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Universidade Tecnológica Federal do Paraná –

UTFPR, câmpus Medianeira

TRATAMENTO DE EFLUENTES
OPERAÇÕES E PROCESSOS APLICADOS
PARA REMOÇÃO DE POLUENTES
Nível: primário
COAGULAÇÃO/ FLOCULAÇÃO/CORREÇÃO DE pH/
PRECIPITAÇÃO QUÍMICA DE BAIXA EFICIÊNCIA

Profa. Dra. Juliana Bortoli R. Mees


Engenharia Ambiental
SÍNTESE DOS NÍVEIS DE TRATAMENTO
NÍVEL REMOÇÃO

PRELIMINAR Sólidos em suspensão grosseiros (materiais de maiores


(Pré-tratamento) dimensões), areia e gorduras (glóbulos livres superiores
a 0,015 cm de diâmetro).

Sólidos em suspensão sedimentáveis;


PRIMÁRIO DBO em suspensão (matéria orgânica componente dos
sólidos em suspensão sedimentáveis).

DBO em suspensão (matéria orgânica em suspensão


SECUNDÁRIO fina, não removida no tratamento primário);
DBO solúvel (matéria orgânica na forma de sólidos
dissolvidos). Ocasionalmente nutrientes e patógenos.

Nutrientes;
TERCIÁRIO Patogênicos;
Sólidos Inorgânicos dissolvidos;
Sólidos em Suspensão remanescentes,
Compostos não biodegradáveis;
Metais pesados.

Fonte: Adaptado de VON SPERLING (1996); METCALF & EDDY (2003).


NÍVEIS DE TRATAMENTO

Tratamento Primário

Ocorrem operações físicas, processos químicos


e/ou físico-químicos, sendo que as operações
físicas visam a remoção SS e parte da matéria
orgânica e os processos químicos podem remover
material coloidal, cor e turbidez, odor, ácidos,
álcalis, metais pesados, óleos.
COAGULAÇÃO/
FLOCULAÇÃO
COAGULAÇÃO
Classificação das Partículas

As substâncias presentes nas águas podem ser


classificadas de dois modos diferentes, segundo sua
origem e segundo seu estado (dissolvidas, coloidais e
em suspensão).

0,001 μm 1 μm

Partículas Partículas Partículas


dissolvidas coloidais em suspensão
PROPRIEDADES GERAIS DOS COLÓIDES

Propriedades elétricas
Os colóides possuem propriedades elétricas que
criam uma força de repulsão eletrostática, que os
mantém separados, impedindo a aglomeração e
sedimentação. Na maior parte dos efluentes industriais
os colóides possuem carga negativa (carga primária).
(ECKENFELDER, 2000).

colóides
carga negativa

Íons positivos da
solução (K+, Na+ e Ca+2)
são adsorvidos na
superfície do colóide
PROPRIEDADES GERAIS DOS COLÓIDES
Propriedades elétricas
A carga superficial negativa do colóide, juntamente
com a movimentação Browniana, conduz à formação da
Dupla Camada Elétrica (DCE), formada pelas cargas
superficiais e pelo excesso de íons com carga oposta
(contra-íons) adsorvidos na partícula.

A dupla camada
(DCE) é formada por
duas regiões:
camada compacta
(CC), Stern, e
camada difusa (CD)
Fonte: SANEPAR (s.d.).

Assim, apesar da carga negativa da maioria dos colóides, a


suspensão tende a ser eletricamente neutra.
FATORES DE ESTABILIDADE DAS PARTÍCULAS

A estabilidade dos colóides depende


fundamentalmente das propriedades da fase dispersa e
suas interações com a fase de dispersão/dispersante,
sendo classificados em LIOFÓBICOS e LIOFÍLICOS.

 Colóides liofóbicos: são aqueles que formam um


sistema heterogêneo com o solvente (sistema bifásico),
não há afinidade entre as partículas e o solvente.

 Colóides liofílicos: são aqueles que formam um


sistema homogêneo com o solvente (sistema unifásico),
há interação entre as partículas e o solvente.

Se a água é o solvente (fase contínua), utiliza-se o


termo hidrofóbico (repelem água) e hidrofílico (tem
afinidade com água) (ECKENFELDER, 2000).
Mecanismos de desestabilização das
partículas coloidais

 Compressão da camada difusa ou dupla camada


(double layer compression);
 Adsorção e neutralização de carga (neutralization
by opposite charge);
 Varredura (sweep coagulation);
 Ponte interparticular (interparticle bridging);
Mecanismos da COAGULAÇÃO
A coagulação é o processo de desestabilização das
partículas coloidais (0,001 a 1m), a fim de que possam agrupar-
se e ser eliminadas por floculação.
Acontece por 2 mecanismos: periocinético e ortocinético.
Mecanismo pericinético ou eletrocinético: o potencial zeta
é reduzido por íons ou colóides de carga contrária a um nível
abaixo das forças atrativas de Van der Walls.

 Neutralização da carga (coagulante).


COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO
COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO
Acontece por 2 mecanismos: periocinético e ortocinético.
Mecanismo ortocinético: miscelas agregam e formam
blocos que aglomeram as partículas coloidais.

 Enlace interparticular (polieletrólito – polímeros).


COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO
 Enlace interparticular (polieletrólito – polímeros).

Polieletrólito: são polímeros de longa cadeia molecular.


Os polieletrólitos podem ser:
 catiônicos, quando a resultante de suas cargas é positiva;
 aniônico, quando a resultante de suas cargas é negativa;
 não iônicos, quando a resultante das cargas é nula.
COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO
Acontece por 2 mecanismos: periocinético e ortocinético.
Mecanismo ortocinético:

 Rede de precipitação (floculante).

Fonte: LORA, 2000.


COAGULANTES
De acordo com o coagulante a ser aplicado
(Al2(SO4)3, Fe2(SO4)3, FeSO4, FeCl3, etc.) deverá ser
observado a faixa de pH indicada (Tabela a seguir).
ENSAIO – Jar Test
Determina o melhor tipo de coagulante, sua dosagem
ideal e o pH ótimo de operação, para um dado resíduo líquido.
COAGULAÇÃO
Reagentes utilizados

Os reagentes utilizados no processo de coagulação são


agrupados em três categorias:
 Coagulantes: compostos, geralmente de ferro ou
alumínio. Capazes de produzir hidróxidos gelatinosos
insolúveis e englobar as impurezas.
 Alcalinizantes: capazes de conferir a alcalinidade
necessária à coagulação (calviva - óxido de cálcio;
hidróxido de cálcio; hidróxido de sódio - soda caustica;
carbonato de sódio - barrilha).
 Coadjuvantes: capazes de formar partículas mais
densas e tornar os flocos mais lastrados (sílica ativa,
polieletrólitos, etc.)
COAGULAÇÃO
Coagulantes

De maneira geral, as reações que acontecem quando são


adicionados sais trivalentes á água são as seguintes:
M+3 + H2O  MOH+2 + H+
MOH+2 + H2O  M(OH)+2 + H+
M(OH)+2 + H2O  M(OH)3 + H+

Quando adicionados à água o coagulante (baseado em


alumínio ou ferro) afeta o equilíbrio reagindo com bicarbonato
(redução de álcali-nidade) e, consequentemente, aumentando o
CO2 livre, reduzindo então o pH que eventualmente terá que ser
corrigido.
COAGULAÇÃO/FLOCULAÇÃO
Coadjuvantes - Auxíliares

Nos efluentes industriais, tem-se verificado que os


flocos formados necessitam de maior densidade para
poderem sedimentar em decantadores.
Recorre-se, então, aos auxiliares de coagulação, que
são polielétrolitos que aumentam a velocidade de
sedimentação dos flocos e a resistências às forças de
cisalhamento. O tipo de polielétrolito adequado deverá ser
pesquisado em laboratório, através dos ensaios de
floculação e pode-se prever redução, no consumo de
coagulante primário, de até 20%.
Tanque de COAGULAÇÃO
Floculação
DIMENSIONAMENTO
Tanque de Coagulação

Dimensionamento (NUNES, 2001)


Volume do Tanque (V)
V = Q (m3/h) . t(h)

Dimensões
V = L2 x H Fonte: NUNES , 2001.
H = 1,2 L

Potência do Misturador rápido em HP (P)


P =  VG2 / 76
Onde:  = viscosidade absoluta do líquido (a 20ºC igual a 1,029x10-4 Kgf.s/m2);
V = volume do tanque (m3);
G = gradiente de velocidade (adotar 800 a 1500s-1, usual 1000s-1).
OBS: Acrescentar folga de 50%, fazendo com que o motor trabalhe com 80% da
potência nominal. P = 1,5 x P / 0,80
FLOCULAÇÃO

Após o processo de coagulação o efluente deverá


passar pelo processo de floculação, objetivando fazer com
que os coágulos, que são partículas desestabilizadas,
tendam a formar agora partículas maiores denominadas
flocos.

A floculação poderá ser mecânica ou hidráulica:


 Mecânica: quando realizada com pás rotativas ou
turbinas misturadoras;
 Hidráulica: quando realizada em câmaras com
chicanas ou injeção de ar.
FLOCULAÇÃO

Floculador Hidráulico Mecânico - Turbina


Coagulação/Floculação: esquema de um floculador
com processo mecânico (pás).

Fonte: LORA, 2000.


Coagulação/Floculação
Exemplo de coagulação por neutralização de carga seguida de
floculação com utilização de polímero (auxiliar da coagulação).
COAGULAÇÃO

Exercícios

1. Dimensionar um tanque de coagulação (mistura rápida)


para o efluente de uma indústria com uma vazão de 90
m3/h, temperatura de 25C e agitação mecanizada.
Onde:
V = Q (m3/h) x t(h) L = largura (m); V = volume; Q = vazão;
V = L2 x H t = Adotar tempo de retenção de 45 seg.;
H = 1,2 L P = Potência do Misturador rápido em HP;
 = viscosidade absoluta do líquido (a 20ºC igual a
P =  VG2 / 76 1,029x10-4 Kgf.s/m2 e a 30ºC igual a 0,815x10-4
P = 1,5 x P / 0,80 Kgf.s/m2);
V = volume do tanque (m3);
G = gradiente de velocidade (adotar 800 a 1500s-1,
usual 1000s-1).
Adotar: t = 45 segundos.

OBS: Acrescentar folga de 50%, fazendo com que o motor


trabalhe com 80% da potência nominal.
CORREÇÃO pH
(Neutralização)
CORREÇÃO DE pH

Aplicações

Correção de pH para Coagulação


A necessidade de correção de pH decorre do fato de a
coagulação exigir valor ótimo, quando ocorre a formação dos
flocos.

Correção de pH para Sistemas Biológicos


Nos sistemas biológicos aeróbios, a faixa ideal de pH situa-se
entre 6,5 a 8,5 para o crescimento normal dos
microrganismos. Nos sistemas anaeróbios a faixa ideal é mais
estreita, entre 6,3 a 7,8.
CORREÇÃO DE pH

Aplicações

Correção de Efluentes Alcalinos


Utiliza-se o H2SO4; HCl ; CO2.

Correção de Efluentes Ácidos


Utiliza-se o CaCO3; NaCO3; NaOH; cal hidratada.
CORREÇÃO DE pH

Exercícios

2. Calcular o pH da mistura de duas correntes de águas


residuárias ácidas e alcalinas, tendo a primeira vazão de
10m3/h e pH igual a 5, e a segunda vazão de 30 m3/h e
pH igual a 10. Considerar que, nas águas, não há
substância causadora de efeito tampão.
Considerar: pH = - log [H+] (para converter o valor do pH em
concentração mol/L)

Resposta:
[H+] após mistura = C = 2,5 x 10-6 mol/L
pH da mistura = 5,6
CORREÇÃO DE pH

Exercícios

3. Calcular o pH da mistura de duas correntes (A e B) de


águas residuárias ácidas, tendo a primeira vazão de
100m3/d e pH igual a 4, e a segunda vazão de 400 m3/d
e pH igual a 5.

Resposta:
[H+] após mistura = C = 2,8 x 10-5 mol/L
pH da mistura = 4,55
PRECIPTAÇÃO
QUÍMICA
PRECIPITAÇÃO QUÍMICA
É um processo físico-químico que objetiva a remoção
de contaminantes presentes na fase líquida através da sua
transformação em fase sólida. Posteriormente, esta é
removida da fase líquida através de processos de separação
sólido-líquido.
O mecanismo principal de precipitação química,
consiste na alteração do equilíbrio iônico de um composto
metálico, para produzir um precipitado insolúvel (LORA, 2000):
Aplicações:
– A remoção de íons metálicos como Ca+2 e Mg+2 (dureza);
– A remoção de ânios fosfatos (PO4–3);
– A remoção de metais pesados (Cr, Hg, Cd, etc); entre outras.
PRECIPITAÇÃO QUÍMICA
Remoção de ânions fosfatos (PO4–3)
A remoção dos fosfatos se realiza por precipitação
com Fe+3, Al+3 ou Ca+2, sendo as reações químicas:
10Ca+2 + 6PO4-3 + 2OH-  Ca10 (PO4)6 + (OH)2
Al+3 + HnPO4-3-n  AlPO4 + nH+
1 Fe+3 + HnPO4-3-n  FePO4 + nH+

Os sais mais utilizados são a cal (Ca(OH)2), sulfato de


alumínio (Al2(SO4)3.18H2O), aluminato de sódio (NaAlO2),
cloreto férrico (FeCl3), sulfato férrico (Fe(SO4)3), sulfato
ferroso (FeSO4) e cloreto ferroso (FeCl2).
PRECIPITAÇÃO QUÍMICA - Fosfato

Fonte: SEDLAK (1991)


DIAGRAMA DE EQUILÍBRIO DE SOLUBILIDADE:
variação de solubilidade dos sólidos precipitados com o pH

cal

Fonte: SEDLAK (1991)


Curvas de solubilidade:
 Cal: pH  10 para que se obtenha valores de ortofosfatos solúveis baixos;
 AlPO4(s): pH entre 6,0 e 7,0 e, FePO4(s): pH entre 5,0 e 6,0.
PRECIPITAÇÃO QUÍMICA
Remoção de Metais pesados
Os métodos de remoção de metais pesados por
precipitação que têm obtido maior difusão na prática
industrial são (LORA, 2000):
 Precipitação como hidróxido: os íons metálicos solúveis
formam hidróxidos insolúveis.
Metais removidos: Al, Cd, Cu, Cr+3, Fe, Mg, Ni, Pb, Zn.
Reativos: cal (Ca(OH)2), soda caústica (NaOH).

 Precipitação como sulfeto: íons metálicos solúveis formam


compostos sulfurosos insolúveis.
Metais removidos: Pb, Cu, Ag, Cd, Zn, Hg, Ni, Th, Ar, Sb, V.
Reativos: H2S, Na2S ou NaHS.

 Co-precipitação: precipitação simultânea do contaminante


de interesse junto com outras espécies dissolvidas,
mediante a adição de coagulantes como compostos de
ferro e alumínio.
SOLUBILIDADE dos hidróxidos e sulfetos
metálicos na água em função do pH

A solubilidade dos hidróxidos


e sulfetos de diferentes
metais é fortemente
dependente do pH da
solução, sendo que a
solubilidade dos sulfetos de
diferentes metais é muito
menor que a solubilidade
dos hidróxidos.

Fonte: Adaptado de US EPA (1978) e LORA (2000).


PRECIPITAÇÃO QUÍMICA
Remoção de Metais pesados
Nem todos os metais precipitam como sulfetos ou
hidróxidos, exceções:
 O selênio reage com dióxido de enxofre precipitando
em forma elementar;
 O bário precipita como sulfato;
 A prata precipita como cloreto ou sulfeto, mas não
como hidróxido;
 O cádmio e chumbo precipitam como carbonatos;
 O cromo +6 deve ser reduzido a cromo +3 antes da
sua precipitação como hidróxido.
PRECIPITAÇÃO QUÍMICA
Exemplo - Remoção de Cromo (Cr)
O cromo na forma hexavalente (Cr+6) é solúvel em pH
ácido ou alcalino. Para que ocorra a sua remoção é
necessário que o mesmo seja reduzido para a forma de
cromo trivalente (Cr+3) em pH ácido (inferior a 2,5) e
precipitado na forma de hidróxido.
No caso do íon cromato o Cromo +6 é reduzido para o
estado de oxidação +3, normalmente pela ação do sulfato
ferroso, dióxido de enxofre ou meta-bissulfato de sódio e
então, precipitado na forma de hidróxido.

Cr+6 + Fe+2 ou SO2 ou Na2S2O5 + H+ → Cr+3 + Fe+3 ou SO4-2


Cr+3 + 3OH- → Cr(OH)3  (ECKENFELDER, 2000)

Como o hidróxido de cromo (III) é pouco solúvel em água o


precipitado pode ser separado.
PRECIPITAÇÃO QUÍMICA

Exemplo - Remoção de Mercúrio (Hg)


O mercúrio pode ser removido dos efluentes por
preciptação com sulfeto de ferro FeS, sulfeto de sódio Na2S
ou bissulfeto de sódio NaHS, formando um composto
insolúvel (NUNES, 2001).

HgCl2 + NaHS + NaOH → HgS + 2 NaCl + H2O

O processo consiste em elevar o pH com um


alcalinizante (pH  8) e adicionar o sulfeto.
TRATAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E GASOSOS - TECNOLOGIA AMBIENTAL - CEFETPR
REFERÊNCIAS

LORA, Electro Silva. Prevenção e controle da poluição nos setores


energético, industrial e transporte. Brasília, DF: ANEEL, 2001.
MACÊDO, Jorge Antonio Barros. ÁGUAS & ÁGUAS. São Paulo:
Livraria Varela, 2001.
ECKENFELDER JR, W. W. Industrial Water Pollution Control. 3.ed,
EUA: McGraw-Hill, 2000.
NUNES, José Alves. Tratamento físico-químico de águas
residuárias industriais. 3. ed. Aracaju: Gráfica e Editora Trinfo Ltda,
2001.
RICHTER, C. A.; NETTO, J. M. A. Tratamento de Água – Tecnologia
Atualizada. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 1991.

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