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1ª edição revista

BIBlIOTECA9 COMO ORGANIZAÇÕE9


Alba Costa Maoiel
Marnia Alvarenga Rooha Mendonça

BIBLIOTECAS
COMO ORGANIZAÇÕES

1ª edição revista

Rio de Janeiro
Interciência
Niterói
Intertexto
2006
© 2006 by Alba Costa Maciel e Marllia Alvarenga Rocha Mendonça SUMÁRIO
Diretos desta edição reservados à Interciêncla Lida. e Intertexlo.
É proibida a reprodução total ou parcial. por quaisquer meios.
sem autorização por escrito das editoras.

Projeto gráfico, capa e editoração:


Ednéa Pinheiro da Silva
Revisão: BIBLIOTECAS COMO ORGANIZAÇÕE9. 7
Eliana da Silva e Souza
FUNÇÕE9 E AGRUPAMENTO ~E FUNÇÕES
EM UNIDADE9 DE INFORMAÇAO, 13

2.1 FUNÇÕE9 NA FA9E DE FORMAÇÃ~,


Dados Internacionais de Catalogação da Publicação (CIP) DE9ENVOlVIMENTO E ORGANIZAÇAO
M 152 Maciel, Alba Costa
DE COlEÇÕE9. 16
Bibliotecas como organizações I Alba Costa Maciel, Marilia
2.1.1 Prooesso de formação e desenvolvimento
Alvarenga Rocha Mendonça. - 1. ed. fav. Rio de Janeiro:
Inlardência; Niterói: Interlexlo, 2006. de ooleções, 16
94 p. : 11. ; 21 em. 2.1.1.1 Planejamento e elaboração de polítioas. 17
Bibliografia: p. 91-94. 2.1.1.2 geleção. 19
ISBN 85·7193·038·4. Aquisição, 20
2.1.1.3
1. Biblioteca - Administração. 2. BIblioteca - Planejamento. 2.1.1.4 Avaliação de ooleções. 23
I. Mendonça. Marllla Alvarenga Rocha. 11. Tllulo. Desbastamento e desoarte de ooleções. 25
2.1.1.5
CDD025
2.1.2 Prooesso de organização de ooleções
para disponibilização. 27
2.1.2.1 Prooessamento téonico. 27
www.edltoralnterelencla.com.br
2.1.2.2 Armazenagem. 30
2.2 FUNÇÕE9 NA FASE DE DINAMIZAÇÃO
DA9 COlEÇÓE9. 32
Editora Interclêncla Ltda.
Rua Verna Magalhães, 66 - Engenho Novo 2.2.1 Referência, 33

D8D Rio de Janeiro - RJ - 20710·290


Tel.: (21) 2581-9378/2241-6916 - Fax: (21) 2501·4760
e-mai!: vendas@ediloralnlerclencia.com.br
2.2.1.1 Divulgação, 34
2.2.1.2 Orientação e auxnio ao usuário. 36
2.2.2 Ciroulação, 37

Intertexto 2.2.3 Reprodução. 39


Estrada Caetano Monteiro, 2835 Rua F, nll' 1
2.3 FUNÇÓE9 GERENCIAI9. 39

-
lNTERTEXTO Pendoliba. Niterói. RJ. CEP 24320-570
Telefax: (21) 2617-6536
e-maU: Intertex@urbl.com.br
2.3.1 A visão clássica, 42
BIBLIOTECAS
2.3.1.1 Planejamento, 43
2.3.1.2 Organização, 45 COMO ORGANIZAÇÕES
2.3.1.3 Direção, 50
2.3.1.4 Controle, 53 Gerentes de bibliotecas são pessoas hiper ocupa-
2.3.2 Funções gerenciais segundo Mintzberg, 55 das. A maioria das vezes não têm tempo para refletir
sobre o seu trabalho e, em especrtico, sobre a estru-
2.3.2.1 Funções interpessoais, 55 tura que o sustenta. Estão sempre ligadíssimos no
2.3.2.2 Funções informacionais, 56 imediatismo das tarefas urgentes - que são constantes - e na co-
2.3.2.3 Funções decisórias, 57 brança delas decorrentes, que são para ontem.
3 O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, 59 Pequenas organizações podem trabalhar bem sobre pequenas estru-
turas formais, muitas vezes ignoradas - paradoxalmente - pelo pró-
4 MODElAGEM DA ORGANIZAÇÃO, 67 prio gerente. Mas, quando estas estruturas começam a crescer e a se
4.1 GRÁFICOS DE ORGANIZAÇÃO EM UNIDADHl tornar mais complexas, mais atenção tem que ser dada a este parti-
DE INFORMAÇÃO, 68 cular: o profissional tem que parar para refletir antes que o caos, não
criativo, se instaure definitivamente.
4.1.1 Organogramas, 69
Administração é a realização de determinadas atividades com e por
4.1.2 Funcionogramas, 74 meio de pessoas, organizadas em grupos formalmente estruturados,
tendo em vista um objetivo comum. Não basta uma reunião de pesso-
4.1.3 Fluxogramas, 76
as para que haja a presença da ação administrativa. São fundamen-
4.2 NOVOS MODElOS DE ORGANIZAÇÃO, 88 tais as organizações (FERREtRA; OLIVEIRA, 1989, p. 17).

REFERÊNCIA!!, 91 Atualmente vivemos realidades paralelas. Enquanto muitas bibliote-


cas se movem no contexto virtual possibilitando o acesso às publica-
ções eletrônicas e à Internet, desvelando uma nova dimensão de tempo
e espaço, outras, por uma série de fatores e um sem número de cau-
sas, permanecem estoques de documentos cujo objetivo é sua loca-
lização para empréstimo e consulta. .
Seja qual for a categoria e a realidade em que se enquadre, a bibliote-
ca deve ser vista como uma organização, como uma empresa, a
maioria das vezes, com fios não -lucrativos, com resultados progra-
mados e avaliados ·êonstantemente. Acredita-se que esta seja uma
estratégia que possibilitaria à biblioteca competir, com maior acerto,
no ambiente de inovações e incertezas que caracterizam o período.
Um modo de facilitar o seu gerenciamento e acrescentar qualidade
aos seus produtos e serviços, evidenciando o seu papel social junto
às comunidades envolvidas.
O estudo da organização pode ser primariamente útil como um meio
para bibliotecários adquirirem a compreensão, não só do entendimen-

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to da estrutura administrativa implfcita à biblioteca, como também A Escola de Sistemas defende basicamente a idéia de que a organi-
dos mecanismos de integração formal dessa estrutura com a instituI- zação deve ser estruturada com base nas redes de inlormação enos
ção que a sustenta. E, na pior das hipóteses, se não existir nenhum dispositivos de comunicação mais eficazes para tomadas de deci-
esquema organizacional como base, é o momento de se começar a são. Destaca a importância das interações, tanto dentro da organiza-
pensar seriamente no caso. ção - entre as suas diferentes seções -, como fora dela - entre a
O reconhecimento de problemas, sua localização e seu possrvel instituição e o seu meio ambiente (LUPORINI, 1985, p. 43).
equacionamento só podem ser realizados a partir da perspectiva do Como uma sequência à Escola de Sistemas surgiu o Contin-
observador dentro da estrutura onde eles ocorrem. gencialismo, que herdou desta a preocupação com o meio ambiente
Como se configura a estrutura que sustenta o trabalho das equipes que permeia a organização. Flexibilidade e adaptação tornam-se as
dentro da biblioteca? Como esta estrutura se integra à instituição que a palavras chaves do contingencialismo, exigindo das organizações a
abriga? Estamos efetivamente engajados na missão da instituição? dinâmica necessária para atuarem nestes tempos em que as mudan-
Possurmos, nós mesmos, uma missão definida? Constituímos focos ças são rápidas e constantes e, como afirma Motla (1998, p. 111).
ou circuitos provedores de informação para a instituição? Todos os Tornou-se necessário reverter as práticas organizacionais
seus segmentos são atingidos? A equipe de trabalho cumpre as suas existentes para conquistar novas idéias de flexibilidade, mais
tarefas com eficácia? Estão cientes que do seu bom desempenho ajustáveis às mudanças, ambiguidades e contradições do
depende o alcance dos objetivos da biblioteca? Os serviços e produtos mundo contemporâneo.
que a biblioteca oferece são avaliados? O que faz um gerente? As Assim, a busca de novos modelos de flexibilidade organizacional aponta
informações necessárias à gerência da biblioteca estão disponibilizadas novos caminhos para aqueles que pretendem se adequar às novas
adequadamente? Os grupos de trabalho interagem ou permanecem iso- exigências.
lados em suas seções? Se fossemos extintos, farramos falta? São
inúmeras as questões que procuraremos abordar e, de maneira despre- Atualmente, uma abordagem original e instigante focaliza o caráter
tensiosa, equacionar, no decorrer do presente trabalho. 7 t@físticy das organizações .. A concepção h~'ográfica assemelha-se
à concepção mrsllca do universo: tudo esta em cada cOisa e cada
Mercadante (1990, p. 31) enfatiza a inexistência de instrumentos ad- coisa em tudo. Desta concepção filosófica decorrem alguns princlpios
ministrativos nas bibliotecas universitárias brasileiras e, podemos para o planejamento e o funcionamento das organizações, bastante
acrescentar, a carência de visão estrutural, de visão de raiz da biblio- interessantes. Se o principio básico é colocar o todo nas partes, isto
teca como uma organização. pode ser alcançado na prática através da utilização de redundância, ou
Desde o surgimento da Administração Cientrlica diferentes escolas seja, o aumento da rede de conexões e a obtenção de especializa-
propuseram seus modelos de organização. A Escola Clássica volta- ção e generalização simultâneas (MOSCOVICI, 1988, p. 109). A re-
se para o estudo das atividades a fim de alcançar os objetivos. Foca- dundância, quando adequadamente planejada, propicia uma capacida-
liza pontos centrais como a necessidade de especialização do traba- de de reserva como espaço dinâmico para várias funções. Isto aconte-
lho e o agrupamento das funções. Enfatiza a importância do esclare- ce em organizações bem sucedidas, que têm grupos de trabalhos nos
cimento minucioso das tarefas, a atribuição de responsabilidades e quais os indivrduos desenvolvem habilidades variadas para executa-
autoridade e a definição do itinerário de comando. rem, além do seu trabalho cotidiano, o trabalho dos colegas, podendo
substitur-Ios quando necessário. Cada pessoa funciona como um siste-
A Escola de Relações Humanas procura enfatizar as pessoas den- ma especializado, com habilidades específicas e, ao mesmo tempo,
tro da organização e o seu ambiente de trabalho. Volta-se, notadamente, como um sistema generalista, com capacidade de atender a situa-
para o estudo da motivação, relacionamentos intergrupais, e a coope- ções novas e mudanças repentinas. Executa bem suas tarefas e,
ração espontânea entre gerência e empregados para o alcance dos concomitantemente, interessa-se pelas tarefas dos outros, procura
objetivos. aprender e conhecer mais com os outros, obtendo assim, uma visão
clara e integrada do conjunto da organização.

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Acreditamos que os princípios e valores implfcitos nos paradigmas dutos oferecidos. A vinculação que resultou em O&M é clara, eviden-
da Escola Holístlca possam representar, no momento atual, uma pro- te e necessária, exigindo do administrador estudo e atenção espe-
posta extremamente válida e criativa para o equacionamento dos pro- ciais, porque a organização e os métodos são necessários em todas
blemas que surgem na área de Administração de Bibliotecas, com as atividades humanas, do mais rudimentar empreendimento ao mais
ênfase aos relacionados à falta de recursos humanos e ao seu frouxo complexo projeto astronáutico (FARIA, 1994, p. 2). A biblioteca não é
engajamento aos objetivos do sistema. exceção.
Sem a menor pretensão nem o compromisso de inovar, ousamos, na As técnicas de Organização e Métodos são um valioso instrumento
base do corteI colagem teórico de algumas dessas escolas, uma para o administrador de bibliotecas. Elas permitem, com maior segu-
abordagem que julgamos clara e didática para o estudo da biblioteca rança, a análise de uma unidade de informação como um sistema
como organização. Já tem sido usada, com proveito, junto a estudan- aberto, fornecendo elementos seguros para diagnósticos e
tes. Além disso, incluímos no texto o detalhamento minucioso de to-
das as atividades exercidas numa biblioteca, além de reflexões sobre
estruturações, tanto em se tratando de bibliotecas on-line, quanto 0"-
line.
a forma correta de se desenvolver um trabalho. Entramos, portanto,
na esfera do método. O melhor caminho, o melhor modo, a seqüência Segundo Simcsik (1992, p. 34), de acordo com o tamanho, espaço
mais eficaz para ultimar uma atividade ou atingir um objetivo. O eixo geográfico, complexidade das atividades, produtos etc., a área de
temático do trabalho situa-se, mais comodamente, portanto, na área O&M é também chamada pelos executivos de:
de Organização e Métodos. o Organização e Métodos de Trabalho,
Quando falamos de Organização e Métodos (O&M), estamos iden- o Planejamento & Métodos,
o Métodos e Sistemas ou vice-versa,
tificando o binômio que expressa a base estrutural suficiente, potente
e adequada para permitir o esforço cooperativo de pessoas realizan- • Organização, Métodos, Informação e Sistemas,
do seqüências racionais de trabalho para obter o melhor rendimento, • Apoio Administrativo,
o Desenvolvimento Organizacional.
diminuindo os custos, atendendo melhor aos objetivos das institui-
ções e aos anseios das pessoas envolvidas no trabalho (FARIA, Para ilustrar o encaminhamento adotado relacionamos a seguir algu-
1994, p. 1). mas possíveis atividades de O&M em bibliotecas.
Organização e Métodos (O&M) é uma das funções especia- o Organização ou reorganização estrutural elou funcional. In-
lizadas de administração e uma das principais responsáveis
pela modelagem da empresa, envolvendo, primariamente,
clui, neste nível, todos os estudos e atividades implícitas ao pro-
a inslitucionalização de uma infra-estrutura compatível com cesso de análise, planejamento e operacionalizaçao de unidades
os propósitos do empreendimento (=0) e, complementar- de informação, tanto no todo - toda a biblioteca - como em parte,
mente, a definição elou redefinição dos processos e méto- como por exemplo, o estudo de um único fluxo de tarefas concen-
dos de trabalho, mecanizados ou não, indispensáveis à tradas em um balcão de circulação, para melhoria e agilização do
efetividade organizacional (=M). A funçào de O&M, assim,
atendimento ou mecanização.
lem como objetivo final a renovação organizacional, através
da manipulação da empresa como um sistema social aber- o Elaboração elou revisão de instrumentos executivos, tanto os
to, em permanente sintonia com as demandas de seu ambi- normativos (manuais de serviço, instruções, regulamentos etc.)
ente externo elou interno (CURY, 1994, p. 138). como os complementares (fluxogramas, padronização de formulá-
O termo organização é empregado no sentido de capacidade de rios de serviços etc.).
criar organismos, estruturas e sistemas bem integrados e constituí- o Racionalização dos métodos, processos e rotinas de trabalho
dos, como base para atividades operacionais e administrativas de adotados pela biblioteca para operacionalizar todas as suas fun-
uma empresa qualquer, com o menor dispêndio e risco. Os métodos ções internas e externas, eliminar tarefas desnecessárias, melho-
permitem o melhor aproveitamento do esforço humano e a diminuição rar o nível de eficácia e, eliminando o desperdício, aumentar a sua
do desperdício, conseguindo menores custos para os serviços e pro- produtividade, ou seja influenciar na sua eficiência.

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o Implantação de projetos de lay-out. Inclui estudos e testes para FUNÇÕE9 E
aproveitamento e melhoria de espaço físico onde se desenvolvem
todas as funções meio e, também, o espaço de atendimento ao AGRUPAMENTO DE
usuário: funções fim. São examinadas a qualidade dos espaços, as
condições de salubridade e preservação do acervo e a questão do FUNÇÕE9 EM UNIDADE9
conforto dos funcionários, compatibilização do mobiliário etc.
o Desenvolvimento de estudos e projetos especiais envolvendo a DE INFORMAÇÃO
biblioteca. Envolvem a criação de novos serviços e setores, desde
que devidamente sintonizados com o objetivo geral do sistema. O conceito de gestão de qualidade total (Total
o Promoção de estudos da ambiência da biblioteca, tanto inter- Oualily Management TOM) no âmbito das biblio-
na quanto externa como forma de identificar demandas, interesses tecas é relativamente recente, no entanto, alguns profissionais em
e necessidades da comunidade. Analisam a ocorrência de novos nossa área vêm se preocupando em investigar as possibilidades de
mercados para a biblioteca como forma de vislumbrar novas possi- interação entre os seus conceitos básicos e a visão filosófica que
bilidades de serviços e produtos. encerra. Garcia-Morales (1995, p. 9) resume os requisitos básicos da
• Supervisão da observância dos regulamentos, dos manuais de gestão de qualidade total em quatro tópicos:
serviços, dos fndices de produtividade dos serviços e/ou funcioná-
rios, do alcance de metas, objetivos etc. o Conhecimento do Mercado;
o Conscientização das pessoas (recursos humanos) para a impor- o Conhecimento e normalização dos processos de trabalho;
tância de sua participação em ações de qualidade e produtividade o Implantação de métodos objetivos de medidas e avaliações;
e nos programas de melhoria contfnua dos processos de trabalho. o Melhora na gestão interna das organizações.
o Facilitação do processo decisório. O conteúdo do presente texto aborda diretamente o segundo e o
Não se deve perder, quando se implementa qualquer uma das citadas quarto tópicos mencionados e, indiretamente, todos eles. O seu pro-
atividades, a visão holfstica da biblioteca, porque a perspectiva glo- pósito básico é fornecer ao estudante ou profissional iniciante, um
bal permite um melhor entendimento da organização, de seus sub- painel estruturado dessa organização: a biblioteca.
sistemas, dos macro-ambientes e da interdependência entre eles.
Optamos por iniciar pelo estudo de suas funções, de onde partimos,
Poderfamos nos estender ainda mais. Basta dizer, no momento, que os por ser a própria função o elemento fundamental, a menor Unidade
estudos de organização e métodos podem tornar-se em ferramentas operacional dentro de um sistema. Estaremos, então construindo da
eficazes para elevar o nivel de qualidade dos serviços prestados por base, de baixo para cima, uma organização coerente, formalmente
uma biblioteca. Relacionam-se com os processos de melhoria contfnua estruturada, dirigida para seus objetivos finais. Acreditamos que este
da instituição, com a luta contra o desperdfcio e o aumento da produti- seja o primeiro passo para o estudo de O&M em bibliotecas pois
vidade. Envolvem-se diretamente com o nfvel de satisfação da sua permitirá a visão em painel dessa organização, o nosso palco de atu-
clientela externa e interna. Firmam-se, nos tempos diffceis que se atra- ação profissional.
vessa, como condições de sobrevivência das organizações.
Não se pode pensar na existência de uma empresa ou instituição
São bastante amplas as possibilidades de estudos na área de O&M sem organização, como não pode subsistir um organismo sem ór-
em bibliotecas e, se desdobrando em leque, ensejam novas refle- gãos dotados de funções especfficas. O estudo das funções objetiva
xões e oportunidades. O objetivo do presente trabalho é a composi-
a construção de estruturas e sistemas equilibrados e eficientes.
ção de um esquema básico para o estudo da biblioteca como organi-
zação, uma primeira e necessária abordagem da questão que, espe- A função é para a ciência da organização, o elemento fundamental
ra-se, seja objeto de outros trabalhos e desdobramentos futuros. por meio do qual ela concretiza as suas metas, sendo que O principal
É fundamental a consultoria de um profissional da área de O&M por objetivo do estudo das funções é a
ocasião de um estudo deste teor.

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percepção analítica das alividades fundamentais das partes
trabalho, mesmo que não estejam nas cúpulas institucionais ou em
componentes ~e um todo, afim de permitir a compatibilização
e a coordenaçao de esforços e a eliminação do que for des- cargos de mando. As premissas da administração participativa exi-
necessário (FARIA, 1994). gem que todos os profissionais se enquadrem como partIcipes das
tomadas de decisão da instituição. Para tanto, precisam estar
Visando atingir os propósitos do presente trabalho no sentido de
municiados de informações detalhadas.
muni.ci~r o profissional bibliotecário de técnicas e informações que
possIbIlitem a Implantação e a gerência de uma biblioteca no todo ou Complementamos o estudo das funções e tomadas de decisão a
em parte, buscou-se analisar todas as funções impllcitas em sua elas inerentes, com a análise dos requisitos necessários ao desen-
estrutura a partir das tomadas de decisão de seu gerente. Entenda- volvimento de cada uma delas: os recursos materiais, humanos,
se como tomada de decisão o processo de identificação de um pro- informacionais e as estratégias necessárias ao seu implemento. Pre-
blema especifico e a seleção de uma linha de ação para resolvê-lo ou tende-se, através dessa tática de abordagem, oferecer ao leitor, ao
para aproveitar uma oportunidade. Todo gerente precisa desenvolver bibliotecário em particular, um painel bastante completo da organiza-
a habIlidade de tomar decisões e resolver problemas. ção em que atua, abrindo ou facilitando possibilidades de interferên-
o.termo decisão designa o momento de opção, de escolha, de sele-
çao de uma alternativa. Shult (apud CARVALHAL,1981, p.3) define o
cia nos diferentes processos.
As reflexões sobre a modelagem da estrutura levou-nos a pensar so-
processo de tomada de decisão como sendo bre as diferentes configurações que uma biblioteca pode assumir con-
um processo envolvendo fenômenos tanto individuais como soante os diferentes contextos e objetivos. Como agrupar logicamente
~oci~is, baseado em premissas factuais e de valores, que suas funções? O trabalho nas organizações não pode existir de forma
inclUi a escolha de um comportamento dentre -uma ou mais isolada. Esta é uma premissa básica. Ele precisa ser organizado de
alternativas, com a intenção de aproximar-se de algum esta- forma coerente, sempre em função da missão da biblioteca, a partir
do de coisas desejado.
da reunião e compatibilização de atividades que tenham característi-
As decisões humanas são o controle supremo - e talvez o único - de cas semelhantes, que exijam o mesmo nlvel de especialização, ou
uma organização. As pessoas determinam a capacidade de desem- seja, que tenham os mesmos atributos. Esta é uma estratégia primá-
penho de uma organização, que nunca pode ir melhor do que as pes- ria para a agilização dos processos.
so~s com que conta. Um gerente eficaz deve sempre procurar obter
Existem tantas formas de agrupamento de funções quantas forem as
maIs dessas pessoas. O rendimento do recurso humano determina o
configurações necessárias ao sistema. O importante é decidir certo
desempenho da organização. A qualidade dessas decisões humanas
sobre a melhor delas. E isso vai variar de instituição para instituição,
é que determina, em grande parte, se a organização está sendo dirigida
consoante as diferentes missões que a biblioteca assume. Importa
c.om seriedade, se sua missão, seus valores e objetivos são reais e
saber qual é a configuração que garanta maior eficácia e eficiência à
tem senlldo para as pessoas, ao invés de envolverem apenas sim-
organização, maior satisfação à clientela externa e interna. Na seção
ples relações públicas e retórica (DRUKER,1997, p. 107).
4, referente aos gráficos de organização, existem algumas propostas
A tomada de decisão, portanto é o ponto de partida adotado para a de configuração para tipos diferentes de bibliotecas que
análise de cada uma das funções, visando facilitar a compreensão complementarão, de um modo geral, as análises feitas neste tópico.
das enwenagens internas da organização, possibilitando a visão glo-
Aqui, seguiu-se, em parte - e com a liberdade que o trabalho requer
bal.da bIblioteca como um sistema aberto.lncluiram-se nessa análi-
-, o esquema proposto por Ferreira (1977, p. 21), que agrupa as
se, situações-problema, que tanto podem ser resolvidas' por decisões
funções biblioteconômicas em três coerentes blocos:
progran:a~as (~olíticas, procedimentos, regras, escritas ou não), quanto
por declsoes_nao programadas, destinadas à resolução de problemas • FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E ORGANIZAÇÃO DAS COLEÇÕES
Incomuns, nao rotineIros, dentro da organização. Pretende-se, com • DINAMIZAÇÃO DO USO DAS COLEÇÕES
este enfoque, possibilitar aos profissionais que atuam em bibliotecas • FUNÇÕES GERENCIAIS
(não só a bibliotecários), a sua visualização como "gerentes" de se~

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2.1 FUNÇÕES NA FASE DE FORMAÇÃO, Este modelo dclico é composto por diversas atividades ( ou sub-
DESENVOlVIMENTO E ORGANIZAÇÃO DE COLEÇÕES processos), que não podem ser consideradas isoladamente, mas como
partes integrantes de um todo. Esta caracterlstica é fundamental para
Constitui a fase em que se desenvolvem as operações relacionadas que o processo seja eficiente em sua ação. Identificam-no os seguin-
com a formação, desenvolvimento e organização das coleções para tes procedimentos:
fins de acesso e utilização.
• estudo da comunidade;
Estas são identificadas normalmente como funções operacionais meio • polfticas de seleção;
ou serviços meio em bibliotecas, aqueles que oferecem a necessária • aquisição;
base e suporte informacional para o desenvolvimento dos serviços • desbastamento e descarte;
fim e ao oferecimento de produtos pela biblioteca. • avaliação.
É importante lembrar as colocações de Vergueiro (1989, p.15), para Servindo de subsidio a estas atividades estão os estudos sobre a co-
quem o desenvolvimento de coleções é um processo que, ao mesmo munidade na qual a biblioteca está inserida. Os dados e informações
tempo afeta e é afetado por muitos fatores externos a ele. E, como colhidos em decorrência de tais estudos emitirão os sinais indicativos
processo, é, também, ininterrupto [... j não é algo que começa hoje e para a atuação de quase todas as atividades mencionadas.
tem um prazo estipulado para o seu término, nem é, tampouco, um
processo homogêneo, idêntico em toda e qualquer biblioteca. O tipo O processo de desenvolvimento de coleções deverá contar com o
da biblioteca, os objetivos específicos que cada uma delas busca bibliotecário como coordenador, figura central do processo, que pode-
atingir, a comunidade a ser atingida, influem consideravelmente nas rá, com muita valia, ser assessorado por membros da comunidade
atividades de desenvolvimento de coleções. envolvida.
Tomando por base o citado modelo de Evans e também outros mode-
0_ processo de formação, desenvolvimento e organização de cole-
los teóricos encontrados na literatura especializada (COGSWELL;
çoes, de um modo geral, deve ser encarado e equacionado como
EDELMAN; RYLAND apudVERGUEIRO, 1993, p.15,17), optamos por
uma atividade de planejamento, onde o reconhecimento da comunida-
identificar as seguintes funções subjacentes ao processo de forma-
de a ser servida e suas caracterlstlcas culturais e informacionais
oferecerá a base necessária e coerente para o estabelecimento d~ ção e desenvolvimento de coleções:
polfticas de seleção, para as decisões relativas ao processamento • planejamento e elaboração de polrticas;
técnico dos documentos e ao seu adequado armazenamento. • seleção;
• aquisição;
• avaliação de coleções;
2.1.1 Processo de formação e desenvolvimento de • desbastamento e descarte de coleções.
coleções
Partilhamos com Evans (1995 apudVERGUEIRO, 1997, p. 16) de um 2. I. 1.1 Planejamento e elaboração de polítioas
modelo slstêmico sobre o tema, definido como um
Perpassando pelo estudo da comunidade de usuários, deverá ser ela-
processo de Identificação dos pontos fortes e tracos de uma
coleção de materiais de biblioteca em termos de necessida-
borado um diagnóstico apresentando um perfil dos usuários, ou seja,
des dos usuários e recursos da comunidade tentando corri. suas principais caracterlsticas, seus desejos e necessidades
gir as fraquezas existentes, quando conslat~das; o que vai informacionais, seus hábitos de leitura e de frequência à biblioteca e
requerer "constante exame e avaliação dos recursos da bi- tudo o mais que for conveniente ao sistema conhecer.
blioteca e constante estudo das necessidades dos usuá-
rios, como de mudanças na comunidade a ser s8IVida", De posse do diagnóstico, a segunda fase do planejamento será a
determinação das polfticas que nortearão todo o processo de forma-
ção e desenvolvimento de coleções.
16
17
A função planejamento e elaboração de polfticas exige diversas to-
madas de decisão, destacando-se entre elas: 2,1.1.2 Seleção
• indicação do responsável pelo processo de seleção, que pode ser A função seleção é da maior importância, poi~ implementa o que está
o gerente. da..blblloteca ou do setor especifico de seleção, ou ainda, formalizado na carta ou polftica de seleção. E, em resumo, uma das
uma comlssao formada por bibliotecários e usuários da biblioteca' funções responsáveis pela formação e desenvolvimento das cole-
• indicação do tipo de material que irá compor o acervo, independen: ções que irão compor o acervo, tanto quanto à forma - periódicos,
te do seu suporte ffsico; livros, audiovisuais, patentes, cdrooms, microformas etc. -, como
• definição ?os assuntos que irão fazer parte da coleção; quanto ao conteúdo - assuntos de interesse, nivel de cobertura dese-
• estabelecimento dos critérios e prioridades que nortearão todo o jado etc. -, tanto reais quanto virtuais.
processo, env~lvendo decisões sobre os de seleção, aquisição por É o selecionado r quem determina as entradas dos documentos no
comp~a, ?oaçao e permuta, e também, para o desbastamento da sistema. Se for bem feita a seleção, seus reflexos se darão positiva-
c?l~çao, indicando o que deve ser transferido para depósitos espe- mente em todos os serviços subsequentes, agilizando o processo de
CiaIS ou mesmo serem descartados'
tratamento técnico e permitindo um bom índice de relevância quando
• estabeleci~ento de di.retrizes para 'a avaliação das coleções (li- da recuperação e utilização dos documentos. Já se é mal orientada,
vros, ~enódlc~s, mate~lais especiais, publicações eletrônicas etc.), seus reflexos negativos se revelarão nos congestionamentos de ser-
inclUSive com indlcaçao da periodicidade com que deverá ser rea- viços, coleções não utilizadas e usuários insatisfeitos.
lizada;
• indicaçã~ do número de exemplares por título, principalmente para Vickery faz uma afirmação que merece ser lembrada:
as coleçoes de uso corrente (bibliografias básicas em bibliotecas O responsável pela seleção dos itens a serem adquiridos
unive~sitárias, livros ou periódicos de maior demanda nas bibliote- deveria, em última instância, ser o responsável pelo resto
cas publicas etc.); das atividades da biblioteca. Retém a chave nas mãos - o
• estabel~cimento. de diret~zes para preservação e conservação do acervo - sobre o qual se baseiam todas as demais ativida·
des da biblioteca
acervo, Incluindo Informaçoes sobre condições ambientais ideais para
ca~a tl~O de documento considerando-se o seu suporte ffsico; A função seleção cumpre-se com muito maior desenvoltura quando a
• in?I~~çao de alternativas para obtenção de recursos e definição de biblioteca já possui definida e por escrito, como foi colocado há pou-
cntenos para a alocação dos recursos obtidos' co, uma polftica de seleção. Os critérios gerais já foram estipulados,
• indicação de prazos para revisão das polfticas' adotadas. faltando somente a especificidade exigida por cada processo, em
particular.
Oprodu.to final d~sta função será um documento administrativo, ofici-
allza~o Junto à cupula da instituição, denominado "Polfticas para for- Inúmeras tomadas de decisões são exigidas por essa função, que
maçao e desenvolvimento do acervo da Biblioteca X". inclui o cumprimento de outros tantos requisitos. Algumas das prová-
veis decisões são:
Desta~am-se, dentre o~ requisitos necessários para a participação
de eqUipes responsáveis pela elaboração de documentos deste teor • escolha dos instrumentos adequados para a seleção das diferen-
? conhe~ime~to da comunidade, para a identificação das demanda~ tes coleções e bases que compõem o acervo: bibliografias, catálo-
informaclonalS atuais e potenciais, como já foi enfatizado anterior- gos comerciais de livrarias e editoras tanto em papel quanto on-
mente, e o mapeamento da realidade institucional mantenedora da line, sugestões de usuários etc.;
biblioteca,. para ~ reconh~cimento dos recursos materiais, humanos,
• o estabelecimento de prioridades para aquisição das diferentes co-
orçamentanos dlsponivelS e das possibilidades de parcerias a serem
aCionadas. leções que a biblioteca abriga e as quais viabiliza o acesso: livros,
periódicos, mapas, audiovisuais, cd-roms, bases on-line etc.;
• escolha de critérios para cobertura de assuntos de maior deman-
da, incluindo o nlvel de cobertura ou verticalização necessária a
cada um deles, em particular;
18
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• prioridades em relação ao idioma e atualização do material a ser Este é um dos pontos de interação de funções de extrema relevância
adquirido; para a eficácia de uma unidade de informação. Tanto é que, na maioria
• indicação do número de exemplares necessários (quanlilativas); das vezes, as funções aparecem reunidas, formando um único setor
• Incorporação de documentos doados. da biblioteca.
R~lacionamos a seguir os requisitos indispensáveis ao cumprimento À aquisição caberá o trabalho minucioso de identificação,
eficaz do processo de seleção em uma biblioteca: localização dos itens e sua posterior obtenção para o acer-
vo, qualquer que seja a maneira de tornar isto posslvel. E
• manutenção de catálogos comerciais de livrarias e editoras, tanto não é uma larefa assim tão automática, pois, infelizmente
em papel quanto on-line e bibliografias, devidamente atualizados para os profissionais, os títulos selecionados não se encon-
post.os à ?isposição tanto de profissionais bibliotecários quanto d~ tram acenando para eles ao dobrar da esquina, a gritar 'olha
usuanos Interessados em participar do processo; eu aqui, olha eu aqui' e quase implorando para serem ad-
quiridos. Muitas vezes, realizar um trabalho de aquisição
• manutenção e atualização do "fichário de sugestões" dos usuários; assemelha-se a procurar uma agulha em palheiro, tantas
• a?ompanhamento do movimento editorial na área de atuação da bi- são as possibilidades e dificuldades existentes_ É uma ativi-
bhote~a, como um modo de inserção do profissional no processo; dade que exige perseverança e atenção a detalhes, de ma-
• atençao aos fatos que ocorrem na ambiência externa da unidade neira a evitar um descompasso entre o que foi escolhido
primordialmente para aquisição e aquilo que afinal chega
como por exemplo, no âmbito das bibliotecas públicas os fato~
às mãos do usuário (ANDRADE, 1996, p. 6).
polflicos, culturais, econômicos e sociais marcantes d~ vida da
comunidade, e, nas bibliotecas universitárias, novos cursos cria- O nfvel de complexidade das atividades de aquisição naturalmente
dos pela instituição, novas linhas de pesquisa, convênios, proje- varia conforme as caracterrsticas das instituições onde ocorrem. Di-
tos etc. Tais procedimentos visam manter a biblioteca como um ferentes estruturas administrativas, e diferentes objetivos, exigirão
circuito provedor de dados e informações para as comunidades procedimentos também diferenciados. Em bibliotecas universitárias,
envolventes; por exemplo, costumam ocorrer de modo diferente do que em uma
• reflexão sobre o processo de produção do conhecimento na área biblioteca pública. Em qualquer dos casos, no entanto, o importante é
de ~tuação da biblioteca: se por acumulação ou substituição; a preocupação com a eficiente organização do processo de aquisi-
• hábito de leitura por parte do profissional bibliotecário' ção, de modo a garantir que o item selecionado ingresse no acervo no
• esta~elecimento de uma rotina, de um fluxo de trabalho para esta menor tempo e ao menor custo.
funçao como forma de agilizá-Ia e possibilitar a qualidade do serviço; O conhecimento detalhado dos trâmites burocráticos implfcitos a cada
• lay-ou/agradável para o setor (inclui mobiliário e equipamentos); instituição mantenedora, o acompanhamento direto e constante dos
• controle estatfstico das atividades, para planejamento e avaliação processos, o conhecimento das dotações orçamentárias e de outras
do serviço. possíveis fontes de investimento, mesmo fora da instituição, é fator
decisivo para o desempenho eficaz desta função. O cumprimento de
prazos, a supervisão e o controle de gastos para futura prestação de
2. I. 1.3 Aquisição contas são condutas indispensáveis ao profissional responsável.

Considerada como o processo que implementa as decisões da sele- O gerenciamento do serviço de permutas, incluindo o estabelecimen-
ção, esta função inclui todas as atividades inerentes aos processos to de rotinas para o trabalho, o desenho de formulários, a responsabi-
de compra, doação e permuta de documentos. O controle patrimonial lidade pela incorporação de coleções doadas que, na maioria das ve-
do acervo - o registro das coleções - também é de sua alçada. zes exige critérios rigorosos de descarte são, também, da competên-
cia desta função.
Para o seu cumprimento eficaz é importante que o profissional encar-
regado participe dos estudos que envolvem o estabelecimento e a A função aquisição exige inúmeras tomadas de decisão, dentre as
adoção de critérios de seleção, já mencionados na seção anterior. quais destacamos:

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• aplicação e distribuição equitativa dos recursos financeiros para • organização e manutenção de cadastros de: instituições, livrarias,
aquisição das coleções de maior relevância; editoras, agências etc.;
• manutenção dos programas ou outros recursos adotados para o
• escolha de fornecedores: livrarias, editoras, agências etc.;
controle dos processos de aquisição; _., .
• decisão sobre o processo de aquisição, se direto ou indireto (atra- • organização de um fichário/arquivo d? falhas na coleçao de perlo~l­
vés de agências); cos e de demanda não atendida de livros e demaiS documentos,
• criação de um lay-oul agradável para oferecer ao pessoal interno
• decisão sobre suas modalidades, se no serviço público, convite,
um ambiente de trabalho com qualidade;
licitação etc.; • estabelecimento de fluxos de trabalho para as diferentes rotinas
• alteração de critérios de distribuição dos Investimentos face a fato- que comporta esta função como um modo de facilitar alterações,
res imprevistos, como mudanças de demandas; automação e treinamento de ingressantes; . _
• promoção e manutenção do c?n~ole estatf~tlco da seçao para fa-
• adoção de recursos para o controle da aquisição face as diferentes
cilitar o planejamento e a aval laça0 do serviço.
fontes de captação de recursos;
• implantação do serviço de permuta e recebimento de doações in-
cluindo os desenhos dos formulários e correspondência especifi- 2.1.1.4 Avaliação de coleções
cos para o exercfcio da atividade;
A avaliação é um componente importante da administração pois é
• adoção de critérios para o registro das diferentes coleções tendo através dela que podemos corrigir ou manter ~stratéglas com a finali-
em vista o seu controle patrimonial; dade de atingir objetivos pré-determinados .. E indispen~ável p~ra a
• participação em planos ou programas de aquisição cooperativa; tomada de decisão pois indica o melhor caminho a segUir, e a atitude
mais adequada ao gerente de coleções. Concordamos com L~ncaster
• adoção de programas para o controle e acompanhamento (1996, p. 1) que diz que ",avaliação r:~ne dados necessáriOS para
automatizado dos processos de aquisição. determinar quais dentre varias estrateglas alternativas parecem ter
A eficácia desta função apoia-se, necessariamente, nos seguintes mais probabilidade de obter um resultado almejado".
requisitos que deverão ser cumpridos pelo bibliotecário e oferecidos A avaliação deve ser Incorporada ao dia-a-dia da bibli?teca, principal-
pela biblioteca para maior qualidade do serviço: mente se considerarmos a formação e o desenvolVimento de cole-
• recebimento de recursos financeiros compatfveis com a demanda ções como um processo hollstico integrado em que as funções se
da seção; interligam e se tornam dependentes umas das outras.
• acompanhamento, supervisão e avaliação constantes, por parte Lancaster (1996, p. 3) lembra ainda que os componentes do acervo
do bibliotecário encarregado, das rotinas de compra, doação e per- de uma biblioteca( livros e demais materiais que o compõem [ ...j "po-
muta de modo a possibilitar novos mecanismos de controle e dem ser considerados o principal insumo da biblioteca", e devem ser
agilização dos serviços; . avaliados visando verificar se os mesmos estão atendendo às neces-
• organização de um arquivo administrativo onde deverão estar sidades informaclonais de seus usuários.
disponibilizados todos os documentos referentes aos processos
de compra, doação, permuta, descarte e transferência de documen- E uma avaliação qualitativa e, para que aconteça, é_ necessári~ o
tos; estabelecimento de critérios Üá mencionadOS na funçao de planeJa-
mento e elaboração de polflicas) que expressem aquilo que realmen-
• acompanhamento direto do trâmite dos processos até a sua
finalização: o recebimento ou acesso aos itens solicitados; te se pretende avaliar.
• conhecimento e acesso a todas as fontes de inveslimento,
institucionais ou não;

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Lancaster (1996, p. 20) aponta como objetivos da avaliação de • definir os critérios que deverão ser observados considerando-se as
coleções [".] "melhorar as polrticas de desenvolvimento de cole- caracterfsticas especfficas de cada coleção;
ções, melhorar as polrticas relacionadas a perrodo de empréstimo • definir com que periodicidade deve ser realizada;
e taxa de duplicação, ou embasar decisões relacionadas com o uso • definir sobre a alocação de recursos;
do espaço". • identificar as obras que devem ser retiradas do acervo com a fina-
lidade de serem colocadas em depósito (caso de obras de pouco
Complementando as afirmativas de Lancaster, Guerreiro (1980) e ou- uso) ou descartadas (obras obsoletas, danificadas ou não perti-
tros (apud VASSALE et aI., 1991, p. 380) apresentam outros objeti- nentes ao acervo).
vos, identificados como:
- obter uma compreensão mais exata sobre o campo, profun·
didade e utilização da coteção; 2.1.1.5 Desbastamento e desoarte de ooleções
- obter subsidios para o planejamento da coleção;
- retificar inadequações no desenvolvimento do acervo [... J; Para que um acervo seja considerado de boa qualidade é preciso que
- obter justificativa para o aumento dos recursos financeiros; ele se desenvolva racionalmente. Assim, após a função de avaliação
- identificar materiais obsoletos ou pouco usados para retirá- de coleções pode ser necessário desbastar mobilizando determina-
los da coleção (descarte).
dos materiais segundo critérios definidos na função planejamento e
Existem metodologias diferentes para se proceder à avaliação de elaboração de polflicas.
coleções destacando-se:
Descartar materiais em uma coleção consiste em selecionar aqueles
• quantitativas - baseadas em dados estatfsticos, principalmente so- documentos que, através da função de avaliação, foram considera-
bre: tamanho da coleção, assunto, idade, clientela etc.; um exemplo dos desnecessários ou defasados em relação às expectativas dos
deste método seriam os dados estatfsticos colhidos sobre os as- usuários. Esta função é também chamada de seleção negativa.
suntos solicitados pelos usuários e não atendidos pela biblioteca.
Concordamos com Taveira e outros (1981, p. 16) quando dizem que:
08S.: os métodos quantitativos, apesar de fácil aplicação, não de- Vale a pena rever o significado do termo 'descarte', que é
vem ser tomados Isoladamente pois, neste caso, deixam de conside- empregado para designar a retirada definitiva das. publica-
rar o fator qualidade. ções, comprovadamente sem uso pela clientela. E comum
entender-se que discarting e weeding oul têm o mesmo sen-
• qualitativas - preocupadas com o conteúdo do acervo. Podem ser tido. Mas, uma análise mais cuidadosa revela que discarting
realizadas através do julgamento de especialistas, através da com- corresponde ao descarte ou expurgo, ao passo que weeding
paração com bibliografias publicadas ou mesmo especialmente ela- oul significa a retirada do material pouco usado para aquela
boradas para este fim, ou através do uso real da coleção. armazenagem especial [... ].

Os especialistas em avaliação de coleções aconselham que se estu- Depreende-se então que existe uma diferença entre desbastamento e
de com cuidado os métodos existentes e que se considere cada bibli- descarte. O desbastamento consiste na retirada de documentos pou-
oteca como um caso específico, sendo por isso necessário fazer adap- co utilizados pelos usuários, de uma coleção de uso frequente para
tações ou mesmo combinações entre os diferentes métodos, para outros locais - os depósitos especialmente criados para abrigar este
que se consiga resultados satisfatórios. material de consultas eventuais -.Já o descarte, consiste na retirada
definitiva do material do acervo da biblioteca, com a correspondente
A função avaliação de coleções nos obriga a diversas tomadas de baixa nos arquivos de registro da mesma.
decisão destacando-se entre elas:
Importante ressaltar que são atividades que devem ser realizadas
• definir qual(ls) o(s) objetivo(s) da avaliação; periodicamente pelas bibliotecas. O prazo e os critérios que as
• escolher qual a melhor metodologia a ser adotada, em função dos norteariam deverão ser estabelecidos na função planejamento e ela-
objetivos a serem atingidos; boração de poHticas e constar do documento resultante "Polrtica para
a Formação/Desenvolvimento de Coleções".

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Os problemas com que se defrontam os profissionais da informação • definição de normas e procedimentos para utilização dos docu-
em relação ao acúmulo de documentos nas estante rias de bibliotecas mentos armazenados nos depósitos (regulamento do setor).
são bastante freqüentes. A vivência profissional das autoras, centrada
Quanto aos requisitos para o desenvolvimento desta função podería-
em bibliotecas universitárias e especializadas, tem revelado a cons-
mos elencar todos os descritos nas funções, pertencentes a este
tância deste tipo de queixa, tanto por parte dos profissionais quanto
mesmo bloco, aliados às possibilidades de acoplamento de espaço
por parte dos próprios usuários, perambulando em extensos armazens
ffsico, adjacente à biblioteca (de preferência), para armazenagem dos
de documentos na busca demorada do que é essencial para o seu
documentos de baixo uso.
trabalho e pesquisa. É natural que o problema ocorra pois a atual
produção documental é intensa, acrescida de documentos eletrôni-
cos, a maioria, também, transformada em papel, gerando os conheci- 2.1.2 Processo de organização de coleções para
dos problemas de acúmulo e armazenamento. Por outro lado, a
disponibilização
exiguidade dos espaços está a clamar ostensivamente pela racio-
nalidadedos acervos. Lembre-se aqui o eternamente atual Ranganathan Consiste no processamento técnico das coleções: a análise temática
e coloque·se em prática o conteúdo de suas famosas leis. Estare- (classificação, indexação etc.) e a análise descritiva (catalogação),
mos prestando serviços e oferecendo produtos muito mais eficazes; de cada unidade documental adquirida, de modo a facilitar o seu aces-
aproveitando com muito mais racionalidade os espaços da biblioteca so, localização, utilização e futuro intercâmbio. Inclui o preparo do
e, encurtando o tempo de busca, sempre cada vez mais curto, dos material para circulação visando futuro controle de uso. O
nossos clientes. A criação de acervos paralelos, não dirfamos inati· armazenamento das coleções e o seu adequado arranjo no espaço
vos, mas de freqüência de uso baixa, chamados semi-ativos, está a ffsico disponível é, também, uma etapa deste processo.
exigir dos bibliotecários estudos urgentes e acurados, como medida
indispensável para o cumprimento dos novos paradigmas da gerência
dos acervos. 2.1.2.1 Processamento téonioo
A função desbastamento e/ou descarte indica diversas tomadas de O processamento técnico é função da maior importância, pois do seu
decisão, sendo que pode-se destacar entre elas: bom desempenho vai depender a recuperação das informações e das
• indicação de uma comissão que se responsabilize pela aprovação próprias fontes. É ela que indica e até amplia a busca do .leitor, se
dos documentos indicados para serem colocados em depósitos ou utiliza terminologia adequada e cruzamentos oportunos. E através
descartados. Tal comissão deve ser a mesma encarregada da se- dela que se estabelecem os catálogos, bases e demais recursos que
leção dos documentos; permitem o rastreamento das informações e dos documentos. Forne-
• definição do tempo máximo que uma publicação não utilizada deve ce o verdadeiro suporte para a realização das pesquisas documen-
permanecer na coleção corrente, naturalmente observando-se as tais, a base da pesquisa cientffica.
caracterfsticas de cada área; Não é demais frisar que todas as decisões do administrador quanto
• indicação de um prazo médio para desatualização e desativação à classificação e a catalogação, deverão se pautar, por um lado,
de determinados tipos de materiais, tais como: livros-didáticos, li- pelas caracterfsticas dos usuários do sistema, e por outro, pelas
vros-texto, catálogos, folhetos, publicações periódicas, obras de exigências de normalizaçào ditadas pelos códigos. Serão necessa-
referência etc.; riamente diferenciadas consoante as necessidades da clientela; se-
• a necessidade de se manter nas estantes de uso frequente um (ou rão necessariamente uniformizadas consoante a imposição dos có-
nenhum) exemplar de alguma publicação transferida; digos. Se o homem do povo que presumivelmente frequenta as bibli-
• definição sobre a não-pertinência de determinado documento ou otecas públicas, lida, com maior facilidade com determinadas re-
coleção ao acervo da biblioteca; gras de descrição de documentos, pesquisadores em Universida-
• determinação de um prazo médio para a permanência dos docu- des ou Institutos de Pesquisa, nas bibliotecas universitárias e espe-
mentos localizados nos depósitos;

26 27
cializadas podem necessitar de outros detalhes e normas. E, mes- facilitar o intercâmbio das publicações a partir da uniformização
mo quando as evidências não são tão marcantes, cada biblioteca de sua descrição (acordo com regras internacionais). Por outro
deve ser personalizada face sua clientela, e, por isso mesmo, terá lado, não desconhecer que a automação desta função - que é um
feições diferenciadas, mesmo que sejam do mesmo tipo e atendam imperativo dos tempos atuais - aponta para critérios e regras ex-
a uma comunidade que, aparentemente, seja semelhante. A tremamente objetivos, a maioria dos quais também propostos in-
criatividade do profissional residirá em conhecer, assimilar e incor- ternacionalmente;
porar em seu dia-a-dia de trabalho essas caracterfsticas. As tabe- • adoção de programa de catalogação cooperativa (nacionais, regio-
las e os códigos são úteis na medida em que facilitam a busca, a nais ou institucionais) como os catálogos coletivos de universida-
recuperação e o intercâmbio de documentos e informações; na me- des, de sistemas de bibliotecas públicas e o Bibliodata Calco, hoje
dida em que agilizam as atividades de automação dos acervos. A o de maior abrangência nacional;
sua obediência cega pode ocasionar a rigidez, o engessamento do • arranjo e organização dos catálogos internos (cabeçalho de assun-
profissional, a hipertrofia desta função em relação a todas as ou- to, identidade de autor, topográfico etc.) e dos catálogos de público
tras, o que certamente ocasiona o distanciamento do usuário da (alfabético dividido, dicionário etc.);
biblioteca. • decisões quanto à adoção de fichas explicativas, remissivas e de
referência cruzada;
Os sistemas de classificação bibliográfica prestam-se a três aplica-
• escolha de mecanismos e programas para duplicação das fichas;
ções (CAMPOS apud BATISTA, 1998, p.1 06): 1 - servir de instrumen-
• definição sobre programas/softwares adequados para o tratamento
to para a distribuição útit de documentos em acervos; 2 - servir de
e recuperação automatizada dos documentos, como também, de
base para a organização dos instrumentos de recuperação da infor-
dados e informações de interesse da clientela;
mação e 3 - analise da informação. E, ainda de acordo com Batista:
• preparo Hsico adequado de cada unidade documental, visando a
Os sistemas de classificação geram uma distribuição útit de sua localização nas estantes e o controle de sua circulação (bol-
documentos porque permitem, atém da aproximação de do- sos, etiquetas, código de barras, etiquetas magnéticas etc.).
cumentos sobre assuntos relacionados. a fácil localização
de documentos, a fácit devolução de itens à coleção, a inser- As atividades impllcitas na função processamento técnico serão
ção de novos documentos à coleção sem quebrar a estrutu- exercidas com maior eficácia se contarem com o apoio dos seguin-
ra lógica do arranjo, e, na alividade arquivislica, a formação
de dossiês nos arquivos correntes. tes requisitos:

Analisando esta função do ponto de vista do profissional gerente, • sistema de classificação com adaptações ou expansões adequa-
identificamos as prováveis tomadas de decisão: das à área de atuação da biblioteca;
• normas e/ou critérios de análise descritiva que priorizem as neces-
• escolha do esquema de classificação que permita maior eficácia sidades dos usuários;
ao sistema; ou escolha da notação mais adequada ao item em • regras que facilitem a automação do acervo;
análise, tendo em vista a organicidade da coleção e a sua facilida- • esquema de controle da terminologia adotada -lista estruturada-
de de recuperação por parte do usuário; para sua uniformização;
• definição do instrumento mais adequado para o controle da lingua- • treinamento do pessoal que atua no setor visando a agilização da
gem, da terminologia adotada pela biblioteca para descrição dos função;
assuntos (tesauros, cabeçalhos de assunto etc.); • supervisão e manutenção constantes do arranjo dos catálogos in-
• estabelecimento das regras e dos códigos que servirão de base ternos e externos para que não se estabeleça, por um lado as difi-
para a catalogação dos documentos, incluindo detalhes necessá- culdades de controle administrativo sobre as coleções e, por outro,
rios à clientela (necessidade de notas de conteúdo, desdobra- o distanciamento real entre a coleção de documentos e os catálo-
mentos etc., ou catalogação simplificada, ou ainda, em forma de gos que os descrevem;
referência bibliográfica etc.). O profissional não pode perder de • manutenção e atualização dos instrumentos bibliográficos de apoio
vista, ao tomar esta decisão, o objetivo central da catalogação: aos serviços de processamento técnico, em especial as tabelas de

28 29
classificação, códigos de catalogação, tesauros, listas de cabeça- ser mantido, para facilidade do usuário, pelo profissional responsável
lhos etc.; pelo armazenamento das coleções.
• manutenção de contato com outras bibliotecas que já tenham
O exercfcio da função armazenagem em relação às coleções virtuais
disponibilizado on-Iine seus catálogos, para que se facilite o pro-
deverá representar a disponibilização dessas coleções ao usuário e
cesso em si e o futuro intercâmbio de informações e documentos;
sua manutenção pela biblioteca.
• estabelecimento de um lay-oul agradável e compatfvel com o de-
senvolvimento das atividades inerentes ao setor; Esta função é a última relacionada ao bloco de Formação Desenvol-
• composição de fluxogramas para possfveis alterações que se pre- vimento e Organização das Coleções e, por isso mesmo, é a ultima
tendam no fluxo de trabalho, treinamento de pessoal recém-ingres- das atividades meio. Se pensarmos numa "linha de montagem" que
sado e a provável automação do serviço; começa com a seleção, passa pela aquisição e o processamento
• treinamento constante do pessoal responsável pelas inúmeras ta- técnico, o documento quando chega em seu local de armazenagem,
refas implfcitas a esta função; já cumpriu todas as etapas anteriores e, já está pronto para o uso,
• o controle estatfstico da produtividade do setor é um requisito de devidamente descrito nos catálogos, bases, e arranjado - espera-se
muita importância para o estabelecimento de padrões, úteis para - adequadamente, junto aos demais que tratam do mesmo tema, à
avaliações e planejamento. disposição do usuário.
• A disponibilização da Internet para os profissionais é um recurso
Dentro desta função devem ser tomadas decisões quanto a:
de extrema valia, facilitando todo o processo em si, ampliando,
inclusive, as possibilidades de padronização e futuro intercâmbio • utilização do espaço ffsico destinado ao armazenamento das di-
de informações. versas coleções, incluindo realocação, desbaste, transferência e
toda e qualquer atividade que envolva utilização de espaço pelas
diferentes coleções;
2.1.2.2 Armazenagem
• ampliação e/ou remodelação do espaço físico que se torne insufi-
É a função responsável pela localização ffsica das coleções no am- ciente ou inadequado;
biente da biblioteca. Inclui a distribuição das diferentes coleções • escolha de mecanismos de segurança para o material ( alarmes,
no espaço destinado à unidade obedecendo aos requisitos referen- extintores, controle magnético de circulação de documentos etc.);
tes ao seu uso e preservação. O arranjo das estantes, a disposição • necessidade de tratamento químico (desinfestação e desinfecção)
dos arquivos e demais móveis especiais para guarda de documen- ou ffsico (encadernação, restauração etc.) para os documentos in-
tos devem ser tarefas relacionadas ao exercfcio desta função, as- festados ou danificados pelo uso e condições ambientais desfavo-
sim como as atividades refativas à conservação, limpeza e seguran- ráveis;
ça dos acervos. A encadernação, a restauração e demais técnicas • realização (planejamento e supervisão) de inventários para o con-
de preservação enquadram-se nesta atividade. O inventário das co- trole ffsico das coleções;
leções, por consistir em atividade relativa ao controle ffsico do • escolha do mobiliário adequado para o armazenamento das cole-
acervo também deve ser gerenciado pelo seu responsável. ções observando-se os critérios de preservação exigidos pelas
mesmas (controle de temperatura, umidade, luz etc.);
Os documentos, via de regra, são arranjados nas estantes seguindo
• seleção e contrato de firmas responsáveis pelas atividades menci-
a ordem de classificação que receberam. Sua organização física,
onadas no terceiro e quarto itens.
portanto, é - ou deveria ser - a mesma do catálogo topográfico que,
como a sua própria denominação o indica, espelha o arranjo das es- A interação com os profissionais responsáveis pelas etapas anterio-
tantes. Mas o importante a lembrar agora é que este arranjo - seja ele res ao armazenamento das coleções é um dos requisitos indispensá-
um simples alfabético de autor ou título, ou ainda, seguindo-se as veis para a eficácia desta função. Alguns autores já falam em admi-
duas mais amplas fases de organização: ficção e não ficção - deve nistradores de coleções referindo-se a profissionais que assumem a

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gerência de todas essas funções, como uma estratégia para o alcan- como eixo central o usuário, mesmo que não se esteja vendo a cor de
ce da organicidade da coleção. Vejamos outros requisitos: seus olhos e ouvindo o som da sua voz.

• espaço ffsico adequado à guarda e conservação das diferentes As funções-fim são inúmeras. Abrangem, desde a divulgação de um
coleções, observando-se a temperatura, umidade, ventilação, ilu- calendário de eventos a um grupo de especialistas, até o treinamento
minação etc.; de um indivfduo na utilização de determinadas bases de dados. Des-
de a organização de um clube de leitura em uma biblioteca escolar
• mobiliário compatfvel com as necessidades de armazenamento im-
plfcitas a cada tipo de coleção; até a orientação de pesquisas documentais em uma universidade.
exercfcio eficaz dessas funções remete-nos ao processo de comuni-
°
• instrumentos eficientes e atualizados para o controle ffsico das
coleções, tais como, o catálogo topográfico, o kardex etc.; cação da informação em bibliotecas, cujos extremos são: de um lado,
• disponibilidade de recursos materiais e humanos para a manuten- os emissores, ou seja, todas as fontes documentais das quais te-
ção dos documentos dentro do arranjo preconizado pela função de mos notícias, reais ou virtuais, existentes na biblioteca ou não, e, do
processamento técnico; outro lado, os consumidores, os nossos clientes, ou receptores do
• provisão adequada de verbas necessárias às atividades de manu- sistema. Para que incorporemos a verdadeira dimensão de um agen-
tenção e preservação dos acervos armazenados. te de transferência de informações - canais de comunicação -,
que afinal é o nosso propósito primeiro e último, é necessário que
Com a análise da função armazenagem termina-se o estudo das fun- conheçamos esses extremos, a saber: as coleções, e como explorá-
ções operacionais-meio. As portas da biblioteca podem ser abertas las adequadamente ~, do outro lado, os usuários, suas demandas,
para o usuário real ou virtual e, com ele, as avaliações sobre a eficá- necessidades e interesses. Se não dominarmos esses extremos, com
cia de tudo o que foi feito anteriormente por nós. É através da rela- certeza, alguns "ruídos" surgirão, impedindo o livre trânsito da infor-
ção com o usuário que poderemos avaliar a qualidade e eficácia do mação. Aqui, no âmbito deste trabalho, estudaremos:
nosso trabalho. Esperamos que os nossos leitores-colegas possam
aproveitar essa contribuição, entendendo que todos os serviços reali- • REFERÊNCIA, incluindo as atividades voltadas para a divulgação
zados em uma biblioteca visam a satisfação do usuário e que, por da biblioteca, orientação e auxilio ao usuário, promoção de even-
isso mesmo, devem ser planejados, modelados, avaliados e mesmo tos, oferecimento de produtos etc.;
modificados se não estiverem atendendo a este requisito fundamen- • CIRCULAÇÃO, incluindo todas as formas de circulação de docu-
taI. É o atendimento das necessidades do usuário que justifica o sis- mentos, desde a simples consulta, até a circulação dirigida;
tema. • REPRODUÇÃO, a possibilidade de obtenção e oferecimento de
cópias de documentos aos usuários.
2.2 FUNÇÕES NA FASE DE DINAMIZAÇÃO DAS
COLEÇÕES 2.2.1 Referênoia
Todas as atividades engajadas no propósito final da biblioteca, ou Compreende todas as atividades voltadas, direta ou indiretamente à
seja, o atendimento aos usuários reais e virtuais, a conquista dos prestação de serviços ao usuário. Inclui a divulgação de informações
potenciais e a decorrente dinamização do uso das coleções se en- gerais sobre a biblioteca, como endereço, horário de funcionamento,
quadram nesta categoria de funções. Justamente pelo fato de serem assim como as especfficas, voltadas para um segmento pré- deter-
exercidas junto ao usuário do sistema, algumas delas exercidas face- minado. Promove o uso do sistema e de seus recursos e, para isso,
a-face, podemos defini-Ias como atividades-fim em uma unidade de desenvolve atividades de treinamento pessoal da clientela na utiliza-
informação. ção do acervo, catálogos, bases e o acesso às bibliotecas virtuais.
Vale frisar, com a ênfase necessária, que o desenho da estrutura que Realiza e orienta as atividades de pesquisa escolar e documental.
compreende os serviços-meio, já estudados neste trabalho, deve ter Incentiva eventos, tais como as noites de autógrafos, palestras, ex-

32 33
posições e conferências. Estimula a hora-do-conto, as feiras e trocas A elaboração de todo este leque de instrumentos de divulgação deve
de livros, os varais de cordel etc. ser precedida de um estudo de conveniência e viabilidade para que se
Os usuários das bibliotecas, auxiliados pelo bibliotecário de referên- determine qual o formato mais adequado, qual o tipo de instrumento
cia, têm maiores condições de melhor aproveitarem o acervo de mais urgente, quais deles podem ser executados na própria bibliote-
uma biblioteca do que o fariam sem essa assistência. Esta ca, usando-se, simplesmente, o microcomputador disponfvel. Sim,
maximização de recursos conslitui o princfpio que se encontra no porque até bem pouco tempo, para fazer-se um simples folder, tinha
cerne do próprio conceito de biblioteca que é o compartilhamento e que se dispor de uma gráfica. Hoje não se justifica uma biblioteca
uso coletivo dos registros gráficos em beneffcio da sociedade como sem instrumentos de divulgação. Pode significar a falta de criatividade
um todo e dos indivíduos que a constituem. Agentes humanos do bibliotecário.
complementam e reforçam a ajuda ministrada pelos sistemas de Vamos indicar abaixo algumas das prováveis decisões que um bibli-
catalogação e classificação da biblioteca proporcionando assistên- otecário poderá tomar no exercfcio desta atividade:
cia individual aos usuários. Constituem um elo vivo entre texto e
leitor (GROGAN, 1993, p. 8). • determinação das características gerais do instrumento de divul-
gação que será realizado: as informações básicas que deve incluir,
a disposição dos dados no instrumento escolhido, a inclusão de
2.2.1.1 Divulgação ilustrações, sua redação etc.;
• diretrizes e caracterfsticas gerais das publicações contfnuas, como
Compreende todas as atividades relacionadas à produção de instru- os boletins bibliográficos, os alertas correntes: distribuição dos
mentos de divulgação da própria biblioteca e dos serviços e produtos dados no corpo do trabalho, redação, normalização, rede de distri-
oferecidos a sua clientela. Tais instrumentos podem ser especialmen- buição, preço (se for o caso), periodicidade etc.;
te programados para divulgação de dados gerais sobre a biblioteca
(endereço, horários de atendimento, áreas que cobre, serviços que • organização e montagem de murais e painéis de sinalização;
oferece etc.), tais como os folders, cartazes, anúncios em geral. Po- • escolha de vefculos de comunicação - jornais, rádio, Internet,
dem, também oferecer informações especializadas sobre o conteúdo Intranets, televisão etc.;
de coleções recebidas, como os diferentes tipos de alertas correntes, • elaboração de uma homepage para divulgação da biblioteca na
informes bibliográficos etc. O cumprimento eficaz desta função atua Internet.
como um abrir de cortinas para o usuário. Apresenta a biblioteca, Além de linguagem clara, correta e objetiva, o responsável pelos
muitas vezes uma caixa-negra para os seus clientes, como um servi- serviços de divulgação deve contar com:
ço realmente destinado a ele, programado para servi-lo. Se bem ex-
plorados, os recursos de divulgação podem atrair os não-usuários • a existência de recursos materiais, humanos e financeiros para a
realização dos citados instrumentos;
para a biblioteca, aumentando o leque de sua clientela.
• equipamentos para a composição das publicações, como os
Uma opção de divulgação que vem tomando força em nossos dias é microcomputadores, contando com programas adequados, impres-
a dos sumários on-line. Trata-se dos mesmos "sumários correntes", soras, scaners etc.;
mas disponibilizados através das redes particulares implantadas em • cadastros de instituições ou pessoas ffsicas, incluindo o seu ende-
empresas, as Intranets da organização. O bibliotecário envia os su- reço eletrônico, interessadas no recebimento e intercâmbio das pu-
mários escaneados para o usuário, que os consulta e responde, tam- blicações;
bém on-line, quais os artigos do seu interesse, tudo isso sem dirigir- • a existência de um espaço-ffsico com lay-ou/adequado para a re-
se fisicamente à biblioteca, sem sair de sua mesa. O final deste pro- alização de tais instrumentos, mormente os seqüenciais;
cesso pode ser o artigo enviado em cópia papel ou mesmo digital • avaliação dos instrumentos estudados junto aos usuários, para que
para o usuário. se afira a validade da sua continuidade, eficácia e a necessidade
de modificações;

34
35
• disponibilização do acesso à Internet, como recurso indispensável • atualização e ordenação correta dos catálogos em fichas;
à função. • mapeamento dos assuntos cobertos pela biblioteca (classes), in-
cluindo sua localização dentro das coleções;
• sinalização adequada nas estantes, prateleiras, catálogos e de-
2.2.1.2 Orientação e aux"io ao usuário mais recursos que a biblioteca ofereça;
• formulários executivos simples, claros e objetivos, para agilização
Compreende as atividades exercidas face-a-face com o usuário vi- das tarefas;
sando facilitar o acesso às coleções e a facilidade na utilização dos • instrumentos de apoio ao serviço de consultoria bibliográfica com
demais recursos que a biblioteca ofereça. como os catálogos, bases, as normas da ABNT e livros sobre' metodologia da pesquisa
acesso à Internet etc. documentá ria;
É a função que tem por objetivo essencial fazer fluir o fluxo entre • manuais sobre uso de redes e sistemas à disposição de usuários e
fontes e receptores. Desvelar a biblioteca para o seu usuário. Explorar funcionários;
os seus recursos para obtenção da informação. Fornecer a carta de • treinamento dos funcionários responsáveis pelo setor;
navegação para o usuário internauta. • estalfstica dos serviços oferecidos, assim como da demanda aten-
dida e não atendida para futura avaliação e planejamento;
Além da realização de cursos, aulas e palestras para formação de • Acesso à Internet, como fantástico recurso de prestação de infor-
usuários, as atividades de consultoria bibliográfica - a normalização
mações.
de trabalhos acadêmicos - também cosiumam fazer parte desta ca-
tegoria de atividades.
O exercfcio desta função inclui inúmeras tomadas de decisão, apre- 2.2.2 Circulação
sentadas a seguir:
É a função responsável pelo controle da movimentação das coleções
• critérios e escolha de estratégias para orientação do usuário quan- dentro (consultas) e fora da biblioteca (empréstimos domiciliares, cir-
to ao uso das coleções e demais recursos que a biblioteca possua: culação restrita ou dirigida, empréstimo entre bibliotecas etc.).
aulas, cursos, visitas orientadas, palestras, vfdeos, orientação
As atividades de inscrição de usuários, expedição de avisos a leito-
pictográfica, individualizada etc.;
res em atraso e a aplicação de penalidades, caso a biblioteca as
• programas de orientação e incentivo à leitura e iniciação à pesqui-
adote, normalmente se enquadram dentro desta função.
sa documental;
• implantação de um serviço de consultoria bibliográfica visando a Este setor deve ser muito bem planejado, com ênfase especial a sua
aplicação das normas de documentação (ABNT), na elaboração de localização física, pois, na maioria das vezes, constitui o balcão de
trabalhos acadêmicos e afins; . recepção ao cliente. Concentra, também, os fluxos de pessoal, mate-
• rotinas para implementação dos levantamentos documentais (se riais e usuários, e, com estas caracterfsticas, é a função mais con-
manuais ou automatizados, se restritos ao acervo ou incluindo ou- gestionada da biblioteca. Para que não ocorram as indesejáveis filas
tras fontes de informação) e o desenho de formulários executivos de espera por parte dos usuários, seu lay-out deve ser muito bem
para agilizar o serviço. estudado, verificando-se as possibilidades de localização dos dife-
rentes serviços que ali são oferecidos, em setores diferentes do con-
O exercício das atividades de orientação será facilitado se a bibliote-
trole de circulação que, usualmente, é o que mais tumultua. Assim, a
ca contar com os seguintes requisitos:
inscrição de usuários, sua recepção, a correspondência aos clientes
• coleção de referência geral e especializada, devidamente atualiza- faltosos poderiam ocupar faces diferentes do mesmo balcão ou, se
da para servir de base a consultas e levantamentos documentais; possível, serem cumpridas em local diferenciado.
• acesso a bases de dados on-line para subsidiar as pesquisas rea-
Alguns programas de informatização desta função têm sido implanta-
lizadas;
dos com muito sucesso. A economia de tempo, o desconges-

36 37
tionamento do espaço, a presteza no controle da movimentação dos
2.2.3 Reprodução
documentos é realmente notável. Sua implantação é altamente reco-
mendável a bibliotecas de qualquer tipo e dimensão, sendo mesmo Consiste em requisito básico para as instituições que se propõem a
indispensáveis às de grande porte e demanda. participar de intercâmbio de cópias de documentos. Inclui as ativida-
Examinemos algumas decisões inerentes ao processo de circulação des ligadas à serviços de fornecimento e provisão de cópias (oferece
dos documentos: e obtém) e o seu decorrente controle.
O sistema COMUT atualmente interligado à Internet assume a função
• condições de acesso ao acervo (livre, fechado, restrito a alguns
de reprodução para as bibliotecas filiadas. Algumas instituições de
grupos etc.) que seja o mais adequado à clientela da biblioteca, e
pesquisa acionam o serviço para obtenção de cópias, em papel, de
ao perfil das coleções;
documentos obtidos através das bases de dados.
• determinação do sistema mais adequado para controle do uso e
movimentação das coleções; A disponibilização de cópias de artigos de periódicos para usuários
• estabelecimento de critérios que nortearão o regulamento do servi- conectados através de redes, já mencionada no estudo da função
ço de circulação (direitos e deveres do usuário); divulgação, também pode ser filiada a esta última função-fim.
• organização de coleções em regime de reserva (critérios de circu- Decisões ligadas a essa função:
lação diferentes dos estabelecidos no regulamento geral);
• adoção do sistema de circulação dirigida para coleção de periódicos; • quanto aos usuários ou grupos de usuários que serão beneficiados
com os serviços;
• época e freqüência do levantamento de dados para a expedição de • quanto às instituições com as quais se manterá o intercâmbio;
avisos aos leitores em atraso; • quanto aos documentos que poderão ser objeto de reprodução;
• determinação e aplicação de penalidades; • quanto ao equipamento a ser utilizado;
• perfodo de validade de matrfculas; • quanto à abrangência (regional, estadual etc.) e reciprocidade do
• necessidade de estudo de uso das coleções para subsidiar polfli- serviço (fornecer e/ou obter cópias);
cas de desenvolvimento de coleções e desbastamento; • quanto ao sistema de controle de pagamentos e recebimentos;
• adoção de programas de automação das atividades de circulação. • filiação ao sistema COMUTo
Bom humor, afabilidade e simpatia estão entre os requisitos desejá- Requisitos em que se apoia:
veis, dirfamos mesmo indispensáveis ao profissional que ocupa um
• recursos humanos, materiais e financeiros para o serviço;
balcão de circulação, mas não são os únicos. Vejamos:
• treinamento adequado do pessoal responsável;
• lay-ou/do balcão de circulação de forma a permitir o desempenho, • lay-ou/compatível com as necessidades de espaço do setor;
sem entraves, das diferentes rotinas que comporta (matrfculas, • estatística para avaliação de sua eficácia;
controle da circulação das diferentes coleções, recebimento das • disponibilização do acesso à Internet.
publicações emprestadas etc.);
• fluxos para os diferentes serviços com o decorrente treinamento
dos funcionários responsáveis; 2.3 FUNÇÕE9 GERENCIAI9
• formulários executivos (de inscrição, de cobrança etc.) objetivos e
Se, um sistema de informação é um conjunto de lunções e compo-
claros;
nentes que interagem na busca de um objetivo comum, as funções
• cadastro de usuários atualizados;
gerenciais ou administrativas serão aquelas responsáveis pela ativa-
• recursos materiais e humanos para o desenvolvimento e controle
das atividades de circulação; ção de todas as funções meio ou fim e pelo seu direcionamento e
ajuste aos objetivos e metas do sistema.
• estalfsticas que permitam a avaliação dos serviços e que forne-
çam dados sobre o uso e demanda pelas coleções. No entanto, estudiosos em Administração sentem alguma dificuldade
em emitir um conceito claro para as funções gerenciais, pelo fato de

38 39
as considerarem funções que encerram ambiguidades e de se apre- tema - o equipamento intelectual do bibliotecário -, considerando-o
sentarem bastante fragmentadas em suas ações. decisivo para o alcance da eficácia da organização.
Se pensarmos nas ações diárias de um gerente veremos que ele, por Voltando ao pensamento de Motta (1998, p. 42) "a essência do trabalho
mais que se programe em sua agenda, terá atividades interrompidas gerencial é fazer as organizações operarem com eficiência e eficácia. O
inúmeras vezes por tarefas inesperadas como: chamadas telefôni- bem se faz melhor se antecipado e o mal é menos mal se previsto".
cas, conversas informais ou formais com superiores, subordinados e
As caracterfsticas do mundo moderno têm influenciado substancial-
clientes, visando sempre manter a ordem e o bom andamento de sua
mente as organizações e vêm alterando as formas de gestão,- de
unidade organizacional.
caracterfsticas rfgidas em um passado ainda recente e, diga-se de
Mintzberg (1977) é de opinião que os gerentes não são aquelas pes- passagem ainda atual na maioria das organizações (af incluindo as
soas meditativas e disciplinadas conforme estávamos acostumados bibliotecas),- para formas mais flexfveis (MOTTA, 1998, p.35).
a ver nos livros de administração, mas sim, pessoas dinâmicas e
Estas modificações estão exigindo que conhecimentos, antes exigi-
envolvidas com questões diárias que muitas vezes os obrigam a to-
dos apenas para dirigentes, hoje, sejam exigidos também para geren-
mar apressadas decisões. tes de níveis intermediários. A nenhum profissional bibliotecário, atu-
Nas pequenas bibliotecas, o bibliotecário exerce igualmente, quase ando em qualquer nível da organização, é permitido ignorar as ques-
sem distinção, tanto as funções técnicas, quanto as informacionais e tões e os problemas de ordem gerencial. A administração participativa
as administrativas, mas, segundo a opinião de Ferreira e Oliveira (1989, preconiza que, a qualquer momento, estes podem ser recrutados para
p.15), as de cunho gerencial estão a exigir cada vez maior empenho compartilhar decisões que, anteriormente, emanavam unicamente das
por parte dos profissionais. cúpulas administrativas.
Isto se explica pelo fato de as organizações estarem se transforman- O denominador comum às funções administrativas é a informação, pois
do e se tornando cada vez mais complexas e, às habilidades todo ato administrativo é baseado na informação. Na função de plane-
conseguidas através da experiência do dia-a-dia, ser necessário adi- jamento a informação define os elementos da ação futura, na de orga-
cionar conhecimentos técnicos que permitam aos gerentes desenvol- nização demonstra a situação atual e os objetivos da empresa, na
ver o seu lado racional afim de possibilitar uma análise dos problemas direção a informação é vital para o processo de decidir e, na avalia-
organizacionais envolvendo a biblioteca, para consequentemente, ção é realizada através do processo de comparação de dados. A infor-
equacionar a sua solução. mação reduz a incerteza no processo de tomada de decisões.
Mas, segundo Motta (1998, p. 27) o aprendizado sobre gestão para Para estabelecer a comunicação entre as funções administrativas é
formar dirigentes e líderes não deve se limitar ao domínio de técnicas necessário um intercâmbio de informações: idéias e atividades entre
administrativas pois a "capacidade gerencial é mais rara, exige habi- os integrantes da equipe. Comunicação formal e informal. Um siste-
lidades mais complexas: capacidade analftica, de julgamento, de de- ma que disponibilize e agilize este fluxo é essencial, na medida em
cisão e liderança e de enfrentar riscos e incertezas". que facilita a compreensão de problemas e a necessidade de ações
conjuntas.
Como podemos inferir, o processo de administração de uma bibliote-
ca no contexto mutante e economicamente instável que ora se atra- A comunicação é importante em todos os nfveis da organização,
vessa, exige do bibliotecário conhecimentos e habilidades diversas. tanto verticalmente, de superior para subordinado e vice-versa, quanto
É através do constante aprimoramento que ele irá adquirir novos co- horizontalmente, entre todos os integrantes da organização mesmo
nhecimentos e valores que permitirão sua atuação do cotidiano da alocados em diferentes setores. A comunicação cria um ambiente
biblioteca, tornando-o mais autoconfiante em suas ações e decisões. holístico, onde todos interagem e participam das decisões. Estratégi-
Ferreira (1977, p. 33) considera esta capacidade de contínuo aperfei- as devem ser adotadas, como tática da biblioteca visando este tipo
çoamento do bibliotecário como um recurso, um componente do sis- de integração. A troca de experiências em reuniões de avaliação
pode propiciar o clima necessário à gerência participativa.

40 41
Brown (apud FERREIRA; OLIVEIRA, 1989, p. 20) aponta quatro usos segundo Pires e Gaspar (1981 , p. 31 I, constitufdo por atividades inter-
básicos para a informação em administração de bibliotecas: ligadas, justapostas e contínuas, não obedecendo a nenhuma ordem
• apoiar o processo decisório: a informação sobre um determinado hierárquica.
tópico reduz o grau de incerteza no momento de tomar uma decI- Este conjunto de atividades: planejamento, organização, coordena-
são; ção, direção e controle, pertence à chamada abordagem clássica da
• situar o administrador na sua ambiência: o administrador não administração, já identificada por Henri Fayol em 1916.
pode ignorar as influências do ambiente externo e as oportuni-
dades que surgem para a biblioteca, sob pena de gerenciar uma Segundo Dias (1985, p. 35) essa abordagem clássica teve
instituição dissociada da realidade. A definição dos objetivos e [... 1enorme influência atestada por uma série de outras abor·
do papel da biblioteca na instituição dependem de informações; dagens dela derivadas, bem como pela sua utilização na
• avaliar a situação histórica da biblioteca: informações sobre o organização de cursos e textos de administração e na práti·
passado, o presente e as projeções para o futuro, permitem identi- ca dos administradores.
ficar os pontos fortes e fracos da atuação da biblioteca; Seguindo esta linha clássica, apresentaremos quatro funções como
• avaliar e acompanhar atividades: informações comparativas so- componentes do processo gerencial: o planejamento, a organização,
bre o desempenho proposto com o desempenho realmente atingi- a direção e o controle, tendo em vista, principalmente os objetivos
do. Avaliar o alcance de objetivos. didáticos do presente trabalho.
Um sistema para prover de informações administrativas a gerência de
uma biblioteca é chamado por alguns autores de Sistemas de Infor-
mação Administrativa - SIA, ou Sistema de Informação Gerencial- SIG.
2.3.1.1 Planejamento

O SIA tem por finalidade reunir e disponibilizar dados e informações Ferreira (1983, p. 13), coloca de maneira absolutamente clara a idéia
significativas sobre a biblioteca (recursos, operações, clientela etc.), de planejamento. Para ele, planejamento é o contrário da improvisa-
integrando-os para produzir informações que apoiem o processo ção. Uma ação planejada é uma ação não improvisada. "Uma ação
decisório. Acumulam de forma organizada todos os documentos de- improvisada é uma ação não planejada". Decido não improvisar quan-
correntes da ação administrativa da biblioteca, situando o gerente e do tenho um objetivo em vista e estou interessado em alcançá-lo;
sua equipe dentro do contexto, atestando fatos, comprovando transa- quando diferentes pessoas e organismos estão comprometidos com
ções efetuadas, permitindo análises e avaliações oportunas. a realização de um objetivo comum; quando os recursos são escas-
Um arquivo administrativo bem organizado, dotado de um arranjo cla- sos. Quando se tem mais objetivos do que meios para atingi-los é
ro, de fácil manejo por todos os integrantes da biblioteca, sinalizado preciso definir quais deles são prioritários, quais têm mesmo que ser
adequadamente, utilizando terminologia apropriada em suas guias atingidos primeiro e quais podem ser deixados para depois, ou ainda,
para recuperação de assuntos, - devidamente dividido em arquivo quais, se forem atingidos primeiro, ajudam a atingir os demais.
corrente, para a documentação relativa às ações em curso na bibli- Planejar, portanto, seria preparar bem cada ação, ou organizar ade-
oteca e "inativo" para documentar ações passadas,- pode ser o ponto quadamente um conjunto de ações interdependentes. Mas não é só
de partida para o estabelecimento de Sistema de Informação
isto. Planejar é também acompanhar a ação, é não improvisar na so-
Gerencial. lução de problemas que surgem quando as decisões se mostram er-
radas. Os profissionais encarregados do planejamento das ações não
2,3,1 A visão clássica podem desvincular-se de seus resultados. Planejar consiste, portan-
to, em preparar e organizar bem a ação necessária ao alcance dos
O administrador (ou o gerente) é visto, geralmente, como aquele que objetivos fixados, somado ao seu acompanhamento e revisão para
planeja, organiza, dirige, coordena e avalia. É um processo ininterrupto,

42 43
confirmar ou corrigir o que foi decidido anteriormente. Desdobra-se o cia de instituições do mesmo gênero, na mesma região geográfica
trabalho de planejamento em três dimensões: preparo do plano de tra- da unidade em planejamento, para que se estabeleçam futuras par-
balho, acompanhamento das ações programadas e revisão critica dos cerias. O produto do mapeamento do contexto externo forneceria sub-
resultados obtidos. Enfatiza-se que essas três fases devem se seguir srdios para os estudos de comunidades, enfatizados no decorrer de
necessariamente, dando ao planejamento o caráter que os teóricos todo o trabalho. Tanto de comunidades gerais: uma cidade do interior,
gostam de ressaltar: planejamento é um processo e, como todo bom um bairro de uma grande cidade, quanto de comunidades especifi-
processo, ele é ininterrupto (FERREIRA, 1983, p. 59). cas: comunidades universitárias, comunidades científicas etc. Pre-
Arezzo (1981, p. 26) insere as fases do processo em quatro nrveis: tende-se, através destes levantamentos a visualização da bibliotec~
como um sistema sim, porém sub-sistema de um sistema maior. E
• análise e reflexão; mister, portanto, que a vejamos como uma organização dentro de
• decisão e montagem; outra organização, com a qual deverá manter acesos os circuitos de
ligação sob pena de estiolar-se, extinguir-se e, não se justificando,
• ação; nem chegar a estabilizar-se. Deste estudo deverão depreender-se os
• revisão ou critica. "perfis de usuários", tão enfatizados e pouco efetivados em bibliote-
cas, os "pertis de demanda", que definirão o tipo de informação que
A primeira fase - análise e reflexão - corresponderia ao reconheci- os diferentes segmentos de usuários necessitam e, o tipo de servi-
mento da realidade onde se insere a ação planejada para que os ser- ços e produtos que lhes seriam úteis.
viços e produtos programados se adequem às demandas da comuni-
dade envolvida. O segundo nível- decisão e montagem - necessari- Cada sistema é um subsistema de um sistema mais amplo e
cada sistema em si é composto por um número de
amente apoiado no primeiro, consistiria na colocação de objetivos e subsistemas. Portanto, todos os sistemas pertencem tanto a
em toda a ação necessária para atingi-los. A terceira fase - a ação- uma micro como a uma macro-hierarquia, dependendo da
corresponderia ao acompanhamento da ação programada. Na quarta perspectiva do analista (BURNS JUNIOR, 1972, p. 169).
fase - revisão ou critica - imbricada na terceira, se avaliaria cada
Do bojo deste reconhecimento de realidade surgirão naturalmente os
ação em curso, tendo em vista apontar desvios, alterar procedimen-
elementos que permitirão a justificativa do empreendimento: sua vali-
tos e, mesmo, modificar o plano original.
dade e viabilidade social, cultural, educacional e sua compatibilização
Planejamento é processo que antecede a ação, exige reflexão e auxi- institucional, o esteio para a definição de sua missão organizacional.
lia a tomada de decisão. Estabelece, para cada parâmetro em ques-
Se analisarmos a estratégia adotada pelo presente texto para a abor-
tão, os resultados que se pretende atingir no futuro, levando o admi-
dagem das unidades de informação como organizações, integradas
nistrador a definir, previamente, o que, por que, como, quem deve
por funções e componentes interagindo na busca de objetivos, obser-
fazer, o quanto custa, quando e onde deve ser feito.
varemos que a atividade de planejamento estará impltcita, necessari·
Planejar unidades de informação seguindo estes preceitos, implica, amente, no estudo e na imptementação de cada uma das funções
primeiramente, em caracterizar a ambiência relativa à unidade de in- analisadas.
formação que se pretende implantar ou avaliar. Isso inclui a análise do
seu contexto externo, que abriga e justifica a existência da bibliote-
ca, e do seu contexto interno (quando ela já existe): esquema de 2.3.1.2 Organização
organização adotado, recursos que a compõem, qualidade dos servi-
Organização é a função que se propõe estabelecer a necessária es-
ços e produtos etc. Tais dados e informações permitem o seu diag-
trutura organizacional para o funcionamento de uma empresa, assim
nóstico, a base de atuação de quem planeja.
como a determinação dos recursos necessários ao empreendimento,
No que tange ao contexto externo, referrmo-nos aos pertis institucionais definindo hierarquia e desempenho. É, portanto baseada na função de
da entidade que abriga a biblioteca e à investigação sobre a existên- planejar, e antecede a de dirigir e avaliar.

44 45
Para Luporini (1985, p. 20) a organização pode ser entendida como livro, para a biblioteca em questão? Pode parecer primário à primeira
uma correlação de deveres ou funções para a consecução de objeti- vista, mas não é. O que é folheto? Sob a denominação de folhetos
vos específicos. A distribuição de forma acertada é que determina a encontram-se usualmente armazenados os mais diferentes tipos de
boa organização e, desta, haverá contribuições em larga escala para materiais: xerox de artigos de periódicos, separatas, publicações avul-
o sucesso administrativo de uma empresa. sas, relatórios de pesquisa, e os próprios folhetos, como são defini-
Antes de qualquer definição sobre estrutura há que determinar a mis- dos pela ABNT. Na hora de informatizar a biblioteca a definição da
são da biblioteca e os objetivos implícitos nessa missão. A estruturação coleção tratada é básica, se não quiserem que o caos se instaure no
de uma unidade de informação pressupõe a definição de sua missão sistema. Da entrada bem definida dependem as saídas que se pre-
e objetivos temporais que, por sua vez, exigem a análise de priorida- tende.
des. Oual objetivo deverá ser atingido no curto prazo, qual no médio Basicamente, em uma empresa podem ser observados dois tipos de
prazo e quais deles só poderão ser alcançados no longo prazo? Só organização: a formal e a informal.
depois disso é que o planejador deverá pensar nos recursos necessá-
rios e na estrutura organizacional necessária ao alcance dos objeti- A formal, também denominada Estrutura Organizacional, é concebi-
da como o agrupamento das atividades necessárias para realizar os
vos.
objetivos e metas da empresa, ou seja, o estabelecimento formal das
Só depois da identificação dos objetivos é que os planos e funções necessárias ao alcance dos objetivos, sua reunião em gru-
os procedimentos poderão ser determinados. Qualquer pro-
pos de natureza similar para o estabelecimento das principais divi-
fissional pode ser um administrador de êxito, se conhecer
bem o seu oHeio e, em parlicular, suas metas e objetivos sões administrativas e a posterior atribuição dessas divisões a um
(FARIA, 1994). executivo, com a devida formação, e a necessária autoridade funcio-
É preciso começar com a missão, e isso é muito importante. nai para o desempenho de tais atividades. Pode ser ilustrada pelos
A missão é algo que transcende o dia de hoje, mas orienta e organogramas - gráficos de estrutura, abordados na seção 4.1.1.
informa hoje. No momento em que a perdemos de vista co·
meçamos a nos desviar, a desperdiçar recursos. A partir da No contexto do presente trabalho, representa a determinação das fun-
missão chega-se a metas muito mais concretas (DRUKER, ções biblioteconômicas, sua divisão em funções ligadas aos dois
1997a, p. 102).
blocos, a saber: Formação e Organização de Coleções e Utilização
Definir a missão e os objetivos Implica, portanto, em definir o próprio de Coleções e a posterior designação de gerentes para cada um
sistema. Ouais são as entradas necessárias? Oual o processamento desses blocos de funções.
adequado para a obtenção das saídas - produlos e serviços - que se
Nem sempre a estrutura organizacional de uma biblioteca é respal-
pretende? Cumpre agora estabelecer a estrutura organizacional da
dada em duas divisões, como no exemplo citado. Conforme o tipo
unidade de informação que se planeja, ou seja, determinar as fun-
da unidade que se planeja, essa organização obedecerá a diferen-
ções (seleção, aquisição, processamento técnico, referência etc.)
tes configurações. Existe desde a biblioteca com um único geren-
necessárias ao alcance dos objetivos e metas traçados anteriormen-
te (e temos excelentes exemplos de eficácia de unidades com essa
te, quais os componentes (indivfduos, coleções, mobiliário, equipa-
característica) ou seja, um único responsável por todas as fun-
mentos, lay-out, recursos de capital etc.) e qual a melhor configura-
ções, como existem as estruturas complexas onde há necessida-
ção para que essa estrutura atinja os alvos estabelecidos. Chega-
de de uma única seção para cada função exercida pela organiza-
mos, portanto, ao eixo central de interesse de todo o trabalho que
ção. Assim temos seção de seleção e aquisição; seção de
vimos desenvolvendo: o estudo e a proposta de uma organização
processamento técnico, seção de divulgação, seção de referência
básica a uma unidade de informação.
etc.(ver seção 4).
No que tange aos sistemas de informação é oportuno lembrar a ne-
Tem-se constatado que, modernamente, não existe, em princípio, uma
cessidade de definição dos diferentes tipos de coleção. O que é
melhor maneira de se estruturar uma organização, tornando-se ne-

46 47
cessá rio considerar formas alternativas de estruturas que permitam no de uma biblioteca, e, por isso mesmo, exigem estudos a respeito
às organizações se adaptarem às constantes provocações da e a orientação de especialistas no assunto. É preciso paciência para
ambiência. a obtenção de resultados, por serem processos lentos e graduais.
A organização holográfica surge como um modelo de organização Mas podemos afirmar que o desafio já foi enfrentado por uma bibliote-
que apresenta propostas para se enfrentar esta era de incertezas, e, ca universitária brasileira, e o modelo já está em fase de implantação
segundo Moscovici (1988, p. 108): (ANDRADE, 1998, p. 311).

[ ... ) a abordagem holfstica preconiza o modelo holográlico A organização informal é aquela que surge naturalmente na empre-
como o caminho apropriado da transformação organizacional sa como fruto da interação social entre seus membros, suas afinida-
para a realidade emergente da mudança do século XX para des e valores comuns, constituindo o que é popularmente chamado
o século XXI. de "panelinhas".
Considerando que a estrutura é dependente do ambiente, e que este
Há que se ter engenho e arte para direcionar toda a energia desses
muda no tempo e no espaço, conclui-se que a estrutura deveria ser
grupos para a produtividade e a qualidade dos resultados. Muitas ve-
igualmente variável e fruto de uma adaptação constante a essas mu-
zes verifica-se predominância dos interesses particulares em detri-
danças.
mento dos organizacionais. Conversas de cunho pessoal ocupando
Ao mesmo tempo, uma organização não pode sobreviver na depen- os canais oficiais da empresa: telefones, interfones, faxes etc., tra-
dência absoluta de variações ambientais. Precisa ter alguma regulari- tando de trivialidades, obstando comunicações importantes à organi-
dade estrutural para enfrentar todas essas incertezas e que seja, ao zação e à clientela.
mesmo tempo, simples e tlexrvel.
A administração muitas vezes desconfia de grupos informais que se
Para que uma unidade de informação, no caso uma biblioteca, apre- criam no trabalho, pois estes têm poder potencial para reduzir a pro-
sente como características esta simplicidade e flexibilidade exigidas dutividade. Mas alguns autores verificam que, às vezes, tais grupos
às organizações modernas, ela deve apresentar uma descentralização se formam como uma reação à falta de significação e impotência
administrativa e possuir um sistema de informações gerenciais efici- quando não têm controle de seu ambiente de trabalho. Tais ambientes
ente e acessível a todos da organização. costumam se criar onde o trabalho é rotineiro, chato e super simplifi-
cado. E esta situação fica ainda pior quando os funcionários não têm
Essa descentralização administrativa acarretaria menos hierarquia
canais ctaros de comunicação com a administração (HERSEY,
na estrutura da organização, sendo o trabalho realizado baseado BLANCHARD, 1976, p.40).
em equipes em que, não somente as responsabilidades seriam
compartilhadas mas, também os recursos materiais e o espaço E continua o autor citado: a redução da produtividade nem sempre
ffsico. Além disso, todos deveriam saber atuar em diferentes fun- resulta de grupos informais de trabalho. Na realidade os grupos infor-
ções - a generalização e a especialização simultâneas - preconi- mais podem representar mesmo uma vantagem extraordinária para a
zada pelo modelo holrstico. Complementando a estratégia do mo- administração desde que seus mecanismos internos de organização
delo, um rodízio permanente entre os integrantes das equipes, con- sejam compreendidos e utilizados pela administração superior.
tribuiria para se atingir a flexibilização necessária às organiza-
Muitos trabalhos interessantes têm sido feitos abordando o tema da "cul-
ções contemporâneas.
tura organizacional" e da importância do seu conhecimento e integração
O modelo de organização horizontal, segundo Andrade e outros (1998, pelo gerente de empresas. Vale a pena uma pesquisa sobre o tema.
p. 311) já vem sendo tratado na literatura com aplicações em bibliote-
As organizações formais apoiam-se em dois princrpios: unidade de
cas (ver seção 4.2 deste trabalho).
objetivos e eficiência. Se uma organização atinge seus objetivos ela
É importante ressaltar que estes novos modelos de organização im- é eficaz, mas se o faz com o mínimo de custos ela é eficiente.
plicam em mudanças comportamentais por parte do material huma-

48 49
Em complemento ao estudo das funções realizado neste livro vale Os executivos, quer estejam em uma instituição sem fins
ressaltar a excelência dos gráficos de organização - organogramas, lucrativos ou em urna empresa, dedicam pouco tempo à to-
funcionogramas e fluxogramas, dentre outros - para ilustrá-Ias e defi- mada de decisões. Muito mais- tempo é gasto em reuniões,
com pessoas ou em tentativas de obtenção de um pouco de
ni-Ias e, em conseqüência, permitir a visão da estrutura tanto para os
informações. Porém é na decisão que tudo se junta. Ela defi-
planejadores quanto para os futuros integrantes da mesma. ne o sucesso ou o fracasso de uma organização. A maior
parte das tarefas feitas pelos gerentes poderiam ser feitas
Para maiores detalhes, os interessados poderão consultar a seção 4
por outras pessoas, mas somente eles podem tomar deci-
deste trabalho que trata, especificamente, dos citados gráficos. sões. E se não tomarem decisões de forma eficaz, eles se
tornarão ineficazes (DRUKER, 1997a, p. 89).

2.3.1.3 Direção Enfatiza-se a necessidade de três atributos a um gerente: a capacida-


de de motivar, comunicar e liderar.
Direção é a função responsável pela implementação dos planos e
Enquanto Irder, o gerente deve, necessariamente, saber e conhecer a
pelo acompanhamento de sua execução. Inclui, desde a designação
ambiência para identificar demandas e, a estrutura organizacional da
até a capacitação dos responsáveis pela execução das ações progra-
instituição, em detalhes, para facilitar a implementação de novas
madas responsabilizando-se, também, pela coordenação da execu-
ações, projetos etc., ou seja, é necessário que ele participe integral-
ção, para que os resultados sejam satisfatórios, através da adequada
mente do processo gerencial, desde o estabelecimento das metas
alocação de recursos e da aplicação dos métodos mais corretos para
até a sua concretização, ou não. Nada de "torres de marfim" nada de
a consecução dos objetivos (HERSEY; BLANCHARD, 1976).
"aquários" isolados do crepitar dos usuários. Já foi demonstrado que a
É a função administrativa responsável pelo gerenciamento da organi- gerência impositiva não leva a resultados satisfatórios. É essencial
zação à medida em que se executam os planos, programas e proje- que ele saiba integrar a sua equipe na menor tomada de decisão, de
tos, procurando convertê-los em resultados. modo que todos se sintam representados na decisão tomada.
Quando surgiram as organizações modernas no final do século XIX o Como líder e homem de comunicação é vital que o gerente:
único modelo era o militar... Hoje, como está sendo visto, tudo está
• conheça os recursos humanos de que dispõe e saiba explorar a
mudando rapidamente. À medida em que mais e mais organizações
sua potencialidade;
passam a ser baseadas na informação, elas estão se transformando
• conheça os recursos materiais e orçamentários;
em equipes fundamentadas na responsabilidade, nas quais cada
• saiba comunicar instruções de trabalho e relatar resultados;
membro deve atuar como tomador de decisões. Em suma, todos os
• prepare substitutos para eventual ocupação do cargo;
membros devem ver a si mesmos como executivos.
• providencie recursos (mesmo fora da instituição);
Mesmo assim, uma organização precisa ser gerenciada. É preciso • documente todas as iniciativas e ações implementadas no período
haver pessoas que tomem decisões ou nada será feito. É preciso de sua gestão, armazenando todos os documentos probatórios no
haver pessoas responsáveis pela missão da organização, pelo seu arquivo administrativo da organização, para subsidiar suas decisões
espfrito, seu desempenho e resultados (DRUKER, 1997b, p. 54) e para a consulta dos próximos gerentes ou eventuais substitutos.
A função direção ou comando envolve as grandes decisões, ou seja, A supervisão é uma das atividades mais importantes ligadas à gerên-
as resoluções básicas que irão nortear a vida da organização. Envol- cia das organizações. Define-se como o acompanhamento, a obser-
ve a adoção de políticas e estratégias que subsidiarão diretrizes para vação do desempenho do esforço de trabalho e a correção dos even-
o alcance das metas. A estratégia adequada converte a missão e os tuais desvios. Aproxima-se da avaliação enquanto acompanhamento
objetivos da instituição em desempenho, que é o que mais interessa. de tarefas que estão sendo realizadas para que se afira a
A direção vai promover o funcionamento do corpo social da organiza- compatibilização entre o que se realiza e o que foi programado (na
ção através de ordens e tomadas de decisão que, ao serem executa- fase do planejamento).
das, deverão direcionar a organização aos seus objetivos.

50 51
Além de estar apto para decidir a nível macro e micro, o gerente deve • harmonizar os pontos de vista discrepantes, procurando extrair van-
conhecer e promover, enquanto supervisor: tagens dos conflitos. Entender que opiniões divergentes podem ser
salutares: a crítica e a discussão podem aclarar erros passados;
• padrões de produtividade, aperfeiçoamento e treinamento de pessoal;
• definir o grau de centralização ou descentralização necessária para
• elaboração e revisão periódica de manuais de serviço;
a eficácia dos serviços;
• seleção de pessoal, realização de concursos; • propor rodízios de funcionários entre diferentes funções e ativida-
• coleta e organização de dados e informações gerenciais, que de- des;
verão estar disponíveis para subsidiar o processo decisório, ou seja, • estabelecer o nível de padronização necessária ao bom andamen-
a criação de um sistema de informações gerenciais - SIG, já men- to dos serviços;
cionado no decorrer do trabalho. • promover reuniões nos diferentes níveis da organização, visando a
Um engano comum é acreditar que, como as pessoas estão todas sua integração, enfatizando a relevãncia do esíorço participativo;
na mesma equipe, elas pensam e agem da mesma forma. Não é o • distribuir responsabilidades por funções e atividades consoante a
que acontece. A finalidade de uma equipe é tornar eficazes as for- capacidade de trabalho de cada funcionário, evitando sobrecargas
ças de cada uma e irrelevantes as suas fraquezas. Em uma equipe e desapontamentos e conseqüente desestímulo;
você gerencia indivíduos. O foco está no desempenho e nas forças • saber não exigir mais do que o próprio chefe apresenta e rende.
de indivíduos combinados em um esforço comum (DRUKER, 1997a, Gerência é, portanto, tudo o que foi dito e muito mais, pois o gerente
p.112). realmente eficaz é aquele que, paradoxalmente, não faz falta quando
A coordenação é outro dos atributos essenciais ao gerente. Consis- se ausenta. Ele soube formar substitutos, ele documentou todas as
te no desempenho de atividades que promovem a interação dentro do suas ações e mantém atualizados seus arquivos. Ele soube treinar
sistema para otimização de seus resultados. Procura estabelecer re- sua equipe e oferecer oportunidades de aperfeiçoamento a todos os
lações entre as funções e os funcionários responsáveis, entre funcio- seus subordinados. Ele soube, em suma, incorporar o espírito da or-
nários e equipamentos, entre a cúpula administrativa e os subordina- ganização.
dos, entre funcionários e coleções etc.
O gerente enquanto coordenador identifica e motiva as interações 2.3.1.4 Controle
necessárias para a eficiência da unidade de informação, aciona a di-
nãmica de comunicação necessária à movimentação do sistema em Controle é a função destinada a verificar se os resultados planejados
direção aos seus alvos. Nesta dinâmica deve ser incluído o seu rela- estão sendo alcançados através das operações executadas. Permite
cionamento com as estruturas sociais e comerciais externas ao sis- adotar ações corretivas visando corrigir os desvios detectados duran-
tema. Fazem parte de sua ambiência, fornecem a necessária matéria te o processo de avaliação.
prima dos acervos e concorrem para o seu bom desempenho: edito- No exercício desta função, o gerente de bibliotecas vai buscar aferir o
ras, livrarias agências, centros de processamento de dados, provedo- desempenho de um grupo, ou o desempenho de uma determinada
res de acesso à Internet etc. função ou serviço, ou mesmo de uma única tarefa ou funcionário.
Podemos distinguir entre as tomadas de decisão do gerente enquanto Compara-se o que se faz no momento, com o que foi planejado ante-
coordenador a definição de estratégias, métodos e técnicas para: riormente. É a função que, por excelência, permite o necessário rea-
juste e compatibilização dos planos com os diferentes resultados.
• internalizar objetivos, metas e valores junto à equipe de trabalho da Com a realidade em que se vai intervir e com a realidade que vai
instituição; executá-los pois, afinal de contas, "agir e planejar embora sejam
• harmonizar os indivíduos e as equipes à tarefa a ser executada, coisas distintas, podem ser feitas concomitantemente" (FERREIRA,
definindo claramente as atividades, tarefas implícitas e responsa- 1983, p. 75). Há erros que só podem ser descobertos depois de come-
bilidades (ver funciono gramas); tidos. Descobrir estes erros é a função do controle do processo, que

52 53
vai, inclusive propor ações novas, não cogitadas no planejamento profissional competente, indicando padrões, delineando perfis, apon-
inicial, pois avaliar não é ficar tando falhas, deficiências e qualidades, revelando elevação ou queda
assistindo de camarote como a ação se desenvolve. O que na na produtividade dos diferentes setores da biblioteca. Os relatórios
verdade tem que ser feito é interferir nela, mudá·la, sempre representam oportunidades únicas de avaliação e planejamento, des-
que comece a se mostrar furada, arriscando a não levar aos de que programados e utilizados, efetivamente, com este propósito
objetivos que se pretende atingir (FERREIRA, 1983, p. 61). (MACIEL, 1995, p. 4).
Convém lembrar, na oportunidade deste trabalho a colocação de
Drucker (1997a, p. 87):
2,3.2 Funções gerenciais segundo Minfzberg
Uma avaliação deve começar sempre com aquilo que a pes-
soa fez bem. Nunca começar com os aspectos negativos, Após o exame da visão clássica das funções gerenciais, cabe men-
você logo chegará a eles. Mas o desempenho somenle pode cionar a existência de outras abordagens. Segundo Dias (1985, p. 37),
ser baseado em forças, naquilo que as pessoas consegui-
"uma abordagem moderna e de grande impacto é a dos papéis
ram, e não no que não conseguiram.
gerenciais desenvolvida por Mintzberg".
Apontamos algumas dentre as inúmeras decisões que são tomadas
no exercfcio da função avaliação: Em seus estudos, Mintzberg e outros pesquisadores mostram que os
gerentes de organizações, desde chefes de quadrilhas até o Presi-
• alterar fluxos, rotinas de trabalho que não estejam se mostrando dente dos Estados Unidos, não gastam o seu precioso tempo somen-
eficazes; te planejando, organizando, coordenando e controlando atividades,
• propor mudanças na estrutura organizacional, se esta não estiver como o industrial francês Hemi Fayol disse que se fazia em 1916 e
compatfvel com os resultados que se pretende; continua sendo dito por administradores até hoje. Eles não são, tam-
• alterar planos, programas ou projetos, quando mudanças de políti- bém, como maestros de orquestra, que conduzem os seus compo-
cas, estratégias ou ações estejam se fazendo necessárias; nentes com precisão e eficiência. Ao invés disso, eles gastam o seu
• avaliar a adequação dos recursos materiais, humanos e orçamentá- tempo reagindo a crises, aproveitando oportunidades especiais, fre-
rios durante o andamento das ações planejadas propondo alterações; quentando reuniões, negociando interna e externamente, atendendo
• alterar ou reajustar objetivos e metas. ao telefone e ao fax, cultivando amizades interpessoais e polfticas,
juntando e disseminando informações e preenchendo uma variedade
Aponta-se como requisito fundamental ao exercfcio da função contro- de funções cerimoniais (MINTZBERG ,1977, p. 23).
le, o engajamento do gerente do sistema em todas as etapas ou fun-
ções do processo administrativo: desde a preparação dos planos de Vemos em Mintzberg uma preocupação em descobrir o que realmente
ação (planejamento), à montagem da estrutura necessária, à execu- um gerente faz. O autor considera gerente aquela pessoa que, revestida
ção das ações planejadas e, finalmente, à avaliação, à revisão critica de autoridade formal sobre uma organização, - autoridade esta que lhe
dos resultados que a ação apresentou. Fica bastante complicado ava- confere status e poder-, tem acesso a diversas informações que o
liar atividades planejadas por outra pessoa. habilitam a tomar decisões e optar por estratégias para sua unidade.

Para avaliar o alcance de um objetivo ou meta, o profissional deve ter Assim, a teoria de Mintzberg sobre as funções gerenciais apresenta-
em mãos, dados da realidade em que atua, saber coletá-los, organizá- se agrupada em 3 categorias principais, com os gerentes represen-
los e analisá-los, ou seja, contextualizá-Ios. Alguns documentos ad- tando diferentes papéis em cada uma delas, conforme desenvolve-
ministrativos funcionam como verdadeiros bancos de dados sobre a se a seguir.
biblioteca, e aqui enfatizamos as estatfsticas e os relatórios. Os for-
mulários estatísticos, desde que bem planejados e compatibilizados
com a realidade, oferecem dados vitais para o planejamento e a ava-
2.3.2.1 Funções inferpessoais
liação, tanto de funções quanto de funcionários. Quantitativos, em As funções interpessoais decorrem do status e autoridade inerente
primeira instância, transmutam-se em qualitativos sob o crivo de um aos cargos administrativos. São, em grande parte, de natureza social

54 55
e legal, implicando no relacionamento do gerente com representantes Enquanto monitor, o bibliotecário-gerente assume os seguintes pa-
da organização, com os subordinados e com indivíduos ou grupos péis informacionais: obtenção de informação sobre novos fatos e even-
externos à empresa. Nesta função os gerentes representam os se- tos que porventura demandem alguma cobertura por parte da biblio-
guintes papéis: teca para o seu desenvolvimento, tais conio: cursos que serão minis-
• representante da organização; trados na organização (em bibliotecas escolares e universitárias);
surgimento de novos núcleos de interesse na comunidade (em biblio-
• líder;
• realizador de contatos. tecas públicas); mudanças na legislação vigente (de interesse da or-
ganização de um modo geral); surgimento de novas publicações, tan-
Na biblioteca estes papéis interpessoais, quando assumidos pelos to em papel quanto eletrônicas; novos formatos e novos sites etc.;
gerentes-bibliotecários, dizem respeito a: cursos e eventos de interesse para seus subordinados (aperfeiçoa-
• no caso de representante da organização: a recepção aos visi- mento profissional); treinamento dos funcionários quando ocorre con-
tantes, que podem ser externos ou mesmo internos à organização gestionamento de atividades por falta de preparo etc.
(diretores, reitores, prefeitos etc., dependendo do tipo e dos víncu- Como disseminador, o bibliotecário-gerente procede à disseminação
los da biblioteca), participação em solenidades oficiais, almoços das informações recolhidas pelo monitor, de acordo com o interesses
comemorativos, recepção a funcionários recém-ingressados, esta- e as necessidades de seus subordinados, de seus superiores e usuá-
giários etc.; rios. Exemplo: comunicações ou informes direcionados à clientela so-
• no caso de líder e responsável pelo trabalho de seus subordina-
bre novos cursos e eventos na área de atuação da biblioteca; novas
dos, o gerente se incumbiria: do treinamento de seu pessoal, de
necessidades de informação de seus usuários, aos seus superiores, o
incentivos ao aperfeiçoamento de seu slaff, de esclarecer a estru-
que implicará na oferta de novos serviços ou produtos etc.
tura e os objetivos da organização a sua equipe, e mais todos os
requisitos já mencionados durante a abordagem clássica da fun- Como poria-voz, o gerente-bibliotecário é a pessoa que fala em nome
ção direção; da instituição, apresentando planos, divulgando atividades de acom-
• no caso de realizador de contatos: estabelecer uma rede de conta- panhamento e avaliação de resultados.
tos com seus pares (dentro e fora da biblioteca), com pessoas-
chave integrantes da ambiência da mesma, (gerentes ou represen-
tantes de entidades organizacionais com as quais a biblioteca 2.3.2.3 Funções deoisórias
interage na busca de seus objetivos), com superiores, com entida-
des de classe etc., visando obter informações que irão constituir As funções decisórias relacionam-se às tarefas de tomar decisões,
seu próprio sistema de informações. seja através das atividades de planejamento, como solucionado r de
problemas, ou alocador de recursos ou ainda negociador. Prováveis
pontos de tomadas de decisão com que se defronta o bibliotecário no
2.3.2.2 Funções informacionais exercício da maioria das funções sob seu comando, já foram aponta-
dos no decorrer do presente trabalho. Seriam momentos interessan-
As funções informacionais estão diretamente ligadas às informações tes para avaliar o tipo de papel decisório que o gerente pode assumir.
recebidas e recolhidas pelo gerente com a finalidade de se inteirar do Confira abaixo:
que acontece na organização e, posteriormente, transmiti-Ias aos
subordinados. Pode assumir a função de porta-voz da organização. • empreendedor;
Exercendo as funções informacionais o gerente representa os se- • conciliador;
guintes papéis: • alocador de recursos;
• negociador.
• monitor:
O gerente-bibliotecário tenta melhorar sua unidade de trabalho apresen-
• disseminador;
tando idéias e projetos que visem adaptá-Ia às modificações sugeridas
• porta-voz.

56 57
pelo meio ambiente, às alterações na demanda por serviços ou produ-
tos. Como exemplo, numa biblioteca universitária em que é grande o
número de pesquisas bibliográficas, a proposta de um serviço de pes-
o PLANEJAMENTO
quisa On-IJfle visando agilizar o serviço no sentido de melhor atender ESTRATÉGICO
sua clientela. Estará, neste caso sendo empreendedor.
O gerente-bibliotecário estará adotando uma postura conciliadora No contexto de mudanças e incertezas de ordem
na medida em que tenta conciliar as pressões surgidas em dado polftica, econômica e social que se atravessa é fun-
momento na biblioteca, aliviando tensões, amenizando conflitos. As- damentai antecipar-se e planejar o futuro. A resposta
sim, pressionado pelos usuários para obterem flexibilidade no horário para tal desafio, estaria na adoção de metodologias
de atendimento da biblioteca, consegue convencer os subordinados a que permitam à biblioteca competir por recursos cada vez mais escas-
estenderem o horário através da prática do rodízio entre eles. sos e mercados cada vez mais competitivos.
O papel de alocador de recursos em unidades de informação é da É uma questão de escolha entre "planejar ou ser planejado" ou, "em
maior importância visto a precariedade existente dos mesmos. Alocar vez de aborrecer-se e desanimar sobre o futuro, trabalhar e criá-lo"
recursos se torna assim tarefa das mais difíceis e requer um eficaz (HOBROCK, 1991, p. 37).
planejamento dos mesmos, para poder decidir quem recebe o quê em
sua unidade. Segundo Motta (1998, p. 78), "nenhuma palavra nos últimos vinte anos
tem sido associada à administração quanto estratégia", referindo-se
Como negociador de recursos, o gerente interage com superiores, não somente à administração como também às funções administrati-
subordinados, usuários, fornecedores e, principalmente, com agênci- vas.
as financiadoras de recursos, no sentido de aumentar sua arrecada-
ção, de captar recursos, mesmo fora da instituição, para poder aten- A palavra estratégia é de origem grega, e designava a função admi-
nistrativa do generalato
der melhor sua comunidade. Baseado nas informações (formais e in-
formais) de que dispõe, assume o papel de negociador. [... ], passando a ser utilizada na guerra no período após a
Renascença. De sua aplicação militar a Administração pro-
Importante frisar que estas funções são integradas, inseparáveis umas curou dar a ela um cunho cienHlico, sendo associada [ ... ] à
das outras, e mesmo, podemos dizer que formam como que um elo formulação de diretrizes a ao planejamento (MOTTA, 1998,
de uma corrente, entrelaçadas que são. Na maioria das vezes somos p. 79-80). Isto aconteceu na década de 50 mas foi nos anos
tanto monitores quanto disseminadores, tanto empreendedores quan- 60 que este ?onceito se popularizou [... ] no meio empresarial
to negociadores e assim por diante. Numa reunião periódica de ava- pela necessidade de aperfeiçoamento dos métodos de pla-
nejamento e gerência (MOTTA, 1998, p. 84).
liação, por exemplo, o gerente pode representar vários papéis ao mes-
mo tempo. Na visão atual, o planejamento estratégico exige constante revisão
de objetivos, reavaliação constante, em função da mutabilidade dos
A eficiência de um gerente, segundo Mintzberg é significati-
ambientes que envolvem as organizações.
vamente influenciada pelo exame atento do próprio traba-
lho. Seu desempenho depende de como compreende e rea- O Planejamento Estratégico é um conjunto de princfpios e processos
ge às pressões e dilemas do serviço. Assim, os m~is
introspectivos a respeito de suas ações provavelmente sao
que possibilitam aos gerentes de bibliotecas, em qualquer nível, criar
os mais eficientes (MINTZOERG, 1977, p. 29). e controlar o seu futuro (HOBROCK, 1991, p. 37).
Recomenda-se a sua metodologia quando o futuro é imprevisível. E
qual.é o futuro das bibliotecas no Brasil? A "explosão da informação"
pUblic.ada é cad~ vez maior, acrescida das miríades de informações
VIrtuaiS dispOnibilizadas na Internet; o aparecimento de tecnologias
cada vez mais sofisticadas estão a exigir aperfeiçoamento e treina-

58
59
mento conlfnuo dos profissionais; a erosão dos recursos públicos e O Planejamento Estratégico, enquanto metodologia de pensamento
privados é outra face onipresente da reatidade atual. participativo, inicia-se com o envolvimento da alta administração e
gerentes de setores, estendendo-se posteriormente a todas as áreas
Podemos esperar calmamente a vinda de novos e conlfnuos recur- da organização. É essencial a completa interação das pessoas envol-
sos? Podemos garantir os nossos mercados reais e potenciais num vidas no processo de formulação e implantação do mesmo. É impor-
contexto de frenética competição e ocupação dos espaços comoda- tante também levar-se em conta a cultura da organização, entenden-
mente ocupados por bibliotecas nos últimos anos? do-se aqui por cultura aqueles valores, crenças básicas, hábitos e
A melhor oportunidade para os gerentes de biblioteca garantirem a padrões de comportamento que são aceitos e compartilhados pelos
sua eficácia no futuro pode estar na adoção da metodologia implfcita membros da organização (BARBALHO, 1995, p. 24).
no Planejamento Estratégico (BARBALHO, 1995; CARR,1992, p. 4; O envolvimento do gerente deve ser total e sincero pois suas decisões
HOBROCK, 1991, p. 37; JOHNSON,1994). vão necessáriamente envolver alocação de recursos de todas as ordens.
O Planejamento Estratégico solidificou-se com a necessidade das Todos os participantes do processo devem entendê-lo antes para par-
organizações se adaptarem às constantes mudanças do ambiente, ticipar depois, ou seja, precisam ser minuciosamente esclarecidos so-
proporcionando além da sobrevivência, o seu desenvolvimento inte- bre os estudos e propostas em cogitação. Idéias devem ser acolhidas de
grado ao contexto onde atuam. todos os participantes. Nem todas boas idéias vêm de cima. Uma co-
missão (força-tarefa) deve ser designada para coordenar os esforços
No cenário atual, de constantes mudanças mundiais, as organiza-
implfcitos no processo. Uma consultoria deve ser assegurada. Claras
ções lançam mão do Planejamento Estratégico como forma de deli-
linhas de comunicação devem ser estabelecidas, tanto formais quanto
near novos rumos e futuros caminhos. informais. Relatórios de andamento devem ser minimizados, breves, e
Os bibliotecários não podem viver no passado e, mesmo que alguns formatados para fácil leitura (HOBROCK, 1991, p. 39).
ainda o façam, os profissionais precisam olhar para o futuro e antecipar São várias as metodologias de Planejamento Estratégico. Percorrendo
o que a outra década pode trazer. As bibliotecas contemporâneas têm diferentes etapas de trabalho, aqui adotamos o roteiro de Bryson (apud
que ser gerenciadas de acordo com as práticas modernas, considerando JOHNSON, 1997, p. 2) que identifica sete estágios no processo.
as forças do mercado e o atual ambiente econômico. As bibliotecas ain-
da são tidas por alguns leigos como uma herança, portanto, é importante 1 Mandato
que os bibliotecários justifiquem a sua existência na sociedade moderna. 2 Missão
Se levarem a sério o futuro dos seus serviços e o planejarem, estarão 3 Análise do ambiente externo
permitindo que novas tendências se estabeleçam novos serviços sejam 4 Análise do ambiente interno
criados, novas oportunidades surjam. 5 Questões estratégicas
6 Obstáculos
As bibliotecas não são imutáveis nem independentes do resto do 7 Propostas estratégicas
mundo; o ambiente da biblioteca muda e é melhor lidar com algo que
já havia sido planejado do que com uma situação súbita e inesperada. A identificação dos mandatos organizacionais é a descrição do
O administrador da biblioteca deve planejar, por exemplo, a automação que a Unidade de Informação deveria fazer em conformidade com as
e estar preparado para o seu advento, ao invés de permitir que num obrigações institucionais estabelecidas nos documentos que a for-
,I determinado dia seu pessoal se depare com uma nova máquina que malizam: estatutos e regimentos etc.
não saiba operar. O estabelecimento da missão é fundamental pois determina o pro-
Podemos considerar Planejamento Estratégico como a utilização efi- pósito da organização e a sua razão de existir. Significa um ponto
caz dos meios disponfveis na organização para exploração de condi- focal em torno do qual todos os participantes assentarão o esforço
ções favoráveis existentes no meio-ambiente externo e interno de planejamento. Como a biblioteca pertence a uma organização
(BARBALHO, 1995, p.24). maior, o estabelecimento de sua missão necessariamente deverá estar
intimamente sintonizado com a missão dessa organização.

60 61
A missão não deve ser formulada sobre os serviços e produtos que
uma organização oferece. Podendo alé citá-los a missão deve, po-
° conhecimento do ambiente onde atua a biblioteca é essencial para
a compreensão dos cenários em que ela está inserida. Constitui a
rem, definir-se pela necessidade ambiental que a organização precisa terceira fase do Planejamento Estratégico. Esta análise permitirá ex-
satisfazer (GURGEL, 199?). plorar melhor as oportunidades e neutralizar as ameaças que, de al-
guma maneira, poderão trazer algum impacto negativo para a unidade
A redação de um documento que estabeleça a missão sumarizando
de informação (BARBALHO, 1995, p.35).
os valores-chave dos serviços prestados, ajudará a clarear a posição
da biblioteca em seu ambiente e servirá de base para a comissão A análise do ambiente externo ou macroambiente implica no conheci-
encarregada do planejamento estratégico refletir sobre as possfveis mento e monitoramento das potencialidades, tendências e forças do
estratégias para o alcance desses valores. mercado no qual a biblioteca está inserida, identificando as oportuni-
dades e ameaças com as quais ela poderá vir a se defrontar.
Abaixo, exemplos de missão garimpados em textos sobre o tema
encontrados em Johnson (1997, p. 3); Barbalho (1995, p. 34) e Costin As oportunidades são as forças externas que favorecem e interagem
(1995, p. 57). positivamente com a unidade de informação. Seu conhecimento pré-
vio permite a canalização de recursos e de esforços em proveito da
Instiluição: Cambridgeshire Library and Inlormation Services
biblioteca (BARBALHO, 1995, p. 35).
Tipo: Biblioteca Pública
Prestar serviços bibliotecários e de inlormação para o povo Exemplos:
de Cambridgeshire de forma a melhorar sua qualidade de • facilidades no acesso a bases de dados em diversas áreas do conhe-
vida e oferecer oportunidades para o desenvolvimento pes-
cimento (CO-ROM ou remoto) agilizando os serviços bibliotecários;
soal, comunitário e econômico.
• ampliação do serviço de comutação bibliográfica utilizando os re-
Instituição: Biblioteca Pública Alzira Brandão cursos proporcionados pela Internet;
Tipo: Biblioteca Pública • investimentos do governo em programas educativos que incluem a
Suprir as necessidades de conhecimento da população do criação e o apoio aos serviços de leitura e informação prestados
município através da implantação de projetos de educação, por bibliotecas.
lazer e cultura, de maneira a contribuir, diretamente para o
aumento do bem-estar do indivíduo e, indiretamente, para a As ameaças são forças externas que podem ser consideradas lesi-
melhoria da qualidade de vida da comunidade. vas à biblioteca, impedindo o seu crescimento ou manutenção. As
ameaças têm que ser diagnosticadas antes que se avance o proces-
Instituição: Centro de Ciências da Saúde
so de planejamento podendo ser conhecidas através da análise das
Tipo: Biblioteca Universitária
tendências econômicas, polrticas e sociais identificadas no contexto.
Consolidar o conhecimento dos alunos, professores, funcio-
nários e comunidade interessada na área das ciências da Exemplos:
saúde, buscando contribuir para a melhoria da qualidade
dos serviços de saúde, melhoria do ensino e melhoria do • surgimento de serviços paralelos de informação, independentes da
atendimento a projetos de extensão desenvolvidos pela uni· biblioteca, ocupando o seu espaço profissional;
versidade. Contribuir para a formação de novos cenários na • falta de recursos financeiros de apoio à biblioteca;
área de saúde, como um instrumento de ação informacional. • entraves para a contratação de pessoal;
Instiluição: Sistema de Bibliotecas da UFPR • modificações estruturais na organização em que a biblioteca está
Tipo: Bibliotecas Universitárias inserida, implicando na fusão desta com outro órgão;
• falta de uma política de alfabetização para a região, que inclua os
Atuar como mediador entre a informação e a comunidade
serviços bibliotecários como alicerce.
em geral, nos aspectos cultural, educacional, cienHfico e
tecnológico. contribuindo para o processo de transformação Interessante notar que um mesmo fator pode, dependendo do con-
da sociedade. texto, ser encarado como uma oportunidade ou ameaça. °
acesso

62 63
on-line a obras de referência, por exemplo, pode ser uma fanlástica Exemplos:
oporlunidade, dependendo do domlnio que os profissionais tenham • de que forma, com que produtos e serviços, a biblioteca entrará no
de sua exploração e, também, uma ameaça, quando est~s as Igno- circuito de um novo curso criado pela faculdade?
ram e não se dispõem a enfrentar os desafios de uma reciclagem. • como a biblioteca participará do programa de alfabetização de adul-
A análise ambiental no plano interno (pontos fortes e ponto~ fra- tos assumido pela Escola?
cos) consiste numa avaliação minuciosa do desempenho da propna • como reciclar os funcionários face o programa de automação a ser
biblioteca, observando - se os fatores que contribu~m positivamente implantado?
para o alcance da sua eficácia e os entraves que a Impedem. Segun- • como utilizar a comutação bibliográfica para suprir a ausência de
do Stevenson (apud GURGEL, 199?, p.13) esta análise deve ser feita tttulos de periódicos na coleção?
observando-se cinco áreas de atributos: organização; recursos huma- O conhecimento dos obstáculos implica na identificação das barrei-
nos; marketing; tecnologia; finanças. ras que se poderão contrapor às questões levantadas na etapa ante-
A determinação dos pontos fracos segundo Barbalho (1995, p. 38), rior. Deverão ser levantados todos os posslveis obstáculos para cada
implica no reconhecimento das atividades que apresentam falhas questão estratégica.
estruturais e constantes reclamações por parte dos usuános. Exemplos:
Exemplos: • falta de integração entre a cúpula administrativa da organização e
• ausência de critérios, normas e padrões para os serviços executa- a biblioteca;
• reação negativa das equipes de trabalho às necessárias mudan-
dos e oferecidos:
ças e inovações;
• desatualização das coleções;
• falta de atualização tecnológica dos equipamentos; • instabilidade financeira da instituição.
• espaço físico insuficiente e inadequado; . •. A última etapa do processo estabelece as propostas estratégicas.
• pessoal desmotivado e despreparado para lidar com as necessan- Estas devem estar de acordo com a filosofia e as polfticas adotadas
as mudanças; pela biblioteca, além de ·ter, como eixo central, as questões estraté-
• ausência de um serviço de referência etc. gicas para as quais foram elaboradas.
Pontos fortes são detectados através do conhecimento das ativida- O desenvolvimento das propostas estratégicas deve seguir os se-
des que a biblioteca melhor realiza e pelo reconhecimento dos supor- guintes passos:
tes de todas as ordens que os viabilizam:
• definir alternativas de ação;
• adequação do espaço ffsico da biblioteca; • identificar as ações necessárias para a sua implementação;
• coleções atualizadas e de alta qualidade; • determinar prazos e responsáveis pelas ações a serem executadas.
• acesso a bases de dados através de CD-ROM ou remoto;
• profissionais bibliotecários capacitados e abertos a inovações; Identificadas as propostas estratégicas a biblioteca irá definir os obje-
tivos estratégicos para a unidade, o que implica na elaboração de um
• participação em redes e sistemas cooperativos nacionais e inter- projeto para cada proposta.
nacionais.
Esta última fase do processo de Planejamento Estratégico constitui o
A quinta etapa do processo de Planejamento Estratégico inclui a de- chamado plano tático da organização. Segundo Gurgel (199?, p. 4)
finição das questões estratégicas, que representam um elo entr~ a~ tende a não ser eficaz e efetivo o planejamento estratégico sem plano
análises realizadas anteriormente e os objetivos almejados pela bibli- tático e vice-versa, o plano tático sem planejamento estratégico. No
oteca, o papel que ela deverá representar no futuro. primeiro caso, as formulações ficam sem ações definidas, no segun-
do caso, as ações ficam sem um foco orientador, sem uma referência
finalfstica.

65
64
São inúmeras as experiências envolvendo a metodologia de pla~eja­
mento estratégico em bibliotecas, mormente no exterior. No Br~sll, .no
MODELAGEM DA
contexto das bibliotecas universitárias conhecemos as expenenclas
da Universidade Federal do Paraná (COSTIN et aI., 1995) e da Univer-
ORGANIZACÁO ~

sidade Federal Fluminense(199B). ambas enfocando o sistema de


bibliotecas que lhes servem de suporte. A configuração, ou seja, o desdobramento da estrutura
de uma biblioteca em divisões ou departamentos, se-
ções e setores, sUrge em decorrência da necessária
organização do trabalho dentro de suas dependências,
tendo em vista a qualidade dos serviços prestados, a satisfação da
clientela externa e interna e o mlnimo de custos.
Existern diferentes critérios para se criar departamentos ou divisões,
Ramos Simon (1996, p. 522) aponta alguns:
o departamentalização por funções: quando as tarefas são separa-
das segundo os principais tipos de atividades ( produção, rnarketing,
comunicação, documentação, pessoal, finanças etc.). Em bibliote-
cas este tipo de configuração seria encontrado nas organizações
nucleadas em divisões, tais como: seleção e aquisição de docu-
mentos, análise documental, referência e divulgação, circulação,
comutação etc. (Organograma 4);
o departamentalização por territórios: quando é necessária a divi-
são geográfica da própria organização (em diferentes estados, em
diferentes cidades, em dilerentes bairros etc.). Pode ocorrer esta
configuração com as redes de bibliotecas ou sistemas dispersos
territorialmente;
o departamentalização por produtos: quando as empresas fabricam
e oferecem muitos produtos necessitando diferentes departamen-
tos para cada um deles. Em bibliotecas seria: seção de livros, pe-
riódicos, levantamentos documentais, relatórios de pesquisas ,
audio-visuais, pesquisa on-line etc. (Organograma 6);
o departamentalização por processos: seria a divisão do processo
continuo de trabalho em várias fases, de cada uma das quais se
encarregando um departamento. Em bibliotecas seriam os setores
de: gerência de coleções, processamento técnico, referência e cir-
culação, busca bibliográfica etc.
o departamentalização por clientes: é o caso das empresas que es-
tabelecem a sua organização em função dos diferentes grupos de
clientes. Nas bibliotecas, principalmente as públicas, seriam as
seções infanto-juvenis, estudantis, público em geral, deficientes
visuais (braille e livro sonoro) etc., onde segmentar a clientela pode
representar maior qualidade no atendimento (Organograma 3).

66 67
Na prática, a maior parte das orga.nizações .utilizam uma Embora sejam inúmeros os gráficos de organização, empregados por
departamentalização combinad.a, o~ mista ~proveltando total ou gerentes de sistemas, o presente trabalho se restringe aos mais utili-
parcialmente as formas de organlzaçao mencionadas aCima (Orga- zados na área de Biblioteconomia: organogramas, funcionogramas e
nograma 5 e 6). fluxogramas. Alguns autores denominam, aos dois primeiros, gráfi-
cos de organização, enquanto o último é chamado gráfico de fluxo ou
Para a escolha da configuração mais adequada Stewart (1980, p. 52) processo. A representação horizontal da estrutura, ilustrando uma nova
aponta alguns critérios determinantes: forma de organização do trabalho em bibliotecas, é também abordada
• necessidade de conhecimento especializado para o exerclcio nesta seção.
das atividades ali agrupadas; • É importante assinalar que os gráficos não representam camisas de
• facilidade na coordenação das atividades. E bom lembrar que o força, representações cristalizadas da estrutura e seu funcionamento.
agrupamento por funções pode Isolar os profissionais, dificultando Por todas as razões mencionadas e não mencionadas neste trabalho,
a necessária interação entre eles; as organizações transbordam dos esquemas; o que dizer então dos
• custos: observar a eficiência no alcance dos objetivos do grupo, o gráficos? Mas, para sua visualização, para a compreensão primária
que inclui, o menor dispêndio de recursos; . . de seus mecanismos internos de funcionamento, os gráficos têm sua
• minimizar conflitos: observar a harmonia das equipes nas dife- validade.
rentes configurações propostas;
O caráter relativo e temporário desses gráficos deve ser lembrado.
Acrescentarlamos a este elenco de critérios as facilidades relativas à Sua revisão periódica, assim como de todo instrumento administrati-
informatização dos setores, pois as máquin~s s~o um ~mperativo vo, é medida imperativa de atualização. Revela o cuidado do gerente
nas bibliotecas e as possibilidades de comunlcaç~? vertical e hOri-
A em adequar-se a mudanças de contexto.
zontal que o modelo propicia, de modo a facIlitar a gerencla
participativa. O desenho da estrutura que se planeja pode ser um modo de esclarecê-
la para o próprio planejador, ensejando a definição das funções neces-
A próxima seção esclarece em detalhes as diferentes possibilidades sárias e sua reunião lógica em divisões, seções ou setores da organi-
de configuração e de organização do trabalho nas bibliotecas. zação. Permite a visibilidade da biblioteca como organização.

4.1 GRÁFICOS DE ORGANIZAÇÃO EM UNIDADES DE 4.1.1 Organogramas


INFORMAÇÃO
O organograma formal representa o plano de jogo organizacional para
Já que "uma imagem vale mais que mil palavras": os gráfi?os po- a divisão do trabalho, além de hierarquia e coordenação. Trataremos
derão ser utilizados pelo gerente de unidades de mformaçao para aqui, com maiores detalhes, do organograma hierárquico, que é o mais
representar, de maneira imediata e clara, a estrutura da organiza- conhecido e utilizado. Este gráfico recebe muitas criticas, a maioria
ção sob sua responsabilidade; seus diversos órgã~s de comando, delas referentes a sua rigidez, pois assemelham-se às estruturas
hierarquias, relações mútuas, funções, processos mternos de tra- militares. Mas, como representação de estruturas, ele sempre serve
balho etc. como base, como ponto de partida, facilitando mesmo as críticas e
A finalidade dos gráficos, de um modo geral, é informar, ~sclarecer avaliações (o leitor não deve deixar de ler a seção 4.2 que aborda as
de pronto, sobre a organização, mesmo a pessoas alheias, assim estruturas matriciais, como forma de avaliar outras possibilidades de
como permitir, a quem interessar possa, a anáh~e e ~ estud~ dos configurações).
principias de funcionamento dessa mesma organ~zaçao. p~ra ISSO, Organograma é o gráfico que represElnta a estrutura de uma institui-
eles precisam ser: simples, claros, preClsos(reals e atuahzado~), ~ãº) configurando seusdiversos6rgãos com suas posições e respec-
e padronizados (utilizar códigos ou slmbolos Já consagrados), alem tivas interdependências, '(ia hierárquica, linhas de autoridade e subor-
de, na medida do posslvel, observar a estética na sua apresentação. .dinação.

68 69
Qualquer estrutura organizacional é ?omposta, basican:en~e, por CENTRO DE
órgãos de linha e órgãos de assessona. Entende·se por orgaos de DOCUMENTAÇÃO
DIREÇÃO
linha todos aqueles que comandam e tomam decisões e, como
órgãos de assessoria, todos aqueles que orientam, esclarecem ~
prestam serviços aos órgãos de linha sem, no enta~to,_tomar decI- SECRETARIA.
sões (consultorias, assessorias, secretarias, comlssoes auxIlIa-
res etc.).
No que se refere ao desenho, algumas regras devem ser seguidas:
• os órgãos devem ser representados por retângulos, sendo reco-
mendável que a maior dimensão, seja dada ao órgão máximo de
comando (direção, presidência etc.);
• os órgãos de linha são os que compõem a via hierárquica e,
consequentemente, definem a autoridade formal e a própria estru-
tura do órgão, devendo ser ligados à linhas verticais que confIgu- Organograma 1: Organograma clássico em 3 nlveis.
ram o itinerário do comando, estabelecendo os degraus e posições,
da hierarquia estrutural; os responsáveis (gerentes, chefes etc.) Este gráfico representa uma estrutura em três nfveis: uma direção,
recebem delegação de poderes e autoridade que lhes permitem duas divisões e quatro seções. As unidades estão ligadas por linhas
tomar decisões; verticais, que determinam sistema de subordinação.
• quanto aos órgãos de apoio (assessorias), devem ser ligados à
Quando a organização tem necessidade de representar, além da
linhas horizontais, pois não possuem autoridade deliberativa ou
estrutura hierárquica, o sistema de coordenação de funções, pode-
executiva, funcionando como suplementação funcional na estrutu-
se adotar o esquema gráfico apresentado a seguir, onde aparecem
ra. Opinam mas não decidem.
as ligações funcionais (linha tracejada).
A forma clássica de traçar um organograma é através do sistema de
É interessante colocar lado a lado os órgãos cujas atividades reque-
caixa e linha, seguindo-se as recomendações já mencionadas. Ob-
rem ligações de cooperação, pois estas, mesmo não sendo repre-
serve o organograma a seguir.
sentadas graficamente, serão insinuadas através desta disposição.

DIREÇÃO

DEPTO. B DEPTO. C

Organograma 2: Organograma identificando relações funcionais.

70 71
Como vimos há pouco, várias são as configurações assumidas pe- Configurações mistas. O agrupamento das atividades reúne, na
las bibliotecas enquanto organizações. A reunião do trabalho desen- mesma o~ganização, funções congêneres e, também, produtos e
volvido em grupos de funções congêneres foi adotada no correr serviços. E utilizada em sistemas de bibliotecas que centralizam suas
deste livro, talvez, como a opção mais didática, mas não é a única e, funções-meio.
às vezes pode não ser a mais adequada.
A reunião do trabalho deve ser proposta em função da facilidade na
DIREÇÃO
éxecução do serviço, mlnimo de custos e na qualidade dos resulta-
dos oferecidos à clientela. Vejamos alguns exemplos na forma de um
organograma simples em dois ou três nlveis.
Pelo atendimento a grupos diferenciados, ou departamenta-
!lzação por clientes. Trata-se de um desenho adequado à realidade
de bibliotecas que, usualmente atendem a grupos diferenciados e
que precisam estruturar-se adequadamente, com vistas ao atendi-
mento personalizado que esses grupos requerem. Algumas bibliote-
cas públicas podem se enquadrar nessa configuração.
Organograma 5: Configurações mistas.
DIREÇÃO
Por produtos e serviços. É um tipo de configuração mista, neces-
sária quando a biblioteca estrutura-se com base em serviços presta-
dos e produtos oferecidos ao cliente. Pode adequar-se às grandes
bibliotecas centrais universitárias que, usualmente, dividem-se em
seções de livros, periódicos, teses, obras raras; serviço de referên-
cia, busca on-fina, circulação, comutação etc.
Organograma 3: Configuração por grupos diferenciados.

BIBLIOTECA
Pela especialização das funções. Esta forma foi a adotada para o de- DIREÇÃO
senvolvimento do presente trabalho pela adequação didática que apre-
senta para a análise da biblioteca enquanto organização. Mas pode apre-
sentar o inconveniente de isolar os profissionais em grupos
especializados, o que dificultaria a necessária interação entre eles. Veja-
mos:

Organograma 6: Configuração por produtos e serviços.

O organograma é uma representação gráfica abreviada. Não deve


atingir as funções porque os detalhes perturbam a visualização do
todo, o seu real objetivo. As funções devem ser incluídas num grá-
fico especializado, complementar ao organograma, conhecido como
funcionograma, que será abordado na próxima seção deste livro.
Organograma 4: Configuração por especialização de funções.

72
73
Alguns gerentes aliam o organograma ao funcionograma como forma ORGANOGRAMA FUNCIONAL OU FUNCIONOGRAMA
de esclarecer mais a fundo as atividades que se desenvolvem dentro
de cada setor. Realmente é uma forma eficiente de dar a conhecer o
órgão e suas engrenagens, pri~cipalmente a que_m está fora dele para CENTRO DE
DOCUMENTAÇÃO
avaliações da unidade, ou a vIsitantes de ocaslao. DIREÇÃO

4.1.2 Funoionogramas
É o gráfico destinado à descrição e ao posicionamento das funções, am-
pliando, desse modo, as partes setoriais de um organograma Simples.
Tem por objetivo retratar as atividades (funções) de for~a est~tica,
representando grande utilidade por ocasião de uma análise funCionai
do órgão, conseguindo evidenciar atividades duplicadas ou me~mo
negligenciadas ou, até mesmo, distribufdas sem lógica (subordina-
ções erradas etc.) (ROCHA, 1985, p. 90).
O funcionograma, também chamado de organograma funcional, per-
mite ao observador, portanto, penetrar na essência, na intimidade do SEÇÃO DE ANÁLISE DOCUMENTAL
órgão e, desse modo, possibilita a avaliação da distribuição da carga
de trabalho em suas diferentes instâncias. • Análise descritiva dos diferentes documentos
• Análise temática dos diferentes documentos
• Preenchimento de planilhas
• Organização e manutenção de catálogos de público elou arqui-
vos legíveis por máquina (bases de dados)
• Organização e manutenção dos catálogos internos para controle
e precisão dos serviços.

Organograma 7: Organograma acoplado a funcionograma da seção


de análise documental.

Em sfntese, os organogramas permitem a visualização da estrutura


em análise no seu todo permitindo a identificação das hierarquias ou
subordinações dentro de um órgão; o funcionograma age como uma
lente de aumento que, se aplicada a uma divisão, seção ou setor do
organograma em foco, possibilita a identificação das funções e ativi-
dades que ali são exercidas e que, no gráfico, aparecem enumeradas.
Já o fluxograma coloca essa estrutura em movimento. Permite o
detalhamento até o nfvel de operação de todas as tarefas cumpridas
dentro de cada "caixinha" do organograma, oferecendo, inclusive, in-
formações sobre o seu encadeamento, evolução e alternativas.

74 75
Para melhor compreensão do assunto estudado neste livro transcre- Apresentam como finalidade, colocar em evidência a seqüência de
vemos algumas definições (OLIVEIRA, 1991, p. 328) que, homogenei- um trabalho, de modo que haja uma visão clara da execução de suas
zando conceitos, possibilitam o desenho dos gráficos de organização fases, permitindo assim a análise sobre o mesmo, com o intuito de
com maior clareza: melhorá-lo, racionalizando procedimentos e recursos humanos e ma-
• função - conjunto de atividades convergentes e afins, que caracteri- teriais (ROCHA, 1985, p. 95).
zam as atribuições das unidades organizacionais e dos cargos, ser- São ferramentas básicas ao processo de gestão pela qualidade, pois
vindo, inclusive, como critério para departamentalização da empresa; contribuem de forma a otimizar os processos de trabalho e a tomada
• atividade - conjunto de tarefas necessárias à realização do traba- de decisão nas unidades de informação (BARBALHO, 1996, p. 106).
lho atribufdo às unidades organizacionais e aos cargos;
• tarefa - agrupamento de operações interligadas mediante determi- O fluxograma permite essencialmente, a indicação das tarefas e ope-
nada ordem seqüencial, tomando-se em consideração a subdivi- rações implfcitas em cada atividade. Não indica as distâncias os
são do trabalho entre os indivfduos de uma unidade organizacional; tempos e os volumes correspondentes a cada operação. '
• operação - parte indivisfvel da execução de uma tarefa, podendo Vantagens dos fluxogramas:
ser executada manualmente ou por intermédio de instrumentos,
ferramentas, máquinas etc. • Permitem verificar como funcionam todos os componentes de um
sistema, facilitando a análise da sua eficácia;
O funcionograma, em unidades de informação deve ater-se ao nfvel • facilitam a localização das deficiências apresentadas pelos servi-
de função e seu desdobramento em atividades. O excesso de ços, pela fácil visualização dos passos, transportes, operações,
detalhamento que é oferecido pelo leque de tarefas implfcitas em cada uso de formulários, planilhas etc.;
atividade deve ser evitado, pois foge ao objetivo deste gráfico. As • permitem o rápido entendimento de qualquer alleração que se pro-
tarefas e operações serão registradas no fluxograma. ponha no sistema existente;
No Organograma 7 partimos de um organograma funcional de um • é aplicável a qualquer rotina, desde a mais simples às mais com-
plexas;
Centro de Documentação com duas divisões e quatro seções. Este
gráfico inclui o funcionograma da Seção de Análise Documental. Ob- • permitem a compatibilização de programas de automação, desde
serve-se que detalhes inerentes às atividades mencionadas, tais como que traçados em conjunto pelas instituições participantes;
o preenchimento e correção de planilhas, não figuram neste gráfico • são úteis para treinamento de pessoal recém-admitido na organiza-
ção;
mas aparecerão, com certeza, no fluxograma.
• facilitam o desenho do lay-out, do espaço ffsico onde se desenvol-
vem as atividades que descrevem.
4.1.3 Fluxogramas Se a presente proposta de trabalho gira em torno das bibliotecas como
São gráficos que procuram representar, de maneira dinâmica e analí- organizações, os fluxogramas são recursos inestimáveis para a mi-
nuciosa "arrumação da casa".
tica, a seqüência lógica das fases, etapas ou passos de um trabalho
desenvolvidos dentro de uma organização, por meio de determinada Aplicados aos sistemas de informação, os fluxogramas apresentam a
simbologia. vantagem de facilitar sobremaneira a implantação de sua mecaniza-
Considera-se o primeiro passo para a implantação da gestão de qua- ção, pois "troca-em-miúdos", detalha ao máximo as rotinas de cada
lidade nas bibliotecas, a identificação de processos/atividades implf- função cumprida, o que facilita o diálogo com o analista de sistemas
citas à sua estrutura, além da definição da maneira melhor e mais pois, este passa a ter conhecimento a fundo de cada rotina antes d~
traçar o desenho de um programa.
correta de executá-los (BELUZZO; MACEDO, 1993, p. 124). Os fluxo-
gramas facilitam, mais que qualquer outro instrumento, essa identifi- Quando as máquinas são recrutadas para auxiliar os serviços de in-
cação e definição. formação, é imprescindfvel que nós lhes informemos sobre os meno-
res detalhes de todas as operações que elas realizarão.

76 77
/,

As máquinas não retrucarão, nem terão problemas emocio- ALGUNS SíMBOLOS UTILIZADOS PARA O
nais mas tudo terá que lhes ser dito antecipadamente - quer
dizer, terão que ser programadas para enfrentar todas as DESENHO DOS FLUXOGRAMAS
siluações possfveis. Farão exatamente o que lhes for dito -
nem mais, nem menos (SIMPSON, 1975, p. 215).

('---~)
O estabelecimento de fluxos de trabalho contendo etapas mfnimas, que
INIcIO/FIM
permitam o cumprimento de objetivos da Instituição, bem como possibi-
O ponto de infcio oU término de um fluxo
litem a compatibilização com outros sistemas de informação é um dos
itens das diretrizes para oS profissionais da área no delineamento de
seus programas de automação (PASQUARELLI et aI., 1991, p.479).
Como a mecanização das bibliotecas é o imperativo atual é de funda-
mentai importância que o bibliotecário saiba traçar, com segurança,

o
os fluxos dos serviços que administra. CONEXÃO
Uma entrada ou uma saída para uma outra
parte do fluxo

PROCESSAMENTO
Um grupo de instruções que executam uma
função de processamento do programa

DECISÃO
Alternativas no fluxo para situações variáveis

PROCESSAMENTO PRÉ-DEFINIDO
Um grupo de operações anteriores e não in-
clufdas no fluxo

78 79
00
O
FLUXOGRAMA DE SELEÇÃO
DE DOCUMENTOS

Estabelecimen-

Organização .dos
instrumentos de
seleção

Colocar instruM
mentos à
disposição do
usuário

Incluir suges-
tões da própria
biblioteca
• •
Recolher e
sistematizar as
sugestões
recebidas.
I
.-
Avaliar cada
t

ítem sugerido

O ítem se
ajusta aos ) não ~
critérios

sim
T
Verificar existência
do item sugerido
nos catálogos /

.
terminais

Eliminar
Existe? sim~
o número de
exemplares é
suficiente?
sim-+ a
sugestão
(Fim)
não

Determinar o
número de exem- Elaborar listagens ~ Enviar lista~e_ns para I •I
plares necessários aqulslçao

00
~
-~----~ ------------

'"'" Início
FLUXOGRAMA ACOPLADO DE
SELEÇÃO E AQUISiÇÃO
Definir critérios Determinar número
de seleção e de exemplares
necessários

Organizar e dispo-
nibilizar catálogos Verificar
de livrarias Contratar
e editoras- fornecedores recursos
financeiros
"1
Colocá-los à
disposição dos
usuários
Elaborar listagens

~
consoante
fornecedor

Disponibilizar
Internet ~
Formar proces-
... sos consoante
cada listagem
Recolher Inserir

~
sugestões do sugestões da
usuário biblioteca
Receber
faturas e
conferir

t
Receber e
conferir doc.
solicitados

~-
Verificar se cada Executar
item sugerido se notas de
ajusta aos critérios empenho

1
Proceder ao
É adequado? ">>----~ não ~ pagamento

...
som ...
Enviar
.
Arquivar
Verificar nos
documento comprovantes
catálogos e
para registro da aquisição
terminais se o item
existe no acervo
't
,. ..Y

Eliminara
Existe? sim w sim
sugestão

não não
~. T

'"
ú> 8
-~~- --"-- -- ~--, ~-----~- --'-~-" -~-------------

ex>
..". ( Início)
FLUXOGRAMA DE PROCESSAMENTO
TÉCNICO DE LIVROS

Recebe o docu-
mento de aquisi
ção (registro)

Verifica a existêncla
dedocumenlosnos
catálogos terminais
i

Existe?
-es G

Consultar
códigos e
tabelas

\----+

Decide entradas
e dados
essenciaIs

t
Elabora ficha
rascunho

~
Consultar cat
cabo de assunto
rrerminologia)

E~~S~
termo?

----'L""
Consultar
listas,
tesauros etc. ,

~
;;;;
-.-:t.
~

Consultar
ex> especialista
cn
CXl

'" FLUXOGRAMA DO SERViÇO


DE REFERÊNCIA

Usuário solicita
informação

Bibliotecário Consulta
N -... I recursos
Reformula a
reconhece o
necessários pergunta
assunto

Assunto coberto
Consulta: Internet,
N ...... 1 catálog~ coletivo,
Fornece indica-
"'d?~~.. .. ~
CFIM
)
pl biblioteca? gUiada InstltUlçoese T
institulcões._ sites

(,) s

Bibliotecário
seleciona termos pl
busca nos catálogos
e terminais

Os termos Seleciona
figuram c. N -+ I sinônimos e
cabeçalhOs? termos relativos

Levantamento
dos itens
pertinentes

I
s

Localização (no
acervo e em
cp
bibliotecas virtuais) No

I
s ,
Orienta quanto à Usuário
utilização dos satisfeito?
) s ------+'
CXl documentos
--J
4.2 NOVOS MODElOS DE ORGANIZAÇÃO DIRETORIA
Novos modelos de organização são propostos quando o compromis-
Grupo Gestor
so da organização está centrado no cliente. Argumentam os especia- ~

listas que a estrutura clássica, espelhada no organograma em linha,


verlicalizado, não favorece o fluxo da informação com a qualidade e a ,L ,L --L .l- I
dinâmica necessárias (a comunicação faz-se de cima para baixo). I Pr1
Surgem então novas propostas de modelos, com vistas a propiciar
I Pr2 •I
maior dinâmica interna às Instituições, maior interação com o ambi- .
ente externo, maior integração e compromisso das equipes e maior I Pr3 :• II
qualidade nos resultados. As estruturas propondo processos horizon-
tais de atuação visam compatibilizar-se com os novos paradigmas de
I Pr4
l Pr5 •I
gestão contemporânea buscando a eficácia das organizações. J
Para o desenvolvimento deste caprtulo tomou-se como base a expe- A B D
,
:Plú!)'Mlas:
riência desenvolvida pela Biblioteca da Faculdade de Saúde Pública : proj9tos :
da USP, por ser a primeira de que se tem notfcia no Brasil e por
~ '--- '--- ...... -

direcionar-se exatamente a bibliotecas, o nosso eixo central de inte-


resse.
A diferença do atual modelo proposto, dos tradicionais, reside no fato
O modelo de integração estrutural apresentado pelo trabalho citado de as equipes de trabalho estarem organizadas segundo a visão de
propõe uma arquitetura organizacional calcada nas seguintes carac- integração dos processos produtivos, que são concretizados através
terlsticas: de ações propostas pelos diferentes programas e projetos assumidos
pela organização. O trabalho não fica restrito a uma caixa, a um setor
• identificação das principais funções da biblioteca, reduzindo ao
máximo a verticalização da estrutura. Dentre as funções seriam fechado da organização mas, passa horizontalmente, por todos eles,
distinguidas as funções técnicas (desenvolvimento de coleções, à medida de suas necessidades de execução, à medida em que per-
seguem os seus objetivos.
processamento da informação e bases de dados, acesso à infor-
mação, publicação e marketing), que teriam o papel principal de A flexibilidade e a dinâmica deste modelo são evidentes, a sua práti-
orientar as equipes, sendo responsáveis pela preservação das com- ca, no entanto é muito restrita, cremos nós, pelas dificuldades relati-
petências, e, as funções de Infra·estrutura, responsáveis por vas às adaptações necessárias - tanto ffsicas quanto funcionais -,
aglutinar, em um único ponto, as ações dispersas em outras áreas e, também pela conhecida resistência a mudanças, por parte do
permitindo um gerenciamento mais eficaz; , pessoal envolvido.
• utilização do modelo matricial representado por programas e proje-
Andrade e outros (1998, p. 315) aponta como beneffcios do modelo
tos multidisciplinares propostos pela instituição, abrindo, inclusive, a
horizontal:
possibilidade de participação externa em seu desenvolvimento;
• instituição, em nlvel colegiado, de um grupo gestor, com o papel • maior controle e comprometimento com os resultados;
de assessoramento à direção, no sentido de assegurar a unidade • maior Integração das atividades, à medida em que a estruturação
administrativa da biblioteca, evitar a sua fragmentação, propor po- ocorre mediante os processos de trabalho;
Ilticas de atuação, objetivos e metas, sempre orientados pela mis- • motivação para que a organização se volte mais para os usuários,
são da instituição. resultados e ambiente externo;
• facilidades na gestão em virtude de maior delegação de autorida-
de, autonomia das equipes e melhoria da comunicação interna;

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• preservação do conhecimento técnico das equipes;
• aproximação topo-base pela ligação direta das unidades operativas REFERÊNCIAS
à direção;
• valorização, crescimento, reconhecimento e realização pessoal e
profissional em virtude da participação das equipes nos processos
decisórios;
• comunicação transparente e sistemática, facilitada pelo aumento ANDRADE, Diva;VERGUEIRO, Valdomiro. Aquisição de materiais de
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1:

A turbulência dos contextos está a exigir dos


profissionais bibliotecários posturas, até pouco tempo,
reservadas aos gerentes de empresas.
O reconhecimento do mercado a ser servido, a defini-
ção correta da missão e dos objetivos, a compatibilização
de produtos e serviços oferecidos, a abertura a avaliações
são exigências para a sobrevivência das instituições. Desta
forma, o estudo dos processos de trabalho em uma
organização é fundamental para a melhoria da gestão
interna e automação de serviços.
Este livro, como um facilitador destes processos,
apresenta um painel minucioso da biblioteca, partindo da !

análise de totlas as funções desempenhadas, desde a


seleção, passando pelas técnicas, até a referência.
Essas funções são identificadas e analisadas sob o
ponto de vista do gerente - as tomadas de decisão -
como uma forma de' permitir o seu reconhecimento e
compatibilização dentro da estrutura que as abriga - a
biblioteca - abrindo espaço para uma maior integração
desta à instituição mantenedora.
As funções gerenciais são estudadas a partir da visão
clássica da administração em virtude das possibilidades
didáticas de estudo, incluindo algumas abordagens
contemporâneas.

ISBN 85·7193·038·4

11I111111111111111111111111111
9 788571 930384

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