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CHEVETTE

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ESTA É A

Prefácio GMC
500
2.0 16V
TURBO
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EQUIPE EDITORIAL
“Nossa vida é desperdiçada por detalhes. Simplifique, simplifique.” Juliano Barata, Leonardo Contesini,
Marco Antônio Oliveira
Henry David Thoreau TEXTO
Marco Antônio Oliveira

EDIÇÃO E REVISÃO
O conforto e o luxo não são, inerentemente, coisas mente comprovado que esta é a mais feliz das vidas. a suspensão é dura. Se ouvirmos do brasileiro por muito tempo. Leonardo Contesini
ruins; como dinheiro e torta de maçã, todo mundo Mas uma coisa é usarmos internet e fraldas descar- estas críticas emitidas exausti- Quase imediatamente virou um
quer sempre mais. A analogia da sobremesa é boa: táveis; outra é a “necessidade indiscutível” que todo vamente na sua época, era para motivo de piada. A Opel, criadora PROJETO GRÁFICO
conforto e luxo são também coisas melhores se expe- casal moderno que procria tem de comprar um mas- o carrinho ter desaparecido do carrinho, fez o volante apontar FF Estúdio
rimentadas em pequenas quantidades, depois da bá- todonte de duas toneladas para mover daqui para lá completamente da face da terra, para as pedaleiras, necessaria-
sica fome saciada. Em excesso, enjoa e perde a graça. uma criança de menos de 10 kg. A marcha do progres- e esquecido, como tantos outros. mente deslocadas para o centro FOTOGRAFIA
Ou pelo menos deveria. O mundo de hoje cami- so é inevitável; a do exagero pode ser freada. Ou pelo Mas ainda assim, não é. Hoje do carro por causa das caixas de Fabio Aro
nha para tornar o automóvel mais básico em algo menos deveria, voluntariamente, por nós mesmos. parece mais popular que nunca, roda, acreditando ser ergonomi- (Chevy 500/prefácio),
deveras complexo. Seja por causa de leis e regu- Permitam-nos aqui falar não de ar-condicionado, uma multidão lembrando de como camente correta nisso; todo mun- André Takano
lações, seja por uma especificação básica mínima de ABS, de centrais multimídias e frenagem autôno- a vida com os Chevette, apesar de do fazia piada do volante torto. (Chevette País Tropical,
aceita pela maioria — que se espera hoje de um au- ma. Não de carros que estacionam sozinhos, dirijam simples como uma casa no campo, O motor podia ser econômico, Chevette GP II, Chevy 500 Camping,
Chevette Hatch, Marajó SE,
tomóvel beira o inacreditável. O exemplo mais fácil sozinhos, ou façam qualquer coisa por si só. Nada era boa. E qual o motivo disso? seu principal objetivo naquele
Chevette L, Chevette 1976 azul,
é o ar-condicionado: outrora raro, hoje faz parte do de seis cilindros, de V8 ou mesmo V12. De câmbio O Chevette, realmente, tinha mo- tempo de gasolina caríssima, Chevette rosa pantera),
mínimo que a população espera num automóvel. Se automático, de temperatura automática, de farol au- tivos para ser criticado. Nunca foi mas era também pesado para
Marcus Machado
enxerga até o aumento de sua instalação em carros tomático ou limpador de para-brisa que liga sozinho. um carro rápido, por exemplo. As seu deslocamento, fraco, e nada (Chevette SL 1979),
antigos. Ninguém quer ficar sem e insiste, como se Vamos falar de uma simplicidade que não tem mais primeiras versões a gasolina, com sofisticado: vibrava muito, e fa-
ele não fosse um supérfluo, que não pode viver sem. lugar no mundo moderno, e por isso mesmo é mais taxa de compressão baixa e carbu- zia um barulho rouco, feio, sem Gustavo Zavatti
(Chevette DL automático) e
Claro que pode; por décadas e décadas vivemos importante hoje do que quando novo. rador simples, fossem elas 1.4 ou graça. E esse barulho era alto,
assim sem problema algum. É um grande parado- Vamos contar uma história diferente. A de um peque- 1.6, sempre foram carros lentos. Os para completar. Subjetivamen- César Valente
(Chevette SR)
xo atual que, ao concordarmos que nossa sede por no automóvel criado há 50 anos para ser extremamen- Fusca 1600 de dupla carburação te também, um propulsor para
energia está arruinando o planeta, decidimos fa- te humilde e eficiente, nada mais que uma ferramenta. papavam eles no café da manhã, quem poucos declaravam amor. JORNALISTA RESPONSÁVEL
zer um monte de coisas radicalmente diferentes, Uma boa ferramenta. Um automóvel para ser usado almoço e janta, e depois arrota- Outro detalhe importante, pre- Leonardo Contesini
mas sem mexer, por exemplo, no sagrado direito por uma família, simples, confiável, de bom desempe- vam a música-tema do filme “Tu- sente em todo Chevette brasilei- (MTB 0088750/SP)
de usar o ar-condicionado. O homem quer sempre nho e ótimo consumo de combustível, e mais nada. barão”, sucesso nos cinemas no ro: era lerdo, mas para a maioria
mais; uma vez aberta a caixa de pandora, a massa Não era para ser lembrado, hoje, o Chevette. ano em que o Chevette ganhava dos motoristas, parecia ainda © FlatOut Brasil - Todos os
se move para nunca mais permitir que se feche ela. Quando era novo, era alvo de inúmeras críticas. A nossas ruas. Uma vergonha para o mais lerdo do que era. O acele- direitos reservados | CNPJ:
É claro que não é possível para todo mundo uma tração traseira é algo ultrapassado, o motor é fra- moderno GM mundial, e algo que o rador, ajustado para economia de 18.163.902/0001-04
vida ascética e monástica, ainda que seja cientifica- co, o carro é barulhento. O espaço interno é ruim, relegou a segundo plano na mente combustível, dedicava a maioria

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O início do Chevette
do seu curso para abrir compara- sacional. E tudo tinha a ver com seu carrinho. A saudosa revista Mo- dela. A direção ficava leve pro-
tivamente pouco a borboleta. Só comportamento quando dirigido à tor 3 já dizia isso para um público gressivamente, a traseira saía,
usando os últimos milímetros do moda esportiva. Uma direção sem incrédulo: O Chevette é o melhor quase ultrapassando a frente,
curso se conseguia 100% de ace- assistência, mas um pinhão e cre- carro nacional para andar rápido. e o volante deslizava quase que O Chevette pode ser um carro simples, hoje símbolo da filosofia “me-
lerador aberto. Somente tratando malheira tão preciso, leve ao rodar Naquela época era a mais absolu- sozinho para um contra-ester- nos é mais” entre entusiastas do automóvel, desprovido de status. É
o acelerador como um botão liga- e comunicativo, que foi parar até ta verdade. ço pronunciado, e completava a quase um ícone iconoclasta anticapitalismo, que mostra as falhas na
-desliga lá no fim do curso do pedal, em carro de Fórmula 1. Era uma di- Certa vez descrevi o que era curva de lado, atravessado. ideia de que tudo deve sempre ser maior, mais moderno e complexo.
que se conseguia um desempenho reção viva, que mudava peso com esta amizade: O carrinho continuava gritan- Mas ele, definitivamente, não nasceu assim.
minimamente decente. Poucos fa- o solo, velocidade e situação; que O Chevette era um companhei- do forte e ficava atravessado até O Chevette é um dos maiores projetos de uma empresa que era en-
ziam isso, claro. Ainda mais fama de carregava esforço quando se car- ro, exigindo determinação e um quase metade da rampa de aces- tão a maior do mundo. Sua importância estratégica como um produto
lerdo advém disso, como se ele pre- regava roda dianteira; que quando mínimo de habilidade, mas nos re- so, mas indo na direção certa. mundial é imensa, difícil de ser medida.
cisasse de ajuda neste quesito. Era a traseira saía, sozinha ia para po- compensando com diversão pere- Quando a derrapagem come- Depois de liderar a indústria global do automóvel de forma completa
o inverso da Volkswagen, que com sição de contra-esterço ideal. Que ne. Estava sempre disposto a ser çava, o carrinho parecia flu- e avassaladora nos anos 1950 e 1960 — quando teve mais de 50% do
o Gol aprendeu que o pessoal gos- delícia era aquilo. usado com vontade e sem dó, e tuar, deslizando suavemente. maior mercado do mundo, os EUA, era líder mundial de vendas, e era
ta só de triscar acelerador e sentir Um carro atrevido, que gostava não pedia nem óleo em troca. Sua O barulho parece que sumia, simplesmente a maior companhia privada do mundo todo em fatura-
potência, e nunca cravar o pé, e por de ser provocado a sair de trasei- personalidade era forte e palpável. e tudo acontecia em câmera- mento —, a GM meio que perdeu um pouco a conexão com o mundo real.
isso ajustou seus aceleradores para ra ao sair de curva, que tinha um Um amigo inesquecível. -lenta. Nesse momento único, Isso sempre acontece quando se tem muito sucesso por muito tempo:
dar esta sensação. equilíbrio de massas sensacional, que só consigo comparar ao como nunca errou antes, começa a achar que sabe a verdade de tudo.
A suspensão era firme, e o eixo
traseiro rígido, apesar de bem locali-
zado, é pesado, e por isso desconfor-
em que se controlava a traseira
com acelerador, e a frente com
freios e direção. Criado pela tur-
“vaNoparafim daa esquerda
reta, uma longa cur-
começava
que me contam os surfistas
ser a sensação de pegar um
tubo perfeito, meu controle do
Que é superior, que sabe a coisa certa a fazer sempre. Que nunca erra.
A empresa não lidou muito bem com a realidade quando, da noite para
o dia, exatamente na virada da década em 1970, uma tempestade perfei-
tável em irregularidades como “cos- ma de Bob Lutz na Opel, imitava com raio longo, para se fechar carrinho era absoluto. O ace- ta veio para mudar o mundo do automóvel para sempre. Era um proces-
telas de vaca”. Sim, existe muita coisa um pouco os maravilhosos e ca- gradualmente até se tornar um lerador e o pequeno volante so com origens mais antigas, claro, mas atingiu a GM de repente. Três
para não se gostar em um Chevette. ros Alfa Romeo Giulia tipo 105. cotovelo à direita, em direção esportivo dançavam a sinfo- frentes convergiram nesta tempestade: cultura, legislação e geopolítica.
Ainda mais hoje, num mundo geladi- Nos 1.4, dirige-se esquecendo que quase oposta, bem na rampa de nia que tocava com as mãos e Os anos 1960 criaram um tipo de gente avessa às regras e que não
nho pelo ar-condicionado, e onde um existem freios; em todos eles, se acesso à rodovia dos Imigran- o pé direito. Jogava a terceira desejava mais ser como seus pais, inclusive em relação aos carros. A
modesto Onix, o bisneto do Chevette, você se conecta ao que ele faz tes. Vinha com o pé em baixo e de novo, e chegava na estrada legislação, branda nos primeiros 70 anos do automóvel, se tornou um
tem um silêncio de rodagem que não bem e aprende a acender a cha- chegava a essa curva numa ve- bem rápido, já apto a acom- monstro: emissões de poluentes passaram a ser controladas, o con-
faria feio em antigos carros de luxo. ma de seu espírito divertido, o locidade considerável. Confor- panhar o fluxo do trânsito, um sumo de combustível passou a ser controlado, testes de segurança
Onde um monte de gente nunca nem prazer de andar rápido é simples- me a curva final progredia, ia largo sorriso impresso em meu se tornaram obrigatórios. Como se não bastasse, os países donos do
andou em carro sem direção hidráu- mente incrível. baixando as marchas. Entrava rosto até alcançar novamente a petróleo do mundo perceberam que o que tinham era essencial, e que
lica ou ABS. Entenda que falamos de
algo muito diferente disso. Não gos-
tar de Chevette é muito, mas muito
A controlabilidade quando diri-
gido agressivamente é a principal
qualidade dos Chevette. Minha
em quarta, daí terceira já fre-
ando, para cutucar uma segun-
dinha no início do cotovelo.
quinta marcha, lá na frente.

É também um carro simples, e


” devia valer mais do que valia: crises artificiais de abastecimento subi-
ram o preço do óleo sobre o qual nossa civilização foi criada.
De uma hora para outra, carros tinham que ser menores, mais efi-
mais fácil que gostar. sobrevivência nos irresponsáveis A frente do carro dava uma ainda hoje, barato para se ter e cientes, menos poluentes e mais seguros. Como a Europa e o Japão
É, definitivamente, um gosto ad- anos da adolescência se deve pequena deslizada na entra- manter. Muita gente o usa como eram mais pobres e com menos espaço que os EUA, seus carros já
quirido. Não é para todo mundo. muito mais à controlabilidade do da da curva e imediatamente base para coisas mais ambicio- eram assim. E como eram o contrário das barcas tradicionais dos pais
Mas para um certo tipo de pessoa, carro do que à minha habilidade cravava o pé no acelerador, sas, e trocas de motores em Che- e avós americanos, foram abraçados por uma geração inteira.
é uma coisa nada menos que sen- ao volante. Me ensinou muito, o jogando o bichinho para dentro vette são extremamente popula- Como um enorme navio, que não consegue fazer uma curva simples
res: de Volkswagen AP a motores com menos de uma semana de trabalho intenso, a GM, contrariada,
de Opala de quatro e seis cilin- admitiu que também deveria fazer carros pequenos e eficientes, e co-
Uma das primeiras dros, de V6 e V8 Chevrolet a K20 meçou a olhar para o suas subsidiárias mundo afora estavam fazendo.
propostas de estilo para o da Honda, existem Chevette que, A GM descobriu, para seu horror, que cada divisão fazia algo dife-
Chevette
como obras de arte individuais, rente neste campo, e nada era comum entre elas. A Vauxhall tinha
se tornam coisas muito diferen- seu Viva, a Opel, o Kadett, e a Isuzu, o Bellet; nem um parafuso era
tes do original. compartilhado por estes carros, parecidos em tamanho, desempenho
Um carro fácil de se conviver e missão. Obviamente uma coisa estranha vista de hoje, mas normal
mesmo hoje em dia, onde é decidi- na época: carros eram regionais e pronto.
damente antigo. Mas como foram É claro que era assim: a GM operava como um guarda-chuva, debai-
fabricados em grande quantidade xo do qual as empresas tinham ampla autonomia e independência. Era
e resistiram bem ao tempo, são um reflexo de sua criação: William Durant, seu fundador, comprou uma
ainda comuns, e por isso, baratos. série de fabricantes de automóveis e de auto peças, criando um con-
Ter um hoje em dia é uma lição de glomerado gigante antes de 1910. Durante os anos 1970, isso mudaria
como não é necessário muito para completamente, ao ponto de hoje existir apenas uma engenharia glo-
uma pessoa ser feliz; apenas é ne- bal na empresa, e um portfólio de produto coeso e que partilha tudo.
cessário descobrir o que fala bem à Foi no final dos anos 1960 que alguém percebeu que isso poderia ser
nossa alma. O Chevette permanece diferente. Que se compartilhando uma mesma engenharia básica, se eco-
relevante. E esta, é a história dele. nomizaria em projeto, ferramental e validação, e mesmo na produção.

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Alguém na GM teve a visão do mun- engenharia do carro. A empresa foi liderada por Stief, apoiado por Erich Bitter e Niki Lauda. O carro coisas interessantes. Um executi- GT de 1968, mas existem mais car-
do de hoje, onde um mesmo carro passava por uma fase interessan- Hans Mersheimer (carroceria) e foi originalmente chamado de “o vo influente e que, acima de tudo, ros interessantes: o Ascona de tra-
pode ser vendido em qualquer lugar. tíssima de produto e o Kadett era Werner K. Strobel (motor e chassi), táxi” porque Lapine colocou um lu- gosta de carros e sabe como fazê- ção traseira de 1970, muito pareci-
O projeto que viria gerar o Che- um imenso sucesso na Alemanha em condições de tal sigilo que até minoso de táxi no teto do carro. Ele -los bem-feitos. do com o Chevett, porém maior, o
vette foi o primeiro passo para comparado àquele que seria um hoje pouco se sabe sobre a histó- sairia da Opel para se tornar o de- Sobre esta época, Lutz diria mais KAD (Kapitän, Admiral, Diplomat)
esta realidade atual. De certa for- grande rival do T-Car: o Fusca da ria de desenvolvimento do Kadett signer-chefe da Porsche até 1989. tarde: “Por algum estranho acaso, a em duas gerações, carros grandes
ma, ele foi o início de uma nova Volkswagen. Com dinheiro para 1962. Na VW, Heinrich Nordhoff Erich Bitter era outra pessoa im- Opel na época tinha alguns dos me- que usavam os seis-em-linha Opel
GM. Em 1970, representantes de fazer um carro totalmente novo, (que havia sido gerente sênior da portante na Opel nos anos 1960, lhores nomes da GM em design, en- e os Chevrolet V8 importados
todas as divisões regionais se reu- imaginou-se que a Opel acabaria Opel nos anos 1930 e 1940) avi- sendo um concessionário e pilo- genharia, finanças e manufatura.” dos EUA para competir com os
niram para, finalmente, unificar de vez com o Volkswagen. A par- sou aos acionistas de que a Opel to de rally que influenciava e fa- Esta turma criou reuniões infor- Mercedes-Benz, e o Rekord C, um
o carro pequeno da empresa; um ticipação das outras divisões era recebia investimentos em uma es- zia parte integrante desta turma. mais onde decidiam o que fazer, carro belíssimo e excelente que
enorme e ambicioso projeto que esperada, e a japonesa Isuzu e a cala inimaginável para qualquer Na liderança da empresa, tinham todos juntos, antes de apresentar conhecemos aqui (em parte) com
se chamou T-car: o Chevette. britânica Vauxhall receberiam de- empresa alemã, e a concorrência apoio de um executivo jovem que o item para o CEO, conseguindo o nome de Chevrolet Opala. Tam-
Até ali, a GM acreditava que não rivações diretas do carro; a Holden certamente ia aumentar. chegara em 1960, e que rapida- grande sucesso. Era um embrião bém foram eles que impulsiona-
precisava de uma versão dele para australiana faria uma versão do O novo Kadett foi um grande su- mente galgou posições de lide- dos times de plataforma moder- ram os projetos de motores diesel
os EUA; era pequeno demais para carro da Isuzu, e a GM brasileira, cesso. O seu motor, um pequeno rança na empresa: um ex-fuzileiro nos, onde todo desenvolvimento é da marca, algo que a GM sempre
isso. O menor carro da GM nos EUA uma versão do Opel Kadett. Os quatro-em-linha OHV de um litro era naval suíço-americano chamado realizado em conjunto por todas as negligenciou.
seria o Chevrolet Vega, recém-lan- brasileiros, que participaram ati- uma pequena obra-prima para sua Robert Anthony “Bob” Lutz. áreas, e que Lutz transformaria em Foi o impulso criado por esta
çado, um carro pouco menor que vamente do projeto, seriam o pri- época: pequeno, pesava só 96 kg, Bob Lutz se tornaria um dos arte na Chrysler dos anos 1990. trupe entusiasta que gerou o Ka-
um Opala brasileiro. Mas no meio meiro lugar do mundo a receber o mas era capaz de chegar a 6.000 executivos mais influentes de seu O que se seguiu com esta turma dett C, o nosso Chevette e a base
do projeto, a situação mudaria e T-Car, antes mesmo da Opel. rpm, tinha 40 cv a 5.000 rpm, e em- tempo. É por causa dele que a toda por lá foi uma série de carros para o GM T-Car. Lutz e Lapine já
em 1975 os americanos te- balava um carro monobloco BMW divide seus carros em séries. brilhantes. Nenhum revolucioná- tinham ido embora (para a BMW
riam também seu Chevette, moderno, com motor diantei- É por causa dele que existe o Ford rio ou inovador, nem poderiam ser e a Porsche respectivamente) no
ainda que diferente do mun- ro e tração traseira. Era bara- Sierra, o RS200, o Sierra Coswor- na GM dos anos 1960, mas todos fim de 1971, mas seus companhei-
dial em vários pontos. to, bonito, robusto, resistente th e o Explorer original. É por cau- extremamente bem projetados, e, ros continuaram, e o Kadett C é
O projeto inteiro acaba por e muito bom ao volante, além sa dele que existem o Dodge Viper acima de tudo, bons de guiar. claramente um produto da empre-
compartilhar diretamente de ser mais convencional que e o Grand Cherokee, o Camaro Todo mundo fala do mais famo- sa que eles ajudaram a montar du-
pouco; a maioria das divi- um VW. Um sucesso que im- atual e mais um monte de outras so dos carros dessa turma, o Opel rante os anos 1960.
sões usaram seus próprios pulsionou mais investimentos
motores, transmissões e
acabamento. Um exemplo
claro é a versão americana,
na Opel pela GM
Em 1962, vários designers
de sucesso da GM america-
No Brasil e no mundo
Os planos da GM do Brasil incluíam se tornar a líder de nosso mercado, em 1970; um mercado que efeti-
criada depois do resto do na chegaram à Alemanha vamente ficava cada vez mais fechado ao exterior. Por isso, tinha pressa para ter um concorrente direto
mundo e lançada em 1975: para criar um estúdio na do VW, que aqui era o carro mais vendido por uma larga margem. E foi por esta pressa que o Brasil se
tinha entre-eixos maior, carro- A fase interessante da Opel vale Opel. Um deles era Clare Ma- tornou o primeiro país do mundo a receber o Chevette.
ceria diferente, era 10% mais pesa- menção aqui, pois a Opel desta cKichan, entusiasta de carteirinha, O projeto era de um carro totalmente novo, a ser criado em versões sedã de duas e quatro portas, hatch-
do para atender normas de segu- época é a empresa cujo espírito que tinha trabalhado no revolucio- back mais curto de duas portas (pedido e projetado pela divisão inglesa, a Vauxhall), e perua. Versões picape
rança, e tinha acerto de suspensão está impresso no Chevette. nário Chevrolet 1955 e com Zora e hatchback de quatro portas apareceriam depois em outros mercados.
voltado para o conforto. A Adam Opel AG Arkus-Duntov no Corvette SS. Com
José Luiz Vieira, da revista Motor A Opel é uma empresa tradicio- ele veio o chefe do novo estúdio,
3, disse sobre o carro americano nal na Alemanha; fundada em 1862, Chuck Jordan, ex-designer chefe
algo que ilustra bem as diferenças começou com máquinas de costu- da Cadillac, e responsável pelo Ca-
regionais: “O Chevette americano ra antes do automóvel existir, mas, dillac 1959, aquele com os maiores
é nitidamente inferior ao nosso como tantas outras, evoluiu para rabos-de-peixe da história.
no que se refere à sua maneabi- bicicletas e automóveis depois. Em Outro que veio em 1962: Anatole
lidade e estabilidade. Claro que é 1929, a família Opel vendeu a em- “Tony” Lapine. Outro mega-entu-
muito mais bem acabado e melhor presa para a General Motors ameri- siasta, um lituano radicado nos EUA,
equipado; claro que é melhor num cana, então em expansão. que criaria na Opel criaria um estú-
acidente de frente ou de trás (todo O ponto-chave aqui aconteceu dio avançado de design. Na verdade,
carro americano, nesse sentido, é em 1957, o marco zero da nova era um lugar onde os entusiastas da
melhor do que o de qualquer outra Opel. Com o Fusca dominando o empresa se encontravam para bolar
procedência – as leis de lá assim o mercado alemão, e com fortes ex- coisas interessantes, diferentes, e
exigem); mas é também menos se- portações para os EUA, o Diretor normalmente malucas.
guro do ponto de vista ativo, com de Produto da Opel, Karl Stief, re- Lapine liderou o desenvolvi- Os carrocerias do Opel Kadett em seu
estabilidade em curvas e frena- cebeu uma ordem da sede da GM mento secreto de uma versão de lançamento: a perua e o quatro-portas
gens inferiores às dos nossos.” em Detroit: desenvolver “o anti- corrida do Opel Rekord C (o nosso chegariam ao Brasil mais tarde, mas
Voltando a 1970, a europeia Opel -Volkswagen” perfeito. Opala), que ficou conhecido como o cupê nunca veio
foi nomeada como o centro de A equipe de desenvolvimento “Viúva Negra” e foi pilotado por

6 FLATOUT.COM.BR FLATOUT.COM.BR 7
“ protótipos
O projeto e construção dos
foram totalmente
alemães”, o motor foi projetado
especificamente para o Kadett
C, e complementaria o 1,2-li-
tro OHV. O novo motor era um
1,4-litro OHC, e era a primeira
vez que a Opel utilizava correia
dentada para acionar o coman-
do. Além disso, o cabeçote era
de fluxo cruzado, com admissão
e de um lado e escapamento do
outro, permitindo melhor limpe-
za (scavenging) da câmara de
combustão, resultando em me-
nor contaminação da mistura
ar-combustível sendo admitida.
A atuação das válvulas era in-
direta, por meio de alavancas
(fingers). O coletor de admis-
são era de alumínio, de melhor
condução térmica para otimizar
o aquecimento da mistura ar-
-combustível.

É interessante notar que o proje- Medindo 82 x 66,2 mm para um
to seguinte de motor da Opel foi o total de 1398 cm³, com a baixa
Família I e Família II — o Família II, taxa de 7,3:1, necessária para inge-
o famoso “motor de Monza”, tem rir nossa gasolina ruim, e equipa-
o mesmo bore spacing (distância do com um Solex 32 ou DFV 32 de

O motor do Chevette
Um carro totalmente novo também tem motores novos, e foi
entre centros de cilindros) de 93
mm que o motor do Chevette, e os
parafusos de fixação de cabeçote
corpo simples, o “primeiro motor
Chevette produzido no mundo”,
como dizia a placa acima dele na
o que aconteceu para o Brasil. O novo motor OHC do Chevette estão no mesmo lugar. O que pos- entrada da fábrica de São José
brasileiro foi projetado pela Opel, e seria usado pela Isuzu no sibilitou a GM vencer o campeona- dos Campos/SP, produzia 68 cv
Japão e pelo Chevette americano em versões de 1 a 1,6 litro, to brasileiro de Rali de 1984 com SAE (brutos) a 5.800 rpm, e 9,8
mas não pela Opel em si. o Chevette “Misto Quente”, que kgfm a 3.200 rpm. Ficou pronto vas da Cruz Alta, em Indaiatuba/ meses depois, ainda em 1973. Na
Isso, porque o projeto ainda tinha a barreira da indepen- combinava no motor o cabeçote de em 31 de outubro de 1972. SP, no ano de 1974; lá pode-se tes- Argentina, o carro foi lançado em
dência regional da GM. A Opel em Russelsheim tinha pronto o Monza e bloco de Chevette. tar os carros tranquilamente longe 1974 como o Opel K-180, que usava
Mas voltando ao fio da meada: de vias públicas e olhares curiosos. uma versão de 1,8 litro do motor
OHV de 1 e 1,2 litro do Kadett A, e versões de 1,6 a 1,9 litro da
sua família CIH para usar. No fim, a empresa não viu neces-
a Opel criou 40 protótipos do A chegada do Chevette A fábrica de São José dos Cam- quatro-cilindros do Opala. O Isuzu
novo motor, o primeiro ficando O carro estava rodando em testes pos, que existia desde os anos Gemini apareceu em setembro de
sidade de gastar dinheiro para ferramentar, testar e validar pronto em abril de 1971. Quatorze desde março de 1972, a engenha- 1950, também sofreu um investi- 1974, e dele derivaram o Holden
um novo motor, mesmo com o projeto pronto. Em Luton, na deles foram enviados para o Bra- ria Experimental liderada por Ciro mento considerável para a produ- Gemini (Austrália) em fevereiro de
Inglaterra, o Vauxhall Chevette, além de seu próprio desenho sil, para testes. Era um motor mo- Cayres rodando com protótipos a ção do Chevette: literalmente uma 1975, e o Saehan Gemini (Coreia
externo e interno, recebia o motor Vauxhall Viva OHV de 1,3 derno, e o comando ficava numa partir de São Simão/GO, perto da fábrica nova foi criada dentro do do Sul) em dezembro de 1977. O
litro (1.256 cm³). A Isuzu, apesar de inicialmente usar o mo- gaiola com mancais montada divisa com Minas Gerais. O circuito imenso terreno da GM. Hoje desa- carro Coreano depois se chamaria
tor igual ao do nosso Chevette nas versões básicas, usaria em cima do cabeçote em si, uma de testes era de Goiás/GO a Qui- tivada, esta instalação depois faria Saehan Maepsy e finalmente, Da-
uma série de motores seus durante a vida de sua versão do peça separada. Era todo de ferro rinópolis/GO, e a equipe esperava o Kadett e o Corsa. ewoo Maepsy-Na.
T-car, o Gemini. fundido, como convinha então a que o local remoto evitasse curio- O lançamento do Chevrolet Em setembro 1975, o Chevette
O engenheiro brasileiro Francisco Satkunas, que foi o re- um carro barato. Era desenvolvi- sos. Mas todo mundo descobriu: Chevette aconteceu em abril de americano chegou às lojas; o Ca-
sidente da GM do Brasil na Alemanha para este projeto, em do para ser econômico em com- até a Auto, Motor und Sport alemã 1973, com unidades chegando aos nada recebeu uma versão Pontiac,
1972, contou ao jornalista Bob Sharp o seguinte sobre o nas- bustível acima de tudo, o que era veio a Quirinópolis tirar fotos do concessionários em maio daquele o Acadian, em 1976; nos EUA o
cimento do Chevette: importante na época, principal- carro; este projeto foi o estopim ano. O primeiro GM T-car do mun- Chevette da Pontiac só foi lançado
mente num carro pequeno. para a criação do Campo de Pro- do. O Opel Kadett C chegou seis em 1981, com o nome T-1000. Ao

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longo de sua trajetória, foram produzidos sete milhões de “Chevette” mundo afora. Tubarões – a
Hoje, mesmo sendo algo comum e sem glamour, o Chevette é reverenciado entre entusiastas, aqui primeira geração
e na Alemanha principalmente (mas também no Japão e na Austrália, em menor quantidade), pelo O Chevette não era uma surpresa
seu comportamento divertido, direção direta e tração traseira. O Chevette americano não; além de quando finalmente foi lançado no
perder suas melhores qualidades em busca do conforto e a sensação de carro grande ao rodar, lá meio de 1973. Todo mundo na in-
era apenas um carro barato para tempos difíceis; nunca foi amado, apesar do sucesso de vendas. dústria sabia deste projeto enor-
De qualquer forma, isso não muda o fato de que o carrinho é uma coisa importante. Imagine, me, alemão, que necessitou uma
por um minuto, quantas vidas ele mudou. Quanta gente não trabalhou por anos com ele, assim nova fábrica em São José dos
criando sua família e construindo uma carreira? De gente depois importante como Bob Lutz e Campos/SP, no mesmo terreno da
a turma da Opel, como Pedro Manuchakian e Francisco Satkunas na GM do Brasil, e milhares de antiga, que existia desse os anos
outros mais humildes, que construíram também suas carreiras, e suas vidas, trabalhando nele. 1950, e que era a tentativa da em-
O Chevette é importante não somente para esse bando de malucos por carros que o adotou presa — que era então a maior do
como provedor de diversão barata. Além desta importância, existe outra, maior no grande es- mundo — em desbancar finalmente
quema das coisas: o Chevette é fruto de um projeto imenso, mundial, que gerou fábricas mundo o Fusca como carro mais vendido
afora, e foi produzido aos milhões, por décadas. Criou novas e enormes fábricas, mudou comu- do Brasil.
nidades, deu emprego para duas gerações de pessoas. Literalmente em todo lugar ao redor do Por anos desenhos e fotos de
mundo, existiu uma cópia qualquer de um Chevette. protótipos apareciam nas revis-
tas nacionais, e todo mundo esta-
Isuzu Gemini: o Chevette no Japão va preparado. Sabia-se da tração acabava num ângulo reverso, e os paralamas dianteiros eram perfeita-
De São José dos Campos até Detroit, passando por Fujisawa no Japão e Russelsheim na Ale- traseira, e as fotos do protótipo mente em proporção com rodas de 13 polegadas do carro.
manha, enormes fábricas aumentaram seu tamanho ou foram construídas, com o consequente rodando em Goiás permitiam que Eram mais finos na frente, esses paralamas, e a altura reduzia con-
aumento da qualidade e quantidade de empregos, e melhora de vida de uma imensidão de pes- se tivesse uma boa ideia de como forme chegava perto da dianteira. Uma saia dianteira que parecia um
soas, do engenheiro-chefe ao faxineiro. Isso sem contar, claro, na felicidade e bons serviços que seria a cara do carrinho. spoiler estava na frente, sua borda uma linha contínua que transicio-
o carro deu para milhões de famílias, pessoas e negócios. Sete milhões de carros, dos quais 1,6 Mesmo assim o desenho realmen- nava transparentemente para a lateral se tornando a abertura de roda,
milhão deles ficaram aqui no Brasil. Algo nobre e importante, o Chevette. te teve impacto, pois era belíssimo. que era ligeiramente abaulada para fora. Olhando de lado, alguém dis-
Um projeto importante não só pelo resultado, o carro que todos amamos; importante por ser O primeiro GM T-car a ser lançado no se: “parece o nariz de um tubarão!”, e pronto, o nome pegou. Seria
mais uma criação humana coletiva que nos ajudou a andar adiante como um todo. Mais empre- mundo foi o nosso Chevette, na ver- para sempre conhecido como “Chevette Tubarão”.
gos, ocupações, objetivos a alcançar e coisas a fazer. Um exemplo de colaboração, um projeto são sedã duas portas; era realmen-
complexo e mundial, que prova que não existe nada impossível quando a gente, como uma civi- te incrível. Um desenho limpo, sem Contraste de estilos
lização, decide fazer algo. Pela primeira vez, gente do mundo todo se reuniu para criar algo que floreios, mas de proporções bem Principalmente para sua época. Lembre-se de que em 1973 o carro ame-
seria feito mundo afora. Hoje parece normal? Agradeça ao humilde e simples Chevette. pensadas. O impacto era o conjunto, ricano tradicional, aqui no Brasil exemplificados pelos Maverick, Galaxie
não um detalhe ou outro; a clássica e Dart, ainda eram a linguagem de estilo mais em voga; uma época de
definição de beleza escultural. transição, onde o rebuscamento e a decoração exagerada deles ainda
Era obviamente uma evolução convivia com os Opala, Chevette, e em breve, Passat e Fiat mais limpos,
dos desenhos do novo estúdio de definidos, menos decorados e mais europeus.
design da Opel, então grande re- No Chevette, no máximo existia um friso externo: um que ia da saia
positório de talentos destinados a dianteira e passava para os paralamas na lateral, acentuando este lindo
grandes coisas no futuro. A frente detalhe de estilo que certamente é obra de um modelador talentoso de

Isuzu Gemini:
o Chevette no Japão

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Os modelos da primeira fase (73-77) não tinham tampa no porta-luvas

argila (Clay). O resto do carro era linhas de carros aqui, baratos culo pequeno de três instrumen- dianteiros com reclinadores de en-
limpo, liso, as superfícies e linhas Opel e caros Chevrolet? A marca tos principais e luzes espia, um costo milimétricos, iluminação no
bem desenhadas dizendo tudo americana, até os anos 1960, gos- volante de dois raios de desenho porta-malas, além de acendedor
que tinham que dizer. tava de imenso prestígio por aqui, também leve e agradável. de cigarros/ cinzeiro nos painéis
Interessante notar mais duas quase como o trio de luxo alemão A única coisa que o colocava fir- laterais traseiros e as calhas nas
coisas no estilo: uma, que era pra- hoje; carro de rico era o Impala. memente em 1973 era o assento portas. Já o pacote “luxo”, além
ticamente idêntico ao Opel, fora O Opel Kadett C, afinal de con- dos bancos: molas e enchimento, destes, também oferecia, garras de
faróis e alguns detalhes de deco- tas, lançado seis meses depois cobertura de vinil, muito parecido para-choque de PVC, pneus radiais
ração e logotipos, claro. A outra é do nosso Chevette, tinha logo- com os bancos do Opala. Como 155-13 com faixa branca, frisos de
que no Chevette original não dizia tipos Opel por todo lado. Era no Opala, eram parte da suspen- contorno nos para-lamas, caixas
em lugar algum que era um Che- também já oferecido com mais são: faziam você andar para cima de ar, e no painel frontal, além dos
vrolet. No volante, nas calotas, carrocerias desde seu lançamen- e para baixo, funcionando como frisos na moldura nas janelas. In-
nos logotipos do capô e na trasei- to — os europeus tiveram perua, mola, e não rígidos em espuma de ternamente o pacote luxo também
ra, tudo trazia apenas “Chevet- sedã de quatro portas, hatchba- poliuretano (PU) como todo banco incorporava o console, relógio elé-
te”. Nem uma gravatinha sequer. ck de duas portas e cupê fastba- moderno. Mas eram individuais, e trico no painel, e piso acarpetado.
Os motivos para essa falta de ck duas portas, além do sedã de opcionalmente podiam vir com A visibilidade para todos os lados
identificação são desconhecidos, duas portas. Depois apareceria reclinadores Keiper milimétricos era sensacional, coisa que não exis- senvolvido pela Opel para ser um ro fundido, e na baixa tolerância
então nos resta apenas especular. ainda o conversível Aero, que se- (parte de pacote opcional, depois te mais hoje: colunas finas, vidros motor moderno, tem tudo de de- de construção, que fazia dele um
Era a primeira vez que o carro da ria copiado aqui pela Envemo. opcional individual). Moderno e grandes, posição quase central do sejável nisso, para os anos 1970: motor áspero e vibrador.
GM do Brasil era todo Opel; o Opa- No interior de nosso primei- antigo ao mesmo tempo. motorista. A posição de dirigir era comando de válvulas no cabeço- O ajuste dele, que desde o início
la, como sabemos, misturava um ro Chevette, nada menos que o O carro era realmente básico, um pouco alta vista por um moto- te acionado por correia dentada, foi criado para deslocamentos de 1
monobloco alemão com motores, esperado para um carro bara- ainda mais visto de hoje. A lista de rista de mais de 1,80 metro de altu- cinco mancais, superquadrado a 1,6 litro, era decididamente con-
câmbios, eixos e toda a mecânica to dos anos 1970: simplicidade. opcionais de conveniência mostra ra, mas na época, gente alta assim (82 x 66,2 mm, totalizando 1.398 servador. Economia de combustí-
de Chevrolet americano. Talvez Originalmente nem tampa de isso: tampa do tanque de combus- eram poucos. As médias de altura cm3), e com admissão de um lado, vel era dado importantíssimo na
uma certa vergonha de chamar porta-luvas existia. Mas o painel tível com chave, espelho retrovi- da população eram bem menores. e escape do outro (fluxo cruzado). época, e o carro foi ajustado para,
um Opel de Chevrolet, talvez al- de novo era de muito bom gosto sor interno dia/noite, rádio de três Nesta encruzilhada de moderno Mas era também antigo na cons- com um desempenho aceitável
guma ideia de no futuro ter duas como o resto do carro: um binó- faixas, os já mencionados bancos e antigo está também o motor. De- trução parruda e pesada, em fer- apenas, ser o mais econômico

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Na traseira o nome Chevette
O logotipo indica o nome volta a aparecer; a marca Chevrolet
do modelo, mas não sua marca não aparece em lugar algum

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sa de uma forma incrível, sem nova Brasília 1600, mas o chassi tor 1,6 litro e carburador Weber 34
a corrupção inerente da tração pedia mais. duplo, coletor de escape dimen-
dianteira em sua sensibilidade. Por isso, desde o início, gente se sionado, comando especial, cabe-
Por pinhão e cremalheira como dedicou a preparar o motor do Che- çote trabalhado com válvulas de
os pioneiros BMW, a caixa é tão vette. Balancear as partes móveis admissão maiores. É um exemplo
boa que acabou num Fórmula 1: era básico: fazia o motor bem mais da personalização que muitos do-
Ricardo Divilla a usou no primeiro suave e liso, de cara. Depois, kits nos faziam nos Chevette Tubarão,
Copersucar-Fittipaldi. de carburação dupla apareceram de 1973 a 1977. A troca de motor
O equilíbrio das massas, a po- aos montes, a maioria usando dois por um mais potente, apesar de já
sição do motorista no carro e em carburadores Solex 40 de corpo acontecer (principalmente motor
relação ao centro de rolagem, e a simples de Opala. Mas carburação 2,5 litros de Opala), era bem menos
firmeza da suspensão faziam dele importada Weber, um ou dois car- comum no início. O azul, porém, é
uma delícia na direção esportiva. buradores duplos, existiam tam- de mais adiante no tempo, apesar
Seu peso baixo, de 800 a 820 kg, bém. Eram ainda melhores, se bem de fabricado em 1975: tem o eixo
ajudava muito também. Apenas a mais caros. Comandos mais bravos traseiro mais longo em relação
falta de um motor mais entusias- e turbocompressores também se (3,54:1 contra 4,10:1) e câmbio de
mante fazia falta ali. O carro não tornaram opções viáveis. cinco marchas dos 1.6 de 1983 em
era lerdo; seu desempenho era O carro azul das fotos é um diante, bem como radiador e uma
melhor que o do Fusca, e até da exemplo; em 1983 recebeu um mo- série de coisas do carro mais novo.

possível. Carburador cor- A única desvantagem


po simples pequeno (So- do eixo traseiro que per-
lex 32 ou DFV 32), taxa manece no Chevette em
de compressão baixa de relação aos tradicionais
7,3:1 (também pela gaso- é seu peso elevado: eixo
lina de baixa octanagem é massa não-suspensa,
da época), 68 cv SAE e o controle de sua inér-
(brutos) a 5.800 rpm, e cia pede molas e amor-
9,8 kgfm a 3.200 rpm. tecedores mais duros
O câmbio de quatro que o desejável, e mes-
marchas era inicialmen- mo assim, em irregula-
te importado da Ale- ridades de alta frequên-
manha, e tinha o anel cia como as chamadas
inferior de trava de “costelas de vaca”, o
marcha-à-ré comum dos Opel que ções, como um five-link moderno. eixo pula de forma desagradável.
posteriormente viriam para cá. A Este tubo de torque descarre- Às vezes, entra em ressonância
tração era traseira e o eixo tra- gava a reação desta rotação no e perde aderência nesse tipo de
seiro, rígido. Isto é dado como um monobloco bem no meio do carro. chão. Nada é perfeito.
problema por parte da imprensa, Isso dava uma característica inte- Os freios eram também ótimos,
muito por falta de conhecimento ressante para o Chevette: em ar- embora inicialmente, os discos
técnico: ao contrário dos eixos rí- rancada forte, a frente não sobe e dianteiros fossem opcionais; sim,
gidos localizados apenas por fei- nem a traseira abaixa como espe- existem Chevette com freios a
xes de mola (que se mexem des- rado; o que acontece é o contrário! tambor nas quatro rodas, mas
controladamente para todo lado, Desta forma, as arrancadas podem são raros, do início da produção.
sendo rígidos apenas no nome), ser feitas de maneira simplesmen- O servofreio a vácuo inicialmen-
o eixo do Chevette é totalmente te fatal para qualquer eventual ad- te era também opcional, e a fal-
controlado nos movimentos. Tem versário: crava-se o pé e mantém a ta dele, hoje raríssima num carro
molas helicoidais, dois braços in- rotação alta; solta-se de solavanco totalmente original. Pneus radiais
feriores de controle para o mo- a embreagem. O carro quase não 155-13 também eram opcionais,
vimento vertical, uma barra Pa- perde tração, e pula adiante feito os diagonais de série; 1973 é real-
nhard para limitar o movimento um batráquio assustado. Adversá- mente um passado distante.
lateral, e um cardã num tubo de rios com carros mais potentes e Mas era no comportamento de
torque, que segurava a rotação tração dianteira, perdendo tração suspensão e na direção que o car-
do eixo em seu próprio eixo. Con- por preciosos segundos, perdem a rinho brilhava. A direção, quando
troles positivos em todas as dire- contenda antes dela começar. em movimento, é leve e preci-

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Instrumentos auxiliares
no console central do
Chevette GP

GP
O Chevette se torna um esportivo
A certa altura a GM resolveu pe- tas. Dentro, volante pequeno Em 1977 veio o GPII usando
gar um pouco deste mercado de esportivo, painel com conta- um console com quatro ins-
personalização para si, com o car- -giros e outros detalhes. trumentos como o Envemo. O
ro que conhecemos como Chevet- Debaixo do capô, nada de painel principal tinha velocí-
te GP. Era para ser mais que o que 2.5 litros de Opala: era o mes- metro, relógio no meio e con-
conhecemos, e isto merece um pa- mo 1.4 de quatro cilindros a ta-giros à direita. No console
rêntese: os engenheiros do Campo gasolina do Chevette normal, eram nível do tanque de com-
de Provas da Cruz Alta já em 1974 mas com uma mudança: taxa bustível, temperatura do líqui-
tinham Chevette “GP” protótipos de compressão aumentada do de arrefecimento, vacuô-
equipados com o motor de quatro para 8,5:1. Com isso, e infelizmen- 40 EIS, taxa de 8,7:1, coletor de es- metro (depressão no carburador),
cilindros e 2,5 litros do Opala. te mantendo o mesmo carburador cape especial tubular e 84 cv SAE e voltímetro para monitorar carga
Com este motor, o Chevettinho se de corpo simples, eram 72 cv SAE brutos a 5.800 rpm. E mais: volan- da bateria. O hodômetro era total,
movia de forma muito semelhante (brutos) a 5.800 rpm, e 10,8 kgfm a te exclusivo, console com quatro no velocímetro; nada de hodômetro
a um Opala de seis cilindros, mas 3.800 rpm (SAE brutos). A GM reco- instrumentos, painel exclusivo com parcial aqui, esse luxo decadente.
ainda assim era ágil e leve como mendava usar pelo menos 20% de conta-giros, e uma carroceria Tar- As rodas foram reduzidas para
um Chevette. O Opala seis-cilin- gasolina azul, mais cara e de maior ga, cópia do Kadett Aero alemão. 5,5 polegadas de largura para cal-
dros era a epítome do carro veloz e octanagem. Era ligeiramente mais A revista Quatro Rodas testou um çar pneus radiais Goodyear Grand
rápido de então; o Chevette GP 2.5 como uma promoção no GP do letras GP, e uma grande faixa pre- esperto que o Chevette normal. carro desses que, mesmo muito mo- Prix S70, 175/70 R13, também com
tinha um potencial enorme. Esta é Brasil de 1976, evento que patro- ta contínua em cima, no capô e A Envemo oferecia mais para dificado, ainda pesava apenas 898 letras brancas e sobrearo. Mas
uma das oportunidades perdidas cinava. Era um carro muito boni- porta-malas. Pneus diagonais mais quem quisesse personalizar seu kg e acelerava de zero a 100 km/h nem mais maior taxa de compres-
mais tristes da indústria nacional, to, principalmente no amarelo de largos com letras brancas (Firesto- carro individualmente fora da fá- em 15,17 segundos, quase chegando são era oferecida: com a dificulda-
pois era uma alteração fácil de se lançamento, carro que serviu de ne Mini Sport) calçados nas rodas brica, mas com engenharia e cui- aos150 km/h; o que traduzindo para de de se obter a gasolina azul, a
fazer na época. Mas, pelo jeito, não transporte pessoal para os pilo- pretas de seis polegadas de largu- dado: seu motor de Chevette mais o mundo real (a revista era conser- GM resolveu reverter o carro para
era para acontecer. tos de Fórmula 1. Faixas pretas na ra com sobrearo plástico cromado, forte era 1.6 (82 x 74,2 mm, 1567 vadora nos números) significa algo ficar mecanicamente idêntico ao
O Chevette GP acabou lançado parte inferior das laterais com as e molduras de janelas também pre- cm³) com dupla carburação Solex em torno de 13 segundos e 160 km/h. Chevette comportado.

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filetes decorativos foram aplicados
A GM resolveu usar as rodas mais largas do GP para fazer uma versão especial limita- nas laterais, caixas de rodas e lan-
da. É a primeira série especial do Chevette, é também a mais rara de todas: o Chevet- ternas traseiras. As rodas tinham
te País Tropical. Lançada em 1976 e vendida somente entre janeiro e junho daquele sobrearos. O Chevette SL também
ano, ela teve pouquíssimas unidades produzidas e menos ainda sobreviventes. podia sair de fábrica com cores me-
A versão era voltada ao público jovem e inspirada pelo relançamento de “País tálicas oferecidas para a linha Che-
Tropical” de Jorge Ben, naquele mesmo 1976. A versão se diferenciava das demais vrolet em 1976.
pela decoração mais despojada, com faixas adesivas nas laterais, rodas de aço mais Em 1977, antes de aparecer a nova
largas com pneus maiores, pintadas e sem calotas, retrovisor esportivo (também geração do Chevette, mais uma
o mesmo do GP) e um toca-fitas AM/FM da Nissei, novidade na época, com ligação mudança: o motor recebeu novo
estereofônica, que acompanhava uma cassette do álbum “Tropical” de Jorge Ben. comando de válvulas, e ajustes na
É a primeira vez que a GMB ofereceu um tocador de cassette em sua história. carburação e ignição, visando um
As rodas e faixas também variavam de acordo com a cor da carroceria: no car- ganho em consumo de combustível
ro bege Copacabana as faixas e rodas eram laranja bronze — e nos carros laranja da ordem de 10%; o seu novo con-
bronze as rodas e faixas eram o inverso, bege Copacabana. No carro verde Ouro as corrente, o ultramoderno e econô-
rodas e faixas eram cinza, nos carros azul clássico as rodas e faixas eram brancas, mico Fiat 147 exigia isso. Esse mo-
nos carros preto formal as rodas e faixas eram prateadas e nos carros branco Eve- tor alterado foi chamado 1400-E, o
rest as rodas e faixas eram pretas. “E”, claro, de Economia. O painel de
Estima-se que menos de 2.000 unidades tenham sido produzidas, o que por si o instrumentos do Chevette também
tornaria raríssimo. Mas é mais raro que isso: o País Tropical, por se diferenciar ape- era novo, uma prévia do facelift de
nas por itens estéticos, era um carro fácil de ser descaracterizado. A única forma 1978 que viria em seguida.
de descobrir que é um original (o VIN não é diferente) é por meio do recorte dos O Chevette era um sucesso com
alto-falantes. Como era o único Chevette com som estéreo de fábrica, ele tinha a quatro anos no mercado, mas iria
base metálica do tampão traseiro recortado de fábrica, estampado e depois pinta- receber atualizações e investi-
do com o carro, para os dois alto-falantes, assim como as grades de proteção dos A evolução mecânica era 7,8:1, e ajustes na carburação mentos importantes em seguida;
cones dos alto falantes, que eram exclusivas do modelo. A partir de 1974, o câmbio passou acompanharam a mudança. o objetivo final, se tornar o carro
a ser nacional sem o anel/trava Em 1975 aparecia o Chevette Es- mais vendido no Brasil, ainda não

País Tropical: de ré; os freios a disco dianteiros


eram de série; a panela do filtro
pecial, que em Chevroletês de 1975
significa “o mais barato e menos
tinha sido atingido.
O Chevette Tubarão, de 1974 a

o primeiro especial
de ar foi redesenhada, fechan- equipado deles”. Em 1976 apare- 1977, é sem dúvida nenhuma, ob-
do a configuração conhecida do cia o seu oposto: a versão de aca- servado com o benefício do tempo
Chevette. Apenas 31.703 Chevet- bamento aprimorada, a SL, Super que passou, o mais bonito deles;
te foram feitos em 1973, contra Luxo. Nele os bancos dianteiros um carro de linhas limpas, propor-
75.207 em 1974, o que faz os 1973 tinham encostos altos e eram re- cionais, simples, belas e com um
raros. Em 1974, problemas iniciais vestidos em veludo cotelê. O reves- quê de agressividade, que nunca
de durabilidade de comandos de timento termoacústico foi melhora- mais foi atingida novamente en-
válvula também foram sanados. do e o assoalho, em vez do tapete tre os Chevette. Mas como carro,
Em 1976 a taxa aumentava ligei- era acarpetado. Por fora molduras a história do Chevette nem de lon-
ramente, com ligeiro aumento da metálicas externas dos vidros eram ge chagava ao fim; ainda evoluiria
qualidade do combustível: agora de alumínio anodizado. Além disso, muito, por muito tempo.

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De cara nova
estilização: a frente era claramen-
te inspirada nos Chevette america-
nos até 1978 (o americano recebeu
uma extensa reestilização para o
ano/modelo 1979, ao final de 1978.
A traseira continuava igual, mas na
A história da primeira grande reestilização do Chevette brasileiro, que acon- xhall Chevette era lançado na In- frente era tudo diferente, com uma
teceu em 1978, tem duas origens distintas e exige que revisitemos algumas glaterra. Era também totalmente grade dupla que imediatamente
variações regionais do T-car, a plataforma que deu origem ao Chevette. diferente, até mais que no caso in- transformou esta geração de Che-
Como já contamos, o desenvolvimento do T-Car começou em 1970, glês: nenhuma painel do Chevette vette nos “Pontiac”, ainda que não
quando representantes das várias divisões da GM se reuniram em De- americano era igual aos dos seus tivesse nada a ver com eles: lem-
troit para estabelecer um briefing. O plano era usar um assoalho único irmãos internacionais. Os ameri- brava o Trans-Am somente.
do carro em todo o mundo, o que, por sua vez, significava um layout de canos usaram o motor Opel que Dentro, o painel já lançado em
suspensão padronizado, bem como configuração de transmissão. A po- não foi usado pela Opel; o mes- 1977; mas o volante era novo, de
lítica da GM na época era firmemente motor dianteiro/tração traseira, o mo do nosso Chevette, apenas quatro raios, criado para absorver
que ditou o desenho do T-Car. com versão 1.6 desde o começo, O Chevette americano energia em impactos frontais. Os
Apesar de suas ambições mundiais para o carro, o trabalho de design e amordaçado pelas normas anti- bancos também tinham desenho
foi em grande parte confiado a uma única divisão e, na realidade, isso poluição americanas. e revestimento renovados. O novo
significava a Opel na Alemanha, com contribuições de outras divisões de Esteticamente, porém, o Chevet- xhall com cabeçote especial com era muito diferente de hoje: carros Chevette veio com três versões re-
acordo com suas necessidades. te americano era mais parecido comando duplo e quatro válvulas de quatro portas quase nunca eram gulares — Chevette, Chevette L e
A Vauxhall fez lobby para que uma versão hatch, de três portas fosse com o Chevette Inglês. Hatchback, por cilindro, 2300 cm3 particulares. Tinham fama de carro Chevette SL — e uma esportiva GP,
incluída no programa e, como resultado, acabou sendo responsável pelo e com a frente parecida; a diferen- e 137 cv (e 250 cv com pouquís- de praça, ou carro oficial; os carros também renovada.
desenvolvimento desta versão. Apesar da ideia de padronizar o asso- ça era que duas grades eram usa- sima preparação), os Chevette HS ditos “de passeio” tinham que ter O novo GP era de novo um car-
alho, os engenheiros britânicos cortaram impiedosamente 280 mm da das no nariz, parecidas com a de e HSR são os mais reverenciados duas portas. Mesmo assim, a GM, rinho bonito e agressivo, mas, me-
traseira, adicionando uma abertura traseira tipo hatchback e uma tra- um Pontiac Firebird Trans AM. pelo mundo. mirando primeiro em exportações canicamente, idêntico a qualquer
vessa de seção em caixa sob os assentos traseiros para restaurar a rigi- O Vauxhall Chevette seria o me- A carroceria Hatch era para ser (América do Sul, principalmente outro Chevette, infelizmente. O
dez perdida na “traseirotomia”. A Vauxhall queria um carro ainda menor nos interessante membro da famí- apenas mais barata e menor, além Venezuela), frotistas e taxis, resol- painel tinha os
e mais simples que o T-car normal. lia T se não fosse a versão de rali: de prática; na Alemanha era o Ka- veu lançar também o Chevette qua- mesmos instrumentos no console
O estilo do Vauxhall Chevette também diferente dos outros: um dese- equipada com um slant-4 da Vau- dett City, barato e simples. Acabou tro-portas por aqui. e principais do GP II anterior, mas
nho de Ed Taylor da Vauxhall, que deu ao carro seu estilo a famosa em versões de alto de- Além da versão de quatro portas, com grafias próprias. Ao lado dos
característico sem grade que lembra o Vauxhall Firenza. O Vauxhall Chevette sempenho; logo teríamos uma de- a outra principal novidade era a re- instrumentos principais estava um
O resultado foi um carro de aparência moderna muito las aqui no Brasil também.
diferente do Kadett ou Chevrolet, embora Taylor tenha
sido limitado por ter que manter as portas, o pára-brisas
e e outros detalhes da plataforma comum. Usando um O Chevette “Pontiac”
motor OHV de 1,3 litro, o Chevette da Vauxhall carro se-
ria produzido em uma nova fábrica criada só para ele: no Brasil
Ellesmere Port, criada com ajuda do governo para gerar Em 1977, novas versões de carro-
empregos na região. ceria estavam nos planos para os
Os americanos entraram no projeto tarde, depois do novos Chevette: uma perua, um ha-
fracasso do seu Vega; a sua versão do T-car chegaria tchback duas portas e um sedã de
no mercado americano ao mesmo tempo que o Vau- quatro portas. O Brasil de 1977/1978

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O ano de 1980 mostrava a contí-
nua injeção de dinheiro no carro
pequeno pela GM, que tentava
alçá-lo ao posto de carro mais
vendido, sem sucesso. A traseira
em 1980 foi renovada com lan-
ternas envolventes, e um motor
1.4 a álcool foi oferecido pela
primeira vez no carro.
O motor a álcool vinha com mais
taxa de compressão, agora 10,5:1,
e carburador duplo progressivo;
mesmo assim o ganho de potência crível Hatch” brincava com a série barato dos Chevette, mais pesado
foi irrisório: apenas 1 cv, levando o de TV do Incrível Hulk, que mesmo que o sedã: 864 kg vs 890 kg.
1.4 para 69 cv SAE brutos a 5.800 contando apenas com o ator e hal- Logo em seguida, ao fim de 1980
rpm, e torque de 10,1 kgfm a 3.600 terofilista Lou Ferrigno pintado de como ano/modelo 1981, chegava
rpm; claramente regulado para verde como Hulk, era imenso su- finalmente a perua Marajó. Am-
economia de combustível, como cesso. Nas propagandas, claro, o bos os novos modelos do Chevette
sempre. O carburador era bicro- Chevette Hatch era sempre verde. não foram exatamente um suces-
matizado, o tanque revestido em O Hatch era 210 mm mais curto so, mas têm uma multidão de fãs.
estanho, os tubos eram em PVC, que o sedã, mas compensava com Com o ano/modelo 1981, também,
e a bomba era bicromatizada. Não a versatilidade do assento trasei- os faróis deixavam de ser circula-
era uma versão muito feliz: demo- ro rebatível e a traseira hatchba- res para ser quadrados. Uma em-
rava muito a esquentar, e o funcio- ck, que se abria levantando o vigia breagem eletromagnética para o
namento não era dos melhores. junto da tampa. Estranhamente, ventilador do radiador também
Mas 1980 marca também o lan- os reforços estruturais e a tampa era opcional em 1981, e rodas de
çamento do hatchback no Brasil. traseira grande faziam o hatch, liga leve de aro 13 pela primeira
A campanha era inteligente: “O in- supostamente o mais simples e vez eram oferecidas no Chevette.

OS ANOS 1980:
a década do Chevette
logotipo GP, e o volante tinha um ano um carburador duplo passa- Diante dessa tendência indu-
centro exclusivo. va a ser opcional, ainda que es- mentária jovem, a Chevrolet pegou
Por fora, o novo GP tinha novo tranhamente, não resultasse em o Chevette L 1979, trocou o tecido
grafismo: o capô era preto e ti- maior potência declarada. cotelê dos bancos por um revesti-
nha faróis de neblina integrados à Em 1979 também aparecia um mento jeans — com bolsos e tudo.
grade; as janelas tinham molduras Chevette deveras famoso: o Jeans. O tecido fibroso está nos bancos
pretas e o logotipo GP preto apa- Era uma série limitada especial, e nas portas, que também tem um
recia nas laterais do porta-malas. voltada ao público jovem, e apelou bolso semelhante aos bolsos tra-
Durou até 1979, quando o estilo da à moda da época para atrair esse seiros das calças.
GM do Brasil já preparava um novo público: o blue jeans. As calças je- A personalização continuava
esportivo, que se chamaria S/R. ans não eram exatamente popula- com os para-choques que troca-
Para 1979, também, além da res no Brasil antes da segunda me- vam o cromado pelo preto fosco, e
versão de quatro portas, apare- tade dos anos 1970; foi justamente nos adesivos “JEANS” nas laterais.
cia uma opção de acabamento nesta época que elas começaram Só isso. O restante era exatamen-
interno opcional nos SL que fica- a se popularizar por meio de mar- te igual ao Chevette L regular; as
ria famosa entre colecionadores: cas como Staroup, US Top além da únicas três cores oferecidas eram
a vinho, que o povo apelidou de clássica Lee — esta importada e branco Everest, prata inca e azul
Chateau (“Chatô”). Também neste bem mais cara. Iguaçu metálico.

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A Marajó, apesar de mais pesada, Em 1982, finalmente apare- para 1,6 litro e passava a ser
com 934 kg, era mais equilibrada: cia o motor de 1,6 litro para alimentado por dois carbu-
50,5% deste peso no eixo dianteiro, a linha Chevette. Estreou radores Weber duplos!
e 49,5% no eixo traseiro. Com isso, inicialmente no novo espor- O carro era claramente
o comportamento era mais neutro. tivo da linha, o hatchback inspirado em outro Chevette
O maior peso melhorava a relação S/R, mas estava disponível conceitual da época: o Vau-
massa suspensa/não suspensa do como opcional em toda a li- xhall Chevette HS Black Ma-
eixo traseiro pesado, melhorando o nha; a maioria das pessoas gic, criado por Wayne Cherry
conforto também. Era uma perua re- não sabia disso na época, no estúdio de design da Vau-
almente deliciosa; o que fez a revista acreditando que o motor xhall em Luton, Inglaterra. O
Motor 3 dizer: maior ia só no esportivo. nosso era um sedã; o inglês
“O ponto de maior destaque na Ma- Os ventos da mudança co- um hatch. Mas eram quase
rajó sem dúvida é sua estabilidade. O meçaram a soprar quando a idênticos em aparência.
trabalho de recalibragem executado nova revista Motor 3 mostrou, logo em sua segunda Em 1981 aparecia o S/R fabricado em série. Não tinha
nas molas e amortecedores da sus- edição, em 1980, um Chevette diferente na capa. De dois Weber duplos, mas de resto, perdeu-se pouco: o mo-
pensão traseira, com a finalidade de alguma forma a revista arrancou das entranhas do tor tinha 1,6 litro, e, incrível, a pintura exótica em vários
suportar mais peso, contribuiu tam- jovem estúdio de design da GM brasileira, hoje encer- tons de preto e prata ainda estava lá! Na verdade, podia
bém para conferir um comportamento rado, um sedã especial chamado S/R. Grade fechada, se escolher preto (com degradê até o prata) ou prata
excepcional à perua pequena da GM rodas de alumínio de desenho original, spoiler, saias e (com degradê até o preto). E era um hatchback agora.
do Brasil em todos os tipos de curvas. uma pintura incrível: o preto predominante ia se tor- O motor aumentava a cilindrada por meio de aumen-
Durante nosso período de verificações nando prata, num degradê que começava na altura to de curso: media agora 82 x 75,7 mm, para um total
levamos a Marajó à pista de Interlagos, das caixas de roda. Ao olhar dentro da revista, a gen- de 1.599 cm3. O carburador era de duplo corpo esta-
onde tivemos oportunidade de ana- te aprendia que também tinha um motor aumentado giado, e com a mesma taxa baixa de 7,8:1 não era exa-
lisar detidamente suas reações nas
tomadas de alta velocidade do anel ex-
terno e nas de média e baixa do miolo.
E em todas a perua mostrou nível de
Um motor maior e o
aderência dos mais elevados, com um
comportamento praticamente neutro,
frente e traseira muito obedientes aos
comandos de volante e acelerador.”
Além desta distribuição de peso
novo esportivo
acertada e estabilidade exemplar, a
Marajó também, claro, era uma pe-
rua, com carga máxima admissível
de 450 kg, e uma grande capacida-
de de carga em volume, chegando
aos 1.510 litros com o banco traseiro
abaixado, e 796 litros com ele levan-
tado. O tanque de 62 litros era uma
grande vantagem numa época que
os postos eram obrigados a fechar
no fim de semana, pois proporciona-
va uma autonomia de até 900 km.
Um opcional raríssimo, mas que
dali em diante sempre estaria dispo-
nível para o Chevette, era o ar-con-
dicionado. Naquela época, pouca
gente achou necessário: aumentava
o consumo, era o papo frequente a
respeito dele. O mundo, realmente
mudou muito desde então.

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tamente um furacão de potência, duas: preto formal e dourado cara- havia dúvida. Mas, prestes a com-
mas já era bem melhor: 80 cv SAE melo. Era de muito bom gosto: to- pletar dez anos no Brasil, em 1982,
brutos a 5.800 rpm, e 11,6 kgfm a talmente desprovido de cromados, ainda não tinha atingido o objeti-
3.600 rpm. O motor 1.6 era exclusi- era praticamente um S/R sedã, mais vo para o qual fora criado, tentos
vamente a gasolina. sóbrio. Nos dois carros as maçane- anos antes: se tornar o carro mais
Por dentro, o Chevette S/R tinha tas eram pretas, assim como os re- vendido do Brasil. A GM do Brasil
volante de quatro raios com desenho trovisores. Não havia filete nas bor- não descansaria até atingir este
especial (o mesmo do GP 78/79), rachas dos vidros e até mesmo os objetivo, e já acontecia, dentro da
bancos com encosto de cabeça in- parafusos de rodas eram pintados empresa, um enorme ciclo de in-
tegrado e maior apoio. No painel, de preto. Não se sabe exatamente vestimentos no Chevette.
velocímetro, vacuômetro no centro, quantas unidades foram produzi- O Brasil era totalmente fechado
e conta-giros na direita; no console, das, mas desta vez eles eram identi- a importações; o mercado restrito
que era novo com os quatro instru- ficados pela plaqueta, com numera- limitava volume e, como conse-
mentos extras agora enfileirados, ção exclusiva da versão. Ainda que quência, o investimento em no-
estavam, posicionados da esquerda sejam descaracterizados, portanto, vos modelos. O Chevette, porém,
para a direita: relógio analógico, ter- eles podem ser identificados pelo continuava competitivo. E estava
mômetro do fluido de arrefecimen- número do chassi e pelo nome na prestes a se tornar mais que isso:
to, nível do tanque de combustível, documentação do carro. ia ser uma proposta irresistível no
e voltímetro. Comparado com o GP O Chevette era um sucesso, não restante da década.
era mais lógico: o relógio saiu do
painel para o console, trocando de
lugar com o vacuômetro. O tecido
dos bancos era cinza e preto, bonito
e moderno. As rodas podiam ser op-
cionalmente de liga leve.
As peças do S/R acabam fazendo
nascer mais uma série especial fa-
mosa do Chevette: o Ouro Preto, de
1982. O motor 1.6 com carburador
de corpo duplo e 80 cv, o volante e o
quadro de instrumentos, tudo vinha
do S/R. Os grafismos dos instrumen-
tos, porém, eram exclusivos do Ouro
Preto. Quem também era empresta-
do do S/R era o para-choque dian-
teiro e o spoiler inferior da dianteira.
Mas o Ouro Preto era sempre sedã.
A oferta de cores era limitada a

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dade e vontade seu carro barato, podiam ter o Monza; o Chevette um novo painel de instrumentos
manteve suas qualidades (robus- rapidamente se tornou uma boa mais moderno, de plástico. O vo-
tez, durabilidade, economia, valor segunda opção. lante era em V invertido, mania
de revenda) e resolveu seus pro- A frente era toda nova, parala- dos anos 1980; numa tentativa de
blemas: o Chevette agora era mais mas, capô, faróis, para-choque e acabar com o estigma do “volan-
veloz, ainda mais econômico, mais grade. O para-choque recebia polai- te torto”, ele estava agora reto na
confortável e, para os olhos de nas laterais de plástico preto, então frente do motorista. Mas só para-
1983, um belo carro. em voga. Nas portas uma incrível do: ao girá-lo se percebia que ele
novidade: quebra-ventos! Parte da foi endireitado só no volante, e não
Mais que uma imprensa dizia que quebra-ventos na coluna, o que ao girar dava uma
eram algo retrógrado por estarem sensação estranha.
cara nova em extinção na Europa e nos EUA; Além da nova aparência, muito
O que chamava atenção de todos aqui era extremamente útil, e o mudava no Chevette para 1983.
a partir de outubro de 1982, quan- povo adorou. Na traseira, também Alguns detalhes do que viria foram
do o novo Chevette ano/modelo movas lanternas e tampa do porta- discretamente introduzidos como
1983 foi apresentado, era como a -malas, e para-choque no mesmo opcionais já durante 1982: o motor
aparência do carro mudara. Visto tema do dianteiro. Molduras de 1,6 litro a gasolina, que em sua la-
de hoje, não é tão amado como os janelas em preto e novos frisos e teral direita vinha com o bloco mo-
de primeira geração, mas em 1983, logotipos completavam o carro; o dificado para receber o suporte do
todo mundo adorou. Era moder- “1.6 álcool” na traseira deixou todo compressor do ar-condicionado; a
no, diferente, e parecia totalmen- mundo contente na época. ignição eletrônica; e o câmbio de
te novo; obviamente inspirado no Dentro, tudo novo no mesmo cinco marchas também teorica-
novo Chevrolet Monza lançado habitáculo: bancos diferentes, fei- mente ficou disponível em 1982,
quase na mesma época. Poucos tos de espuma, painéis de porta e embora raríssimo.
Mas o pacote que foi lançado
com o “novo” Chevette de 1983
era maior. O novo câmbio de cinco

Enfim o topo
marchas adicionava uma 5ª over-
drive, com relação 0,840:1, acima
da 4ª marcha direta (1:1) no câmbio
do Chevette. O radiador agora era
selado com reservatório de expan-
Um carro com dez anos é, sem dú- americana; produtos em mercados a liderança de forma incontestável; são; era uma peça menor e mais
vida, nenhuma um anacronismo de abertos e competitivos, mas que, ainda que por pouco tempo. leve, mas mais eficiente, de alumí-
um mercado fechado. Mas nenhum desenvolvidos pacientemente por Em 1981, o novo VW pequeno era nio com topo em plástico injetado.
carro sobrevive tanto tempo sem ca- décadas, se mantém atraentes. o Gol; um carro moderníssimo e Mas a maior novidade mesmo eram
racterísticas desejáveis bem claras. Assim decidiu a GM no início dos excelente, mas naquele ponto de os novos motores 1.6, diferentes do
Ao final de 1982, a Brasília, o Mave- anos 1980. Embora gastasse uma sua história ainda era refrigera- motor 1.6 de 1982, e ao mesmo tem-
rick, o Dodge 1800/Polara já eram fortuna em novos projetos que a do a ar com motor de Fusca. Gol, po mais fortes e mais econômicos.
todos produtos claramente do pas- fariam tecnologicamente no nível Brasília e Fusca mostravam sinais O mais popular seria a ver-
sado, desaparecendo por completo; mundial, como foi o Monza de mo- de cansaço do velho propulsor VW são a álcool: agora finalmente o
o seu contemporâneo Chevette es- tor transversal e tração dianteira, criado originalmente em 1938. A
tava pronto para, com algum investi- no seu topo de linha mantinha os Fiat tinha o moderníssimo 147, um
mento, durar mais dez anos. Opala desejáveis com constantes carro excelente, mas com sérios e
O tal “anacronismo de um mer- atualizações; na faixa dos carros contínuos problemas de qualidade
cado fechado” é só para amantes baratos realizaria um grande inves- inicial e durabilidade que o impe-
do novo como símbolo de progres- timento para reprojetar o Chevette, diam de fazer sucesso; seus mo-
so; na verdade carros com uma e assim tentar finalmente chegar a tores eram modernos, mas excep-
engenharia básica bem-feita po- um objetivo antigo: fazer do carri- cionalmente pequenos: 1,050 cm³
dem permanecer competitivos por nho o mais vendido no Brasil. e 1.300 cm³, quando todo mundo,
décadas se o investimento neles Em 1983 apareceu um novo Che- em breve, estaria nos 1.600 cm³.
não cessar. Sim, dinheiro precisa vette. Embora ainda fosse o mes- A Ford não concorria no mercado
ser gasto para mantê-los competi- mo carro, com o mesmo motor, a de carros pequenos, e mesmo seu
tivos. Mas evolução é um caminho mesma estrutura, e personalidade moderno Escort, no futuro próxi-
interessantíssimo também, mesmo intacta, seria outro carro completa- mo, seria simplesmente caro de-
que a revolução seja necessária mente diferente. Elevaria o nível de mais para mesmo ser mencionado.
de tempos em tempos. Veja um qualidade e desempenho esperado A GM aqui foi extremamente in-
Porsche 911, um VW, uma picape nos carros mais baratos, e tomaria teligente: atualizando com habili-

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do carro, cada um. Toda carroce- maior da população. de 500 kg. Ela não foi a primeira
ria podia recebê-los — até mesmo E mais: como eram monobloco, picape Chevette do mundo. Mas
a picape Chevy 500, depois de seu e derivadas de automóveis mo- era diferente das outras, a que
lançamento em 1984, claro. Per- dernos de tração dianteira, eram duraria mais, e foi projetada aqui
maneceriam disponíveis sob enco- secretamente mais eficientes e no Brasil, para o nosso mercado.
menda, mas são raríssimos os Che- melhores que as de chassi sepa- Na Europa, existia a Bedford
vette com eles de fábrica. rado, grandes. Sua capacidade Chevenne desde 1976; um Che-
Os motores 1.4 não durariam mui- de carga (em relação a seu peso vette inglês de carga, mas que
to mais: a revista Motor 3 mostrou total), seu controle de carroceria era uma Van, uma “Marajó” sem
que, mesmo com o câmbio de cinco em movimento, seu conforto e vidros ou bancos traseiros. Exis-
marchas, eles não eram muito mais tiu também a picape Grummet no
econômicos que os 1.6, e a diferen- Uruguai, e uma picape Saehan de-
ça de preço era baixa. Morreram rivada do Chevette na Coreia do
pela falta de pedidos. Sul. A nossa Chevy 500 não foi a
Mas em 1983 algo inacreditável primeira, mas certamente era a
aconteceu: pela primeira vez des- versão mais bem-resolvida de to-
de 1963, quando tinha assumido das essas. Picapes eram extrema-
a liderança de vendas no Brasil, mente populares aqui como carros
o Fusca perdia sua posição de lí- de passeio mesmo.
der absoluto. Com 66.714 unida- A Chevy 500 era uma opção di-
des vendidas contra 64.783 do ferente para o mercado brasileiro:
Volkswagen, o Chevette se torna- diferentemente de todas as outras
va o carro mais vendido do país. picapinhas derivadas de automó-
Chevette tinha um motor a ál- vel, tinha tração traseira. O que
cool de funcionamento decen- Chevy 500 trazia uma série de vantagens e
te e similar ao a gasolina, com Picapes derivadas de automóvel desvantagens, claro. Mas o incrí-
aquecimento rápido e funcio- sempre existiram; o Ford modelo vel é como uma parte da imprensa
nalidade normal, depois do fra- T de 1908 já tinha uma famosa brasileira tratou destas vantagens
cassado 1.4 a álcool da geração versão picape, e mesmo nos anos e desvantagens na época: criou
anterior. A potência agora era declarada ricano antigo de se fazer automó- 1950/1960, quando houve uma “fatos” equivocados sobre a tra-
O motor continuava com diâme- em cavalos-vapor de acordo com veis: com milhares de opções que separação aparente de picape e ção traseira e dianteira que, vistas
tro e curso de 82 x 75,7 mm (1.599 as normas da ABNT — potência podiam ser solicitadas individual- automóvel, ainda existiam mun- de hoje, beiram o inacreditável.
cm3), mas pistões diferentes da- líquida, método usado até hoje; a mente. O Chevette podia vir com do afora, como por exemplo nos Primeiro, para que se entenda a
vam uma taxa agora de 12:1 a ál- diferença em relação aos motores motor 1.4 e quatro marchas mesmo Mini pick-up e nas Chevrolet El gafe, vamos falar da realidade da
cool, e subia também para 8,5:1 anteriores é, portanto, difícil de na versão SL topo de linha; podia Camino americanas. tração dianteira e traseira em pi-
nos motores a gasolina. Os cabe- mensurar. Mas o novo 1.6 a álcool se solicitar o 1.4 com cinco mar- Com a crise do petróleo nos capes. Picapes têm duas situações
çotes eram diferentes: os dutos produzia 72 cv a 5.600 rpm e 12,3 chas também. Podia-se encomen- anos 1970 em diante, tomaram for- de carregamento extremamen-
de admissão obrigavam a mistura kgfm a 3.200 rpm, e era sensivel- dar o ar-condicionado de fábrica, ça opções mais interessantes: as te diferentes: vazia e carregada.
a percorrer um trajeto espiralado mente melhor em desempenho ainda que só no motor 1.6; o 1.4 se minipicapes monobloco derivadas Quando vazia, a maioria do peso
em torno da válvula de admissão, geral que qualquer Chevette que considerou fraco demais para isso. de automóveis. Entre 1977 e 1978 estabilidade, e seu espaço inter- está sobre o eixo dianteiro, melho-
aumentando turbulência. Entran- veio antes dele. O motor a gaso- Em 1984, aparecia o câmbio au- aparecem a Fiat Fiorino, a Subaru no eram todos exponencialmente rando a situação de tração e com-
do na câmara então mais homo- lina 1.6 produzia 69 cv a 5.600 tomático de três marchas opcional; BRAT e a VW Caddy (derivada do melhores. portamento para tração dianteira.
gênea e com mais velocidade, fa- rpm, e 11,8 kgfm a 3.200 rpm, e uma caixa importada da Holden Golf), no exterior. A picapinha Fiat Depois da Fiat apareceram por Carregada, a situação se inverte,
vorecia uma queima mais rápida. o 1.4 a gasolina, ainda disponível, australiana. O ar-condicionado e o veio para o Brasil também, inau- aqui a Ford Pampa e a VW Savei- e a vantagem é da tração traseira.
Com isso, tinha tendência menor entregava 60 cv a 5.400 rpm e câmbio automático eram opcionais gurando o segmento por aqui. No ro; a picape Chevette foi a última Qual é o melhor então? Não há
à detonação, o que permitiu au- 9,2 kgfm a 3.600 rpm. independentes, podendo ser pedi- Brasil, deste ponto em diante fo- a aparecer, em 1984: a Chevy um definitivo. Picapes não são ve-
mento de taxa. O carburador era A GM do Brasil nos anos 1980 foi dos individualmente, e custavam ram um enorme sucesso, fazendo 500. O “500” aqui é alusão à ca- ículos de carga tradicionais, que
sempre de corpo simples. o último suspiro do método ame- algo em torno de 35% do preço a picape acessível para uma fatia pacidade de carga, claro, próxima sempre andam totalmente carre-

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gados. Imagine um carro de pas- tremos, freio de mão). Permite uma limpeza de linhas da traseira é algo
seio com caçamba para uso even- direção mais precisa e livre do tor- para se parabenizar o Departamen-
tual: a maioria das picapes passa que aplicado pela tração; vantagens to de Estilo da GM. Realmente tudo
a vida assim. É descarregada, ou que já existiam no Chevette, agora bem-feitinho, lanternas, letreiros e
com uma carga parcial longe do transplantadas para sua picape. trinco, sem contar, é lógico, com o
máximo admitido. Disse a revista Motor 3 na épo- para-choque muito bem-acabado
E mesmo que a carga fosse má- ca: “Desde já, conhecedores dos e a placa de licença sob o mesmo.
xima o tempo todo, tração dian- invejáveis dotes de estabilidade O assoalho da área de carga está
teira ainda assim não é impos- da linha Chevette e apoiados pela muito bem protegido com as ripas
sível: vejam os furgões de carga tração traseira da Chevy 500, co- de madeira envernizada; as bordas
modernos, a maioria tem tração meçamos a imaginar uma versão também, com um borrachão muito
dianteira. A Citroën mostrou bastante esportiva e incrementa- bem instalado.” – disse ele.
como fazer isso já antes da guer- da.” Todo mundo pensou o mesmo, A Chevy 500 permaneceria viva
ra: basta colocar o eixo traseiro e continua pensando até hoje. por mais tempo que o Chevette
lá no fim do carro, e se possível Nas medições da reportagem de em si, até 1994 no mercado nacio-
uma atitude de frente mais baixa lançamento pela Motor 3, a Chevy nal, e 1995 para exportação.
descarregado. Execução é tudo, 500 a álcool acelerou do zero aos De 1984 a 1986, o carro mais
como mostra a Pampa, a prefe- 100 km/h em 13,5 segundos e che- vendido do Brasil seria o Monza;
rida até hoje para carregar peso gou a 152 km/h (sem a cobertura mostra de tempos difíceis onde
apesar da tração dianteira: tinha de caçamba, que influencia muito tudo passou a ficar caro e um carro 1987 fora o aparecimento em 1984
entre-eixos maior que o da Belina, aqui). Celso Lamas, o designer, fa- médio vendeu mais que os bara- de uma série especial “Silver Line”
motor longitudinal, feixe de mola zia avaliações de estilo para a re- tos. A linha Chevette permaneceria baseada no básico L. Mas em 1987 o
atrás, e atitude de frente baixa. vista, gostou da picape também: “A praticamente sem alterações até Chevette ainda estava longe do fim;
Mas uma coisa é certa: tração ia receber ainda mais uma atualiza-
traseira sem carga em picapes é ção importante.
uma traseira leve, que faz tração
em terrenos de baixo atrito um A reta final
problema. Isso não acontece com Ao redor de 1987 o Chevette re-
tração dianteira. Por outro lado, almente já mostrava sinais de
carga total e terreno de baixo atri- sua idade avançada; afinal eram
to, e subida acentuada, o problema quase 15 anos no mercado. Prin-
está nas picapes de tração diantei- cipalmente sua mecânica parecia
ra. Essa é a realidade. ultrapassada frente aos VW AP, e
Mas a tração traseira é preferida aos Fiat 1.5 e 1.6, mais potentes e
por entusiastas também: permite suaves em funcionamento, sem
separar o controle do carro, diantei- pedir mais combustível em troca. por um ano. Isso fez os modelos de relógio digital. No volante, botão
ra por freios e direção, traseira com A tração traseira era uma maldi- 1987 um pouco diferentes, alguns de buzina novo, e nos SE, porta-cas-
acelerador (e, em alguns casos ex- ção e uma bênção ao mesmo tem- com as mudanças estéticas, porém sette no console.
po: os entusiastas adoravam, mas com o conjunto mecânico antigo. O mais raro dos Chevette SE de
eram poucos; outros achavam As alterações de estilo foram 1987 é o hatch: é o último ano do
um anacronismo. A maioria silen- menores: ainda era o mesmo car- modelo, descontinuado em segui-
ciosa, claro, nem ligava ou sabia ro lançado em 1983, mas grades, da. A Marajó continuaria até 1989,
onde ficava a tração. para-choques, frisos e decoração e o quatro-portas, embora teori-
Apesar disso tudo, ainda mais uma eram diferentes. O Chevette mais camente em linha sob encomenda
injeção de investimento pela GM tor- caro não era mais o SL; era o SE (ainda era exportado), é raríssimo
naria o carro competitivo, mais uma — uma maneira de driblar os tabe- por aqui. Existem carros 1987 bá-
vez, mesmo em um país que mudava lamentos de preço estatais da épo- sicos, agora com a sigla SL, mas
muito: em 1990 o mercado se abri- ca: criar uma versão nova. também são muito raros.
ria, e teríamos carros importados Dentro, os Chevette receberiam A mudança esperada dos moto-
por aqui. Uma conjunção de baixo novos bancos com encosto de ca- res ocorreu finalmente em 1988,
preço e mecânica robusta e barata, beça separados, e em espuma de ano em que também o SE morre e
porém daria ainda mais sobrevida poliuretano com apoio lateral mais vira SL/E. Uma nova roda de alu-
ao carrinho, que acabaria completa- pronunciado; é o melhor banco ori- mínio, hoje apelidada de “ralinho”
mente em 1995, apenas. ginal do Chevette, que iria até o apareceu em 1988 também, além
A última atualização técnica do fim da produção com acabamentos de diferentes padronagens de teci-
Chevette, os motores 1.6/S, deveria variados. No SE, eram de tecido de do. Mas o mais importante aqui era
ter aparecido junto com a reestili- qualidade, e o painel de instrumento o novo motor.
zação de 1987, mas acabou adiada tinha instrumentos quadrados, além O novo 1.6/S se beneficiaria de

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JUNIOR
C H E V E T T E

novas técnicas de engenharia, e gura melhor o motorista, com este em 12,65 segundos, e atingiu 168
era totalmente revisitado em to- novo motor 1.6/S a álcool de 81 cv, km/h com ele. Um desempenho,
das as suas peças. Bielas, pistões e temos os Chevette mais interes- nos dois casos, quase igual aos
anéis eram novos, mais leves, e com santes de fábrica. Andavam junto Gol/Voyage 1.6 litro.
tolerâncias mais apertadas, o que com os VW AP, sempre considera- Era finalmente um carrinho ágil
faziam o motor bem mais civilizado dos “muito mais potentes” que os e veloz, e com a estabilidade de
do que jamais tinha sido até ali. As Chevette, muito pelo desenho da sempre e bancos melhores, esta-
galerias de óleo foram redimensio- resposta do pedal do acelerador: a va apenas um volante de menor
nadas, e o sistema de lubrificação VW, inteligente, dá abertura gran- diâmetro longe da grandeza, coisa
revisto; o desenho das bronzinas de da borboleta no curso inicial; fácil de se resolver. Novo fôlego de
também mudou. O comando de vál- contrário do Chevette que, mes- vendas se seguiu, e em 1989, a ver-
vulas também era novo, assim como mo nestes modernos 1.6/S, ainda são básica SL a álcool era o carro
o coletor de admissão e o carbura- mantinha um curso enorme do pe- mais barato do Brasil. Mas essa po-
dor, que agora era de duplo corpo. dal, com grande abertura de bor- sição seria logo tomada pelo Fiat
Se não bastasse a melhoria de
suavidade de funcionamento, o
boleta só no finalzinho do curso.
A revista Quatro Rodas, cujos
Uno Mille; um lobby para criação
de uma categoria até 1.0 litro que
Simplificado e com leveza adicionada
aumento de potência foi conside- números de desempenho sempre catapultaria a Fiat a um sucesso
rável também: agora a álcool, com foram conservadores, testou um que ela nunca vira até então. A próxima evolução era clara: o Chevette precisava termos absolutos, não era um carro ruim: seu de-
a mesma taxa de 12:1, eram 81 cv sedã SL/E completo de 930 kg Em 1990, apenas novas rodas de uma versão 1.0 para competir com o Mille enquan- sempenho era idêntico ao do Mille. A Revista Oficina
a 5.200 rpm, e 12,8 kgfm a 3.200 em outubro de 1987, e fez o zero- aparecem: de aço e de alumínio, to o seu substituto, o Corsa, não chegasse. O motor Mecânica colocou os dois na casa de 21,5 segundos
rpm. O motor a gasolina, ainda -a-100 km/h em 13,09 segundos, ambas com novo desenho mais mo- do Chevette recebeu mais uma reformulação: dimi- na aceleração do zero aos 100 km/h e 140 km/h de
precisando de taxa baixa para in- a caminho de uma velocidade fi- derno, ainda em aro 13, tala de 5,5 nuiu diâmetro e curso para (76 x 55 mm) para chegar velocidade máxima. A Quatro Rodas indicou melhor
gerir a gasolina da época, resulta- nal de 154 km/h (numa reta cur- polegadas, e pneus radiais 175/70 a 998 cm³. O comando foi alterado, e o carburador aceleração de 0 a 100 km/h no Chevette que no Mille
va em apenas 73 cv a 5.200 rpm, ta). Em novembro, a Auto Esporte 13. Em 1991, as versões SL e SL/E passou a ser simples; como o combustível mais popu- (21,6 segundos do GM ante 24,6 segundos do Fiat).
e 12,6 kgfm a 3.200 rpm. testou outro SL/E, que declarou são amalgamadas em uma única: a lar era a gasolina, o novo Chevette 1.0 tinha taxa de E o motorzinho era excepcionalmente girador, como
Se juntarmos os novos bancos, ter 875 kg em ordem de marcha, DL, que pode ser descrita como um 8,5:1 apenas, mas chegava a bons 50 cv a 6.000 rpm, nenhum Chevette original é. A relação de marchas mais
mais baixos e de desenho que se- e conseguiu chegar aos 100 km/h SL/E ligeiramente simplificado. e 7,2 kgfm a 3.500 rpm. curtas faz parecer um carro de corrida, com a quinta
As relações de câmbio são todas diferentes, tam- 0,90:1 muito próxima da quarta direta, por exemplo. Era
bém, todas mais curtas, com apenas a 4ª permane- lerdo, claro, mas não mais que qualquer outro na catego-
cendo direta, 1:1. A relação traseira final, que nos 1.4 ria; por isso vendeu razoavelmente bem. Fama é sempre
(e na Chevy 500) era de 4,10:1, e nos 1.6 3,54:1, no complicado: todo Chevette tem fama de lerdo por moti-
Chevette 1.0 era curtíssimos 4,88:1. vos que explicamos várias vezes; em termos absolutos
O Chevette Junior, como se chamou o 1.0, foi lançado ele é mesmo, mas, quando comparado à concorrência
em 1992, e vinha também com uma severa redução de da época, ele nunca foi lerdo — nem mesmo no Junior.
peso. Pneus menores em rodas mais estreitas (13x5J, Talvez tenha faltado algo que o Gol teve: versões espor-
155R13), um interior extremamente simplificado e com tivas de motor maior como o AP 1800 e o AP 2000.
peso aliviado, sem console ou porta-mapas, menos re- O fato é que, em 1993, o Fusca voltou a pedido de
vestimento termoacústico, e até, pasmem, redução de um certo presidente da república. Voltou com 1.600
espessura de todos os vidros. A espessura dos vidros é cm³, pagando imposto de “carro mil”; a GMB pediu
de 3,2 mm, contra 4,0 mm nos carros anteriores. São o mesmo “desconto” para seu Chevette e recebeu.
aproximadamente 5 kg de vidro a menos no Chevette Em 1993, o Chevette Junior ganhou o 1.6/S dos DL
Junior, dos quais 1,5 kg estão apenas no para-brisa. To- (que continuaram em produção durante a fase Ju-
dos os Chevette de 1992 em diante têm vidro menos nior), e se transformou no popular mais veloz e rápi-
espesso. O Junior pesava entre 830 kg e 870 kg. do do Brasil, o Chevette L. Mas era só o último Che-
A fama do Junior é péssima: todo o preconceito vette: em 1994 chegaria finalmente seu substituto, o
com o desempenho mediano do Chevette reaparece moderno Corsa.
redobrado. Mas embora fosse realmente lerdo em Último Chevette? Não, essa honra seria da Chevy 500.

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Ao fim de 1992, aparecia uma sé- mesmo material combinado a vinil, são de ano único: a Chevy 500
rie especial da Chevy 500, na veia e tinha o mesmo quadro de instru- DL deste ano era mais simples,
dos Chevette Junior/L. Um carro mentos do Chevette DL, com mos- com painel de mostradores circu-
mais barato, mais simples, e mais tradores retangulares e relógio lares e interior simples dos Che-
leve. Chamava-se Camping. digital. Por fora, as rodas eram de vette L, mas com volante do DL.
Era realmente simples, usando aço estampado, e ela se diferencia- A vigia traseira era de correr, e
todo o interior do Chevette L/Ju- va das demais pelos adesivos late- existia a proteção metálica preta
nior. Era sempre branca, com rodas rais que, mais tarde, seriam adota- dela. As cores eram belíssimas e
também brancas de aço do DL; ti- dos na versão brasileira. A venda todas sólidas: além do branco e
nha adesivos laterais “Camping” e local começou em 1992 e se esten- preto, um belo vinho escuro, um
traseiro “Chevrolet”, mas nenhum deu até 1995, quando a picape saiu verde bem escuro, e dois belos (e
logotipo plástico. A vigia traseira de linha para dar lugar à sua suces- raros) tons de azul. Foi a derra-
não tinha a proteção metálica ex- sora, a Pickup Corsa. deira versão do Chevette vendi-
terna, e a vigia era inteiriça e fixa, No ano de 1994, mais uma ver- da em produção normal.
e não com janelinha de correr da
DL. Os para-choques eram dos
Chevette 83-87, mas pintados de
branco, com polainas pretas. Du-
rou apenas o ano de 1993.
Também de 1992 em diante, foi
vendida aqui no Brasil uma Chevy
500 que não era Chevrolet. A GMC
500 era o nome internacional da
Chevy 500, que era vendida em
diversos países sul-americanos
como Argentina, Uruguai e Equa-
dor, mas algumas acabaram vendi-
das no mercado brasileiro.
A picape era baseada na versão
DL da Chevy 500, a mais luxuosa
oferecida por aqui. Isso significa
que ela vinha com bancos de velu-
do, revestimento das portas com o

As últimas
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Chevy 500

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O fim
O Chevette, ainda a venda aqui no início dos anos Foi um sucesso estrondoso. Dois nal de televisão, em horário nobre, carro da família de milhares de bra-
1990, embora evoluído e muito melhor, era um meses depois, era capa da revista para pedir calma aos consumidores. sileiros. Seja em carros totalmente
Opel Kadett de terceira geração. Em 1989 a quin- Veja, então a de maior circulação No pronunciamento, Beer sugeria originais preservados, seja em car-
ta geração do Kadett chegou ao Brasil como um nacional, fruto de uma procura in- que os clientes da GM adiassem a ros ligeiramente apimentados, seja
carro de nível superior, com o nome original, “Ka- sana. Uma lista de espera que ali já compra do Corsa para não estimular em monstros com até motores V8
dett”. Tinha crescido de tamanho desde a época chegava a 130.000 pedidos. Disse o ágio nos preços. Que grande jo- ou tubocompressores em fúria, é
do Chevette, e no lugar dele, na Alemanha, em a revista: gada de marketing para um empre- um verdadeiro ícone brasileiro.
1982 apareceu um carro menor, o Corsa. “Assustados com a corrida às sário! Pedir aos consumidores que Aqui no Brasil ele começou, aqui
O nosso Corsa foi a segunda geração do mo- concessionárias, os executivos da não comprem seu produto! Claro, no Brasil o último foi produzido; um
delo, lançada quase simultaneamente aqui e na GM tomaram algumas providências os consumidores ficaram com mais carro sensacional, apesar da fama
Europa. Foi o substituto do Chevette, lançado em 1994. O Chevette tinha então 20 anos de mercado, sempre com para tentar conter a maré de com- vontade ainda de comprar.” de pobre. O que por si só, merece
sucesso de vendas. A Chevy 500 acabaria ao final de 1994, com o aparecimento da picape Corsa. Em 1995, foram pradores. Primeiro, cancelaram a Ninguém chorou o fim do Chevette o lugar que ele ocupa na história
feitas Chevy 500 somente para exportação. campanha de 10 milhões de dólares então. Mas hoje, é o carro que todo do automóvel. E se depender dos
O Corsa era um carro moderno, portanto, algo que não estávamos mais acostumados. Principalmente porque o em propaganda, aquela em que um mundo tem mais saudade. Um com- amantes dele, é uma história que
Corsa chega aqui com injeção eletrônica, apenas cinco anos depois do Gol GTI inaugurar a tecnologia por aqui. Os velhinho aparecia reclamando que panheiro fiel e delicioso de guiar; um nunca vai acabar: afinal de contas,
importados eram apenas para ricos, assim como os Gol GTI e os Santana e Monza com o equipamento. Aqui não: as inovações tecnológicas do carro dos poucos carros de tração traseira nas vésperas de comemorarmos
um carro europeu moderno, totalmente novo, e custando U$ 7.500. O carrinho tinha tração dianteira, injeção, e eram um exagero. Em seguida, o Vi- e estabilidade decente no país. Base o seu aniversário de 50 anos, ain-
uma versão “small-block” do motor do Monza. O interior era chique e bem-acabado como o de um importado. Por ce-presidente da empresa no Brasil, de um milhão de projetos de alta da estamos andando de Chevette.
fora, parecia um ursinho fofo. André Beer, ocupou uma rede nacio- performance, e ao mesmo tempo Nunca vamos parar!

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