Você está na página 1de 7

EMBRIOLOGIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO

INTRODUÇÃO

A Embriologia é uma ciência que oferece informações importantes sobre os processos de


desenvolvimento, tanto normal quanto patológico deste sistema, proporcionando, assim, bases para
a abordagem na avaliação do paciente, análise de seus dados e eleição do processo terapêutico mais
apropriado para determinado caso.
Abordaremos temas relacionados à origem embriológica do sistema estomatognático, como o
desenvolvimento do aparelho faríngeo e das estruturas orofaciais originadas a partir deste aparelho,
dentre elas a face, o pescoço, a língua, o palato, a laringe, as glândulas salivares e a articulação
temporomandibular.

SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO

O Sistema Estomatognático identifica um conjunto de estruturas orais que desenvolvem


funções comuns, com uma participação constante da mandíbula.
É composto por ossos, músculos, articulações, dentes, lábios, língua, bochechas, glândulas,
artérias, veias e nervos que realizam funções vitais do organismo, sendo-os sucção, mastigação,
deglutição, respiração e sociais, fonação e articulação.

DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO

O desenvolvimento embrionário do Sistema Estomatognático, tem como ponto de partida a


formação do aparelho faríngeo, que dará origem aos diferentes componentes cervicais e cranianos,
mais a região orofacial. O desenvolvimento da face, maxila, mandíbula, lábios, língua, palato,
pescoço, laringe, articulação temporomandibular, etc, envolvem a transformação do aparelho
faríngeo nas estruturas adultas.
A formação e o desenvolvimento do aparelho faríngeo ocorrem durante o período embrionário,
que dura da segunda à oitava semana de desenvolvimento intrauterino. Este período caracteriza-se
por ser a etapa de maior vulnerabilidade do desenvolvimento, já que a ação de qualquer agente
teratogênico (tudo aquilo capaz de produzir dano ao embrião ou feto durante a gravidez. Estes danos
podem se refletir como perda da gestação, malformações ou alterações funcionais), pode ocasionar
danos irreversíveis à morfologia da região cervicocraniofacial do embrião. O grau de alteração
dependerá da região e do período no qual o agente irá atuar, além da duração e intensidade que o
embrião será exposto ao mesmo.

APARELHO FARÍNGEO
O sistema cardiovascular principia sua formação na terceira semana do avanço embrionário,
sendo assim, o primeiro sistema funcionar no embrião. O coração está conformado por dois tubos
cardíacos básicos que passam por fusão para formar um único tubo, o tubo cardíaco primitivo.
O coração tubular estende-se e desenvolve dilatações e compressões intercaladas: bulbo
cardíaco, ventrículo, átrio e seio venoso.
Do bulbo cardíaco, em especial, do tronco arterial, surge o saco aórtico, uma dilatação que se
divide em seis pares de artérias, que irão preencher os arcos faríngeos, terminando na aorta dorsal.
O primeiro, segundo e quinto arcos aórticos retrocedem, o terceiro formará as artérias
carótidas direita e esquerda, o quarto, a artéria subclávia direita e o arco da aorta, o sexto arco
aórtico formará as artérias pulmonares.
1
Primordialmente, o Aparelho Faríngeo chamava-se “Aparelho Branquial” devido à
equivalência entre o desenvolvimento da cabeça e do pescoço de um embrião humano de quatro
semanas e um embrião de peixe. No peixe o aparelho branquial formará as brânquias ou guelras,
enquanto no ser humano terá as regiões cervicais e craniofaciais. Considerando-se, no humano está
relacionada à faringe primitiva, parte cefálica do intestino anterior, deste modo na atualidade
emprega o termo Aparelho Faríngeo.
Anatomicamente, o Aparelho Faríngeo é composto por arcos faríngeos, bolsas faríngeas,
sulcos faríngeos e membranas faríngeas, são estruturas embrionárias que, contribuem para a
formação da cabeça e do pescoço. Porém, quando o embrião tem aproximadamente, 4mm de
comprimento pode-se considerar que o sistema nervoso, quanto o cardiovascular, já iniciou sua
formação. Além disto, percebe-se a presença de saliências laterais formadas aos pares na região
cefálica do embrião, que correspondem aos arcos faríngeos. Estas elevações são maciços
mesodérmicos determinados por invaginações internase externas.
Cada arco faríngeo é composto por um eixo de mesênquima (tecido conjuntivo embrionário),
revestido externamente por ectoderma e revestido internamente por endoderma. Além do
mesênquima derivado do mesoderma paraxial e do mesoderma da placa lateral, o centro do arco
recebe numerosas células da crista neural.
Contribuem para os componentes esqueléticos da face, e a interação dessas células da crista
neural com o mesênquima do arco. Formando o tecido denominado de ectomesênquima,
responsável pelas estruturas ósseas, dentárias (com exceção do esmalte), conjuntivas e musculares
da região craniofacial.
O mesoderma original dos arcos dá origem à musculatura da face e do pescoço. Os
componentes musculares de cada arco são inervados por seu próprio nervo craniano e, seja qual for
o destino das células musculares, elas carregam seu componente nervoso com elas. Além disso,
cada arco tem seu próprio componente arterial. Portanto, um arco faríngeo típico contém:
Uma artéria que se origina do tronco arterioso do coração primitivo e passa ao redor da faringe
primitiva para entrar na aorta dorsal, a maior parte das artérias dos arcos faríngeos desaparece, um
bastão de cartilagem hialina que forma o esqueleto do arco, um componente muscular que se
diferencia nos músculos da cabeça e do pescoço, e nervos sensoriais e motores que suprem a
mucosa e os músculos derivados de cada arco.
Formam-se seis arcos bilateralmente à faringe primitiva; o quinto sofre regressão e o sexto
passará a ser o quinto, os quatro primeiros arcos são separados externamente por meio de sulcos
faríngeos (fendas) em cada lado e internamente por repartição nomeadas bolsas faríngeas. As áreas
em que o ectoderma dos sulcos faríngeos entra em contato com o endoderma das bolsas faríngeas
nomeia-se membranas faríngeas.
Os arcos faríngeos aparecem no início da quarta semana, produtos da migração de células da
crista neural, até o mesoderma da esperada região cervical e craniofacial, provocando sua expansão.
Os Arcos Faríngeos constituem-se por um centro de ou ectomesênquima, revestido externamente
por ectoderma e interiormente por endoderma da faringe primitiva, com exclusão do primeiro arco,
por que é formado adiante da membrana buco faríngea, tem suas superfícies completamente
revestidas por ectoderma.
No centro do ectomesênquima têm um arco aórtico: artéria que surge do saco aórtico no
coração primitivo, uma cartilagem de suporte: que forma o esqueleto do arco, um componente
muscular: será o início aos músculos na cabeça e no pescoço, um componente nervoso: que provê a
mucosa e os músculos originário de cada arco.

2
PRIMEIRO ARCO FARÍNGEO
Boca Primitiva: Aparece como leve depressão no ectoderma e está separada da faringe
primitiva pela membrana bucofaríngea, se forma 3ª semana.
Formam-se 2 saliências processo maxilar: menor, origina a maxila (exceto região de pré-
maxila), o osso zigomático e a parte escamosa do temporal por ossificação intramembranosa, e
processo mandibular: maior, forma a mandíbula por ossificação intramembranosa, com exceção do
côndilo e da sínfise.
A cartilagem do primeiro arco faríngeo é a cartilagem de Meckel, que surge entre o 15º e
18ºdia, no ectomesênquima do processo mandibular, desde a região timpânica até a linha mediana
de cada processo, que finalmente sofrerá fusão.
Serão as timpânica: fará origem aos ossículos, martelo e a bigorna, por ossificação
endocondral, retromandibular: sofrerá alteração, mas o pericôndrio formará o ligamento anterior do
martelo e o ligamento esfenomandibular, paramandibular: região que não fará origem a nenhuma
estrutura específica, mas guiará o avanço do corpo mandibular que sucede por ossificação
intramembranosa, sinfisária: permitirá o crescimento pós-natal da mandíbula por ossificação
endocondral.
Formará os músculos da mastigação: temporal, masseter, pterigóideos medial e lateral, ventre
anterior do digástrico, milo-hiódeo, tensor do tímpanoetensor do véu palatino, inervando o V par de
nervo craniano (trigêmeo), através de seus dois ramos caudais (maxilar e mandibular).

SEGUNDO ARCO FARÍNGEO


O segundo arco participa, junto com o terceiro arco, formando do osso hioide. A proliferação
ativa do tecido mesenquimal no segundo arco faz com que ele se sobreponha externamente ao
terceiro e quarto arcos, se fusionando com a crista epicárdica na porção inferior do pescoço,
resultando no aspecto liso do pescoço. Desta forma, o segundo, terceiro e quarto sulcos faríngeos
perdem o contato com o exterior, formando uma cavidade revestida por epitélio ectodérmico, o seio
cervical, que desaparecerá com a progressão do desenvolvimento.
A cartilagem que suporta o segundo arco faríngeo é a cartilagem de Reichert, é similar à de
Meckel e está dividida em regiões: Timpânica ou estapédio-hial: formará o osso estribo ossificação
endocondral, estilo-hial: dará origem ao processo estiloidedo do osso temporal por ossificação
endocondral, cerato-hial: degenera, mas o pericôndrio formará o ligamento estilo-hioideo, apo-hial:
dará origem aos cornos menores e parte superior do corpo do osso hioide por ossificação
endocondral. Formando os músculos da expressão facial bucinador, auricular, frontal, platisma,
orbicular dos lábios e dos olhos, ventre posterior do digástrico, estilo-hióideo e estapédio. Sendo
assim inervando o VII par de nervo craniano (facial).

TERCEIRO ARCO FARÍNGEO


A cartilagem do terceiro arco, nomeia-se cartilagem tíreo-hióidea, originando os cornos
maiores e a parte inferior do corpo do osso hioide por ossificação endocondral. O componente
muscular forma o músculo estilofaríngeo, inervando o IX par de nervo craniano (glossofaríngeo).

QUARTO ARCO FARÍNGEO


A cartilagem deste arco formará a porção superior da cartilagem tireóidea. Formando a úvula,
levantador do véu palatino, palatofaríngeo, palatoglosso, constritor superior da faringe, constritor
médio da faringe, constritor inferior da faringe, salpingofaríngeo e cricotireóideo, inervando o X par
de nervo craniano (vago), por meio do ramo laríngeo superior.

3
QUINTO ARCO FARÍNGEO (que na verdade é o sexto porque o quinto involui)
O componente cartilaginoso deste arco fará origem às demais cartilagens laríngeas (epiglote,
cricóide, aritenóides, cuneiformes e corniculadas), formando ao músculos tireoaritenóideo,
tireoepiglótico, vocal, cricoaritenóideo lateral e posterior, aritenóideo oblíquo e transverso e o
ariepiglótico, também é realizada pelo X par de nervo craniano (vago), por meio do ramo
laríngeo recorrente.

BOLSAS FARÍNGEAS

As bolsas desenvolvem-se em uma sequência craniocaudal entre os arcos. O endoderma das bolsas
entra em contato com o ectoderma dos sulcos faríngeos, e eles formam a dupla camada de
membranas faríngeas, que separa as bolsas dos sulcos.

PRIMEIRA BOLSA FARÍNGEA

A primeira bolsa expande-se em um alongado recesso tubotimpânico. A porção distal (distal é a


parte mais afastada, distante do tronco ou do ponto de origem), expandida desse recesso entra em
contato com o primeiro sulco, onde mais tarde contribui para a formação da membrana timpânica
(tímpano). A cavidade do recesso tubotimpânico torna-se a cavidade timpânica e o antro mastoide.
A conexão do recesso tubotimpânico com a faringe alonga-se gradualmente para formar a tuba
faringotimpânica, ou seja, a tuba auditiva.

SEGUNDA BOLSA FARÍNGEA

Embora a segunda parte seja obliterada, isto é, fechada conforme a tonsila palatina se desenvolve e
parte da cavidade dessa bolsa permanece como o seio tonsilar (fossa).
O endoderma da segunda bolsa prolifera e cresce penetrando no mesênquima subjacente. As partes
centrais desses brotos se rompem, formando as criptas tonsilares (depressões semelhantes a
fossetas). O endoderma da bolsa forma o epitélio superficial e o revestimento das criptas tonsilares.
Com aproximadamente 20 semanas, o mesênquima em torno das criptas diferencia-se em tecido
linfoide, que logo se organiza em nódulos linfáticos da tonsila palatina. Originando as amígdalas.

TERCEIRA BOLSA FARINGEA

A terceira bolsa expande-se e forma uma parte dorsal bulbar sólida e uma parte ventral oca
alongada.
Sua conexão com a faringe é reduzida a um ducto estreito que logo se degenera. Por volta da sexta
semana, o epitélio de cada parte bulbar dorsal da bolsa começa a se diferenciar em uma glândula
paratireoide inferior. O epitélio das partes ventrais da bolsa alongada se prolifera, obliterando suas
cavidades. Essas partes se unem se unem no plano mediano para formar o timo, que é o órgão
linfoide primário. A estrutura bilobada desse órgão linfático permanece por toda a vida,
discretamente encapsulada. Originando a glândula tireoide.

QUARTA BOLSA FARÍNGEA

A quarta bolsa expande-se em uma parte bulbar dorsal e uma ventral alongada. Sua conexão com a
faringe é reduzida a um ducto estreito que logo degenera. Por volta da sexta semana, cada porção

4
dorsal se desenvolve em uma glândula paratireoide superior, que se localiza na superfície dorsal da
glândula tireoide. Origina o Timo e as glândulas paratireoides.

QUINTA BOLSA FARINGEA

Esta bolsa, algumas vezes, está ausente e quando está presente é muito pequena. Ao se desenvolver
formará parte do corpo ultimofaríngeo que se fundirá com a glândula tireoide. Suas células se
disseminam dentro da tireoide e formam as células parafoliculares. Essas células são também
conhecidas como células C, indicando que elas produzem Calcitonina, um hormônio que reduz os
níveis de cálcio no sangue.

SULCOS FARÍNGEOS

As regiões da cabeça e do pescoço do embrião apresentam quatro sulcos faríngeos de cada


lado, os quais separam externamente os arcos faríngeos.
O primeiro sulco, localizado entre o primeiro e o segundo arco faríngeo, dará origem a uma
estrutura adulta, o meato acústico externo.
O seio cervical, devido ao desenvolvimento do pescoço, será obliterado pelo segundo arco
faríngeo ao crescer sobre os sulcos, ou seja, desaparecerá.

MEMBRANAS FARÍNGEAS

Também são quatro, cada uma sendo composta pelo tecido localizado entre uma bolsa faríngea
e um sulco faríngeo.
São formadas por ectoderma externamente, ectomesênquima na parte central e um
revestimento interno de endoderma.
A membrana timpânica é a única estrutura adulta que será originada por uma membrana
faríngea. No caso, ela será formada pela aproximação do endoderma da primeira bolsa faríngea com
o ectoderma do primeiro sulco.

FORMAÇÃO DO ESQUELETO CRANIOFACIAL

O crânio pode ser dividido em 3 componentes: calota ou abóbada craniana, base do crânio e
face. O desenvolvimento do esqueleto craniofacial ocorre a partir da 4ª semana e está relacionado às
células da crista neural e ao mesoderma paraxial.
As células da crista neural contribuem para a formação de ossos de 3 regiões do crânio.
Já o mesoderma paraxial, localizado lateralmente ao tubo neural, se dividirá parcialmente em
somitômeros na região da cabeça, e em somitos caudamente a partir da região occipital. Ambos
contribuem para a formação dos ossos da abóboda craniana e da base do crânio.

VISCEROCRÂNIO

 Parte do crânio que formará o esqueleto facial.


 Deriva dos dois primeiros arcos faríngeos, no qual situam-se as células da crista neural.
 Pode ser dividido em:

5
• Viscerocrânio membranoso - originado dos processos maxilares e mandibulares do primeiro arco
faríngeo, consiste nos ossos da face (maxila, zigomático, palatino, lacrimal, nasal, concha nasal
inferior, vômer e grande parte da mandíbula) e na porção escamosa do temporal. Predomina a
ossificação intramembranosa.
• Viscerocrânio cartilaginoso - originado dos dois primeiros arcos faríngeos, consiste nos ossículos
da orelha média, hioide, processo estiloide do temporal e região de côndilo e sínfise da mandíbula.
Predomina a ossificação endocondral.

NEUROCRÂNIO

 Parte do crânio que dará origem aos ossos da calota craniana e da base do crânio, formando
uma caixa protetora para o encéfalo.
 Pode ser dividido em:

• Neurocrânio membranoso - consiste nos ossos chatos (frontal, parietal e occipital) que envolvem
o encéfalo como uma abóboda. É derivado das células da crista neural e do mesoderma paraxial e
sofre ossificação intramembranosa.
• Neurocrânio cartilaginoso - consiste nos ossos da base do crânio (etmoide, esfenoide, temporal e
occipital), também deriva das células da crista neural e do mesoderma paraxial, sofrendo ossificação
endocondral.

REFERÊNCIAS

Livro: Embriologia Clínica, tradução da 10ª edição – Keith L. Moore, T.V.N. Persaud, Mark G.
Torchia, 2016;

6
Livro: Motricidade Orofacial – Fundamentos neuroanatômicos, fisiológicos e linguísticos –
Franklin Susanibar; Irene Queiroz Marchesan; Vicente José Assencio Ferreira; Carlos Roberto
Douglas; David Parra; Alejandro Dioses / 1ª edição – 2015

Você também pode gostar