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Vitória Mendes - Odontologia UFPE 2021.

Histologia e embriologia oral


Aula 1: Aparelho Faríngeo – parte I
→ Aparelho faríngeo: um conjunto de estruturas embrionárias que vão dar origem as estruturas da face
e do pescoço. É uma evolução das estruturas que formam as brânquias dos peixes.
Relembrando...
Evento importantes da gastrulação (3ª semana de desenvolvimento):

• Simetria
• Formação da linha primitiva
• Ocorre a neurulação – formação do tubo neural
• Embrião trilaminar – três folhetos germinativos: ectoderma, endoderma e mesoderma.
✓ Ectoderma: vai dar origem as estruturas mais externas, como epiderme, olhos, orelhas,
SNC e P, células da crista neural e tecidos conjuntivos da cabeça.
✓ Endoderma: vai dar origem as estruturas mais internas, como o trato respiratório, TGI,
glândulas, fígado e pâncreas.
✓ Mesoderma: estruturas “do meio”, como músculos esqueléticos, células sanguíneas,
musculo liso visceral, cartilagem, ossos, tendões e derme.
• Formação da notocorda – origina os mesodermas lateral, intermediário e paraxial.
Desenvolvimento
→ Da 1ª a 3ª semana: embrião em forma de disco.
→ 4ª semana: começam a acontecer os dobramentos, dando início a morfogênese e histodiferenciação
– ao mesmo tempo que ocorrem os dobramentos, os tecidos estão se diferenciando.
→ Ao final do desenvolvimento, todos os órgãos principais já se originaram.
Neurulação

• À medida que o tubo neural se forma, um grupo de células (células da crista neural) se separa
do neuroectoderma, migra e se diferencia em diversas estruturas ao longo do desenvolvimento
do embrião.
• As células da crista neural referentes as regiões do mesencéfalo e do robômero (vesículas
mesencefálicas) migram em dois sentidos:
✓ Um vai formar o ectomesênquima da face (formação dos tecidos da face).
✓ Outro vai em direção ao primeiro arco branquial para participar do desenvolvimento de
várias estruturas dos maxilares.
• As células da crista neural referentes ao 3º robômero migram para o interior dos arcos e
formarão a faringe.
Fim da 4ª semana: as células da crista neural migram para a região da face e, juntamente com os
dobramentos, formam 6 ARCOS FARÍNGEOS (em seres humanos os arcos 5 e 6 são
transitórios/pouco desenvolvidos).
→ A face tem um desenvolvimento maior da 4ª a 8ª semana, mas ela cresce em proporção até à 12a
semana.
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APARELHO FARÍNGEO
→ Estrutura embriológica derivada dos dobramentos do embrião e originará as estruturas da face e
pescoço. Vai ser formada por:

ARCOS, SULCOS, BOLSAS E MEMBRANAS FARÍNGEAS.

Mesoderma Ectoderma Endoderma Ecto, endo e mesoderma

Cada arco faríngeo é separado


externamente por sulcos faríngeos e
internamente por bolsas faríngeas. E
existem as membranas faríngeas, que
unem a superfície do sulco com a da
bolsa.

ARCOS FARÍNGEOS

** Estomodeu: cavidade oral primitiva → separado do meio externo pela membrana bucofaríngea ou
orofaríngea. Essa membrana se rompe por volta do 26º dia e o embrião começa a deglutir.
O que cada arco origina?
1º ARCO FARÍNGEO → arco mandibular
• Proeminência maxilar (vai dar origem no futuro a maxila, zigomático e vômer)
• Proeminência mandibular (mandíbula e parte escamosa do temporal)
• O revestimento ectodérmico do 1º arco formará o epitélio oral.

2º ARCO FARINGEO → contribui para formação do osso hioide.


3º E 4º ARCOS FARÍNGEOS → contribui para a formação do pescoço.
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CADA ARCO FARÍNGEO POSSUI: artéria (vascularização), bastão cartilaginoso (estrutural),


músculo e nervos sensoriais (inervação).

Derivados das artérias


As artérias de cada arco branquial vão se juntar e formar o ARCO AÓRTICO, que dá origem as
estruturas vasculares da cabeça e do pescoço.
Derivados das cartilagens
Cartilagem do 1º ARCO: cartilagem de Meckel dividida em proximal, média e ventral, cada uma
forma estruturas diferentes. A proximal forma o martelo e a bigorna, a média forma o ligamento anterior
do martelo e o ligamento esfenomandibular e a ventral forma o primórdio da mandíbula (guia a
ossificação intramembranosa da mandíbula, portanto, defeitos genéticos na cartilagem de Meckel
prejudicam o desenvolvimento da mandíbula).

Cartilagem do 2º ARCO: cartilagem de Reichert, forma o estribo, o processo estiloide, o ligamento


estilo-hioideo e o corno menor e parte superior do corpo do osso hioide.

Cartilagem do 3º ARCO: forma o corno maior e parte inferior do corpo do osso hioide.
Cartilagem do 4º e 6º ARCOS: formam as cartilagens laríngeas (tiroide e cricoide), exceto a epiglote.
** O 5º arco é bem rudimentar e quando presente não possui derivados.
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Derivados dos músculos


• 1 º arco: músculos da mastigação
• 2º arco: músculos da expressão facial + estapédio, digástrico, estilohióideo e auricular
• 3º arco: estilofaríngeo
• 4º arco: cricotireoide, levantador do véu palatino e constrictores da faringe
• 6º arco: músculos intrínsecos da laringe
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Derivados dos nervos

SULCOS FAFRÍNGEOS

• Apenas o primeiro sulco contribui para a formação de uma estrutura pós natal – o meato
acústico externo.
• Os outros sulcos são normalmente obliterados à medida que o pescoço se desenvolve, formando
a superfície lisa do pescoço.
MEMBRANAS FARÍNGEAS
• Ectoderma do sulco + endoderma da bolsa + infiltrado do mesênquima = membrana.
• Apenas a primeira membrana contribui para a formação de estruturas no adulto → membrana
timpânica.
BOLSAS FARÍNGEAS
• Derivados da 1ª BOLSA FARÍNGEA: cavidade timpânica, antro mastoideo e tuba auditiva.
• Derivados da 2ª BOLSA FARÍNGEA: as células das criptas tonsilares sofrem diferenciação
e se forma a tonsila palatina.
• Derivados da 3ª BOLSA FARÍNGEA: se divide em dorsal (globosa e sólida, forma a
paratireoide 3 - inferior) e ventral (caudal, alongada, forma o timo).
• Derivados da 4ª BOLSA FARÍNGEA: paratireoide superior e corpo último branquial
(produz células que migram para a tireoide e formam as células parafoliculares, que produzem
calcitonina).

1ª BOLSA
1ª MEMBRANA

1º SULCO

2ª BOLSA

4ª BOLSA

3ª BOLSA

3ª BOLSA

4ª BOLSA
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**Vestígio branqueal cartilaginoso: normalmente as cartilagens faríngeas desaparecem, exceto as partes


que formam ossos e ligamentos, quando isso não acontece, forma-se o vestígio branqueal cartilaginoso.
**Síndrome do primeiro arco: desenvolvimento anormal dos derivados do primeiro arco → efeito no
pavilhão auricular, hipoplasia da mandíbula, macrostomia.

Aula 2: Aparelho Faríngeo – parte II


DESENVOLVIMENTO DA MANDÍBULA
→ Sobre cada cartilagem de Meckel, o ramo mandibular do nervo trigêmeo chega e projeta-se em
dois ramos, o lingual e alveolar inferior. O alveolar inferior se divide ainda em mentoniano e incisivo.

• 6ª semana: na região anterior ao nervo mentoniano ocorre uma condensação de células


mesenquimais que formam os centros de ossificação da mandíbula. A ossificação da
mandíbula não é pela cartilagem, mas sim pelos centos de ossificação (é uma ossificação
intramembranosa).
• 7ª semana: a ossificação intramembranosa da mandíbula se inicia nesses centros e crescem de
anterior a posterior até a fusão dos dois processos mandibulares.
• 10ª semana: surge a cartilagem condilar, no ramo da mandíbula. Essa região sofre ossificação
intramembranosa, mas ainda resta uma parte que depois sofre ossificação endocondral.
• 4º mês: surge a cartilagem coronóide. É invadida pelo processo de ossificação
intramembranosa e desaparece antes de nascer.
• Na região de sínfise: aparecem duas cartilagens que só desaparecem depois de um ano. Já a
sínfise se fusiona dias antes do nascimento.
Malformações
Micrognatia: a cartilagem de Meckel na região de mento não se desenvolve
completamente devido a algum fator genético e o paciente fica com a mandíbula pouco
desenvolvida. Dependendo do grau, pode ser cirúrgico ou não.
Síndrome de Pierre Robin: consiste em uma tríade de anomalias: micrognatia, glossoptose (língua
numa localização mais baixa) e fenda de palatina. Comumente associada com outras síndromes e
ocasionalmente com alterações oculares. Ex: Noel Rosa.
Agnatia: o indivíduo nasce SEM mandíbula, mas altera também o formato da orelha
(geralmente é um problema no 1º arco faríngeo).

DESENVOLVIMENTO DA FACE

• Envolve apenas o 1º arco.


• No início da 4ª semana de desenvolvimento, surgem ao redor do estomodeu 5 processos que
são os primórdios da face: 1 proeminência frontonasal, 2 maxilares e 2 mandibulares.
• Essas proeminências são produzidas principalmente por células da crista neural. São centros
ativos de crescimento do mesênquima subjacente.
28 dias:
✓ Aparecimento dos placoides nasais
(dando início a formação das fossas
nasais).
✓ Processo mandibular fusionado.
✓ Placoide óptico na lateral
(primórdio do globo ocular).
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33 dias:
✓ Processo ou proeminência maxilar já está mais fusionado.
✓ Surgem as proeminências nasais e fossetas nasais (a partir dos placoides nasais).
✓ Proeminência nasal é ‘dividida’ em: medial e lateral.

33 dias

35 dias:

• As proeminências mediais se fusionam criando um segmento intermaxilar que formará o filtro


do lábio. Essa fusão das porções mediais impede que as laterais se fusionem (as laterais vão
formar a asa do nariz).

PRIMÓRDIOS DE CADA REGIÃO


❖ Processo frontonasal: testa, dorso e ápice do nariz.
❖ Processo maxilar: lábio superior, porção superior da bochecha, maxila de canino para trás e
palato, osso zigomático e porção esponjosa do osso.
❖ Processo mandibular: fosso mandibular, porção inferior da bochecha, lábio inferior e mento.
❖ Processo nasal lateral: asa do nariz.
❖ Processo nasal medial: septo nasal, filtro do lábio, a pré maxila e palato primário, osso etmoide
e placa cribiforme. Uma parte do processo nasal medial vai se juntar com a proeminência
maxilar.
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PALATOGÊNESE (formação do palato)


6ª semana:

• Palato primário: anterior a fossa incisiva e originado da fusão


das proeminências nasais mediais com a maxila.
• Palato secundário: é formado da fusão das cristas palatinas
(do processo maxilar). Dando origem ao palato duro e mole.

Fusão da p. nasal medial +


maxila

Cristas palatinas

• O processo maxilar forma duas prateleiras que chamamos de lâmina palatinas ou processos ou
cristas palatinas.
• Quando a língua entra em movimento ela desce e acaba empurrando as cristas palatinas para
se fusionarem entre si e com o septo nasal.
• Palatogênese acaba quando termina a fusão da úvula e a fusão das prateleiras entre si e com o
septo nasal.
• A fusão se inicia na porção mediana do palato.

septo nasal Fusão das cristas


palatinas entre si e
com septo nasal =
palato secundário.

Fendas palatinas
• São ocasionadas por defeitos genéticos ou ambientais, que interferem no desenvolvimento até
os 3 primeiros meses de gestação.
• Inúmeras causas: álcool, drogas, radiação, cigarro, anticonvulsivantes, corticóides, componente
hereditário
• O lábio pode ser reparado a partir do 3º-6º mês de vida e o palato a partir de 1º ano.
• A probabilidade de ocorrer lábio leporino e fenda palatina pode ser reduzida se a mãe tomar
ácido fólico antes da gravidez e durante o primeiro trimestre de gestação.
→ Fenda palatina (FP): falha na fusão das cristas palatinas.
→ Fenda labial (FL): fusão defeituosa do processo nasal mediano com o processo maxilar.
**Frequentemente, a FL e a FP ocorrem juntas.
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Classificação das fendas

• Leva em consideração o forame incisivo (pré, pós ou


transforame).
• Podem ser uni ou bilaterais.
• Podem ser completas ou incompletas.
✓ Fissura labial completa: lábio e palato.
✓ Fissura labial incompleta: só lábio.
✓ Fissura palatina completa: palato duro e mole.
✓ Fissura palatina inc.: ou palato duro ou mole.
Spina, 1972

Exemplos:

Tratamento: aparelhos protéticos e ortopédicos


são com frequência utilizados para moldar ou
expandir os segmentos da maxila antes do
fechamento do defeito do palato. Na fase mais
tardia da infância, enxertos ósseos autógenos
podem ser colocados na região defeituosa do osso
alveolar.
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→ A menor manifestação da FP é a úvula fendida ou úvula bífida (não tem


manifestações clinicas significantes).

→ Fenda oblíqua da face: defeito na formação do processo fronto nasal e do 1º arco


faríngeo.

DESENVOLVIMENTO DA LÍNGUA

• Se desenvolve a partir dos primeiros quatro arcos faríngeos (embora a contribuição do


segundo arco desapareça).
• Serão formadas a parte oral e a parte faríngea da língua.
• Entre o 1º e o 2º arco está o forame cego. Imediatamente a frente dele, aparece uma
protuberância pequena, chamada tubérculo lingual mediano. A frente do tubérculo lingual
mediano, desenvolvem-se 2 tubérculos linguais laterais, que vão crescendo e se fusionam,
formando a porção anterior da língua, chamada PORÇÃO ORAL DA LÍNGUA, que tem
papila gustativa. O tubérculo mediano não forma parte reconhecível da língua. Toda a porção
oral é formada então pelo 1º arco.
• Posterior ao forame cego, há um tubérculo mediano do segundo arco que é chamado de cópula.
No terceiro e no quarto arcos há outra eminência maior, chamada eminência hipobranqueal.
Cópula e eminência vão se juntar, formando a porção posterior da língua, chamada de
PORÇÃO FARÍNGEA DA LÍNGUA, que não tem botão gustativo, tem muito tecido linfóide.
A porção faríngea é formada então pelo 3º e 4ºarcos.

** A parte inferior anterior da língua sofre apoptose, deixando a língua livre na porção anterior e presa
na porção posterior. Uma pequena quantidade de membrana mucosa permanece, denominada frênulo
lingual.
Malformações da língua

• Anquiloglossia: língua presa (freio lingual), que prejudica a amamentação e fala.


• Macroglossia: hiperdesenvolvimento da língua.
• Língua bífida: fusão incompleta dos tubérculos linguais laterais.
• Fosseta labial: bilateral ou na região de comissura. Não tem manifestação clínica.
• Desvio de septo: o septo nasal cresce em ângulo à medida que se desenvolve.
• Tórus palatino: pequeno volume no palato, ocasionado pelo hiperdesenvolvimento das cristas
palatinas.

Fosseta labial Desvio de septo Tórus palatino

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