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Escassez de álcool gel e as estratégias

da Rede SENAI para atendimento


Emergencial

Elaborado por Fernanda Cardoso e


Mariana Doria.

Rio de Janeiro, 1 de abril de 2020


Escassez de álcool gel e as estratégias da
Rede SENAI para atendimento Emergencial

INTRODUÇÃO

Em face ao atual cenário de alastramento da COVID-19, a demanda por álcool em gel


70% aumentou de forma significativa no país, porém o abastecimento é menor
devido à escassez de espessante no mercado. Neste caso, o espessante ou polímero
de acrílico (poliacrilato) Carbopol (ou carbomer), que recentemente ganhou a atenção
e alerta da ABIHPEC1 em relação à sua falta no mercado mundial.
Tendo em vista este cenário e motivada pela emergência de saúde pública
internacional provocada pelo novo coronavírus, a Anvisa2 tem tomado medidas de
estímulo à produção de álcool gel e produtos antissépticos. Em medida temporária e
extraordinária, isentou estes produtos de registro, notificação e licenciamento
sanitários, especialmente do álcool em gel3. Adicionalmente, suas resoluções
recentes permitem que farmácias de manipulação fabriquem o produto de forma
direta ao público e autorizou, em 25 de março, mais dez géis antissépticos4.
Recentemente, pesquisadores da USP traduziram e adaptaram um documento da
OMS5 que traz instruções de como obter o produto antisséptico isento de
espessantes6. Com base neste mesmo documento e no Formulário Nacional da
Farmacopeia Brasileira7, a Anvisa disponibilizou em seu portal um material com
orientações gerais para a produção de formulações antissépticas alcoólicas isentas
destes materiais. Entre as informações disponíveis estão os itens necessários para a
produção dos antissépticos em pequena escala, o método de preparação e a
quantidade de produtos que são usados nesse processo. Há também um passo a
passo, além de orientações sobre rotulagem e regulação sanitária.

FORMULAÇÃO USUAL

De acordo com a Farmacopeia Brasileira, o álcool gel é produzido a partir do álcool


etílico (96 ºGL), polímero espessante Carbopol, solução de trietanolamina para
correção do pH e água purificada para diluição, como descrito na metodologia
abaixo.
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Materiais e métodos

▪ 75,7 mL de álcool etílico 96 ºGL


▪ 0,5 g de Carbopol
▪ Qs (quantidade suciente para) de solução de trietanolamina a 50% (p/v)
▪ Qs de água puricada qsp

Orienta-se misturar o álcool etílico a um volume pequeno de água e dispersar a


massa de Carbopol sob agitação. Completar o volume de 100ml com água puricada e
ajustar o pH utilizando a solução de trietanolamina.

FORMULAÇÕES ALTERNATIVAS

Dentre os espessantes potenciais de utilização em substituição ao Carbopol listados


na literatura, encontram-se os classificados como orgânicos e inorgânicos. Dentre os
espessantes orgânicos, se encontram os a base de celulose e seus derivados, gomas
naturais, acrilatos, amidos, estearatos, bem como álcoois graxos. Dentre os
inorgânicos, estão inclusos argilas e sais8.
Já a OMS9 propõe a produção e uso de álcool etílico glicerinado 80% e o álcool
isopropílico glicerinado 75% como formulações de gel antisséptico para mãos. Estes
produtos também são abordados pela Farmacopeia Brasileira, porém como soluções,
e não géis. As matérias-primas utilizadas são um álcool [etanol (96%) ou álcool
isopropílico (99,8%)], água destilada ou fervida, peróxido de hidrogênio (3%) e
glicerol (98%). Adicionalmente, pode-se acrescentar à formulação corantes e/ou
outros aditivos não tóxicos.
O peróxido de hidrogênio atua inativando esporos bacterianos contaminantes na
solução, não sendo uma substância ativa para antissepsia da mão. Já o glicerol é
empregado como emoliente seguro para uso tópico e relativamente barato,
contribuindo também para o aumento da viscosidade da solução. Porém, este pode
ser substituído por outro umectante, desde que seja barato, amplamente disponível,
miscível em água e álcool e que não aumente a toxicidade ou promovam alergia.
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Além destas formulações, a Anvisa destacou outras formulações listadas na


Farmacopeia Brasileira que constam na relação de excepcionalidades dispostas nas
RDC 347/2020 e RDC 350/2020, como álcool etílico 70% (p/p), álcool etílico 77% (v/v),
água oxigenada 10 volumes e digliconato de clorexidina 0,5.
Indo nesta linha, a UEPG10 e a Fundação Municipal de Saúde assinaram termo de
cooperação para produção de álcool 70% glicerinado. De acordo com o coordenador
do Laboratório de Produção de Medicamentos (Lapmed) da UEPG, Sinvaldo Baglie,
apesar do álcool gel 70% apresentar um tempo residual na pele devido ao uso de
espessantes, o álcool 70% glicerinado também é eficaz na ação antisséptica sobre
bactérias e vírus como o COVID-1911. Diversas universidades e unidades do SENAI
estão produzindo álcool gel e álcool glicerinado para doações, porém no primeiro
caso, empregam espessantes comerciais que se encontram em falta no mercado,
como o Carbopol12.

INICIATIVA DA REDE DE INSTITUTOS SENAI DE INOVAÇÃO

O SENAI estruturou uma rede de apoio a produção de álcool em gel no país


dedicada, sobretudo, à identificação de substitutos ao carbômero.
A rede é coordenada pelo Instituto SENAI de Inovação (ISI) em Biomassa (MS) com
apoio do ISI Biossintéticos e Fibras (RJ) e ISI Engenharia de Polímeros (RS), em
parceria com outras unidades do SENAI, universidades e empresas.
Os Institutos estão concentrados no desenvolvimento e validação de formulações
alternativas para o álcool gel 70% com o objetivo de disponibilizar o maior número
de formulações possíveis para potenciais produtores em todo país.
Além disso, a rede irá apoiar os fabricantes comerciais e não comerciais na estratégia
de escalonamento, prospecção e contato com fornecedores de matéria prima e
interface com Anvisa.
Para mais informações sobre esta iniciativa entre em contato conosco.

ISI Biomassa ISI Biossintéticos e Fibras ISI Engenharia de Polímeros


Leandro da Conceição João Bruno Valentim Bastos Luciana Rocha
leandro.conceicao@ms.se.senai.br jbbastos@cetiqt.senai.br luciana.santos@senairs.org.br
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos.


2. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
3. ANVISA, 2020a. Orientações gerais para a produção de Formulações Antissépticas Alcoólicas.
Acesso em: www.portal.anvisa.gov.br.
4. ANVISA, 2020b. Regulamentos. Acesso em: http://portal.anvisa.gov.br/coronavirus/regulamentos .
5. Organização Mundial da Saúde.
6. Jornal USP, 2020. Guia de Produção Local: Formulações de gel antisséptico recomendadas pela
OMS. Acesso em: www.jornal.usp.br .
7. Formulário nacional da farmacopeia brasileira/Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de
Vigilância Sanitária. 2.ed. Brasília: Anvisa, 2012. 224p.
8. LUCIOW, C.; STAMPER, A.; FERNANDEZ, J.A.; CONWAY, M.J.; FERNANDES, M. Gel hand
sanitizers. Depositante: Henkel IP and Holding GmbH. US20170181429A1. Depósito: 29 dez. 2015.
9. OMS (2010). Guia de Produção Local: Formulações de Gel Antisséptico.
10. Universidade Estadual de Ponta Grossa.
11. AEN, 2020. Universidades aumentam produção de álcool em gel. Acesso em: www.aen.pr.gov.br.
12. UFRJ (2020). Coronavírus: UFRJ fabrica insumos para hospitais. Disponível em:
https://ufrj.br/noticia/2020/03/24/coronavirus-ufrj-fabrica-insumos-para-hospitais.
O Instituto SENAI de Inovação (ISI) em Biossintéticos e
Fibras atua de forma transversal em temas identificados
como portas para o futuro para as cadeias dos
segmentos químico e têxtil, e apoia empresas no
desenho de estratégias utilizando o conceito de alta
integração com a indústria e a academia. Possui equipe
formada por especialistas reconhecidos nas áreas de
biotecnologia, síntese química, engenharia de processos
e fibras. Criado em janeiro de 2016, o Instituto integra o
Centro de Tecnologia das Indústrias Química e Têxtil –
SENAI CETIQT, também composto pelo Instituto SENAI
de Tecnologia Têxtil e de Confecção e Faculdade SENAI
CETIQT.

Localizado no Parque Tecnológico da Universidade


Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui cerca de
3.500m2 de laboratórios, o Instituto é referência nacional
em inovação e se estrutura em plataformas tecnológicas
ligadas à pesquisa aplicada e inteligência competitiva,
possibilitando a identificação e construção de
oportunidades para a indústria por meio de análise e
desenvolvimento de novos produtos e processos
químicos, bioquímicos e têxteis.

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