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Dinâmicas de uma partí-cula (1865/1874)


Lewis Carroll

Introdução
“Era uma linda noite de outono e os gloriosos efeitos da aberração cromática estavam
começando a se mostrarem na atmosfera enquanto a terra revolvia distanciando-se da grande
luminária ocidental, quando duas linhas poderiam ter sido observadas dirigindo-se
cansadamente através de superfícies planas. A mais velha das duas, por longa prática, tinha
adquirido a arte, tão dolorosa para a jovem e impulsiva loci, de deita-se uniformemente entre
seus pontos extremos; mas a mais jovem, em sua impetuosidade de menina, queria logo
divergir e se tornar uma hipérbole ou alguma outra curva romântica e ilimitada. Elas tinham
vivido e amado: destino e as superfícies intervaladas até agora deixaram-nas divididas, mas
isso não aconteceria mais: a linha as entrecortou, juntando os dois ângulos interiores menos
do que dois ângulos retos. Era um momento para nunca ser esquecido e, enquanto viajavam
adiante, um sussurro se entusiasmou ao longo das superfícies em ondas de som isócronas:
“Sim! Nós finalmente iremos nos encontrar se produzidas continuamente!” (Curso de
Matemática de Jacobi, cap. 1).
Começamos com a citação acima como uma ilustração certeira da vantagem de
introduzir o elemento humano na até agora árida região da Matemática. Quem dirá que
germes do romance, até hoje não observados, não podem dar suporte ao assunto? Quem pode
dizer se o paralelogramo, que em nossa ignorância nós definimos e desenhamos, e todo o
conjunto daquelas propriedades que nós confessamos saber, não podem estar esse tempo todo
ofegantes por ângulos exteriores, simpáticos com o interior, ou reclamando pesadamente
diante do fato de que não pode ser inscrito em um círculo? Que matemático já se ponderou
sobre uma hipérbole, arregaçando a curva infeliz com linhas de interseção aqui e ali, em seus
esforços para provar alguma propriedade que talvez, depois de tudo, é uma mera calúnia, que
não imaginou por fim que o mau uso do locus estava espalhando suas assíntotas em uma
repreensão silenciosa, ou piscando um focus para ele com pena desdenhosa?
Em alguns, um espírito como esse, nós compilamos nas páginas seguintes. Brutos e
apressados como eles são, eles ainda exibem alguma coisa do fenômeno da luz, ou
“esclarecimento”, considerado como uma força, mais plenamente do que foi até agora
atentado por outros escritores.
Junho, 1865.
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Capítulo 1
Considerações gerais

Definições
I. SUPERDICIALIDADE PLANA é o caráter de um discurso, em que se tomando dois
pontos quaisquer, o falante repousa completamente, com respeito, nesses dois pontos.
II. RAIVA SUPERFICIAL é a inclinação de dois eleitores um com o outro, que se encontram
juntos, mas essas duas visões não estão na mesma direção.
III. Quando um promotor, encontrando outro promotor, faz os votos de um lado serem iguais
àqueles do outro, o sentimento recebido pelos dois lados é chamado RAIVA CERTA.
IV. Quando duas partes, ao se juntarem, sentem a Raiva Certa, cada um é dito ser
COMPLEMENTAR à outra (embora, falando estritamente, este é raramente o caso).
V. RAIVA OBTUSA é o que é maior do que Raiva Certa.

Postulados
I. Deixe ser concedido que um falante pode digressionar de qualquer ponto para qualquer
outro ponto.
II. Que um argumento finito (isto é, terminado e descartado) pode ser produzido em qualquer
grau nos debates subsequentes.
III. Que uma controvérsia pode ser levantada sobre qualquer questão, e de qualquer distância
daquela questão.

Axiomas
I. Homens que empatam no mesmo (quarto) são (geralmente) iguais uns para os outros.
II. Homens que dobram no mesmo (termo) são iguais a qualquer coisa.

Da votação
Os diferentes métodos de votam como se segue:
I. ALTERNANDO, como no caso do Sr. ................ que votou a favor e contra o Sr.
Gladstone, alternando as eleições.
II. INVERTENDO, como foi feito pelo Sr. ................ que veio de Edimburgo para votar,
entregou o papel de voto em branco e então voltou para casa regozijando.
III. COMPONENDO, como foi feito pelo Sr. ..............., cujo nome apareceu em dois comitês
de uma vez, através do qual ele ganhou elogios de todos os homens, no espaço de um dia.
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IV. DIVIDENDO, como no caso do Sr. ................, que estando gravemente perplexo com sua
escolha de candidatos, votou em nenhum.
V. CONVERTENDO, como foi maravilhosamente exemplificado por Messrs ................
e ................ que seguraram um longo e feroz argumento na eleição, em que, ao final das duas
horas, cada um tinha subjugado e convertido o outro.
VI. EX ÆQUALI IN PROPORTIONE PERTURBATÂ SEU INORDINATÂ , como na eleição, quando o
resultado foi por um longo tempo equalizado, e como ele foi segurado na balança, por razões
daqueles que tinham primeiro votado de um lado procurando formar um par com aqueles que
tinham chegado por último no outro lado, e aqueles que foram os últimos a votarem em um
lado sendo deixados de fora por aqueles que tinham chegado no outro lado, através do qual, a
entrada para a Casa da Convocação sendo bloqueada, os homens não podiam passar para
dentro nem para fora.

Da representação
Magnitudes são algebircamente representadas por letras, homens por homens de letras, e
assim em diante. Os seguintes são os principais sistemas de representação:
1. CARTESIANO: isto é, através de ‘cartes’. Esse sistema representa bem linhas, às vezes
bem demais; mas falha ao representar pontos, particularmente bons pontos.
2. POLAR: isto é, através de dois polos, ‘Norte e Sul’. Este é um sistema muito incerto de
representação, e um que não pode ser dependido com segurança.
3. TRILINEAR: isto é, através de uma linha que toma três cursos diferentes. Uma linha dessa
é usualmente expressa por três letras, como W.E.G.

Que o princípio da Representação foi conhecido para os antigos é abundantemente


exemplificado por Tucídides, que nos conta que o grito favorito de encorajamento durante
uma corrida de trirreme foi aquele em alusão às coordenadas polares, que ainda é ouvido
durante as corridas de nossos próprio tempo, ‘ρ5, ρ6, cos ∅ , eles estão ganhando!’

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