilísticos integrantes dos distintos modelos de normalização,
diferenças deliberadamente assumidas pelos legisladores nacionais ou explicadas por razões
contextuais, diferenças decorrentes de critérios impostos pelas diretivas europeias e diferenças
decorrentes do maior dinamismo das alterações das NIC face às NCRF.
Na realização da exposição deste artigo temos como objetivo capacitar-nos para
apresentar e explicar a abrangência obrigatória e facultativa das NIC em Portugal, as diferenças
existentes entre o SNC e as NIC, e o porquê destas diferenças.

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Biografia do autor:

Fábio Henrique Ferreira de Albuquerque, atual diretor do mestrado em contabilidade no


ISCAL (Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa), é licenciado em
contabilidade e administração, mestre em auditoria e doutorado em ciências económicas e
empresariais pela UNEX (Universidade de Extremadura).
Atualmente, para além de assumir o cargo de diretor do mestrado em contabilidade no
ISCAL, Fábio Albuquerque é também, desde 2008, docente no ISCAL, lecionando unidades
curriculares como tópicos avançados de contabilidade e relato financeiro, concentração de
empresas e consolidação de contas, avaliação de empresas e complementos de contabilidade
financeira. Fábio Albuquerque acumula, ainda, o cargo de membro da comissão permanente da
área departamental da contabilidade e auditoria e do conselho técnico científico do ISCAL, e é
também, desde 2015, professor auxiliar convidado na Information Management School (Nova
IMS).
Por forma a auxiliar as empresas na aplicação e interpretação dos normativos
contabilísticos nacionais e internacionais, Fábio Albuquerque tem, ainda, vindo a realizar diversos
serviços de consultoria e formações empresariais. Por sua vez, entre 2010 a 2019, o Professor
Doutor desempenhou funções no Banco de Portugal, tendo sido: representante do Banco de
Portugal no grupo de trabalho da informação empresarial simplificada (GT-IES), membro do
rating committee na central de balanços do Banco de Portugal, para a análise e atribuição de
ratings às sociedades não financeiras, coordenador da task-force sobre partilha de dados
individuais das sociedades não financeiras na Europa no BACH (Bank for the Accounts of
Companies Harminized) working group, do European Committee of Central Balance-Sheet Data
Offices (ECCBSO) e secretário do BACH working group do ECCBSO.
O Professor Doutor Fábio tem vindo a colaborar na publicação de artigos técnicos e
científicos, tendo sido autor e co-autor de artigos publicados em conceituados jornais
internacionais, tais como o International Journal of Information and Education Technology, o
Journal of Financial Studies and Research, o Journal of Management and Marketing Review e o
European Journal of Applied Business and Management, e em revistas nacionais, tais com a
Revista Revisores e Auditores e a Revista Contabilista. Para além de autor de artigos técnicos e
científicos, é também paper reviewer de diversas revistas científicas, e coautor de livros teórico-
práticos sobre a normalização contabilística nacional, tais como o SNC e o Regime de
Normalização Contabilística para Microentidades e o SNC explicado.
Em 2016, Fábio Albuquerque foi galardoado com o Prémio de Excelência, do Banco de
Portugal, tendo também recebido o prémio de melhor orientação de dissertação do mestrado em
auditoria – Ano 2018/2019, em 2021 pelo ISCAL, e o Prémio Dr. Luiz Chaves de Almeida, da
APOTEC (Associação Portuguesa dos Técnicos de Contabilidade).

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Uma tentativa de síntese das diferenças entre as NIC e os vários regimes

do SNC:

O artigo “Uma tentativa de síntese das diferenças entre as NIC e os vários regimes do
SNC”, publicado na Revista Contabilista nº 259 de outubro de 2021, por Fábio Albuquerque em
colaboração com o ISCAL, divide-se em duas partes. Na primeira parte, o autor do artigo
concentra-se, essencialmente, em explicar a abrangência obrigatória e facultativa das NIC
(Normas Internacionais de Contabilidade) em Portugal e em clarificar os diversos níveis de
normalização contabilística (NCRF, NCRF-PE e NCM). Já na segunda parte do artigo, o autor
explicita as diferenças entre o SNC (Sistema de Normalização Contabilístico) e as NIC.

1ª Parte do Artigo

Explicação breve sobre os normativos nacionais e internacionais:

Segundo o autor, a adoção das NIC em Portugal têm um caráter de obrigatoriedade para
as “(…) contas consolidadas das entidades com valores mobiliários admitidos à negociação num
mercado regulamentado da UE, bem como as respetivas contas individuais de tais entidades (e
que não sejam obrigados a elaborar e apresentar contas consolidadas), ficando as suas DF
individuais igualmente sujeitas à certificação legal das contas (CLC) (…)” (Albuquerque F. d.,
2021) e um carácter opcional para as “(…) entidades que possuam contas consolidadas, bem como
entidades cujas contas individuais integram o perímetro de consolidação de entidades que
consolidam contas utilizando as NIC (obrigatória ou facultativamente), ficando tais contas, em
ambos os casos, sujeitas à CLC (…)” (Albuquerque F. d., 2021).
No âmbito da harmonização contabilística, o autor explica que houve a necessidade de se
introduzir em Portugal um novo sistema de normalização contabilística. Desta forma, baseando-
se nas normas internacionais de contabilidade, surgiu em 2009 o Sistema de Normalização
Contabilística (SNC). O SNC veio permutar o antigo normativo contabilístico nacional, o Plano
Oficial de Contabilidade (POC), que já não se ajustava às necessidades contabilísticas
internacionais e nacionais. O autor salienta, também, que embora o SNC se baseie nas NIC, os
normativos nacionais aplicáveis às entidades não abrangidas pela obrigatoriedade ou pela
faculdade de adoção das NIC, apresentam diferenças relativamente às normas internacionais que
“(…) são mais evidentes consoante o regime do SNC em que tais entidades se incluam”
(Albuquerque F. d., 2021).

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Com a introdução do SNC, para além de se pretender harmonizar o processo de
normalização contabilística nacional, pretendia-se, também, a simplificação de requisitos para as
entidades de menor dimensão. Para tal, no âmbito do SNC existem três diferentes níveis de
normalização contabilística, sendo estes o regime geral (NCRF - Normas Contabilísticas e de
Relato Financeiro), com requisitos mais abrangentes, o NCRF-PE (Norma Contabilística e de
Relato Financeiro para as Pequenas Entidades) e o NCM (Norma Contabilística para as
Microentidades) que são dois regimes mais simplificados e que se aplicam às pequenas entidades
(PE) e microentidades (ME), respetivamente.
Em relação ao regime contabilístico para as PE e ME, o autor diz que no âmbito do SNC
a existência de cada regime resultou da simplificação dos conteúdos das normas contabilísticas
de relato financeiro do SNC e das normas internacionais de contabilidade, contudo nenhum dos
regimes é integralmente comparável com as NIC e com as NCRF, e que o enquadramento das
pequenas e microentidades no âmbito do SNC tem por base a verificação de três limites (Total de
volume de negócios, Total de ativos e Nº médio de empregados) que não devem ser ultrapassados
à data do balanço, em pelo menos dois dos três.
Fábio Albuquerque acrescenta ainda, que o regime geral para as ME inicialmente não se
encontrava inserido no âmbito do SNC, tendo sido apenas integrado em 2015. Com a inclusão da
NCM, o autor afirma que se constituiu em Portugal um sistema de normalização contabilístico
“único constituído por diversos subsistemas” (Albuquerque F. d., 2021).
Por fim, o autor afirma que a tentativa de harmonização contabilística foi diversas vezes
alvo de críticas, pois “(…) deixava a cargo dos Estados-membros (EM) um conjunto vasto de
opções em distintas matérias, incluindo os limiares de enquadramento nos diferentes níveis de
normalização, com um nível de enquadramento também ele opcional (…)” (Albuquerque F. d.,
2021). O autor salienta, ainda, que as alterações obrigatórias que se impuseram aos Estados-
membros, para a aplicação da harmonização contabilística, vieram agravar ainda mais as
diferenças entre as NIC e o SNC, e destaca a necessidade eminente de se rever os limites do
conceito de dimensão para fins de enquadramento das entidades nacionais nos níveis acima
mencionados.

2ª Parte do Artigo

Diferenças entre o SNC e as NIC:

Segundo o autor, apesar de o SNC ter sido construído com base nas NIC, existem diferenças
relevantes entre ambos, que se podem enquadrar em distintos tópicos, tais como:

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1. Instrumentos contabilísticos integrantes dos distintos modelos de normalização;
2. Diferenças deliberadamente assumidas pelos legisladores nacionais ou explicadas por
razões contextuais;
3. Diferenças decorrentes de critérios impostos pelas diretivas europeias;
4. Diferenças decorrentes do maior dinamismo das alterações das NIC face às NCRF.

1. Instrumentos contabilísticos integrantes dos distintos modelos de normalização:

Neste tópico o autor compara o SNC e as NIC em termos de flexibilidade/rigidez quanto


às DF, concluindo que as NIC apresentam uma maior flexibilidade face ao SNC pois não impõem
modelos padrão, não apresentam um código de contas específico, nem outros requisitos
específicos que são adotados pelo SNC.

2. Diferenças deliberadamente assumidas pelos legisladores nacionais ou contextuais:

Já neste tópico, Fábio Albuquerque dá alguns exemplos de tratamento distinto entre o


SNC e as NIC, como por exemplo, nos subsídios ao investimento, que no SNC são inicialmente
reconhecidos na rúbrica do capital próprio, enquanto nas NIC o são como um rendimento direto
ou uma dedução ao custo inicial do ativo – tratamento este que já estava estipulado pelas NIC
antes da aprovação do SNC. O autor compara também a preparação das DF, referindo que, por
exemplo, na Demonstração de Resultados, a IAS permite a apresentação dos gastos por função
(desde que nas notas sejam divulgados os gastos pela sua natureza), enquanto a sua resultante
NCRF exige a apresentação dos gastos por natureza. Na sua opinião, estas divergências podem
ser resultado de uma tendenciosidade por parte dos legisladores nacionais.

3. Diferenças decorrentes de critérios impostos pelas diretivas europeias:

Segundo o autor, houve a necessidade de alterar as denominações de algumas contas e


linhas das DF por diretiva da UE, que se afastam das NIC, exemplificando com, entre outros
casos, o capital subscrito e não realizado, que passou a fazer parte do ativo como uma conta a
receber do acionista, e do capital subscrito, ainda que não realizado na totalidade, que passou a
fazer parte do capital próprio e não do capital realizado.

4. Diferenças decorrentes do maior dinamismo nas alterações das NIC face às NCRF:

De acordo com Fábio Albuquerque, existe uma desatualização do SNC face às alterações
do IASB, tais como, entre outros:

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- Alterações à estrutura conceptual do IASB;
- Alterações à IAS 1, que introduziu, entre outros aspetos, uma maior flexibilidade na
designação das demonstrações financeiras (sendo que, por exemplo, o balanço, pode
ser designado de demonstração da posição financeira);
- Introdução dos ativos não correntes detidos para distribuição do capital (IFRS 5);
- Novo conceito de justo valor e de técnicas de mensuração (IFRS 13);
- Emissão de uma nova norma para o tratamento dos instrumentos financeiros, que
introduz um novo modelo para a identificação do critério de mensuração e para o
reconhecimento de perdas por imparidade (IFRS 9);
- Emissão de uma nova norma para o tratamento do rédito, em que é feita uma distinção
entre o tratamento de diversos tipos de rédito (IFRS 15);
- Emissão de uma nova norma para o tratamento das locações (IFRS 16).

Por fim, o autor analisa ainda algumas diferenças entre os regimes do SNC (NCRF,
NCRF-PE e NCRF-ME) que optámos por não explorar neste trabalho.

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Reflexão crítica:

A intensificação da atividade económica internacional, para além de ter despertado um


conjunto de transformações nas atuações dos utilizadores, emissores e reguladores da informação
financeira incentivou a necessidade de se criar uma linguagem contabilística comum a todos os
países.
A harmonização contabilística enquanto processo de convergência dos normativos e
práticas contabilísticas, tem vindo a contribuir para a criação de um conjunto de regras comuns a
todos os países o que permite preparar, consolidar e interpretar de forma idêntica a informação
financeira. A harmonização contabilística contribui, assim, para o aumento da comparabilidade
da informação financeira o que, consequentemente, potencia a utilidade da informação financeira,
a globalização dos mercados, o crescimento económico e diminui os custos de contexto e de
financiamento.
Salienta-se que a harmonização contabilística é extremamente importante,
nomeadamente para as empresas cotadas em bolsa que dispõem de valores mobiliários, ou seja,
direitos e deveres que podem ser comprados e vendidos, e para os respetivos investidores, pois
permite a análise do seu potencial financeiro.
Importa evidenciar que o conceito de harmonização contabilística é diferente de
normalização contabilística, e que o processo de normalização contabilística não implica
necessariamente numa contribuição para o processo de harmonização contabilística. A
normalização contabilística, apenas contribui quando a emissão, a revisão e a alteração dos
normativos contabilísticos reduz as divergências existentes entre os diferentes normativos
contabilísticos.
Para o desenvolvimento da normalização contabilística nacional e internacional,
destacamos o papel de dois organismos principais, a Comissão de Normalização Contabilística
(CNC) e o International Accounting Standards Board (IASB).
Em Portugal, o principal organismo responsável pela elaboração de normativos
contabilísticos nacionais é o CNC (Comissão de Normalização Contabilística), que elaborou o
SNC (Sistema de Normalização Contabilística).
O SNC veio substituir, em 2009, o anterior POC (Plano Oficial de Contabilidade), o que,
de acordo com Pereira, Gomes, & Oliveira, (2001) e conforme citado em Mourão, (2018), teve
como objetivo aproximar as normas nacionais das normas internacionais após a obrigatoriedade
da adoção das mesmas pela UE.
Este Sistema é composto por vários normativos, sendo eles:

− NCRF (28 normas) – Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro

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− NCRF-PE – Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro para as Pequenas
Entidades
− NCRF-ME – Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro para as Microentidades
− NCRF-ESNL – Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro para as Entidades do
Setor não Lucrativo
− NCP – Normas de Contabilidade Pública

Desde que, foi implementado, em 2009, o SNC sofreu apenas três atualizações (Mourão,
2018):

− Um aumento nos limites de aplicação da NCRF-PE, para que mais empresas


passassem a utilizar esta norma (2010);
− A adoção das NCRF-ME e das NCRF-ESNL (2011);
− A transposição para o ordenamento jurídico interno da diretiva referente às DF
consolidadas e aos relatos conexos de certas formas de empresas (2013).

Com base no referido, destacamos que a falta de atualizações no SNC leva a que os
normativos contabilísticos nacionais estejam a ficar desatualizados face aos normativos
contabilísticos internacionais. Esta situação acabará por colocar as empresas portuguesas em
desvantagem, pois a aplicação de práticas e princípios contabilísticos diferentes leva a uma
diminuição da comparabilidade da informação financeira, o que conduz em maiores gastos para
as empresas na preparação da sua informação financeira e dificuldades na compreensão do risco
e da rendibilidade dos investimentos.
Já no âmbito internacional, o organismo responsável atualmente pela elaboração das
normas internacionais de contabilidade (IAS – International Accounting Standards e IFRS -
International Financial Reporting Standards) é o IASB (International Accounting Standards
Board). O IASB, pela forma como tem vindo a evoluir conquistou a condição de organismo
principal no processo de harmonização contabilística internacional.
Este organismo veio substituir, em 1995, o IASC (International Accounting Standards
Comittee), cujas normas apenas abrangiam a contabilidade, e não o relato financeiro (Rodrigues,
(2022), tal como citado em Mourão, (2018)).
O IASC tinha sido criado em 1973 com os seguintes objetivos (Lapi, 2015):

− Formular e publicar, no interesse público, normas de contabilidade que pudessem ser


utilizadas na apresentação das demonstrações financeiras, e promover a sua
observância e aceitação mundial;

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− Trabalhar de uma forma geral para a melhoria e harmonização dos regulamentos,
normas e procedimentos contabilísticos relacionados com a apresentação das
demonstrações financeiras.

À posteriori, os objetivos do IASB foram, segundo Alexander et al., (2014) e conforme


citado em Lapi (2015), os seguintes:

a) Desenvolver, para o interesse público, um conjunto único de alta qualidade,


compreensível e normas globais aplicáveis que exigem alta qualidade, informações
transparentes e comparáveis nas demonstrações financeiras e outros relatórios
financeiros para ajudar os participantes dos mercados de capitais do mundo e outros
utilizadores e tomarem decisões económicas;
b) Promover o uso e a aplicação rigorosa destas normas;
c) Cumprir os objetivos associados com (a) e (b), as necessidades de uma variedade
de tamanhos e tipos de entidades em diversos cenários económicos;
d) Promover e facilitar a adoção das IFRS, sendo as normas e interpretações emitidas
pelo IASB, através da convergência das normas nacionais de contabilidade e as
IFRS.

Por decisão da UE, a adoção das IAS/IFRS é, desde 2005, de caráter obrigatório para
todas as empresas com valores mobiliários que estejam admitidas à negociação em mercado
regulamentado. Caso se trate de um grupo económico nestas mesmas condições, o mesmo terá de
responder a esta obrigação para as DF consolidadas e para as DF individuais das respetivas
entidades, sendo opcional para as entidades com DF individuais que integrem o perímetro das
primeiras. Desde 2007 que as empresas que não estejam cotadas em bolsa podem também optar
por adotar estas normas.
Tal como mencionado anteriormente, as NCRF dividem-se em vários patamares de
normalização contabilística. A elegibilidade das empresas (microentidades, pequenas entidades,
médias entidades, grandes entidades e pequenos grupos) para se inserirem em determinado
patamar está dependente da verificação dos critérios seguintes:

− Total do ativo;
− Volume de negócios;
− Número médio de empregados.

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Microentidades:

Para que a empresa possa utilizar o normativo NCRF-ME tem de ser considerada
microentidade. Para tal, não pode ultrapassar 2 dos 3 seguintes limites:

Total do ativo 350.000€


Volume de negócios 700.000€
Número médio de empregados 10

Estas entidades podem também, opcionalmente, aplicar as NCRF-PE ou as NCRF, visto


que o rigor destes normativos é superior ao exigido.

Pequenas entidades:

Uma pequena entidade pode optar por adotar as NCRF-PE ou as NCRF. Para ser
considerada pequena entidade, não pode ultrapassar 2 dos seguintes 3 limites:

Total do ativo 4.000.000€


Volume de negócios 8.000.000€
Número médio de empregados 50

Estas entidades não podem adotar as NCRF-ME, visto que o rigor desse normativo é
inferior ao exigido para as empresas desta dimensão.

Médias entidades:

As médias entidades têm obrigatoriamente de adotar as NCRF. Para ser considerada


média entidade, não pode ultrapassar 2 dos seguintes 3 limites:

Total do ativo 20.000.000€


Volume de negócios 40.000.000€
Número médio de empregados 250

Estas empresas não podem adotar as NCRF-PE nem as NCRF-ME, porque o rigor destes
normativos é inferior ao exigido.

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Grandes entidades:

As grandes entidades são as empresas que ultrapassam os limites definidos para as médias
entidades. Estas entidades também têm obrigatoriamente de adotar as NCRF.

Pequenos grupos:

Os pequenos grupos são constituídos pela empresa mãe e pelas empresas subsidiárias
que à data do balanço da empresa mãe, não ultrapassem 2 dos 3 limites:

Total do ativo 6.000.000€


Volume de negócios 12.000.000€
Número médio de empregados 50

Estes grupos encontram-se dispensados da obrigatoriedade de apresentação de contas


consolidadas.

De acordo com o autor, e tal como já referimos no capítulo anterior, o facto de os limiares
de enquadramento dos diferentes níveis de normalização serem deixados a cargo dos Estados-
membros foi diversas vezes alvo de críticas. Na nossa opinião, estes limiares devem ser definidos
para todos os Estados-membros pelo próprio IASB. Não obstante, esses limiares devem ter em
consideração a realidade e a dimensão de cada Estado-membro.
Por exemplo, se os limiares para Alemanha fossem os mesmos que para Portugal, uma
pequena entidade na Alemanha, talvez fosse erradamente considerada uma grande entidade,
porque a realidade e a proporção são diferentes. Isso iria prejudicar a comparabilidade entre
ambos os países.
Assim sendo, esta estruturação deve ser uniforme e permitir que as DF sejam o mais
comparáveis possível entre os vários Estados-membros.
Por sua vez, partilhamos da mesma opinião do autor do artigo em relação à necessidade
de revisão destes limiares para Portugal. Acreditamos que seja necessária uma atualização, tendo
em conta que os mesmos já foram definidos há 8 anos, e que estamos em constante mudança e
evolução.
O autor Fábio Albuquerque alerta ainda os leitores para o facto de o objetivo da
harmonização contabilística ter sido também alvo de críticas.
Embora o processo de harmonização contabilística tenha sido profundamente debatido, e
seja segundo Samuels e Oliga, citados por Lorca (2001), um processo politicamente complexo,

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teoricamente complicado e operativamente incerto, enquanto grupo concordamos com o
desenvolvimento do processo de harmonização contabilística, pelas inúmeras vantagens que traz
para as empresas e pelo facto de contribuir para a harmonia das práticas e princípios
contabilísticos.
Segundo Essers, et al., (2009), conforme citado em Mourão (2018), existem diversas
vantagens decorrentes da harmonização dos normativos contabilísticos, tais como:

− Facilidade na comparabilidade e compreensão da informação por parte dos utilizadores


da mesma, provocando um menor custo do capital necessário;
− Menor necessidade de reunir informações com base em diferentes sistemas de
contabilidade, conduzindo a uma diminuição dos custos das multinacionais;
− Maior facilidade na mobilidade dos profissionais da área dentro dos países envolvidos no
processo de harmonização.

Beresford, (1990) acrescentam, também, que é através da harmonização contabilística


que existe uma maior simplicidade das transações internacionais, um decrescimento do custo do
capital, uma maior familiaridade com as práticas contabilísticas dos outros países, uma melhor
comunicação empresarial, uma diminuição da ambiguidade na interpretação da informação
financeira e uma poupança substancial dos custos dos organismos emissores de normas.
Por sua vez, como barreiras à aplicação da harmonização contabilística apresentamos a
opinião dos autores Choi, Frost, & Meek, (1999), citados por Mourão, (2018) que defendem que
a harmonização contabilística não tem em conta as diferenças nacionais, o que dificulta a sua
implementação a nível internacional.
De acordo com o autor do artigo em estudo, numa outra publicação (Albuquerque &
Santos, 2022), a análise das DF de diferentes países pode ser comprometida por várias barreiras,
de entre elas os regulamentos locais, as opções existentes nas IAS/IFRS, o nível de educação e de
experiência relacionados com este tema, a cultura e religião de cada país, sendo que a maior
barreira apresentada é, ainda assim, a linguagem e a dificuldade na interpretação das normas e
das DF.
Assim sendo, existe uma discrepância entre a harmonização “de jure” e a harmonização
“de facto”, ou seja, entre a obrigação da adoção das IAS/IFRS e a sua implementação efetiva nos
vários países (Albuquerque & Santos, 2022).
Exposto isto, e embora concordemos com a aplicação do processo de harmonização
contabilística, também concordamos que o processo de criação de uma linguagem contabilística
comum a todos os países deve atender as características de cada país, por forma a que exista uma
conciliação dos interesses dos diversos países.

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De acordo com Fábio Albuquerque, as NCRF são, em grande parte, baseadas nas
IAS/IFRS. Já as NCRF-PE e as NCRF-ME são, apesar de não integralmente comparáveis,
baseadas nas IFRS-SME (IFRS por Small and Medium Entities), que foram criadas por
reconhecimento por parte do IASB da dificuldade das entidades não obrigadas a prestar contas
públicas em elaborar as DF.
Apesar de, segundo o autor, as NCRF-PE e as NCRF-ME se afastarem ligeiramente das
normas internacionais, faz todo o sentido, na nossa ótica, que o processo contabilístico seja menos
complexo para as pequenas e microentidades, tendo em conta que são entidades de menor
dimensão, muitas vezes geridas por indivíduos com poucos conhecimentos de gestão e de
contabilidade, e com poucos recursos. Para além disso, muitas vezes, dada a dimensão do negócio,
não se justifica, na nossa opinião, ter de apresentar a informação com tanto detalhe.
Na nossa ótica, é lícito que existam diferenças entre o SNC e as NIC, visto que o SNC é
um sistema de normalização contabilística nacional, e que não apresenta no seu todo o mesmo
grau de exigência que as NIC. No entanto, e por esta mesma razão, na nossa opinião, o SNC
deveria acompanhar as NIC em termos de flexibilidade quando às DF, visto que não é coerente
que as DF do normativo nacional apresentem um maior grau de exigência do que as DF do
normativo internacional.

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Conclusão:
A existência de práticas e princípios contabilísticos diferentes em cada país é um
obstáculo à globalização dos mercados e ao crescimento económico.
Em virtude das assimetrias existentes na informação financeira, surge a necessidade de
se harmonizar os normativos e práticas contabilísticas dos diferentes países, evitando, assim,
diferenças no apuramento de resultados e na avaliação das empresas. Posto isto, surge a
harmonização contabilística.
A harmonização contabilística enquanto processo de convergência dos normativos e
práticas contabilísticas levou, inevitavelmente, a um conjunto de reformas nos sistemas
contabilísticos, nomeadamente no sistema contabilístico português, através da criação do SNC.
Por sua vez, da necessidade de se adotar um conjunto de normas contabilísticas
mundialmente aceites, destacamos o papel essencial do IASB enquanto organismo principal de
normalização contabilística internacional.
O SNC baseia-se nas NIC para a criação das NCRF, no entanto, os normativos nacionais
aplicáveis às entidades não abrangidas pela obrigatoriedade ou pela faculdade de adoção das NIC,
apresentam diferenças relativamente às normas internacionais.
Grande parte das diferenças entre as NIC e o SNC, devem-se ao facto essencial do SNC
ser um sistema de normalização contabilístico menos flexível e mais desatualizado. O SNC impõe
requisitos específicos mais rígidos do que as NIC, e desde que foi implementado, em 2009, foi
atualizado três vezes.
Destacamos que a falta de atualizações no SNC leva a que os normativos contabilísticos
nacionais estejam a ficar desatualizados face aos normativos contabilísticos internacionais, o que
acabará por colocar as empresas portuguesas em desvantagem, pois a aplicação de práticas e
princípios contabilísticos diferentes leva a uma diminuição da comparabilidade da informação
financeira, o que conduz em maiores gastos para as empresas na preparação da sua informação
financeira e dificuldades na compreensão do risco e da rendibilidade dos investimentos.
Não obstante ao referido, na nossa opinião, é lícito também que existam diferenças entre
o SNC e as NIC, visto que o SNC é um sistema de normalização contabilística nacional, e que
não apresenta no seu todo o mesmo grau de exigência que as NIC.
No entanto, é importante referir que essas diferenças não devem ser em demasia, por
forma a existir uma harmonia com os normativos internacionais. Destacamos, ainda, que para que
não existam diferenças significativas é importante atender às características de cada país no
processo de criação de uma linguagem contabilística comum a todos os países.

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