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ARTE 2º ANO

DECOLONIALIDADE
A resistência
 A pesquisadora Eloisa Rosa, mestre em Performances Culturais, bailarina e
professora, aponta três formas de resistência das “danças populares”:
persistência, transformação e territorialidade.
 A persistência preserva, ao longo do tempo, componentes da estrutura de
origem. Está vinculada à memória, à ancestralidade, à tradição, à religiosidade e
aos símbolos.
 A segunda forma de resistência consiste em se transformar por meio de
processos de adaptação aos seus contextos. Isso acontece inclusive pela
abertura às experiências pessoais e sociais de um grupo, Estabelece-se, assim,
como manifestação do cotidiano aliada aos rituais de uma certa comunidade.
 E aqui já se tem a terceira forma de resistência: pertencer a uma região e suas
histórias.
 Olhos nas costas e um riso irônico no canto da boca é um trabalho de dança que
questiona o que se define como semelhante e como diferente. Em uma
perspectiva crítica, aborda o corpo como criador de discurso, refletindo sobre
estereótipos e estigmas. Essa criação propõe um sentido contra-hegemônico e
contraestigmatizante para lidar com o conceito de identidade.
 Luciane Ramos Silva (1977-), criadora-intérprete do trabalho, é bailarina e
antropóloga e realiza uma pesquisa de campo na África do Oeste, desde 2009.
Sua prática artística e pedagógica está baseada em técnicas e poéticas afro-
orientadas.
 Questionando-se sobre o que acontece nos contextos não hegemônicos da
dança, a artista constrói uma arte engajada politicamente e propõe uma estética
comprometida com processos descolonizadores, ou seja, que possibilite uma
apreensão da experiência sensível por perspectivas que se oponham a
pensamentos, sentimentos e ações colonizadoras.
Cena do espetáculo Olhos nas costas e um
riso irônico no canto da boca, de Luciane
Ramos Silva. São Paulo (SP), 2017.
ATIVIDADE 2
2) Após estudar as referências anteriores, reflita sobre as
seguintes questões:
a. Você já assistiu a alguma dança afro-brasileira ou
participou de uma? Se sim, como foi essa experiência?
b. Em sua opinião, como as danças afro-brasileiras vêm se
construindo e atuando na cultura brasileira?
EXPERIMENTAÇÃO 2
 A turma deve ser dividida em dois grupos para experimentar um jogo de imagem
corporal.
1. Após se dividirem, fiquem dispostos em duas fileiras, uma de frente para a
outra, em lados opostos da sala. Isto é, para cada estudante de um lado,
haverá um estudante do outro.
2. Pense em gestos e movimentos que você costuma fazer no seu cotidiano. O
professor baterá a primeira palma e, a partir desse comando, todos os
estudantes de um lado correrão para o centro e criarão, com o corpo, uma
imagem que se refira a algum gesto que lhe seja familiar. Isso será feito por
cada um do seu modo, de maneira independente e ocupando o espaço como
quiser. Não precisa manter a fila, só se posicione no centro. Lembre-se de
que é uma imagem, ou seja, uma pausa, como uma “estátua”. Os outros
estudantes observam, prestando atenção em todos os detalhes.
3. Na próxima palma do professor, os estudantes que estão parados na imagem
voltam aos seus lugares. Então, os estudantes da outra fileira correm ao
centro e ocupam o mesmo espaço do colega correspondente, recriando a
imagem do corpo dele. Lembre-se de que cada estudante tem um parceiro
específico para realizar a proposta.
4. O professor bate a terceira palma e este grupo retorna. Depois, repete, de
modo a trocar quem começa criando a imagem e quem a reconstitui.
5. Ao final, converse com os colegas sobre o que aconteceu, seguindo as
questões.
a. Como foi observar a referência da sua imagem corporal no outro?
b. Havia semelhanças? Havia diferenças?
c. Como foi reconstituir o gesto do outro com o próprio corpo?
d. O que se pode concluir dessa experiência?
e. Anote as suas constatações no diário de bordo.
 A transmissão das danças afro-brasileiras, como grande parte das manifestações
culturais, deu-se por meio oral. Por meio da fala, da observação do corpo e do
movimento, essas danças vêm sendo contadas e experimentadas.
 Uma importante referência das danças afro-brasileiras é a fluminense Mercedes
Baptista (1921-2014), que foi a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do
Rio de Janeiro.
 Nesse contexto, ela teve a oportunidade de conhecer a estadunidense Katherine
Dunham (1909- -2006), que trouxe sua técnica de danças negras haitianas ao
Brasil. A partir de então, Mercedes começou a desenvolver uma técnica própria,
produzindo e divulgando a dança afro-brasileira.
 Em 1951, fundou o Ballet Folclórico Mercedes Baptista. As fontes de pesquisa da
artista eram a própria experiência como bailarina, a técnica proposta por Dunham,
rituais religiosos e danças tribais de matrizes africanas, movimentos e gestos dos
orixás (divindades do candomblé e umbanda, religiões afro-brasileiras).
 Nos últimos anos, vem crescendo o número de pesquisas acadêmicas,
documentários em audiovisual, entrevistas, entre outras formas de registrar e
compartilhar os conhecimentos vindos dos muitos modos de expressão da cultura
brasileira.
 As danças afro-brasileiras têm ampliado seus espaços, mas ainda há muito a se
conquistar. A noção de colonialidade traz à discussão um projeto da modernidade
que legitima hierarquias sociais, étnicas, territoriais, culturais, epistêmicas e de
gênero que geram subordinação e fazem com que saberes, experiências e formas
de vida sejam desvalorizadas e exploradas.
 O conceito de “decolonialidade” foi desenvolvido por pensadores latino-
americanos, como Aníbal Quijano (1928-2018), Walter Mignolo (1941-), Ramón
Grosfoguel (1956-), Catherine Walsh (1964-) e Nelson Maldonado-Torres.
 É uma forma de atuar criticamente diante dos legados colonizadores e de superar
a proposta de dominação presente na colonialidade.
 No caso do Brasil, assim como outros países que viveram historicamente processos de
colonização, a colonialidade mantém-se presente nas relações de opressão sobre certos
grupos étnico-raciais.
 Há uma intensa supremacia de alguns grupos sobre outros, principalmente por questões
raciais. Enquanto não houver uma mudança nesse sentido, o racismo continuará guiando
o pensamento e a ação da sociedade.
 Dessa maneira, as danças afro-brasileiras são espaços de questionamento dessas
estruturas de dominação e violência, pois elas afirmam resistência e propõem outras
narrativas sociais baseadas em pensamentos contra-hegemônicos, ou seja, que se
opõem à dominação ideológica de um grupo social sobre o outro.
 A companhia Gumboot Dance Brasil foi fundada em 2008 pelo coreógrafo e diretor
Rubens Oliveira.
 A proposta do grupo consiste em pesquisar e difundir o Gumboot, uma dança criada por
trabalhadores das minas de carvão, ouro e diamantes da África do Sul, no século XIX.
 Em condições de trabalho quase escravo, esses trabalhadores comunicavam-se entre si
no interior das minas por meio de batidas dos pés no chão com as botas. Eles provinham
de etnias diferentes, com idiomas distintos, e essa era uma estratégia fundamental para
compartilharem informações mesmo com as limitações da linguagem verbal. Pelo fato de
as minas serem muito escuras, eles desenvolveram códigos sonoros variados para
diversas situações, como perigo, ferimento, etc.
 O espetáculo Yebo trata da exploração e do sofrimento desses trabalhadores e de suas
famílias.
Mercedes Baptista em frame do documentário Balé de pé no
chão: a dança afro de Mercedes Baptista, de Lilian Solá
Santiago e Marianna Monteiro, 2005 (Brasil, 51 min 9 s).
Balé de pé no chão: A dança afro de
Mercedes Baptista (vídeo, 51 min 46 s).

Link:
https://www.youtube.com/watch?v=x9CMU4aayjU
Cena do espetáculo Yebo, do grupo Gumboot
Dance Brasil, direção de Rubens Oliveira, São
Paulo (SP), 2015.
Yebo (vídeo, 01 min 52 s).
Link:
https://www.youtube.com/watch?v=JWbcYXMj3xE

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