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A DANÇA K-POP É GLOCAL: O CASO 'DYNAMITE' DO BTS

Conference Paper · April 2022

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Ivana Marins Tailane Souza Santos


Universidade Federal da Bahia Universidade Federal da Bahia
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A DANÇA K-POP É GLOCAL: O CASO ‘DYNAMITE’ DO BTS

Ivana Carvalho Marins1; Tailane Souza Santos2; Márcia Virgínia Mignac da Silva3

1
Doutoranda em Dança pela Universidade Federal da Bahia.
2
Licencianda em Dança pela Universidade Federal da Bahia.
3
Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Professora Adjunta IV da Universidade Federal da Bahia.
E-mail do autor principal para correspondência: ivy@ufba.br

RESUMO
O YouTube é um espaço influente de construção de significados na contemporaneidade,
especialmente para as culturas jovens globais como o K-pop, e através dessa mídia, pode se
verificar uma infinidade de vídeos de K-Pop dance cover. O vídeo de dance practice da canção
Dynamite do BTS, possui 114 milhões de views no canal oficial de sua agência e é através dele
que jovens ao redor do planeta fazem cover da coreografia. No entanto, ainda que a proposta
inicial seja de cópia e repetição, é possível notar os corpos atravessados por suas culturas, como,
por exemplo, no dance cover do grupo Risin, da França e no vídeo do grupo TSOD, da Nigéria,
que produz uma coreografia autoral. Esse é um acontecimento glocal (ROBERTSON;
TRIVINHO, 2005) e que deve ser discutido também sob o conceito de orientalismo (SAID,
2007) e corpomídia (KATZ; GREINER, 2011).

Palavras-chaves: K-pop dance cover. BTS Dynamite. Global e glocal. Orientalismos. Teoria
corpomídia.

1 INTRODUÇÃO

A plataforma de armazenamento e exibição de vídeos YouTube se tornou um espaço bastante


influente de construção de significados na contemporaneidade, ainda mais ao se tratar de
culturas jovens globais como a cultura pop sul coreana, o K-pop, um fenômeno artístico-
cultural, comunicacional e mercadológico que surge em meados dos anos 1990 e que, a partir
da segunda década do século XXI, vem se intensificando e ocupando cada dia mais espaços
(físicos e digitais) do planeta. Nessa mass mídia, há disponíveis uma infinidade de vídeos de
K-Pop dance cover, que são jovens reproduzindo as coreografias de seus idols ou grupos
preferidos. A canção Dynamite, do grupo de K-pop de maior expressão mundial na atualidade,
o BTS, possui 1.3 bilhão de views em sua versão MV e 114 milhões em sua versão dance
practice no canal oficial de sua agência1.

1
No K-pop, os artistas não têm empresários. Eles estão vinculados a agências que cuidam de toda a vida desses
artistas, inclusive, da pessoal.

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Ainda que a proposta inicial do K-pop dance cover seja de copiar e repetir as
coreografias dos artistas, fica evidente nesses corpos o atravesamento de sua cultura, ou seja, a
dança revela que cada corpo se movimenta de modo distinto, ainda que os códigos
coreográficos sejam os mesmos.
Para fomentar a discussão, apresento os grupos Risin2, da França, que realizam um
dance cover e do vídeo do grupo TSOD, da Nigéria, que produz uma coreografia autoral e os
relaciono com os conceitos de glocal, orientalismos e corpomídia.

2 OBJETIVOS

2.1 GERAL
Discutir o K-pop dance cover como fenômeno global e glocal e as constribuições dos
conceitos de orientalismos e corpomídia, a partir da produção ‘Dynamite’ do grupo BTS.

2.2 ESPECÍFICOS
a) Identifcar os videos de ‘Dynamite’ BTS (Coréia do Sul) nas versões MV e dance
practice, dance cover do grupo Risin (França) e de coreografia autoral do grupo TSOD
(Nigéria).
b) Contextualizar cada um dos vídeos em nível geográfico e cultural;
c) Apontar potências em modos de Dança nos vídeos;
d) Relacionar os vídeos com os conceitos de glocal, orientalismos e corpomídia.

METODOLOGIA

O percurso metodológico contou com a identificação dos vídeos na plataforma


YouTube (www.youtube.com), utilizando os descritores ‘Dynamite BTS MV’, ‘Dynamite
BTS dance practice’, ‘Dynamite BTS dance cover’.
Os dispositivos utilizado foram notebooks e smartphones, pertencentes às
pesquisadoras.
Foram selecionados os vídeos nas versões MV e dance practice, do grupo BTS, o vídeo
de dança cover do grupo Risin, da França e o vídeo de coreografia autoral do grupo TSOD, da
Nigéria. Esses dois últimos foram eleitos por apresentarem corpos distintos dos do grupo

2
Canal do Risin no YouTube. Disponível em:
<https://www.youtube.com/channel/UCuyFOQGpucDUNW6Cze2yf2A>.

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original, formado por rapazes asiáticos sul coreanos. O grupo Risin (que participa do vídeo) é
formado por pessoas negras do gênero feminino e o grupo TSOD, formado por pessoas negras
do gênero masculino).
A partir dos dados coletados, procedeu-se à contextualização, discussão e reflexões
relacionadas ao campo da Dança. Em seguida, relacionou-se os vídeos com os conceitos de
glocal, orientalismos e corpomídia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As dançarinas do Risin nesse vídeo de dance cover de K-pop estão em um espaço


público na França, são negras e possuem estéticas corporais distintas entre si, o que foge da
premissa dos corpos dos artistas do K-pop, que sempre buscam atender um padrão estético
uniforme, por ser cultural em seu país de origem. O grupo nigeriano TSOD, composto por
dançarinos (homens) pretos e adultos, produz uma coreografia autoral, com uma ou outra
movimentação da original. O que é tão interessante quanto, é que está presente nessa
configuração coreográfica, um gestual que remete a luta política (antebraço erguido e punho
fechado) e várias técnicas e danças urbanas afrodiaspóricas, além de uma potencial
movimentação que traz a referência da capoeira.
Apresento e contextualizo essas duas produções para indicar o K-pop como um
fenômeno global e glocal (ROBERTSON,1994; TRIVINHO, 2005), pois transborda as
fronteiras geográficas do asiático país Coréia do Sul e se espalha globalmente (pode-se dizer,
para todos os continentes) e é corporificado localmente por jovens consumidores desse produto
da indústria cultural3 sul coreana. Essa corporificação compreende acontecimentos como a
criação de redes com um desejo em comum que é a de experenciar o K-pop de modo mais pleno
possível, seja pela apreciação de uma gama de produtos midiáticos ofertados pelas agências,
pela interação com outros K-poppers - e até com idols - nas redes sociais e, além de várias
outras formas, pela Dança, que certamente é o maior fator aglutinador nesse universo. E essa
prátca de dança cover, que se instala de modos tão distintos e peculiares em corpos pelo mundo,
supera a expectativa de ser uma mera mimesis.
Lembro que o K-pop é oriundo do leste asiático e o olhar ocidental sobre o oriente era,
e ainda é em grande medida, fetichizado e reducionista. No entanto, há mais de uma década,
Edward Said (2007) já indicava que o Oriente vem passando por um processo de orientalização

3
Conceito cunhado e desenvolvido por Adorno e Horkheimer (1944), pensadores da Escola de Frankfurt.

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que atende a moldes ocidentais e de ocupação de espaços mercadológicos e midiáticos no
Ocidente, por volta da segunda década do século XXI. Esses processos implicaram um transpor
de barreiras geopolíticas que levaram o Oriente a se tornar global. Segundo Said (2007), esse
evento significou um modo de desconstrução do estranhamento entre as culturas ocidentais e
orientais. Com o K-pop, o olhar do Ocidente se amplia sobre o lado oriental do globo.
A teoria Corpomídia, de Katz e Greiner (2011), defende o corpo como resultado de
contínuas negociações de informações com o ambiente e esse seu modo de existir é levado para
outras instâncias de seu funcionamento. As autoras apontam que cada tipo de aprendizado gera
no corpo uma rede particular de conexões. Para elas, quando se aprende um movimento,
aprende-se também o que vem antes e depois dele, posto que há uma transferência permanente
de informação. O corpo, nessa perspectiva, é, em si mesmo, uma espécie de mídia e compactua
com uma idéia de cultura como um sistema aberto, que tanto pode contaminar o corpo como
pode ser contaminado por ele.

CONCLUSÃO

A ideia de rede particular de conexões, transferência de informações, contaminação, ou


seja, do corpo como mídia, é muito pertinente ao fenômeno do K-pop dance cover. Há infinitos
modos de fazer e ser em Dança e o K-pop, embora pareça circunscrito apenas a uma lógica de
cópia e repetição, evoca outros caminhos e sentidos nos corpos de jovens em todo o mundo.

REFERÊNCIAS

BTS (방탄소년단). ‘Dynamite’ Official MV. 21 ago. 2020. (3m56s). Disponível em:
<https://youtu.be/gdZLi9oWNZg>. Acesso em 30 dez. 2021.

BTS (방탄소년단). ‘Dynamite’ [Choreography] Dance Practice. 02 set. 2020. (3m43s).


Disponível em: <https://youtu.be/CN4fffh7gmk>. Acesso em 30 dez. 2021.
KATZ, H.; GREINER, C. Corpo, dança e biopolítica: pensando a imunidade com a Teoria
Corpomídia. Anais do 2º Encontro Nacional de Pesquisadores em Dança (ANDA). 2011.
Disponível em: <http://www.portalanda.org.br/anda/site/repositorio/anais/2011/2-2011-
Helena-Katz-Christine-Greiner-Corpomidia.pdf>. Acesso em: 30 dez. 2021

RISIN [FROM FRANCE]. BTS ‘Dynamite’ (방탄소년단) Dance cover [Dance in public/Soul
Train ver.]. 18 out. 2020. (4m21s). Disponível em: <https://youtu.be/kLuTmomhhFQ>. Acesso
em 30 dez. 2021.
ROBERTSON, Rolland. Globalisation or glocalisation? The Journal of International
Communication. Vol. 1, 1994 - Issue 1: Gulf & Beyond: Broadcasting International Crises.

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TRIVINHO, Eugênio. Glocal: para a renovação da crítica da civilização mediática. In:
FRAGOSO, Suely; FRAGA DA SILVA, Dinorá (Org.). Comunicação na cibercultura. São
Leopoldo: Unisinos, 2001b. P. 61-104.
TSOD [FROM NIGERIA]. BTS ‘Dynamite’ Dance Cover (Cheonan World Dance Festival). 09
out. 2020. (3m56s). Disponível em: < https://youtu.be/oAAT3MrNAfk>. Acesso em 30 dez.
2021.

GLOSSÁRIO

Dance Practice - Vídeo em que a coreografia do K-pop é apresentada na íntegra.


K-pop dance cover - Apresentação das coreografias do K-pop por jovens fãs
Idol - Ídolo do K-pop. Também chamado de K-idol.
MV - Music video. É o vídeo de lançamento comercial da produção musical.

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