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FUNDAÇÃO PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS – FUPAC/UBÁ

FARMÁCIA

SABRINE BATISTA

PARASITOLOGIA CLÍNICA

UBÁ
2023
SABRINE BATISTA

ESTUDO DE CASO: ESTRONGILOIDÍASE

AECO apresentado à disciplina de


Parasitologia Clínica do 8° Período do curso
de Farmácia da Fundação Presidente Antônio
Carlos.
Prof.: Bruno Pires de Andrade

UBÁ
2023
1. INTRODUÇÃO

Strongyloides stercoralis é um helminto com distribuição mundial. Tem a capacidade de


promover infecção intestinal e causar uma condição clínica chamada estrongiloidíase
disseminada. Este nematóide é endêmico de regiões tropicais e subtropicais, como África,
Ásia, América Central e América do Sul (HEYDARIAN et al., 2019).
A estrongiloidíase é uma das doenças tropicais mais negligenciadas dos países
subdesenvolvidos e no Brasil, a doença é endêmica possuindo cerca de 20% de prevalência
(BUONFRATE et al., 2020).
No ciclo de vida do parasita, as larvas presentes no solo contaminado penetram na pele
humana e entram na corrente sanguínea. Nos pulmões, são transportados pela árvore
brônquica até a faringe, são deglutidos e chegam ao intestino delgado, onde se transformam
em vermes adultos (FARTHING et al., 2018). Portanto, as fêmeas parasitas são
partenogenéticas e se reproduzem colocando ovos, dos quais eclodem as larvas rabditiformes,
que são eliminadas nas fezes, ou viram larvas filarioides que podem penetrar na mucosa
intestinal e perpetuar a infecção. O principal fator de risco para estrongiloidíase é o baixo
nível socioeconômico: moradia e saneamento precários, andar descalço e viver em locais onde
ocorre defecação a céu aberto (LA HOZ, MORRIS, 2019).
Os métodos diagnósticos utilizados são os testes sorológicos e identificação das larvas
nas fezes. Em estados de hiperinfecção, as larvas podem ser encontradas em secreções
respiratórias, líquido peritoneal, sangue e outras amostras (REQUENA - MÉNDEZ et al.,
2017).
O objetivo desse estudo foi avaliar a situação de pacientes com estrongiloidíase e
destacar a importância do tratamento e prevenção dessa parasitose por possuir alta prevalência
em diversos países e ser de fácil reprodução e infecção.

2. CASO CLÍNICO

O caso clínico descrito foi relatado pelos autores PAIVA et al., 2021, onde AGS, 38
anos, natural de São Paulo, solteiro, católico, educador físico, foi submetido a transplante
duplo pâncreas-rim em dezembro de 2019. O doador não apresentou nenhum tipo de infecção
até o momento da captação. O pós-operatório transcorreu sem intercorrências e o paciente
recebeu alta 10 dias após o procedimento. Em fevereiro de 2020, deu entrada na enfermaria de
transplante renal do Hospital Geral de Fortaleza com náuseas, vômitos e dores abdominais
iniciadas 5 dias antes.
Houve a suspeita de gastroenterite infecciosa e por isso, a terapia com antibióticos foi
iniciada.

3. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Para diagnósticos foram realizados todos os testes bioquímicos de sangue, urina, fezes e
radiografias do tórax e abdômen que apresentaram resultados conformes.

Fonte: PAIVA et al., 2021.

O paciente foi internado na Unidade Hospitalar. Terapia Intensiva (UTI) do setor de


transplantes. Três dias após a internação, o paciente apresentou desconforto respiratório. O
esquema antimicrobiano foi escalonado para piperacilina – tazobactam, oseltamivir e
sulfametoxazol – trimetoprima.
As hemoculturas evidenciaram crescimento de Klebisiella pneumoniae sensível a
carbapenêmicos e apesar do paciente estar com o esquema terapêutico adequado, um quadro
de parada cardiorrespiratória evoluiu sendo revertida com ciclo de ressuscitação. Além disso,
foi observado o aparecimento de lesões serpiginosas purpúricas no abdome, que após
avaliação dermatológica levantou a possibilidade de estarem relacionadas com
estrongiloidíase disseminada.
A triagem de Strongyloides stercoralis no aspirado gástrico e traqueal e o PCR
parasitológico e fecal foram solicitados para confirmar estrongiloidíase.
O paciente faleceu quatro dias após início de ivermectina e antibioticoterapia guiada por
cultura. Após sua morte, foi confirmada estrongiloidíase disseminada com a presença de
larvas de Strongyloides stercoralis nas culturas traqueais e de aspirado gástrico positivas.

4. MEDIDAS PREVENTIVAS

É importante frisar a educação sanitária com as orientações de usar calçado, lavar as


mãos e os alimentos antes de comer tanto no seu ambiente natural quanto em viagens ou
mudança de países.
A mortalidade da estrongiloidíase está diretamente relacionada com a hiperinfecção em
indivíduos imunocomprometidos, porém, em pessoas saudáveis, a doença pode causar
diversos sintomas que não são confortáveis. Isso justifica o porquê de realizar a triagem e
tratamento de grupos de risco mesmo em áreas que não são endêmicas (BUONFRATE et al.,
2021). Dessa forma, devido ao risco de hiperinfecção, todos os pacientes devem ser tratados,
mesmo os assintomáticos (FARTHING et al., 2018).
Nas áreas endêmicas com recursos limitados, seria ideal tratar todos os candidatos a
transplante e em áreas com mais recursos de diagnósticos, seria ideal uma triagem universal.
Nas áreas não endêmicas, a triagem pode ser direcionada por fatores de risco para a
estrongiloidíase, que seriam pessoas que nasceram e viveram ou viajaram para regiões
tropicais e subtropicais com prevalência da doença. Além disso, caso haja uma
imunossupressão de urgência e não seja possível realizar diagnóstico rapidamente, o
tratamento com ivermectina deve ser considerado (LA HOZ, MORRIS, 2019).
Fatores de risco como idade, corticoterapia prolongada, transplantes, síndrome da
imunodeficiência e doenças malignas podem avançar o desenvolvimento da doença. Os
pacientes que irão ser tratados de artrite reumatoide ou psoríase com metotrexato, também
deverão ser submetidos ao mesmo tipo de prevenção já que correm risco de hiperinfecção
pelo efeito imunossupressor do medicamento. Ou seja, em ausência de contraindicações como
gravidez ou lactação, o tratamento profilático com ivermectina deve ser considerado se a
triagem não for possível (RICHARDS et al., 2019).
Apesar do tratamento preventivo ser recomendado por vários estudos e existir
evidências da diminuição de Strongyloides após a utilização da ivermectina, ele ainda não é
validado pela OMS e nem faz parte da estratégia de controle de helmintos transmitidos pelo
solo (FARTHING et al., 2020).

5. CONCLUSÃO

A estrongiloidíase é uma doença de fácil contaminação em áreas de países tropicais


subdesenvolvidos. Dessa forma, não pode ser desconsiderado qualquer contato que o paciente
tenha tido com essas áreas já que pessoas saudáveis desenvolvem a forma não assintomática
da doença e além disso, pacientes imunocomprometidos correm maior risco de sofrer
hiperinfecção e por isso o tratamento necessita ser realizado o mais rápido possível.
No caso apresentado, o paciente possuía quadros que não indicaram a doença
inicialmente. Como se tratava de um paciente transplantado, outras hipóteses foram
levantadas e o diagnóstico da doença demorou a ser confirmado. O tratamento com
antibióticos e outros medicamentos foram realizados, porém sem ter como o alvo o
Strongyloides stercoralis. Essas condições, culminaram no óbito devido a hiperinfecção
causar grande locomoção bacteriana e quadro sépticos.
Como não existe vacina para parasitose ou tratamento farmacológico que não permita
contrair estrongiloidíase, são utilizadas terapias farmacológicas para tratar a doença. A
ivermectina tem sido a primeira e eficiente opção para o tratamento, apesar de não poder ser
utilizada por crianças com menos de 15 kg. Em alguns lugares o albendazol é utilizado, porém
apresenta menor eficácia e maiores efeitos colaterais que a ivermectina.
Dessa forma, é importante focar nas medidas preventivas como as condições básicas de
higiene do indivíduo, de sua moradia e de saneamento básico principalmente para populações
mais pobres já que a transmissão da doença está ligada às condições socioambientais. A
educação sanitária para reconhecer sintomas também é um ponto importante para que a
doença seja contida inicialmente e não cause danos severos.
6. REFERÊNCIAS

BUONFRATE D.; BISANZIO D.; GIORLI G.; ODERMATT P.; FÜRST T. The global
prevalence of strongyloides stercoralis infection. Pathogens. p. 468, 2020.
BUONFRATE D.; FITTIPALDO A.; VLIEGHE E.; BOTTIEAU E. Clinical and laboratory
features of Strongyloides stercoralis infection at diagnosis and after treatment: a systematic
review and meta-analysis. Clinical Microbiology and Infection, p. 1621-8, 2021.
FARTHING M.; ALBONICO M.; BISOFFI Z.; BUNDY D.; BUONFRATE D. World
gastroenterology organisation global guidelines: management of strongyloidiasis. Journal
Clinical Gastroenterol, p. 747-57, 2020.
HEYDARIAN, P.; MOBEDI, E. U.; MOHAGHEGH, M. A.; HOSSEINI, U. M. A.;
CHEGINI, F. G. ESBOEI, B. R. Um caso de estrongiloidíase disseminada fatal acompanhada
de obstrução intestinal. Relatórios de casos da Oxford Med, 2019.
LA HOZ R. M.; MORRIS M. I. AST. Infectious diseases community of practice. intestinal
parasites including cryptosporidium, cyclospora, giardia, and microsporidia, entamoeba
histolytica, strongyloides, schistosomiasis, and echinococcus: guidelines from the american
society of transplantation infectious diseases community of practice. Clinical Transplant, p.
13618, 2019.
REQUENA-MÉNDEZ A.; BUONFRATE D.; GOMEZ-JUNYENT J.; ZAMMARCHI L.;
BISOFFI Z. Evidence-Based Guidelines for screening and management of strongyloidiasis in
non-endemic countries. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, p. 645-652,
2017.
RICHARDS C, PENNER J, COLMEGNA I, LOEWEN H, MELAKU Z. Methotrexate
exposure and risk of strongyloidiasis. Tropical Medicine & International Health, p. 1032-
41, 2019.

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