Você está na página 1de 10

10º - Filosofia

Teste 1 - Definição de filosofia, introdução à lógica


formal

1. Definição de filosofia

A filosofia é, essencialmente, uma busca incessante por respostas a várias questões dentro e
fora do nosso quotidiano, de forma crítica e fundamentada, através da utilização de
argumentos. É ainda uma tentativa de dar sentido à realidade, e de a compreender melhor.

Sendo uma atividade que requer raciocínio e espírito aberto, isto é, disponibilidade a aceitar
conhecimentos diferentes dos que já adquirimos e aceitamos, é importante que a nossa
adesão a teorias não esteja ligada às nossas emoções, pois essas podem ser manipuladas.

2. Composição dos argumentos

Um argumento (dedutivo, dentro da lógica formal) é constituído por proposições, as quais se


dividem em premissas e numa conclusão.

Um argumento geralmente surge de uma questão à qual se pretende responder, por


exemplo:

Questão: Será correto matar moscas por seres reconhecidas como um incómodo?

Argumento:

- Premissas: As moscas são seres vivos. Não há uma necessidade essencial humana
que requisite a morte de moscas. Causar sofrimento a seres vivos sem motivo é
errado.

- Conclusão: Matar moscas apenas por serem reconhecidas como um incómodo é


errado.

✫・゜・。.
As proposições que compõem os argumentos são obrigatoriamente frases declarativas
(afirmativas), que introduzem uma ideia.

As premissas têm a função de fundamentar a conclusão, de modo a obter um argumento


válido.

3. Validade, verdade e solidez

A verdade está relacionada com as proposições de um argumento, e o valor daquela está


relacionado com a sua correspondência com a realidade.

A validade, no entanto, está relacionada com os argumentos em si e com a sua forma.


Entende-se então que um argumento é válido quando a sua conclusão provém das suas
premissas, isto é, quando é impossível que as suas premissas sejam todas verdadeiras e a sua
conclusão falsa.

A solidez de um argumento depende tanto da verdade das proposições quanto da sua


validade, uma vez que estão relacionadas. Um argumento é então sólido quando as suas
premissas e conclusão são todas verdadeiras, ou seja, todos os argumentos válidos são
sólidos, embora o contrário nem sempre se verifique.

4. Forma das proposições categóricas simples

As proposições categóricas são definidas como proposições em que se afirma ou nega uma
ideia, sem considerar alternativas e sem estabelecer condições.

Por tal, tomam a forma S é (ou não é) P, em que o S representa o sujeito da frase, e P
representa o predicado.

===============================================================

Um termo dentro de uma proposição pode ser singular ou geral. Os singulares (nomes
próprios) destinam-se apenas ao S da proposição, enquanto os gerais se podem destinar
tanto a S como a P.

e.g. O Felipe é bonito. (nome próprio, corresponde ao sujeito, é então um termo singular.)

Todas as pessoas são seres vivos. (nomes comuns, correspondem tanto ao sujeito
como ao predicado, são então termos gerais.)
✫・゜・。.
As proposições podem ser classificadas de acordo com a sua quantidade e qualidade.

Quanto à quantidade, podem ser universais ou particulares:

- Todos somos felizes aqui. (Universais - correspondem a um todo.)

- Alguns de nós são felizes aqui. (Particulares - correspondem a uma parte.)

Quanto à qualidade, podem ser afirmativas ou negativas:

- Eu sou um bom trabalhador. (Afirmativa - “é”)

- Eu não sou um bom trabalhador. (Negativa - “não é”)

5. Quadrado da oposição e tipos de proposição

As proposições categóricas podem ser divididas em quatro tipos, representados pelas letras
AEIO, de acordo com a sua qualidade e quantidade.

Tipo A - Universal, afirmativa: Todos os gatos são siameses.

Tipo E - Universal, negativa: Nenhum gato é siamês.

Tipo I - Particular, afirmativa: Alguns gatos são siameses.

Tipo O - Particular, negativa: Alguns gatos não são siameses.

✫・゜・。.
Através da análise do quadrado da oposição, podemos verificar as relações entres os tipos de
proposição.

Estas relações podem ser contrárias, subcontrárias, subalternas, e contraditórias.

Contrárias -> A e E:

- Podem ser ambas falsas, mas não ambas verdadeiras.

(Todos os humanos têm filhos. Nenhum humano tem filhos.) F, F

Subcontrárias -> I e O:

- Podem ser ambas verdadeiras, mas não podem ser ambas falsas.

(Alguns humanos têm filhos. Alguns humanos não têm filhos.) V, V

Contraditórias/Negação-> A e O / E e I:

- Têm valores de verdade obrigatoriamente opostos.


(Todos os humanos têm filhos. Alguns humanos não têm filhos.) F, V
(Nenhum humano tem filhos. Alguns humanos têm filhos.) F, V

Subalternas: A e I / E e O:

- Se a proposição universal (A, E) for verdadeira, a particular (I, O) também será.


- Se a proposição particular (I, O) for falsa, a universal (A, E) também será.
(Todos os humanos têm filhos. Alguns humanos têm filhos) V, V
(Alguns humanos não têm filhos. Nenhum humano tem filhos.) F, F

6. Proposições compostas, conectivas e tabelas de verdade

As proposições complexas são constituídas por duas ou mais proposições (a negação é a


única exceção), ligadas por conectivas, representadas a seguir.

Negação: Não sou uma pessoa alegre. (¬P)

Conjunção: Sou uma pessoa alegre e confiante. (P∧Q)

Disjunção inclusiva: Vou comer ou vou ver televisão. (P∨Q)

Disjunção exclusiva: Ou vou comer ou vou ver televisão. (P⊻Q)

Implicação/Condicional: Se não comer, então vou ficar com fome (P→Q)

Equivalência/Bicondicional: Serei feliz se, e só se conseguir o que quero. (P↔⊻Q)


✫・゜・。.
Negação: Tem o valor de verdade oposto da proposição inicial. A dupla negação é a negação
da negação, ou seja, tem um valor de verdade igual ao da proposição inicial.

P ¬P ¬¬P

V F V

F V F

—----------

Conjunção: É verdadeira apenas quando ambas as proposições são verdadeiras.

P Q P∧Q

V V V

V F F

F V F

F F F

Disjunção inclusiva: É verdadeira quando pelo menos uma das proposições é verdadeira.

P Q P 🇻Q
V V V

V F V

F V V

F F F

—-----------
Disjunção exclusiva: É verdadeira quando as proposições têm valores de verdade
opostos.

P Q P⊻Q

V V F

V F V

F V V

F F F

—-----------

Implicação/Condicional: É falsa apenas quando a antecedente é verdadeira e a


consequente falsa.

P Q P→Q

V V V

V F F

F V V

F F V

—-----------

Equivalência/Bicondicional: É verdadeira quando as proposições têm o mesmo valor de


verdade.

P Q P↔Q

V V V

V F F

F V F

F F V
✫・゜・。.
De modo a trabalhar com uma proposição complexa, é ideal fazer o seu dicionário e a sua
formalização:

“Se aceitarmos tudo o que nos é dito, corremos o risco de ser enganados ou manipulados.”

Dicionário: É constituído pelas proposições simples que compõem a composta, sem as


conectivas que as ligam, incluindo a negação.

P: Aceitamos tudo o que nos é dito.


Q: Corremos o risco de ser enganados.
R: Corremos o risco de ser manipulados.

Formalização: É uma forma simbólica de representar as proposições, de modo a que seja


possível realizar operações com elas mais facilmente.

P → (Q ∨ R)

===============================================================

Numa proposição composta mais complexa (com mais proposições e conectivas), é essencial
elaborar uma tabela de verdade, de modo a compreender todas as circunstâncias possíveis
em que uma proposição é verdadeira ou falsa.

De modo a poder realizar as operações necessárias, é necessário iniciar pelas que estão entre
parênteses, de seguida, continua-se daquela com menor amplitude entre elas e assim
continua.

Por exemplo:

“Ou podemos ir ao cinema se, e só se for no fim-de-semana, ou podemos ir passear, se não


for no fim-de-semana.”

Dicionário:
P: Podemos ir ao cinema.
Q: É no fim-de-semana.
R: Podemos ir passear.
Formalização: (P ↔ Q) ⊻ (ᆨQ → R)

P Q R (P ↔ Q) ⊻ ᆨQ (ᆨQ → R)

V V V V F F V

V V F V F F V

V F V F V V V

V F F F F V F

F V V F V F V

F V F F V F V

F F V V F V V

F F F V V V F

Valores de verdade “base” 1º 4º 2º 3º

Em primeiro lugar, realiza-se a primeira operação entre parênteses, (P ↔ Q), simplesmente


devido à ordem de leitura natural, da esquerda para a direita.
De seguida, determina-se a negação de Q, ᆨQ, de modo a que seja possível realizar a
segunda operação entre parênteses, (ᆨQ → R), a qual é calculada em terceiro lugar.
Finalmente, indica-se o valor de verdade final, na disjunção exclusiva entre duas operações
em parênteses, (P ↔ Q) ⊻ (ᆨQ → R).
7. Método do inspetor de circunstâncias

Através da construção da tabela de verdade de proposições compostas que constituam um


argumento, é possível verificar a sua validade.

Por exemplo:

“Se a Amazónia é o resultado de milhares de anos de evolução das várias partes da natureza e
é incrivelmente importante na produção de oxigénio, então é algo que deve ser preservado. A
Amazónia é o resultado de milhares de anos de evolução das várias partes da natureza e é
importante para a produção de oxigénio. Logo, é algo que deve ser preservado.”

P: A Amazónia é o resultado de milhares de anos de evolução das várias partes da natureza.


Q: A Amazónia é incrivelmente importante na produção de oxigénio.
R: A Amazónia é algo que deve ser preservado.

(P ∧ Q) → R, (P ∧ Q) ∴ R

P Q R (P ∧ Q) (P ∧ Q) → R ∴R

V V V V V V

V V F V V F

V F V F V V

V F F F V F

F V V F V V

F V F F V F

F F V F V V

F F F F V F

Através da formulação da tabela de verdade, é possível verificar que há uma situação em que
ambas as premissas são verdadeiras, mas a conclusão é falsa, ou seja, o argumento
apresentado é inválido.

Você também pode gostar