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RESENHA DO LIVRO “COMPÊNDIO DE TEOLOGIA APOLOGÉTICA”

De François Turretini. Trad. por Edições Paracletos, 1ª Edição em 3 volumes. São Paulo
– Cultura Cristã 2011, 848 p.

François Turretini (1623-1687), foi um teólogo de tradição reformada,


identificado com a escolástica calvinista. Turretini atuou como professor de teologia e
filosofia em Genebra. Foi forte opositor do Amyraldismo defendido por Moisés
Amyraut da Escola de Saumur (1596-1664) que defendia uma espécie de universalismo.
A principal obra de Turretini é sua “Institutio Theoloiae Electicae” como
resultado de trinta anos de docência em Genebra, a obra é considerada uma das mais
abrangentes obras do escolasticismo reformado, a edição latina chega a 1.800 páginas.
O conteúdo é denso, porém, profundo, erudito e preciso.
Turretini tem como objetivo refutar com base nas Escrituras perspectivas
conflitantes como o Catolicismo Romano, Arminianismo e o Socinianismo.
No primeiro volume, o autor disserta sobre como a teologia deveria ser
utilizada na academia cristã, bem como suas divisões, objetivo e gênero (se teórica ou
prática). Logo após, passa a versar sobre as Escrituras Sagradas, sua autoridade,
canonicidade, perfeição, clareza, também alude a consideração da Bíblia como
autoridade suprema, em detrimento da tradição como ensinam os papistas.
A seguir, ainda no primeiro volume, Turretini discorre sobre o ser de Deus e
seus atributos, bem como em refutação ao erro dos socinianos ensina com propriedade a
doutrina da Trindade Divina, a divindade do Pai, Filho e do Espírito Santo com ênfase
na cláusula “filioque” (que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho).
O autor descreve a doutrina dos decretos divinos e destaca o artigo acerca da
predestinação, eleição e reprovação. Posteriormente descreve a doutrina da criação,
origem da alma, com ênfase na providência de Deus e na criação dos anjos. A doutrina
do pecado é também considerada, tendo em vista o pecado geral e o pecado particular,
bem como sua propagação.
No segundo volume é abordado o tema da Lei de Deus, tomando o decálogo
como ponto de partida. A seguir, Turretini fala a respeito do pacto da graça em ambos
os testamentos, sua unidade, extensão, bem como o contraste entre o antigo e o novo
pacto, negando as doutrinas papistas do limbo e do purgatório.
Ainda neste segundo volume é abordada a Cristologia, ou seja, a pessoa de
Cristo (sua encarnação, união hipostática, comunicação de propriedades, duplo estado),
sua obra (seus sofrimentos, descida ao inferno, ressurreição, ascensão e entronização a
destra de Deus. O oficio mediador, profético e sacerdotal de Jesus são também
abordados neste volume.
O autor ocupa-se com a doutrina da Salvação, constituída pelo ensino acerca
da satisfação, intercessão, a graça de Deus, o chamado eficaz, a fé salvadora e seus atos,
objeto, sujeito, perseverança e certeza. Trata da justificação somente pela fé, remissão
de pecados, bem como o a santificação e as boas obras.
No terceiro volume o autor trata da eclesiologia, destacando o conceito
bíblico de igreja: sua unidade, invisibilidade, perpetuidade, suas marcas (pregação fiel
da Palavra e administração adequada dos sacramentos). Ao discorrer sobre o governo da
igreja, Turretin refuta os erros do primado de Pedro e primazia papal ensinados pelos
católicos.
Aborda a questão do ministério da igreja – vocação, matrimônio,
remuneração, disciplina eclesiástica, bem como refuta a autoridade dos concílios
eclesiásticos em detrimento das Escrituras, bem como a relação entre igreja e estado.
A respeito dos sacramentos, o autor procura estabelecer um contraste entre
os sacramentos no Antigo Testamento e no Novo Testamento, especialmente o batismo
e a Ceia do Senhor, refutando com isso as ideias de regeneração batismal e
transubstanciação ensinados pelos romanistas.
A última parte do terceiro volume é dedicada a escatologia, o autor relata o
informe bíblico acerca da ressurreição, fim do mundo, juízo final, morte eterna e vida
eterna.
É impressionante a grandiosidade da realização de Turretini. Percebemos
apesar do estilo denso, um profundo estilo pastoral e devocional um ensinamento
maravilhosamente edificante.  Não é sem razão que esta obra é considerada uma das
maiores obras protestantes já escritas.

A erudição de François Turretini, por exemplo, impressionante. O teólogo


suiço-italiano cita de fonte primária toda a escolástica católica medieval, a realista ou
nominalista; sofistas, jesuítas, cita seus opositores da época, Socínio e arminianos; é

dialético, percorre a Patrística inteira . E em termos de devoção, a sua vida e obra


desmentem as acusações pietistas, de outrora e de hoje.

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