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Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 345-347, maio/ago. 2004 345
rem num curso ginasial público, em razão do tes prenderam José Mário e parte da equipe do
(novo) processo industrial, que exigia um tra- secretário de Educação, em 1970, alegando que
balhador melhor qualificado. Foi um tumulto! E “a falta de planejamento, na expansão das vagas,
com ele, a expansão decisiva das vagas nas havia gerado desordem incontrolada, favorecen-
escolas públicas — novas oportunidades educa- do desagradáveis manifestações públicas de pro-
cionais, como se chamava. Passou-se, de cerca fessores e pais, e incentivando a baderna”.
de 130 mil vagas na primeira série ginasial para O segundo texto traduz um rico mo-
cerca de 250 mil estudantes, na mesma série, de mento de nossa história educacional e política,
um ano para outro — de 1968 para 1969! em que a reconstrução democrática será a tô-
No final de 1969, o governo militar bai- nica dos discursos, das mobilizações e das
xa o Ato Institucional n. 5, o mais duro ato políticas. José Mário escreve, então, o que se
legal que o Brasil já tivera em todo o período constituiu no chamado “Documento Preliminar
republicano, mediante o qual os direitos indi- n. 1”, um convite ao debate das políticas im-
viduais foram restringidos, e isso repercutiria na plantadas e a ser implantadas, através de um
definição de qualquer política pública que im- diagnóstico vivo da situação educacional. Um
plicasse um mínimo de condição democrática dos assuntos tratados, de maneira inovadora, é
para a sua implementação. No caso, o debate o conceito de autonomia da escola. Afirma o
de idéias, e as necessárias reuniões entre o documento: “a busca da autonomia da escola,
governo e o magistério. Evidentemente, com a não se alcança com a mera definição de uma
garantia do direito de divergir. nova ordenação administrativa mas, essencial-
No mesmo período (1968-1969), houve mente, pela explicitação de um ideal de educa-
uma reorganização do ensino primário paulista ção que permita uma nova e democrática orde-
pelo agrupamento em dois níveis, dos quatro nação pedagógica das relações escolares”.
anos escolares — nível I, 1as e 2as séries e nível Sempre foi um ardoroso defensor da au-
II, 3 as e 4 as séries. Tratava-se, como se poderá tonomia da escola, entendida esta como o di-
constatar, da primeira experiência estadual de reito insubstituível da escola — e de cada esco-
organização do ensino por “ciclos”, uma vez la — de propor e executar o seu próprio proje-
que, pela proposta, não haveria reprovação da to pedagógico.
1a para a 2a série, nem da 3a para a 4a, mas sim O documento é quase um tratado sobre
uma reorganização ou replanejamento do tra- política educacional e suas prioridades, apon-
balho docente, em função da avaliação das tando equívocos na cultura pedagógica sobre
dificuldades e avanços que o grupo–classe “qualidade de ensino” e a conseqüente maciça
conseguira. Junto com esta proposta, deu-se a reprovação de alunos. Fala, também, sobre ava-
reorganização de programas e currículos e a liação — um dos seus temas preferidos — e or-
implantação da orientação pedagógica, como ganização do ensino. Discute o papel e condi-
precondição para a implementação das novas ções de trabalho do magistério, como impor-
políticas e propostas. tantes variáveis da qualidade de ensino.
Estas foram duas — a expansão de vagas Sobre o terceiro documento, a “Indica-
do ensino ginasial e a modificação da seriação do ção n.7/2000 ao Conselho Estadual de Educa-
ensino primário — entre outras diversas providên- ção”, uma reflexão sobre a formação de profes-
cias político-educacionais implementadas pelas sores da escola básica, é um documento polê-
quais José Mário foi considerado “maldito”, tan- mico, que insiste sobre a necessidade de for-
to pelo magistério quanto pelos militares. Aque- mação geral sólida aos professores e de um
les organizaram passeatas contra várias das me- melhor entendimento sobre a natureza da rela-
didas propostas, uma delas sobre os critérios de ção pedagógica, que lhes possibilite efetiva
avaliação de desempenho dos professores, e es- condição de escolha de “métodos e estratégi-
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