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A prática pedagógica do professor de Educação Física no 

currículo da Educação Infantil de 0 a 3 anos, na opinião


 dos professores da rede municipal de Criciúma, SC

 
*Professora de Educação Física com habilitação em Licenciatura e
Bacharelado
pela Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC. Especialista em
Educação Física
Escolar com Ênfase em Psicomotricidade e Jogos Cooperativos -
CENSUPEG/ACIC
**Professores do Curso de Educação Física da Universidade do Extremo Sul
Catarinense, UNESC
(Brasil)
Viviani Dias Cardoso*
Ana Lúcia Cardoso**
Victor Julierme Santos da Conceição**
victor@unesc.net

 
 
Resumo
          Este estudo trata de compreender Concepções de Educação Física
neste na Educação Infantil (0 a 3 anos), e os Princípios Curriculares da
Educação Física neste ciclo de escolarização na rede municipal de Criciúma. A
justificativa para a construção deste estudo está embasada na constatação que
a participação da Educação Física no currículo da Educação Infantil é recente
no município de Criciúma. Nesse sentido, o problema desta pesquisa: O que
constitui o currículo da Educação Física na Educação Infantil de 0 a 3 anos na
opinião dos professores de Educação Física da rede pública municipal de
Criciúma - SC? A partir deste questionamento foi construído o seguinte
objetivo: compreender como está constituído o currículo da Educação Física na
Educação Infantil de 0 a 3 anos na opinião dos professores da rede municipal
de Criciúma. O estudo foi caracterizado com descritivo de campo, e foram
utilizados, como instrumentos de coleta de dados, a observação de um
encontro da formação continuada da rede municipal de Criciúma e um
questionário com 14 professores de Educação Física que atuam com
Educação Infantil. A conclusão da pesquisa revela que na opinião dos
professores da rede municipal de Criciúma, apresentaram uma compreensão
contraditória sobre as teorias da educação, uma vez que apontaram uma
abordagem desenvolvimentista como objetivo da Educação Física na
Educação Infantil. A maioria dos docentes, porém, afirmou que adota uma
tendência de Educação Física balizada na proposta crítico superadora,
inexistente no documento curricular, cuja perspectiva geral adotada é a
tendência Histórico-Crítica.
          Unitermos: Educação Infantil. Educação Física. Currículo.
 
Documento apresentado pelos professores da UNESC responsáveis pela
formação continuada em EF da rede municipal de Criciúma 2009 e 2010.
 
 

EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre


de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O interesse em pesquisar a Educação Física na Educação Infantil surgiu


devido aos registros apresentados pelos professores da rede pública municipal
de Criciúma que realizam a formação continuada na rede. São apresentadas
dificuldades nas formas de avaliação, conteúdos a serem trabalhos,
metodologias de ensino, entre outros fatores do âmbito da Educação Infantil.

    Uma das discussões da Educação Física na Educação Infantil é que esta
não pode seguir os mesmos programas do Ensino Fundamental da escola,
onde há definições fechadas quanto ao conteúdo, tempo e espaço. Na
Educação Infantil os professores precisam captar os saberes que os alunos já
têm, devem ser mediadores no ensino, para as crianças ampliarem seu
repertório cultural, e apropriarem-se do conhecimento significativo nas
interações, e não um fim em si mesmo (SAYÃO, 2002).

    Pesquisar sobre o tema é uma verificação da recente participação da


Educação Física neste ciclo de escolarização. Na região sul de Santa Catarina,
podemos destacar o município de Criciúma, cuja rede de ensino, apenas em
2004, estabeleceu que a Educação Física faria parte da matriz curricular da
Educação Infantil (RONCHI, 2004).

    O documento curricular para a rede municipal de Criciúma foi produzido em


2008. O documento apresenta fundamentação teórica para a educação e para
a área da Educação Física. Nesse sentido, é importante buscarmos o lugar da
Educação Física Infantil de 0 a 3 anos no documento, e, consequentemente, na
prática pedagógica dos professores de Educação Física na Educação Infantil.
    Baseado nestes debates encontramos a Educação Física no currículo da
Educação Infantil, debruçada na Perspectiva Histórico-Cultural, considerando
que o processo de ensino aprendizagem do aluno está vinculado à cultura e as
experiências vividas e experienciadas por ele. Neste caso o professor é
mediador do conhecimento, enquanto o aluno é ser participante ativo de sua
construção. Isto é, considera-se a história e a cultura de cada educando/a,
permitindo que ele expresse e desenvolva seu aprendizado a partir do que
conhece, para adquirir conhecimento mais aprimorado, por meio da mediação
do docente ou interação com seu colega (DONATO; MACHADO; TASCA,
2008).

    É com base nessa perspectiva, que a Educação Física no município de


Criciúma-SC, tem como objetivo:

 Educar corporalmente aos educandos e educandas por meio do


jogo e do exercício corporal, prioritariamente em direção ao
desenvolvimento da criticidade, da autonomia e da imaginação.
 Desenvolver a socialização entre educandos/as por meio do jogo
e do exercício corporal, a fim de compreenderem e respeitarem a
diversidade nas suas diversas faces (étnica, gênero,
desempenho, etc.) e a coeducação, preparando-se assim para o
pensar e agir coletivos.
 Contribuir de forma transdisciplinar para o aprendizado escolar
das/os educandas/os. (DONATO; MACHADO; TASCA, 2008, p.
140).

    Isso significa estudar e ensinar a cultura corporal e suas inter-relações,


visando oferecer aos professores de Educação Física subsídios necessários
para o desenvolvimento de seu trabalho pedagógico de maneira competente,
crítica, ética, e, principalmente, mais humanista. A Proposta Curricular de
Criciúma está estruturada, atrelada a estes fatores, servindo de referência e
apoio para a docência neste município, dos/as novos/as professores/as
ingressantes, e para aqueles que já construíram uma caminhada nesta Rede
Pública de Ensino.

    Assim, a Educação Física compreende que as concepções de homem,


corporeidade e o jogo devem ser referências para seu trabalho pedagógico,
baseadas na perspectiva Histórico-Cultural (DONATO; MACHADO; TASCA,
2008). Ou seja, o homem (ser humano) é concebido como um ser inacabado,
que se desenvolve conforme as transformações socioculturais em que está
inserido.

    Dado exposto contribuiu para a construção do seguinte objetivo de estudo


que é compreender como se constituí a prática pedagógica do professor de
Educação Física no currículo da Educação Infantil de 0 a 3 anos, na opinião
dos professores da rede municipal de Criciúma.

Metodologia

    Com a intenção de estudar a opinião dos professores da rede municipal de


Criciúma-SC sobre a sua prática pedagógica no Currículo da Educação Física
na Educação Infantil de 0 a 3 anos, optou-se por um modelo de pesquisa
descritivo de abordagem qualitativa.

    A pesquisa foi organizada da seguinte forma: inicialmente, por meio da


Secretaria de Educação de Criciúma-SC, foi solicitada a relação dos
professores que atuam com a Educação Física na Educação Infantil de 0 a 3
anos neste município, juntamente com a relação das escolas onde atuavam.
Neste contato, foi definido, por sugestão da coordenadora de Educação Física
da Secretaria, para que o instrumento fosse aplicado em um encontro para
formação continuada, organizada pela Secretaria Municipal de Educação, com
todos os professores da rede.

    No processo de seleção dos professores participantes, entramos em contato


com todos os professores de Educação Física da rede municipal de Criciúma-
SC, que participaram da reunião de início de ano do programa de formação
continuada do município. Neste sentido, Molina Neto (2010) observa que
participação espontânea dos participantes, prioriza a vontade própria do sujeito
em contribuir com o desenvolvimento da temática pesquisada, apoiado pela
iniciativa em aceitar o convite para responder as questões do instrumento. Dos
17 professores presentes na reunião de formação continuada, 14 aceitaram
responder o instrumento, dois informaram que o enviariam por e-mail, mas não
o fizeram, e um se recusou a participar da pesquisa.

    O instrumento selecionado para a coleta de dados foi o questionário, que


para Lakatos; Marconi (2001) é um instrumento elaborado por uma série
ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem
entrevistador. Foram elaboradas 17 perguntas: seis questões fechadas, seis
questões abertas e cinco questões mistas. Além deste instrumento, foi utilizado
um caderno de registro durante a permanência na reunião de formação
continuada dos professores. Neste caderno foram anotadas as falas dos
professores de Educação Física participantes da atividade, que apareceram
com maior relevância sobre o tema da pesquisa.

    Após o recolhimento dos instrumentos respondidos, os dados foram


tabulados para construção das categorias de análise. Estas são apresentadas
levando em consideração a frequência de respostas e debatidas com a
literatura que embasa a concepção de Educação Física para a Educação
Infantil, apresentada nos documentos oficiais da Secretaria Municipal de
Educação. A primeira categoria trata da caracterização dos professores
participantes da pesquisa; a segunda aborda sobre o trabalho pedagógico dos
professores de Educação Física; e a terceira discute as concepções de ensino
dos professores de Educação Física na Educação Infantil.

O que pensam as professoras e os professores

    As primeiras quatro perguntas realizadas no questionário para coleta de


dados deste trabalho teve o objetivo conhecer as principais características dos
professores participantes da pesquisa.

    Quanto ao gênero e faixa etária, o primeiro questionamento mostra que 09


(64%) professoras e 05 (36%) professores compuseram o quadro de sujeitos
participantes da investigação. A faixa etária dos entrevistados é de 02
professores entre 20 e 30 anos, 06 professores entre 30 e 40 anos e 05
totalizando os professores que têm entre 40 e 50 anos de idade. Piccelli (2002)
faz um resgate do histórico da Educação Infantil no Brasil: foi criada após a
Revolução Industrial, objetivando atender aos filhos das mulheres que
trabalhavam fora. Ao perceber esta nova necessidade, a legislação, em 1920
decretou que junto às fábricas, deveria existir “Escolas Maternais”, nas quais,
prioritariamente, as mulheres atenderiam aos filhos dos funcionários. Portanto,
é comum observar que a maioria dos docentes que atuam na Educação Infantil
são do gênero feminino. Esta concepção de ser “cuidador” além de educador
atravessa a própria forma de ver o Trabalho Pedagógico na Educação Infantil.
Um exemplo disso é a fala de um dos professores observada durante a
formação continuada: “Eu nunca trabalharia com a Educação Infantil, pois
tenho a visão que este é um trabalho para as mulheres, porque elas possuem o
instinto maternal e os devidos cuidados para com crianças pequenas”.
    Questionamos os professores sobre a formação continuada, 11 (79%)
professores responderam que possuem especialização, destes, 02 professores
possuem sua especialização em Educação Física Escolar, 01 em Fisiologia do
Exercício e 01 em Treinamento Esportivo. Ainda, 02 professores responderam
que possuem especialização em Educação Inclusiva, 03 em Educação Física e
Saúde, 01 em Controle e Avaliação, 01 em Metodologia e Prática
Interdisciplinar de Ensino e 01 no Ensino da Educação Física. Os números
totalizam 06 especializações na área das Ciências Humanas e Sociais e 05 na
área de Ciências Naturais e Biológicas. Sobre isso, buscou-se saber qual o
período de formação inicial.

    Observamos que 06 dos participantes concluíram o curso entre 1989 e 2000,
02 concluíram a graduação entre 2000 e 2009, e 06 professores não
responderam o ano de sua formação. Um dos motivos plausíveis para o
número de especializações dos professores se dividirem nas áreas das
Ciências Naturais e Biológicas é que até a década de 90 a matriz curricular da
Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC era plena. E somente a
partir de 2005 foi modificada para a matriz curricular específica da Educação
Física, havendo a divisão entre Licenciatura e Bacharelado.

    Quando perguntados sobre com qual faixa etária os professores de


Educação Física preferem trabalhar na Educação Infantil, 03 (20%)
responderam que preferem atuar com crianças de 0 a 2 anos de idade,
justificando por ser um desafio descobrir como trabalhar com esta faixa etária.
Somente 01 (7%) professor assinalou a opção entre 3 e 4 anos, por entender
que é nesta idade que os alunos começam a participar das aulas de Educação
Física. A maioria dos professores 11 (73%) responderam que preferem atuar
com crianças de 05 anos, alegando que com essa faixa etária conseguem
desenvolver seus objetivos, podendo avaliar os alunos, além do fato de as
crianças conseguirem ter mais feedback com os professores. Essa preferência
pode ser justificada na fala de uma das professoras da formação continuada,
que afirma que “as crianças maiores compreendem mais as brincadeiras,
“conteúdos” que são desenvolvidos em suas aulas”. Sayão (2002) alerta que a
Educação Física na Educação Infantil não pode seguir os mesmos programas
do Ensino Fundamental da escola, onde há definições fechadas quanto ao
conteúdo, tempo e espaço. Este, provavelmente, é um dos aspectos que
interfere na preferência pela clico de escolarização que atua.
    Quando questionados sobre quanto tempo atuam como professores de
Educação Física na Educação Infantil, 06 professores responderam que atuam
há apenas um ano, 02 responderam que trabalham há dois anos, 02
professores assinalaram a opção entre três e cinco anos. 02 professores
assinalaram a opção entre seis e oito anos, e 02 professores responderam que
trabalham com a Educação Infantil há mais de nove anos.

    Com estas informações é possível perceber que a maioria dos professores
atua a um ano na Educação Infantil com a Educação Física. Um dos fatores
para isso, segundo Ronchi (2004) deve-se à recente participação da Educação
Física nesta área de ensino. No município de Criciúma, foco da pesquisa, a
Educação Física consolidou-se em 2004, tornando-se parte da matriz
pedagógica da Educação Infantil.

    Ao procurar saber se a graduação desses professores participantes da


pesquisa contribuiu com o seu trabalho na Educação Física com a Educação
Infantil de 0 a 3 anos de idade. Assim, 02 professores responderam que a
graduação os auxiliou no trabalho docente, mas não justificaram. Já 05
professores alegaram que sua graduação não auxiliou sua docência na
Educação Infantil enquanto professor de Educação Física, pois os materiais
teóricos e práticos são voltados para crianças de faixas etárias maiores, não
atendendo à necessidade do ciclo de ensino desta pesquisa. Contudo, 01
professora respondeu que a contribuição para trabalhar com essa faixa etária
foi o curso de magistério, enquanto outra professora disse que foi sua
graduação em Fisioterapia. Em geral, 07 professores relataram que sua
graduação ajudou em parte o seu trabalho na Educação Física com crianças
de 0 a 3 anos, uma vez que tiveram a parte teórica, mas, sem a especificidade
nessa faixa etária. Este distanciamento entre teoria e prática é bastante
comum, ou seja, o modelo de formação inicial voltado ao conteúdo técnico
ainda aparece distanciado das realidades escolares. Por este motivo, a
Educação Física precisa rever a matriz curricular, ampliando o espaço da área
da Educação Infantil com crianças de 0 a 3 anos. Lembrando que, a graduação
dos professores que participaram da pesquisa não são recentes, o que revela
que o currículo dessa área de ensino pode ter sofrido modificações satisfatórias
referentes à Educação infantil de 0 a 3 anos.

    Buscamos verificar na opinião dos professores, qual é o objetivo da


Educação Física na Educação Infantil. Sobre isso, 07 professores responderam
que o objetivo é desenvolver as capacidades da criança, como a
psicomotricidade e a coordenação motora; 04 professores responderam que o
principal objetivo da Educação Física nessa idade é a interação e socialização
do aluno com o meio em que vive; 01 professor respondeu que o objetivo é
proporcionar à criança momentos de recreação; 01 professor menciona que o
objetivo da Educação Física é possibilitar a cultura corporal do movimento; 01
professor respondeu que o objetivo da área da Educação Física é desenvolver
o movimento e conhecimento de pegar nas crianças entre 0 a 3 anos. Estes
dados revelam que os professores estão uma confusão quanto o conteúdo e as
atividades realizadas, ou seja, confusos entre a teoria e a prática pedagógica.

    Comparando essas respostas com os objetivos estabelecidos nos Princípios


Curriculares do município de Criciúma, percebemos aproximações no que
tange ao desenvolvimento motor e à socialização da criança. Revelando uma
dicotomia na própria proposta curricular, haja vista que, ao mesmo tempo em
que defende uma concepção Histórico-Crítica, a proposta também aponta
como objetivos o desenvolvimento motor e a socialização da criança.

Concepções de ensino dos professores de Educação Física para a


Educação Infantil

    Quanto à perspectiva teórica que fundamenta a atuação dos professores,


observamos que 02 professores desenvolvem a psicomotricidade em suas
aulas. Dos professores que participaram da investigação, 01 aplica o
desenvolvimento e aprendizagem motora, enquanto 02 justificaram que suas
aulas são baseadas na tendência de recreação, e 04 professores desenvolvem
em sua atuação embasados na cultura corporal do movimento. Além das
opções sugeridas no questionário, encontramos 01 professor afirmando que a
tendência desenvolvida em suas aulas é a de exploração de materiais, 01
professor usa a tendência mais adequada de acordo com o dia, e 01 professor
assinalou todas as alternativas.

    Percebemos que os professores indicam contradições no que se refere às


tendências pedagógicas, pois não compreendem as bases teóricas que
sustentam a prática educativa na Educação Física, demonstrando uma
confusão no desenvolvimento suas aulas conforme o currículo da rede
municipal de Criciúma no que se refere à orientação geral do documento –
histórico-cultural.

    Para tanto, o Grupo de Estudos Ampliados de Educação Física da


Universidade Federal de Santa Catarina (1996) explica que a psicomotricidade
traz, desde a sua gênese, uma ideia de movimento como suporte das
aprendizagens de “cunho cognitivo”. O movimento, nesse caso, serve de
recurso pedagógico, visando o sucesso da criança em outros campos do
conhecimento, baseando-se em padrões de movimentos e testes para o ensino
do processo de aprendizagem. Já a teoria desenvolvimento/aprendizagem
motora, reforça o modelo esportivo, visando o desenvolvimento motor e das
habilidades motoras de acordo com as fases de desenvolvimento.

    Outra concepção que surge na Educação Física na Educação Infantil é a


recreação, que segue uma linha pedagógica de atividades espontâneas. A
criança escolhe uma atividade, de acordo com seu interesse, sem que haja
qualquer finalidade, fazendo dessa prática um modelo de lazer informal, no
qual os professores tornam-se apenas “babás”.

    Em contraposição às concepções citadas anteriormente, surge, de acordo


com Sayão (2002), uma Educação Física que considera a expressão corporal
(Cultura Corporal do Movimento) uma forma de linguagem, que manifesta a
cultura infantil por meio do movimento, constituindo a especificidade da
Educação Física na Educação.

    As próximas perguntas tinham o objetivo de saber, na opinião dos


professores, o que constitui o currículo da Educação Física na Educação
Infantil de 0 a 3 anos. Desse modo, os professores foram questionados sobre o
conhecimento em relação à proposta Curricular da rede municipal de Criciúma,
SC. Das respostas, 13 professores responderam que sim, enquanto apenas 01
alegou que não conhece a proposta. A partir deste descrição, buscamos
compreender em que tendência pedagógica de Educação Física para a
Educação Infantil está fundamentada a proposta curricular da rede municipal
de Criciúma. As informações mostram que 06 professores apontaram a
tendência Crítico-superadora, 05 professores responderam que é a tendência
Histórico-Cultural que fundamenta a proposta curricular, 02 professores
assinalaram todas as alternativas, e 01 professor não respondeu a pergunta.

    Percebemos que os professores apontam a tendência histórico cultural, esta


que embasa a perspectiva geral da proposta curricular, mas não apontam para
uma tendência específica da Educação Física. A maioria dos professores
apontam a proposta crítico-superadora. Na parte específica da Educação
Física, no entanto, o documento curricular de Criciúma traz uma opção
desenvolvimentista. O que demonstra que conforme questionados, os
professores podem conhecer a proposta, porém não compreendem a mesma.

    Com base nesses dados, observamos uma dicotomia entre as respostas,
uma vez que na pergunta anterior a maioria dos professores alegaram
conhecer a Proposta Curricular de Criciúma, e na pergunta subsequente
somente um terço dos docentes acertaram que a Educação Física na
Educação Infantil no currículo da rede municipal de Criciúma é baseada na
Perspectiva Histórico Cultural, voltada para as ciências humanas e sociais.

Considerações finais

    No processo de construção das considerações nos preocupamos em


resgatar o objetivo principal desta pesquisa: Compreender como se constituí a
prática pedagógica do professor de Educação Física no currículo da Educação
Infantil de 0 a 3 anos, na opinião dos professores da rede municipal de
Criciúma. Assim, uma primeira e interessante conclusão é a de que a maioria
dos docentes atuantes na rede municipal de Criciúma possuem pouco tempo
de serviço na Educação Física na Educação Infantil com crianças de 0 a 3
anos, o que sustenta a ideia de que a participação da Educação Física nessa
área de ensino é recente. Isso significa, também, que a experiência na
docência infantil e sua obrigatoriedade dentro da Educação Física estão em
processo de desenvolvimento.

    A pesquisa apontou que os docentes possuem um entendimento sobre a


Educação Infantil balizado por uma visão de criança que, segundo Simão
(2006), é compreendida por meio da psicologia do desenvolvimento e pela
biologia. É concebido o desenvolvimento igualitário em todas as crianças,
desconsiderando os aspectos culturais, sociais, econômicos, religiosos, e
outros que influenciam o desenvolvimento da criança.

    Entendemos que o objetivo da Educação Física na Educação Infantil de 0 a


3 anos é desenvolver as capacidades, por meio da psicomotricidade e
coordenação motora. Comparando os objetivos estabelecidos nos Princípios
Curriculares do município que Criciúma e aqueles descritos pelos professores,
compreendemos que existe uma aproximação, pois aparecem em ambos o
desenvolvimento motor e a socialização da criança. Isso, de certa forma, revela
uma dicotomia na própria proposta curricular, que ao mesmo tempo em que
defende uma concepção Histórico-Crítica, aponta, como objetivos da área
específica, aspectos relacionados a uma abordagem tradicional.
    Um aspecto interessante e que chamou a atenção é o de que os docentes
participantes da pesquisa apresentaram uma compreensão contraditória sobre
as teorias da educação, uma vez que apontaram como objetivo da Educação
Física na

    Educação Infantil uma abordagem tradicional, sendo que a maioria afirmou
que adota uma tendência de Educação Física balizada na proposta crítico-
superadora. Essa tendência não se encontra na proposta curricular, que em
sua perspectiva geral aborda a tendência Histórico-Crítica, enquanto que, na
parte específica da Educação Física, a proposta é desenvolvimentista.

    Assim, concluímos que, na opinião dos professores da rede municipal de


Criciúma, o que constitui o currículo da Educação Física na Educação Infantil
de 0 a 3 anos é a tendência Crítico-Superadora. Sabe-se, agora, que essa
proposta não fundamenta o documento curricular, remetendo-nos a indagar por
que o currículo aborda na orientação geral uma tendência voltada para as
ciências sociais, e na parte específica da Educação-Física aponta uma
tendência desenvolvimentista?

    Esse estudo contribui para a compreensão sobre como o docente pode
interligar a teoria com a prática, sempre fazendo menção a ela por meio da
avaliação das aulas com os registros, já que as palavras expressam o que
acontece e o que pretendemos em nossas aulas. Assim, o professor verifica se
está seguindo a mesma linha que a tendência visa desenvolver. E para isso, o
documento curricular, eixo norteador do docente na unidade escolar, deve
estar coerente com as propostas críticas, de maneira que toda a comunidade
escolar possa compreendê-lo e utilizá-lo em sua prática pedagógica.

Referências

 DONATO, Maria; MACHADO, Maristela; TASCA,


Jádina. Proposta Curricular da Rede Municipal de Criciúma:
Currículo para a Diversidade: Sentidos e Práticas. Criciúma, SC:
Secretaria Municipal de Educação, 2008. 233p Disponível
em: http://www.criciuma.sc.gov.br/conteudo.php?
codigo=163&secretaria=10
 GRUPO de Estudos Ampliados de Educação Física. Diretrizes
Curriculares para a Educação Física no Ensino Fundamental e
Educação Infantil da rede Municipal de Florianópolis SC.
NEPEF/UFSC/SME Florianópolis, 1996.
 MOLINA NETO, Vicente. O processo de identização docente na
rede municipal de Porto Alegre. Educ. Real. 2010, vol.35, n.01,
pp. 209-231. ISSN 0100-3143.
 MATTOS, Mauro Gomes de; ROSSETTO JÚNIOR, Adriano José;
BLECHER, Shelly. Teoria e prática da metodologia da pesquisa
em educação física: construindo sua monografia, artigo científico
e projeto de ação. São Paulo: Phorte, 2004. 162p.
 MINAYO, Maria Cecilia de Souza. Pesquisa social: teoria, método
e criatividade. 23. ed. Petrópolis: Vozes, 2004. 80 p.
 Núcleo de Estudos Pedagógicos em Educação Física. Diretrizes
Curriculares para a Educação Física no Ensino Fundamental e
Educação Infantil da rede Municipal de Florianópolis SC.
Florianópolis: 1996.
 PICCELLI, Lucyelena Amaral. Produção de conhecimento sobre a
educação infantil nos mestrados e doutorados do
Brasil. Dissertação de mestrado. 2002. UFB.
 RONCHI, Bruna Biléssimo. Trabalho de conclusão de curso
(TCC): A Educação Física na Educação Infantil. Criciúma, 2004.
 SAYÃO, Deborah Thomé. Corpo e movimento: notas para
problematizar algumas questões relacionadas à Educação Infantil
e a Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte,
Campinas, v. 23, n. 2, p. 55-67, jan/2002.

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