Escassez de álcool gel e as estratégias da Rede SENAI para atendimento Emergencial
INTRODUÇÃO
Em face ao atual cenário de alastramento da COVID-19, a demanda por álcool em gel
70% aumentou de forma significativa no país, porém o abastecimento é menor devido à escassez de espessante no mercado. Neste caso, o espessante ou polímero de acrílico (poliacrilato) Carbopol (ou carbomer), que recentemente ganhou a atenção e alerta da ABIHPEC1 em relação à sua falta no mercado mundial. Tendo em vista este cenário e motivada pela emergência de saúde pública internacional provocada pelo novo coronavírus, a Anvisa2 tem tomado medidas de estímulo à produção de álcool gel e produtos antissépticos. Em medida temporária e extraordinária, isentou estes produtos de registro, notificação e licenciamento sanitários, especialmente do álcool em gel3. Adicionalmente, suas resoluções recentes permitem que farmácias de manipulação fabriquem o produto de forma direta ao público e autorizou, em 25 de março, mais dez géis antissépticos4. Recentemente, pesquisadores da USP traduziram e adaptaram um documento da OMS5 que traz instruções de como obter o produto antisséptico isento de espessantes6. Com base neste mesmo documento e no Formulário Nacional da Farmacopeia Brasileira7, a Anvisa disponibilizou em seu portal um material com orientações gerais para a produção de formulações antissépticas alcoólicas isentas destes materiais. Entre as informações disponíveis estão os itens necessários para a produção dos antissépticos em pequena escala, o método de preparação e a quantidade de produtos que são usados nesse processo. Há também um passo a passo, além de orientações sobre rotulagem e regulação sanitária.
FORMULAÇÃO USUAL
De acordo com a Farmacopeia Brasileira, o álcool gel é produzido a partir do álcool
etílico (96 ºGL), polímero espessante Carbopol, solução de trietanolamina para correção do pH e água purificada para diluição, como descrito na metodologia abaixo. Escassez de álcool gel e as estratégias da Rede SENAI para atendimento Emergencial
Materiais e métodos
▪ 75,7 mL de álcool etílico 96 ºGL
▪ 0,5 g de Carbopol ▪ Qs (quantidade suciente para) de solução de trietanolamina a 50% (p/v) ▪ Qs de água puricada qsp
Orienta-se misturar o álcool etílico a um volume pequeno de água e dispersar a
massa de Carbopol sob agitação. Completar o volume de 100ml com água puricada e ajustar o pH utilizando a solução de trietanolamina.
FORMULAÇÕES ALTERNATIVAS
Dentre os espessantes potenciais de utilização em substituição ao Carbopol listados
na literatura, encontram-se os classificados como orgânicos e inorgânicos. Dentre os espessantes orgânicos, se encontram os a base de celulose e seus derivados, gomas naturais, acrilatos, amidos, estearatos, bem como álcoois graxos. Dentre os inorgânicos, estão inclusos argilas e sais8. Já a OMS9 propõe a produção e uso de álcool etílico glicerinado 80% e o álcool isopropílico glicerinado 75% como formulações de gel antisséptico para mãos. Estes produtos também são abordados pela Farmacopeia Brasileira, porém como soluções, e não géis. As matérias-primas utilizadas são um álcool [etanol (96%) ou álcool isopropílico (99,8%)], água destilada ou fervida, peróxido de hidrogênio (3%) e glicerol (98%). Adicionalmente, pode-se acrescentar à formulação corantes e/ou outros aditivos não tóxicos. O peróxido de hidrogênio atua inativando esporos bacterianos contaminantes na solução, não sendo uma substância ativa para antissepsia da mão. Já o glicerol é empregado como emoliente seguro para uso tópico e relativamente barato, contribuindo também para o aumento da viscosidade da solução. Porém, este pode ser substituído por outro umectante, desde que seja barato, amplamente disponível, miscível em água e álcool e que não aumente a toxicidade ou promovam alergia. Escassez de álcool gel e as estratégias da Rede SENAI para atendimento Emergencial
Além destas formulações, a Anvisa destacou outras formulações listadas na
Farmacopeia Brasileira que constam na relação de excepcionalidades dispostas nas RDC 347/2020 e RDC 350/2020, como álcool etílico 70% (p/p), álcool etílico 77% (v/v), água oxigenada 10 volumes e digliconato de clorexidina 0,5. Indo nesta linha, a UEPG10 e a Fundação Municipal de Saúde assinaram termo de cooperação para produção de álcool 70% glicerinado. De acordo com o coordenador do Laboratório de Produção de Medicamentos (Lapmed) da UEPG, Sinvaldo Baglie, apesar do álcool gel 70% apresentar um tempo residual na pele devido ao uso de espessantes, o álcool 70% glicerinado também é eficaz na ação antisséptica sobre bactérias e vírus como o COVID-1911. Diversas universidades e unidades do SENAI estão produzindo álcool gel e álcool glicerinado para doações, porém no primeiro caso, empregam espessantes comerciais que se encontram em falta no mercado, como o Carbopol12.
INICIATIVA DA REDE DE INSTITUTOS SENAI DE INOVAÇÃO
O SENAI estruturou uma rede de apoio a produção de álcool em gel no país
dedicada, sobretudo, à identificação de substitutos ao carbômero. A rede é coordenada pelo Instituto SENAI de Inovação (ISI) em Biomassa (MS) com apoio do ISI Biossintéticos e Fibras (RJ) e ISI Engenharia de Polímeros (RS), em parceria com outras unidades do SENAI, universidades e empresas. Os Institutos estão concentrados no desenvolvimento e validação de formulações alternativas para o álcool gel 70% com o objetivo de disponibilizar o maior número de formulações possíveis para potenciais produtores em todo país. Além disso, a rede irá apoiar os fabricantes comerciais e não comerciais na estratégia de escalonamento, prospecção e contato com fornecedores de matéria prima e interface com Anvisa. Para mais informações sobre esta iniciativa entre em contato conosco.
ISI Biomassa ISI Biossintéticos e Fibras ISI Engenharia de Polímeros
Leandro da Conceição João Bruno Valentim Bastos Luciana Rocha leandro.conceicao@ms.se.senai.br jbbastos@cetiqt.senai.br luciana.santos@senairs.org.br Escassez de álcool gel e as estratégias da Rede SENAI para atendimento Emergencial
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos.
2. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 3. ANVISA, 2020a. Orientações gerais para a produção de Formulações Antissépticas Alcoólicas. Acesso em: www.portal.anvisa.gov.br. 4. ANVISA, 2020b. Regulamentos. Acesso em: http://portal.anvisa.gov.br/coronavirus/regulamentos . 5. Organização Mundial da Saúde. 6. Jornal USP, 2020. Guia de Produção Local: Formulações de gel antisséptico recomendadas pela OMS. Acesso em: www.jornal.usp.br . 7. Formulário nacional da farmacopeia brasileira/Brasil. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 2.ed. Brasília: Anvisa, 2012. 224p. 8. LUCIOW, C.; STAMPER, A.; FERNANDEZ, J.A.; CONWAY, M.J.; FERNANDES, M. Gel hand sanitizers. Depositante: Henkel IP and Holding GmbH. US20170181429A1. Depósito: 29 dez. 2015. 9. OMS (2010). Guia de Produção Local: Formulações de Gel Antisséptico. 10. Universidade Estadual de Ponta Grossa. 11. AEN, 2020. Universidades aumentam produção de álcool em gel. Acesso em: www.aen.pr.gov.br. 12. UFRJ (2020). Coronavírus: UFRJ fabrica insumos para hospitais. Disponível em: https://ufrj.br/noticia/2020/03/24/coronavirus-ufrj-fabrica-insumos-para-hospitais. O Instituto SENAI de Inovação (ISI) em Biossintéticos e Fibras atua de forma transversal em temas identificados como portas para o futuro para as cadeias dos segmentos químico e têxtil, e apoia empresas no desenho de estratégias utilizando o conceito de alta integração com a indústria e a academia. Possui equipe formada por especialistas reconhecidos nas áreas de biotecnologia, síntese química, engenharia de processos e fibras. Criado em janeiro de 2016, o Instituto integra o Centro de Tecnologia das Indústrias Química e Têxtil – SENAI CETIQT, também composto pelo Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção e Faculdade SENAI CETIQT.
Localizado no Parque Tecnológico da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui cerca de 3.500m2 de laboratórios, o Instituto é referência nacional em inovação e se estrutura em plataformas tecnológicas ligadas à pesquisa aplicada e inteligência competitiva, possibilitando a identificação e construção de oportunidades para a indústria por meio de análise e desenvolvimento de novos produtos e processos químicos, bioquímicos e têxteis.