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Pedro Pessula
Universidade Pedagogica de Maputo
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Resumo
Palavras- Chave: Educação Física, Práticas Pedagógicas, Ensino Básico, Estudante Praticante
1. Introdução
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Mestre em Ciências de Educação/Ensino de Educação Física e Desporto; Assistente Universitário na Universidade
Pedagógica, Faculdade de Educação Física e Desporto
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2. Fundamentação Teórica
Jabult (2011) afirma que na concepção da epistemologia da prática os professores são preparados
para a reflexão artística das situações do cotidiano. A prática é o lugar de construção do
pensamento concreto do professor, um espaço efectivo em que o formando actua, reflecte, sem a
total responsabilidade sobre os efeitos de suas acções. A abordagem do professor como sujeito
de sua formação, segundo Jabult (2011), considera a concepção da racionalidade prática, que
trabalha o desenvolvimento humano, envolvendo a dimensão pessoal
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Para Sacristán e Perez (2000) citados por Correia (2012) as Práticas Pedagógicas devem ser
orientadas para e pela autonomia pedagógica, pela mediação dialógica e negociante entre os
protagonistas do cenário educativo, porque a escola é um cenário vivo de interações dinâmicas.
Para Nóvoa (1995) citado por Jabult (2011) trata- se da identidade do professor, dando um
sentido às suas histórias de vida, destacando os saberes da experiência. A formação se constrói
por meio de um trabalho de reflexão crítica sobre as práticas e de construção de uma identidade
pessoal. Libâneo (2013), por sua vez, destaca que os saberes são conhecimentos teóricos e
práticos da profissão e as competências são as capacidades, habilidades, atitudes relacionadas a
esses saberes que permitem o exercício da profissão.
Neste contexto, é necessário que a escola valorize as actividades em que o corpo é chamado a ser
sujeito do conhecimento, que ensine a convivência. Aprender a conviver não se reduz a mera
aquisição de regras de convivência, mas a construir formas de se familiarizar com o outro,
respeitando a sua dignidade (Caminha, 2012).
Toda a prática educativa, segundo Correia (2012), está investida e revestida de concepções
explicitas e implícitas acerca do mundo, da sociedade, do ser humano, do conhecimento, da
escola, da comunidade, do aprender, do ensinar, do professor, do aluno e da interacção entre o
professor ou a professora, o aluno e a aluna.
A Educação Física deve rever a sua forma de conceber o corpo, o movimento e suas práticas,
partindo do reconhecimento e respeito às diferenças dos indivíduos nos processos de
aprendizagem. Somos chamados, como professores, a valorizar o sujeito como protagonista na
elaboração dos conhecimentos, foco na aprendizagem significativa e o reconhecimento da
ludicidade e das manifestações culturais populares (Correia, 2014).
Logo, é preciso efectuar uma imersão por dentro dos muros da escola, pois é lá que queremos
actuar. Assim, somos solicitados a construir novas abordagens a partir da escola (Correia, 2012).
É neste contexto que pretendemos descrever as práticas dos estudantes da Faculdade de
Educação Física e Desporto em escolas do Município da Matola.
2. Metodologia
De acordo com Devechi & Trevisan (2010), há vários tipos de abordagens qualitativas utilizadas
nas pesquisas educacionais, nomeadamente: as fenomenológico- hermenêuticas (na linha de
Husserl, Heidegger e Gadamer), as crítico- dialéticas (de Karl Marx, Lukács e Gramsci) e as
hermenêutico- reconstrutivistas (de Apel, Habermas e Honneth).
O sujeito, segundo Devechi & Trevisan (2010), é sempre confrontado com o objeto, ele o
interpreta no sentido do contexto, buscando compreendê-lo a partir do momento histórico em que
o mesmo ocorre. A fenomenologia husserliana procurou deixar claro que nós só temos acesso ao
mundo objectivo através das nossas vivências (o mundo pessoal das experiências).
Neste sentido, realizamos a nossa pesquisa nas Escolas Primárias Completas de Machava
Bunhiça, Machava Km 15, Tsalala e Ngungunhana da Cidade da Matola. A amostra foi
constituída por 16 estudantes do 2º ano que realizaram as Práticas Pedagógicas nas 4 escolas em
2015.
Como procedimento básico na recolha dos dados utilizamos o registo sistemático de notas em
diário de campo que, segundo Bogdan e Biklen (1994:150), “é o relato escrito daquilo que o
investigador ouve, vê, experimenta e pensa no decurso da coleta e reflecte sobre os dados de um
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(i) instrução na qual observamos como o professor/estudante garante a atenção dos alunos,
transmite os objectivos da aula aos alunos, destaca os aspectos críticos de execução, envolve os
alunos na instrução- demonstração/questionamento, explica de forma pausada e clara, procura
sinais de dúvida após a explicação, acompanha atentamente os alunos em prática, emite
feedbackś correctivos, ajuda os alunos adequando às estratégias, se a informação é curta e
objectiva, se a demonstração dos exercícios é correcta, se o conteúdo informativo do feedback é
congruente com o da apresentação das tarefas;
Para a análise de dados recorremos ao método de análise de conteúdo das anotações efectuadas
nas escolas onde realizamos o estudo. Este método foi adaptado e validado para a Educação
Física por Moreira, Simões e Porto (2005) como Técnica de Elaboração e Análise de Unidades
de Significado. Este método tem como finalidade, compreender e interpretar os relatos dos
sujeitos de uma pesquisa, os quais emitem uma opinião, carregada de sentidos, de significados e
de valores, sobre um determinado assunto.
De acordo com Moreira, Simões & Porto (2005), este método (elaboração e análise de unidades
de significado) é o resultado da combinação da técnica de Análise de Avaliação Assertativa
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elaborada por Osgood, Saporta & Nunnaly referenciados por Bardin (1977) e da Análise do
Fenómeno Situado, estruturada por Giorgi (1978) e Martins & Bicudo (1989).
Este método apresenta três momentos, relacionados e indivisíveis, na sua trajectória: a descrição,
representada pelo registo das acções dos sujeitos, colhido pelo pesquisador por meio de diário de
campo e depois transcrito na íntegra; a redução, quando o pesquisador selecciona os discursos
mais significativos na tentativa de tornar mais claro o fenómeno estudado e a interpretação das
ideias dos registos caracterizado pela identificação das unidades de significado (Moreira, Simões
& Porto, 2005).
A Escola Primária Completa Ngungunhane é uma escola que está localizada na Cidade da
Matola, Bairro Matola “F”. Foi construída nos finais da década 60 e princípios de 70, tendo
começado a funcionar no ano lectivo 1968 - 1969. Possui um campo de salão polivalente num
estado avançado de degradação. Os professores são obrigados a realizar as aulas fora do recinto
escolar (na rua), o que não oferece segurança para os(as) alunos(as) e os(as) professores (as).
A população escolar é de 2387 alunos, dos quais 1151 alunos e 1236 alunas, distribuídos em 45
turmas e lecciona de 1ª a 7ª classe. Leccionam na escola 9 professores e 14 professoras, sendo
uma professora e um professor de Educação Física.
Das 4 escolas observadas, uma não possui instalações para as aulas de Educação Física, a outra
apresenta um campo polivalente degradado no qual os nossos estudantes intervieram para o
melhorar. As duas outras escolas, possuem campo de Futebol onde decorrem as aulas, mas estes
espaços são perturbados pela circulação de pessoas e viaturas no decurso das aulas.
Foram observadas 6 aulas para cada estudante o que corresponde a 96 aulas observadas nas 4
escolas. A seguir apresentamos os resultados das observações agrupadas em 3 categorias. As
estratégias que os estudantes deveriam operacionalizar para evitar a invasão dos espaços para as
aulas de Educação Física, seria o uso de cordas para delimitar o espaço para as práticas
desportivas.
Neste categoria, verificamos que 8 estudantes praticantes conseguiram garantir a atenção dos
alunos (50.0%); 9 transmitiam os objectivos da aula correctamente (56.25%); 4 transmitiam a
informação de forma curta e objectiva (25.0%); 9 destacavam os aspectos críticos de execução
dos alunos (56.25%); 8 demonstravam os exercícios de forma correcta (50.0%); 2 envolviam os
alunos na instrução, demonstração e questionamento (12.5%), 8 explicavam de forma pausada e
clara os conteúdos da aula (50.0%), 3 procuravam sinais de dúvida após a explicação (18.75%);
11 acompanhavam atentamente os alunos em prática (68.75%); 7 emitiam feedbackś correctivos
(43.75%); 6 transmitiam o conteúdo de feedback de forma congruente com o da apresentação das
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Analisando estes dados, constatamos que os nossos estudantes tiverem dificuldades, ao instruir
os seus alunos e suas alunas, na emissão dos feedback e em alguns momentos na apresentação,
demonstração e orientação das tarefas.
Os nossos resultados contrariam o pensamento de Correia (2012) que considera que as Práticas
Pedagógicas devem ser orientadas para e pela autonomia pedagógica, pela mediação dialógica e
negociante entre os protagonistas do cenário educativo, o que não se verifocu nas aulas
observadas.
Sendo principiantes na imersão ao mundo da escola, pensamos que precisariam de mais tempo
de prática para poder ter o domínio na apresentação de tarefas e na emissão dos feedback’s, o que
ia melhorar a sua forma de dar aulas.
Os itens que constituem a categoria de Gestão foram agrupados nas seguintes Unidades de
Significado: (i) Rotinas Organizativas- garantiam o controlo visual dos alunos; utilizavam
sinais próprios para as diferentes rotinas; (ii) Gestão do Tempo de Aula- pontuais e preparavam
antecipadamente os espaços e o material; controlavam a assiduidade dos alunos rapidamente;
garantiam que os alunos exercitassem durante grande parte do tempo de aula; reuniam os
alunos/alunas para encerrarem a aula; cumpriam com o tempo previsto para a aula; (iii) Gestão
do Material e Espaço- utilizavam o material adequadamente, estabelecendo uma relação
equilibrada entre alunos/alunas e o material; aproveitavam o espaço adequadamente, distribuindo
os alunos de forma equilibrada no campo.
Constatamos ainda que os estudantes procuraram organizar a turmas em grupos para dar mais
tempo de actividade motora aos alunos e alunas. Em relação ao material, os estudantes
produziram bolas, testemunhos e redes com recurso ao material usado, o que permitiu aos alunos
e alunas ter mais contacto com os materiais desportivos.
Os itens da categoria de Gestão do Clima foram agrupados em duas Unidades de Significado que
a seguir apresentamos: Disciplina- controlavam a disciplina da turma; aula decorria com
entusiasmo; elogiavam o desempenho dos alunos; (ii) Criatividade- criativos na escolha de
actividades diversificadas e na improvisação do material.
Estes resultados vão ao encontro do pensamento de Correia (2014) quando afirma que as práticas
devem valorizar o sujeito como protagonista na elaboração dos conhecimentos, foco na
aprendizagem significativa e o reconhecimento da ludicidade e das manifestações culturais
populares.
4. Considerações Finais
Os resultados obtidos mostram que a maior dificuldade que os estudantes enfrentaram foi na
gestão do tempo, alunos e espaço de aulas. Em duas escolas, os espaços são suficientes para a
realização das aulas, mas a sua ocupação criava dificuldades para a gestão do tempo da aula e do
clima. Em outras escolas, o pequeno espaço era compartilhado por 4 estudantes o que tornava
ainda mais difícil a gestão do espaço, tempo e clima da aula. Em relação a criatividade,
constatamos que os estudantes improvisavam o material e organizavam os alunos em pequenos
grupos o que melhorou a prestação motora das crianças.
Face a estes constatações sugerimos que os estudantes praticantes usem a organização da turma
em pequenos grupos com o respectivo líder, apliquem o método de ensino em estações usando
vários materiais de Educação Física e as vivências lúdicas das crianças.
Bibliografia
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CORREIA, Walter Roberto. Educação Física Escolar: Entre inquietudes e impertinências. Rev.
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DEVECHI, Catia Piccolo Viero & TREVISAN, Amarildo Luiz. Sobre a proximidade do senso
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DIAS, Hildizina, SANTOS, Nobre Dos; CRUZ, Paula; GOMANE, Orlanda; JÚNIOR, Ernesto
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