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Fania Valentin Lahia

Os deslocados de guerra de Cabo Delgado: percursos migratórios, vivências nos centros


de acolhimento e integração social em Montepuez, 2020-2021

Licenciatura em ensino de História com Habilitações em Documentação


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Fania Valentin Lahia

Os deslocados de guerra de Cabo Delgado: percursos migratórios, vivências nos centros


de acolhimento e integração social em Montepuez, 2020-2021

Monografia Científica a ser entregue no


Departamento de Letras e Ciências Sociais, para
fins de Culminação do curso de Licenciatura em
ensino de História com habilidades em
Documentação.
Supervisor: Prof. Doutor Zacarias Chambe

Universidade Rovuma
Extensão de Cabo Delgado
2021
3

Sumário
Lista de gráficos 5

Lista de figuras 6

Lista de siglas 7

Lista de abreviaturas 8

Declaração 9

Epigrafia 10

Dedicatória 11

Agradecimentos 12

Resumo 13

Introdução 12

CAPÍTULO I: GUERRA, DESLOCAMENTOS FORÇADOS E MIGRAÇÕES INTERNAS EM


CABO DELGADO 15

1.1.Quadro conceitual 15

1.2.Deslocados 15

1.3.Percursos migratórios 15

1.4.Integração social 15

1.4.1.Reintegração social 16

1.5.Centro de Reassentamentos 17

1.5.1.Centro de Acolhimento 17

1.6.Grupos terroristas em Cabo Delgado 17

1.6.1.Al-Shabaab 18

1.7.Gestão dos deslocados em Cabo Delgado 23

1.7.1.Integração socioeconómica dos deslocados internos em Cabo Delgado 25

1.7.2.Relação dos deslocados com as populações local 26

CAPÍTULO II: TRABALHO DE CAMPO ENTRE DESLOCADOS GUERRA (QUADRO


METODOLÓGICO E DESCRIÇÃO DO LOCAL DA PESQUISA) 28

2.1. Quanto ao método da pesquisa 28

2.2. Quanto ao tipo de pesquisa 28

2.3. Quanto a abordagem 28


4

2.4. Quanto ao procedimento 29

2.5. Técnicas de recolha de Dados 29

2.6. Universo e a amostra 29

2.7. Descrição do local da pesquisa 30

2.7.1. Localização Geográfica de Montepuez 30

2.7.2. Breve historial do distrito de Montepuez 30

2.7.3. Divisão administrativa da Cidade de Montepuez 32

2.7.4. Divisão Político-administrativa da Cidade de Montepuez 32

2.7.5. População da cidade de Montepuez 33

2.7.6. Principais Características culturais da cidade de Montepuez 33

CAPITULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS. 36

3.1. Os percursos migratórios dos deslocados de guerra acolhidos nos centros de acolhimento de
Nacaca. 36

3.2. As histórias de vida dos deslocados de guerra nos centros de acolhimentos de Nacaca. 44

3.3. As vivências e as formas de integração dos deslocados de guerra na comunidade de Nacaca. 46

4. Apresentação e a validação das Hipóteses 50

Conclusão 52

Referência bibliográfica 54

Apêndices 51

Anexos 54
5

Lista de gráficos

Gráfico 1. Ilustrando o momento do início dos ataques nos Distritos……………….………38

Gráfico 2:ilustrando percursos migratórios………………………………………….……....40

Gráfico 3: ilustrando a vida nos centros de acolhimento…..………………………..…….....40


6

Lista de figuras

Figura 1: Mapa da localização geográfica da cidade Municipal de Montepuez…………….26


Figura 2:Ilustrando cabanas onde residem deslocados sem terreno……………………...….34

Figura 2: Ilustrando as residências nos centros de reassentamentos…………………….….35

Figura 3: Momentos de entrevista com os deslocados no centro de acolhimento de


Nacaca…………………………………………………………..…………………………….42
7

Lista de siglas

CIP Centro de integridade pública

EIPAC Estado islâmico da província da áfrica central

OIM Organização internacional de migração


8

Lista de abreviaturas

DDMA deslocados do distrito de Macomia

DDMP Deslocados do distrito de Mocímboa da praia;


DDMU deslocados do distrito de Muidumbe.

DDP Deslocados do distrito de Palma


DDQ deslocados do distrito de Quissanga
9

Declaração

Declaro pela minha honra que este trabalho é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão
devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final.

Declaro ainda, que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.

Montepuez / /2021
10

Fania Valentim Lahia


11

Epigrafia

Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos


só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras.
A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que
se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham
perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas
pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se
acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte.

(Mia Couto, In Terra Sonâmbula)


12

Dedicatória

“Aos meus pais, Valentim Lahia e Arira Adriano. E meus irmãos Diamantino Valentim Lahia,
Gildo Valentim Lahia, Altino Valentim Lahia e Alzira Valentim Lahia”.
13

Agradecimentos

Agradeço a Deus todo o poderoso pela vida, bênçãos e saúde que sempre me
proporcionou. Aos meus familiares, em especial ao meu pai Valentim Lahia e minha mãe
pelos cuidados que têm prestado.

Ao meu supervisor Zacarias Chambe, PhD. Pelas sábias orientações e pelo esforço e
paciência ao longo da elaboração deste trabalho.

Aos meus amigos Amina Fernando Aiuba, Amida Ibraimo, José Victor Nampassa,
Josias Marques Raúl, Aboo Amade, Ambari Alves Mário, Romão Júlio e a todos os amigos e
colegas em especial ao John Sabico que direita ou indirectamente contribuíram para que eu
me formasse e ajudarem para a realização da presente monografia.
14

Resumo

A presente monografia subordina-se ao tema: os deslocados de guerra de Cabo


Delgado: percursos migratórios, vivências nos centros de acolhimento e integração social em
Montepuez, 2020-2021. A pesquisa procurou investigar, quais são os percursos migratórios
dos deslocados da guerra e como acontece a sua integração tanto nos centros de
acolhimentos, bem como nos bairros onde fixam residências definitivas? Tem como objectivo
geral: analisar como tem sido as experiências de vida dos deslocados nos centros de
reassentamento de Nacaca-Montepuez. Depois de realizada a pesquisa percebeu-se que as
experiências dos deslocados nos centros de acolhimento não têm sido das melhores,
provavelmente porque o apoio recebido pelo governo e organizações humanitárias, não os
permitem recomeçar suas vidas com dignidade. Consequentemente, a integração dos
deslocados nos bairros onde fixam residências definitivas na cidade de Montepuez,
presumivelmente tem sido marcada por desconfianças entre os estabelecidos, sob suspeita de
integrarem elementos dos grupos terroristas.
Palavras-Chave: Guerra, Deslocamentos; Acolhimento, Migrações; Integração social e
Montepuez.
Abstract
This monograph is based on the theme: the displaced persons of war in Cabo Delgado:
migratory paths, experiences in resettlement centers and social integration in Montepuez,
2020-2021. The research sought to investigate what are the migratory paths of displaced
persons from the war and how their integration takes place both in resettlement centers, as
well as in the neighborhoods where they establish permanent residences? Its general
objective is: to analyze the life experiences of displaced people in the resettlement centers in
Nacaca-Montepuez. After conducting the survey, it was realized that the experiences of the
displaced in the resettlement centers have not been the best, probably because the support
received by the government and humanitarian organizations does not allow them to start their
lives over with dignity. Consequently, the integration of displaced people in the
neighborhoods where they establish permanent residences in the city of Montepuez has
presumably been marked by mistrust among the established, under suspicion of belonging to
elements of terrorist groups.
Keywords: War, displacements; reception, migrations; social integration and montepuez
15
12

Introdução

Entre os distritos de Macomia, Quissanga, Muidumbe, Mueda, Nangade, Ibo e


Mocimboa da Praia, e Palma localizados no extremo Norte da província de Cabo Delgado,
região norte de Moçambique, se assiste desde 2017 um cenário de instabilidade, motivada por
uma guerra, cujas motivações e autores são ainda de difícil domínio.

Segundo o plano de resposta rápida a província de Cabo Delgado é lar de mais de 2,2
milhões de pessoas foi atingido por uma onda de violência desde Outubro de 2017, que
registou uma escalada significativa desde Janeiro 2020. Foram registados mais de 300
violentos dos quais 71 foram comunicados entre Janeiro e Março de 2020, incluindo ataques a
aldeias por actores armados não estatais e confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e
grupos armados. Estes conflitos impuseram um deslocamento forçado de um grande número
das populações que residiam nas regiões do extremo norte da província de Cabo Delgado. Em
Montepuez, um Distrito do extremo sul da província, considerada ainda como uma região
segura, por não ter sido registado nenhum ataque até ao momento, foi instalado um Centro de
Acolhimento dos deslocados de guerra, dentre vários que têm surgido na região norte do país.
Nestes vários centros, continuam a chegar milhares de pessoas, entre homens, mulheres,
jovens, adultos e crianças que abandonaram suas casas, machambas e outros tipos de bens,
para se refugiarem em locais que consideram seguros. A presente pesquisa, elaborada no
âmbito de conclusão do Curso de Licenciatura em Ensino de História, na Universidade
Rovuma, Extensão de Cabo Delgado, província onde os referidos conflitos ocorrem, Tem
como objectivo geral: analisar como tem sido as experiências de vida dos deslocados nos
centros de acolhimento de Nacaca-Montepuez; para operacionalizar o objectivo geral, foram
formulados os objectivos específicos: Mapear os percursos migratórios dos deslocados de
guerra acolhidos nos centros de acolhimento de Nacaca; Descrever as histórias de vida dos
deslocados de guerra nos centros de acolhimentos de Nacaca; Explicar as vivências e as
formas de integração dos deslocados de guerra na comunidade de Nacaca.

A escolha dessa temática de pesquisa, surge depois de ter lido diferentes relatórios,
artigos da amnistia internacional, (2021) sobre “Crimes de guerra no “cabo esquecido” de
Moçambique”; do Centro de Integridade Pública (CIP, 2020) “Número de deslocados internos
em Moçambique”; e Macalane, et al. (2021) “Ataques Terroristas em Cabo Delgado (2017-
2020): as causas do fenómeno pela boca da população de Mocímboa da Praia. ”Notei que,
13

embora os autores estejam interessados com as causas e autores desta guerra, pouco falam
acerca dos processos migratórios e as vivencias e experiências de vida e a integração social
dos deslocados que esta guerra tem criado desde o seu início em 2017. Por outro lado, como
autora e também residente no Distrito de Montepuez, estar a observar um crescente nível de
insegurança em todas regiões da província. Outrossim, tem-se verificado no Distrito de
Montepuez grandes enchentes os parques de transportes, de pessoas que chegam das regiões
em conflito no extremo norte da província com sinais de fome, insegurança, aflição, sem lugar
para passar a noite ou se abrigar, crianças órfãs e outras que desconhecem o paradeiro dos
pais.

A escolha dos anos de 2020-2021, deve-se ao facto de serem anos que mais se registou
ataques dos insurgentes na zona norte na província, e registaram-se grandes migrações
internas de pessoas e bens a procura de locais seguros, e notabilizou-se abertura de vários
centros de acolhimento. Apenas no Distrito de Montepuez, foram criados quatro (4),
nomeadamente: Mirate, Nacaca, Mapupulo (Ntele, Maçasse, Markoni).Com a realização deste
estudo poderá ajudar a perceber quais são os sentimentos as experiências de vida e como
vivem os deslocados nos centros de acolhimentos, isso poderá permitir identificar o tipo de
ajuda que representa prioridade para sua integração social neste novo habitat, poderá permitir
conhecer e mostrar a realidade dos centros de acolhimentos.

Segundo Amnistia Internacional (2021, p. 05), “Cabo delgado após sofrer décadas de
sub-investimento, negligência governamental e pobreza esmagadora, a província de Cabo
Delgado, a mais pobre de Moçambique, é agora palco de uma violenta insurgência, que já
ceifou milhares de vidas e deixou vilas e aldeias em ruínas”. Os combates intensificaram-se
desde que um grupo armado conhecido localmente como “Al-Shabaab” (sem ligações ao Al-
Shabaab da Somália) atacou a vila portuária de Mocímboa da Praia, no norte do país, em
Outubro de 2017, causando destruição generalizada, deslocados em massa e morte, além de
condições humanitárias insuportáveis para os que foram forçados a fugir.

Sendo assim, segundo Macalane, e tal (2021, p. 18) desde Outubro de 2017 a 2020, a
província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, tem vindo a sofrer ataques terroristas
dos ”AlShabaab”. Os ataques iniciaram no distrito de Mocímboa da Praia e expandiram-se
para outros distritos, nomeadamente: Macomia, Quissanga, Ibo, Muidumbe, Nangade, Palma
e Meluco. As consequências deste fenómeno são multidimensionais, partindo da destruição de
residências particulares e edifícios de entidades públicas e privadas; paralisação dos serviços
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básicos de educação e saúde; saque a estabelecimentos comerciais; estagnação económica


devido à falta de circulação regular de pessoas e bens; morte de Ataques terroristas em Cabo
Delgado (2017-2020).
Ainda de acordo com Amnistia Internacional (2021:05). Os abusos do Al-Shabaab têm
sido bárbaros. Grupos matam deliberadamente civis, queimam aldeias e cidades e cometem
actos brutais de violência com os seus machetes, com uma regularidade tal que os residentes
usam duas expressões para diferenciar entre os métodos de assassinato, “decapitar” e
“esquartejar”, esta última significando que a pessoa é cortada como um animal abatido. Têm
também raptado jovens mulheres e crianças, incluindo meninas de apenas sete anos. A
maioria das vezes, os membros da Al-Shabaab têm como alvo principal raparigas
adolescentes, embora sequestrem também rapazes para fazer deles combatentes.
Este fenómeno está criar percursos migratórios, várias famílias abandonaram as suas
terras, suas residências, seus bens no geral, deslocaram-se para as zonas ditas seguras como é
o caso de Montepuez, a sua chega foram encaminhados aos centros de acolhimento criados
para a sua integração no novo habitat. Tendo em conta as questões acima mencionadas
desperta uma questão a proponente: Quais são os percursos migratórios dos deslocados da
guerra e como acontece a sua integração tanto nos centros de acolhimento, bem como nos
bairros onde fixam residências definitivas?

A partir desta questão foram formuladas duas hipóteses: H1: As experiências dos
deslocados nos centros de acolhimento não têm sido das melhores, provavelmente porque o
apoio recebido pelo governo e organizações humanitárias, não os permitem recomeçar suas
vidas com dignidade; H2: A integração dos deslocados nos bairros onde fixam residências
definitivas na cidade de Montepuez, presumivelmente tem sido marcada por desconfianças
entre os estabelecidos, sob suspeita de integrarem elementos dos grupos terroristas.

O trabalho, está organizado em três (3) capítulos cujo primeiro é referente a


contextualização teórica do tema, o segundo capítulo é metodologia da pesquisa, e apresenta-
se o local do estudo e um breve historial do bairro em estudo, no terceiro capítulo são
apresentados, analisados e interpretados os dados colhidos do campo. E também neste, fez-se
a confirmação das hipóteses levantadas mediante ao problema que orienta a pesquisa.
15

CAPÍTULO I: GUERRA, DESLOCAMENTOS FORÇADOS E MIGRAÇÕES


INTERNAS EM CABO DELGADO
O presente capítulo procura elucidar o referencial teórico que consiste na
contextualização teórica mais detalhada do estudo assim como apresentação da metodologia
que guiou a pesquisa.

1.1. Quadro conceitual

1.2. Deslocados

Na óptica de Cruz, (2012, p. 21). Os deslocados internos são pessoas, ou grupos de


pessoas, forçadas ou obrigadas a fugir ou abandonar as suas casas ou seus locais de residência
habituais, particularmente em consequência de, ou com vista a evitar, os efeitos dos conflitos
armados, situações de violência generalizada, violações dos direitos humanos ou calamidades
humanas ou naturais, e que não tenham atravessado uma fronteira internacionalmente
reconhecida de um Estado.

Portanto, segundo esta linha de pensamento considera-se como “deslocado interno”


aquele que de alguma maneira foi forçado ou obrigado a deixar sua residência em decorrência
de alguma ameaça ou atentado à sua vida.

1.3. Percursos migratórios

Na visão de Castles; Miller, (1998, p. 48). “Os percursos migratórios têm sido parte
inerente da existência humana desde os seus primórdios, e representam uma das principais
formas de sobrevivência e adaptação dos seres humanos”. Desastres naturais, factores
económicos, crescimento demográfico e conflitos são razões, que, ao longo da história,
impulsionaram a movimentação de pessoas. A miríade de etnias, culturas e línguas ao redor
do globo é resultante desses percursos migratórios, os quais também correspondem a
elemento estrutural de importantes eventos da história, como o colonialismo, a
industrialização, e principalmente, a formação dos Estados nacionais.
16

1.4. Integração social

Segundo Giddens, (1995) “A palavra integração é muitas vezes utilizada como sinónimo de
coesão, unidade, equilíbrio, ajustamento e harmonia. Mas não é sinónimo de homogeneidade
na sociedade e na cultura, já que a diferenciação é uma qualidade essencial das relações
sociais”. Durkheim, (1975) discute o conceito de integração social em três sentidos:

● A medida em que um indivíduo se sente como membro de um grupo social por


partilhar as suas normas, valores, crenças. Corresponde ao sentido de uma das duas
principais variáveis que E. Durkheim utilizou para explicar a taxa de suicídio;
● A medida em que as actividades ou funções das diferentes instituições da sociedade se
complementam, ou se contrariam;
● A integração pode também referir-se a instituições específicas que coordenam a
actividade de subsistemas da sociedade e promovem a sua complementaridade. A
linguagem escrita ou o sistema legal formal são exemplos deste tipo de instituições de
integração que constituem pré-requisitos ou imperativos funcionais de qualquer
sistema social.

A integração social não apaga as diferenças; antes as coordena e orienta. A


relatividade e a mutabilidade do sistema social e cultural levam a que a
integração seja um processo sempre em curso e a que mesmo o seu produto
nunca esteja acabado. Quanto ao modo como a integração social se efectua e
se mantém, grande parte dos sociólogos tem estado de acordo quanto aos
seguintes factores: consenso acerca de um corpo de valores (o que não implica
acordo total acerca do modo como esses valores se reflectem em normas
concretas); cooperação voluntária e associação em funções (o que inclui a
interdependência na divisão do trabalho); participação múltipla dos indivíduos
em diferentes grupos (Durkheim, 1975).

Seguindo esta linha de pensamento importa referir que a dimensão na qual este trabalho
pretende analisar é a primeira dimensão, a medida em que um indivíduo sente-se envolvido
num determinado grupo de pessoas ligadas através das suas crenças, valores e harmonia.

1.4.1. Reintegração social

Na visão de Baratta, (2014, p. 352).A reintegração social pressupõe a comunicação entre


os indivíduos em situações problemáticas e a sociedade, ocasionando não a transformação
destes, mas a transformação da sociedade, para que esta reconheça como seus os problemas.
Em suma, “a reintegração constitui uma “via de mão dupla”, a abertura de um processo de
17

comunicação a partir do qual os indivíduos possam se reconhecer na sociedade sendo que


ambos têm responsabilidade de garantir aproximação.

1.5. Centro de Reassentamentos

Pressupõe-se que os centros de reassentamentos são locais de acomodação temporária ou


definitiva dos indivíduos que deslocaram-se dos seus locais habituais através de situações
quer de carácter natural (inundações, ciclones), político militar (guerras). Ou seja, são locais
onde são acomodados indivíduos que de forma forçada por razões que atentam contra a sua
vida tiveram que abandonar os seus habitats a procura de segurança.

1.5.1. Centro de Acolhimento

Acolhimento é o acto ou efeito de acolher, recepção. Atenção, consideração. Refúgio,


abrigo, agasalho. Acolher significa receber, atender, dar crédito, abrigar ou amparar. (Ferreira,
s/d p.27).

Pressupõe-se que centros de acolhimentos são espaços destinados a abrigar indivíduos que
de forma coerciva foram obrigados abandonar as suas origens, devido a diversos fenómenos
como: guerra, inundações, cheias, e ciclones de modo a garantir amparo destes. Com
objectivo de garantir o acesso aos serviços básicos fundamentais.

1.6. Grupos terroristas em Cabo Delgado

Na óptica da Amnistia Internacional, (2021, p. 08), quarenta e cinco anos após conquistar
a independência de Portugal, em 1975, sucessivos governos moçambicanos não conseguiram
estabelecer uma administração eficaz em Cabo Delgado. A província mais setentrional de
Moçambique, situada a 2 500 km da capital, Cabo Delgado, está perto do fundo da tabela das
províncias para quase todos os indicadores, nomeadamente oportunidades económicas, má
nutrição, educação e acesso à água potável, electricidade e saneamento. Em 2015, a taxa de
pobreza em Cabo Delgado ultrapassava os 50 por cento.
Antes de o grupo armado conhecido como Al-Shabaab iniciar os seus
ataques, em Outubro de 2017, Cabo Delgado distinguia-se
principalmente pelos seus recursos naturais: foram descobertos rubis
em Montepuez, em 2009, e gás natural perto de Palma, em 2010.O
facto de apenas uma parcela ínfima das receitas geradas por estas
indústrias extractivas – operadas na sua maioria por corporações
internacionais tais como a Gemfields do Reino Unido, a Total da
França e a Eni da Itália – ficar em Cabo Delgado contribuiu para criar
18

ressentimento e revolta que alimentam e incendeiam a insurgência.


(Amnistia internacional, 2021, p. 09)
Apesar de a região ser remota e pouco desenvolvida, é dotada de recursos naturais
potencialmente enormes que oferecem oportunidades igualmente enormes para a obtenção de
lucros. Alguns comentadores afirmam, portanto, que o sucesso da insurgência do Al-Shabaab
coloca em risco o futuro económico de Moçambique ao ameaçar directamenteas perspectivas
do país como grande exportador de gás natural.É também óbvio que estes interesses
económicos criaram pressão para o governo moçambicano montarem uma resposta eficaz à
insurgência.

1.6.1. Al-Shabaab

Segundo Amnistia Internacional, (2021, p. 09) O grupo armado de insurgentes em


Cabo Delgado é conhecido por vários nomes. Alguns observadores internacionais referem-se
à organização jihadista pelo seu título oficial, Ahlal-SunnahwaalJamma’ah (ASWJ), ou
Ansaral-Sunna, ou como o braço armado moçambicano do grupo que se auto intitula Estado
Islâmico da Província da África Central (EIPAC). A nível local, os residentes e as forças de
segurança referem-se aos combatentes como “os terroristas” ou “os bandidos” e chamam-lhes
Al-Shabaab, que significa “a Juventude” em árabe. Neste documento, a Amnistia
Internacional utilizará o termo Al-Shabaab, pois é o mais frequentemente utilizado pelos
residentes de Cabo Delgado.
Na óptica da IESE, (2019) Grupo é denominado Al-Shabaab4 não só pelas
comunidades locais mas também pelos seus próprios membros. As suas acções correspondem
ao fundamentalismo religioso de combate à influência ocidental e de implantação radical da
lei islâmica – a sharia e o combate aos inimigos do Islão. O nome Al-Shabaab significa
“juventude” em árabe. De acordo com as entrevistas e discussões em grupos focais, o grupo
de Mocímboa da Praia tem ligações com as redes do Harakat Al-Shabaab al-Mujahedeen, ou
somente Al Shabaab, que é um grupo jihadista de origem somali que opera principalmente na
Somália e no Quénia.
Segundo as lideranças religiosas islâmicas locais, inicialmente, o
grupo era conhecido pela designação Ahlu Sunnah Wal-Jamâa, o que
significa, traduzido do árabe, “adeptos da tradição profética e da
congregação”. Na realidade, no Islão, esta designação refere-se a
qualquer muçulmano, no sentido de que é chamado a seguir a tradição
do profeta Muhammad. Na perspectiva do grupo, as comunidades de
Mocímboa da Praia não estavam a seguir a tradição do Profeta. Daí o
facto de o grupo querer apropriar-se da designação Ahlu Sunnah Wal-
Jamâa para se destacar das comunidades locais, que supostamente
19

praticavam um Islão “degradado”. Todavia, para as lideranças


religiosas e as comunidades islâmicas locais o grupo é que pregava e
praticava um Islão “degradado” e fora da linha do profeta Muhammad.
(IESE, 2019, p. 11)

O Al-Shabaab é, essencialmente, um grupo armado de extracção local que se bate por


problemas locais, uma insurgência que despoletou devido ao sub-investimento crónico na
província maioritariamente muçulmana por parte do governo central. O grupo serve-se de
ideologia jihadista como ferramenta organizacional. Embora as ideologias islamitas tenham
vindo a crescer em Cabo Delgado há décadas, o movimento não ganhou estatura até à
chegada das indústrias mineiras, que extraem os recursos naturais sem que se veja grande
benefício posterior para as comunidades locais.
A sublevação actual do Al-Shabaab teve início em 5 de Outubro de 2017, com um
raide às esquadras da polícia de Mocímboa da Praia.10 Em 2018, apareceram fotos nas redes
sociais dos combatentes do Al-Shabaab a declarar fidelidade ao Estado Islâmico (EI), embora
a agência noticiosa oficial do EI, a Amaq, não tivesse publicado um vídeo a confirmar a
aceitação da bayah, isto é o compromisso de lealdade, até Junho de 2019.11 Esse vídeo do EI
declara que os combatentes tanto da República Democrática do Congo como de Moçambique
formam agora o Wilayah (ramo) centro-africano do grupo.

Contudo, não existem provas de ligações – movimentações de


armamento ou oferta de treino, por exemplo – entre os combatentes
nos dois países, para além do nome. Observadores internacionais
descrevem frequentemente o EI como “infiltrando” Moçambique,
mas não existem provas de que o Al-Shabaab seja principalmente
composto, ou liderado, por combatentes estrangeiros. Embora tenham
sido identificados alguns ugandeses nas fileiras do Al-Shabaab e
vários tanzanianos nele ocupem posições de importância média, o
grupo armado continua a ser basicamente uma organização local, com
preocupações locais, que declarou lealdade a um grupo de cúpula
externo. (Amnistia internacional, 2021, p. 09)

Testemunhos recolhidos pela Amnistia Internacional confirmam esta conclusão.


Testemunhas certificaram que os combatentes do Al-Shabaab falam entre si em diversas
línguas, nomeadamente algumas do norte de Moçambique, tais como mwani e makonde.
Além disso, alguns combatentes falam entre si nas línguas geralmente utilizadas na região,
tais como português e swahili, ou árabe durante as orações e sermões. Muitos disseram
reconhecer um número significativo de combatentes do Al-Shabaab como ex-residentes das
suas localidades.

1.6.2. ISIS – um histórico sobre a criação do califado


20

Em 10 de junho de 2014, o mundo viu um grupo de insurgentes invadir a cidade de


Mossul, no Iraque, derrubando desde bases militares até aeroportos, em um ataque violento,
para acabar com as autoridades locais. Dentro de poucas horas, o exército iraquiano já tinha
perdido o controle da cidade para os insurgentes, e assim os soldados do ISIS passeavam
pelas ruas em grandes caminhões, exibindo armas e aterrorizando os civis iraquianos, fazendo
com que vários fugissem do local (Karam, 2015).

Algumas semanas depois, em 29 de junho de 2014, o ISIS declara a criação de um califado 1,


nas regiões já conquistadas na Síria e no Iraque, exigindo a aliança de todos os povos
muçulmanos do mundo, tendo Abu Bakr al-Baghdadi como seu líder, e se auto intitulando
“Estado Islâmico”.
O ISIS se tornou um grupo terrorista que representa um perigo
iminente para a comunidade internacional, ultrapassando um antigo
aliado, a Al Qaeda, pois além de ter uma força de combate eficaz,
ideologicamente motivada e sanguinária, vem contando também com
uma vasta expansão territorial. Os ideais do grupo são norteados por
uma mistura de conceitos modernos e costumes antigos, promovendo
um extremismo religioso (Alexander, 2015, p. 35).

Além disso, o ISIS tem estabelecido alianças com outros grupos terroristas, se
responsabilizando por ataques em diversos países, enquanto recrutam e radicalizam com
sucesso combatentes do mundo todo, graças a propagação de sua agenda e seus actos nas
mídias sociais, enquanto introduz no oriente médio um novo nível de extremismo e
brutalidade, com efeitos desestabilizadores, tanto para atores estatais quanto para atores não-
estatais.
Para que se seja possível entender como o ISIS opera actualmente, neste capítulo será
feita uma análise do seu histórico. Como o ISIS realmente surgiu? Quais são suas raízes e
quais eram/são os objectivos de seus fundadores e actuais líderes? Quais são os métodos que
utilizam para alcançar tais objectivos.

1.6.3. Mudanças de nome e terminologia actual


Desde a sua criação o grupo passou por frequentes mudanças de nome. Durante a
liderança de Abu Mussab al-Zarqawi, a organização foi criada com o nome de Jama’at al-
Tawhid wal-Jihad, para depois ficar conhecida como o Estado Islâmico no Iraque, e por fim,

1
O califado (do árabe ‫خالفة‬, transliterado khilāfa) é a forma islâmica monárquica de governo. Representa a
unidade e liderança política do mundo islâmico. A posição de seu chefe de Estado, o califa, baseia-se na noção
de um sucessor à autoridade política do profeta islâmico Maomé.
21

quando se filiou a al-Qaeda, adoptou o nome de al-Qaeda na Mesopotâmia, ou mais


comumente conhecida como al-Qaeda no Iraque (AQI) (West point, 2014).

Quando Abu Bakr al Baghdadi assume a liderança do grupo, decide


por voltar às origens, seguindo os planos do antigo líder, assim o
grupo volta a se chamar Estado Islâmico no Iraque, com o intuito de
enfatizar a liderança de origem iraquiana. Nessa época as forças
americanas e iraquianas davam ênfase aos líderes estrangeiros do
grupo a fim de deslegitimá-los frente aos seus soldados, na esperança
de que isso fosse fazer com que os sunitas iraquianos abandonassem o
grupo (Alexander, 2015).

Em 2013, o grupo passa por outra mudança, desta vez para al-Dawla al-Islamiya fil-Ira
wal-Sham ou Estado Islâmico do Iraque e da Síria 10, isso devido a expansão do grupo para o
território sírio. Após a sua fusão com uma parte do Jabhat al Nusra, um grupo jihadista 11 sírio
afiliado à Al Qaeda, a organização mudou novamente de nome, passando a se chamar de
Estado Islâmico do Iraque e do Levante (al Sham), sendo muitas vezes referenciado como
ISIL ou ISIS (Napoleoni, 2014).
A última mudança de nome, até o momento, aconteceu em junho de 2014, depois de
várias vitórias do grupo, e sua expansão pelas fronteiras do Iraque e da Síria. No primeiro dia
do Ramadã, o ISIS declara a criação do califado, passando a se chamar apenas Estado
Islâmico. Cada termo corresponde a uma fase da organização e aos grandes desenvolvimentos
e mudanças importantes no decorrer de sua história (Alexander, 2015).

A mídia e os políticos ocidentais usam várias denominações para descrever a


organização armada liderada por al-Baghdadi. Exemplos seriam o governo estadunidense, que
utiliza o acrônimo ISIL, enquanto a mídia estadunidense, como o New York Times prefere o
acrônimo ISIS. No Brasil, alguns órgãos da imprensa optaram por Estado Islâmico (Chacra,
2014).

1.6.4. Um histórico sobre as origens do ISIS

Embora o ISIS tenha chamado mais atenção nos últimos anos, as origens desse grupo
podem ser traçadas desde o final dos anos 1990, no Afeganistão. Seu fundador foi Abu Musab
al-Zarqawi, nascido em 1966 na Jordânia, conhecido por ser uma figura fria e radical. Na sua
juventude foi bastante problemático, largou a escola, se envolveu em diversos crimes, até ser
preso por abuso de drogas e assédio sexual. Ainda preso na Jordânia, foi exposto ao
Salafismo13, em 1989 parte para o Afeganistão com o objectivo de participar da jihad contra
22

os Soviéticos, onde alegam que tenha aprendido técnicas de terror em campos de treinamento
nas fronteiras entre Afeganistão e Paquistão (Alexander, 2015).

Al-Zarqawi retorna para a Jordânia em 1993, onde se junta a outros


antigos membros da jihad, Sheik Abu Muhammad al-Maqdisi14 e
Abu Muntassir Bilah Muhammad, que formam o grupo Jama'at al-
Tawhid wal-Jihad (JTJ) (Organização do Monoteísmo e Jihad), com o
objetivo de retirar a monarquia e estabelecer um Estado Islâmico.
Depois de ser preso em 1994 por porte de armas, foi para a prisão
Sawaqa onde continuou com os ensinamentos jihadistas. Ao ser
liberado pelo programa de anistia do rei Abdullah em 1999, seus
planos para a criação de um Estado Islâmico são descobertos, e assim
foge para o Paquistão, e depois para o Afeganistão. (Alexander,
2015).
Em 2001, após ser ferido em um combate no Afeganistão, al-Zarqawi viaja até o Irã
com 300 soldados, para conseguir ajuda médica. Porém ao ser expulso por autoridades
iranianas, parte para o Iraque onde continua aumentando sua rede, recrutando novos soldados,
criando novas bases, campos de treinamento e esconderijos. Al-Zarqawi tinha interesse no
Iraque, pois achava que ali seria o lugar em que sua sociedade iria crescer e se expandir.

1.6.5. Os objectivos do ISIS

Os objectivos de uma organização geralmente revelam como serão suas ações futuras.
No caso do Estado Islâmico (ISIS), seus objectivos combinados com a metodologia para
alcançá-los são o que o diferencia de outros grupos militantes.
Em abril de 2013, Abu Bakr al-Baghdadi declarou a criação do Estado Islâmico do
Iraque e do Levante (al-Sham), afirmando que o grupo não reconheceria mais fronteiras, e que
seu objectivo era continuar avançando, até a construção de um califado islâmico. Esse era o
objectivo declarado de ISIS: restaurar o "califado" - um estado islâmico sob o governo de uma
comunidade de estudiosos religiosos orientados por um líder supremo, o califa ou Khalifah,
que é geralmente considerado como o sucessor do Profeta Maomé.

1.6.6. Metodologia e recrutamento – como o ISIS opera?


De acordo com a ONU, o ISIS vem praticando uma série de violações de direitos
humanos generalizados e sistemáticas dos tipos mais sérios na Síria e no Iraque, forçando
brutalmente cerca de 8 milhões de pessoas a assimilar, fugir ou enfrentar a morte. O grupo
viola várias normas estipuladas pela segurança humana, pois praticam genocídios, crimes
contra a humanidade, crimes de guerra e ataques generalizados contra a população civil.
23

Essa brutalidade em escala global é destinada a reforçar o monopólio


do grupo na vida política e social dos habitantes do seu território. O
resultado é que os civis que permanecem em áreas controladas por
ISIS vivem em um estado de medo constante e seus alvos são
principalmente grupos religiosos e étnicos no Iraque e na Síria.
Algumas comunidades são forçadas a assimilar, fugir ou enfrentar a
morte. Um exemplo é a violência contra os yazidis, onde foi relato que
homens são separados de mulheres e crianças,depois levados a valas e
brutalmente executados. A crescente capacidade militar do ISIS
também significa a propagação do medo e do terror sobre os civis.
(UN News, 2015).
Tradicionalmente, analistas de organizações que usam o terrorismo têm se concentrado na
única faceta que melhor define essas organizações: a execução da violência. Qualquer foco
sobre como esses grupos também tentaram se engajar na disseminação da propaganda e na
prestação de serviços sociais fica em segundo plano. No entanto, o ISIS conseguiu criar uma
unidade de esforço nas diferentes facetas de suas operações, tornando-o muito mais
semelhante a uma organização insurgente do que estritamente uma organização terrorista.

1.7. Gestão dos deslocados em Cabo Delgado

De acordo com a CIP, (2021, p. 10) de Outubro de 2017 a Fevereiro de 2021 os ataques
armados na província de Cabo Delgado causaram mais de 2500 mortes 2. Para além da forma
brutal como as pessoas foram assassinadas - decapitações e esquartejamentos - o crescente
número de deslocados internos é a face mais visível da guerra de Cabo Delgado que, em
quatro anos, causou uma tragédia humanitária de que não há memória na história do país
desde o fim da guerra civil em 1992. Com o recrudescer dos ataques terroristas no centro e
norte de Cabo Delgado em 20203, a província registou mais a Sul e, especialmente, no maior
centro urbano, Pemba, uma grande avalanche de deslocados internos que atingiu o seu pico no
segundo semestre do ano4.

No total, até Fevereiro de 2021, havia aproximadamente 670 mil pessoas deslocadas da
província, das quais cerca de 570 mil dentro da província, o equivalente a cerca de 25% de
2
ACLED (2021) Cabo Ligado Weekly: 8-14 February. Disponível em: https://acleddata.com/2021/08/10/cabo-
ligado-weekly-8-14-ogaste-2021/ Consultado a 10. Agosto. 2021

3
ACLED (2021) TenConflicts to WorryAboutin 2021-Mozambique-No endinsight for the Cabo Delgado
Insurgency. Disponível em: https://acleddata.
com/2021/08/19/ten-conflicts-to-worry-about-in-2021/#1612195870459-59840c64-a2b4Consultado a 19.
Agosto. 2021

4
CIP (2020) Número de deslocados internos em Moçambique cresceu em cerca de 2 700 % em dois anos.
Disponível em: https://cipmoz.org/2021/10/13/numero-de-deslocados-internos-em-mocambique-cresceu-em-
cerca-de-2-700-em-dois-anos/. Consultado a 13. Agosto. 2021
24

toda a população da província. Embora o deslocamento de civis por causa da guerra tenha
abrandado entre finais de Outubro e início de 20217, o número de deslocados não para de
aumentar. Diariamente mais de 100 pessoas movimentam-se para os distritos considerados
seguros. As acções ofensivas do Governo contra bases ou locais identificados como de
concentração de insurgentes são apontadas como a nova causa de abandono das suas
comunidades pelas populações, mesmo neste período de notável redução dos ataques.

O ataque à vila sede de Palma, ocorrido no dia 24 de Março de 2021 e


que durou por mais de uma semana, criou uma nova onda de
deslocados, elevando para mais de 700 mil o número de pessoas
deslocadas de guerra. O deslocamento interno de civis é um fenómeno
intrínseco à guerra. A violência generalizada e os seus efeitos directos
ou indirectos provocam a fuga de pessoas das suas zonas de origem,
ou local de residência habitual, para lugares mais seguros 5. (CIP,
2021, p. 10)
Os deslocados da guerra de Cabo Delgado são, na sua maioria, oriundos dos distritos
costeiros do centro e norte da província, até então os mais afectadas pelo conflito,
nomeadamente Quissanga, Macomia, Mocímboa da Praia, Palma, e também dos distritos de
Nangade, Muidumbe e Mueda. Nestes distritos, aldeias inteiras foram reduzidas à cinza e
centenas de pessoas decapitadas. Infraestruturas sociais como escolas e postos de saúde
ficaram completamente destruídas. O medo e a instabilidade decorrente dos ataques terroristas
levaram centenas de famílias a fugir para regiões seguras, mais para o sul da província.

Ainda na óptica da CIP, (2021, p. 11) salienta que

Os deslocados estavam desprovidos de apoio do Governo em termos


de resgate e transporte das pessoas das zonas de guerra para áreas
mais seguras, a maioria dos deslocados percorre longas distâncias,
seja através do mar seja por via terrestre, em condições bastante
críticas até chegar aos pontos considerados mais seguros .

A maioria dos deslocados saídos dos distritos de Quissanga, Macomia e Mocímboa da Praia
percorre várias milhas em embarcações precárias e superlotadas para chegar à cidade de
Pemba10. Cada barco, com capacidade para 20 a 30 pessoas, chega a transportar entre 40 a 70
deslocados numa viagem que dura entre três a cinco dias. Alguns deslocados chegam aperder
a vida no meio do percurso vítimas de doença ou naufrágio11. Algumas mulheres grávidas
dão à luz sem assistênciaadequada no meio da viagem. Durante o percurso chega a faltar aos
deslocados o mais básico: água e comida (CIP, 2021, p. 11).
5
CICR (2020) LeDéplacementDurantLesConflitsArmés:
CommentLeDroitInternationalHumanitaireProtègeEnTemps De GuerreetPourquoiC’estImportant. Disponível
em: https://www.icrc.org/fr/publication/displacement-times-armed-conflict-how-international-humanitarian-law-
protects-war-and Consultado em 13. Agosto.2021
25

Na visão do CIP, (2021, p. 11) sustenta que

Por drama semelhante passam outras centenas de deslocados que


fogem dos distritos alvo de ataques por via terrestre. São inúmeros os
casos de famílias inteiras, desde crianças, mulheres até idosos, que
chegam a percorrer dezenas de quilómetros a pé das suas aldeias para
conseguirem um meio de transporte que os leve para os distritos mais
seguros. Os destinos de preferência são os muito mais distantes das
zonas de conflito e aqueles onde os deslocados têm algum familiar ou
conhecido.

O Distrito de Montepuez, que dista a cerca de 200 Km de Pemba, contava com 56 515
deslocados em Fevereiro de 2021, distribuídos em 11 350 famílias. À semelhança de
Ancuabe, a maioria dos deslocados de Montepuez encontra-se a residir na sede do distrito.
Dados fornecidos pelo Director dos Serviços Distritais de Planeamento e Infra-estruturas,
LeonídioVarimelo, indicam que cerca de 70% do total das famílias de deslocados existentes
no distrito estão em famílias de acolhimento. As restantes 30% encontram-se espalhadas por 4
centros/aldeias de reassentamento definitivo, nomeadamente Nicuapa com 2600 famílias,
Macupulo-Sede com 300 famílias, Nanhupo B com com 380 e Ntele com 68 famílias (CIP,
2021, p. 11).

1.7.1. Integração socioeconómica dos deslocados internos em Cabo Delgado

Segundo Feijó, (2020, p. 01) ao longo do último semestre assistiu-se a um


alastramento da acção de insurgentes armados pelo Nordeste de Cabo Delgado, que passaram
a ocupar grande parte dos distritos de Mocímboa da Praia, Macomia, Quissanga, Palma,
Nangade e Muidumbe.
A situação de insegurança despoletou amplos movimentos populacionais na província.
Dados do IOM de Outubro de 2020 registavam 302.210 deslocados internos só em Cabo
Delgado com maior incidência na cidade de Pemba (78.181 deslocados), distritos de Metuge
(38.325), Montepuez (36.000), Ancuabe (31.816) e Mueda (21.387).

Em Montepuez não se verificou a concentração de refugiados em unidades escolares e


respectiva transformação em centros de acolhimento. Montepuez constituiu um local de
trânsito para diversos locais, sendo que muitos deslocados solicitaram, arrendaram ou
adquiriram áreas para residir. O governo local distribuiu bicicletas, vestuário, telefones e
insumos agrícolas a mulheres e outros deslocados, havendo relatos de não abrangidos, assim
como a percepção de que apenas os residentes de algumas aldeias foram beneficiados (Feijó,
2020, p. 01
26

1.7.2. Relação dos deslocados com as populações local

Ainda sustenta Feijó, (2020, p. 04) a chegada repentina de milhares de famílias fugidas
de um conflito armado tem um impacto nos locais de acolhimento. Em primeiro lugar, pela
forte pressão sobre recursos naturais, nomeadamente terrenos, água, estacas para construção
de residências e lenha, forçando as populações a percorrer maiores distâncias.

De acordo com Feijó, (2020, p. 04) enfatiza que

Em diversos locais foram observadas obras do FIPAG de alargamento


da rede de acesso à água de latrinas junto de residências locais,
provocando situações de mal-estar e de tensão, registando-se histórias
de ataques e destruição de latrinas. A realidade é que, nesta situação
de emergência, os “donos da terra” não foram consultados, sentindo-se
ameaçados de perda de terrenos e recursos.
Em segundo lugar, a construção de centros de acolhimentos provisórios em povoados
e sedes de posto administrativo aumenta a densificação populacional. O apoio alimentar
(farinha, arroz e feijão) às populações recém-chegadas gera situações de inveja entre os
“donos da terra”, que não deixam de estar afectadas pela densificação populacional. A
presença de uma grande concentração de deslocados com acesso a bens alimentares é
geradora de oportunidades de negócio para as populações autóctones. O facto de os primeiros
não terem acesso a lenha ou hortícolas despoleta, nos segundos, oportunidades de negócio,
assistindo-se a práticas de troca desigual, onde um balde de farinha ou de arroz é trocado por
um balde igual de folha de feijão ou de abóbora (Feijó, 2020, p. 04).

Em terceiro lugar, são evidentes situações de desconfiança por parte das populações
locais em relação à população deslocada. Em diversos locais, a presença maioritária de
mulheres entre a população deslocada, particularmente evidente em Montepuez, Pemba ou
Namuno, alimenta desconfianças relativamente ao envolvimento dos maridos com os grupos
de insurgentes, (Feijó, 2020, p. 04).

1.7.3. Novos acolhimentos: resolver um problema e criar um novo problema

Na óptica de Feijó, (2020, p. 07) a situação de impasse militar, a impossibilidade de


regresso das populações, no curto prazo, aos seus locais de origem, o início do período de
campanha agrícola e o adivinhar das primeiras chuvas, com risco de inundações e cólera,
pressionam o Governo da província de Cabo Delgado a promover um novo acolhimentos
populacional de centenas de milhares de deslocados nos distritos de Metuge, Ancuabe,
Montepuez e Balama, entre outros.
27

O acolhimento das populações em locais distantes das zonas de conflito, diminuindo a


sua possibilidade de captura por grupos violentos, não deixa de continuar enquadrada numa
estratégia militar. Funcionários do governo e indivíduos deslocados são envolvidos em
serviços voluntários de demarcação do território. Empresários locais são contratados, através
de ajustes directos, para promover o desmatamento da região, contribuindo para a recuperação
de alguns agentes económicos próximos do poder governamental, bastante afectados pela
destruição e pela crise militar nos seus distritos de origem.
Da parte das famílias deslocadas foram registados testemunhos que
apontam para a adopção de estratégias diferenciadas. Diversos
deslocados solicitam um espaço onde pretendem cultivar e produzir,
de forma a melhor se integrarem nos mercados. A possibilidade de
obtenção de um terreno numa área do interior, conjugada com a
tentativa de manutenção de terras nas zonas de origem, não deixa de
constituir uma vantagem para muitos camponeses, assistindo-se a
situações de envio de familiares para vários locais, diversificando o
acesso a recursos (Feijó, 2020, p. 07).

Outros revelam o desejo de regresso ao local de origem, onde abandonaram boas parcelas de
terreno, residências, condições de acesso a recursos naturais (floresta, lenha e carvão, áreas
produtivas ou recursos pesqueiros) e oportunidades de negócio. Entre estes foi evidente um
discurso acerca de um plano oculto de retirar as populações dos seus locais de origem, sem
direito a indemnização.
De qualquer das formas, a experiência histórica permite-nos prever que os
acolhimentos populacionais são geradores de tensões sociais, relacionados com problemas de
acesso a recursos naturais escassos (terras férteis, árvores de fruto, áreas para lenha e carvão,
madeira para construção, ou pasto), com aumento de distâncias percorridas, com conflitos
entre líderes tradicionais (os líderes deslocados perdem a sua capacidade de influência nos
locais de destino), gerando-se tensões entre donos da terra (que assistem ao aumento da
competição e com expectativa de receber rendas) e vientes (despojados dos seus recursos
naturais, económicos e simbólicos). A situação é particularmente sensível para os mais
desfavorecidos, nomeadamente os epothas, indivíduos sem terra e sem direitos políticos e
económicos, dentro das estruturas consuetudinárias.
28

CAPÍTULO II: TRABALHO DE CAMPO ENTRE DESLOCADOS GUERRA


(QUADRO METODOLÓGICO E DESCRIÇÃO DO LOCAL DA PESQUISA)

É na metodologia onde traçamos os passos para testar as hipóteses do estudo, como


também medir o alcance dos objectivos. Desse modo, para o presente trabalho, seguimos a
lógica da pesquisa quanto à natureza, aos objectivos, procedimentos técnicos, a população e
amostra de estudo, sendo que na última fase detalhamos as técnicas de recolha e análise de
dados. E no final fez-se uma breve descrição do local do estudo, (Cidade Municipal de
Montepuez), partindo da localização geográfica, divisão administrativa, aspectos
socioculturais e históricos.

2.1. Quanto ao método da pesquisa

Quanto ao método da pesquisa foi o método de análise situacional, como salienta


Cossa, (2020, p. 02) “que a análise situacional parte de eventos vividos durante qualquer
fenômeno nas comunidades remetendo portanto, a pensar em como articulamos a experiência
vivida e a teoria, ou seja, a teoria e a prática”. Neste caso, esta pesquisa pretendeu-se
analisar os percursos migratórios dos deslocados da guerra e as experiências de vida e a sua
integração nos centros de acolhimento que são situações que ocorrem na em Cabo Delgado.

2.2. Quanto ao tipo de pesquisa

Quanto ao tipo de pesquisa será básica: porque procura objectivar a produção de novos
conhecimentos, úteis para o avanço da ciência, sem uma aplicação prática prevista
inicialmente que envolve verdades e interesses universais. (Lakatos e Marconi, 1995, p.106).
Esta pesquisa foi usada para permitir produzir novos saberes sobre os percursos migratórios
dos deslocados da guerra e as experiências de vida e a sua integração no centro de
acolhimento de Nacaca.

2.3. Quanto a abordagem

Quanto a abordagem, foi usada a análise qualitativa, serviu para a interpretação dos
dados devido a alta compatibilidade de qualificar os aspectos da realidade que este trabalho
analisa sendo assim, com esta pesquisa será usada para entender os motivos, medir
sentimentos e constatar opiniões acerca dos percursos migratórios dos deslocados da guerra e
as experiências de vida e a sua integração nos centros de acolhimemtos de Nacaca.
29

2.4. Quanto ao procedimento

Quanto ao procedimento, a pesquisa foi de campo. Com o intuito de colectar


informações secundárias a partir da interacção e observação dos entrevistados, que constituem
alvo da pesquisa, com objectivo de encontrar respostas para responder a pergunta da pesquisa.

2.5. Técnicas de recolha de Dados

Em relação às técnicas de recolha de dados dizer que, foram conduzidas duas técnicas
para o trabalho de campo, nomeadamente entrevista semi estruturada e a observação directa.
No entanto, foi conduzida a entrevista para os deslocados de guerra do norte de Cabo
Delgado.e o processo de Observação, como salienta Lakatos e Marconi, (1992, p. 90), é “uma
técnica de colecta de dados para conseguir informações e utilizam-se órgão de sentido na
obtenção de determinados aspectos da realidade” portanto, nesta pesquisa a observação foi
feita de acordo os seguintes pormenores:
● As condições de vida na qual encontram-se os deslocados;
● As condições dos centros de acolhimentos; e todo panorama do quotidiano dos
deslocados.

2.6. Universo e a amostra


Segundo dados da OIM, (2021) estima-se que centro de acolhimento de Nacaca tem mais
de 3000 mil deslocados que constituem o universo desta pesquisa (C.p, 2021)6. Quanto
amostra da pesquisa será de 25 deslocados distribuídos em: 5 deslocados de Palma, 5
Macomia, 5 Muidumbe 5 Quisanga e Mocimboa da praia

6
Dados adquiridos com senhor Nelson funcionário na área de DTM registo dos deslocados da OIM.
30

2.7. Descrição do local da pesquisa

2.7.1. Localização Geográfica de Montepuez

Montepuez é um distrito da província de Cabo Delgado, em Moçambique, com sede na


cidade de Montepuez. Tem limite, a Norte com o distrito de Mueda, a Oeste com os distritos
de Marrupa e Mecula da província do Niassa, a Sul com os distritos de, Chiúre, Balama e
Namuno, e a Leste com os distritos de Ancuabe e Meluco.

Montepuez tem uma superfície estimada de 17.721Km2 e dista a 210 Km da capital


provincial, cidade de Pemba, tendo como sede a cidade de Montepuez. A cidade de
Montepuez representa o principal pólo de desenvolvimento da região sul da Província de
Cabo Delgado e é atravessado por dois eixos que estabelecem a ligação entre Pemba e
Namuno e Pemba – Niassa, através do distrito de Marrupa. (MAE, 2005)

Figura 1: Mapa da localização geográfica da cidade Municipal de Montepuez

Fonte: adaptado pelo autor a partir Direcção Provincial de Plano e Finanças de Cabo
Delegado.2019.

2.7.2. Breve historial do distrito de Montepuez

A região de Montepuez antes da colonização Portuguesa, era conhecida por Metto, que
em macua significa “Caminhar ἀ pé”, em memória aos tempos em que o local fora
atravessado pelas rotas comerciais de marfim e escravos.
31

Até 1929, esteve integrado nos territórios da Companhia do Niassa. Com a


extinção da companhia e a reintegração dos seus territórios para
administração directa do Estado, a povoação de Montepuez passa a constituir
a sede da Circunscrição Civil de Metto, de harmonia com a Portaria nº:
182/29, de 14 de Setembro de 1919, a povoação de Montepuez passa a
categoria de Sede de Conselho de Metto (MAE, 2005).

Segundo Chambe, (2021) durante o Estado Novo de Salazar, a partir da política


económica dos colonatos de Limpopo (Gaza), Lioma (Zambézia), vem se adoptando
paralelamente em Montepuez (Cabo Delgado), um forte investimento em grandes obras
públicas e na modernização da região, através de um projecto de colonização agrícola de
feição ruralista, tradicionalista e conservadora. Cada uma destas regiões, tinha segundo
perspectiva colonial, uma cultura agrícola específica, pela qual se esperava uma produção que
impactasse para a economia da metrópole (p. 103).

Mais adiante, o mesmo autor afirma que:

“Montepuez tinha na cultura do algodão, que sempre foi praticada pelas


famílias africanas, a principal actividade, pela qual até finais do século
XIX, a sua produção chegou a atingir as duas toneladas por ano, o que
começava a justificar a sua comercialização. Até às primeiras décadas
do século XX, na área do distrito de Montepuez, o algodão era
adquirido por agentes intermediários (indianos, sobretudo) e pequenos
armazenistas portugueses instalados no mato, para depois ser vendido a
compradores franceses radicados nas ilhas do Índico (Reunião,
Maurícia e Madagáscar), (Chambe, 2021, p. 103-4).

Durante a mobilização da população para a Luta Armada de Libertação Nacional, a


Administração colonial estabeleceu na região de Montepuez, um colonato com agricultores
vindos directamente de Portugal. As populações foram concentradas em aldeamentos junto às
estradas, para facilitar o controlo e oferta de serviços mínimos à mesma.

A Cidade de Montepuez foi elevada a categoria de vila em 1964, em reconhecimento


ao desenvolvimento económico e industrial atingindo com a introdução da cultura de algodão
e, pela implantação das três indústrias importantes, nomeadamente, Marmonte extracção de
Mármore, Lomaco/ Saga descaroçamento de algodão e, a fábrica de Descasque de arroz,
portanto, este desenvolvimento transformou a vila num núcleo urbano de grande valor
económico, passando a categoria da cidade a 8 de Outubro de 1971 (MAE, 2005).

Após a proclamação da Independência Nacional em 1975 a Lei 6/ 78 de 22


de Abril, extinguiu a vila e transformou-a em Câmara Municipal
consequentemente Conselho Executivo Distrital. Pouco depois, a Resolução
nº8/86 de 26 de Julho restabeleceu a vila sendo mais tarde categorizada com
32

o nível D, pela Resolução nº7/87 de 25 de Abril. Em 1994, a Cidade foi


elevada a categoria de Distrito Municipal ao abrigo da Lei 10/97 de 31 de
Maio foi elevada à categoria de Município em 1997 (MAE, 2005).

Em 2009, segundo Chambe, (2016), foram descobertas em Montepuez, as minas de


rubis no Posto Administrativo de Namanhumbir, por caçadores locais. Segundo o autor, as
primeiras comercializações de rubis extraídos industrialmente em Namanhumbir, foram
tornadas públicas em Moçambique em junho de 2014, referindo-se a um leilão de 2,03
milhões de quilates de rubis e corindo bruto, realizado em Singapura. Essa venda, rendeu à
empresa Montepuez Ruby Mining Ltda., da qual a britânica Gemfields detêm 75% de acções,
um total de 33,5 milhões de dólares. Ainda em 2014, no mês de novembro, outro leilão
rendeu 43 milhões de dólares. Em 2015, mais um leilão realizado também em Singapura,
rendeu 29 milhões de dólares à empresa. Os resultados parciais da contínua prospecção falam
ainda de várias áreas de ocorrências dessa “milagrosa pedra”, ainda não exploradas no
Distrito de Namanhumbir.

Estas últimas descobertas de minérios, têm movimentado para o Distrito de


Montepuez, muitas centenas de pessoas, instituições e diversos projectos de investimento, que
devem de certeza, ser considerados como fundamentais para a história do Distrito.

2.7.3. Divisão administrativa da Cidade de Montepuez

Cidade de Montepuez ocupa uma área aproximada de mais de 79 km 2 equivalente (7900


hectares), E tem uma característica urbana diversificada, entre tecido urbanizado, semi-
urbanizado, ocupações espontâneas e áreas semi-rural, Com uma área aproximada de 79 km²
encontra-se administrativamente dividida em 17 bairros, designadamente, Bairro Cimento,
Nacate, Mirige, Napai, Matuto, Niuhula, Mahipa, Matunda, Maviha, N’coripo, Namueto,
Melapane, Nicuapa, Pitimpine, Matico, Nancaramo A, e Nancaramo B. (MAE, 2005, p. 7).

2.7.4. Divisão Político-administrativa da Cidade de Montepuez

Neste local, Governo inclui a liderança tradicional no seu sistema político


administrativo que lhe ajuda a assegurar e representar o poder do Estado ao nível das
comunidades. Nessa perspectiva, os bairros da Cidade de Montepuez, geralmente são
constituídos por seguinte estrutura política tradicional: régulos e secretários do bairro; chefe
de grupos de povoações; presidente e chefes dos bairros e outras personalidades nas
33

comunidades legitimadas pelo seu papel social, cultural, económico e religioso (MAE:2005,
p. 9).

2.7.5. População da cidade de Montepuez

A Cidade de Montepuez, por ter sido composta uma heterogeneidade étnica, é


acompanhada por diversas línguas, desde a língua emakhuwa, chimakonde, kimwani, línguas
faladas em Moçambique e de outras nações estrangeiras. Um caso especial deste ponto do
país é por predominar o uso da língua kiswahili pela população local, fruto de contacto com
os povos do país vizinho de Tanzânia. O Português e o Inglês são as duas línguas que têm
sido usadas para facilitar a comunicação de grande parte da população nos propósitos
comerciais.

A história de Montepuez conta com uma miscigenação étnica desde os


tempos passados, algo que torna este local, centro de diversidade
populacional até hoje. Contudo este fenómeno de heterogeneidade acentuou
se nos últimos anos, devido a recente descoberta de recursos naturais, fonte
de atracção de diversos povos do país e de outras nacionalidades. Apesar
disso o grupo étnico maioritário desta cidade é Macua-Metto. Em seguida os
Makondes, Mwanis, Ngonis que se apresentam em números
significativamente maiores, (MAE, 2005, p. 7).

2.7.6. Principais Características culturais da cidade de Montepuez

Segundo MAE, (2005). Sustenta que em todas localidades da cidade, a composição da


população é heterogénea devido a influência do passado com conforme acima descrito. O
grupo predominante do Distrito reconhecido é Macua-Metto.

Apesar de existirem mais dois grupos étnicos nomeadamente Macondes e Muanis,


predominando a língua Macua com ligeira variação nos postos Administrativos. A língua
portuguesa é falada em todos os Postos Administrativos principalmente pela população da
idade média e jovem. Os ensinamentos étnicos e cívicos são transmitidos de geração para
geração por tradições orais, e pelos mais velhos experientes aos mais novos. (MAE, 2005).

2.7.7. Aspectos religiosos

A religião tradicional de Montepuez é espiritualista, venerando os ancestrais. É


orientada pelo medo e respeito pelas bruxas, pela influência dos curandeiros e feiticeiros que,
determinam o que é sagrado e profano. As religiões predominantes são: Católica, Muçulmana
34

e Protestantes, tais como (União Baptista, Testemunha de Jeová, Nova Aliança, Igreja
Pentecostal Holiness e Assembleia de Deus).

2.7.8. Tabus, Usos e Costumes

As tradições, usos, costumes e tabus são fenómenos que mais marcam o Distrito de
Montepuez como outros pontos da Província, por exemplo: Na Educação, existe um
fenómeno que caracteriza-se em impedir as crianças de frequentarem a escola principalmente
as raparigas quando atingem a idade de 12-14 anos são obrigadas a casarem-se, o que traz
como repercussão de maior desistência das alunas nas escolas. As mulheres grávidas não
devem chupar cana sacarina, porque a criança vai nascer com erupção cutânea. Uma mulher
grávida não deve comer ovo, porque a criança vai nascer sem cabelo. Uma mulher no ciclo
menstrual não deve salgar comida, porque vai causar cárie dentária (MAE, 2005).
35
36

CAPITULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS


RESULTADOS.

Neste capítulo faz-se análise interpretação de dados, onde fez-se o cruzamento de respostas,
Foi elaborado o modelo de análise e interpretação dos dados que proporcionaram a existência
dos seguintes elementos A, B, C, D e E designados como categorias e os entrevistados na
pesquisa, foram codificados com vista a preservar a identidade desses, ou seja, os dados
apresentam os seguintes códigos:

● Categoria A: DDP – Corresponde aos deslocados do distrito de Palma;


● Categoria B: DDMP -Corresponde aos deslocados do distrito de Mocímboa da Praia;
● Categoria C: DDQ – Corresponde aos deslocados do distrito de Quisanga;
● Categoria D: DDMA – Corresponde aos deslocados do distrito de Macomia;
● Categoria E: DDMU – Corresponde aos deslocados do distrito de Muidumbe.

3.1. Os percursos migratórios dos deslocados de guerra acolhidos nos centros de


acolhimento de Nacaca.

Na óptica de Macalane, (2021, p. 18) Desde Outubro de 2017 a 2020, a província de


Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, tem vindo a sofrer ataques terroristas dos
”AlShabaab”. Os ataques iniciaram no distrito de Mocímboa da Praia e expandiram-se para
outros distritos, nomeadamente: Macomia, Quissanga, Muidumbe, Mocimboa da praia, e
Palma.

Uma das inúmeras consequências destes ataques de grupos terroristas são as ondas de
deslocações forçadas da população do norte da província de Cabo delgado para as zonas ditas
seguras como é o caso de Montepuez, como objectivo de mapear os percursos migratórios dos
deslocados de guerra acolhidos nos centros de acolhimento de Nacaca, durante o diálogo com
os deslocados foi pertinente colocarmos a seguinte questão: Há quanto tempo estas aqui em
Montepuez?

Num total de 25 (vinte e cinco) deslocados entrevistados dentre os DDP, DDMP,


DDQ, DDMA e DDMU corresponde a 100%. 15 (quinze) dentre os DDMP, DDQ, e DDMA,
entrevistados correspondentes a 60% responderam de forma afirmativa que já se encontravam
na cidade de Montepuez a mais de dois (2) anos, mas só chegaram ao centro de acolhimento
de Nacaca a 1 ano porque viviam nas casas de familiares e amigos nos bairros da cidade.
37

A mesma questão 10 (dez), dentre os DDP e DDMU entrevistados correspondentes a


40% responderam em unanimidade que chegaram à cidade de Montepuez a 3 meses assim
como nos centro de acolhimento uma vez que logo que chegaram foram encaminhados lá.

Para reforçar a ideia um DDMU (02) disse o seguinte:

(…) Consegue chegar aqui na cidade de Montepuez muito à rasca, a mais menos três
(3) meses, logo que cheguei, não conhecia onde encontrar os meus familiares que já teriam
conseguido chegar aqui antes de me, foi levado aqui no centro como estas a ver ainda não
terminei a minha casinha ali (C, p, 2021)7

Com estas respostas pode concluir que o centro de acolhimento de Nacaca está em
constante acomodação, é possível encontrar deslocados oriundos de todos os distritos que
estão a ser fustigadas pelas atrocidades dos terroristas, e esta prontidão dos centros é muito
importante uma vez que os deslocados chegam a Montepuez sem direcção e nem lugar para
passar a noite, torna-se interessante a ideia de deixar os centros de acomodação preparados
para a qualquer estante acolher as populações vítimas de ataques terroristas na região norte de
cabo Delgado.

A par das constatações acima descritas, procurou-se saber no seio dos deslocados o
seguinte Como iniciou os ataques lá no distrito onde viviam antigamente?

Num total de 25 entrevistados dentre os DDMP DDP, DDQ, DDMA, e DDMU


correspondente a 100%. 5 (cinco) DDMP correspondentes a 20% responderam de forma
unânime que a guerra iniciou num momento muito estranho foi dia 4 de Outubro tudo esta
calmo, toadas as pessoas de estão a exercer as suas actividades rotineiras, mas tudo mudou
partir das 12horas, troca de tiros, pessoas sendo baleadas nas ruas, viaturas sendo queimados
por pessoas mascaradas.

Para reforçar um DDMP (01) disse que

(…) Foi o primeiro dia de muita tristeza na minha vida, as coisas estavam muito
calmas naquele dia em Mocímboa, os mercados, lojas, instituições, estavam abertas, a vila
estava muito movimentada como sempre as pessoas a fazerem os seus afazeres, mas após a
oração 12h dos muçulmanos aí foi onde tudo começou apareceram indivíduos mascarados
com armas de grande magnitude começaram a tirar para na polícia e no quartel e a

7
Informações adquiridas através da entrevista com os deslocados no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
38

população que estava perto destas instituições não safaram, verificou-se troca de tiros entre
a polícia e os insurgentes o dia todo, tivemos que se refugiar nas matas, desde aquele dia até
hoje a minha vida foi destruída. Dali não ficamos mais seguros começaram atacar cada vez
mais de noite de madrugada, passavam nas casas escolher raparigas e mulheres levavam
com eles os homens eram cortados pescoços com catanas, os que tinham sorte conseguiam
fugir ou eram levados para ir com eles (C, p, 2021)8

A mesma questão 5 (cinco) DDQ, correspondente a 20% responderam de forma


afirmativa que em Quissanga todo iniciou de madrugada do dia 26 de Janeiro de 2018,
quando as pessoa estavam a dormir, quase ninguém percebeu de onde vieram, iniciaram
atacar os postos policiais e depois começaram a queimar as casas da população.

Sendo assim um DDQ (03) conta com mais detalhes o seguinte:

(…) No Distrito de Quisanga, pela primeiramente chegaram na localidade de


Namaluco, aldeia onde mataram três pessoas dentre essas pessoas mortas estava chamado
῞Pacaia Mamudo9, o velho Mussa Saide e Momande Nikoma῞, e voltaram novamente na
Aldeia de Nancaramo e no 26 de Janeiro na subiram para a localidade de Cagembe, desta
feita vez tinham vindo muito forte com cerca de 35 homens armados e essa fez não havia nem
brincadeiras andarão a nos perseguir no mato cerca de 2km, passamos mal de chuva, sede,
fome, espinhos, estacas e dormimos 3 dias, o quarto dia foi o dia que saíram por ai 15horas
no dia 28 de Janeiro 2020 (C, p, 2021)10

Ainda sobre Quisanga um DDQ (04) foi mas longe dizendo o seguinte:

(…) Naquela madrugada de sexta-feira, eu me encontrava na Praia ia atracar os


meus barcos porque eu era pescador, acabávamos de regressar do alto mar onde iríamos
pescar quando deixávamos os barcos na praia de repente começamos ouvir gritos de pessoas
e armas na zona alta de Quissanga onde tinha as instituições eu e os meus colegas sairmos a
correr para as nossas casas tentar acordar as nossas famílias, dai, os al-shabab já estavam
no nosso bairro a queimarem as casas, consegue chegar na minha casa, levei os meus filhos e
minha mulher corrermos para a mata, pelo caminho lhes encontramos pela frente onde

8
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMP no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
9
Antigo chefe da localida de Namaluco, aldeia do Distrito de Quisanga
10
Informações adquiridas através da entrevista com os DDQ no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
39

capturaram a minha esposa e minha filha de 13 anos, eu consegue escapar com 2 filhos e
desde ali até hoje nunca mais vi a minha família (c,p,2021)11

Ainda com a mesma questão 5 (cinco) DDMA, entrevistados correspondem a 20%


responderam de forma unânime que os ataques iniciaram no período de noite nas aldeias
circunvizinhas de posto administrativo de Chai, e chegaram até em Chai. Onde permaneceram
por 4 dias, a queimar as casas, a matar e esquartejar os homens que não aceitavam integrar as
suas fileiras. Neste momento muitas populações encontravam-se nas matas a procura de
refúgio enquanto algumas as coisas para conseguir chegar nas zonas seguras.

Segundo o chefe dos DDMA (01) disse que:

(…) É muito triste o que está acontecer na nossa terra, muitos de nós nascemos e
crescemos em Macomia, fizemos a nossa vida lá, deixamos para trás as nossas casas, nossos
bens e todo que tinham inclusive as nossas famílias, porque muitos de nos perdemos
familiares que não soubemos se estão vivos ou estão mortos, aqueles homens armados com
armas, catanas, facas, e machados quando entram nas aldeias em Macomia, não escolhiam
matam todos e tudo que viam atiravam até abatiam os animais, raptaram muitas mulheres e
jovens (c, p, 2021)12

Após disso foram também entrevistados 5 (cinco) DDMU correspondente a 20%


responderam de forma afirmativa que no distrito de Muiduinbe os insurgentes começaram
numa madrugada na aldeia de Muatide e foram, após atacarem várias aldeias foi quando
entraram na vila sede do distrito em 2020 pelas 07horas da manhã; foi respondido pela força
local composto por antigos combatentes Macondes da guerra de libertação nacional onde
foram abatidos muitos insurgentes.

Para reforçar um DDMU (01) foi mais além e disse o seguinte:

(…) Antigamente quando ouvíamos que em Mocimboa estão atacar por Al-shabaab
pensávamos que fosse brincadeira, mas quando começaram atacar aldeias do distrito de
Muidumbe todas as pessoas ficaram atentos e começamos a dormir nas matas de noite e
quando amanhecia voltamos a vila, um dia foi por volta das 07horas após todos voltarem das
matas, pareceram homens armados na vila começaram a destruir as infra-estruturas do

11
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMP no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
12
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMA no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
40

governo, as casas melhoradas, barracas, em respostas os antigos combatentes começaram a


responder porque alguns tinham armas e conseguiram abater vários insurgentes na vila, nos
já teriam corrido para as matas e ficamos durante 6 dias antes dos Al-shabaab saírem,
quando saíram voltamos na vila podíamos corpos de pessoas portas com catanas e armas (C,
p, 2021).13

Após disso, ainda com a mesma questão foram entrevistados 5 (cinco) DDP
correspondentes a 20% responderam de forma unânime que o distrito de Palma já vinha sendo
atacado desde 2017 nas aldeias próximas de Mocímboa e Nangade, mas ainda não teriam sido
atacada a vila mas após a do ataque da vila de Mocímboa as populações não estavam muito
seguras, nas aldeias várias pessoas dormiam nas matas para prevenir a fuga no momento de
qualquer ataque.

Par disso, para incrementar as informações acima descritas um DDP (05), disse que

O ataque a vila de palma ocorreu no dia 24 de Março de ano corrente, os Al-shabaab


apareceram as 09horas de repente ninguém sabia para que lados saiam você lhes via em
todas direcções, muitas pessoas morreram porque eles vinham para matar, queimaram casas,
carros, instituições, não deixaram nada em plena luz do dia, muitas populações fugiram para
as matas outras afogaram-se no mar na tentativa de nadar para as ilhas vizinhas, outras
fugiram para o acampamento de afungi para pedir ajuda aos militares que guarneciam lá,
aquilo foi sentimental, para chegar aqui não foi fácil andei 22 dias nas matas morreram
muita eu salve por pouco foi Deus e mais ninguém, ai não havia maneira de ver e levar seu
filho, sua mãe, muitas pessoas idosas foram deixadas lá. (C, p, 2021)14

13
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMU no centro de acolhimento de Nacaca, 2021

14
Informações adquiridas através da entrevista com os DDP no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
41

Gráfico 1. Ilustrando o momento do início dos ataques nos Distritos.

50%
50%
45%
40%
35%
30%
25% 25%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Desde 2017 sofriam
ataque Desde em 2018 fomos
atacados Partindo de 2021
atacaram

Como podemos ver com as constatações acima, com estas respostas podemos concluir
que os ataques na zona norte da província de cabo delgado constituem uma realidade, os
deslocados que conseguiram chegar nos centros acolhimento de Nacaca contam as suas
experiências no momento que começaram a verificar-se os ataques nas suas zonas de origem,
podemos verificar o clamor desta camada social que deixaram tudo quanto tinham queimados
por Al-shabaab, isso permite-nos simpatizar com a ideia de acolher e poder dar uma mão de
conforto, e é importante que se estabeleça de apoio psicológicos para apoiar a saúde mental
das populações deslocadas.

Par disso, ainda como objectivo de mapear os percursos migratórios dos deslocados de
guerra acolhidos nos centros de acolhimento de Nacaca, durante o diálogo com os deslocados
foi pertinente colocarmos a seguinte questão: Como chegou em Montepuez ou seja onde
passou até chegar em Montepuez?

Onde num total de 25 entrevistados correspondente a 100% dentre os DDMP, DDQ,


DDMA, DDMUe DDP. 5 (cinco) DDMP entrevistados correspondentes a 20% responderam
de forma unânime que utilizaram vários caminhos para conseguir sair das zonas atacadas um
dos caminhos mais usados foi a deslocação para a vila de awasse, e depois foram em direcção
a vila de moeda e de lá conseguiram o transporte para a cidade de Montepuez.

Para reforçar a ideia um ideia um DDMP (03) disse o seguinte


42

(…) Quando estás a fugir de forma descontrolada e difícil saberes por onde vai ou de
onde sai, mas muitos de nós para conseguir sair de Mocímboa da Praia saíramos no
momento que os ataques baixavam assim tínhamos a oportunidade de sair pela via de aldeia
Awasse depois procuramos carros que vão até a vila de Mueda, chegando a Mueda ainda
não nos sentíamos seguros procuramos carros para o distrito de Montepuez. (C,p, 2021)15

A mesma questão 5 (cinco) DDQ correspondentes a 20% responderam de forma


afirmativa que conseguiram sair do distrito de Quissanga no momento dos ataques em varias
direcções unssaíram a direcção da sede do distrito deslocando para ilha de Quirimba para
apanhar a via marítima para ir até Pemba, outros passaram por via do distrito de Macomia,
outros passaram por via do posto administrativo de Bilibiza.

Sendo assim um DDQ (02) foi mais longe explicando o seguinte

(…) No momento que estávamos em fuga durante a mata começavam haver


separações dos caminhos com a ideia de forma rápida chegar a outras aldeias com para
poder pedir ajuda, nessas separações uns iam para a via do posto administrativo de Bilibiza,
outros recorriam a via principal para entrada da localidade de Nacate que é a via que
permite a deslocação para outros distritos como Ancuabe, Meluco, Chiúre e outros no meu
caso recorre para a cidade de Montepuez (C, p, 2021).16

A mesma questão também foi colocada a 5 (cinco) DDMA correspondente a 20%


responderam de forma unânime para chegar na cidade de Montepuez não foi fáceis muitos
tiveram que passar pela mata, mais dos deslocados que chegaram a Montepuez passaram pela
aldeia de Natuco e depois caminharam para Martins nas extremidades do rio Montepuez, onde
conseguiram carro para chegar até a cidade de Montepuez.

Prosseguindo foram entrevistados 5 (cinco) DDMU correspondente a 20% onde


responderam de forma a afirmativa que os ataques em Muidumbe eram feitos em poucos
horas e os Al-shabaab saíram então a população apenas fugia para o mato e depois
regressavam, Mas a vez que atacaram a vila sede, tiveram que fugir pela mata até a localidade
de Menguelewa, onde saíram pela mata até aldeia de Muatide, tiveram que sair para a
localidade de Miteda onde conseguiram transporte para a vila de sede de Mueda, por sua vez

15
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMP no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
16
Informações adquiridas através da entrevista com os DDQ no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
43

em conseguiram um apoio em valores monetários para pagar a viatura que lhes levou até a
cidade Montepuez, após vários meses nos bairros da cidade de Montepuez, foram
encaminhados ao centro de acolhimento de Nacaca.

Par disso, um DDMU (04), foi mais além explicando que

(…) Nasce e cresce em Muidumbe mas não sabia que existia tanta mata assim, mas de
forma desesperada e sem reparar atrás tive que fugir para uma direcção que nem conhece
por onde iriam parar, naquele dia parte da vila sede de Muidumbe pela mata ate aldeia
Muatide, onde encontre com os outros que também estão a fugir ainda pela mata
conseguimos chegar até aldeia de Mitenda onde existem um contingente militar das FDS,
onde fomos acolhidos e conseguimos um carro que ia a direcção da vila sede de Mueda,
chegando em Mueda ficamos três (3) dias a espera de carro porque estão muito cheio não
esta fácil conseguir e o quarto dia conseguimos e deslocamos para Montepuez (C, p, 2021).17

Ainda a mesma questão foi colocada aos 5 (cinco) DDP, corresponde a 20% onde
responderam de forma unânime que para chegar a cidade de Montepuez, primeiro tiveram que
fugir pela mata até ao acampamento de Afungi, onde forma socorridos pelos militares e de lá,
ficaram um dia e conseguiram um navio que veio evacuar a população para a cidade de
Pemba, depois de dias a viverem na Praia de Paquitequete na cidade de Pemba foram
evacuados para o centro de acolhimento de Nacaca em Montepuez.

Para reforçar a ideia um DDP (05) foi mais longe e disse que

(…) Quando consegue sair na vila sede corre em direcção ao hotel Amarula porque
no momento era antes de chegarem lá 10min depois já tinham cercado o hotel e tive que sair
pelas manilhas que escoavam as águas estagnadas para fora, dai tive que fugir em direcção a
praia onde de repente 6 homens dos Al-shabaab estão a vir mataram 4 pessoas e quando
chegamos a praia encontramos uma embarcação e subimos por volta de 15 pessoas e
remamos os barcos para os mangais e os homens dos al-shabaab quando chegaram a praia
encontraram algumas pessoas que estão a tentar nadar e deram tiros nas pessoas, e nos
tivemos escondido nos mangais e quando saíram voltamos a remar até as 18h onde fomos
encontrados com FDS que estão a patrulhar no mar e nos param e falamos que estamos a
fugir dai vasculharam o barco e quando viram que tinha crianças e mulheres nos levaram

17
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMU no centro de acolhimentode Nacaca, 2021
44

para o barco de evacuação e saímos no dia seguinte em direcção a Pemba, uma semana
depois fomos levados para aqui em Nacaca (C, p, 2021).18

Gráfico 2: ilustrando percursos migratórios

percursos migratorios

5. DDMP, responderam que sairam de mocimboa para


Awasse de la foram a Mueda depois sairam para
Montepuez

5. DDQ, responderam que sairam de quisanga para ilha


25% 25% de quirimba via martima para Pemba.

5. DDMU, responderam que sairam da vila sede para


Motide e de la partira para miteda, depois para Mueda
onde sairam para Montpuez.
25% 25%
5.DDP, responderam que sairam para afungi e depois
sairam de barco para pemba, onde sairam para
Montepuz.

Autora, (2021)

Com as respostas acima descritas podemos concluir que os deslocados procuraram vários
caminhos para poderem se safar dos ataques perpetuados pelos homens dos Al-shabaab na
região norte da província de Cabo delgado. Pode-se verificar que os deslocados dos distritos
de Muidumbe, Mocimboa da praia e uma parte de Macomia, usaram o distrito de Mueda
como ponde de ligação entre a zona norte e a zona sul de cabo delgado onde existem
condições mínimas de segurança contra os ataques do grupo extremista Al-shabaab, a maior
parte dos deslocados que conseguiram chegar a cidade de Montepuez vieram das regiões do
planalto de Mueda.

3.2. As histórias de vida dos deslocados de guerra nos centros de acolhimentos de


Nacaca.

Na óptica de Feijó (2020:10) o acolhimento das populações em locais distantes das


zonas de conflito, diminuindo a sua possibilidade de captura por grupos violentos, não deixa
de continuar enquadrada numa estratégia militar. Neste contexto como objectivo de descrever
as histórias de vida dos deslocados de guerra nos centros de acolhimento de Nacaca foram
18
Informações adquiridas através da entrevista com os DDMU no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
45

questionados o seguinte: Como tem sido a vida aqui no centro de acolhimentos de


Nacaca?

No total de 25 (vinte e cinco) entrevistados dentre os DDMP, DDQ, DDMA, DDMU e


DDP correspondente a 100%. Onde 14 (catorze) entrevistados dentre os DDMP, DDP e
DDQcorrespondente a 65% responderam de forma unânime que a vida no centro de
acolhimento não tem sido muito satisfatória comparando as suas vidas de antes nas suas terras
de origem.

Para reforçar este raciocínio um DDMP (03) foi mais longe a firmando o seguinte:

(…) A vida aqui não esta fácil, a guerra nos obrigou a deixar nossos bens, nossa vida,
nossas casas, aqui dormi-mos no chão, nos cobrimos com lunas, comemos de migalhas
oferecidos por outros, nas sabemos onde encontrar emprego, vivemos nas cabanas que
parecem casas de banhos, e até espaço colocar a cabana outros tiveram que comparar por
um valor de 3.000mt, esse valor nos vamos apanhar aonde! Só para ver lá em Mocimboa eu
era pescador tinha meus barcos aqui vou pescar aonde! Mesmo como apoios que tempos
recebidos não temos como ser como éramos antes (c,p, 2021)19

A mesma questão foi colocada a 11 (onze) entrevistados dentre os DDMA e DDMU


correspondentes a 35%, onde responderam de forma unânime que a vida no centro de
reassentamento esta normal nestes últimos dias uma vez que tem recebido apoio, quer
alimentar e vestuários e já foram atribuídos machambas para produzirem os seus produtos.

Figura: 1: Ilustrando as residências nos centros de acolhimentos

Fo
nte: (Autora, 2021)

19
Informações adquiridas no processo de entrevista dos DDMP no centro de acolhimento de nacaca, 2021
46

Gráfico 2: ilustrando a vida nos centros de acolhimentos

como tem sido a vida nos centros de acolhimentos?

35%
14, DDMP, DDQ, DDP, responderam que a
vida esta dificil nos centros de acolhimento.
11, DDMA e DDMU, responderam que esta
normal nos centros de acolhimentos.
65%

Fo
nte: (Autora, 2021

Com as respostas acima pode-se concluir que as vidas nos centros de acolhimentos não
são das melhores, os deslocados vivem sem condições dignas, residem em cabanas que não
são fortes não puderam resistir o tempo chuvoso que se avizinha. Apesar de receberam apoio
alimentar hoje que no será para sempre, é importante reflectir em adopção de novas formas de
apoiar de modo que permita que de forma particular consigam auto-sustento para preparar-se
para os futuros momentos com o cancelamento do apoio alimentar.

3.3. As vivências e as formas de integração dos deslocados de guerra na comunidade de


Nacaca.

Na perspectiva de Feijó (2020:07) de qualquer das formas, a experiência histórica


permite-nos prever que os centros de acolhimentos populacionais são geradores de tensões
sociais, relacionados com problemas de acesso a recursos naturais escassos (terras férteis,
árvores de fruto, áreas para lenha e carvão, madeira para construção, ou pasto). Neste
contexto com objectivo de explicar as vivências e as formas de integração dos deslocados de
guerra na comunidade de Nacaca, foi colocada a seguinte questão: Como acontece a vossa
integração nos centros de acolhimentos?

No total de 25 (vinte e cinco) entrevistados dentre os DDMP, DDQ,DDMA,DDMU, e


DDP correspondentes a 100% foram unânimes em responder que o processo de integração é
muito difícil antes da chegada nos centros de acolhimentos de Nacaca primeiro passaram por
47

uma investigação por parte das autoridades policiais, e quando chegaram ao centro de Nacaca
também foram investigados pelas autoridades locais e para serem atribuídas as respectivas
léguas tiveram que pagar 200 meticais é assim que acontece a integração.

Para reforçar a ideia um DDMA (02) foi mais além afirmando o seguinte

(…) Quando chegamos em Nacaca após sermos investigados, constatamos que os


deslocados foram distribuídos em léguas por isso existem 5 (cinco) léguas. De Mocimboa,
Macomia, Quissanga Muidumbe e Palma, cada deslocado vive na sua respectiva légua, e
para integramos nessas léguas pagamos um valor que varia entre 200 a 300mt, também após
estar integrado na légua para adquirir terreno ouvimos que precisa ter dinheiro que varia de
2000 a 3000mt, uma pessoa que não tem este valor vive nas cabanas (c, p, 2021).20

Figura: 3: (Ilustrando cabanas onde residem deslocados sem terreno)

Fonte
: (Autora, 2021)

Como pode notar que o processo de integração dos deslocados no centro de


acolhimento de Nacaca não é dos melhores. Primeiro a pergunta que não quer calar é a
seguinte como uma pessoa que abandonou os seus bens, sua família na sua totalidade de
forma forçada que para chegar ao centro de Nacaca passou duras consequências, foram dias
sem comer, sem dormir e a fugir a sua própria sorte a procura de apoio e segurança, chegando
ao local dito seguro é “cobrado valores” onde vai adquirir valores para efectuar esses
pagamentos? E para onde este valor é destinado? Podemos notar que existem ainda vários
deslocados quevivem nas léguas mas sem espaço próprio através de falta de pagamentos
obscuros. É importante que as autoridades competentes na gestão dos deslocados criem
20
Informações adquiridas no processo de entrevista aos DDMA no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
48

equipas competentes com objectivo de garantir a integração digna dos deslocados no centro
de acolhimento de Nacaca.

A par disso, ainda com objectivo de explicar as vivências e as formas de integração


dos deslocados de guerra na comunidade de Nacaca, durante o diálogo com os deslocados foi
questionado o seguinte: Qual é a relação que tem com os nativos?

No total de 25 (vinte e cinco) entrevistado entre DDP, DDMP, DDMA, DDMU e


DDQ correspondente a 100%. 15 (quinze) entrevistados DDMP, DDP, e DDQ
correspondentes 75% responderam que não tem uma relação muito boa com os nativos porque
as suas mulheres quando vão a procura de água são proibidos ou cartam depois dos nativos, o
mesmo acontece quando vão a procura de lenha e capim são arrancados as foices, as catanas
pelos nativos.

Para reforçar a ideia um DDQ (03) foi mais longe dizendo o seguinte

(…) A relação que temos com os nativos não é boa principalmente para nós que não
conseguimos falar a língua macua, que falamos Kimwane, nos mulheres que chegamos aqui
sem marido somos acusadas que os maridos são os malfeitores por isso ficaram com os al-
shabaab, quando vamos no poço tirar água que quando estamos na frente bastar vir um
nativo temos que tirar a nossa bacia antes de encher e lhe ceder o espaço para elas tirarem,
quando passamos pelo caminhos costumam nos a rir porque não vestimos boas capulanas (c,
p, 2021)21

A mesma questão 10 (dez) entrevistada dentre DDMA e DDMU entrevistados


correspondentes a 25%, responderam de forma afirmativa que têm uma boa relação com os
nativos principalmente com os homens tem partilhados os seus utensílios com eles como é o
caso de catanas e machados para ajudar a cortar troncos para fazer carvão para vender.

Com as respostas a cima podemos concluir que existem uma distinção nas relações
social no centro de acolhimento de Nacaca entre os nativos e os deslocados, nota-se que os
deslocados que tem domínio da língua Emakhua e Shimaconde tem as coisas mais fáceis em
relação aos que falam a língua Kimwane, isso explica-se porque Montepuez a língua que mais
é falada e macua na sua maioria mas também existem um número considerável que fala
shimakonde o que facilita para os deslocados que vem nas regiões destas língua, e outra razão
é as zonas que fala-se a língua Kimwane geralmente são zonas costeiras estes deslocados por
21
Informações adquirida no processo de entrevista com os DDQ no centro de acolhimentos de Nacaca, 2021
49

não compreender a língua e as práticas nas zonas do interior torna difícil se encaixarem
facilmente às novas realidades do interior.

Ainda como objectivo de explicar as vivências e as formas de integração dos


deslocados de guerra na comunidade de Nacaca, durante o diálogo com os deslocados foi
questionado o seguinte: Tem recebido algum tipo de apoio?

No total de 25 (vinte e cinco) entrevistado entre DDP, DDMP, DDMA, DDMU e


DDQ correspondente a 100% responderam de forma unânime que têm recebido apoios
alimentares pelas ONG’s e o governo, têm recebido arroz, óleo, insumos agrícolas, milho, e
kits de dignidade feminina, nos centros de acolhimentos.

Sendo assim, um DDMU (05) disse que (…) Nós desde que chegamos aqui na cidade
de Montepuez temos recebido apoios, primeiro recebiam comida nos bairros da cidade mas
os secretários do bairro em vez de nos dar, davam os seus familiar, depois de serem
descobertos passaram a distribuir cheques para levantar a comida nas lojas mas mesmo
assim era muito arriscado para você conseguir comida não era fácil porque ficava muito
cheio, e não eram qualquer loja que você devia levar comida e muitas pessoas que recebiam
cheques não eram deslocados, dai e quando nos mandaram sair da cidade para nos centros
porque comida só iria receber aquele que já esta no centro de acolhimentos dai começamos a
receber aqui mesmo (c, p, 2021)22

Com as respostas acima podemos concluir que os deslocados têm recebido apoio por
parte de organizações humanitárias e governo, principalmente em alimentação e tendas para
construção dos seus abrigos temporários, isso representa uma acção benéfica uma vez que
pelo menos têm o que comer em cada amanhecer, mais ainda carecem a realização de várias
acções que culminou com a integração efectiva das comunidades deslocadas de modo que se
sintam seguros e com vontade de recomeçar e se reinventar no novo habitat.

Após as constatações a cima ainda como objectivo de como objectivo de explicar as


vivências e as formas de integração dos deslocados de guerra na comunidade de Nacaca,
durante o diálogo com os deslocados foi questionado o seguinte: O que deve ser feito para
melhorar a vida aqui no centro de acolhimento de Nacaca?

22
Informações adquirida no processo de entrevista com os DDMU no centro de acolhimento de Nacaca, 2021
50

No total de 25 (vinte e cinco) entrevistado entre DDP, DDMP, DDMA, DDMU e


DDQ correspondente a 100% responderam de forma afirmativa que o que deve ser feito para
melhorar a vida no centro de acolhimento de Nacaca devem construir uma escola para as
crianças deslocadas poderem frequentar, o abastecimento da corrente eléctrica seria algo
muito importantes porque nas noites fica muito escuro, instalação de um posto de saúde
permanente, isso se existe-se poderia melhor as suas condições de vida.

Com as respostas podemos concluir que os deslocados carecem de necessidades


básicas com garantia de saúde, educação, e saneamento do ambiente, assim como a corrente
eléctrica que é algo muito fundamental para a recuperação e a construção de um novo lar
digno. É importante que as autoridades competentes criem mecanismos de garantia de acesso
dos serviços públicos essenciais aos deslocados de modo que estes se sintam acolhidos, e
também é essencial a criação de uma equipa de sensibilização de apoio psicossocial de modo
que existam condições de atrasar a manifestação de traumas devido as acções que passaram e
viram no momento dos ataques dos terroristas designados por Al-shabaab.

4. Apresentação e a validação das Hipóteses

Foram por média duas (2) hipóteses que a pesquisadora procurou confirmar e durante o
percurso de análise e interpretação de dados colhidos no terreno, destas:H1: As experiências
dos deslocados nos centros de acolhimentos não têm sido das melhores, provavelmente
porque o apoio recebido pelo governo e organizações humanitárias, não os permitem
recomeçar suas vidas com dignidade. Através da pesquisa empírica, com base nas hipóteses
nisso, foi possível verificar que a vida no centro de acolhimento de Nacaca não tem sido
muito satisfatória comparando as suas vidas de antes nas suas terras de origem dos deslocados
mesmo com os apoios que tem recebido não é conseguirem viver condignamente.Com esta
constatação fica completamente aprovada hipótese 1.

H2: A integração dos deslocados nos bairros onde fixam residências definitivas na cidade
de Montepuez, presumivelmente tem sido marcada por desconfianças entre os estabelecidos,
sob suspeita de integrarem elementos dos grupos terroristas. De igual modo constatou-se que
os deslocados não tem relação com os nativos porque as mulheres que chegaram sem maridos
são desconfiados serem esposas de insurgentes principalmente aquelas que falam a língua
Kimwane, isso faz com que sejam isolas até arrancadas os seus pertences quando vão a
procura de água e lenha para confeccionar os seus alimentos. Com essa constatação fica
51

aprovada a hipótese 2 uma vez que sem 100% dos entrevistados afirmaram as constatações
acima.
52

Conclusão

Chegando no apogeu deste estudo os resultados ancorados revelam que o centro de


acolhimentos de Nacaca esta em constante acomodação, é possível encontrar deslocados
oriundos de todos os distritos que estão a ser fustigadas pelas atrocidades dos terroristas, e
esta prontidão dos centros é muito importante uma vez que os deslocados chegam a
Montepuez sem direcção e nem lugar para passar a noite, torna-se interessante a ideia de
deixar os centros de acomodação preparados para a qualquer estante acolher as populações
vítimas de ataques terroristas. De igual modo, constatou-se que os deslocados procuraram
vários caminhos para poderem se safar dos ataques perpetuados pelos homens dos Al-shabaab
na região norte da província de Cabo delgado. Pode-se verificar que os deslocados dos
distritos de Muidumbe, Mocimboa da praia e uma parte de Macomia, usaram o distrito de
Mueda como ponte de ligação entre a zona norte e a zona sul de Cabo Delgado onde existem
condições mínimas de segurança contra os ataques do grupo extremista Al-shabaab, a maior
parte dos deslocados que conseguiram chegar a cidade de Montepuez vieram das regiões do
planalto de Mueda.
Sendo assim, notou-se que as experiencias de vidas nos centros de acolhimentos não
são das melhores, os deslocados vivem sem condições dignas, residem em cabanas que não
são fortes e possivelmente não resistiram o tempo chuvoso que se avizinha. Primeiro, a
pergunta que não quer calar é a seguinte como uma pessoa que abandonou os seus bens, sua
família na sua totalidade, de forma forçada que para chegar ao centro de Nacaca passou duras
consequências, foram dias sem comer, sem dormir e a fugir a sua própria sorte a procura de
apoio e segurança, chegando ao local dito seguro é “cobrado valores” onde vai adquirir
valores para efectuar esses pagamentos? E para onde este valor é destinado.
Para terminar, os deslocados carecem de necessidades básicas com garantia de saúde,
educação, e saneamento do ambiente, assim como a corrente eléctrica que é algo muito
fundamental para a recuperação e a construção de um novo lar digno. É importante que as
autoridades competentes criem mecanismos de garantia de acesso dos serviços públicos
essenciais aos deslocados de modo que estes se sintam acolhidos, e também é essencial a
criação de uma equipa de sensibilização de apoio psicossocial de modo que existam condições
de atrasar a manifestação de traumas devido as acções que passaram e viram no momento dos
ataques dos terroristas designados por Al-shabaab.
Ao caminhar com pesquisa, enfrentou-se as seguintes limitações:
● Inacessibilidades de documentos escritos acerca do tema;
53

● Inacessibilidade de documentos de registos dos deslocados no centro de acolhimentos


de Nacaca.
● Indisponibilidade de alguns entrevistados de falarem sobre o tema uma vez que
desperta muitas lembranças não agradáveis.
No que toca as limitações enfrentadas na realização desta pesquisa abri espaço para
acolher outras pesquisas a fim de apurar mais informações que possibilitem viabilizar o
estudo recomenda-se (aos estudantes meus pares, pesquisadores, analistas de projectos de
desenvolvimento e outros) uma nova pesquisa desta parte do trabalho com objectivo de
angariar mas informações autênticas sobre os deslocados de guerra de Cabo Delgado:
percursos migratórios, vivências nos centros de acolhimentos e integração social em
Montepuez, 2020-2021.
Aos estudantes meus pares, pesquisadores, analistas de projectos de desenvolvimento
sugiro o seguinte:
● Elaboração de mais estudos sobre esta temática de modo que traga possíveis soluções
para o provimento de serviços básicos para garantir o processo de integração dos
deslocados na zona norte de Cabo Delgado;
De modo que os deslocados se sintam acolhidos e seguros e necessário que os nativos
façam o seguinte:

● Acolher os deslocados como irmãos que foram forçados a fugir para Nacaca;
● Ensinar aos deslocados as boas maneiras aceites nesta comunidade onde se encontram
para não ferir a sensibilidades dos nativos;
● Conviver com os deslocados de forma digna de modo que sintam acolhidos;
● Fiscalizar se não existem insurgentes infiltrados aos deslocados;
● Informar as autoridades competentes quaisquer comportamento anormal por parte dos
deslocados.

Para começar novamente é sempre difícil, para isso os deslocados devem:


● Pautar pelo uso racional dos serviços públicos existentes no centro de acolhimento
para aproveitar o máximo tempo possível dos bens;
● Racionalizar os apoios que têm recebido com as organizações humanitárias;
● Não envolver-se em conflito com os nativos:
● Cooperar com as autoridades competentes caso tenham problema.
54

Referência bibliográfica

Fontes orais:
Nº Código da Função Técnica de Data da
entrevista recolha de entrevista
dados

01 DDP 01 Deslocado do distrito de Palma Entrevista 16.07.2021

02 DDP 02 Deslocado do distrito de Palma Entrevista 16.07.2021

03 DDP 03 Deslocado do distrito de Palma Entrevista 16.07.2021

04 DDP 04 Deslocado do distrito de Palma Entrevista 16.07.2021

05 DDP 05 Deslocado do distrito de Palma Entrevista 16.07.2021

06 DDMP 01 Deslocado do distrito de mocimboa da Entrevista 17.07.2021


Praia

07 DDMP 02 Deslocado do distrito de mocimboa da Entrevista 17.07.2021


Praia

08 DDMP 03 Deslocado do distrito de mocimboa da Entrevista 17.07.2021


Praia

09 DDMP 04 Deslocado do distrito de mocimboa da Entrevista 17.07.2021


Praia

10 DDMP 05 Deslocado do distrito de mocimboa da Entrevista 17.07.2021


Praia

11 DDQ 01 Deslocado do distrito de Quisanga Entrevista 18.07.2021

12 DDQ 02 Deslocado do distrito de Quisanga Entrevista 18.07.2021

13 DDQ 03 Deslocado do distrito de Quisanga Entrevista 18.07.2021

14 DDQ 04 Deslocado do distrito de Quisanga Entrevista 18.07.2021

15 DDQ 05 Deslocado do distrito de Quisanga Entrevista 18.07.2021

16 DDMU 01 Deslocado do distrito de Muidumbe Entrevista 19.07.2021


55

17 DDMU 02 Deslocado do distrito de Muidumbe Entrevista 19.07.2021

18 DDMU 03 Deslocado do distrito de Muidumbe Entrevista 19.07.2021

19 DDMU 04 Deslocado do distrito de Muidumbe Entrevista 19.07.2021

20 DDMU 05 Deslocado do distrito de Muidumbe Entrevista 19.07.2021

21 DDMA 01 Deslocado do distrito de Macomia Entrevista 19.07.2021

22 DDMA 02 Deslocado do distrito de Macomia Entrevista 19.07.2021

23 DDMA 03 Deslocado do distrito de Macomia Entrevista 19.07.2021

24 DDMA 04 Deslocado do distrito de Macomia Entrevista 19.07.2021

25 DDMA 05 Deslocado do distrito de Macomia Entrevista 19.07.2021

Fontes escritas
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Without Borders, Lexington Book,
Amnistia Internacional (2021). O que vi foi a morte: crimes de guerra no “cabo
esquecido” de Moçambique.
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local e municipal sustentável. Brasília.

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Pesquisas/ed, CEFET.

Chacra, G. (2015). Afinal, devo falar ISIS, ISIL, DAESH ou Estado Islâmico?
CIP, (2020) “Número de deslocados internos em Moçambique, Maputo
CIP, (2021). Gestão dos deslocados de guerra de Cabo Delgado: Governo falhou no apoio às
vítimas do conflito, Maputo.
CHAMBE, Zacarias Milisse. (2016). Mineração artesanal e o empoderamento das
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Namanhumbir. Dissertação de Mestrado em Ciências Políticas e Estudos Africanos. Maputo:
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56

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São Paulo. Disponível em: http://acervus.unicamp.br/index.asp?codigo_sophia=1230233.
Acesso em: 7 dez. 2021.

Feijó (2020). Integração socioeconómica dos deslocados internos em cabo delgado –


um desafio nacional: OMR, Destaque rural nº 105.
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Karam, Z. (2015). Life and Death in ISIS: How the Islamic State Builds its Caliphate,
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Middle East 1, A Seven Stories Press First Edition,
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http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf. Acesso em: 26 de Julho .
2021.
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fear’.. Disponível em: < http://www.un.org/apps/news/story.asp?
NewsID=51542#.WUFWM5ArLIW> Acesso em: 06 de agosto de 2021
51

Apêndices
52

UNIVERSIDADE ROVUMA
Departamento de Letras e Ciências Sociais
Guião de Entrevistas

As questões presentes neste guião de entrevista são dirigidas aos deslocados de guerra, no
centro de reassentamento de Nacaca, com vista o fornecimento de informação relevante para a
elaboração de uma Monografia com o tema: Os deslocados de guerra de Cabo Delgado:
percursos migratórios, vivencias nos centros de reassentamentos e integração social em
Montepuez, 2020-2021.Sendo para fins meramente académicos, garantimos a
confidencialidade das respostas e agradecemos a vossa colaboração, respondendo as questões
abaixo:

Pesquisadora: Fania Valentin Lahia

Dados gerais do Entrevistado:

Idade---------------Sexo--------------Estado civil-----------------Nível de
escolaridade-----------------------------Ocupação---------------------Religião------------------------

1. O terrorismo/guerra em Cabo Delgado tem sido um cenário que a meia década vem
semeando luto nas famílias, destruição de Infra-estruturas sejam habitacionais assim
como comerciais e rodoviárias. Não obstante, pessoas são obrigadas a deslocarem-se
para zonas com vista a melhorar suas vidas e recomeçar, encontra partida a integração
social dos mesmos deixa a desejar.
a) Para tal, estimado (a) há quanto tempo estas aqui em Montepuez?
2. Como iniciou os ataques lá no distrito onde viviam antigamente?
3. Como chegou em Montepuez ou seja onde passou até chegar em Montepuez?
4. Como tem sido a vida aqui no centro de reassentamento de Nacaca?
5. Como acontece a vossa integração nos centros de reassentamentos?
6. Qual é a relação que tem com os nativos?
53

7. Tem recebido algum tipo de apoio?


8. O que deve ser feito para melhorar a vida aqui no centro de reassentamento de
Nacaca?

Apêndice I: Momentos de entrevista com os deslocados no centro de Acolhimento de Nacaca

Autora, (2021)

Momentos da entrevista com líderes no centro de acolhimento de Nacaca

Autora, (2021)
54

Anexos

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