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Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2021
3
Sumário
Lista de gráficos 5
Lista de figuras 6
Lista de siglas 7
Lista de abreviaturas 8
Declaração 9
Epigrafia 10
Dedicatória 11
Agradecimentos 12
Resumo 13
Introdução 12
1.1.Quadro conceitual 15
1.2.Deslocados 15
1.3.Percursos migratórios 15
1.4.Integração social 15
1.4.1.Reintegração social 16
1.5.Centro de Reassentamentos 17
1.5.1.Centro de Acolhimento 17
1.6.1.Al-Shabaab 18
3.1. Os percursos migratórios dos deslocados de guerra acolhidos nos centros de acolhimento de
Nacaca. 36
3.2. As histórias de vida dos deslocados de guerra nos centros de acolhimentos de Nacaca. 44
Conclusão 52
Referência bibliográfica 54
Apêndices 51
Anexos 54
5
Lista de gráficos
Lista de figuras
Lista de siglas
Lista de abreviaturas
Declaração
Declaro pela minha honra que este trabalho é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão
devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda, que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.
Montepuez / /2021
10
Epigrafia
Dedicatória
“Aos meus pais, Valentim Lahia e Arira Adriano. E meus irmãos Diamantino Valentim Lahia,
Gildo Valentim Lahia, Altino Valentim Lahia e Alzira Valentim Lahia”.
13
Agradecimentos
Agradeço a Deus todo o poderoso pela vida, bênçãos e saúde que sempre me
proporcionou. Aos meus familiares, em especial ao meu pai Valentim Lahia e minha mãe
pelos cuidados que têm prestado.
Ao meu supervisor Zacarias Chambe, PhD. Pelas sábias orientações e pelo esforço e
paciência ao longo da elaboração deste trabalho.
Aos meus amigos Amina Fernando Aiuba, Amida Ibraimo, José Victor Nampassa,
Josias Marques Raúl, Aboo Amade, Ambari Alves Mário, Romão Júlio e a todos os amigos e
colegas em especial ao John Sabico que direita ou indirectamente contribuíram para que eu
me formasse e ajudarem para a realização da presente monografia.
14
Resumo
Introdução
Segundo o plano de resposta rápida a província de Cabo Delgado é lar de mais de 2,2
milhões de pessoas foi atingido por uma onda de violência desde Outubro de 2017, que
registou uma escalada significativa desde Janeiro 2020. Foram registados mais de 300
violentos dos quais 71 foram comunicados entre Janeiro e Março de 2020, incluindo ataques a
aldeias por actores armados não estatais e confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e
grupos armados. Estes conflitos impuseram um deslocamento forçado de um grande número
das populações que residiam nas regiões do extremo norte da província de Cabo Delgado. Em
Montepuez, um Distrito do extremo sul da província, considerada ainda como uma região
segura, por não ter sido registado nenhum ataque até ao momento, foi instalado um Centro de
Acolhimento dos deslocados de guerra, dentre vários que têm surgido na região norte do país.
Nestes vários centros, continuam a chegar milhares de pessoas, entre homens, mulheres,
jovens, adultos e crianças que abandonaram suas casas, machambas e outros tipos de bens,
para se refugiarem em locais que consideram seguros. A presente pesquisa, elaborada no
âmbito de conclusão do Curso de Licenciatura em Ensino de História, na Universidade
Rovuma, Extensão de Cabo Delgado, província onde os referidos conflitos ocorrem, Tem
como objectivo geral: analisar como tem sido as experiências de vida dos deslocados nos
centros de acolhimento de Nacaca-Montepuez; para operacionalizar o objectivo geral, foram
formulados os objectivos específicos: Mapear os percursos migratórios dos deslocados de
guerra acolhidos nos centros de acolhimento de Nacaca; Descrever as histórias de vida dos
deslocados de guerra nos centros de acolhimentos de Nacaca; Explicar as vivências e as
formas de integração dos deslocados de guerra na comunidade de Nacaca.
A escolha dessa temática de pesquisa, surge depois de ter lido diferentes relatórios,
artigos da amnistia internacional, (2021) sobre “Crimes de guerra no “cabo esquecido” de
Moçambique”; do Centro de Integridade Pública (CIP, 2020) “Número de deslocados internos
em Moçambique”; e Macalane, et al. (2021) “Ataques Terroristas em Cabo Delgado (2017-
2020): as causas do fenómeno pela boca da população de Mocímboa da Praia. ”Notei que,
13
embora os autores estejam interessados com as causas e autores desta guerra, pouco falam
acerca dos processos migratórios e as vivencias e experiências de vida e a integração social
dos deslocados que esta guerra tem criado desde o seu início em 2017. Por outro lado, como
autora e também residente no Distrito de Montepuez, estar a observar um crescente nível de
insegurança em todas regiões da província. Outrossim, tem-se verificado no Distrito de
Montepuez grandes enchentes os parques de transportes, de pessoas que chegam das regiões
em conflito no extremo norte da província com sinais de fome, insegurança, aflição, sem lugar
para passar a noite ou se abrigar, crianças órfãs e outras que desconhecem o paradeiro dos
pais.
A escolha dos anos de 2020-2021, deve-se ao facto de serem anos que mais se registou
ataques dos insurgentes na zona norte na província, e registaram-se grandes migrações
internas de pessoas e bens a procura de locais seguros, e notabilizou-se abertura de vários
centros de acolhimento. Apenas no Distrito de Montepuez, foram criados quatro (4),
nomeadamente: Mirate, Nacaca, Mapupulo (Ntele, Maçasse, Markoni).Com a realização deste
estudo poderá ajudar a perceber quais são os sentimentos as experiências de vida e como
vivem os deslocados nos centros de acolhimentos, isso poderá permitir identificar o tipo de
ajuda que representa prioridade para sua integração social neste novo habitat, poderá permitir
conhecer e mostrar a realidade dos centros de acolhimentos.
Segundo Amnistia Internacional (2021, p. 05), “Cabo delgado após sofrer décadas de
sub-investimento, negligência governamental e pobreza esmagadora, a província de Cabo
Delgado, a mais pobre de Moçambique, é agora palco de uma violenta insurgência, que já
ceifou milhares de vidas e deixou vilas e aldeias em ruínas”. Os combates intensificaram-se
desde que um grupo armado conhecido localmente como “Al-Shabaab” (sem ligações ao Al-
Shabaab da Somália) atacou a vila portuária de Mocímboa da Praia, no norte do país, em
Outubro de 2017, causando destruição generalizada, deslocados em massa e morte, além de
condições humanitárias insuportáveis para os que foram forçados a fugir.
Sendo assim, segundo Macalane, e tal (2021, p. 18) desde Outubro de 2017 a 2020, a
província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, tem vindo a sofrer ataques terroristas
dos ”AlShabaab”. Os ataques iniciaram no distrito de Mocímboa da Praia e expandiram-se
para outros distritos, nomeadamente: Macomia, Quissanga, Ibo, Muidumbe, Nangade, Palma
e Meluco. As consequências deste fenómeno são multidimensionais, partindo da destruição de
residências particulares e edifícios de entidades públicas e privadas; paralisação dos serviços
14
A partir desta questão foram formuladas duas hipóteses: H1: As experiências dos
deslocados nos centros de acolhimento não têm sido das melhores, provavelmente porque o
apoio recebido pelo governo e organizações humanitárias, não os permitem recomeçar suas
vidas com dignidade; H2: A integração dos deslocados nos bairros onde fixam residências
definitivas na cidade de Montepuez, presumivelmente tem sido marcada por desconfianças
entre os estabelecidos, sob suspeita de integrarem elementos dos grupos terroristas.
1.2. Deslocados
Na visão de Castles; Miller, (1998, p. 48). “Os percursos migratórios têm sido parte
inerente da existência humana desde os seus primórdios, e representam uma das principais
formas de sobrevivência e adaptação dos seres humanos”. Desastres naturais, factores
económicos, crescimento demográfico e conflitos são razões, que, ao longo da história,
impulsionaram a movimentação de pessoas. A miríade de etnias, culturas e línguas ao redor
do globo é resultante desses percursos migratórios, os quais também correspondem a
elemento estrutural de importantes eventos da história, como o colonialismo, a
industrialização, e principalmente, a formação dos Estados nacionais.
16
Segundo Giddens, (1995) “A palavra integração é muitas vezes utilizada como sinónimo de
coesão, unidade, equilíbrio, ajustamento e harmonia. Mas não é sinónimo de homogeneidade
na sociedade e na cultura, já que a diferenciação é uma qualidade essencial das relações
sociais”. Durkheim, (1975) discute o conceito de integração social em três sentidos:
Seguindo esta linha de pensamento importa referir que a dimensão na qual este trabalho
pretende analisar é a primeira dimensão, a medida em que um indivíduo sente-se envolvido
num determinado grupo de pessoas ligadas através das suas crenças, valores e harmonia.
Pressupõe-se que centros de acolhimentos são espaços destinados a abrigar indivíduos que
de forma coerciva foram obrigados abandonar as suas origens, devido a diversos fenómenos
como: guerra, inundações, cheias, e ciclones de modo a garantir amparo destes. Com
objectivo de garantir o acesso aos serviços básicos fundamentais.
Na óptica da Amnistia Internacional, (2021, p. 08), quarenta e cinco anos após conquistar
a independência de Portugal, em 1975, sucessivos governos moçambicanos não conseguiram
estabelecer uma administração eficaz em Cabo Delgado. A província mais setentrional de
Moçambique, situada a 2 500 km da capital, Cabo Delgado, está perto do fundo da tabela das
províncias para quase todos os indicadores, nomeadamente oportunidades económicas, má
nutrição, educação e acesso à água potável, electricidade e saneamento. Em 2015, a taxa de
pobreza em Cabo Delgado ultrapassava os 50 por cento.
Antes de o grupo armado conhecido como Al-Shabaab iniciar os seus
ataques, em Outubro de 2017, Cabo Delgado distinguia-se
principalmente pelos seus recursos naturais: foram descobertos rubis
em Montepuez, em 2009, e gás natural perto de Palma, em 2010.O
facto de apenas uma parcela ínfima das receitas geradas por estas
indústrias extractivas – operadas na sua maioria por corporações
internacionais tais como a Gemfields do Reino Unido, a Total da
França e a Eni da Itália – ficar em Cabo Delgado contribuiu para criar
18
1.6.1. Al-Shabaab
Além disso, o ISIS tem estabelecido alianças com outros grupos terroristas, se
responsabilizando por ataques em diversos países, enquanto recrutam e radicalizam com
sucesso combatentes do mundo todo, graças a propagação de sua agenda e seus actos nas
mídias sociais, enquanto introduz no oriente médio um novo nível de extremismo e
brutalidade, com efeitos desestabilizadores, tanto para atores estatais quanto para atores não-
estatais.
Para que se seja possível entender como o ISIS opera actualmente, neste capítulo será
feita uma análise do seu histórico. Como o ISIS realmente surgiu? Quais são suas raízes e
quais eram/são os objectivos de seus fundadores e actuais líderes? Quais são os métodos que
utilizam para alcançar tais objectivos.
1
O califado (do árabe خالفة, transliterado khilāfa) é a forma islâmica monárquica de governo. Representa a
unidade e liderança política do mundo islâmico. A posição de seu chefe de Estado, o califa, baseia-se na noção
de um sucessor à autoridade política do profeta islâmico Maomé.
21
Em 2013, o grupo passa por outra mudança, desta vez para al-Dawla al-Islamiya fil-Ira
wal-Sham ou Estado Islâmico do Iraque e da Síria 10, isso devido a expansão do grupo para o
território sírio. Após a sua fusão com uma parte do Jabhat al Nusra, um grupo jihadista 11 sírio
afiliado à Al Qaeda, a organização mudou novamente de nome, passando a se chamar de
Estado Islâmico do Iraque e do Levante (al Sham), sendo muitas vezes referenciado como
ISIL ou ISIS (Napoleoni, 2014).
A última mudança de nome, até o momento, aconteceu em junho de 2014, depois de
várias vitórias do grupo, e sua expansão pelas fronteiras do Iraque e da Síria. No primeiro dia
do Ramadã, o ISIS declara a criação do califado, passando a se chamar apenas Estado
Islâmico. Cada termo corresponde a uma fase da organização e aos grandes desenvolvimentos
e mudanças importantes no decorrer de sua história (Alexander, 2015).
Embora o ISIS tenha chamado mais atenção nos últimos anos, as origens desse grupo
podem ser traçadas desde o final dos anos 1990, no Afeganistão. Seu fundador foi Abu Musab
al-Zarqawi, nascido em 1966 na Jordânia, conhecido por ser uma figura fria e radical. Na sua
juventude foi bastante problemático, largou a escola, se envolveu em diversos crimes, até ser
preso por abuso de drogas e assédio sexual. Ainda preso na Jordânia, foi exposto ao
Salafismo13, em 1989 parte para o Afeganistão com o objectivo de participar da jihad contra
22
os Soviéticos, onde alegam que tenha aprendido técnicas de terror em campos de treinamento
nas fronteiras entre Afeganistão e Paquistão (Alexander, 2015).
Os objectivos de uma organização geralmente revelam como serão suas ações futuras.
No caso do Estado Islâmico (ISIS), seus objectivos combinados com a metodologia para
alcançá-los são o que o diferencia de outros grupos militantes.
Em abril de 2013, Abu Bakr al-Baghdadi declarou a criação do Estado Islâmico do
Iraque e do Levante (al-Sham), afirmando que o grupo não reconheceria mais fronteiras, e que
seu objectivo era continuar avançando, até a construção de um califado islâmico. Esse era o
objectivo declarado de ISIS: restaurar o "califado" - um estado islâmico sob o governo de uma
comunidade de estudiosos religiosos orientados por um líder supremo, o califa ou Khalifah,
que é geralmente considerado como o sucessor do Profeta Maomé.
De acordo com a CIP, (2021, p. 10) de Outubro de 2017 a Fevereiro de 2021 os ataques
armados na província de Cabo Delgado causaram mais de 2500 mortes 2. Para além da forma
brutal como as pessoas foram assassinadas - decapitações e esquartejamentos - o crescente
número de deslocados internos é a face mais visível da guerra de Cabo Delgado que, em
quatro anos, causou uma tragédia humanitária de que não há memória na história do país
desde o fim da guerra civil em 1992. Com o recrudescer dos ataques terroristas no centro e
norte de Cabo Delgado em 20203, a província registou mais a Sul e, especialmente, no maior
centro urbano, Pemba, uma grande avalanche de deslocados internos que atingiu o seu pico no
segundo semestre do ano4.
No total, até Fevereiro de 2021, havia aproximadamente 670 mil pessoas deslocadas da
província, das quais cerca de 570 mil dentro da província, o equivalente a cerca de 25% de
2
ACLED (2021) Cabo Ligado Weekly: 8-14 February. Disponível em: https://acleddata.com/2021/08/10/cabo-
ligado-weekly-8-14-ogaste-2021/ Consultado a 10. Agosto. 2021
3
ACLED (2021) TenConflicts to WorryAboutin 2021-Mozambique-No endinsight for the Cabo Delgado
Insurgency. Disponível em: https://acleddata.
com/2021/08/19/ten-conflicts-to-worry-about-in-2021/#1612195870459-59840c64-a2b4Consultado a 19.
Agosto. 2021
4
CIP (2020) Número de deslocados internos em Moçambique cresceu em cerca de 2 700 % em dois anos.
Disponível em: https://cipmoz.org/2021/10/13/numero-de-deslocados-internos-em-mocambique-cresceu-em-
cerca-de-2-700-em-dois-anos/. Consultado a 13. Agosto. 2021
24
toda a população da província. Embora o deslocamento de civis por causa da guerra tenha
abrandado entre finais de Outubro e início de 20217, o número de deslocados não para de
aumentar. Diariamente mais de 100 pessoas movimentam-se para os distritos considerados
seguros. As acções ofensivas do Governo contra bases ou locais identificados como de
concentração de insurgentes são apontadas como a nova causa de abandono das suas
comunidades pelas populações, mesmo neste período de notável redução dos ataques.
A maioria dos deslocados saídos dos distritos de Quissanga, Macomia e Mocímboa da Praia
percorre várias milhas em embarcações precárias e superlotadas para chegar à cidade de
Pemba10. Cada barco, com capacidade para 20 a 30 pessoas, chega a transportar entre 40 a 70
deslocados numa viagem que dura entre três a cinco dias. Alguns deslocados chegam aperder
a vida no meio do percurso vítimas de doença ou naufrágio11. Algumas mulheres grávidas
dão à luz sem assistênciaadequada no meio da viagem. Durante o percurso chega a faltar aos
deslocados o mais básico: água e comida (CIP, 2021, p. 11).
5
CICR (2020) LeDéplacementDurantLesConflitsArmés:
CommentLeDroitInternationalHumanitaireProtègeEnTemps De GuerreetPourquoiC’estImportant. Disponível
em: https://www.icrc.org/fr/publication/displacement-times-armed-conflict-how-international-humanitarian-law-
protects-war-and Consultado em 13. Agosto.2021
25
O Distrito de Montepuez, que dista a cerca de 200 Km de Pemba, contava com 56 515
deslocados em Fevereiro de 2021, distribuídos em 11 350 famílias. À semelhança de
Ancuabe, a maioria dos deslocados de Montepuez encontra-se a residir na sede do distrito.
Dados fornecidos pelo Director dos Serviços Distritais de Planeamento e Infra-estruturas,
LeonídioVarimelo, indicam que cerca de 70% do total das famílias de deslocados existentes
no distrito estão em famílias de acolhimento. As restantes 30% encontram-se espalhadas por 4
centros/aldeias de reassentamento definitivo, nomeadamente Nicuapa com 2600 famílias,
Macupulo-Sede com 300 famílias, Nanhupo B com com 380 e Ntele com 68 famílias (CIP,
2021, p. 11).
Ainda sustenta Feijó, (2020, p. 04) a chegada repentina de milhares de famílias fugidas
de um conflito armado tem um impacto nos locais de acolhimento. Em primeiro lugar, pela
forte pressão sobre recursos naturais, nomeadamente terrenos, água, estacas para construção
de residências e lenha, forçando as populações a percorrer maiores distâncias.
Em terceiro lugar, são evidentes situações de desconfiança por parte das populações
locais em relação à população deslocada. Em diversos locais, a presença maioritária de
mulheres entre a população deslocada, particularmente evidente em Montepuez, Pemba ou
Namuno, alimenta desconfianças relativamente ao envolvimento dos maridos com os grupos
de insurgentes, (Feijó, 2020, p. 04).
Outros revelam o desejo de regresso ao local de origem, onde abandonaram boas parcelas de
terreno, residências, condições de acesso a recursos naturais (floresta, lenha e carvão, áreas
produtivas ou recursos pesqueiros) e oportunidades de negócio. Entre estes foi evidente um
discurso acerca de um plano oculto de retirar as populações dos seus locais de origem, sem
direito a indemnização.
De qualquer das formas, a experiência histórica permite-nos prever que os
acolhimentos populacionais são geradores de tensões sociais, relacionados com problemas de
acesso a recursos naturais escassos (terras férteis, árvores de fruto, áreas para lenha e carvão,
madeira para construção, ou pasto), com aumento de distâncias percorridas, com conflitos
entre líderes tradicionais (os líderes deslocados perdem a sua capacidade de influência nos
locais de destino), gerando-se tensões entre donos da terra (que assistem ao aumento da
competição e com expectativa de receber rendas) e vientes (despojados dos seus recursos
naturais, económicos e simbólicos). A situação é particularmente sensível para os mais
desfavorecidos, nomeadamente os epothas, indivíduos sem terra e sem direitos políticos e
económicos, dentro das estruturas consuetudinárias.
28
Quanto ao tipo de pesquisa será básica: porque procura objectivar a produção de novos
conhecimentos, úteis para o avanço da ciência, sem uma aplicação prática prevista
inicialmente que envolve verdades e interesses universais. (Lakatos e Marconi, 1995, p.106).
Esta pesquisa foi usada para permitir produzir novos saberes sobre os percursos migratórios
dos deslocados da guerra e as experiências de vida e a sua integração no centro de
acolhimento de Nacaca.
Quanto a abordagem, foi usada a análise qualitativa, serviu para a interpretação dos
dados devido a alta compatibilidade de qualificar os aspectos da realidade que este trabalho
analisa sendo assim, com esta pesquisa será usada para entender os motivos, medir
sentimentos e constatar opiniões acerca dos percursos migratórios dos deslocados da guerra e
as experiências de vida e a sua integração nos centros de acolhimemtos de Nacaca.
29
Em relação às técnicas de recolha de dados dizer que, foram conduzidas duas técnicas
para o trabalho de campo, nomeadamente entrevista semi estruturada e a observação directa.
No entanto, foi conduzida a entrevista para os deslocados de guerra do norte de Cabo
Delgado.e o processo de Observação, como salienta Lakatos e Marconi, (1992, p. 90), é “uma
técnica de colecta de dados para conseguir informações e utilizam-se órgão de sentido na
obtenção de determinados aspectos da realidade” portanto, nesta pesquisa a observação foi
feita de acordo os seguintes pormenores:
● As condições de vida na qual encontram-se os deslocados;
● As condições dos centros de acolhimentos; e todo panorama do quotidiano dos
deslocados.
6
Dados adquiridos com senhor Nelson funcionário na área de DTM registo dos deslocados da OIM.
30
Fonte: adaptado pelo autor a partir Direcção Provincial de Plano e Finanças de Cabo
Delegado.2019.
A região de Montepuez antes da colonização Portuguesa, era conhecida por Metto, que
em macua significa “Caminhar ἀ pé”, em memória aos tempos em que o local fora
atravessado pelas rotas comerciais de marfim e escravos.
31
comunidades legitimadas pelo seu papel social, cultural, económico e religioso (MAE:2005,
p. 9).
e Protestantes, tais como (União Baptista, Testemunha de Jeová, Nova Aliança, Igreja
Pentecostal Holiness e Assembleia de Deus).
As tradições, usos, costumes e tabus são fenómenos que mais marcam o Distrito de
Montepuez como outros pontos da Província, por exemplo: Na Educação, existe um
fenómeno que caracteriza-se em impedir as crianças de frequentarem a escola principalmente
as raparigas quando atingem a idade de 12-14 anos são obrigadas a casarem-se, o que traz
como repercussão de maior desistência das alunas nas escolas. As mulheres grávidas não
devem chupar cana sacarina, porque a criança vai nascer com erupção cutânea. Uma mulher
grávida não deve comer ovo, porque a criança vai nascer sem cabelo. Uma mulher no ciclo
menstrual não deve salgar comida, porque vai causar cárie dentária (MAE, 2005).
35
36
Neste capítulo faz-se análise interpretação de dados, onde fez-se o cruzamento de respostas,
Foi elaborado o modelo de análise e interpretação dos dados que proporcionaram a existência
dos seguintes elementos A, B, C, D e E designados como categorias e os entrevistados na
pesquisa, foram codificados com vista a preservar a identidade desses, ou seja, os dados
apresentam os seguintes códigos:
Uma das inúmeras consequências destes ataques de grupos terroristas são as ondas de
deslocações forçadas da população do norte da província de Cabo delgado para as zonas ditas
seguras como é o caso de Montepuez, como objectivo de mapear os percursos migratórios dos
deslocados de guerra acolhidos nos centros de acolhimento de Nacaca, durante o diálogo com
os deslocados foi pertinente colocarmos a seguinte questão: Há quanto tempo estas aqui em
Montepuez?
(…) Consegue chegar aqui na cidade de Montepuez muito à rasca, a mais menos três
(3) meses, logo que cheguei, não conhecia onde encontrar os meus familiares que já teriam
conseguido chegar aqui antes de me, foi levado aqui no centro como estas a ver ainda não
terminei a minha casinha ali (C, p, 2021)7
Com estas respostas pode concluir que o centro de acolhimento de Nacaca está em
constante acomodação, é possível encontrar deslocados oriundos de todos os distritos que
estão a ser fustigadas pelas atrocidades dos terroristas, e esta prontidão dos centros é muito
importante uma vez que os deslocados chegam a Montepuez sem direcção e nem lugar para
passar a noite, torna-se interessante a ideia de deixar os centros de acomodação preparados
para a qualquer estante acolher as populações vítimas de ataques terroristas na região norte de
cabo Delgado.
A par das constatações acima descritas, procurou-se saber no seio dos deslocados o
seguinte Como iniciou os ataques lá no distrito onde viviam antigamente?
(…) Foi o primeiro dia de muita tristeza na minha vida, as coisas estavam muito
calmas naquele dia em Mocímboa, os mercados, lojas, instituições, estavam abertas, a vila
estava muito movimentada como sempre as pessoas a fazerem os seus afazeres, mas após a
oração 12h dos muçulmanos aí foi onde tudo começou apareceram indivíduos mascarados
com armas de grande magnitude começaram a tirar para na polícia e no quartel e a
7
Informações adquiridas através da entrevista com os deslocados no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
38
população que estava perto destas instituições não safaram, verificou-se troca de tiros entre
a polícia e os insurgentes o dia todo, tivemos que se refugiar nas matas, desde aquele dia até
hoje a minha vida foi destruída. Dali não ficamos mais seguros começaram atacar cada vez
mais de noite de madrugada, passavam nas casas escolher raparigas e mulheres levavam
com eles os homens eram cortados pescoços com catanas, os que tinham sorte conseguiam
fugir ou eram levados para ir com eles (C, p, 2021)8
Ainda sobre Quisanga um DDQ (04) foi mas longe dizendo o seguinte:
8
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMP no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
9
Antigo chefe da localida de Namaluco, aldeia do Distrito de Quisanga
10
Informações adquiridas através da entrevista com os DDQ no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
39
capturaram a minha esposa e minha filha de 13 anos, eu consegue escapar com 2 filhos e
desde ali até hoje nunca mais vi a minha família (c,p,2021)11
(…) É muito triste o que está acontecer na nossa terra, muitos de nós nascemos e
crescemos em Macomia, fizemos a nossa vida lá, deixamos para trás as nossas casas, nossos
bens e todo que tinham inclusive as nossas famílias, porque muitos de nos perdemos
familiares que não soubemos se estão vivos ou estão mortos, aqueles homens armados com
armas, catanas, facas, e machados quando entram nas aldeias em Macomia, não escolhiam
matam todos e tudo que viam atiravam até abatiam os animais, raptaram muitas mulheres e
jovens (c, p, 2021)12
(…) Antigamente quando ouvíamos que em Mocimboa estão atacar por Al-shabaab
pensávamos que fosse brincadeira, mas quando começaram atacar aldeias do distrito de
Muidumbe todas as pessoas ficaram atentos e começamos a dormir nas matas de noite e
quando amanhecia voltamos a vila, um dia foi por volta das 07horas após todos voltarem das
matas, pareceram homens armados na vila começaram a destruir as infra-estruturas do
11
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMP no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
12
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMA no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
40
Após disso, ainda com a mesma questão foram entrevistados 5 (cinco) DDP
correspondentes a 20% responderam de forma unânime que o distrito de Palma já vinha sendo
atacado desde 2017 nas aldeias próximas de Mocímboa e Nangade, mas ainda não teriam sido
atacada a vila mas após a do ataque da vila de Mocímboa as populações não estavam muito
seguras, nas aldeias várias pessoas dormiam nas matas para prevenir a fuga no momento de
qualquer ataque.
Par disso, para incrementar as informações acima descritas um DDP (05), disse que
13
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMU no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
14
Informações adquiridas através da entrevista com os DDP no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
41
50%
50%
45%
40%
35%
30%
25% 25%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Desde 2017 sofriam
ataque Desde em 2018 fomos
atacados Partindo de 2021
atacaram
Como podemos ver com as constatações acima, com estas respostas podemos concluir
que os ataques na zona norte da província de cabo delgado constituem uma realidade, os
deslocados que conseguiram chegar nos centros acolhimento de Nacaca contam as suas
experiências no momento que começaram a verificar-se os ataques nas suas zonas de origem,
podemos verificar o clamor desta camada social que deixaram tudo quanto tinham queimados
por Al-shabaab, isso permite-nos simpatizar com a ideia de acolher e poder dar uma mão de
conforto, e é importante que se estabeleça de apoio psicológicos para apoiar a saúde mental
das populações deslocadas.
Par disso, ainda como objectivo de mapear os percursos migratórios dos deslocados de
guerra acolhidos nos centros de acolhimento de Nacaca, durante o diálogo com os deslocados
foi pertinente colocarmos a seguinte questão: Como chegou em Montepuez ou seja onde
passou até chegar em Montepuez?
(…) Quando estás a fugir de forma descontrolada e difícil saberes por onde vai ou de
onde sai, mas muitos de nós para conseguir sair de Mocímboa da Praia saíramos no
momento que os ataques baixavam assim tínhamos a oportunidade de sair pela via de aldeia
Awasse depois procuramos carros que vão até a vila de Mueda, chegando a Mueda ainda
não nos sentíamos seguros procuramos carros para o distrito de Montepuez. (C,p, 2021)15
15
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMP no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
16
Informações adquiridas através da entrevista com os DDQ no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
43
em conseguiram um apoio em valores monetários para pagar a viatura que lhes levou até a
cidade Montepuez, após vários meses nos bairros da cidade de Montepuez, foram
encaminhados ao centro de acolhimento de Nacaca.
(…) Nasce e cresce em Muidumbe mas não sabia que existia tanta mata assim, mas de
forma desesperada e sem reparar atrás tive que fugir para uma direcção que nem conhece
por onde iriam parar, naquele dia parte da vila sede de Muidumbe pela mata ate aldeia
Muatide, onde encontre com os outros que também estão a fugir ainda pela mata
conseguimos chegar até aldeia de Mitenda onde existem um contingente militar das FDS,
onde fomos acolhidos e conseguimos um carro que ia a direcção da vila sede de Mueda,
chegando em Mueda ficamos três (3) dias a espera de carro porque estão muito cheio não
esta fácil conseguir e o quarto dia conseguimos e deslocamos para Montepuez (C, p, 2021).17
Ainda a mesma questão foi colocada aos 5 (cinco) DDP, corresponde a 20% onde
responderam de forma unânime que para chegar a cidade de Montepuez, primeiro tiveram que
fugir pela mata até ao acampamento de Afungi, onde forma socorridos pelos militares e de lá,
ficaram um dia e conseguiram um navio que veio evacuar a população para a cidade de
Pemba, depois de dias a viverem na Praia de Paquitequete na cidade de Pemba foram
evacuados para o centro de acolhimento de Nacaca em Montepuez.
Para reforçar a ideia um DDP (05) foi mais longe e disse que
(…) Quando consegue sair na vila sede corre em direcção ao hotel Amarula porque
no momento era antes de chegarem lá 10min depois já tinham cercado o hotel e tive que sair
pelas manilhas que escoavam as águas estagnadas para fora, dai tive que fugir em direcção a
praia onde de repente 6 homens dos Al-shabaab estão a vir mataram 4 pessoas e quando
chegamos a praia encontramos uma embarcação e subimos por volta de 15 pessoas e
remamos os barcos para os mangais e os homens dos al-shabaab quando chegaram a praia
encontraram algumas pessoas que estão a tentar nadar e deram tiros nas pessoas, e nos
tivemos escondido nos mangais e quando saíram voltamos a remar até as 18h onde fomos
encontrados com FDS que estão a patrulhar no mar e nos param e falamos que estamos a
fugir dai vasculharam o barco e quando viram que tinha crianças e mulheres nos levaram
17
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMU no centro de acolhimentode Nacaca, 2021
44
para o barco de evacuação e saímos no dia seguinte em direcção a Pemba, uma semana
depois fomos levados para aqui em Nacaca (C, p, 2021).18
percursos migratorios
Autora, (2021)
Com as respostas acima descritas podemos concluir que os deslocados procuraram vários
caminhos para poderem se safar dos ataques perpetuados pelos homens dos Al-shabaab na
região norte da província de Cabo delgado. Pode-se verificar que os deslocados dos distritos
de Muidumbe, Mocimboa da praia e uma parte de Macomia, usaram o distrito de Mueda
como ponde de ligação entre a zona norte e a zona sul de cabo delgado onde existem
condições mínimas de segurança contra os ataques do grupo extremista Al-shabaab, a maior
parte dos deslocados que conseguiram chegar a cidade de Montepuez vieram das regiões do
planalto de Mueda.
Para reforçar este raciocínio um DDMP (03) foi mais longe a firmando o seguinte:
(…) A vida aqui não esta fácil, a guerra nos obrigou a deixar nossos bens, nossa vida,
nossas casas, aqui dormi-mos no chão, nos cobrimos com lunas, comemos de migalhas
oferecidos por outros, nas sabemos onde encontrar emprego, vivemos nas cabanas que
parecem casas de banhos, e até espaço colocar a cabana outros tiveram que comparar por
um valor de 3.000mt, esse valor nos vamos apanhar aonde! Só para ver lá em Mocimboa eu
era pescador tinha meus barcos aqui vou pescar aonde! Mesmo como apoios que tempos
recebidos não temos como ser como éramos antes (c,p, 2021)19
Fo
nte: (Autora, 2021)
19
Informações adquiridas no processo de entrevista dos DDMP no centro de acolhimento de nacaca, 2021
46
35%
14, DDMP, DDQ, DDP, responderam que a
vida esta dificil nos centros de acolhimento.
11, DDMA e DDMU, responderam que esta
normal nos centros de acolhimentos.
65%
Fo
nte: (Autora, 2021
Com as respostas acima pode-se concluir que as vidas nos centros de acolhimentos não
são das melhores, os deslocados vivem sem condições dignas, residem em cabanas que não
são fortes não puderam resistir o tempo chuvoso que se avizinha. Apesar de receberam apoio
alimentar hoje que no será para sempre, é importante reflectir em adopção de novas formas de
apoiar de modo que permita que de forma particular consigam auto-sustento para preparar-se
para os futuros momentos com o cancelamento do apoio alimentar.
uma investigação por parte das autoridades policiais, e quando chegaram ao centro de Nacaca
também foram investigados pelas autoridades locais e para serem atribuídas as respectivas
léguas tiveram que pagar 200 meticais é assim que acontece a integração.
Para reforçar a ideia um DDMA (02) foi mais além afirmando o seguinte
Fonte
: (Autora, 2021)
equipas competentes com objectivo de garantir a integração digna dos deslocados no centro
de acolhimento de Nacaca.
Para reforçar a ideia um DDQ (03) foi mais longe dizendo o seguinte
(…) A relação que temos com os nativos não é boa principalmente para nós que não
conseguimos falar a língua macua, que falamos Kimwane, nos mulheres que chegamos aqui
sem marido somos acusadas que os maridos são os malfeitores por isso ficaram com os al-
shabaab, quando vamos no poço tirar água que quando estamos na frente bastar vir um
nativo temos que tirar a nossa bacia antes de encher e lhe ceder o espaço para elas tirarem,
quando passamos pelo caminhos costumam nos a rir porque não vestimos boas capulanas (c,
p, 2021)21
Com as respostas a cima podemos concluir que existem uma distinção nas relações
social no centro de acolhimento de Nacaca entre os nativos e os deslocados, nota-se que os
deslocados que tem domínio da língua Emakhua e Shimaconde tem as coisas mais fáceis em
relação aos que falam a língua Kimwane, isso explica-se porque Montepuez a língua que mais
é falada e macua na sua maioria mas também existem um número considerável que fala
shimakonde o que facilita para os deslocados que vem nas regiões destas língua, e outra razão
é as zonas que fala-se a língua Kimwane geralmente são zonas costeiras estes deslocados por
21
Informações adquirida no processo de entrevista com os DDQ no centro de acolhimentos de Nacaca, 2021
49
não compreender a língua e as práticas nas zonas do interior torna difícil se encaixarem
facilmente às novas realidades do interior.
Sendo assim, um DDMU (05) disse que (…) Nós desde que chegamos aqui na cidade
de Montepuez temos recebido apoios, primeiro recebiam comida nos bairros da cidade mas
os secretários do bairro em vez de nos dar, davam os seus familiar, depois de serem
descobertos passaram a distribuir cheques para levantar a comida nas lojas mas mesmo
assim era muito arriscado para você conseguir comida não era fácil porque ficava muito
cheio, e não eram qualquer loja que você devia levar comida e muitas pessoas que recebiam
cheques não eram deslocados, dai e quando nos mandaram sair da cidade para nos centros
porque comida só iria receber aquele que já esta no centro de acolhimentos dai começamos a
receber aqui mesmo (c, p, 2021)22
Com as respostas acima podemos concluir que os deslocados têm recebido apoio por
parte de organizações humanitárias e governo, principalmente em alimentação e tendas para
construção dos seus abrigos temporários, isso representa uma acção benéfica uma vez que
pelo menos têm o que comer em cada amanhecer, mais ainda carecem a realização de várias
acções que culminou com a integração efectiva das comunidades deslocadas de modo que se
sintam seguros e com vontade de recomeçar e se reinventar no novo habitat.
22
Informações adquirida no processo de entrevista com os DDMU no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
50
Foram por média duas (2) hipóteses que a pesquisadora procurou confirmar e durante o
percurso de análise e interpretação de dados colhidos no terreno, destas:H1: As experiências
dos deslocados nos centros de acolhimentos não têm sido das melhores, provavelmente
porque o apoio recebido pelo governo e organizações humanitárias, não os permitem
recomeçar suas vidas com dignidade. Através da pesquisa empírica, com base nas hipóteses
nisso, foi possível verificar que a vida no centro de acolhimento de Nacaca não tem sido
muito satisfatória comparando as suas vidas de antes nas suas terras de origem dos deslocados
mesmo com os apoios que tem recebido não é conseguirem viver condignamente.Com esta
constatação fica completamente aprovada hipótese 1.
H2: A integração dos deslocados nos bairros onde fixam residências definitivas na cidade
de Montepuez, presumivelmente tem sido marcada por desconfianças entre os estabelecidos,
sob suspeita de integrarem elementos dos grupos terroristas. De igual modo constatou-se que
os deslocados não tem relação com os nativos porque as mulheres que chegaram sem maridos
são desconfiados serem esposas de insurgentes principalmente aquelas que falam a língua
Kimwane, isso faz com que sejam isolas até arrancadas os seus pertences quando vão a
procura de água e lenha para confeccionar os seus alimentos. Com essa constatação fica
51
aprovada a hipótese 2 uma vez que sem 100% dos entrevistados afirmaram as constatações
acima.
52
Conclusão
● Acolher os deslocados como irmãos que foram forçados a fugir para Nacaca;
● Ensinar aos deslocados as boas maneiras aceites nesta comunidade onde se encontram
para não ferir a sensibilidades dos nativos;
● Conviver com os deslocados de forma digna de modo que sintam acolhidos;
● Fiscalizar se não existem insurgentes infiltrados aos deslocados;
● Informar as autoridades competentes quaisquer comportamento anormal por parte dos
deslocados.
Referência bibliográfica
Fontes orais:
Nº Código da Função Técnica de Data da
entrevista recolha de entrevista
dados
Fontes escritas
Alexander, Y, Alexander, D. (2015). The Islamic State: Combating the Caliphate
Without Borders, Lexington Book,
Amnistia Internacional (2021). O que vi foi a morte: crimes de guerra no “cabo
esquecido” de Moçambique.
Buarque, S. C. (1999). Metodologia de planeamento do desenvolvimento económico
local e municipal sustentável. Brasília.
Chacra, G. (2015). Afinal, devo falar ISIS, ISIL, DAESH ou Estado Islâmico?
CIP, (2020) “Número de deslocados internos em Moçambique, Maputo
CIP, (2021). Gestão dos deslocados de guerra de Cabo Delgado: Governo falhou no apoio às
vítimas do conflito, Maputo.
CHAMBE, Zacarias Milisse. (2016). Mineração artesanal e o empoderamento das
comunidades locais em Moçambique: Estudo de caso do Posto Administrativo de
Namanhumbir. Dissertação de Mestrado em Ciências Políticas e Estudos Africanos. Maputo:
Universidade Pedagógica Moçambique, Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas.
56
Apêndices
52
UNIVERSIDADE ROVUMA
Departamento de Letras e Ciências Sociais
Guião de Entrevistas
As questões presentes neste guião de entrevista são dirigidas aos deslocados de guerra, no
centro de reassentamento de Nacaca, com vista o fornecimento de informação relevante para a
elaboração de uma Monografia com o tema: Os deslocados de guerra de Cabo Delgado:
percursos migratórios, vivencias nos centros de reassentamentos e integração social em
Montepuez, 2020-2021.Sendo para fins meramente académicos, garantimos a
confidencialidade das respostas e agradecemos a vossa colaboração, respondendo as questões
abaixo:
Idade---------------Sexo--------------Estado civil-----------------Nível de
escolaridade-----------------------------Ocupação---------------------Religião------------------------
1. O terrorismo/guerra em Cabo Delgado tem sido um cenário que a meia década vem
semeando luto nas famílias, destruição de Infra-estruturas sejam habitacionais assim
como comerciais e rodoviárias. Não obstante, pessoas são obrigadas a deslocarem-se
para zonas com vista a melhorar suas vidas e recomeçar, encontra partida a integração
social dos mesmos deixa a desejar.
a) Para tal, estimado (a) há quanto tempo estas aqui em Montepuez?
2. Como iniciou os ataques lá no distrito onde viviam antigamente?
3. Como chegou em Montepuez ou seja onde passou até chegar em Montepuez?
4. Como tem sido a vida aqui no centro de reassentamento de Nacaca?
5. Como acontece a vossa integração nos centros de reassentamentos?
6. Qual é a relação que tem com os nativos?
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Autora, (2021)
Autora, (2021)
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Anexos