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Práticas Pedagógicas na Faculdade de Educação Física e Desporto: Um olhar


sobre as práticas dos estudantes nas escolas do Ensino Básico do Município da
Matola

Article · January 2019

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Pedro Pessula
Universidade Pedagogica de Maputo
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Práticas Pedagógicas na Faculdade de Educação Física e Desporto: Um olhar sobre as


práticas dos estudantes nas escolas do Ensino Básico do Município da Matola.
Pedro Pessula1

Resumo

As Práticas Pedagógicas constituem um momento de formação do futuro docente nas quais, o


praticante interage com a realidade escolar. Neste contexto, pretendemos descrever as práticas
dos estudantes da Faculdade de Educação Física e Desporto em escolas do Município da Matola.
O estudo foi realizado nas Escolas Primárias Completas de Machava Bunhiça, Machava Km 15,
Tsalala e Ngungunhana. A amostra foi constituída por 16 estudantes do 2º ano que realizaram as
Práticas Pedagógicas nas 4 escolas em 2015. A técnica utilizada para a recolha de dados foi a
observação e o registo das anotações num diário de campo. Para análise de dados recorremos a
análise de conteúdo na qual agrupamos os resultados em 3 categorias (Instrução, Gestão e
Clima). Os resultados obtidos mostram que a maior dificuldade que os estudantes enfrentaram
foi na gestão do tempo, alunos e espaço de aulas. Em duas escolas, os espaços são suficientes
para a realização das aulas, mas a sua ocupação criava dificuldades para a gestão do tempo da
aula e do clima. Em outras escolas, o pequeno espaço era compartilhado por 4 estudantes o que
tornava ainda mais difícil a gestão do espaço, tempo e clima da aula. Em relação a criatividade,
constatamos que os estudantes improvisavam o material e organizavam os alunos em pequenos
grupos o que melhorou a prestação motora das crianças. O estudo sugere que os estudantes
praticantes usem a organização da turma em pequenos grupos com o respectivo líder, apliquem o
método de ensino em estações usando vários materiais de Educação Física e as vivências lúdicas
das crianças.

Palavras- Chave: Educação Física, Práticas Pedagógicas, Ensino Básico, Estudante Praticante

1. Introdução

As Práticas Pedagógicas constituem um momento de formação do futuro docente nas quais, o


praticante interage com a realidade escolar. Na Universidade Pedagógica, Faculdade de
Educação Física e Desporto, são realizadas num sistema curricular integrado de formação de
professores no qual os estudantes entram em contacto com a realidade do futuro local de
trabalho.

1
Mestre em Ciências de Educação/Ensino de Educação Física e Desporto; Assistente Universitário na Universidade
Pedagógica, Faculdade de Educação Física e Desporto
2

Em conformidade com o ordenamento das Práticas Pedagógicas na Faculdade de Educacao


Física e Desporto, os estudantes do segundo ano realizam as suas práticas no Ensino Básico.
Consequentemente, os estudantes praticantes enfrentam desafios que resultam da falta de
experiência na leccionação da disciplina de Educação Física, falta de material, equipamento e
instalações para as aulas e turmas numerosas. Por isso, presumimos que os estudantes tenham
dificuldades da leccionação das aulas.

Neste contexto, pretendemos descrever as práticas pedagógicas dos estudantes da Faculdade de


Educação Física e Desporto em escolas do ensino primário no Município da Matola.

2. Fundamentação Teórica

As Práticas Pedagógicas Universidade Pedagógica, nos cursos de formação de professores,


durante vários anos seguia o modelo de racionalidade técnica que, segundo Jalbut (2011), apoia-
se na cultura de conhecimentos teóricos para aplicação posterior na prática. Consequentemente,
de acordo com Mizukami (2013), baseia- se na listagem de rotinas necessárias à vida docente nas
escolas sem vivências supervisionadas e problematizadas em situações concretas de ensino-
aprendizagem.

Com a reforma curricular dos cursos de formação de professores de 2009, as Práticas


Pedagógicas passaram a ser desenvolvidas a partir do primeiro ano nas escolas o que significa
um modelo que se funda numa Epistemologia da Prática em que os conhecimentos dos futuros
professores resultam de prática vivida e experimentada no cotidiano escolar (Dias et al, 2010).

Jabult (2011) afirma que na concepção da epistemologia da prática os professores são preparados
para a reflexão artística das situações do cotidiano. A prática é o lugar de construção do
pensamento concreto do professor, um espaço efectivo em que o formando actua, reflecte, sem a
total responsabilidade sobre os efeitos de suas acções. A abordagem do professor como sujeito
de sua formação, segundo Jabult (2011), considera a concepção da racionalidade prática, que
trabalha o desenvolvimento humano, envolvendo a dimensão pessoal
3

O pensamento prático do professor é de importância central nos programas de formação de


professores para compreender os processos de ensino e aprendizagem e para promover a
qualidade do ensino. A prática é considerada o cenário adequado ao desenvolvimento das
competências, capacidades e atitudes profissionais do profissional de educação (Pérez Gómez,
1995).

Para Sacristán e Perez (2000) citados por Correia (2012) as Práticas Pedagógicas devem ser
orientadas para e pela autonomia pedagógica, pela mediação dialógica e negociante entre os
protagonistas do cenário educativo, porque a escola é um cenário vivo de interações dinâmicas.

Na actuação nas escolas, os formandos se experimentam como professores e podem desenvolver


a competência de actuar em situações contextualizadas, construindo instrumentos de intervenção
pedagógica. Epistemologia da prática que lida com o conhecimento profissional, tendo como
referência a competência da prática, especialmente a reflexão-na-acção: “Pensar o que fazem,
enquanto fazem”, em situações de incerteza.

Para Nóvoa (1995) citado por Jabult (2011) trata- se da identidade do professor, dando um
sentido às suas histórias de vida, destacando os saberes da experiência. A formação se constrói
por meio de um trabalho de reflexão crítica sobre as práticas e de construção de uma identidade
pessoal. Libâneo (2013), por sua vez, destaca que os saberes são conhecimentos teóricos e
práticos da profissão e as competências são as capacidades, habilidades, atitudes relacionadas a
esses saberes que permitem o exercício da profissão.

A supervisão se constituiu no espaço prioritariamente voltado para a construção da autonomia de


sua actuação profissional, na qual a reflexão sobre a prática traduz a concepção de que esta é
analisada à luz das teorias.

Os professores aprendem o essencial de sua profissão na escola, nela ocorrendo a construção de


sua identidade. A prática profissional beneficia-se de um conjunto de “saberes tácitos”, que
segundo Canário (2006), correspondem a “um saber escondido no agir profissional”. Dessa
forma, a estratégia formativa é a optimização do potencial nos contextos de trabalho, chamada de
“formação centrada na escola”.
4

Neste contexto, é necessário que a escola valorize as actividades em que o corpo é chamado a ser
sujeito do conhecimento, que ensine a convivência. Aprender a conviver não se reduz a mera
aquisição de regras de convivência, mas a construir formas de se familiarizar com o outro,
respeitando a sua dignidade (Caminha, 2012).

Toda a prática educativa, segundo Correia (2012), está investida e revestida de concepções
explicitas e implícitas acerca do mundo, da sociedade, do ser humano, do conhecimento, da
escola, da comunidade, do aprender, do ensinar, do professor, do aluno e da interacção entre o
professor ou a professora, o aluno e a aluna.

A Educação Física deve rever a sua forma de conceber o corpo, o movimento e suas práticas,
partindo do reconhecimento e respeito às diferenças dos indivíduos nos processos de
aprendizagem. Somos chamados, como professores, a valorizar o sujeito como protagonista na
elaboração dos conhecimentos, foco na aprendizagem significativa e o reconhecimento da
ludicidade e das manifestações culturais populares (Correia, 2014).

Logo, é preciso efectuar uma imersão por dentro dos muros da escola, pois é lá que queremos
actuar. Assim, somos solicitados a construir novas abordagens a partir da escola (Correia, 2012).
É neste contexto que pretendemos descrever as práticas dos estudantes da Faculdade de
Educação Física e Desporto em escolas do Município da Matola.

2. Metodologia

Realizamos uma pesquisa qualitativa do tipo participativa porque pretendíamos interpretar a


forma como os nossos estudantes se comportam nos primeiros momentos de contacto com a
realidade da escola. Para Muria (2009), este tipo de investigação decorre num ambiente natural
que serve de fonte directa para a recolha de dados. Para Moreira, Simões & Muria (2009), esta
permite ao pesquisador interagir com o sujeito pesquisado e caracteriza-se por descrição de um
fenómeno situado que, no nosso caso, foram os nossos estudantes praticantes das Práticas
Pedagógicas.
5

As pesquisas qualitativas contribuíram para o surgimento de novos paradigmas na educação,


cujas principais ideias são: integração do qualitativo ao quantificável; totalidade indivisa; visão
sistêmica, ecológica, interactiva e indeterminada; defesa da reintegração do sujeito e do
conhecimento em processo; a percepção das conexões e do significado do contexto;
conhecimento em rede e a educação como um sistema aberto (Moraes, 1997 citado por Devechi
e Trevisan, 2010).

De acordo com Devechi & Trevisan (2010), há vários tipos de abordagens qualitativas utilizadas
nas pesquisas educacionais, nomeadamente: as fenomenológico- hermenêuticas (na linha de
Husserl, Heidegger e Gadamer), as crítico- dialéticas (de Karl Marx, Lukács e Gramsci) e as
hermenêutico- reconstrutivistas (de Apel, Habermas e Honneth).

Na nossa pesquisa, optamos por abordagens fenomenológico- hermenêuticas, na qual o sujeito


aparece como intérprete do objecto. Buscam desvendar ou decodificar subjectivamente os
pressupostos implícitos nos textos, nos discursos e nas comunicações (Devechi &Trevisan,
2010). Para Hermann (2003), tais abordagens procuram compreender a experiência humana no
mundo, que é interpretado. Elas resgatam o sentido que surge no próprio diálogo do intérprete
com o mundo.

O sujeito, segundo Devechi & Trevisan (2010), é sempre confrontado com o objeto, ele o
interpreta no sentido do contexto, buscando compreendê-lo a partir do momento histórico em que
o mesmo ocorre. A fenomenologia husserliana procurou deixar claro que nós só temos acesso ao
mundo objectivo através das nossas vivências (o mundo pessoal das experiências).

Neste sentido, realizamos a nossa pesquisa nas Escolas Primárias Completas de Machava
Bunhiça, Machava Km 15, Tsalala e Ngungunhana da Cidade da Matola. A amostra foi
constituída por 16 estudantes do 2º ano que realizaram as Práticas Pedagógicas nas 4 escolas em
2015.

Como procedimento básico na recolha dos dados utilizamos o registo sistemático de notas em
diário de campo que, segundo Bogdan e Biklen (1994:150), “é o relato escrito daquilo que o
investigador ouve, vê, experimenta e pensa no decurso da coleta e reflecte sobre os dados de um
6

estudo qualitativo”. Na nossa pesquisa, o fenómeno estudado foram as manifestações dos


estudantes praticantes das Práticas Pedagógicas em Educação Física no Ensino Básico em 3
categorias, nomeadamente:

(i) instrução na qual observamos como o professor/estudante garante a atenção dos alunos,
transmite os objectivos da aula aos alunos, destaca os aspectos críticos de execução, envolve os
alunos na instrução- demonstração/questionamento, explica de forma pausada e clara, procura
sinais de dúvida após a explicação, acompanha atentamente os alunos em prática, emite
feedbackś correctivos, ajuda os alunos adequando às estratégias, se a informação é curta e
objectiva, se a demonstração dos exercícios é correcta, se o conteúdo informativo do feedback é
congruente com o da apresentação das tarefas;

(ii) na gestão, observamos se o professor/estudante é pontual e prepara antecipadamente os


espaços e o material, faz o controlo da assiduidade rapidamente, utiliza o material
adequadamente- relação alunos/material, aproveita o espaço, garante o controlo visual dos
alunos, utiliza sinais próprios para as diferentes rotinas, reúne os alunos para o encerramento da
sessão, cumpre com o tempo previsto para a aula, concentra- se no essencial- matéria/tempo, se
os alunos exercitam grande parte do tempo;

(iii) no clima, observamos se o professor controla a disciplina da turma, elogia o desempenho


dos alunos, é criativo e se a aula decorre com entusiasmo.

Para a análise de dados recorremos ao método de análise de conteúdo das anotações efectuadas
nas escolas onde realizamos o estudo. Este método foi adaptado e validado para a Educação
Física por Moreira, Simões e Porto (2005) como Técnica de Elaboração e Análise de Unidades
de Significado. Este método tem como finalidade, compreender e interpretar os relatos dos
sujeitos de uma pesquisa, os quais emitem uma opinião, carregada de sentidos, de significados e
de valores, sobre um determinado assunto.

De acordo com Moreira, Simões & Porto (2005), este método (elaboração e análise de unidades
de significado) é o resultado da combinação da técnica de Análise de Avaliação Assertativa
7

elaborada por Osgood, Saporta & Nunnaly referenciados por Bardin (1977) e da Análise do
Fenómeno Situado, estruturada por Giorgi (1978) e Martins & Bicudo (1989).

Este método apresenta três momentos, relacionados e indivisíveis, na sua trajectória: a descrição,
representada pelo registo das acções dos sujeitos, colhido pelo pesquisador por meio de diário de
campo e depois transcrito na íntegra; a redução, quando o pesquisador selecciona os discursos
mais significativos na tentativa de tornar mais claro o fenómeno estudado e a interpretação das
ideias dos registos caracterizado pela identificação das unidades de significado (Moreira, Simões
& Porto, 2005).

3. Apresentação dos Resultados

3.1. Descrição das Escolas

A Escola Primária Completa Ngungunhane é uma escola que está localizada na Cidade da
Matola, Bairro Matola “F”. Foi construída nos finais da década 60 e princípios de 70, tendo
começado a funcionar no ano lectivo 1968 - 1969. Possui um campo de salão polivalente num
estado avançado de degradação. Os professores são obrigados a realizar as aulas fora do recinto
escolar (na rua), o que não oferece segurança para os(as) alunos(as) e os(as) professores (as).

A população escolar é de 2387 alunos, dos quais 1151 alunos e 1236 alunas, distribuídos em 45
turmas e lecciona de 1ª a 7ª classe. Leccionam na escola 9 professores e 14 professoras, sendo
uma professora e um professor de Educação Física.

A Escola Primária Machava Km 15 localiza- se no Posto Administrativo da Machava e foi


construída em 1965 pela Igreja Católica da Machava como escola para indígenas. Lecciona de 1ª
a 7ª classe com 7322 alunos e alunas, assistidos por 28 professores e professoras. Possui um
campo de Futebol onde decorrem as aulas de Educação Física sendo que ao lado passa uma rua
muito movimentada, o que constitui um perigo para os alunos, alunas, professores e professoras
da escola.

A Escola Primária Completa Machava Bunhiça, localiza- se no Posto Administrativo da


Machava, Bairro da Machava Bunhiça. A população estudantil é constituída 3830 alunos e
8

alunas, 40 professores e professoras e lecciona de 1ª a 7ª classe. Possui um campo de Futebol e


de Voleibol não pavimentado.

A Escola Primária Completa de Tsalala localiza-se no Posto Administrativo da Machava, Bairro


de Tsalala. Foi fundada em Março de 1993 e possui como população estudantil cerca de 4420
alunos e alunas, 68 professores e professoras. A escola não possui nenhuma instalação para a
prática das aulas de Educação Física e para este efeito recorrem ao campo da comunidade.

Das 4 escolas observadas, uma não possui instalações para as aulas de Educação Física, a outra
apresenta um campo polivalente degradado no qual os nossos estudantes intervieram para o
melhorar. As duas outras escolas, possuem campo de Futebol onde decorrem as aulas, mas estes
espaços são perturbados pela circulação de pessoas e viaturas no decurso das aulas.

3.2. Aulas Observadas

Foram observadas 6 aulas para cada estudante o que corresponde a 96 aulas observadas nas 4
escolas. A seguir apresentamos os resultados das observações agrupadas em 3 categorias. As
estratégias que os estudantes deveriam operacionalizar para evitar a invasão dos espaços para as
aulas de Educação Física, seria o uso de cordas para delimitar o espaço para as práticas
desportivas.

3.2.1. Categoria de Instrução

Neste categoria, verificamos que 8 estudantes praticantes conseguiram garantir a atenção dos
alunos (50.0%); 9 transmitiam os objectivos da aula correctamente (56.25%); 4 transmitiam a
informação de forma curta e objectiva (25.0%); 9 destacavam os aspectos críticos de execução
dos alunos (56.25%); 8 demonstravam os exercícios de forma correcta (50.0%); 2 envolviam os
alunos na instrução, demonstração e questionamento (12.5%), 8 explicavam de forma pausada e
clara os conteúdos da aula (50.0%), 3 procuravam sinais de dúvida após a explicação (18.75%);
11 acompanhavam atentamente os alunos em prática (68.75%); 7 emitiam feedbackś correctivos
(43.75%); 6 transmitiam o conteúdo de feedback de forma congruente com o da apresentação das
9

tarefas (37.5%); 6 ajudavam os alunos adequando as estratégias em função do conteúdo e do


nível de aprendizagem (37.5%).

Os itens acima apresentados foram agrupados em Unidades de Significado que foram as


seguintes: (i) Apresentação das Tarefas- conseguiram garantir a atenção dos alunos;
transmitiam os objectivos da aula correctamente; transmitiam a informação de forma curta e
objectiva; (ii) Demonstração- destacavam os aspectos críticos de execução dos alunos;
demonstravam os exercícios de forma correcta; envolviam os alunos na instrução, demonstração
e questionamento; explicavam de forma pausada e clara os conteúdos da aula; procuravam sinais
de dúvida após a explicação; acompanhavam atentamente os alunos em prática; ajudavam os
alunos adequando as estratégias em função do conteúdo e do nível de aprendizagem; e (iii)
Feedback- emitiam feedback’s correctivos; transmitiam o conteúdo de feedback de forma
congruente com o da apresentação das tarefas

Analisando estes dados, constatamos que os nossos estudantes tiverem dificuldades, ao instruir
os seus alunos e suas alunas, na emissão dos feedback e em alguns momentos na apresentação,
demonstração e orientação das tarefas.

Os nossos resultados contrariam o pensamento de Correia (2012) que considera que as Práticas
Pedagógicas devem ser orientadas para e pela autonomia pedagógica, pela mediação dialógica e
negociante entre os protagonistas do cenário educativo, o que não se verifocu nas aulas
observadas.

Sendo principiantes na imersão ao mundo da escola, pensamos que precisariam de mais tempo
de prática para poder ter o domínio na apresentação de tarefas e na emissão dos feedback’s, o que
ia melhorar a sua forma de dar aulas.

3.2.2. Categoria de Gestão

Nesta categoria, observamos que 13 estudantes eram pontuais e preparavam antecipadamente os


espaços e o material (81.25); 11 controlavam a assiduidade dos alunos rapidamente (68.75); 9
utilizavam o material adequadamente, estabelecendo uma relação equilibrada entre alunos/alunas
10

e o material (56.25%); 4 aproveitavam o espaço adequadamente, distribuindo os alunos de forma


equilibrada no campo (25.0%); 4 concentravam- se no essencial distribuindo equitativamente o
tempo e a matéria/conteúdo (25.0%); 9 garantiam que os alunos exercitassem durante grande
parte do tempo de aula (56.25%); 4 garantiam o controlo visual dos alunos (25.0%); 4 utilizavam
sinais próprios para as diferentes rotinas (25.0); 14 reuniam os alunos/alunas para encerrarem a
aula (87.5%); 12 cumpriam com o tempo previsto para a aula.

Os itens que constituem a categoria de Gestão foram agrupados nas seguintes Unidades de
Significado: (i) Rotinas Organizativas- garantiam o controlo visual dos alunos; utilizavam
sinais próprios para as diferentes rotinas; (ii) Gestão do Tempo de Aula- pontuais e preparavam
antecipadamente os espaços e o material; controlavam a assiduidade dos alunos rapidamente;
garantiam que os alunos exercitassem durante grande parte do tempo de aula; reuniam os
alunos/alunas para encerrarem a aula; cumpriam com o tempo previsto para a aula; (iii) Gestão
do Material e Espaço- utilizavam o material adequadamente, estabelecendo uma relação
equilibrada entre alunos/alunas e o material; aproveitavam o espaço adequadamente, distribuindo
os alunos de forma equilibrada no campo.

Os resultados acima apresentados, mostram- nos que os estudantes tiveram dificuldades em


alguns itens relacionados com as rotinas organizativas e gestão do material.

Constatamos ainda que os estudantes procuraram organizar a turmas em grupos para dar mais
tempo de actividade motora aos alunos e alunas. Em relação ao material, os estudantes
produziram bolas, testemunhos e redes com recurso ao material usado, o que permitiu aos alunos
e alunas ter mais contacto com os materiais desportivos.

3.2.3. Categoria de Gestão do Clima

Nesta categoria, verificamos que 12 estudantes controlavam a disciplina da turma (75.0%); 7


elogiavam o desempenho dos alunos (37.5%); 6 eram criativos na escolha de actividades
diversificadas e na improvisação do material (37.5%) e em 14, a aula decorria com entusiasmo
(87.5%).
11

Os itens da categoria de Gestão do Clima foram agrupados em duas Unidades de Significado que
a seguir apresentamos: Disciplina- controlavam a disciplina da turma; aula decorria com
entusiasmo; elogiavam o desempenho dos alunos; (ii) Criatividade- criativos na escolha de
actividades diversificadas e na improvisação do material.

Analisando os resultados nesta categoria, constatamos que os estudantes conseguiram criar um


bom clima para o decurso das aulas e as mesmas decorriam com entusiamo. Salientar que o uso
de trabalho em estações e jogos lúdicos permitiu aos alunos e alunas maior empenhamento motor
e envolvimento nas actividades desenvolvidas nas aulas.

Estes resultados vão ao encontro do pensamento de Correia (2014) quando afirma que as práticas
devem valorizar o sujeito como protagonista na elaboração dos conhecimentos, foco na
aprendizagem significativa e o reconhecimento da ludicidade e das manifestações culturais
populares.

4. Considerações Finais

Os resultados obtidos mostram que a maior dificuldade que os estudantes enfrentaram foi na
gestão do tempo, alunos e espaço de aulas. Em duas escolas, os espaços são suficientes para a
realização das aulas, mas a sua ocupação criava dificuldades para a gestão do tempo da aula e do
clima. Em outras escolas, o pequeno espaço era compartilhado por 4 estudantes o que tornava
ainda mais difícil a gestão do espaço, tempo e clima da aula. Em relação a criatividade,
constatamos que os estudantes improvisavam o material e organizavam os alunos em pequenos
grupos o que melhorou a prestação motora das crianças.

Face a estes constatações sugerimos que os estudantes praticantes usem a organização da turma
em pequenos grupos com o respectivo líder, apliquem o método de ensino em estações usando
vários materiais de Educação Física e as vivências lúdicas das crianças.

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