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PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE

INICIAÇÃO CIENTÍFICA - PIBIC/CNPq-FA-UEM

RELATÓRIO FINAL UEM


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CNPq

PERÍODO DE ABRANGÊNCIA DO PROGRAMA: 1º/08/2019 a 31/07/2020

1. BOLSISTA: Ingrid Giarola Matias dos Santos

2. ORIENTADOR: Max Jean de Ornelas Toledo 3. DEPARTAMENTO: DBS

4. CO-ORIENTADOR: Hevillyn Fernanda Lucas da Silva 5. DEPARTAMENTO: PCS

6. TÍTULO DO PROJETO: AVALIAÇÃO HISTOPATOLOGICA DE CAMUNDONGOS INOCULADOS POR VIA


ORAL E INTRAPERITONEAL COM Trypanosoma cruzi E TRATADOS COM BENZONIDAZOL

7. RELATÓRIO CONTENDO OS RESULTADOS DA PESQUISA (na sequência)

8. COMPROVANTE DE APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA EM EVENTOS CIENTÍFICOS


(Se houve premiação, informar o evento, a classificação e anexar comprovante).

Será anexado posteriormente.

9. COMPROVANTE DE PUBLICAÇÃO, COM A PARTICIPAÇÃO DOS BOLSISTAS, EM PERIÓDICOS


INDEXADOS E/OU COM CORPO EDITORIAL.

Não se aplica.

10. AVALIAÇÃO DO ORIENTADOR SOBRE O DESEMPENHO DO BOLSISTA NO PROJETO.


Este é o primeiro projeto de IC como bolsista do CNPq da estudante Ingrid, sob minha orientação, a qual vem
demonstrando responsabilidade, interesse e habilidades para pesquisa e trabalho em equipe. Só tenho elogios e
boas impressões da estudante e torço para que ela continue fazendo parte do nosso grupo de pesquisa.
11. AVALIAÇÃO DO ORIENTADOR SOBRE O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA.
Excelente programa que oferece uma alternativa para a formação profissional dos estudantes de graduação e
iniciação em atividades de ciência e tecnologia, contribuindo para a formação diferenciada de mão-de-obra para
o desenvolvimento da pesquisa científica nacional. Deveria ser mais estimulado e apoiado pelos governantes.
12. AVALIAÇÃO DO ACADÊMICO SOBRE O PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA.
O programa institucional de bolsas de iniciação científica possibilita aos acadêmicos o aprimoramento dos
conhecimentos adquiridos ao longo do curso, além de muitas vezes propiciar uma integração entre diversas áreas
de estudo. Ainda possibilita aos discentes a incorporação deste em pesquisas, onde as habilidades do acadêmico
podem ser aprimoradas de forma que se torne um profissional mais qualificado para a entrada no mercado de
trabalho.
Além disso o programa de bolsas de iniciação científica viabiliaza a pesquisa e incentiva a produção do
conhecimento, incentivando todos em relação a produção científica, ainda possibilitando a aproximação do
acadêmico a profissionais capacitados, como o coordenador, doutorandos e demais pós-graduandos.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA – PIBIC/CNPq-Fundação Araucária-UEM
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE
ORIENTADOR: Prof. Dr. Max Jean de Ornelas Toledo
COORIENTADORA: Ma. Hevillyn Fernanda Lucas da Silva
Bolsista: Ingrid Giarola Matias dos Santos

AVALIAÇÃO HISTOPATOLOGICA DE CAMUNDONGOS INOCULADOS


POR VIA ORAL E INTRAPERITONEAL COM Trypanosoma cruzi E TRATADOS
COM BENZONIDAZOL

Maringá, 31 de julho de 2020


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA – PIBIC/CNPq-Fundação Araucária-UEM
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE
ORIENTADOR: Prof. Dr. Max Jean de Ornelas Toledo
COORIENTADORA: Ma. Hevillyn Fernanda Lucas da Silva
Bolsista: Ingrid Giarola Matias dos Santos

AVALIAÇÃO HISTOPATOLOGICA DE CAMUNDONGOS INOCULADOS


POR VIA ORAL E INTRAPERITONEAL COM Trypanosoma cruzi E TRATADOS
COM BENZONIDAZOL

Relatório contendo os resultados


finais do projeto de iniciação
científica vinculado ao
PIBIC/CNPq-Fundação Araucária-
UEM.

Maringá, 31 de julho de 2020


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AVALIAÇÃO HISTOPATOLOGICA DE CAMUNDONGOS INOCULADOS POR


VIA ORAL E INTRAPERITONEAL COM Trypanosoma cruzi E TRATADOS COM
BENZONIDAZOL

RESUMO
Na doença de Chagas (DC), causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, o miocárdio é o
principal alvo do parasito, entretanto, lesões no fígado também estão relacionadas à fase
aguda da infecção. O benzonidazol (BZ), medicamento utilizado no tratamento da DC, causa
reações adversas podendo induzir toxicidade hepática. A dosagem sérica das enzimas
hepáticas juntamente com as análises histopatológicas, podem verificar se a via de infecção
(oral ou intraperitoneal) influência nas alterações do órgão. Objetivo: Realizar avaliação
histopatológica de camundongos inoculados por via oral (VO) e intraperitoneal (IP) com T.
cruzi e tratados com BZ durante a fase aguda da infecção. Material e métodos:
Camundongos Swiss, machos e de ~20 dias, inoculados por VO e IP com
2x106 tripomastigotas metacíclicos de cultura da cepa Y de T. cruzi (TcII), assim como
animais controles não infectados, tratados ou não com BZ, foram submetidos à eutanásia no
45º dia de infecção. Fragmentos do tecido cardíaco e hepático foram analisados
microscopicamente após coloração pela hematoxilina-eosina (HE). Resultados: Foi
observado processo inflamatório em ambos os tecidos, cardíaco e hepático, nos animais do
grupo sem infecção, tratados com BZ (NI+BZ), sugerindo toxicidade do fármaco,
especialmente no fígado onde ele é metabolizado. No tecido cardíaco dos animais infectados,
observou-se infiltrado inflamatório, necrose, fibrose e congestão vascular, principalmente nos
infectados por via IP que apesentaram maior letalidade. O tratamento com BZ promoveu
redução das lesões dos animais inoculados por VO. Não foram observadas formas
amastigotas de T. cruzi nos tecidos dos animais de nenhum grupo experimental. Entretanto,
processo inflamatório, necrose e fibrose de intensidade variada, provocados tanto pela
infecção quanto pelo tratamento, foram observados no coração e no fígado. Conclusão:
Animais inoculados com a cepa TcII por via IP apresentaram maior mortalidade do que os
demais, sugerindo uma maior virulência e patogenicidade desta via em comparação a VO. O
tratamento com BZ e a infecção por VO promoveram aumento significativo no número de
animais com PI no coração e no fígado, mas aumento de fibrose foi observado somente na
infecção oral. Observou ainda que número significativamente maior de animais IP
apresentaram necrose no fígado, sugerindo mais patogenicidade da via IP em comparação a
VO. Por fim, o tratamento com BZ promoveu benefícios reduzindo a necrose (no coração) e
congestão vascular (no fígado) dos animais inoculados por VO.

Palavras-chave: Trypanosoma cruzi, benzonidazol, doença de Chagas oral, análise


histopatológica.

INTRODUÇÃO
A doença de Chagas (DC) ou tripanossomíase americana possui como agente
etiológico o Trypanosoma cruzi, um protozoário hemoflagelado pertencente à ordem
Kinetoplastida e família Trypanosomatidae (CHAGAS, 1909). Atualmente, este parasito
infecta, aproximadamente, 6-7 milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente na
América Latina. A presença da DC em países considerados não endêmicos como os Estados
Unidos da América, Canadá, países da Europa e em alguns países da Ásia, é devido,
principalmente, a migração de latino-americanos para essas regiões (WHO, 2018). A
transmissão do T. cruzi ocorre por contato das excretas do inseto triatomíneo (barbeiro) vetor
com as mucosas ou pele lesada, por transfusão de sangue, por via congênita e por via oral.
Esta última, a mais frequente nos dias atuais, correspondendo a cerca de 70% das novas
infecções (BRASIL, 2018). Existem evidências de que a DC por transmissão oral seja mais
severa em comparação à adquirida por via vetorial.
Atualmente as cepas de T. cruzi são referidas por seis unidades de tipagem distintas
(DTU) de TcI a TcVI que podem apresentar diferentes propriedades biológicas e distribuição
geográfica (ZINGALES et al. 2009). Durante o seu ciclo biológico, o parasito apresenta três
estágios evolutivos distintos: epimastigota, tripomastigota e amastigota. O primeiro é
encontrado no trato digestório de triatomíneos, o segundo nos hospedeiros invertebrados e
vertebrados, incluindo os humanos, e o último nos tecidos de mamíferos (TAMOWITZ et al.,
1992). Nos hospedeiros vertebrados, a infecção apresenta duas fases clínicas distintas: aguda
e crônica. A fase aguda é caracterizada pela presença de parasitos na corrente sanguínea
(PRATA, 1994), entretanto também é comum se encontrar parasitismo tecidual em diferentes
órgãos (TARLETON & ZHANG, 1999).
Nos pacientes não tratados, a doença evolui para a fase crônica (MAGALHÃES-
SANTOS et al., 2014) ocorrendo a redução do número de parasitos na corrente sanguínea
(LAGES-SILVA et al., 2001). Nesta fase a lesão tecidual ocorre em órgãos específicos, que
geralmente apresentam intenso processo inflamatório e fibrose, sendo a presença de parasitos
escassa ou em pequenos ninhos de amastigotas (VERA-CRUZ et al., 2003). Atualmente, o
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tratamento etiológico da DC é baseado em apenas duas drogas, benzonidazol (BZ) e


nifurtimox (NF), sendo o BZ o único medicamento disponível para o tratamento da DC no
Brasil. Ambas apresentam cura parasitológica de até 80% em pacientes na fase aguda,
contudo, esses fármacos apresentam alta toxidade e não garantem a cura após dispersão do
parasito em órgãos e tecidos dos hospedeiros vertebrados, apresentando baixa eficácia na fase
crônica (RASSI-JR et al., 2010).
A diversidade de alterações anatomopatológicas que o T. cruzi promove no hospedeiro
vertebrado e a eficácia do tratamento podem estar associadas às características morfológicas
da cepa e sua diversidade genética, que podem apresentar um tropismo tecidual diferenciado
no hospedeiro vertebrado (BRENER, 1979; VERA-CRUZ et al., 2003). Baseado nessas
informações, propusemos com este estudo avaliar as alterações histopatológicas de
camundongos inoculados pela via oral e intraperitoneal com uma cepa de T. cruzi II, tratados
com BZ durante a fase aguda da infecção.

OBJETIVOS
GERAL
Realizar avaliações histopatológicas do coração e fígado de camundongos inoculados
por via oral (VO) e intraperitoneal (IP) com uma cepa de T. cruzi II (TcII) submetidos ao
tratamento com BZ durante a fase aguda da infecção.

ESPECÍFICOS
Determinar o número de animais que apresentaram lesões/alterações histopatológicas
no tecido cardíaco e hepático.
Analisar a relação entre a patogenicidade e as alterações enzimáticas do fígado.
Comparar a patogenicidade da via oral com a via intraperitoneal.
Avaliar o efeito do tratamento com BZ nas lesões histopatológicas de camundongos
inoculados por ambas as vias.

MATERIAIS E MÉTODOS
Aspectos éticos
O uso, manutenção e cuidados com os camundongos seguiram as diretrizes do
Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) e a pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Conduta Ética no Uso de Animais em Experimentação (CEUA) da
UEM (parecer número 9659251017/2017).
Cepa de T. cruzi
Foi utilizada a cepa Y de T. cruzi classificada como TcII, considerada parcialmente
resistente ao BZ e NF, e que apresenta tropismo por órgãos linfoides parasitando,
preferencialmente, fígado e baço, além do coração.
Inoculação dos animais
Foram utilizados 60 camundongos Swiss, machos, de 21 e 28 dias, provenientes do
Biotério Central da UEM. Vinte animais foram inoculados por VO e 20 por via IP, com 2x106
tripomastigotas metaciclicas de cultura (TMC) em 1,0 ml de meio LIT (DIAS et al., 2013). Os
animais VO eram deixados em jejum por cerca de 12 h antes de serem inoculados. Os 20
animais restantes, não foram inoculados e serviram como controles não infectados.
Grupos experimentais
Os animais foram distribuídos em seis grupos de 10 animais cada, como a seguir: 1)
Controle não infectado e não tratado (CNI); 2) Controle não infectado e tratado (NI+BZ); 3)
Infectado por VO e não tratado (VONT); 4) Infectado por VO e tratado (VO+BZ); 5)
Infectado por via IP e não tratado (IPNT); e 6) Infectado por via IP e tratado (IP+BZ).
Tratamento etiológico
O tratamento etiológico consistiu na administração da dose de 100 mg/kg/dia de
benzonidazol (BZ) (LAFEPE®, Pernambuco, Brasil) por gavagem, durante 20 dias
consecutivos, iniciando-se o tratamento no 5º dia de infecção (d.i.).
Avaliações histopatológicas
Foram avaliados 3-5 animais por grupo experimental. Os animais foram submetidos à
eutanásia por aprofundamento anestésico com administração intraperitoneal da associação
ketamina (Fagra®, Rhobipharma, Brasil) (50 mg/kg) e xilazina (Anasedan, CEVA, Brasil)
(10 mg/kg), para a coleta do coração e fígado no 45º d.i..
Fragmentos destes órgãos foram, primeiramente, fixados em formalina 10% e após 24
h preservados em álcool 70%. Após desidratação e diafanização, os tecidos foram embebidos
em parafina. Posteriormente, foram cortados em secções de 5 μm de espessura, separadas por
intervalos de 25 μm e colocadas em lâminas de microscopia (4 secções por lâmina) e então
coradas com hematoxilina-eosina (HE). As secções foram examinadas em microscópio óptico
em objetiva de 40x e as fotomicrografias foram obtidas através do software OLYMPUS
cellSens Entry.
Os parâmetros histopatológicos analisados incluíram o número de animais que
apresentaram parasitismo tecidual (PT), processo inflamatório (PI), necrose, fibrose,
hemorragia e congestão vascular. O parâmetro PI é considerado quando é constada a presença
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de infiltrado inflamatório. Também foi avaliada a taxa de mortalidade de cada grupo


experimental.
Análises estatísticas
Foi utilizado o teste Exato de Fisher do software Bioestat 5.3 (Belém, Pará, Brasil)
para fazer as comparações dois a dois entre os grupos experimentais. Foram consideradas
significativas as diferenças que apresentaram valor de p ≤ 0,05. Foram comparados os
seguintes parâmetros: PT, PI, necrose, fibrose, hemorragia e congestão vascular.
Comparações estatísticas foram realizadas entre animais CNI e NI+BZ para se verificar se o
tratamento provoca alterações histopatológicas nos órgãos analisados. Entre os animais
VONT e IPNT, para se verificar qual via de inoculação é mais patogênica e entre animais
tratados e não tratados, em ambas as vias, para avaliar se o resultadodo tratamento é
influenciado pela via de inoculação (VONT x VO+BZ e IPNT x IP+BZ).

RESULTADOS
Os resultados apresentados neste relatório, estão relacionados às análises
histopatológicas das secções de tecido muscular cardíaco e hepático de camundongos Swiss,
machos, sadios e infectados com o protozoário T. cruzi, inoculados por via oral (VO) e
intraperitoneal (IP) com 2x106 TMC da cepa Y, tratados ou não com o BZ.
Análise histopatológica do tecido cardíaco
No grupo dos animais CNI, observou-se estrutura íntegra do tecido muscular cardíaco,
caracterizado pelas fibras cardíacas que são constituídas por células alongadas, unidas pelo
disco intercalar possuindo núcleos bem visíveis. Além do mais, verificou-se em alguns cortes,
a presença de pontos de hemorragia e congestão dos vasos sanguíneos, tais alterações estão
associadas a técnica de eutanásia desses animais (Figura 1a).
Primeiramente, para se verificar se o tratamento sozinho, ou seja, por si só, causa lesão
no coração, o grupo CNI foi comparado com o grupo NI+BZ.
A Tabela 1 mostra que o número de animais NI+BZ que apresentaram PI no coração
foi significativamente maior (p = 0,008) que o número de animais CNI. Resultado também
visível através dos cortes histológicos do grupo NI+BZ, no qual foi observada a formação de
tecido conjuntivo fibroso em 60% das lâminas avaliadas, além de regiões com hemorragia e
congestão do vaso sanguíneo (Figura1b). Este resultado sugere que o BZ sozinho foi capaz de
provocar inflamação no coração dos 5 animais tratados, sugerindo cardiotoxicidade deste
medicamento.
Para se verificar qual via de inoculação é mais patogênica. Ou seja, qual via foi capaz
de provocar mais lesões no coração. Os grupos controles não tratados VONT e IPNT foram
comparados.
Na comparação dos parâmetros histopatológicas do coração de animais VONT com os
animais IPNT, foram observadas lesões histopatológicas mais intensas para o grupo IPNT
(Figura 1e). Entretanto, não foram encontradas diferenças significativas entre esses dois
grupos (Tabela 1). Isso se deveu ao fato do número de animais do grupo IPNT ser muito
baixo (n = 2), devido à elevada taxa de mortalidade observada para este grupo (80,0%).
Em seguida, para se verificar o efeito do tratamento com BZ nas alterações
histopatológicas dos animais inoculados tanto por VO quanto por via IP, os animais tratados
foram comparados com seus respectivos controles NT, dentro da mesma via de inoculação.
Ou seja, foram comparados VONT com VO+BZ e IPNT com IP+BZ.
Sendo assim, pode-se observar que, para os animais inoculados por VO, o tratamento
com BZ promoveu redução significativa (p = 0,015) no número de animais com necrose no
coração. Ou seja, o tratamento com BZ reduziu a porcentagem de animais que apresentavam
necrose neste órgão de 83,3% (VONT) para 0,0% (VO+BZ) mostrando benefício do
tratamento com BZ nos animais inoculados por VO (Tabela 1).
Naqueles inoculados por via IP, todos os animais tratados (IP+BZ) e não tratados
(IPNT) apresentaram alterações histopatológicas, com exceção do PT que não foi registrado
para nenhum animal. Entretanto, não foram observadas diferenças significativas entre os
animais tratados e respectivos controles não tratados, dentro da mesma via (IP) e para
nenhuma das alterações avaliadas (Tabela 1). Mais uma vez isso pode ter ocorrido devido ao
baixo número de animais sobreviventes do grupo IPNT, impedindo a comparação estatística e
sugerindo maior letalidade da cepa Y (TcII) para animais inoculados por via IP em
comparação aos inoculados por via oral.
A Tabela 1 mostra ainda que os animais VONT apresentaram diferenças estatísticas (p
= 0,048) em relação aos animais CNI em 3/6 parâmetros (PI, necrose e fibrose), indicando a
elevada patogenicidade desta via para o tecido cardíaco.
Análise histopatológica do tecido hepático
O tecido hepático dos animais CNI apresentou sua estrutura característica de placas
formadas pela junção de hepatócitos, revestida pela cápsula de Glisson (tecido conjuntivo
denso não modelado). Desse modo pode-se observar nos cortes uma estrutura saudável, com o
núcleo de suas células bem visíveis e alguns pontos de hemorragia e congestão, provenientes
da eutanásia dos camundongos (Figura 2a).
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Figura 1. Microfotografia do tecido cardíaco de camundongos Swiss inoculados com a cepa


Y de Trypanosoma cruzi (TcII), tratados ou não com benzonidazol (BZ 100 mg/kg/dia, 20X).
a) Sem infecção e sem tratamento. b) Sem infecção e tratado com BZ. c) Infectado por via
oral (VO) sem tratamento. d) Infectado VO e tratado com BZ. e) Infectado por via
intraperitoneal (IP) sem tratamento. f) Infectado por via IP e tratado com BZ. Seta vermelha:
hemorragia, seta preta: necrose, *: fibrose, #: congestão vascular. Aumento de 40x, escala 20
μm.

Tabela 1. Número de animais que apresentaram parasitismo tecidual (PT), processo


inflamatório (PI) e outros parâmetros indicativos de inflamação em tecido cardíaco. Os
camundongos foram inoculados pelas vias oral (VO) e intraperitoneal (IP) com 2x106
tripomastigotas metacíclicos de cultura da cepa Y de Trypanosoma cruzi (TcII), tratados com
benzonidazol (BZ 100 mg/kg/dia, 20X) e controles não tratados (NT).
Grupos experimentais – Tecido cardíaco
Número de animais com alteração / Total de animais analisados (%)
Parâmetros CNI NI+BZ VONT VO+BZ IPNT IP+BZ
PT 0/4 (0.0) 0/5 (0.0) 0/6 (0.0) 0/5 (0.0) 0/2 (0.0) 0/4 (0.0)
*# * #
PI 0/4 (0.0) 5/5 (100.0) 6/6 (100.0) 5/5 (100.0) 2/2 (100.0) 4/4 (100.0)
# *# *
Necrose 0/4 (0.0) 0/5 (0.0) 5/6 (83.3) 0/5 (0.0) 2/2 (100.0) 4/4 (100.0)
# #
Fibrose 0/4 (0.0) 3/5 (60.0) 6/6 (100.0) 5/5 (100.0) 2/2 (100.0) 4/4 (100.0)
Hemorragia 4/4 (100.0) 5/5 (100.0) 6/6 (100.0) 5/5 (100.0) 2/2 (100.0) 4/4 (100.0)
CV 4/4 (100.0) 5/5 (100.0) 6/6 (100.0) 4/5 (80.0) 2/2 (100.0) 4/4 (100.0)
%Mor 0/10 (0.0) 1/10 (10.0) 6/10 (60.0) 3/10 (30.0) 8/10 (80.0) 6/10 (60.0)
CV: congestão vascular; %Mor: taxa de mortalidade; Valores com símbolos iguais na mesma linha são
significativamente diferentes (p ≤ 0,05).
O efeito do tratamento no tecido hepático foi avaliado através da comparação do grupo
CNI e o grupo NI+BZ.
A Tabela 2 mostra que os animais não infectados, mas que receberam tratamento
(NI+BZ), apresentaram diferença significativa quando comparados com os animais sadios
(CNI) em 2/6 parâmetros analisados: PI (p = 0,008) e presença de hemorragia (p = 0,048). O
grupo NI+BZ apresentou PI em todas os cortes avaliados (100%), sugerindo toxicidade do
medicamento. A hemorragia e congestão vascular foram registradas em ambos os grupos,
devido ao processo de eutanásia (Figura 2b e Tabela 2).
A partir da leitura dos cortes histológicos de tecido hepático dos grupos infectados por
VO e IP, sem tratamento, foram encontradas as seguintes alterações teciduais: infiltrado
inflamatório, fibrose, hemorragia e congestão vascular (Figura 2c e 2e).
No tecido hepático, mesmo com a alta taxa de mortalidade dos animais IPNT (80%),
foi possível observar diferença para necrose (p = 0,048) quando comparados aos animais
VONT (Tabela 2), sugerindo maior patogenicidade da via IP para o fígado. Entretanto, a VO
ainda apresentou patogenicidade quando comparada ao grupo CNI, com diferença
significativa (p = 0,048) em 2/6 parâmetros (PI e fibrose).
Por fim, para avaliar o efeito do tratamento em cada via de inoculação (VO e IP), os
grupos VO+BZ e IP+BZ foram comparados aos seus respectivos controles tratados (VONT e
IPNT). Não foi encontrada diferença significativa em nenhuma das duas comparações,
sugerindo que não houve melhora do órgão após o tratamento com o fármaco.
Assim como no tecido cardíaco, também não foram encontrados ninhos de amastigotas
no tecido hepático dos animais infectados aos 45 d.i.

DISCUSSÃO
Os efeitos do fármaco sobre o tecido hepático e cardíaco podem ser observados
comparando-se os animais tratados, mas sem infecção (NI+BZ) com os controles não
infectados e não tratados (CNI), onde foi confirmada a capacidade do fármaco de causar
lesões, tanto no tecido cardíaco, quanto no hepático, sugerindo toxicidade do BZ,
especialmente no fígado onde é metabolizado. Este achado corrobora com o aumento das
dosagens bioquímicas das enzimas hepáticas (ALT e AST), sugerindo dano no tecido
hepático provocado pelo BZ (LUCAS DA SILVA, 2019).
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Figura 2. Microfotografia do tecido hepático de camundongos Swiss inoculados com a cepa


Y de Trypanosoma cruzi (TcII), tratados ou não com benzonidazol (BZ 100 mg/kg/dia, 20X).
a) Sem infecção e sem tratamento. b) Sem infecção e tratado com BZ. c) Infectado por via
oral (VO) sem tratamento. d) Infectado VO e tratado com BZ. e) Infectado por via
intraperitoneal (IP) sem tratamento. f) Infectado por via IP e tratado com BZ. Seta vermelha:
hemorragia, seta preta: necrose, *: Fibrose, #: congestão vascular, I: infiltrado inflamatório.
Aumento de 40x, escala 20 μm.

Tabela 2. Número de animais que apresentaram parasitismo tecidual (PT), processo


inflamatório (PI) e outros parâmetros indicativos de inflamação no tecido hepático. Os
camundongos foram inoculados pelas vias oral (VO) e intraperitoneal (IP) com 2x106
tripomastigotas metacíclicos de cultura da cepa Y de Trypanosoma cruzi (TcII), tratados com
benzonidazol (BZ 100 mg/kg/dia, 20X) e controles não tratados (NT).
Grupos experimentais – Tecido hepático
Número de animais com alteração / Total de animais analisados (%)
Parâmetros CNI NI+BZ VONT VO+BZ IPNT IP+BZ
PT 0/4 (0,0) 0/5 (0.0) 0/6 (0.0) 0/6 (0.0) 0/2 (0.0) 0/4 (0.0)
PI 0/4 (0.0)* & 5/5 (100.0)* 6/6 (100.0)& 5/6 (83.3) 2/2 (100.0) 4/4 (100.0)
Necrose 0/4 (0.0) 0/5 (0.0) 0/6 (0.0)# 3/6 (50.0) 2/2 (100.0)# 1/4 (25.0)
& &
Fibrose 0/4 (0.0) 0/5 (0.0) 6/6 (100.0) 5/6 (83.3) 2/2 (100.0) 3/4 (75.0)
* *
Hemorragia 4/4 (100.0) 1/5 (20.0) 2/6 (33.3) 4/6 (66.6) 2/2 (100.0) 3/4 (75.0)
CV 4/4 (100.0) 4/5 (80.0) 5/6 (83.3) 6/6 (100.0) 2/2 (100.0) 4/4 (100.0)
CV: congestão vascular; Valores com símbolos iguais na mesma linha são significativamente
diferentes (p ≤ 0,05).
Os grupos infectados sem tratamento (VONT e IPNT) foram comparados a fim de se
verificar qual via é mais patogênica. No tecido cardíaco foram observadas lesões mais
intensas para a via IP em relação a VO, porém as diferenças não foram estatisticamente
significativas. Já para o fígado foi possível observar diferença significativa, com 100% dos
animais IP avaliados apresentando necrose, indicando maior patogenicidade da cepa TcII na
via IP. Estudos histopatológicos com camundongos Balb/c infectados com a cepa Tulahuén
(TcVI), mostraram que a via IP apresentou extenso infiltrado inflamatório no tecido cardíaco
durante toda a fase aguda da infecção, em contrapartida as lesões hepáticas foram mais
severas nos camundongos inoculados com a VO (BARRETO DE ALBUQUERQUE et al.,
2015).
A maior severidade das lesões encontradas no tecido hepático (PI e fibrose) do grupo
VONT quando comparado ao CNI, está relacionada com a via de inoculação, além do maior
tropismo da cepa Y (TcII) por órgãos do sistema fagocitário mononuclear, em especial o
fígado. Este achado corrobora com MEZA et al. (2014), que em 11 cepas avaliadas, incluindo
a DTU TcII, os órgãos que apresentaram maior frequência de processos inflamatórios foram
fígado, coração e músculo esquelético.
Quando comparado o tecido cardíaco dos grupos tratados VO+BZ e IP+BZ, com seus
respectivos controles NT, nota-se diferença significativa apenas entre os animais VO, com o
tratamento promovendo redução do número daqueles apresentando necrose, indicando
benefício do medicamento para essa via de inoculação. Tal resultado concorda com
FERNANDES DE SOUZA (2019) que mostra uma maior sobrevida de camundongos
infectados com a cepa Y por VO que foram tratados com BZ. No entanto, para os animais
IP+BZ não foram observadas melhorias nos parâmetros devido ao tratamento. O baixo
número de animais do grupo inoculado por via IP e não tratado, apenas 2 sobreviveram,
impediu a ocorrência de diferença significativa, o que leva a conclusão de que a via IP, além
de apresentar maior virulência, foi mais patogênica para o tecido cardíaco, corroborando com
os achados de LUCAS DA SILVA (2019), os quais apontam um maior nível de parasitemia
nos animais infectados por esta via em comparação à VO.
Não foi observado parasitismo tecidual (ninhos de amastigotas) em nenhum corte dos
tecidos cardíaco e hepático analisados. Esse resultado pode ser explicado pelo dia em que
foram realizadas as eutanásias e coleta dos órgãos dos animais, em torno de 45 dias, com o
animal já entrando na fase crônica, quando são escassos os ninhos amastigotas nos tecidos.

CONCLUSÃO
13

As avaliações histopatológicas do coração e do fígado de camundongos infectados


com a cepa Y de T. cruzi II mostraram que tanto a infecção quanto o BZ causam lesões
teciduais.
A infecção por via oral foi capaz de causar lesões tanto no tecido cardíaco quanto no
hepático. Entretanto, não foi possível verificar qual via foi mais patogênica devido à alta taxa
de mortalidade apresentada pelos animais inoculados via IP, que se se mostrou mais virulenta.
A severidade das lesões encontradas no tecido hepático, principalmente dos animais
NI+BZ, corrobora com o aumento das enzimas AST e ALT, indicativas de lesões hepáticas.
Por fim, o tratamento com BZ trouxe benefícios reduzindo a necrose (no coração) e congestão
vascular (no fígado) dos animais inoculados por VO.

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