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A idéia de um Conselho de Estado

brasileiro
Uma abordagem histórico-constitucional

Christian Edward Cyril Lynch

Sumário
Introdução. 1. Governo por conselho no
A ntigo Regime. 2. Governo por conselho no
Brasil Imperial. 2.1. O obstáculo do princípio
democrático. 2.2. O primeiro conselho de Esta-
do (1824-1834). 2.3. O segundo conselho de Es-
tado (1841-1889). 3. A persistência da idéia de
conselho de Estado durante a República. 3.1.
Conselho de Estado “ liberal” (1910/ 1912/ 1920).
3.2. Conselho de Estado como quarto poder
(1914/ 1930). 3.3. Os Conselhos da República e
de Defesa Nacional (1988). Conclusão.

Introdução

Não é novidade a reavaliação crítica que


certos lugares comuns epistemológicos vêm
sofrendo. Uma de suas conseqüências tal-
vez seja a própria idéia utilitária de que o
progresso se constrói pela superação e des-
truição do passado, desdenhando valores
como tradição. Hoje, quando parece pacífi-
ca a idéia de que o homem não é apenas um
ser individualista e racional – ao contrário,
trata-se de um ser constituído de afetos, con-
tradições e crenças coletivas – , a compreen-
Christian Edward Cyril Lynch é bacharel são do papel e da natureza das instituições
em Ciências Jurídicas pela Universidade do Rio políticas não tem como ficar infensa a tais
de Janeiro (UNI-RIO), mestre em Teoria do Es- percepções, pondo a descoberto a necessi-
tado e Direito Constitucional pela Pontifícia
dade de rever os fundamentos da legitimi-
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
dade do Estado. Não basta mais organizar
RJ), doutorando em Ciência Política pelo Insti-
tuto de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro um Estado norteado puramente em princí-
(IUPERJ) e professor do departamento de Di- pios abstratos, de inspiração meramente
reito Público da Universidade Federal Flumi- universal-racional. Vivemos uma conjuntu-
nense (UFF). ra em que, para justificar sua própria exis-
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tência e ganhar mais adesões, o Estado deve em que o Brasil era mais respeitável,
incorporar instituições simbólicas que não mais honesto, mais poderoso que atu-
podem ser encontradas senão nas peculia- almente” (SALLES, 1996, p. 15).
ridades de seus povos. Essa nostalgia derivaria do fato de que o
Trata-se de fazer o Estado incorporar às Estado monárquico teria tido uma penetra-
suas instituições elementos específicos da ção profunda na forma de o brasileiro pen-
cultura das populações onde exerce sua so- sar-se enquanto nacionalidade, por um lado,
berania e jurisdição, de forma a garantir e pelo próprio alcance limitado da obra re-
maior legitimidade e, por conseguinte, mai- publicana, por outro. Esta, ao invés de dife-
or eficácia da ação estatal. Parece natural renciar-se da herança monárquica, acabou
que, na consecução desse desiderato, nos por procurar, depois de algumas décadas,
voltemos ao exame da história. Não se trata, em função da decepção que inspirara na
naturalmente, de apenas ressuscitar insti- nação, associar sua imagem à da monarquia
tutos baseados na tradição como comumente (CARVALHO, 1990, p. 141). Por outro lado,
a compreendemos; trata-se de rever o papel o Império
que a tradição pode desempenhar nesse mo- “ realizara uma engenhosa combina-
mento de transformação da sociedade e sua ção de elementos importados (...) Tra-
própria noção: “ Uma ordem social pós- tava-se, antes de tudo, de garantir a
tradicional não é aquela na qual a tradição sobrevivência da unidade política do
desaparece – longe disso. É aquela em que a país, de organizar um governo que
tradição muda seu status. As tradições têm mantivesse a união das províncias e
que se explicar, têm de se tornar abertas à a ordem social (...) Se o governo impe-
interrogação ou ao discurso” (GIDDENS, rial contava com as simpatias popu-
1996, p. 13). lares, inclusive da população negra,
Nesse particular, parece interessante se- era isso devido antes ao simbolismo
guir a sugestão de que, mais do que a repú- da figura paternal do rei do que à par-
blica presidencialista, foi o regime monár- ticipação real d essa po pulação na
quico que apresentou uma conformação vida política do país” (CARVALHO,
político-ideológica menos afastada do ima- 1990, p. 23).
ginário popular de então (CA RVA LHO, Nessa “ engenhosa combinação” , predo-
1990) e aí indagar alguns porquês. Podería- minaram duas instituições políticas que se
mos atribuir essa maior legitimidade das situavam no cume do aparelho estatal e que,
instituições monárquicas ao fato de que o em última instância, resolviam as questões
regime imperial representava, ao menos for- cruciais referentes à política e à administra-
malmente, a seqüência de um sistema de go- ção do Império – o Poder Moderador, dele-
verno que nos governara desde o início da gado ao Imperador, e o Conselho de Estado,
colonização portuguesa, continuando, as- órgão consultivo do monarca. O fato de
sim, a permear decisivamente o imaginário ambos os institutos acharem-se extintos,
cotidiano dos habitantes do país. Isso provo- malgrado a importância que tiveram na fase
caria a chamada “ nostalgia imperial” ; uma decisiva de formação do país e da naciona-
nostalgia que, embora mais presente entre as lidade, só aumenta seu interesse para nós.
camadas mais letradas do país, estaria O que pretendemos é, numa perspectiva de
“ articulada com a própria consituição redimensionar o papel da tradição entre nós,
da consciência coletiva dos brasilei- revisitar a segunda dessas duas instituições
ros. O que importa reter é que, se difu- – o Conselho de Estado –, de modo a forne-
so ao nível popular e acentuado nas cer subsídios para a compreensão de sua
elites intelectuais, há a presença de um eventual utilidade institucional numa pers-
sentimento de que houve um tempo pectiva supra-histórica.

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1. Governo por conselho onalização do aparelho político. Durante o
no Antigo Regime domínio espanhol (1580-1640), o Conselho
de Estado continuou a oficiar junto ao vice-
Os conselhos reais se formam na Euro- rei ou aos governadores, opinando sobre
pa a partir do século XIII e se consolidam no questões externas ou internas. Embora, quan-
século XIV. Na doutrina desenvolvida no do da Restauração, Dom João IV tenha dado
final da Idade Média, como se sabe, o mo- novo regimento ao Conselho, parece que, da
narca deixa de ser somente o distribuidor forma como ele se via organizado, estava
da Justiça e se torna soberano; não havendo fadado a decair cada vez mais de importân-
quem limite o seu poder, era a fonte última cia, ainda que mantida a monarquia abso-
de todas as decisões políticas. Na prática, luta. O processo de racionalização da ad-
contudo, o próprio desenvolvimento buro- ministração pública, ocorrido durante o sé-
crático das instituições estatais, provocado culo XVIII sob influxo do ideário iluminis-
pelo próprio aumento da demanda jurisdi- ta, não tinha como deixar de esvaziar as atri-
cional e administrativa, tornava imperioso buições do Conselho de Estado, órgão não
que o monarca decidisse por meio de auxili- especializado e genérico, em detrimento de
ares, tendo de delegar-lhes poderes. Esses outros organismos de caráter mais técnico e
auxiliares eram os seus conselheiros, sendo de competência definida, tais como o De-
que dar conselho era, no sistema medieval, sembargo do Paço, a Mesa de Consciência e
um dos deveres dos vassalos para com o Ordens, o Conselho de Fazenda, o Conse-
seu senhor (REINHARD, 1997). lho Ultramarino e o Almirantado. O Conse-
A matriz imediata da qual herdaríamos lho de Estado assim formado, como todos
o conselho de Estado enquanto instituição os órgãos integrantes da administração pú-
política foi a monarquia portuguesa. O pri- blica portuguesa, foi transferido para o Bra-
meiro órgão em cujas atividades podemos sil quando da mudança da capital do Impé-
identificar características do futuro conse- rio para o Rio de Janeiro, em 1808. Não obs-
lho de Estado português foi a chamada Cú- tante, parece não haver senão notícias es-
ria Régia, organismo medieval com feições parsas acerca de efetivo funcionamento des-
de assembléia que reunia personalidades te no Brasil. Esse último fato só vem a con-
representativas da sociedade portuguesa de firmar que o instituto, tal como estava orga-
então. Antecessora também das futuras Cor- nizado na monarquia absoluta, estava fa-
tes, tinha caráter meramente consultivo, de- dado a desaparecer.
vendo todavia colaborar com o monarca Parad o xalmente, seria o mo vimento
sempre que por este solicitado nos assuntos liberal-constitucionalista que, remodelando-
relevantes para o Reino. No entanto, “ o con- o e fixando em lei suas atribuições específi-
selho de Estado da antiga monarquia nun- cas, haveria de salvá-lo do desaparecimen-
ca teve uma organização regular nem atri- to, tanto no Brasil quanto em Portugal. Na
buições definidas. O rei consultava os pre- metrópole, o velho instituto fora previsto nas
lados e grandes do Reino nos negócios gra- bases da Constituição de 9 de março de 1821,
ves, mas esses costumes eram antes resulta- sendo por fim consagrado na Constituição
do de uma tradição do que de uma obriga- de 23 de setembro de 1822 (arts. 162-170).
ção legal” (ASSUF, 1960, p. 76). No Brasil, após o retorno da Corte para Lis-
O Conselho de Estado português, com boa, em 1821, seria do interesse do Príncipe
esse nome, só seria instituído em 1569, por Regente Dom Pedro cercar-se de conselhei-
alvará do Rei Dom Sebastião I. Era direta- ros representativos da porção americana do
mente inspirado em seu similar espanhol, Reino, o que o levaria a criar, no ano seguin-
criado por Carlos V quarenta e três anos te, o chamado Conselho de Procuradores-
antes, denotando um esforço de maior raci- Gerais das Províncias, que seria substituí-

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do posteriormente pelo Conselho de Estado ção era conferir representatividade mínima
brasileiro. Num momento em que era neces- às províncias, até que o parlamento se reu-
sário instituir um governo de cunho liberal, nisse, a data em que tal ocorresse seria aque-
sem que houvesse parlamento representati- la da própria extinção do conselho. Não foi
vo ou responsabilidade ministerial, seria por outro motivo que tenha se autodissolvi-
exatamente na forma genérica do velho Con- do por ocasião da instalação da Assembléia
selho de Estado que Dom Pedro vislumbra- Constituinte de 1823. A própria resolução
ria, assim, a possibilidade de criar um orga- desta, que legalmente pôs fim ao Conselho
nismo que provisoriamente atendesse às de Procuradores, explica as razões: ele já
necessidades de aconselhar-se, e que, além teria preenchido o seu fim, que era o de pre-
de manter conexões com as funções executi- parar o advento do regime representativo, e
vas dos ministros, fosse politicamente repre- sua organização era anômala, desde que
sentativo. nela se haviam confundido as funções de
A composição do Conselho de Procura- conselheiros do monarca com a de repre-
dores era híbrida, integrado que era pelos sentantes das províncias (LIRA, 1979, p. 73)1.
ministros de Estado (com direito a voto) e de Faz-lhe, co ntud o , justiça Jo sé Ho nó rio
procuradores escolhidos pelos votos dos Rodrigues (1978, p. 47):
eleitores de paróquia em cada província. Seu “ Se o Conselho parecia destituído
modelo era o Conselho de Estado napoleô- de funções legislativas, e meramente
nico, considerado, então, a mais notável reu- consultivo, o fato é que as atribuições
nião de uma plêiade de estadistas e juristas segunda, terceira e quarta eram ver-
a aconselhar um chefe de Estado. A suges- dadeiramente revolucionárias, embo-
tão de sua criação, segundo José Honório ra escondidas na forma, pois davam
Rodrigues, parece ter vindo de José Bonifácio, ao Conselho o caráter de julgar a con-
que a ele se refere em suasLembranças e apon- veniência dos projetos vindos de Por-
tamentos do governo provisório da província de tugal, de propor medidas para o Bra-
São Paulo para os seus deputados. Ali o Patri- sil, considerado como uma unidade
arca sugeria a criação de “ um quarto poder, política independente, e de particula-
um corpo de censores, eleito pela nação, para rizar as aspirações provinciais” .
vigiar os três poderes e que tem três princi- Embora a revogação do decreto que criou
pais atribuições: conhecer qualquer ato dos o Conselho de Procuradores tenha sido pro-
três poderes que fosse inconstitucional, ve- mulgada em 20 de outubro de 1823, o fato é
rificar as eleições de deputados das Cortes, que não ficou o país sequer um mês sem um
antes que entrem em função, e, terceiro, ‘fa- Conselho de Estado, já que o Imperador, em
zer o mesmo (vigiar, verificar a escolha, jul- novembro daquele ano, por sua vez, dissol-
gar) a respeito dos conselheiros de Estado’” veu a Constituinte e criou por decreto um
(RODRIGUES, 1978, p. 44). Suas atribuições Conselho de Estado, composto de dez mem-
eram as de 1) aconselhar o regente em todos bros, com o fito específico de elaborar um
os negócios mais importantes e difíceis; 2) projeto de constituição, nele também deven-
examinar os projetos de reformas adminis- do tratar-se “ dos negócios de maior mon-
trativas que lhe fossem comunicados; 3) ta” . O que o Imperador pretendia, “ em ver-
propor medidas e planos que parecessem dade, era a feitura de um código político
mais urgentes e vantajosos ao Reino Unido para tranqüilizar o espírito público, justa-
e ao Brasil; e, por fim, 4) advogar e zelar cada mente apreensivo e alarmado ante as ten-
um de seus membros pelas utilidades de dências reacionárias do poder” (LIRA, 1979,
suas respectivas províncias. p. 75). Quatro de seus integrantes eram con-
O caráter de transitoriedade desse con- selheiros propriamente ditos; os outros seis
selho era bastante nítido, já que, se sua fun- eram os ministros das pastas políticas. No

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trabalho de elaboração da Constituição de Corte” . Era esse o espírito do governo mo-
1824, levada a cabo pelo Conselho de Esta- nárquico representativo liberal, que encon-
do sobre o anteprojeto da Constituinte dis- trava na Inglaterra o seu primeiro e mais
solvida, destacou-se José Joaquim Carneiro acabado modelo.
de Campos, Marquês de Caravelas, aparen- O Conselho Privado, na Grã-Bretanha,
temente o homem mais culto do grupo. Com era integrado pelas pessoas de confiança do
a entrada desta em vigor, em março de 1824, monarca, e seu gabinete não poderia sair
começa a existência constitucional do Con- senão dele. Com a consolidação do princí-
selho de Estado do Império do Brasil. pio democrático no decorrer do século XIX
– em especial depois da Primeira Reforma
2. Governo por conselho Eleitoral, em 1832 –, o ministério passou a
no Brasil Imperial depender do voto popular e não da confian-
ça da Coroa, fixando-se, então, uma tradi-
2.1. O obstáculo do princípio democrático ção que passou a tornar conselheiros priva-
dos os membros do gabinete convocado ao
Deve-se à prevalência do princípio de- poder. Não é por outra razão que, nesse país,
mocrático o primeiro obstáculo com que nos o ministério seja definido como “ alguns dos
deparamos quanto à existência do Conse- servidores confidenciais de Sua Majestade
lho de Estado, em tempos de constituciona- que são do Conselho Privado” (JENNINGS,
lismo. Como pudemos depreender do sucin- 1979, p. 220). Na realidade, todos os minis-
to desenvolvimento aqui traçado das ori- tros britânicos, incluindo os ministros de
gens do Conselho de Estado luso-brasileiro, Estado, prestam juramento no Conselho. Ou
a identificação deste com a monarquia ab- seja, na ficção constitucional britânica, é ain-
soluta era quase completa. Os membros da do Co nselho Privado da Rainha que
do Conselho eram os homens de confiança saem os ministros. Mas esse Conselho já não
de Sua Majestade, que o auxiliavam na tare- é senão uma espécie de antigo palácio do
fa de tomar as decisões políticas e freqüen- qual só restam de pé as paredes e em cujo
temente de executá-las. A partir do momen- interior já se acha construída uma edifica-
to, todavia, em que se instaura o sistema ção moderna – como se os novos donos ti-
constitucional, e a legitimidade do Poder vessem resolvido conservar as fachadas da
Executivo começa cada vez mais a depen- velha construção apenas em deferência à
der da opinião pública – dependência essa estética e em respeito a um passado venerá-
consubstanciada no desenvolvimento do vel, embora extinto.
sistema parlamentar –, a estrutura e a fina- Seria quase inevitável, portanto, na era
lidade do Conselho de Estado, já abaladas do liberalismo democrático, que um Conse-
com a especialização provocada pelas re- lho de Estado monárquico fosse percebido
formas racionalizadoras da administração como um resquício absolutista, dada sua
pública empreendidas ainda durante o ab- origem não eletiva e irresponsável. Ou tais
solutismo, entram definitivamente em crise órgãos de proveniência aristocrática perma-
de legitimidade. Os “ espíritos iluminados” neciam existindo, mas esvaziados de qual-
que deveriam auxiliar o monarca na tarefa quer poder, ou seu poder seria mantido, fi-
de governar não poderiam mais ser apenas cando eles, contudo, sujeitos à pressão e
escolhidos a seu bel-prazer; deveriam ser controle da opinião pública representada no
também extraídos do Parlamento eleito pelo Legislativo. Assim sendo, por toda a parte
povo. Governo exercido sem participação em que o regime monárquico passou a con-
das câmaras, em especial da Câmara baixa, viver e submeter seus princípios à concep-
seria tirania, e seus partícipes, “ a camari- ção de democracia liberal, teve o Conselho
lha palaciana” , os “ áulicos” , o “ partido da de Estado de adaptar-se ao deslocamento

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paulatino do poder, do monarca, para o possível ação gravosa deste pela questão da
Parlamento, passando a acolher em seu seio referenda; os segundos respondiam pelos
os ministérios no poder, ou simplesmente conselhos.
desaparecendo, seja de forma literal, seja No entanto, a adoção da teoria do poder
como órgão politicamente influente, seja ten- moderador pelos conselheiros de Estado
do alterados os mecanismos de preenchi- encarregados de redigir a nova Constitui-
mentos de suas vagas ou sua competência. ção, após a dissolução da Assembléia Cons-
Entretanto, a adoção, no Brasil, da teoria tituinte, veio abrir uma brecha no sistema
do poder neutro, da autoria de Benjamin da responsabilidade. Embora os ministros
Constant – que entre nós chamou-se mode- continuassem a ser responsáveis pelos atos
rador –, traria consideráveis conseqüênci- praticados pelo Imperador no exercício do
as, tanto para o desenvolvimento do siste- poder executivo e os conselheiros, pelos con-
ma parlamentar quanto para o próprio pa- selhos danosos que dessem ao monarca, a
pel do Conselho de Estado brasileiro. Como nova Constituição não atribuía explicita-
veremos, essa circunstância permitiu ao mente a ninguém a coberta da Coroa pelo
Conselho de Estado manter seu fundamen- exercício dos atos do poder moderador, o
tal poder político como instituição aparta- que ensejaria entre liberais e conservadores
da completamente do gabinete, até o último imensas e intensas discussões durante todo
dia da monarquia no Brasil. o Império. O papel do Conselho de Estado
tornou-se, então, muito visado pela crítica,
2.2. O primeiro conselho de
pois, enquanto o artigo 99 enunciava a invi-
Estado (1824-1834)
olabilidade, sagração e irresponsabilidade
A existência de um Conselho Privado já do monarca, sem especificar sobre quem re-
constava do anteprojeto Antônio Carlos, ela- cairia a responsabilidade pelos atos ema-
borado na Assembléia Constituinte de 1823. nados desse poder, o artigo 142 dizia que
Segundo esse projeto, os conselheiros seri- “ os conselheiros serão ouvidos em todos os
am nomeados e demissíveis ad nutum pelo negócios graves e medidas gerais da públi-
Imperador. Não poderiam integrá-lo os me- ca administração (...), assim como em todas
nores de 40 anos, os estrangeiros, ainda que as ocasiões em que o Imperador se propo-
naturalizados, e os nascidos em Portugal nha exercer qualquer das atribuições pró-
com menos de doze anos de domicílio no prias do poder moderador” 2 . O fato de a
Brasil e que não fossem casados com brasi- Constituição obrigar o Imperador a ouvir o
leira. Os conselheiros deveriam ser ouvidos Conselho de Estado em quase todos os ca-
“ nos negócios graves, particularmente so- sos de exercício do Poder Moderador levou
bre a declaração de guerra, ou paz, tratados quase toda a opinião conservadora a consi-
e adiamento de assembléia” (art. 184), e eram derar aquele órgão como responsável pela
responsáveis pelos conselhos que dessem “ coberta da Coroa” – e não os ministros, que
“ opostos à lei e manifestamente dolosos” só co bririam a Co ro a no s ato s do Po der
(art. 186). Quanto à responsabilidade pelos Executivo. Mas essa interpretação também
atos praticados pelo Imperador, esta cabia não era isenta d a crítica: embo ra a co n-
inegavelmente aos ministros, da qual decor- sulta ao Conselho fosse obrigatória, o Im-
ria a norma do artigo 173 do projeto: “ Os perad o r não estava vinculad o à o pinião
ministros referendarão os atos do poder exe- da maio ria – o u seja, po deria agir legal-
cutivo, sem o que não são aqueles obrigató- mente sem “ coberta” .
rios” . Dessa feita, a responsabilidade, tanto Para complicar ainda mais, o artigo 138
dos ministros como dos conselheiros, esta- fixara o número de conselheiros em dez,
va bem clara: os primeiros respondiam por acrescentando o artigo 139 que “ não estão
si e pelos atos do Imperador, coibindo uma compreendidos neste número os ministros

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de Estado, nem estes serão reputados con- seguinte foi a apologia do sistema parla-
selheiros de Estado sem nomeação do Im- mentar – único meio que os liberais viam de
perador para tal fim” . Isso significava uma ganhar força na composição de ministérios.
vedação expressa quanto à possibilidade de Embora em seus íntimos não tivessem amor
se confundirem os ministros do gabinete com à Constituição, sobretudo em virtude de sua
os conselheiros de Estado, isto é, ficara con- origem outorgada, os deputados da oposi-
sagrada a idéia de que o ministério e o Con- ção agarravam-se a ela porque, por outro
selho eram órgãos apartados e que nem lado, a carta continha importantes mecanis-
mesmo um ulterior desenvolvimento do par- mos de responsabilização do ministério e
lamentarismo, pela via do direito costumei- para freiar os impulsos do Imperador, de
ro, possibilitaria ao gabinete, responsável quem temiam a dissolução legal da Câma-
politicamente perante as Câmaras, esvazi- ra, direito esse incluído entre as atribuições
ar o poder do Conselho de Estado (LIRA, do poder moderador. Uma vez fixado o re-
1979, p. 78). Os ministros poderiam partici- gime parlamentar, pensavam os mais radi-
par de algumas reuniões, mas sem ser con- cais, os próximos passos seriam a extinção
selheiros, quando, ao contrário, os próprios do conselho de Estado e do próprio poder
conselheiros poderiam se tornar ministros, moderador3. Parte de seus anseios se con-
aumentando o poder daquele órgão cole- cretizaram em 7 de abril de 1831, quando,
giado que estava fora do controle político tendo conseguido reunir povo e força arma-
do Parlamento. A vitaliciedade dos con- da no Campo de Santana para compelir o
selheiro s apenas agravava esse estado de Imperador a restaurar um gabinete que aca-
co isas. bara de demitir, a sublevação acabou por
O impacto político desse estado de coi- fazê-lo decidir-se pela abdicação e pelo re-
sas durante o Primeiro Reinado e a Regên- torno à Europa. Iniciada a Regência com os
cia foi imenso. Quando a Câmara dos De- liberais no poder, continuou o Conselho de
putados, com uma maioria crescente de li- Estado a existir por mais três anos, vegetati-
berais, recomeçou a funcionar em 1826, sob vamente, apenas na forma – já que sua con-
o ressentimento da dissolução da Constitu- sulta era obrigatória –, até que o Ato Adicio-
inte, consolidou-se uma ojeriza contra o nal conseguiu extingui-lo.
papel do Conselho de Estado. O raciocínio Como se percebe, o funcionamento do
dos deputados liberais era mais ou menos o Conselho, em termos de eficiência instituci-
seguinte: o temível poder de nomear senadores, onal, foi sofrível no Primeiro Reinado. A
afastar juízes, dissolver a câmara baixa, nomear unanimidade desse veredito pode ser cons-
ministérios encontrava-se acumulado nas mes- tatada por meio da leitura da opinião de um
mas mãos do chefe do poder executivo(!), e este autor bastante insuspeito por seu conserva-
não era outro, senão o príncipe estrangeiro(!) de dorismo e por ter sido, ele mesmo, conse-
27 anos de idade(!) que dera um golpe de Estado lheiro de Estado no Segundo Reinado – o
no Parlamento, três anos antes(!). E quem po- Visconde de Uruguai (1960, p. 152):
deria exercer influência “ benéfica” junto a “ Este conselho de Estado tinha
ele? Ninguém, pois os integrantes do órgão senões consideráveis. Era ao mesmo
incumbido dessa tarefa seriam, segundo os tempo político e administrativo, mas
liberais radicais, notórios absolutistas e ba- p rep o nd erav a nele a co r p o lítica.
juladores... Como corpo administrativo era man-
Lid erad o s p o r Ev aristo d a V eig a e co (...). Esse Conselho de Estado nun-
Bernardo Pereira de Vasconcelos, a primei- ca foi desenvolvido por uma lei regu-
ra resposta dos parlamentares foi uma cam- lamentar, nem por meio de regulamen-
panha em prol de uma lei de responsabili- tos, na parte administrativa. Nunca
dade dos conselheiros de Estado. O passo funcionou como tribunal administra-

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tivo. Nem havia para ele recursos mar- todos os negócios graves, e principalmente
cados (...). Compunha-se do limitado nos que são relativos ao exercício do Poder
número de 10 membros vitalícios. As Moderador” (JAVARI, 1993, p. 217). O pro-
circunstâncias do país, as conveniên- jeto de lei que restabelecia o Conselho susci-
cias da política, o espírito público, tou uma série de discussões que demons-
podiam mudar, e não mudarem os tram a divisão ideológica entre liberais e
Conselheiros. Podiam emperrar certas conservadores. Embora os primeiros temes-
idéias que não conviessem mais. Po- sem tratar-se de um estratagema dos segun-
diam tornar-se impopulares. Podia-se dos, para perpertuarem-se no poder, era pra-
errar em certas nomeações. Uma vez ticamente unânime a percepção de que era
feitas não havia remédio. Não tinha necessário um órgão imparcial de aconse-
essa instituição aquela flexibilidade lhamento junto ao Imperador, muito meni-
que é indispensável para que se pudes- no e inexperiente para representar, por si
se acomodar ao irresistível império das só, um poder central que encarnasse o inte-
circunstâncias e às mudanças, e novas resse público e nacional, capaz de agregar
exigências do espírito público” . os interesses privados que dilaceravam o
país. Por outro lado, os deputados reclama-
2. 3. O segundo conselho de
vam a necessidade de se criar tradições de
Estado (1841-1889)
continuidade administrativa num país cu-
Essa grande aspiração dos liberais radi- jos governos duravam pouco no poder. De-
cais, contudo, acabou malograda. As tenta- pois de muitos debates, que questionaram
tivas de golpe de Estado no início da Regên- a co nstitucio nalid ad e d o pro ced imento
cia, os distúrbios verificados em diversas ci- adotado, o Conselho de Estado foi restau-
dades do país, a começar pela própria Cor- rado pela Lei no 321 de 23 de novembro
te, e, por fim, as grandes revoltas do período d e 1841.
regencial – Sabinada, Balaiada, Cabanagem, “ Incumbe às seções ou ao conse-
Farrapos –, na vigência das medidas des- lho de estado de dar seu parecer ou
centralizadoras viabilizadas pelo Ato Adi- consultar sobre todos os negócios em
cional, acabaram por frustrar a muitos de- que o Imperador houvesse por bem
les, que chegaram a vislumbrar, em seme- ouvi-lo, e especialmente sobre os se-
lhante estado de coisas, a fragmentação do guintes: 1) sobre os assuntos ou oca-
país. Autoritária e antiparlamentar, a Re- siões em que o imperador se propuser
gência de Feijó acirrara os ânimos dos con- a exercer quaisquer das atribuições do
servadores e dos moderados, que pensavam poder moderador, indicadas no art.
que as reformas haviam ido longe demais e 101 da Constituição; 2) sobre decre-
que a “ república presidencial” produzida tos, regulamentos e instruções para a
pelo Ato Adicional liqüidaria rapidamente boa execução das leis, e sobre propos-
o país. É o tempo do Regresso. O país é re- tas que o poder executivo tenha de
centralizado, a prática do regime parlamen- apresentar à assembléia geral; 3) so-
tar se consolida e o princípio monárquico bre a declaração de guerra, ajustes de
volta à voga. paz, e negociações com as nações es-
Consagrado maior aos 14 anos de ida- trangeiras; 4) sobre quaisquer matéri-
de, investido dos poderes que a Constitui- as da administração interior; 5) sobre
ção lhe conferia, dirá Pedro II na abertura assuntos de natureza quase contenci-
da sessão legislativa de 1841 que, em razão osa, como questões de presas, de in-
de sua pouca idade, cabia-lhe “ chamar a denizações, conflitos entre as autori-
vossa atenção sobre a necessidade de um dades administrativas, e entre estas e
Conselho de Estado, que eu possa ouvir em as judiciárias, e abusos das autorida-

52 Revista de Informação Legislativa


des eclesiásticas; 6) sobre negócios de monstra que a indicação pelo Imperador,
justiça administrativa contenciosa” longe de arbitrária, era realizada criteriosa-
(SÃO VICENTE, 1978, p. 289). mente, correspondendo à mais alta digni-
Como se vê, a competência do novo Con- dade que um político do Império poderia
selho de Estado era bastante mais ampla do receber e coroando, por assim dizer, sua car-
que a do Primeiro Reinado. Podemos divi- reira política. Eram homens que, em razão
dir suas novas atribuições, grosso modo, em de sua experiência e seu passado político
atribuições políticas e administrativas. En- relevante, poderiam, uma vez investidos de
tre as primeiras, os conselheiros deveriam vitaliciedade e irresponsabilidade política,
opinar sempre que o Imperador se propu- trabalhar quase que acima do bem e do mal,
sesse a ouvi-los com vistas ao exercício do devendo, ainda mais do que no Senado,
Poder Moderador, bem como quando o Po- opinar com a maior liberdade possível acer-
der Executivo estivesse na iminência de to- ca dos assuntos políticos 6.
mar uma decisão legalmente considerada O Poder Moderador e o Conselho de Es-
grave. Entre as segundas, os conselheiros tado pairavam, assim, por cima de todo o
deveriam auxiliar o Poder Executivo com sistema representativo parlamentar, verda-
pareceres, sugestões, servindo ainda de tri- deira ficção sustentada por fraudes eleito-
bunal administrativo. Embora sua consulta rais, sendo quem, no fundo, realmente fixa-
não fosse mais obrigatória, a doutrina en- v a as estratég ias d a p o lítica nacio nal,
tendia que “ a sabedoria da Coroa jamais constituindo uma elite dentro da elite. A
deixará de ouvir o Conselho de Estado des- teoria da autonomia do Estado enuncia que
de que a magnitude do negócio assim de- “ o Estado é autônomo quando os governan-
mandasse” (SÃO VICENTE, 1978, p. 290)4. tes têm a cap acid ad e institucio nal d e
Diz-se muito que o Conselho de Estado escolher seus próprios objetivos e de reali-
foi “ a cabeça do governo imperial” , o “ cére- zá-los diante de interesses conflitantes”
bro da monarquia” . Diversos fatores cola- (PRZEWORSKY, 1995, p. 46). O Estado se-
boraram para essa impressão, que é verda- ria autônomo, por assim dizer, quando esti-
deira. O que principalmente nos dá a im- vesse descolado de suas bases representati-
pressão de continuidade da obra do Impé- vas, dirigindo a sociedade, explicitamente
rio, a despeito da instabilidade de ministé- ou não.
rios, é que estes tinham em regra duração O que caracteriza o Império, todavia, é
brevíssima, dependendo de inconstantes que havia, no panorama político, não ape-
maiorias parlamentares, compostas ao sa- nas o descolamento do Estado perante a so-
bor dos interesses oligárquicos, ao passo que ciedade monocultora, escravista e excluden-
o Conselho era vitalício, trabalhando livre te, provocada mais diretamente pelas elei-
de quaisquer dependências e elaborando ções fraudadas. Havia um descolamento,
políticas de longo prazo5. Além disso, pare- dentro do próprio Estado, entre aquela par-
ce um paradoxo que esse Conselho, que não te sua que era produto, direto ou indireto,
estava sujeito a nenhuma espécie de contro- do princípio democrático, consubstanciado
le político e cuja composição se dava por no sistema parlamentar representativo – que
indicação exclusiva do Imperador, longe de só era representativo enquanto ficção –, e
ser uma reunião de áulicos, reunisse, como aquela outra parte mais antiga do Estado,
reunia, a nata da política brasileira. Mais identificada no exercício do Poder Modera-
d e setenta po r cento d o s estad istas que dor e do Conselho de Estado, que era o lado
tiveram assento no Conselho de Estado, mais visível da própria instituição monár-
d urante o século XIX, já hav iam sid o quica. Esse descolamento na estrutura in-
anteriormente deputados, ministros e sena- terna do Estado começou a ficar mais evi-
dores (CARVALHO, 1996, p. 328). Isso de- dente no início da década de 1870, quando

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o empenho da Coroa e do Conselho de Esta- de, antidemocrático, na medida em que, eli-
do em fazer passar a Lei do Ventre Livre, minando esse duplo descolamento, as oli-
considerada por eles estratégica para a fu- garquias poderiam tomar de assalto a cú-
tura manutenção da ordem, demonstrou o pula do Estado, coisa que até então não ha-
quão separados ambos começavam a se tor- viam conseguido fazer? Daí por que Joaquim
nar em relação à sua base de sustentação: o Nabuco, acreditando que a monarquia con-
Parlamento escravocrata 7. Daí não proceder tinha instituições apartadas dos interesses
em absoluto a afirmação muito corrente, e oligárquicos, capazes, portanto, de impor as
repetida por Maurice Assuf (1960, p. 59), de reformas de que o país precisaria, opôs-se à
que teria sido o Poder Moderador o princi- república, que, acreditava, seria o governo
pal obstáculo ao desenvolvimento do siste- do escravismo latifundiário ressentido8 .
ma parlamentar no Brasil. O verdadeiro obs- Extinguir o Conselho de Estado e o Poder
táculo ao desenvolvimento do parlamenta- Moderador, ou fazendo este depender do
rismo, ao contrário, encontrava-se na falsi- ministério, teria sido possivelmente entre-
dade da representação nacional no Parla- gar o governo do país a uma só facção que
mento, levada a cabo pelos partidos nas elei- se estenderia indefinidamente no poder, em
ções, fato esse que nunca passou desperce- vez de permitir a alternância das facções
bido pelo Imperador, nem pelo Conselho de pelo rodízio, criando um ambiente de liber-
Estado e que, diante desses, retirava do sis- dade de expressão e possibilitando a esta-
tema parlamentar a legitimidade de que este bilização do poder. A intuição de Nabuco
carecia para impôr-se diante da Coroa: estava certa, já que o resultado do fim do
“ O sistema político do Brasil fun- duplo descolamento foi, efetivamente, o as-
da-se na opinião nacional, que, mui- salto à cúpula do aparelho do Estado pelos
tas vezes, não é manifestada pela opi- representantes das oligarquias regionais
nião que se apregoa como pública. durante a República Velha. Num contexto
Cumpre ao imperador estudar cons- como esse, seria difícil não enxergar, no
tantemente aquela para obedecer-lhe. Conselho de Estado, um órgão benfazejo à
Dificílimo estudo, com efeito, por cau- administração pública de então. Era ele de
sa do modo por que se fazem as elei- fato um órgão antidemocrático, mas a de-
ções (...). Se as eleições se fizessem mocracia proposta pelos liberais era ainda
como todos devemos desejar, talvez mais antidemocrática do que a existente
aconselhasse a escolha quase cons- então, consistindo apenas em praxes e for-
tante do mais votado na lista dos pro- malidades 9.
postos para senadores; porém, nas Seria por meio do imaginário herdado
circunstâncias atuais, cumpre escolher do Poder Moderador e do Conselho de Esta-
o honesto, o moderado, o que tenha mais do, e de parte da tradição imperial incorpo-
capacidade intelectual e serviços ao rada pela República, que chegariam a nós
Estado (...)” (PEDRO II, 1957, p. 27, 52). certas noções cuja força, sem uma análise
Essa situação de fato suscita, pois, uma histórica, seria impossível de compreender,
questão que está vinculada à verdadeira na- entre as quais poderíamos citar o fato de
tureza do suposto liberalismo democrático nossos presidentes da República, em regi-
brasileiro do século XIX, que pleiteava a ex- me francamente presidencialista, enuncia-
tinção do Conselho e do Poder Moderador, rem que o Chefe de Estado está acima dos
sob o argumento de não estarem controla- partidos; bem como a permanência de uma
dos diretamente pela opinião pública, úni- concepção elitista da política naqueles se-
ca condição de se instaurar a “ pureza” do tores do Estado de nível técnico e profissio-
sistema parlamentar. Até que ponto esse cla- nal mais elevado e de formação ideológica
mor não representaria um pleito, na verda- mais homogênea.

54 Revista de Informação Legislativa


3. A persistência da idéia de conselho um Estado forte e centralizador, criar con-
de Estado durante a República diçõ es para mo dernizar o país e varrer as
o ligarquias.
O Conselho de Estado foi abolido pela
3.1. Conselho de Estado
República na própria proclamação do mo-
“ liberal” (1910/1912/1920)
vimento armado que promoveu o golpe de
Estado de 15 de novembro. O efeito da fusão Propostas desse tipo de conselho foram
das duas estruturas do Estado brasileiro – efetuadas diversas vezes durante a Repú-
chefia de Estado e chefia de Governo –, num blica, so b no mes d iferentes: Co nselho
tempo em que não havia condições de as- Federal da República (1910), Conselho Con-
sentá-lo em bases verdadeiramente repre- sultivo Supremo da República (1912), Su-
sentativas, correspondeu, na prática, à en- premo Conselho da República (1920) ou
trega crescente de toda a autoridade do Es- Conselho de Estado (1951).
tado nas mãos do Presidente da República, A primeira proposta de restabelecimen-
escolhido, quase que invariavelmente, pe- to de um Conselho de Estado surge em 1910,
las oligarquias de São Paulo e Minas Ge- no bojo da cisão no condomínio oligárquico
rais, que se revezavam no poder10. A decep- provocada pela vitória de Hermes. Ela foi
ção com o regime republicano de 1891 atin- proposta por um deputado todo governista,
giu vários segmentos da classe política na excepcio nalmente na o po sição : A rno lfo
primeira década do século XX, sobretudo Azevedo (1968, p. 124). Seu projeto de lei,
com a crise política deflagrada com a cam- que pretendia criar um Conselho Federal da
panha do marechal Hermes da Fonseca à República, previa um órgão meramente con-
presidência da República e sua vitória so- sultivo, sobre assuntos políticos e adminis-
bre Rui Barbosa. O Conselho de Estado im- trativos, cujas decisões “ constituiriam as-
perial passou, então, a ser idealizado por sento de boas normas de administração” .
muitos como um modelo, porque reunia ca- Seriam membros natos o presidente, o vice e
racterísticas que encobriam ou ajudariam a os ex-presidentes da República; os presiden-
sanar o particularismo cada vez mais evi- tes do Senado, da Câmara, do Supremo Tri-
dente do Estado republicano: um órgão à bunal Federal e, o que chama a atenção, o
européia, que pensava “ o todo” , “ apolitica- presidente do Supremo Tribunal Militar.
mente” , constituído de “ estadistas” que for- Haveria, ainda, mais cinco membros efeti-
mavam uma “ casta brilhante” a tocar, por vos, vitalícios, que deveriam ser notabilida-
meio do Estado descolado da sociedade, a des escolhidas pelo próprio Conselho e pro-
administração pública, sem solução de con- postos ao Presidente, que por sua vez os
tinuidade11. submeteria à apreciação do Senado.
De 1910 a 1922, a imagem histórica do Se Azevedo pretendia, com esse Senado,
Império é reformulada, para melhor, pela marcar posição contrária a Hermes, é coisa
maior parte das elites oposicionistas, que a se discutir; fato é que, se isso for verdadei-
então consolidam dois projetos de Conse- ro, tratava-se de um tigre de papel, pois a
lho de Estado: os grupos mais próximos do consulta não seria obrigatória e não se justi-
poder defendem o projeto liberal e retorica- ficaria, num regime presidencial, que o pre-
mente democrático de um conselho consul- sidente da República tivesse melindres em
tivo, auxiliar do presidente; ao passo que os consultar conselhos para exercer os pode-
grupos mais radicais, que posteriormente se res discricionários que a Constituição lhe
identificarão com o tenentismo, propõem um conferia. O que chama a atenção, contudo, é
co nselho d e Estad o tecno crático co mo o fundamento pelo qual o futuro presidente
quarto po der, instituição central de um da Câmara e senador justifica seu projeto, o
projeto que buscava, pela intervenção de mesmo pelo qual se batiam, setenta anos

Brasília a. 42 n. 168 out./dez. 2005 55


antes, estad istas co mo A lv es Branco e nião da assembléia constituinte, em 1934,
Bernardo de Vasconcelos: o Conselho deve- quando o contexto político era muito diver-
ria representar um ponto de conservação de so e os tenentes, como veremos, tinham o
tradições administrativas, de continuidade, seu próprio projeto de conselho de Estado,
a fim de minimizar os males das trocas de misto de conselho imperial e poder modera-
governo. dor tecnocrático.
O deputado, em discurso pronunciado
3.2. Conselho de Estado como
em 1912, reclamava, pelo Conselho, “ a uni-
quarto poder (1914/1930)
dade e a tradição conservadora na vida po-
lítica e administrativa da União, pela cons- Esse tipo de Conselho de Estado se opu-
tante, capaz e experimentada colaboração nha ao conselho esvaziado, meramente con-
dos antecessores do presidente da Repúbli- sultivo dos liberais. Tratava-se de propor um
ca em exercício” , cujos atos seriam “ esclare- quarto poder constitucional, com o fito de
cidos pelas luzes da experiência e do co- coordenar a transição para um novo tipo de
nhecimento dos negócios públicos (…) mi- governo nacional, forte, centralizado, em que
nistradas com a isenção, o patriotismo e a vigesse o interesse público acima das diver-
elevação de vistas dos que não devem mais gências oligárquicas, que, segundo seus pro-
sofrer, no seu critério e integridade, os em- pugnadores, atrasavam o fortalecimento do
bates e influências da ambição e dos inte- país enquanto nação.
resses secundários” (A Z EVEDO FILHO, Uma das críticas mais elaboradas reali-
1968, p. 124). zadas em face do regime de 1891, tal qual
O projeto, ainda que emendado, recebeu estava alicerçado, foi formulada por Alberto
parecer favorável na Comissão de Justiça da Torres (1914, p. 268). Ele acreditava que a
Câmara, em relatório da lavra de Afrânio de estrutura do Estado brasileiro estava longe,
Mello Franco, no qual este, mostrando-se em qualquer aspecto, inclusive ideológico,
simpático à experiência institucional impe- de corresponder ao aparato político neces-
rial, rebatizou a instituição como Conselho sário para reduzir as disparidades econô-
Consultivo Supremo da República, negando micas e sociais existentes no Brasil. Era ne-
a incompatibilidade do instituto com o sis- cessário um governo, antes de mais nada,
tema republicano presidencial (FRANCO, forte, nacionalista, voltado para as questões
1955, p. 751). O projeto, porém, não foi adi- internas do país, com pulso o bastante para
ante. Em 1920, ele foi reapresentado por defender a sociedade dos grupos econômi-
Arnolfo Azevedo, sob o nome de Supremo cos, nacionais ou estrangeiros, nocivos aos
Conselho da República, que incorporou à interesses do povo. Crítico do parlamenta-
sua fundamentação as sugestões de Melo rismo, que qualificava de frouxo e ultrapas-
Franco. A novidade da proposta residia no sado, volvia já na década de dez suas bate-
fato de que apenas antigos presidentes e rias contra o liberalismo político formal da
vice-presidentes da República seriam con- República Velha, em que enxergava a conti-
siderados seus membros natos. O eco dessa nuação dos vícios do Império e a tara pela
proposta foi maior, já que a onda pela revi- importação de modelos estrangeiros. O país
são da Constituição crescia à medida que ainda não se havia formado enquanto na-
aumentavam as rachaduras no condomínio ção e isso só poderia ser realizado pelo Es-
oligárquico. Embora tenha sido sustentado tado mediante ações estratégicas executa-
por Pandiá Calógeras (1936), durante a re- das por um governo forte, embora democrá-
visão constitucional de 1925, tendo outros tico. Embaraçava-o que a Carta de 1891 fos-
deputados voltado à carga, em 1929, o pro- se inteiramente dissociada da realidade na-
jeto continuou engavetado. A matéria rea- cional e que nossa tradição jurídica bacha-
pareceu na imprensa às vésperas da reu- relesca mantivesse-a, bem como ao resto do

56 Revista de Informação Legislativa


ordenamento jurídico, envolta numa aura projeto de emenda à Constituição de 1891, a
de erudição positivista embolorada e alie- criação de um quarto poder – o Poder Coor-
nígena. denador. Ele coroaria...
“ A natureza política da constitui- “ estas disposições tendentes, todas, a
ção, lei nacional, deve prevalecer so- fortalecer a ação governamental, a li-
bre as concepções teóricas dos legis- gar solidariamente as instituições do
ladores, governantes e juízes; e sua país e a estabelecer a continuidade na
flexibilidade deve consistir (...) nas cor- prossecução dos ideais nacionais (...)
rentes e movimentos que representam com um órgão, cuja função será con-
o fluxo dos fenômenos naturais da vida catenar todos os aparelhos do siste-
social” (TORRES, A., 1914, p. 224). ma político, como mandatário de toda
A seu ver, o presidencialismo implemen- a nação – da Nação de hoje, da Nação
tado em 1891 sofria de três terríveis defei- de amanhã – perante seus delegados.
tos: primeiramente, a federação havia sido Não é uma criação arbitrária” , ressal-
malfeita, afrouxando em vez de favorecer a tava, “ é o complemento do regime de-
solidariedade econômica e social do país, a mocrático e federativo, sugerido pela
seu ver necessária à homogeidade nacional. observação da nossa vida e pela ex-
A federação deveria ser revista completa- periência das nossas instituições” .
mente, fortalecendo o governo central, pois Das palavras de Torres, inferem-se per-
um país constitucionalmente organizado, feitamente alguns pontos de ligação de seu
segundo ele, não poderia tolerar, em seu ter- projeto com o antigo Conselho de Estado de
ritório, regiões ou populações que não vi- 1841. O viés nitidamente estatista de sua
vessem à sombra da lei. Em segundo lugar, proposta coincidia com o existente no Im-
o governo federal era fraco para fazer o bem pério, e tanto aqui como ali entregava-se o
e forte para fazer o mal, querendo referir-se papel de traçar estratégias de longo prazo a
à maneira como promovia os estados de sí- um conselho de integrantes vitalícios que
tio e as intervenções nos Estados. Em tercei- representasse algo de duradouro no pano-
ro e último lugar, criticava a ineficiência da rama político-administrativo brasileiro. A
máquina burocrática central. O Estado Fe- diferença fundamental entre ambos será não
deral tinha um papel civilizador a cumprir, somente o cabalístico critério de seleção dos
especialmente quanto às populações interi- membros do Conselho Nacional, ponto no-
oranas, tanto no que tocava à cultura quan- dal do Poder Coordenador, mas ainda o ca-
to mesmo a noções de higiene. O intervenci- ráter também deliberativo, e não meramente
onismo estatal no campo da economia era consultivo, que este deteria. Era como se o
também indispensável para que essas me- autor tivesse resolvido conceder a um Con-
tas fossem cumpridas. selho de Estado as atribuições de um Poder
“ Para nossa civilização, o dever Moderador, além de muitas outras de natu-
elementar do Estado é formar o povo rezas completamente díspares, e dotado
(...) A democracia social, sucedendo à esse organismo de uma monstruosa buro-
democracia política, substitui-se o en- cracia que o permitisse exercer suas ativi-
cargo falaz de formar e apoiar o ‘cida- dades nos menores vilarejos do país.
dão’ (...) pelo encargo de formar e apoi- O Poder Coordenador teria como órgãos
ar o ‘homem’, o ‘indivíduo’, o socius o Conselho Nacional, na capital da Repú-
da nação contemporânea” (TORRES, blica; um Procurador da União em cada Es-
1914, p. 242). tado (província, na nova terminologia cons-
Mas para isso, seria necessário que o Es- titucional de Torres); um delegado federal
tado estivesse em toda parte. Para tanto, pro- em cada município, nomeado pelo Conse-
pôs Alberto Torres (1914, p. 275), num vasto lho Nacional; e um representante e um pre-

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posto da União, em cada distrito e quartei- posto da União nos quarteirões, teria por mis-
rão, respectivamente. O Conselho seria com- são propagar a saúde e a educação, ensinan-
posto de no máximo vinte integrantes vita- do rudimentos de ambos, velando sobre a pro-
lícios, a serem escolhidos pelo Presidente e priedade – enfim, esclarecer o povo ignaro.
Vice-Presidente da República, pelos própri- Por mais rocambolesco que fosse seme-
os membros do Conselho, por deputados e lhante projeto, misturando, num mesmo ór-
senadores, pelos ministros do Supremo Tri- gão, funções díspares como as de controle
bunal Federal e pelos diretores de um hipo- de constitucionalidade, eleitorais, adminis-
tético Instituto de Estudo dos Problemas trativas, trabalhistas, políticas e tributárias,
Nacionais, a quem deveriam os candidatos ele teve considerável influência quando os
a parlamentar dirigir obrigatoriamente suas p artid ário s d as id éias nacio nalistas d e
propostas de melhoria do país. Torres chegaram ao poder, em 1930. O inte-
Seriam atribuições do Conselho Nacio- lectual do dia era Oliveira Viana, discípulo
nal, em resumo: a) servir de tribunal eleito- de Torres em seu nacionalismo e teórico dos
ral, apurando a lisura das eleições, e verifi- tenentistas engajados no governo revoluci-
car os poderes dos candidatos, encerrando, onário, cujo chefe era Juarez Távora. Viana,
enfim, com dois dos principais complica- pouco antes da Revolução, havia publica-
dores do sistema representativo durante a do Problemas de Política Objetiva, em que ad-
República Velha; b) autorizar o presidente vogava, com modificações, a proposta de
a intervir nos Estados; c) servir de tribunal Torres pela necessidade de um órgão cole-
nos casos de conflitos entre os entes federa- giado, na cúpula da administração públi-
tivos; d) fazer um controle concentrado da ca, comprometido com a nação e que servis-
constitucionalidade, isto é, in abstracto ; e) se p ara criar uma id entid ad e p o lítico -
consolidar as novas leis a cada década; f) administrativa que viabilizasse uma obra
fiscalizar os projetos de leis e leis em trami- de reconstrução nacional:
tação no Congresso, verificando sua consti- “ Esse centro de coordenação, de
tucionalidade; g) fiscalizar a política tribu- estabilização, de fixação, precisa vir,
tária da União e dos Estados; h) velar pela precisa ser inventado, precisa ser des-
liberdade de comércio contra monopólios e coberto. Há quarenta anos seguros, a
privilégios prejudiciais ao povo; i) velar pela nossa vida política vem correndo des-
harmonia entre as legislações federal e esta- contínua, incoerente, instabilíssima,
dual; j) velar pelas riquezas naturais do país; variando a todo o momento, confor-
l) velar pelo bem-estar do povo; m) fazer as me variam as idéias dos chefes (…).
vezes de Ministério do Trabalho, inexisten- Essa instabilidade administrativa e
te à época; n) decretar o fim da autonomia política da vida da República (…) de-
dos Estados quando estes caíssem na anar- riva justamente da ausência de um
quia, passando o Conselho a geri-los pesso- centro permanente de orientação e
almente(!); o) garantir os direitos fundamen- equilíbrio na cúpula do regime. Em
tais dos cidadãos, formal e materialmente. suma, da inexistência de um poder
O papel dos Procuradores da União, por sua político vitalício entre os poderes tem-
vez, consistiria na fiscalização e verificação po rário s criado s pela Co nstituição
dos poderes dos políticos estaduais; na con- Republicana (…). O problema central
ciliação dos interesses da União com os Es- da obra revisionista há de ser pois (…)
tados e na resolução de conflitos de compe- criar um quarto poder, tal como o an-
tência. Quanto aos delegados nos municí- tigo Poder Moderador, que, sendo ju-
pios, também deveriam verificar poderes, diciário também, tenha, entretanto, o
resolver conflitos de competência e fiscali- direito de iniciativa, que o Judiciário
zar as finanças locais. No que toca ao pre- não tem” (VIANA, 1930, p. 26, 45).

58 Revista de Informação Legislativa


Viana, em 1933, bem como Melo Franco de detenção, nos casos de estado de sítio,
viriam a integrar a Comissão do Itamarati, decidir sobre recursos interpostos, propor
reunião de notáveis destinada a elaborar o projetos de lei ao Legislativo e convocá-lo
anteprojeto de constituição a ser oferecido extraordinariamente.
pelo governo de Vargas à Constituinte, para A crítica dos liberais judiciaristas ao pro-
servir de base aos trabalhos desta. O resul- jeto foi capitaneada por Levi Carneiro (1936,
tado foi que o projeto apresentado pelo go- p. 221), sucesso r, ao que parece, de Rui
verno refletiu a antiga demanda na propos- Barbosa na sua profissão de fé: “ o organis-
ta de um Conselho Supremo, previsto na mo planejado se apresenta como uma mons-
Seção V do Título I do projeto (arts. 67 e 68), truosidade. Não seria suportável num país
que seria “ órgão técnico consultivo e deli- como este em que, segundo o próprio Torres,
berativo, com funções políticas e adminis- o regime unitário seria um erro de política
trativas” , que “ manterá a continuidade ad- geográfica” . “ Esse pretenso sucedânio do
ministrativa nacional; auxiliará, com o seu Senado seria o órgão dominador de toda a
saber e experiência, os órgãos do governo e vida política e administrativa brasileira.
os poderes públicos, por meio de pareceres, Constituído, em sua maioria, por eleição das
mediante consulta; deliberará e resolverá so- Assembléias Legislativas dos Estados (...)” ,
bre os assuntos de sua competência, fixada com a duração de sete anos, “ isto é, quase
nesta Constituição” (DIAS, 1975, p. 447). A dois períodos presidenciais, distanciado das
missão desse conselho, como se vê, seria vibrações do sentimento popular” , crê Levi
bastante similar à do extinto Conselho de Carneiro (1936, p. 701) que o Conselho Su-
Estado da monarquia. Só que, em vez de premo “ tutelaria discricionariamente a ação
doze, haveria trinta e cinco conselheiros efe- do presidente da República. Entravaria to-
tivos, além dos políticos que houvessem pre- das as suas iniciativas” . “ Ciclópico e amea-
sidido a República por mais de três anos. A çador” , a esta assembléia, “ numerosa, de
forma de escolha dos conselheiros efetivos formação esdrúxula, de duração prolonga-
também era bastante complicada, revelan- díssima, ficaria, nos momentos mais graves,
do a tendência da época de representação nas manifestações mais delicadas, entregue
oriunda não só da classe política, como das toda a vida nacional” .
entidades representativas da sociedade, da Com o enfraquecimento da influência do
educação e do trabalho. Esse Conselho tra- Clube 3 de Outubro, os tenentes não conse-
balharia em pleno e em seções, devendo, no guiram a aprovação, nessa forma, do proje-
primeiro caso, ser presidido pelo Presiden- to do Conselho, tendo os liberais mistura-
te da República, tendo ainda nele assento do, numa fórmula conciliatória, as tradicio-
os grandes dos poderes políticos. As con- nais atribuições legislativas do Senado às
sultas de natureza política ou administrati- de fazer este as vezes de “ poder coordena-
va poderiam ser solicitadas tanto pelo Pre- dor” na Constituição, finalmente promul-
sidente da República como pelo Poder Le- gada em 16 de julho de 1934. A montanha
gislativo Federal (no projeto, unicameral), parira o rato: embora até a última hora esse
pelos Governadores, Assembléias Legisla- Senado reformulado se chamasse “ Conse-
tivas e Câmaras de Vereadores. Entre suas lho Federal” , não vemos por que estudá-lo
atribuições, destacavam-se as de autorizar aqui, dada a sua extensa composição típica
intervenção federal, opinar sobre a legisla- de câmara alta em regime bicameral federa-
ção administrativa oriunda do Executivo, tivo, ainda por cima com atividades legife-
aprovar nomeações de ministros de Estado rantes partilhadas com a câmara baixa. No
e do Prefeito do Distrito Federal, impedir a fim das contas, ele nem de longe se asseme-
bitributação, deliberar sobre a conveniência lhava a um Conselho de Estado, seja aquele
de liberar presos políticos depois de um mês imaginad o pela mino ria liberal, quanto

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mais o quarto poder sonhado pelos tenen- o Ministro da Justiça e seis outros membros
tes. Quanto ao eventual desempenho do Se- com mandato de três anos, a serem indica-
nado nesse papel heterodoxo que passou a dos pelo Chefe do Executivo e pelos presi-
desempenhar, no mínimo temerária qual- dentes da Câmara e do Senado. Suas atri-
quer tipo de avaliação, já que durou pouco buições não são moderadoras, mas consul-
mais d e três muito turbulento s ano s. O tivas acerca da decretação de medidas pró-
Frankenstein foi afinal liqüidado pelo gol- prias de estado de exceção, opinando em
pe de 10 de novembro de 1937, que implan- caso de intervenção federal, estado de defe-
tou a ditadura. sa e estado de sítio, além de acerca de “ ques-
tões relevantes para a estabilidade das ins-
3.3. Os Conselhos da República
tituições democráticas” . Quanto ao Conse-
e de Defesa Nacional (1988)
lho de Defesa Nacional, é também consulti-
Em 1951, A lio mar Baleeiro pro pô s o vo acerca de assuntos “ relacionados com a
Conselho de Estado à Câmara da Repúbli- soberania nacional e a defesa do Estado
ca de 46, em projeto subscrito por muitos democrático” (art. 91, caput), dele fazendo
outros deputados, entre os quais A fonso parte o Vice-Presidente da República, os
Arinos de Melo Franco, filho de Afrânio. A presidentes da Câmara e do Senado, o Mi-
proposta novamente não foi acolhida, o que nistro da Justiça, os ministros militares, das
parece demonstrar a inviabilidade de se pre- Relações Exteriores e do Planejamento. Esse
tender instituir, em regimes presidencialis- Conselho, segundo a Constituição, deve
tas, órgãos consultivos e deliberativos cuja opinar sobre declaração de guerra e de paz,
existência não dependa diretamente da von- sobre decretação de estado de sítio, inter-
tade do Presidente da República. A lógica venção federal e estado de defesa; propor
do regime presidencial engloba as caracte- critérios e condições de utilização de áreas
rísticas de regime forte, visto que se espera indispensáveis à segurança do território
do Chefe de Governo que, ungido pelo su- nacional e opinar sobre seu efetivo uso, es-
frágio universal, enfeixe em suas mãos po- pecialmente a faixa da fronteira e nas rela-
der bastante para implementar seu plano cionadas com a preservação dos recursos
de governo por quatro anos. Daí parte da naturais de qualquer tipo, além de estudar,
dificuldade, como se depreende das pala- propor e acompanhar o desenvolvimento de
vras de Levi Carneiro, de um conselho que, iniciativas necessárias a garantir a indepen-
junto ao chefe do Executivo, pretenda ser o dência nacional e a defesa do Estado demo-
depositório das tradições e da continuida- crático. Como se vê, não se compreende a
de administrativa do país. O fato de a Cons- razão de dois conselhos, ao invés de ape-
tituição de 1988, por influência, provavel- nas um, já que praticamente todas atribui-
mente, do direito constitucional português, ções de ambos dizem respeito genericamen-
abrigar dois conselhos assemelhados ao de te ao mesmo tipo de questões, isto é, que en-
Estado – o da República e o de Defesa Naci- volvam segurança nacional e se refiram ao
onal –, ao invés de contradizer esse arrazo- Estado democrático.
ado, parece antes corroborá-lo, dada sua ino- De qualquer sorte, se o Conselho de De-
cuidade, mais de dezessete anos após a en- fesa Nacional não é de todo inútil, o Conse-
trada em vigência da nova Carta. lho da República não tem razão de ser e sua
O Conselho da República, da forma como existência na Carta parece se dever unica-
se acham enunciados os artigos 89 e 90, é mente ao fato de que a mesma foi projetada
órgão meramente consultivo do Presidente para ser parlamentarista, quando, por in-
da República. Integram-no o Vice-Presiden- junções políticas, acabamos permanecendo
te, os Presidentes e os líderes da maioria e no regime presidencial. O deslocamento de
da minoria das duas Câmaras Legislativas, ambos os institutos do plano prático da vida

60 Revista de Informação Legislativa


política se torna mais claro quando se per- cesa de 1958 ou a portuguesa de 1974. Num
cebe que, dezessete anos depois, nenhum contexto como esse, torna-se plenamente
dos dois Conselhos jamais se reuniu, sendo viável um órgão como o Conselho de Esta-
as cerimônias de posse dos conselheiros do, que auxilie o Presidente da República,
somente rituais de consagração, pelo Esta- enquanto chefe do Estado (e não do gover-
do, de personalidades eminentes da socie- no), a tomar as providências cabíveis para a
dade civil, como o falecido Evandro Lins e defesa permanente das instituições demo-
Silva, figura egrégia, mas provecta, nomea- cráticas; que reúna não somente os políti-
do aos noventa anos de idade12. cos em evidência no momento, mas mem-
bros representativos de entidades da socie-
Conclusão dade civil. Uma adequada divisão do poder
entre chefe de Estado e chefe de Governo
A despeito de sua origem antidemocrá- nos ajudaria a distinguir aqueles que fos-
tica, a idéia do Conselho de Estado indubi- sem os interesses imediatos e os interesses
tavelmente oferece hoje atrativos. Como tra- permanentes do país. E, nessa hipótese, sem
dição, tem bases inegáveis em nosso passa- dúvida, o resgate da idéia, alicerçada na tra-
do, não só histórico como ideológico. A sua dição, de um Conselho de Estado auxilia-
não adoção pela República pode ser expli- dor do Chefe de Estado, no exercício de uma
cada, por outro lado, pelo postulado de que função moderadora, poderia ser de grande
todo o poder deve caber ao presidente da utilidade.
República. No entanto, o presidencialismo
brasileiro, em tempos de democracia dura-
doura, parece caminhar para uma espécie Notas
de regime no qual o Presidente da Repúbli-
ca deve necessariamente partilhar parte de
1
Outra razão que chocava os constituintes era
a de que o decreto que instituíra o Conselho não
seu poder com o Parlamento, como se tem fizera previsão de pagamento de vencimentos aos
percebido pelo consociativismo que marcou conselheiros, o que, para A ntônio Carlos (apud
a presidência Fernando Henrique Cardoso ASSUF, 1960, p. 65), “ é sempre gravoso, mormen-
e que tenta ser repetido por Luís Inácio Lula te neste país, onde abandonar cada um a sua casa,
da Silva. Se isso não ocorreu anteriormente, é condená-la à ruína infalível” .
2
A única exceção era a demissão e nomeação
devemos creditar tal fato à escassíssima de ministros, que, em razão da doutrina de Cons-
chance que tivemos de um governo demo- tant consagrada pela Carta de 1824, deixara de
crático estável. Hoje, em que as aventuras pertencer ao elenco de atribuições do poder execu-
golpistas parecem não encontrar campo fér- tivo.
til para ação, a consolidação do regime de-
3
Assim, o conselho de Estado, “ … mal-com-
posto e mal visto, fora, desde o alvorecer até o cre-
mocrático nos leva a crer que enfim nossas púsculo do reinado de D. Pedro I, uma corporação
instituições políticas encontram condições oligárquica, rival dos gabinetes ministeriais, a cons-
de se desenvolver e de dispensar a crença pirar contra eles, quando não se amoldavam às
de que apenas um “ homem forte” logrará suas conveniências políticas e interesses partidári-
nos conduzir ao caminho do desenvolvi- os. Em contato imediato com o monarca – que do-
minava pela lisonja e pela aparente submissão aos
mento. seus caprichos – se constituiria um obstáculo insu-
Por outro lado, a persistência histórica perável às conquistas da opinião livre” (LIRA, 1979,
da idéia de conselho político e de adoção do p. 124).
sistema parlamentar indica não ser de todo 4
Com efeito, “ embora não fosse legalmente obri-
improvável a adoção, a médio prazo, depois gatória a consulta ao Conselho Pleno, D. Pedro II
raramente deixava de fazê-la nos casos em que a lei
de reformas políticas que disciplinem o sis- recomendava e, de modo geral, seguia em suas de-
tema partidário, de um regime misto em nos- cisões a opinião da maioria. (...) Todas as doze
so país, de que é exemplo a Constituição fran- dissoluções da Câmara havidas durante o Segun-

Brasília a. 42 n. 168 out./dez. 2005 61


do Reinado após o funcionamento do Conselho fo- legitimidade que conquistara. É que as principais
ram nele discutidas. Em dois casos houve empate reformas que promovera atendiam a interesses
na votação. Dos dez restantes, o imperador seguiu majoritários da população que não podia repre-
o voto da maioria em sete e divergiu em apenas sentar-se politicamente. (...) Como (...) a cidadania
três. Destes, em apenas dois a maioria tinha sido era reduzida (...), a representação política se fazia
ampla (...). Não seria difícil apontar outros exem- no vazio, sem alterar a composição do poder polí-
plos de problemas em que a opinião dos conselhei- tico. A reestruturação do poder sob a República
ros servia de guia para a ação. A seriedade com deu-se num sentido puramente liberal: representa-
que o Imperador a ouvia ficava patente no fato de vam-se os que tinham poder real para representar-
que ele próprio fazia um resumo escrito do que se, tornando o poder mais legítimo mas ao mesmo
cada um dizia” (CA RVA LHO, 1996, p. 330). tempo mais oligárquico” (CA RVA LHO, 1996, p.
5
Daí por que Oliveira Torres (1957, p. 157) dirá, 297).
ainda que confundindo, em parte, percepção com 10
Como afirma Hambloch (1981, p. 31), “ o nas-
realidade, que, “ se o segundo reinado surge diante cimento precipitado da república brasileira, resul-
de nós como uma unidade política assinalada por tante do golpe de estado militar de 1889, perverteu
uma coerência e uma segurança de vistas sempre à e eventualmente enfraqueceu o crescimento do go-
altura dos acontecimentos, a razão disso estará, verno representativo, o qual, quanto mais tinha as
principalmente, na atuação (…) do Conselho de suas virtudes glorificadas nas teorias republicanas,
Estado” . tanto mais decaía nas práticas republicanas” .
6
Eram os maiorais de dez, a que se refere Oliveira 11
Sérgio Buarque (1956, p. 258) aborda o tema
Viana (1974, p. 335), entusiástico: “ Estes homens nesse mesmo sentido: “ O trágico da situação está
excepcionais – verdadeiras vocações de homens justamente em que o quadro formado pela monar-
públicos – não deviam nada ao seu povo, à sua quia ainda guarda seu prestígio, tendo perdido a
cultura política, cujo privatismo não lhes podia razão de ser (...) O Estado brasileiro preserva como
fornecer nenhuma contribuição útil, nem explicar a relíquias respeitáveis algumas das formas exterio-
superioridade de sua natureza (...) Esses homens res do sistema tradicional, depois de desaparecida
surgiram primeiro – por força da sua própria per- a base que as assentava. (…) O Estado, entre nós,
sonalidade original, tanto que conseguiram liber- não precisa e não deve ser despótico (...), mas pre-
tar-se da pressão abastardante do meio social, em cisa de pujança e compostura, de grandeza e solici-
que nasceram e viviam; segundo – pelo fato do tude; ao mesmo tempo, se quiser adquirir alguma
carisma imperial, da altitude da consciência cívica força e também essa respeitabilidade (...) Mas é
do seu aplicador, dos meios de seleção que lhes indispensável que as peças de seu mecanismo fun-
permitiram realizar a fixação deles, de modo vita- cionem com certa harmonia e garbo. O Império bra-
lício, ao serviço do país” . sileiro realizou isso em grande parte. A auréola que
7
Como nota Salles (1996, p. 141), “ a história ainda hoje o cinge, apesar de tudo (...), resulta qua-
política do Segundo Reinado é a história da cres- se exclusivamente do fato de ter encarnado um
cente preponderância dos valores públicos sobre os pouco esse ideal” .
privados até o descolamento entre os dois (na abo- 12
A título de curiosidade, merece ser feita men-
lição) e a conseqüente perda de sustentação social ção a uma proposta monarquista de Conselho de
do Estado imperial (na proclamação da Repúbli- Estado. Esta foi elaborada pelo Movimento Parla-
ca)” . mentarista Monárquico, capitaneado pelo Deputa-
8
Daí por que Nabuco (apud OURO PRETO, do Cunha Bueno, durante a campanha do plebisci-
1978, p. 441) diz não crer numa República popu- to de 1993. O Conselho estava previsto no projeto
lar: “ Ao orador sobra a consciência de que está com constitucional, em seus artigo 41, 42 e 43. Órgão de
o povo defendendo a monarquia porque não há na consulta do Imperador, esse conselho de 15 mem-
república lugar para os analfabetos, para os pe- bros reunir-se-ia por determinação daquele ou da
quenos, para os pobres. Neste sentido, o Partido maioria de seus membros, que seriam o Presidente
Republicano é tanto um partido de classe como os do Conselho de Ministros, os Presidentes e os Líde-
dois partidos monárquicos” . res da Maioria e da Minoria das duas Casas Legis-
9
E se a Coroa acabou por ceder diante de um lativas, sete representantes de instituições interme-
golpe militar, em 1889, ela “ fracassou, então, não diárias, representativas da sociedade civil, e o prín-
pela ineficácia, mas, pelo contrário, por ter promo- cipe herdeiro do trono, este sem direito a voto. De-
vido ou facilitado ação contrária a grupos domi- veria ser ouvido nos casos de dissolução da Câma-
nantes, sem ao mesmo tempo construir uma base ra d o s Deputad o s, d ecretação d e intervenção
de poder que substituísse ou equilibrasse a dos federal, estado de defesa e estado de sítio, questões
donos de terra. (...) Ao invés, então, de ver-se legiti- relevantes para a estabilidade das instituições de-
mado pela atuação reformista, pela eficácia em mocráticas, declaração de guerra ou celebração de
solucionar problemas, o sistema imperial perdeu a paz e negociações com Estados estrangeiros. Esta

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proposta soçobrou juntamente com o movimento acompanhadas dos respectivos votos de graça da
monárquico, tendo ficado quase que absolutamen- câmara temporária e de diferentes informações e
te desconhecida. esclarecimentos sobre todas as sessões extraordi-
nárias, adiamentos, dissoluções, sessões secretas e
fusões com um quadro das épocas e motivos que
deram lugar à reunião das duas câmaras e compe-
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