Você está na página 1de 13

Agrupamento de Escolas André de Gouveia – 135562

SEDE: Escola Secundária André de Gouveia

MATERIAIS DE APOIO DE FILOSOFIA - 10º ANO

Aprendizagens Essenciais – Filosofia 10º Ano - Conteúdos

Formas de inferência válida


Aplicar as regras de inferência do Modus Ponens, do Modus Tollens, do silogismo hipotético, das Leis
de De Morgan, da negação dupla, da contraposição e do silogismo disjuntivo para validar argumentos.
Principais falácias formais.
Identificar e justificar as falácias formais da afirmação do consequente e da negação do antecedente.
O discurso argumentativo e principais tipos de argumentos e falácias informais.

Clarificar as noções de argumento não-dedutivo, por indução, por analogia e por autoridade;

Construir argumentos por indução, por analogia e por autoridade;

Identificar, justificando, as falácias informais generalização precipitada, amostra não representativa,


falsa analogia, apelo à autoridade, petição de princípio, falso dilema, falsa relação causal, ad
hominem, ad populum, apelo à ignorância, boneco de palha e derrapagem; Utilizar conscientemente
diferentes tipos de argumentos formais e não formais na análise crítica do pensamento filosófico e na
expressão do seu próprio pensamento; Aplicar o conhecimento de diferentes falácias formais e não
formais na verificação da estrutura e qualidade argumentativas de diferentes formas de comunicação.

FORMAS DE INFERÊNCIA VÁLIDA

Formas de Argumentos

Nome Sequência Descrição

Argumento Se p então q; p; consequentemente q


condicional
(p → q) ∧ p ⸫ q
Exº-Se o animal é uma galinha, então tem penas. É certo que o animal é
Modus Ponens uma galinha. Portanto, tem necessariamente penas.

Argumento Se p então q; não q; consequentemente não p


condicional (p → q) ∧ ~q ⸫
~p Exº-Se o animal é uma galinha, então tem penas. Não é verdade que o
Modus Tollens animal tenha penas. Assim sendo,o animal não é uma galinha.

Silogismo (p → q) ∧ Se p então q; se q então r; consequentemente, se p então r


Hipotético (q → r) ⸫ p → r
Se o rinoceronte continuar a ser caçado, então corre o risco de se
extinguir. Se corre o risco de se extinguir, então deve ser protegido.
Logo, se o rinoceronte continuar a ser caçado, deve ser protegido.

p ou q; não p; consequentemente, q

O animal é carnívoro ou é herbívoro. Não é carnívoro. Logo, é herbívoro.


(pvq) ∧ ~p ⸫ q
Silogismo
O animal é carnívoro ou é herbívoro. Não é herbívoro. Logo, é carnívoro.
Disjuntivo (pvq ) ∧ ~q
⸫p

p → q
Se p então q; consequentemente não q então não p ou se não q então
⸫ ~q →~p não p, consequentemente p então q
Contraposição
~q →~p Se um animal é carnívoro, então alimenta-se de carne. Logo, se um
animal não se alimenta de carne, então não é carnívoro.
⸫ p → q

A negação de (p e q) tem como consequência (não p ou não q)


Leis de De ~(p ∧ q) ↔
Morgan (1) (~p ∨ ~q) Afirmar que é falso que eu goste de doces e fruta é o mesmo que afirmar
que eu não gosto doces ou de fruta

Leis de De ~(p ∨ q) ↔
A negação de (p ou q) tem como consequência (não p e não q)
Morgan (2) (~p ∧ ~q)

p tem como consequência a negação de não p


Dupla Negação p → ~~p
O animal é mamífero. Logo, não é verdade que o animal não é mamífero.

Argumento condicional (argumento dedutivo em que uma das premissas é uma proposição condicional)

- Modus Ponens- afirmação do antecedente (ponere- pôr, colocar, afirmar)

Se A, então B. Ora, A. Logo, B.

P → Q

⸫Q

Lei do Modus Ponens: Se o antecedente de uma proposição condicional for verdadeiro, o consequente
terá que ser também verdadeiro.
- Modus Tollens- negação do consequente (tollere- negar, discordar)

Se A, então B. Ora, nãoB. Logo,nãoA.

P → Q

~Q

⸫~P

Lei do Modus Tollens: Se o consequente de uma proposição condicional for falso, o antecedente terá
que ser também falso.

Silogismo Hipotético – argumento em que as premissas e a conclusão são proposições condicionais. Se a


proposição A implica B, e se a B implica C, então a A implica C. É uma inferência válida em que a conclusão
se segue das premissas por implicações sucessivas.

P → Q

Q → R

⸫P→ R

Silogismo Disjuntivo – argumento em que uma das premissas é uma disjunção e a outra nega uma das
proposições disjuntas. A conclusão afirma a outra premissa disjunta.

PvQ PvQ

~P ~Q

⸫Q ⸫P

Contraposição: Contrapor equivale a inverter o antecedente e o consequente de uma condicional, negando-


os ao mesmo tempo. É uma inferência que resulta da equivalência entre duas condicionais e que depende da
regra da implicação: se o antecedente implica o consequente, a negação do consequente implica a negação
do antecedente (a condicional não é comutativa, ou seja, AB não é equivalente a BA).

P → Q

⸫~Q→ ~P

LEIS DE DE MORGAN: Leis de equivalência lógica entre a conjunção e a disjunção, permitem inferir da
conjunção uma disjunção e da disjunção uma conjunção. A negação da conjunção de A e B é equivalente à
disjunção da negação de A e da negação de B. A negação da disjunção de A e B é equivalente à conjunção
da negação de A e da negação de B.

~(A ∧ B)↔ (~ A∨ ~ B)

~ ( A∨ B) ↔ (~ A ∧ ~ B)

Primeiras Leis de De Morgan


1.A negação da conjunção de duas proposições é logicamente equivalente à disjunção das negações das
duas proposições consideradas. ~ ( p ∧ q) ↔ (~ p∨ ~ q)

2. A negação da disjunção de duas proposições é logicamente equivalente à conjunção das negações das
duas proposições consideradas. ~ ( p ∨ q) ↔ (~ p∧ ~ q)

FALÁCIAS FORMAIS

Falácia da Afirmação do consequente


Afirmação do consequente é uma falácia lógica que consiste em confundir o antecedente com o
consequente, ou seja, consiste em afirmar a consequência.

Afirmação do consequente

Definição:
Todo o argumento com a seguinte forma é inválido:
Se A então B
Ora, B
Logo, A
Exemplos:
(i) Se jogamos bem, ganhamos. Ora, ganhamos. Logo, jogamos bem. (Na verdade, jogamos mal, mas o
adversário jogou pior e o árbitro ajudou)
(ii) Se estou em Campinas, estou em São Paulo. Ora, estou em São Paulo. Logo, estou em Campinas. (Claro,
ainda que as premissas sejam verdadeiras, posso estar em Santos ou em Presidente Prudente.)
(iii) Se a fábrica estivesse a poluir o rio, então veríamos o número de peixes mortos aumentar. Há cada vez
mais peixes a morrer. Logo, a fábrica está a poluir o rio.
Prova:

Mostre que, mesmo sendo as premissas verdadeiras, a conclusão pode ser falsa. Em geral, basta mostrar
que B pode ser consequência de outra coisa que não A. Por exemplo, a morte dos peixes pode ser provocada
pela aplicação de pesticidas e não pela fábrica.

Se P então Q. Ora,Q. Portanto, P.

Se P, portanto Q

Logo, P ié, (PQ)˄Q⸫P


Falácia da Negação do antecedente
Negação do antecedente é uma falácia que consiste em confundir condição suficiente com necessária.
A condição é suficiente quando permite a consequência. Mesmo que a condição não seja verdadeira, a
consequência ainda pode ocorrer

Definição:

Os argumentos com a seguinte forma são inválidos:


Se A então B
Não-A
Logo, não-B
Exemplos:
(i) Se for atingido por um carro quando tiver 6 anos, morre jovem. Mas não foi atingido por um carro aos 6
anos. Portanto, não vai morrer jovem. (Claro que ele poderia ser atingido por um comboio com a idade de 6
anos e, nesse caso, morria jovem)
(ii) Se estou em Faro, então estou no Algarve. Não estou em Faro. Logo, não estou no Algarve. (Mas pode
estar em Olhão…)
Prova:

Mostre que a conclusão pode ser falsa mesmo que as premissas sejam verdadeiras. Em particular, mostre
que o consequente, B, pode ocorrer mesmo que A não ocorra.

Se P, portanto Q

P é falso

Logo, Q é falso ié, (PQ)˄~P⸫~Q

A ARGUMENTAÇÃO – DISCURSO ARGUMENTATIVO:

Raciocínio dialéctico com vista à persuasão, em que as premissas de que se parte são apenas prováveis
(opiniões, convicções). É uma actividade discursiva de exposição de razões na defesa de uma ideia ou opinião
(tese), com vista a obter a adesão do interlocutor, utilizando diversos tipos de argumentos (lógica informal).
É ainda uma actividade comunicativa, que envolve um orador, um auditório e uma mensagem (assunto).
Argumentar é raciocinar, propondo a um auditório a adesão a certas teses ou opiniões, recorrendo a
argumentos adequados. É do domínio do verosímil (o que pode ser verdadeiro), ou seja, do provável,
plausível ou preferível,(o que é, provavelmente, o melhor). Usa vários tipos de argumentos, a linguagem
natural, parte de premissas verosímeis, visa um auditório particular, sendo contextualizada, pretende
persuadir ou convencer. É pessoal e contextualizada, informal, flexível, plausível, contingente.
NOÇÕES DE ARGUMENTO NÃO-DEDUTIVO, POR INDUÇÃO, POR ANALOGIA E POR AUTORIDADE;

O discurso argumentativo e principais tipos de argumentos:

.
Argumentos indutivos: A partir de conjunto de premissas particulares induzimos uma conclusão mais geral
que se apresenta como logicamente possível, provável mas não necessária.

Exemplos:

A Helena pertence a uma Associação de Defesa do Meio Ambiente


A maioria das pessoas que pertencem a tal associação opõe-se à destruição de um jardim no Bairro Alvalade
Logo, Helena vai opor-se à destruição deste jardim no bairro de Alvalade (Lisboa).
.
"Outrora as mulheres casavam-se muito novas. A Julieta da peça Romeu e Julieta, de Shakespeare, ainda
não tinha 14 anos. Na Idade Média, 13 anos era a idade normal de casamento para uma rapariga judia. E
durante o Império Romano muitas mulheres casavam aos 13 anos, ou mesmo mais novas". (A. Weston, A
Arte de Argumentar). 
.
Durante séculos inúmeras observações e experiências nunca desmentiram esta afirmação
Nunca se encontrou algo que a sugerisse que a mesma pudesse ser falsa
Logo, temos que concluir que a mesma é uma verdade absoluta.
.

Argumentos analógicos: Argumentos baseados numa comparação entre duas coisas supostamente


semelhantes. Parte-se do princípio que se duas realidades são semelhantes em certos aspectos conhecidos
é provável que também o sejam noutros. Com base em duas ou mais premissas estabelecemos relações de
semelhança entre elas, procuramos extrair uma conclusão que se apresenta como logicamente
possível, provável mas não necessária. Tipo de raciocínio muito vulgar em que se parte de um caso ou
exemplo específico para mostrar que outro caso, semelhante nalguns aspectos conhecidos, é também
semelhante noutros aspectos desconhecidos, isto é, partindo de dadas semelhanças visíveis, infere outras
não visíveis. Assim, as conclusões a que chega são apenas prováveis.

Exemplo:

Colhe-se o que se semeia. Se plantarmos amoras, colhemos amoras. Se plantarmos cebolas obtemos
cebolas. Do mesmo modo quem semeia a guerra não pode esperar obter paz, justiça e fraternidade  (adpt de
W.Salmon).  

Argumentos de autoridade: 

Um argumento de autoridade é aquele cuja principal razão oferecida para justificar a conclusão é o apelo à
uma autoridade no assunto (conhecimentos seguros acerca da matéria em causa), ou seja, cuja conclusão é
sustentada pela opinião de um especialista ou pelos dados de uma instituição credível. Uma fonte (pessoa,
organização ou instituição) com obrigação de saber diz A, logo A é verdade. As fontes devem ser citadas,
qualificadas, imparciais, devendo haver acordo relativamente à informação. Vamos analisar alguns exemplos
desse tipo de argumento para compreender adequadamente como ele é usado, como identificar e como usá-
los em um debate ou texto argumentativo.

Exemplo 1
Premissa: Segundo a pesquisa “A Epidemiologia do Uso de Arma como Autodefesa”, de David Hemenway,
professor e pesquisador de Harvard, que ouviu 14 mil cidadãos norte-americanos que foram vítimas de
criminosos entre 2007 e 2011, apenas 0,9% das vítimas usou uma arma para se defender.

Conclusão: São raros os casos em que pessoas com porte ou posse de armas usarão essas armas para se
defender de um crime.
FALÁCIAS INFORMAIS (falsos argumentos em que as premissas não sustentam a conclusão em virtude do
seu conteúdo ou de defeitos na linguagem)

GENERALIZAÇÃO PRECIPITADA:

enuncia uma lei ou uma regra geral a partir de dados não representativos ou insuficientes e, portanto, as
premissas não podem garantir a verdade das conclusões (insuficiência de dados). A amostra é demasiado
limitada e é usada apenas para apoiar uma conclusão tendenciosa.

Ex: Quando eu liguei a televisão ontem estava a dar o telejornal. Hoje aconteceu a mesma coisa.
Logo, sempre que eu ligo a televisão, está a dar o telejornal.

Fred, o Australiano, roubou a minha carteira. Portanto, os Australianos são ladrões. (Claro que não devemos
julgar os Australianos na base de um exemplo)

Perguntei a seis dos meus amigos o que eles pensavam das novas restrições ao consumo e eles
concordaram em que se trata de uma boa ideia. Portanto, as novas restrições são populares.

Prova:

Identifique as dimensões da amostra e a população em questão. Depois mostre que a amostra é insuficiente.
Note: uma prova formal requer cálculo matemático porque está em jogo a teoria das probabilidades. Mas em
muitas situações podemos confiar no bom senso.

AMOSTRA NÃO REPRESENTATIVA:

A amostra usada em uma inferência indutiva é consideravelmente diferente da população como um todo. Há
diferenças relevantes entre a amostra usada na inferência indutiva e a população como um todo.

Ex: Para ver como os canadianos vão votar na próxima eleição, nós entrevistamos cem pessoas em Calgary.
Isso mostra conclusivamente que o Partido da Reforma vai varrer as eleições (pessoas em Calgary tendem a
ser mais conservadores – portanto mais propensas a votar no Partido da Reforma – que as pessoas no resto
do país).

As maçãs de cima da caixa parecem boas. A caixa inteira deve estar boa (claro, as maçãs podres estão
escondidas no fundo).
Prova:

Mostre que há diferenças relevantes entre a amostra e a população como um todo. Depois, argumente que
por a amostra ser diferente, a conclusão é provavelmente diferente.

FALSA ANALOGIA:

Definição:

Numa analogia mostra-se, primeiro, que dois objetos, A e B, são semelhantes em algumas das suas
propriedades, R, S, T. Conclui-se, depois, que como A tem a propriedade P, então B também deve ter a
propriedade P. A analogia falha quando os dois objetos, A e B, diferem de tal modo que isso possa afetar o
facto de ambos terem a propriedade P. Diz-se, neste caso, que a analogia esqueceu diferenças relevantes.
Consiste em tirar conclusões de um objecto ou situação para outra semelhante, sem atender às diferenças
significativas. Concluiu-se com base em semelhanças secundárias, desprezando diferenças essenciais.
Ex:
Os empregados são como pregos. Temos de martelar a cabeça dos pregos para estes desempenharem a
sua função. O mesmo deve acontecer aos empregados.

O Governo é como o negócio. Assim, como o negócio deve ser sensível, em primeiro lugar, ao balanço final,
também o governo o deve ser. (Mas os objetivos do governo e dos negócios são completamente diferentes;
assim, provavelmente têm de encontrar critérios diferentes)
Prova:

Identifique os dois objetos ou eventos que estão a ser comparados e a propriedade que se diz que ambos
possuem. Mostre que os dois objetos diferem de tal modo que a analogia se torna insuficiente.

APELO À AUTORIDADE (argumentum ad verecundiam):


Definição:

Ainda que às vezes seja apropriado citar uma autoridade para suportar uma opinião, a maioria das vezes não
o é, por exemplo, quando há aproveitamento do respeito que merece uma autoridade de reconhecido mérito,
cuja competência é irrelevante para o tema em discussão. O apelo à autoridade é especialmente impróprio
se:
-a pessoa não está qualificada para ter uma opinião de perito no assunto.
-não há acordo entre os peritos do campo em questão.
-a autoridade não pode, por algum motivo, ser levada a sério — porque estava a brincar, estava ébria ou por
qualquer outro motivo.

Uma variante da falácia do apelo à autoridade é o “ouvi dizer” ou “diz-se que”. Um argumento por “ouvir dizer”
é um argumento que depende de fontes em segunda ou terceira mão.

Exemplos:
O famoso psicólogo Dr. Frasier Crane recomenda-lhe que compre o último modelo de carro da Skoda.
O economista John Kenneth Galbraith defende que uma apertada política económica é a melhor cura para a
recessão. (Apesar de Galbraith ser um perito, nem todos os economistas estão de acordo nesta questão.)
Encaminhamo-nos para uma guerra nuclear. A semana passada Donald Trump disse que começaríamos a
bombardear a Rússia em menos de cinco minutos. (Claro que o disse por piada durante o teste do microfone)
(Outro dia meu amigo viu no jornal que o Canadá declarará guerra à Sérvia. (Isso é um caso de ouvir dizer;
na verdade, o repórter disse que o Canadá não declararia guerra.)
Os cidadãos de Braga disseram que as vendas aumentaram 5.9 por cento este ano. (Isso é um ouvir dizer;
não estamos em posição de verificar as fontes.)
Prova:

Mostre uma de duas coisas (ou ambas): a pessoa citada não é uma autoridade no campo em questão;
mesmo entre os especialistas não há consenso sobre o assunto discutido.

PETIÇÃO DE PRINCÍPIO (petitio principii):

Definição:

A verdade da conclusão é assumida pelas premissas. Muitas vezes, a conclusão é apenas reafirmada nas
premissas de uma forma ligeiramente diferente. Ou adopção da conclusão que se quer demonstrar para
premissa do raciocínio. Nos casos mais sutis, a premissa é consequência da conclusão.
Exemplos:
Dado que não estou a mentir, segue-se que estou a dizer a verdade.
Sabemos que Deus existe, porque a Bíblia o diz. E o que a Bíblia diz deve ser verdadeiro, dado que foi escrita
por Deus e Deus não mente. (Neste caso teríamos de concordar primeiro que Deus existe para aceitarmos
que ele escreveu a Bíblia.)
Prova:

Mostre que para acreditarmos nas premissas já teríamos de aceitar a conclusão.

FALSO DILEMA ou FALSA DICOTOMIA:

Definição:
É dado um limitado número de opções (na maioria dos casos apenas duas), quando de facto há mais. O falso
dilema é um uso ilegítimo do operador “ou”. Apresentação de duas alternativas como sendo únicas em dado
universo, ignorando outras possibilidades.

Pôr as questões ou opiniões em termos de “ou sim ou não” gera, com frequência (mas nem sempre), esta
falácia. A indistinção entre contrariedade e contradição possibilita a formulação deste tipo de falácias.
Exemplos:
(i) Estás por mim ou contra mim.
(ii) América: ama-a ou deixa-a.
(iii) Uma pessoa ou é boa ou é má.
Prova:

Identifique as opções dadas e mostre (de preferência com um exemplo) que há pelo menos uma opção
adicional.
FALSA RELAÇÃO CAUSAL:

FALSA CAUSA- (Non causa pro causa)- Aplica-se a qualquer fenómeno indicado como origem de outro
sem que entre eles haja nexo causal. Atribuição da causa de um fenómeno a outro, não existindo entre eles
qualquer relação causal.

FALSA CAUSA- (post hoc, ergo propter hoc)

Definição:

O nome em Latim significa: “depois disso, logo, por causa disso”. Isto descreve a falácia. Um autor comete a
falácia quando assume que, por uma coisa se seguir a outra, então aquela teve de ser causada por esta, isto
é, a atribuição da causa de um fenómeno a outro fenómeno, pela razão de o preceder no tempo.
Exemplos:
(i) A imigração de Alberta para Ontário aumentou, mal a prosperidade aumentou. Portanto, o incremento da
imigração foi causado pelo incremento da prosperidade.
(ii) Tomei o EZ-Mata-Gripe e dois dias depois a minha gripe desapareceu…
Prova:

Mostre que a correlação é coincidência, mostrando: (i) que o “efeito” teria ocorrido mesmo sem a alegada
causa ocorrer, ou que (ii) o efeito teve uma causa diferente da que foi indicada.

AD HOMINEM OU CONTRA A PESSOA:

Definição:
Atacar ou lançar em descrédito uma pessoa com o objectivo de mostrar que as suas afirmações são falsas.
Ataca-se a pessoa que apresentou um argumento e não o argumento que apresentou. A falácia ad
hominem assume muitas formas. Ataca, por exemplo, o caráter, a nacionalidade, a raça ou a religião da
pessoa. Em outros casos, a falácia sugere que a pessoa, por ter algo, tem algo a ganhar com o argumento, é
movida pelo interesse. A pessoa pode ainda ser atacada por associação ou pelas suas companhias. Lança a
dúvida sobre conhecimentos e inteligência da pessoa; suspeita quanto aos verdadeiros motivos da pessoa;
põe em causa a boa fé da pessoa; descrédito sobre a família, etnia, grupo social, etc.; põe em evidência a
contradição entre as ideias e as acções da pessoa.
Há três formas maiores da falácia ad hominem:
ad hominem (abusivo): em vez de atacar uma afirmação, o argumento ataca pessoa que a proferiu.
ad hominem (circunstancial): em vez de atacar uma afirmação, o autor aponta para as circunstâncias em que
a pessoa que a fez e as suas circunstâncias.
ad hominem (tu quoque): esta forma de ataque à pessoa consiste em fazer notar que a pessoa não pratica o
que diz.
Exemplos:
(i) Podes dizer que Deus não existe, mas estás apenas seguindo a moda. (ad hominem abusivo)
(ii) É natural que o ministro diga que essa política fiscal é boa porque ele não será atingido por ela. (ad
hominem circunstancial)
(iii) Podemos passar por alto as afirmações de Simplício porque ele é patrocinado pela indústria da madeira.
(ad hominem circunstancial)
(iv) Dizes que eu não devo beber, mas não estás sóbrio faz mais de um ano. (tu quoque)
Prova:

Identifique o ataque e mostre que o caráter ou as circunstâncias da pessoa nada tem a ver com a verdade ou
falsidade da proposição defendida.

AD POPULUM - Apelo ao povo ou populista (argumentum ad populum)

Definição:

Com esta falácia sustenta-se que uma proposição é verdadeira por ser aceite como verdadeira por algum
sector representativo da população. Esta falácia é, por vezes, chamada “Apelo à emoção” porque os apelos
emocionais pretendem atingir, muitas vezes, a população como um todo. Pretende-se conquistar a
concordância popular, despertar a admiração e o entusiasmo nas pessoas para que adiram ao que se
defende.
Exemplos:
(i) Se você fosse bela poderia viver como nós, então compre também Buty-EZ e torne-se bela. (Aqui
apela-se às “pessoas bonitas”)
(ii) As sondagens sugerem que os liberais vão ter a maioria no parlamento, também deves votar
neles.
(iii) Toda a gente sabe que a Terra é plana. Então porque insistes nas tuas excêntricas teorias?

APELO À IGNORÂNCIA (argumentum ad ignorantiam):


Definição:
Os argumentos desta classe concluem que algo é verdadeiro por não se ter provado que é falso; ou conclui
que algo é falso porque não se provou que é verdadeiro. (Isto é um caso especial do falso dilema, já que
assume que todas as proposições têm de ser de facto conhecidas como sendo verdadeiras ou falsas). Mas,
“A falta de prova não é uma prova.” Refutação, ou defesa de um enunciado invocando que ninguém provou
que é verdadeiro, ou que é falso, respectivamente.
“Não se conseguiu provar a verdade de P. logo, P é falso.”
“Não se conseguiu provar a falsidade de P. logo, P é verdadeiro.”

Exemplos:
(i) Já que você não pode provar que fantasmas não existem, eles existem sim.
(ii) Já que os cientistas não podem provar que acontecerá o aquecimento global, ele provavelmente não
ocorrerá.
(iii) António disse que era mais esperto do que o João, mas não o provou. Portanto, isso deve ser falso.
Prova:

Identifique a proposição em questão. Argumente que ela pode ser verdadeira (ou falsa) mesmo que, por
enquanto, não o saibamos.

BONECO DE PALHA OU ESPANTALHO:

Definição:

Consiste em atribuir a outrem uma opinião fictícia ou em deturpar as suas afirmações de modo a terem outro
significado. O argumentador, em vez de atacar o melhor argumento do seu opositor, ataca um argumento
diferente, mais fraco e/ou tendenciosamente interpretado. Infelizmente é uma das “técnicas” de argumentação
mais usadas…
Exemplos:
(i) As pessoas que querem legalizar o aborto querem prevenção irresponsável da gravidez. Mas nós
queremos uma sexualidade responsável. Logo, o aborto não deve ser legalizado.
(ii) Devemos manter o recrutamento obrigatório. As pessoas não querem o fazer o serviço militar porque não
lhes convém. Mas devem reconhecer que há coisas mais importantes do que a conveniência.
Prova:

Mostre que o argumento oposto foi mal representado, mostrando que os opositores têm argumentos mais
fortes. Descreva um argumento mais forte.

DERRAPAGEM Declive escorregadio ou Bola de Neve


Definição:
Argumento em que, introduzindo pequenas diferenças entre cada uma das premissas condicionais ou
equivalentes (mau uso de uma ou de outra), leva a uma conclusão despropositada. Para mostrar que
uma proposição P é inaceitável, extraem-se consequências inaceitáveis de P e consequências das
consequências… O argumento é falacioso quando pelo menos um dos seus passos é falso ou duvidoso. Mas
a falsidade de uma ou mais premissas é ocultada pelos vários passos “se-então” que constituem o todo do
argumento.
Exemplos:
(i) Se aprovamos leis contra as armas automáticas, não demorará muito até aprovarmos leis contra todas as
armas, e então começaremos a restringir todos os nossos direitos. Acabaremos por viver num estado
totalitário. Portanto, não devemos banir as armas automáticas.
(ii) Nunca deves jogar. Uma vez que comeces a jogar verás que é difícil deixar o jogo. Em breve estarás a
deixar todo o teu dinheiro no jogo e, inclusivamente, pode acontecer que te vires para o crime para suportar
as tuas despesas e pagar as dívidas.
(iii) Se eu abrir uma exceção para ti, terei de abrir exceções para todos.
Prova:

Identifique a proposição, P, que está a ser refutada e identifique o evento final, Q, da série de eventos. Depois
mostre que este evento final, Q, não tem de ocorrer como consequência de P.

Você também pode gostar