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ESTABELECIDOS E OUTSIDERS:

A FORMAÇÃO CONTINUADA COMO ESPAÇO DE SUPERAÇÃO DAS


CONTRADIÇÕES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Eps. Elias Martins

CEFAPRO/PLA

elias6714@hotmail.com

Dr. Francisco Xavier Freire Rodrigues

UFMT

fxsociologo@yahoo.com.br

Resumo: O presente artigo é um recorte de um processo de formação continuada no


qual se busca compreender as diversas concepções sobre os esportes que gera
contradições pedagógicas entre o professores de Educação Física Escolar. Na fase atual
de formação continuada buscou-se nos estudos de Elias e Scotson (2000) refletir sobre
as contradições identificadas entre dois grupos de professores. Adotar a metodologia da
pesquisa-ação Thiollent (2002) justifica-se pela ação coletiva de reflexões pedagógicas,
opção metodológica adotada pelo Centro de formação Continuada de Professores da
Educação Básica- CEFAPRO de Pontes e Lacerda, no Mato Grosso.

Palavras chaves: Educação Física Escolar. Esporte. Formação Continuada.

Abstract: This article is part of a process of continuing education in which one seeks to
understand the various concepts of sports that generates contradictions in the practice of
teaching Physical Education. In the current phase of continuing education sought in
studies of Elias and Scotson (2000) reflect on the contradictions identified between two
groups of teachers. To adopt the methodology of action research Thiollent (2002) is
justified by the collective action of pedagogical reflections, which meets the Public
Policy Center of Continuing Education Basic Education Teachers-CEFAPRO of Pontes
e Lacerda in Mato Grosso.

Keywords: physical education. Sport. continuing education.

Introdução

Ao longo da história do homem a relação entre sujeitos sempre foi marcada por

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disputas e pelo desejo de se sobressair nas mais diversas situações ao longo do
desenvolvimento da civilização, criando-se assim tensões que dificulta a compreensão
de um processo histórico.
Ponto de tensão estes muitas vezes difíceis de perceber atualmente, talvez
devido aos inúmeros deslocamentos de fronteiras a não ser quando se torna muito
evidente como no caso especifico tratado neste artigo, no qual se busca estudar/verificar
e compreender as contradições da prática pedagógica dos professores de Educação
Física Escolar da rede pública do município de Pontes e Lacerda no estado de Mato
Grosso e os mais diversos campos conceituais sobre o esporte na/da escola.
Nas primeiras leituras sobre os estudos de Elias e Scotson (2000) percebem-se
possibilidades e estratégias reflexiva para compreender a formação destes pontos de
tensões. Assim, espera-se que no processo de formação continuada seja superada e
compreendida a disputa entre as concepções pedagógicas presentes no universo da
Educação Física Escolar e que em sua maioria essas tensões entre os grupos são as
mesma em que observada enquanto processo possibilita interatuar e compreender o
meio na qual se insere.
De tal modo esses estudo fundamenta-se também na metodologia da pesquisa
ação, metodologia esta que vai ao encontro do processo de formação continuada dos
professores de Educação Física Escolar enquanto Políticas Públicas do Centro de
Formação Continuada dos Professores da Educação Básica – CEFAPRO de Pontes e
Lacerda e da Secretaria Estadual de Educação - SEDUC/MT.
Buscou-se compreender nessa fase de estudos através da pesquisa ação o atual
dialogo entre Estabelecidos e Outsiders na Educação Física Escolar para verificar e
analisar quais são as concepções de esporte que fundamentam e direcionam o
planejamento e ações de cada grupo na Educação Física Escolar.

Processo de Formação Continuada no Cefapro

A melhora no processo de escuta e reflexão crítica suscitada durante os


encontros de formação continuada tem contribuído na compreensão do objeto e do
campo de atuação, pois nesse espaço permite:

aprofundar e, talvez, popularizar o debate acerca do entendimento de que,


sendo a Educação Física uma área de sa-beres e práticas aplicadas, o objeto
ainda é de difícil demarcação, o que não acontece, por exemplo, na
demarcação do objeto das Ciências ditas Básicas, ou seja, não se aplica à
Educação Física uma delimitação do tipo disciplinar/mono disciplinar.
BRACHT (apud NETO e MOLINA, 2002, p.58).

Ainda segundo Freire (1996, p. 39) “é pensando criticamente a prática de hoje


ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática”
Assim mudanças de paradigmas sociais e de condições de trabalho foram
ocasionadas por revoluções tecnológicas, mas acima de tudo e com certeza são através
de pequenas mudanças de/na prática e atitude frente ao processo de ensino e
aprendizagem desenvolvidos nas escolas, bem como na relação da escola com a
comunidade em seu entorno que possibilita a compreensão de suas especificidades e
dinâmicas. Nesse contexto se inclui o processo de formação continuada desenvolvidos
no interior de cada unidade escolar no Estado de Mato Grosso espaço este denominado
Sala do Educador.
A secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso com suas funções políticas
de organizar e desenvolver ações que fortaleçam o processo de ensino e aprendizagem
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nas escolas estaduais, percebendo que com as novas dinâmicas que se estabeleceram
socialmente, resolve descentralizar o processo de organização e fomentar o processo de
formação continuada dos professores através da criação dos Centros de Formação e
Atualização dos Profissionais da Educação Básica- CEFAPRO.
Atualmente o estado de Mato Grosso conta com um total de 15 centros que
começaram a ser implantado a partir de 1997, aonde o município Rondonópolis recebeu
o primeiro CEFAPRO e os demais foram sendo implantados conforme o próprio
desenvolvimento das microrregiões em que se encontra dividido o estado atualmente em
cidades pólos de referência nessas microrregiões.
No município de Pontes e Lacerda o CEFAPRO foi implantado no ano de 2008
conforme decreto de lei nº 9.072 de 24/12/2008 começando a exercer suas atividades de
implantação e fomento do projeto de formação continuada dentro das unidades
escolares.
A sistematização de grupos de estudos e reflexões sobre a ação pedagógica e
para a ação pedagógica tem como objetivo fortalecer a escola como lócus de formação
continuada o que significa proporcionar para o profissional da educação espaço e tempo
para sua formação continua são os pilares que fundamentam a proposta de formação
continuada dos CEFAPRO no estado de Mato Grosso, onde se entende por ação toda
atividade profissional do professor.
De essa forma elaborar projetos de pesquisa, projetos que centram a vida escolar
e os problemas que nela se apresenta geram possibilidades de estratégias que ampliem a
esfera de ação coletiva construída na prática e pela prática solidária.
O projeto atualmente denominado Sala do educador se caracteriza por ser um
espaço democrático em que através de pesquisa sócio-antropológica, estudos, debates,
reflexões e troca de experiência entre os profissionais da escola em que se busca
compreender os processos educacionais da práxis pedagógica individual e coletiva da
unidade escolar.
Assim enquanto professor formador inserido nesse contexto de implantação e
fomento da formação continuada para os professores de Educação Física Escolar
percebe-se estar em meio a questões científicas e sociais, aonde aprofundar o debate e
verificar a partir dos Jogos Escolares desenvolvidos pela APEF, o quanto e como este
promovem de educação, atingindo aos alunos pelo o que eles gostam e conhecem de
esportes ou como e quanto nos limita frente ao processo educativo quando não
possibilita outros centros de interesse para o aluno na Educação Física Escolar.

Escola e Apef

Os Jogos Escolares no município de Pontes e Lacerda são realizados pela


Associação dos Professores de Educação Física (APEF) de Pontes e Lacerda. Em 2012
realizou-se sua 15° edição. Tais jogos no município de Pontes e Lacerda se caracterizam
inicialmente por ser uma prática cultural desenvolvida entre as escolas através dos
esportes nas modalidades futsal, handebol, basquetebol e voleibol.
Esses Jogos Escolares ainda se organizam em fases regionais seguidos da fase
estadual, nesses casos organizados pela Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) do
Estado de Mato Grosso em parceria com a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer
(SEEL) do Estado de Mato Grosso, sendo classificados para as fases seguintes os
campeões por modalidades e faixa etária na idade, em que o destino maior é as
olimpíadas escolares a nível nacional organizado e realizado pelo Comitê Olímpico

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Brasileiro (COB) e Ministério do Esporte.
A opção pela pesquisa-ação, tem em vista a possibilidade de adotarmos uma
estratégia metodológica onde “as condições de captação da informação empírica são
marcadas pelo caráter coletivo do processo de investigação: uso de técnicas de
seminário, entrevistas coletivas, reuniões de discussão com os interessados, etc.”.
(THIOLLENT, 2002, p. 97).
Destarte as concepções de formação continuada desenvolvido pelos CEFAPROS
geram a possibilidade de uma condução da pesquisa ação de forma flexível, pois
permite o processo de continuidade nos estudos e reflexões teóricas sem estarem
vinculados “pelas prévias que costumam estar implícitas no recebimento de verbas de
pesquisa” (ELIAS e SCOTSON 2000, p. 16).
Assim o que se encontra neste artigo é um recorte que faz parte de um todo,
enquanto processo em construção de um mapa geral possibilitando a continuidade dos
estudos e reflexões em grupo por parte dos professores de Educação Física Escolar em
Pontes e Lacerda na suas inter-relações com o esporte espetáculo/rendimento
desenvolvido e fomentado por instituições regulamentadoras das regras e da prática bem
como pelas novas formas de comunicação midiática, pois “não faz muito sentido
estudar fenômenos comunitários como se eles ocorressem no vazio sociológico”.
(ELIAS e SCOTSON 2000, p. 16).
A característica principal desta fase de estudos configura-se como um espaço
para reconhecer a linha tênue que perpassa as narrativas do esporte e da Educação Física
Escolar no município de Pontes e Lacerda, configurando-as como um processo em
movimento.
A observação participante foi o ponto de partida onde percebemos com maior
clareza alguns pontos de tensão. Com isso elaborou-se um questionário onde pretendeu
ouvir as diversas vozes que compõem o universo esportivo da Educação Física Escolar
em Pontes e Lacerda.
Assim após a coleta de dados através de um questionário individual com 05
perguntas entregue a onze professores de Educação Física Escolar do município, aonde
foram devolvidos somente seis o que ajudou na divisão e composição igual entre os dois
grupos. Após a coleta destes dados procurou-se organizar sistematicamente o conteúdo
das entrevistas o que ajudou na proposição de um ciclo de estudos reflexivo com os
professores das escolas do município de Pontes e Lacerda com base nos conceitos de
Estabelecidos e Outsiders utilizados nos estudos de Elias e Scotson (2000).
A narrativa constante dos professores de educação física é sobre as dificuldades
encontradas para o desenvolvimento de ações pedagógicas diferentes ao proposto pelo
esporte espetáculo, pois percebem que a ação esportiva que antes se justificava apenas
pela prática nas aulas de educação física só estaria reforçando o processo de exclusão,
haja vista esses jogos sempre terem uma representatividade significativa na modalidade
futebol/futsal, diferente das outras três modalidades esportivas e o que dizer então sobre
a condição de pária do grupo de conteúdos previstos nas Orientações Curriculares (OCs)
do Estado de Mato Grosso.
Ressalta-se ainda que as OCs configuram-se em um documento organizado e
sistematizado pela SEDUC/MT durante um processo que durou mais de três anos em
que envolveram os profissionais da educação em diversos momentos, espaços de
debates e reflexões entre professores da rede básica de ensino e professores consultores
de outras instituições de ensino superior estadual e nacional com seu documento final
sendo apresentado em julho de 2012.

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Estratégias de/no campo

Uma distinção identificada por Elias e Scotson (2000) na comunidade de


Winston Parva que os caracterizou em dois grupos, relacionava-se ao critério de
antiguidade e o sentimento de pertença na ocupação de um espaço, e com base nesse
critério instituiu-se uma diferenciação de acesso ao poder, conforme aponta Elias,

a peça central dessa figuração é um equilíbrio instável de poder, com as


tensões que lhe são inerentes. Essa é também a precondição decisiva de
qualquer estigmatização eficaz de um grupo outsider por um grupo
estabelecido. Um grupo só pode estigmatizar outro com eficácia quando está
bem instalado em posições de poder das quais o grupo estigmatizado é
excluído. (ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 23).

A partir desta constatação Elias e Scotson caracterizam esses grupos em


Estabelecidos e Outsiders bem como sua relação de interdependência.
Esse processo de interdependência que também caracterizou o processo de
desenvolvimento do homem e da técnica Lemos (2004) sobre a dominação da natureza
e essa relação entre sujeitos/técnicas marca o desenvolvimento da civilização.

A tríade eletricidade/petróleo, motor elétrico e química, síntese do fim do


século XIX muda, depois da segunda guerra mundial para energia nuclear,
informática, engenharia genética. Este novo sistema técnico, afeta a vida
cotidiana de forma radical com a formação e planetarização da sociedade do
consumo e do espetáculo. (LEMOS, 2004, p.52).

Nesse sentido o esporte é um produto de transformações decorrentes da


Revolução Industrial nos séculos XVIII e XIX, em que conforme o desenvolvimento da
técnica Lemos (2004) ocorre um aumento do tempo de Lazer e a difusão do esporte
entre a população operária e urbana.
O esporte tornou-se um fenômeno de expansão mundial a partir do século XX,
sendo a Inglaterra pioneira na utilização do esporte como meio de educação. Neste
sentido o esporte é visto como um fenômeno sócio-cultural, considerado como
patrimônio da humanidade.
Com o passar dos tempos foram criadas diversas modalidades esportivas que
também sofreram modificações desde o momento da criação – o voleibol é um exemplo
clássico dessa mudança em virtude da televisão- até chegar à forma como se vivência
atualmente durante as aulas esportivizadas da Educação Física Escolar, mas também
aonde às vezes não se percebe o desenvolvimento deste contexto histórico nas aulas.
Segundo Bracht (2005) à prática de esporte dentro das escolas caracteriza-se
como uma descontinuidade, uma ruptura histórica, o que teria provocado uma
sistematização progressiva da prática esportiva criando-se as competições escolares, o
que mudou a essência da prática esportiva que perdeu seu aspecto lúdico dando ênfase a
competitividade.

Essa influência do Esporte no sistema Escolar é de tal magnitude que temos


então, não o Esporte da escola, mas sim o esporte na escola. Isso indica a
subordinação da Educação Física aos códigos/sentidos da instituição
esportiva, caracterizando-se o esporte na escola como um prolongamento da
instituição esportiva: esporte olímpico, sistema desportivo nacional e
internacional. [...]. O esporte determina, dessa forma, o conteúdo de ensino
da Educação Física, estabelecendo também novas relações entre professor e

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aluno, que passam da relação professor-instrutor e aluno recruta para a de
professor-treinador e aluno-atleta. (COLETIVO DE AUTORES, p 54).

A relação entre esporte e educação física tornou-se simbiôntica, e um dos fatores


que contribui para a utilização do esporte na escola é a influência do fenômeno esporte-
espetáculo que a cada dia vem crescendo mais, deve-se isso aos interesses sociais,
econômicos, políticos e de mobilização pelos meios da comunicação em massa. A partir
dessa influência a Educação Física incorpora valores que contradizem os ideais
explícitos em documentos nacionais e internacionais relativos à educação, pois:

A concepção de Educação Física que deveria estar sendo desenvolvida na


escola encarregar-se-ia, principalmente, da formação da atitude do educando,
ajudando-o a se conhecer, a se dominar, a se relacionar com o mundo e a
buscar sua autonomia pessoal, contemplando o processo de educação geral
por meio de atividades físicas. FERREIRA (apud CAPARROZ, 2005, p.
129).

Os aspectos científicos do esporte de rendimento permitiram por muito tempo


justificar a importância da prática esportiva nas aulas educação física dentro da escola,
mas esses argumentos agora estariam dentro da configuração do “não mais” possíveis
conforme Fensterseifer e González (2009), de serem utilizados para justificar a ação de
uma disciplina que tem buscado desenvolver-se dentro de um contexto pedagógico e
atual que permita formar um cidadão crítico.
Ainda argumenta-se que estaríamos de passagem pelo “ainda não” Fensterseifer
e González (2009), pois ao compreendermos as inter-relações entre vários aspectos
esportivos e educativos geram-se possibilidades para uma maturidade cientifica em
Educação Física Escolar consolidando-se como democrática e pedagógica, onde está
teria como principal ação na escola desnaturalizar o esporte, pois, “não é de modo
algum irreal sugerir que o desporto se está a tornar cada vez mais a religião secular da
nossa época, também cada vez mais secular”. (ELIAS e DUNNING, 1985, p. 324).
Os conceitos Estabelecidos e Outsiders proposto por Elias e Scotson (2000)
permitiu caracterizar a identificação de um aumento de tensão entre os integrantes da
APEF percebido durante as reuniões e na dinâmica de execução dos Jogos Escolares
2012.
Destarte como aconteceu na comunidade Winston Parva, busca-se através da
pesquisa e observação contribuir para uma melhor compreensão e explicação das
interdependências que prende as escolas e a APEF aos aspectos secularizados do esporte
de rendimento que cria configurações para envolver alunos, pais, professores
produzindo tensões e conflitos específicos entre estes grupos.
No caso dos estabelecidos, as suas ações esportivas e as concepções sobre Jogos
Escolares estariam no estágio do “não mais” como única ação pedagógica na Educação
Física Escolar, mais ainda com dificuldades de estabelecer outras inter-relações
pedagógicas com os demais conteúdos.
Os professores atualmente estabelecidos escolas estaduais e municipais do
município de Pontes e Lacerda atuam em média há sete anos, tempo este que também
estão à frente da gestão e coordenação da APEF, estes são professores com licenciatura
plena em Educação Física e com especialização em Educação Física Escolar dos quais
também fomos aluno. Uma revisão geral na grade curricular destes cursos e dos
professores que ministravam as aulas em sua maioria com pós-graduação em nível de
lato sensu e nos leva a hipótese em que se caracterizam como professores estabelecido
em uma formação inicial mais técnica.
Esses professores ainda se caracterizam pela opção metodológica identifica na

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pesquisa e conhecida nas escolas como tradicional, onde o método de ensino mais
utilizado é o parcial, no qual o esporte é ensinado e aprendido através da prática
separada de seus fundamentos básicos e, após o domínio desses, o esporte propriamente
dito é então desenvolvido e praticado. As aulas baseadas neste tipo de método sempre
começam com um aquecimento e na sequência é apresentado normalmente pelo
professor o exercício que deve ser feito e repetido até o seu domínio.
Ainda no caso da administração da APEF parece ocorrer uma espécie de rodízio
entre os estabelecidos, pelos cargos de presidência, secretario tesoureiro e
coordenadores de modalidade enquanto outros professores mais novos nas escolas da
cidade de Pontes e Lacerda e com pouca ou nenhuma participação nas reuniões da
associação.
No entanto os Outsiders acabam participando dos Jogos Escolares, pois se vêem
impotentes frente à dinâmica atual da escola - conforme apontado na entrevista por duas
professoras - onde a gestão escolar que ainda não compreendeu alguns aspectos
inovadores da Educação Física Escolar sede a pressão dos alunos e dos pais que sonham
em ver seu filho jogando futebol.
Percebe-se que em sua maioria as ações de planejamento são norteadas pelo
esporte espetáculo, ou seja, aulas esportivizadas com objetivos específicos direcionados
para participação em Jogos Escolares, talvez resultado de uma formação mais técnica
instrumental. Algo que não mais seria apenas a única função do professor de Educação
Física Escolar em tempos contemporâneo.
Já os Outsiders, professores novatos na profissão e no município, com uma
formação inicial diferenciada dos Estabelecidos, buscam se inter-relacionar com a
estrutura local tentando reconfigurar o espaço/tempo das aulas de Educação Física
escolar frente ao conteúdo esportivo predominante.
No inicio da pesquisa o grupo dos Outsiders foi composto por três professores
que em virtude do concurso público estadual tomaram posse no ano de 2011 e estão
atuando no município de Pontes e Lacerda a menos de um ano, e que constantemente
fazem parte do seu discurso o desejo de retornarem ao município de origem, pois
segundo eles lá o trabalho com a Educação Física é diferente.
Estes professores estão em busca de se afirmarem na profissão dentro dos
objetivos propostos pelas novas configurações da Educação Física Escolar. Este grupo
foi composto por professores de Educação Física licenciados pela Universidade estadual
de Mato Grosso e que segundo os mesmos o quadro de professores nessa graduação era
composto por vários professores com stricto sensu em nível de doutorado em Educação,
mais se percebe que mesmo tendo recebido uma formação de caráter crítica reflexiva
“ainda não” possui um saber acumulado.
Destarte ressaltamos que o grupo de professores Estabelecidos da pesquisa há
pouco tempo atrás poderia também ser caracterizado como Outsiders em sua recém
chegada ao município e que talvez o que pode ter ocorrido com os atuais Estabelecidos
é que aparentemente em sua maioria já se adaptaram a rotina dos jogos escolares.
Essa adaptação as estruturas dificulta o planejamento de outras atividades por
parte dos mesmos professores, essa rotina caracteriza-se como “habitus” entendido
como “sistemas de disposições duráveis, [...] estruturas estruturadas predispostas a
funcionar como estruturas estruturantes, isto é, como principio gerador e estruturador de
práticas e das representações [...]” BOURDIEU (apud SANCHONETE, 2005, p. 162).
Para a proposição do processo de formação continuada procurou-se questionar
os professores sobre quais temas e como percebem suas necessidades de estudos e nas
respostas dos professores quanto ao que precisa ser estudado em formação continuada
aparecem temas como: jogos escolares, pedagogia do esporte, jogos educacionais,

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cursos de atualização de regras; foram respostas dadas pelos professores independentes
de pertencer ao grupo dos estabelecidos ou outsiders. Partindo do “habitus”, talvez fosse
ou, “é de se esperar que, em entrevista [...] os entrevistados fossem mais propensos a
exprimir as idéias-padrão dominantes do que quaisquer opiniões individuais que se
desviassem desses padrões”. (ELIAS e SCOTSON 2000, p. 54).
Assim verifica-se que os outsiders se apropriam de um discurso em que se
mantêm dentro de uma estrutura estabelecida na sociedade, talvez você de se esperar
esse tipo de resposta.

Conclusão

A dinâmica que gerou a pesquisa e posteriormente se caracterizou ao longo da


coleta de dados e observações de campo como uma disputa entre dois grupos os
estabelecidos e outsiders em Pontes e Lacerda, mas quando verificada como um
processo em construção e adotando uma concepção de que a “técnica” Lemos (2009) ao
longo do seu desenvolvimento teria assumido autonomia em relação ao homem.
Percebe-se então que independente de qual grupo os sujeitos da pesquisa
pertençam no contexto da formação continuada todos seriam Outsiders frente ao
fenômeno esportivo atual da indústria cultural do entretenimento.
No entanto supondo sermos Outsiders frente ao fenômeno esportivo na/da escola
espera-se que enquanto professores na arte de aprender/ensinar e estabelecer relações
entre saberes complexo adotando uma concepção de artista contemporâneo aonde “ a
função da arte, perante tal fenômeno consiste em apropriar-se dos hábitos perceptivos e
comportamentais criados pelo complexo tecnoindustrial [...]”. (BOURRIAUD, 2009,
p.96).
Assim enquanto protagonista de seu saber/ensinar ao professor de Educação
Física Escolar “consiste em subverter a autoridade da técnica e torna - lá capaz de criar
maneiras de pensar, ver e viver” Bourriaud (2009, p.96). , ou seja, compreender as
estratégias midiáticas que envolvem os esportes torna-se imperativo aos professores de
Educação Física Escolar.

Referências

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BRACHT, Valter. Pesquisa em ação: educação física na escola. 2. ed. Ijuí: Ed. Unijuí,
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CAPARROZ, Francisco Eduardo. Entre a Educação Física na Escola e a Educação


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Difusão Editorial. 1985.

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SANCHONETE, Mônica U. O que fazem os Professores nas Escolas: sob Uma


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NETO, Molina Vicente. (Org.) Quem Aprende? Pesquisa e Formação em Educação
Física Escolar. Ijuí: Ed. Unijuí, 2009.

Elias Martins
Avenida Mato Grosso, n° 2164, Bairro São José, Pontes e Lacerda/MT
Cep: 78250-000

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