10 Abril

O ESPECTÁCULO Rui Mota Cardoso

VAI COMEÇAR
(ALL THAT JAZZ)
Estados Unidos, 1979
de Bob Fesse
Conversa com Rui Mota
Cardoso e Roma Torres.
17 Abril
A OUTRA MARGEM
Portugal, 2007
de Luís Filipe Rocha
Conversa com Gabriela Moita
e Henrique de Barros.
Médico Psiquiatra, Professor Catedrático da Faculdade de Medicina
da Universidade do Porto e Coordenador de Unidade de Investigação
do IPATIMUP
Gabriela Moita
Psicóloga, Professora de instituições de Ensino Superior
Henrique de Barros
Médico Gastrenterologista, Professor Catedrático da Faculdade
de Medicina da Universidade do Porto e Crítico de Cinema
Edna Gonçalves
Médica de Cuidados Paliativos , Directora do Serviço de Cuidados
Paliativos do Centro Hospitalar de São João
Eurico Figueredo
Médico Psiquiatra, Professor Jubilado do Instituto de Ciências
Biomédicas Abel Salazar

All that Jazz

(1979)
Paulo Machado
Psicólogo e Professor Catedrático da Escola de Psicologia Bob Fosse
A Outra Margem
(2007)
24 Abril da Universidade do Minho
INQUIETOS Luís Filipe Roch1) a
Inquietosnt
(RESTLESS) Roma Torres (201
Estados Unidos, 2011 Médico Psiquiatra, Director do Serviço de Psiquiatria do Centro
de Gus Van Sant Hospitalar de São João e Crítico de Cinema Gus Van Sa
Conversa com Edna Gonçalves O Castor (2011)

e Roma Torres. Jodie Foster

O Discurso
Teatro do Campo Alegre do Rei er(2010)

08 Maio (Cine-Estúdio) Tom Hoop

O CASTOR Rua das Estrelas, Porto
(THE BEAVER)
Estados Unidos/ Emiratos RESERVA DE BILHETES

4ºCICLO
Árabes Unidos, 2011

Gabinete de Comunicação e Marketing · Centro Hospitalar de São João · 2012

de Jodie Foster PELO TELEFONE N.º 226 063 000

Cinemaaúde
PREÇO DOS BILHETES: €4,00
Conversa com Eurico
Figueiredo e Roma Torres. 10, 17 e 24 Abril
www.medeiafilmes.com 8 e 15 Maio

S
www.facebook.com/medeiafilmes

Doença
15 Maio
O DISCURSO DO REI Iniciativa Parceria Produção Cine-Estúdio
(THE KING’S SPEECH)
Reino Unido 2010 Teatro
de Tom Hooper do Campo
Conversa com Paulo Machado Alegre
e Roma Torres.
21h30
 Pela quarta vez, em anos sucessivos, o Centro Hospita-
lar São João organiza um ciclo “Cinema Saúde Doença”.
Pretende-se a exibição de obras de cinema que de alguma
maneira se destacam enquanto arte, mas simultaneamen-
te permitem introduzir o debate sobre temas ligados com a
prática hospitalar, onde se cruzam profissionais de saúde
e utentes e suas famílias. Assim desde o início se definiu
como palavras-chave “médico”, “enfermeiro”, “doença” e
“hospital” em torno das quais se organizou um grupo inicial
de cem filmes (Catálogo Cinema Saúde Doença, Hospital São
João/Cinemateca Portuguesa, 2010, pgs 16-99).
Este ano os cinco filmes escolhidos evidenciam uma reali-
dade que se associa quase inevitavelmente à doença, que é
o luto, ou seja, a tentativa de reparação de uma perda. Por
outro lado, de maneiras diferentes, também expressam uma
constante da natureza humana que é a representação, isto
é, de certa maneira a cena que se propõe enquanto actuação
de um papel, que nos vincula com o outro e no entanto exerce
um inevitável efeito de plateia.
Como habitualmente, marcarão presença filmes de diferen-
tes épocas e diferentes nacionalidades, mas na realidade
apenas dois não são norte-americanos (embora O Discurso
do Rei seja anglo-saxónico e com sucesso manifesto nos Ós-
cares da Academia de Hollywood), e apenas um é anterior
4ºCICLO
à última década. Ao longo dos ciclos o cinema português
tem tido uma atenção especial. Na sequência de Domingo
Cinemaaúde
à Tarde de António Macedo e O Dia do Desespero de Manoel
de Oliveira, exibidos em anos anteriores, este ano teremos A
Outra Margem de Luís Filipe Rocha.
S
O ciclo abrirá com All That Jazz, um filme musical, assi-
nado por Bob Fosse, ligado como coreógrafo a muitos dos
Doença
filmes marcantes deste género cinematográfico e também
a algumas produções da Broadway. Fosse teve uma curta e
tardia carreira como realizador (apenas 5 filmes, entre os
quais três musicais) mas a razão da sua inclusão neste ciclo
prende-se com as particulares características do filme em
relação à doença cardíaca que o afectara uns anos antes e
que o viria a vitimar. Com uma brilhante interpretação de Roy
Sheider numa personagem que é um “alter-ego” do realiza-
dor, All That Jazz, em português rebaptizado como O Espec-
táculo Vai Começar, é a história de um enfarte de miocárdio
e o atendimento numa sala de cuidados intensivos transfi-
gurado numa coreografia musical que convoca as teorias de
Elizabeth Kübler-Ross, sobre as fases do luto por que passa o
ser humano quando tem que enfrentar uma doença que pode
ameaçar a sua vida: negação, raiva, negociação, depressão
e aceitação. All That Jazz é no entanto também um caminho
auto-destrutivo constituindo um risco e influenciando a do-
ença mais do que expressando uma reacção a ela.
A Outra Margem é também um filme
que oscila entre a auto-destruição e
o luto. A primeira sequência monta
em paralelo o espectáculo de travesti
e o forno crematório, mostrando a
angústia de Ricardo perante o sui-
cídio do namorado. O filme torna-se
mais sugestivo na frágil fronteira
entre a diferença e a doença e do
fácil cruzamento que confunde os
territórios quando se introduz o ou-
tro personagem forte, o seu sobrinho
Vasco, portador duma síndroma de
Down. Entre o suicídio, a SIDA, a
identidade de género e a orientação
sexual e a solidão afectiva e sexual,
por um lado, e os laços familiares
que dão suporte nas situações de
luto ou que permitem lidar com as
incapacidades, por outro, Luís Filipe
Rocha move-se na procura do que é
comum a todo o ser humano. A Outra
Margem é ainda um filme de palco,
do night club ao comovente grupo de
teatro de portadores de síndroma de
Down, onde a representação é o lu-
gar da transcendência (“no teatro eu
posso casar”, diz-nos Vasco).
Em Inquietos, de Gus Van Sant,
são também os rituais fúnebres a
merecerem a atenção. Dois jovens
encontram-se em exéquias de gente
que não conhecem. Ele vive obceca-
do com a morte e um fantasmático
kamikaze japonês desde que os pais
morreram num acidente rodoviário.
Ela tem um cancro terminal e prova-
velmente apenas três meses de vida.
Sem descanso é a expressão de uma
inquietação juvenil mas também de
uma vida que tem que ganhar sen-
tido nos limites que a morte amea-
ça. Inquietos mostra ainda um tipo
de medicina hospitalar que não se
centra na cura, a dos cuidados pa-
liativos. Enoch confronta o médico
sobre o tratamento de Elisabeth:
“Que fazem vocês aqui? Olham-nos
a morrer? Façam-nos melhorar.” A
encenação da morte anunciada é
ainda aqui o efeito de representação
como superação da realidade.
A depressão em O Castor de Jodie
Foster não é psicologicamente com-
preensível mas surge numa ruptura
psicótica com a realidade, doença
mais que problema. O contacto com
os outros só volta a conseguir-se
através de um fantoche. O Castor
mostra a função terapêutica do
jogo, não apenas na recuperação de
Walter Black (Mel Gibson), mas na
forma como o filho mais novo evolui
com os brinquedos, ou o mais velho
redige supostos auto-retratos enco-
mendados pelos colegas. A distância
que o efeito de representação permi-
te introduzir também aqui se revela
necessária ao equilíbrio pessoal.
Quando o rei Jorge VI (Colin Firth)
ascendeu ao trono inglês sabia que
a sua gaguez seria um assunto de
estado particularmente no momen-
to de declarar a guerra à Alemanha
nazi num tempo em que a rádio era
o meio de comunicação privilegiado.
Tratar o rei, o homem cuja voz tre-
me quando tem que incorporar uma
função simbólica, ou seja, tornar
corpo a voz que não é só sua, pode
ser uma tarefa impossível. Lionel
Logue (Geoffrey Rush) não é um
terapeuta da fala formal, na reali-
dade é um actor, e mais uma vez o
efeito de representação se mostra
um excelente veículo para a terapia.
O Discurso do Rei de Tom Hooper foi
o grande vencedor dos Óscares do
ano passado e é uma extraordiná-
ria reflexão sobre uma relação de
ajuda oscilando entre o respeito e a
provocação, a compaixão e o desafio,
como muitas vezes tem que ser uma
relação terapêutica.
António Roma Torres
Médico Psiquiatra
e Crítico de Cinema